O Marketing e as Instituições de Ensino Superior

July 14, 2017 | Autor: Galvão Meirinhos | Categoria: Management, Marketing, Educational Marketing
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O MARKETING E AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR Galvão dos Santos Meirinhos UTAD | LABCOM http://www.galvaomeirinhos.com | [email protected]  

Ao   longo   do   tempo,   o   marketing   tem   atraído   a   atenção   de   vários   órgãos   diretivos   do   setor   educativo.   Neste   caso,   a   adesão   à   orientação   de   Marketing   prendeu-­‐se   diretamente   com   a   captação   de   novos   e   melhores   alunos   e   com   o   aumento   da   satisfação   dos   mesmos.   Outrora,   as   universidades   americanas   eram   passivas   e   acomodadas,   devido   à   abundância   de   alunos   e   de   recursos   para   o   seu   funcionamento.   Historicamente,   apenas   após   um   estudante   procurar   uma   faculdade  e  providenciar  o  preenchimento  de  formulários  é  que  o  processo  de  matrículas  tem  início.   Mas   o   processo   de   matrícula   não   representa   mais   a   primeira   etapa.   Agora,   as   instituições   estão   pesquisando  primeiro,  identificando  os  estudantes  que  desejam  e,  depois,  comunicando-­‐se  com  eles  -­‐   frequentemente   na   base   um-­‐a-­‐um   (KOTLER   &   FOX,   1992:   18).   As   mudanças   económicas,   demográficas  e  sociais  são  responsáveis  em  grande  medida  pela  postura  “mercantil”  dos  recursos   físicos,   humanos   e   financeiros.   As   organizações   educativas,   quando   inseridas   em   mercados   abundantes   de   “matéria-­‐prima”,   subestimam   e   depreciam   as   atividades   de   marketing.   Até   à   década   de   60   do   século   passado,   os   organismos   educativos   americanos   evitavam   ou   ignoravam   o   marketing   educacional.   Nesse   tempo,   desde   que   as   organizações   educativas   captassem   um   número   suficiente   de   alunos,   todos   os   problemas   da   instituição   estavam   resolvidos.   Pois   bem,   com  o  aumento  exponencial  da  concorrência  entre  instituições  e  com  as  reduções  drásticas  das   taxas   de   natalidade,   a   abordagem   de   marketing   instalou-­‐se   definitivamente   no   processo   de   gestão   das   instituições   de   ensino   superior.   A   orientação   de   Marketing   obrigou   as   organizações   educativas  a  estudar  e  a  compreender  ambientes,  mercados,  concorrentes,  mercados-­‐alvo  e  o  seu   posicionamento  institucional  no  mercado.     O   movimento   de   adesão   definitiva   ao   Marketing   educacional   verificou-­‐se   na   década   de   70,   quando   as   matrículas   diminuíram   e   as   doações   se   tornaram   voláteis.   As   causas   desta   mudança   prendem-­‐se   com   o   aparecimento   de   novos   concorrentes   e   com   as   novas   aspirações   dos   alunos.   A   volatilidade   dos   apoios,   o   declínio   das   matrículas   e   a   dificuldade   de   atração   de   novos   alunos   exigiram   claros   investimentos   em   Marketing.   O   arrefecimento   do   mercado   consciencializou   os   líderes   educativos   americanos   para   a   gestão   da   satisfação   dos   alunos   e   para   o   reconhecimento   externo  da  instituição.  Na  altura,  verificou-­‐se  uma  tendência  decrescente  do  número  de  alunos  na   maior  parte  das  organizações  educativas  americanas.  Enquanto  em  1977,  terminaram  o  primeiro   grau  de  ensino  3,2  milhões  de  alunos,  em  1983,  o  número  caiu  para  2,8  milhões  de  alunos,  queda   que  se  verificou  durante  toda  a  década  de  80.  Os  fatores  populacionais  e  económicos  explicam  o   número   declinante   de   entradas   no   ensino   superior,   adjuvado   também   pela   inação   das   próprias   organizações   educativas.   Não   obstante,   Philip   Kotler   e   Karen   Fox   apresentam-­‐nos   alguns   exemplos  de  organizações  educativas  americanas  que  empregaram  na  altura  novos  métodos  de   angariação  de  alunos:   • O  Saint  Joseph´s  College  em  Rensselaer  anunciou  em  revistas  lidas  especialmente   por  jovens  (como  a  Seventeen)  e  em  diversas  rádios-­‐rock  de  Chicago  e  Indianápolis.   Estas  ações  de  comunicação  tiveram  como  resultado  um  incremento  de  40%  no  

número  de  candidatos.  Nessa  altura,  havia  também  uma  política  de  descontos   progressivos  em  função  do  recrutamento  de  novos  alunos.   • O  Miligan  College  oferecia  um  desconto  semestral  de  $50  na  propina  por  cada  aluno   novo  matriculado.  O  total  dos  descontos  não  poderia  exceder  o  valor  anual  das   propinas  para  os  alunos  que  funcionavam  como  recrutadores.   • O  Brown  Mackie  College  oferecia  a  garantia  de  devolução  das  propinas  a  qualquer   aluno  que  não  recebesse  uma  oferta  de  emprego  120  dias  após  a  conclusão  do  ciclo   de  estudos.  (KOTLER  &  FOX,  1992:  26).    

Porém,  estas  técnicas  de  recrutamento  podem  ter  um  efeito  ilusório  no  incremento  do  número  de   alunos,   porque   a   promoção   ativa   e   feroz   pode   acarretar   problemas   de   vária   ordem,   como   a   admissão  de  alunos  sem  formação  específica,  frustração  das  expectativas  dos  alunos,  declínios  da   imagem   institucional,   entre   outros.   Na   nossa   opinião,   todos   os   agentes   educativos   podem   e   devem  ser  angariadores  e  analistas  das  estruturas  e  conjunturas  institucionais.  Da  empregada  de   limpeza   ao   administrador   da   organização,   todos   devem   estar   conscientes   da   sua   importância   individual   na   vida   da   instituição,   por   forma   a   melhorar   a   qualidade   do   serviço   e   do   produto   educativo.   No   recrutamento   de   novos   alunos,   todos   mantêm   uma   importância   crucial   no   processo  de  divulgação  e  acreditação  institucional.     Na   história   do   Marketing   educacional,   existem   dois   casos   de   sucesso   reconhecidos   internacionalmente,   protagonizados   pelo     Boston   College,   no   recrutamento   de   novos   alunos,   e   pela   Universidade   de   Nova   Iorque,   na   sua   recuperação   económica.   O   primeiro   caso   de   sucesso   assenta  no  entrosamento  ativo,  pensado  e  consequente  dos  ex-­‐alunos,  professores  e  especialistas   em  recrutamento  de  alunos.  Philip  Kotler  e  Karen  Fox  contam-­‐nos  o  seguinte:   A  Boston  College  adotou  um  programa  relativamente  simples  e  composto  por  uma  rede  em   forma  de  pirâmide  organizada  em  torno  de  3000  ex-­‐alunos  que  contatam  virtualmente  todos  os   candidatos  à  admissão,  600  alunos  que  visitam  seus  antigos  colégios  durante  as  férias  e  100   professores  que  atendem  pais  e  alunos,  organizados  em  90  grupos  espalhados  por  todo  o  país-­‐ dirigidos  por  uma  preparada  equipe  de  28  especialistas  em  recrutamento  e  admissão  de  novos   alunos.  A  nova  estratégia  de  Marketing  é  responsável  “em  grande  parte”  por  duplicar  o  número   anual  de  candidatos  aos  cursos  da  Boston  College  nos  últimos  dez  anos  (KOTLER  &  FOX,  1992:   17).   Por  outro  lado,  o  caso  de  sucesso  da  Universidade  de  Nova  Iorque  apresenta  algumas  ideias  que   ainda   hoje   podem   ser   implementadas   em   muitas   instituições   de   ensino   superior   portuguesas.   Philip  Kotler  e  Karen  Fox  afirmam  o  seguinte:   A   New   York   University   (NYU)   tem   35000   alunos   matriculados   em   diversas   faculdades   de   formação   universitária   básica   (undergraduate)   e   em   cursos   profissionais,   incluindo   direito,   administração,   ciências,   artes   e   educação.   Nos   anos   70,   a   NYU   enfrentou   grande   número   de   problemas,  incluindo  deficit  de  vários  milhões  de  dólares  anuais;  matrículas  em  declínio;  falta  de   imagem  forte  na  cidade  New  York  e  muitos  programas  educacionais  fracos.  O  deficit  cresceu  de   tal  forma  que  a  universidade  começou  a  considerar  a  desactivação  de  alguns  cursos  como  sua   faculdade   de   serviço   social,   que   envolvia   um   alto   custo   por   aluno.   Fechou   a   sua   faculdade   de   engenharia  e  também  vendeu  o  campus  de  Heights  para  a  cidade  de  New  York  por  $62  milhões.   Depois,   a   nova   liderança   que   assumiu   a   universidade   trabalhou   muito   para   transformá-­‐la   em   instituição   de   alta   qualidade,   inovadora   e   de   projecção   nacional.   Aumentar   as   exigências   de   admissão   em   muitas   de   suas   faculdades,   resultou   menor   número   de   alunos,   mas   de   melhor   qualidade.   Novas   instalações   foram   acrescentadas,   inclusive   uma   biblioteca   de   $25   milhões.   Realizou   uma   pesquisa   de   Marketing   que   indicou   não   ter   uma   imagem   forte   e   era,   frequentemente,   confundida   com   a   City   University   of   New   York.   Contratou   a   empresa   de   Marketing   da   Barton-­‐Gillete   para   revisar   seus   folhetos   e   melhorar   a   propaganda   e   relações   públicas.  Logo,  as  pessoas  estavam  ouvindo  mais  e  melhores  comentários  sobre  a  universidade.  

Estava  tornando-­‐se  uma  universidade  a  ser  considerada  na  cidade  de  New  York.  A  NYU  começou   a   inovar   os   programas,   em   vez   de   ficar   oferecendo   apenas   aqueles   oferecidos   anteriormente.   Foram   designados   directores   e   administradores   que   possuíam   visão   empreendedora   de   seus   mercados  (KOTLER  &  FOX,  1992:  257).   Este   caso   revela   que   quando   existe   um   pensamento   e   um   planeamento   estratégico   sério,   as   Universidades  são  organizações  únicas  na  prossecução  dos  objetivos  e  no  alcance  de  resultados.   São  organizações  que  reúnem  e  detêm,  na  imensa  maioria  das  vezes,  os  recursos  humanos  mais   criativos   e   únicos   que   existem   em   qualquer   sociedade.   As   instituições   de   ensino   superior   públicas   portuguesas   estiveram   durante   décadas   sem   qualquer   exposição   concorrencial,   a   qual   sedimentou   uma   cultura   conservadora   nos   agentes   e   nas   estruturas   organizativas.   Na   nossa   opinião,  o  imobilismo  e  o  conservadorismo  no  ensino  superior  português  têm  os  dias  contados,   porque  a  realidade  de  mercado  vai  impor-­‐se  com  toda  a  sua  força  vinculativa  e  transformadora.     Em   meados   da   década   de   80,   a   chamada   democratização   do   ensino   superior   em   Portugal   traduziu-­‐se,   na   prática,   num   aumento   exponencial   do   número   de   instituições   e   de   alunos   a   frequentar  este  nível  de  ensino.  O  aumento  de  capacidade  disponível  permitiu  o  enriquecimento   cultural  coletivo,  conseguido  mediante  o  alargamento  da  rede  de  ensino  superior  com  o  mínimo   de  custos  para  o  orçamento  de  Estado.  O  aparecimento  do  setor  privado  em  força  permitiu  saciar   a  aspiração  legítima  da  classe  média  à  promoção  social  e  económica  através  da  obtenção  de  um   diploma.   Apesar   de   não   existir   até   hoje   nenhum   caso   de   sucesso   de   Marketing   educacional   em   Portugal,   sempre   podemos   registar   que   as   instituições   de   ensino   superior   privadas   são   responsáveis  por  toda  uma  nova  terminologia,  como:  ganhos  de  eficiência;  eficácia  comunicativa;   ensino  de  qualidade;  avaliação  dos  serviços;  índices  de  desempenho  e  satisfação  de  necessidades.   O   aparecimento   do   Marketing   responsabilizou   a   organização   na   produção   de   bens   e   serviços,   exigindo   à   empresa   a   compreensão   da   clientela,   a   gestão   das   relações   com   o   exterior   e   incutiu   alterações   na   produção   e   nos   respetivos   processos   produtivos.   O   Marketing   é   (…)  une  véritable   révolution   copernicienne   économique   inversant   la   relation   entre   la   planète   entreprise   et   son   satellite  client,  largement  au  profit  de  ce  dernier  (DUPOUEY,  1991:  19).  Existem  administradores   hospitalares   portugueses   que   encaram   o     Marketing   como   sendo   um   meio   propício   para   responder  às  necessidades  dos  utentes,  já  o  mesmo  não  podemos  dizer  dos  administradores  das   organizações   educativas.   De   facto,   existem   inúmeros   obstáculos   à   introdução   do   espírito   de   Marketing   nas   instituições   de   ensino   superior,   porque   este   setor   em   Portugal   esteve   durante   muito   tempo   sem   a   presença   de   qualquer   concorrência   séria,   dando   lugar   a   organizações   centralizadas,   hierarquizadas   e   com   uma   fraca   cultura   de   gestão   de   recursos.   Por   outro   lado,   o   recrutamento  de  alunos  sempre  foi  feito  mais  por  questões  vocacionais  que  profissionais,  o  que   ajuda   ao   desfasamento   entre   a   formação   e   o   mercado   de   trabalho   (DUPOUEY,   1991:   25).   Paradoxalmente,   as   famílias   e   os   alunos   pretendem   um   ensino   superior   de   qualidade,   moderno   e   atualizado,   enquanto   uma   boa   parte   das   organizações   educativas   são   geridas   com   métodos   tradicionais,   conservadores   e   retrógrados.   É   comum   ouvir-­‐se   dizer   à   classe   dirigente   nas   Universidades   que   o   Marketing   é   incompatível   com   a   missão   educativa,   não   sendo   necessário   para   que   as   instituições   tenham   alunos   e   professores   de   qualidade.   Infelizmente,   a   visão   medievalista  do  ensino  sebenteiro  e  livresco  ainda  é  uma  realidade  das  organizações  educativas   portuguesas.  Estamos  perante  instituições  com  sinais  claros  de  autismo,  que  não  acompanham  os   tempos   atuais,   produzindo   seres   com   ideias   estáticas,   rígidas   e   intemporais.   Nos   tempos   que   correm,   devemos   encarar   o   ensino   superior   como   uma   indústria   competitiva   e   próspera,   devendo  ser  o  motor  científico  e  cultural  de  qualquer  economia.  Tanto  os  governantes  como  os   administradores   educativos   terão   de   combater   o   espírito   universitário   de   arquivo   morto   da   história,   onde   espreita   o   absolutismo   na   liderança,   a   arbitrariedade   no   julgamento,   as   decisões   sem  recurso  e  as  sanções  injustificadas.  

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