O Mercosul como um sub-sistema: Uma análise a partir de Buzan e Little

July 24, 2017 | Autor: Cinthia Mirla | Categoria: International Relations, Mercosur/Mercosul, South America, International system
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Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Bolsista pelo programa PIBIC/CNPq. E-mail: [email protected]. Link para o Lattes: http://lattes.cnpq.br/6981849365751961.
Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). E-mail: [email protected].
Trabalho orientado pela Prof. Ms. Paula de Carvalho Bastone. Professora de Relações Internacionais na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Formada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002) e em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2005). Link para o Lattes: http://lattes.cnpq.br/9515884438763771.
No que se refere aos níveis de análises, o presente trabalho não abordará as subunidades por questões de prioridade.
Denominados pelos autores de "setores".
O Pré-Sistema Internacional é abordado pelos autores na obra International Systems in World History
O valor do Produto Interno Bruto nominal indica o valor a preços correntes, isso quer dizer que não está sendo considerado o desconto que deveria ser feito em decorrência da inflação interna.
A sigla em inglês F.O.B significa "Free On Board", relacionada a uma modalidade que fragmenta o dispêndio na relação comprador-vendedor no comércio de mercadorias, o que normalmente quer dizer que a conta desconsidera o frete/ transporte, pois é negociado anteriormente.
Posicionamento determinista de que o Sistema Internacional é anárquico por natureza.
O MERCOSUL COMO UM SUB-SISTEMA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE BUZAN E LITTLE
Cinthia Mirla Soares Rocha
Lorena Gadelha Azevedo

RESUMO
Este artigo busca analisar o bloco econômico Mercosul, o considerando como um susbsistema da América do Sul. Para tanto, utilizamos a teoria elaborada por Barry Buzan e Richard Little na obra "International Systems in World History" (2000), com foco na análise dos recursos de explanação propostos pelos autores, o processo, a capacidade de interação e a estrutura do objeto. A metodologia utilizada foi bibliográfica e documental, como artigos sobre o Mercosul e o Tratado de Assunção de 1991. A dinâmica característica do Mercosul é reflexo das assimetrias apresentadas em suas unidades e que desenham as relações entre as mesmas.
Palavras-chave: América do Sul; Mercosul; Sistemas;

ABSTRACT
This paper analyzes the economic block Mercosur, considering as a subsystem of South America. Therefore, we use the theory developed by Barry Buzan and Richard Little in the book "International Systems in World History", focused on the analysis of the sources of explanation proposed by the authors, the object's process, interaction capacity and its structure. The methodology used was literature and documents, such as articles on Mercosur and the Asuncion Treaty of 1991. The dynamic nature of Mercosur is a reflection of asymmetries presented in units, drawing relationships between them.
Keywords: South America. Mercosur; Systems;






INTRODUÇÃO
O Mercado Comum do Sul, uma União Aduaneira instituída em 1991 através da assinatura do Tratado de Assunção inicialmente entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e posterior incorporação da Venezuela, surgiu como uma iniciativa sul-americana de adequação às novas dinâmicas da economia mundial, onde se fortalecia a tendência de maior integração e cooperação regional, estimulada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). O artigo busca analisar o Mercosul como um subsistema, através da aplicação do modelo de Buzan e Little. Na seção 1 será apresentado um pouco do modelo utilizado para análise focando nos "recursos de explanação". A partir da seção 2 iniciará a aplicação do modelo na qual focará no processo econômico desenvolvido no Mercosul; a seção 3 aborda a capacidade de interação entre as unidades evidenciando as instituições, normas em comum e a capacidade de transporte; Na seção 4 será analisado a estrutura do subsistema, compreendendo a forma que as unidades estão arranjas no bloco e suas capacidades relativas.

UMA ABORDAGEM A PARTIR DE BUZAN E LITTLE
Diante da proposta de desenlear as ligações econômicas interestatais sul-americanas, tentar-se-á esclarecer de forma objetiva os pontos norteadores deste estudo. Usufrutuou-se dos estudos de Buzan e Little, intelectuais que, a partir da deficiência teórica nas Relações Internacionais (RI) em padronizar o estudo do Sistema Internacional (SI), se empenharam em criar um modelo de análise adaptável, aderindo para tanto um padrão que, atrelado a História, consegue apontar um esquema consistente a ser seguido. Este guia consiste em algumas ponderações determinantes, três variáveis que explicam o comportamento dentro do SI, são elas: A capacidade de interação das unidades, o processo associado as interações e a estrutura.
A capacidade de interação está bastante relacionada aos fatores internos das unidades, que por sua vez, reflete no comportamento com outra unidade. A tecnologia, de uma forma geral, é um aliado da capacidade que as unidades foram acumulando com o passar do tempo, podendo ser considerada um determinante no grau de capacidade (p. 191), mas outros fatores também influenciam, como a cultura e a localização, por exemplo; o processo, que vem a ser a maneira característica que essa interação acontece. Não obstante, o relacionamento entre as unidades não é permanente, podendo mudar e ser renovado, assumindo novos traços. Dando continuidade, existe o que se apresenta como "formação de processo", que é o estabelecimento dessas interações em um padrão durável (BUZAN; LITTLE, 2000). Esses processos podem assumir a forma de conflito ou de cooperação, ou uma dosagem de cada um destes. São elaborados a partir da aglutinação de variantes, como a formação de alianças, comércio, negociações a respeito de status externo, conflitos, ameaças e mudanças no ambiente natural. Em fim, uma das principais características da estrutura para os autores é a ausência de anárquica, a maneira como as unidades de organizam (BUZAN; LITTLE, 2000).
É necessário apreciar as unidades dominantes dentro do sistema ilustrado, como também as demais, pois existe uma relação entre elas de fundamental importância para o sistema como um todo, além de perscrutar sua estrutura interna como forma de entender seu posicionamento. Em seguida, descrever os tipos de interações manifestadas entre as unidades, almejando desenhar a estrutura que se organiza a partir de todo este movimento. Vale ainda explanar os quatro níveis de análise a serem considerados: Sistema, subsistema, unidade e subunidade. O sistema é o maior nível, abrangendo os demais e consequentemente, o mais complexo; o subsistema ainda é complexo, tendo uma grande quantidade de interações (referente às unidades); a unidade não é homogênea, como normalmente se considera em Relações Internacionais (RI) e é a parte que tem capacidade de interação medida, baseando todo o restante da estrutura; por fim, a subunidade, que influencia na configuração da unidade. No que concerne aos sistemas, um ponto importante é a limitação do objeto estudado; um afunilamento do sistema. Isso quer dizer que é impossível considerar todos os aspectos possíveis que um sistema – no seu mais abrangente estado – tem. Logo, a assertiva tem que se desenvolver em volta de um setor (político-militar, econômico, social, cultural, etc.) para que seja possível uma compreensão adequada do que se pretende. Por fim, classificam-nos em três tipos: Sistemas Internacionais Completos, o maior Sistema possível, abrangendo todos os aspectos existentes; Sistema Econômico, considerado um dos mais importantes e Pré-Sistema Internacional, importante para embasar os atuais estudos e ajudar na criação de um modelo.
Ao considerar tamanha complexidade, é importante destacar que há vários sistemas e eles coexistem e relacionam entre si. Apesar disto, estes são bastante abstrusos, atestando a assertiva de que é impossível dissecar todas as partes existentes em um sistema sem excluir alguma variante.
No que se refere aos conceitos acima, se optou por destacar a América do Sul (AS) como o sistema do estudo. Partindo deste pontapé, avultou-se o MERCOSUL como o sub-sistema dentro deste anterior, que conduziu as ponderações a seguir. Em sequência, temos as unidades que fazem parte da AS (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela), dentre estas, temos as unidades que fazem parte do MERCOSUL (Mapa 1), fragmentadas em "Estados Partes" e "Estados Associados", pois a entrada da Bolívia no bloco foi ratificada em meados de 2014, não permanecendo em processo de adesão. Dentre os quais, destacou-se como unidades dominantes a Argentina e o Brasil, devido à dada relevância destes no sistema.
Mapa 1 – Dados das unidades da América do Sul

Elaborado pela Secretaria do MERCOSUL (setembro de 2014)/ Fonte: CEPAL
OBS: A Bolívia teve sua entrada no bloco aprovada em 2014.


PROCESSO ECONÔMICO
Como foi visto anteriormente, processo corresponde ao conjunto de características específicas que rege a interação entre as unidades. Ou, como define Buzan e Little, processo é como as unidades interagem entre si (International Systems in World History, p. 216). O atual contexto impulsionado pelo capitalismo e pela globalização faz com que as mudanças – agora em escala global – acelerem a formação de processos. O comércio, por exemplo, atinge perspectivas gigantescas e faz com que as economias fiquem conectadas, ligando as unidades entre si e as deixando mais fortes, o que por sua vez, fortalece o sistema como um todo (ibdem, p. 300). No entanto, vale ressaltar que o aumento da capacidade de interação das unidades é desproporcional entre si quando analisado de maneira mais micro. Uma unidade sempre vai ter maior poder de participação do que a outra, momento em que entra a barganha, todavia, ocasiona um receio quando se trata de trocas comerciais, uma vez que a concorrência que uma exerce sobre a outra pode vir a ser decisiva e comprometedora, como é o caso do Mercosul na tentativa de mercado comum.
MERCOSUL
O Mercosul começou a se efetivar com a assinatura do Tratado de Assunção em 1991. A ideia de mercado comum girava em torno da prerrogativa de livre circulação de bens, serviços e fatores de produção entre as partes do bloco. O tratado avalia a adesão de uma tarifa externa comum para as importações oriundas de países não pertencentes ao grupo e a pretensão de parcerias com outras unidades do sistema internacional (Senado Federal, s/d). Além de outras indicações no tratado, foi criado um aparato institucional (Conselho do Mercado Comum, órgão superior e o Grupo de Mercado Comum, órgão executivo) que melhor será exposto da discussão referente à estrutura.
A força progressiva das unidades é disposta no sistema sulamericano de forma heterogênea, o que ocasiona um relativo receio nas interações da região. No que concerne o comercio, o principal embasamento teórico de Relações Internacionais é o neoliberalismo; tanto no que diz respeito às institucionalizações em prol da cooperação, quanto às praticas liberais. Apesar das pretensões, nota-se que há uma relutância por parte dos Estados, menos expressivos economicamente em comercializar livremente com outras economias, principalmente as mais fortes e diversificadas.
O casamento entre o processo e a capacidade de interação dentro de qualquer sistema é decisivo. Neste desdobramento, duas variantes são apontadas por Buzan como maestras das interações econômicas, são elas: o comércio e a formação de alianças. Isto porque se pretende chegar a um ponto mais específico no que cabe a América do Sul, o MERCOSUL. A dinâmica entre as unidades da América do Sul – aqui chamada de interação – apresenta certas fragilidades, isto porque, há um desnível no que tange a organização interna de cada uma, o que influencia no processo.
Analisemos um indicador macroeconômico de relevância importância – PIB –(Tabela 1) para colocar em números a desproporção indicada anteriormente. As três unidades mais frágeis economicamente (Guiana, Guiana Francesa (Território ultramarino da França) e Suriname) representavam, em 2012, um PIB de US$ 7.863 milhões. Enquanto que as duas unidades dominantes (Brasil e Argentina) correspondiam a US$ 2 728.166 milhões. Apesar dos três anos decorridos, a proporção de irregularidade entre as unidades continua similar, logo, não opõe a atual assertiva.
Tabela 1 - PIB dos Países da América do Sul e do Mercosul
Valores correntes US$ Milhões
 
UNIDADE
2010
2011
2012

Argentina
368.736
446.044
475.502
 
Bolívia
19.650
23.949
27.035
 
Brasil
2.143.035
2.476.652
2.252.664
 
Chile
217.556
251.191
269.869
 
Colômbia
287.001
336.560
369.606
 
Equador
67.514
76.770
84.040
 
Guiana e Guiana Francesa
2.259
2.577
2.851
 
Paraguai
20.028
26.008
25.502
 
Peru
157.610
181.011
203.790
 
Suriname
4.368
4.363
5.012
 
Uruguai
38.846
46.435
49.920
 
Venezuela
393.808
316.482
381.286
Subsistema
Mercosul
2.984.103
3.335.570
3.211.909
 Sistema
América do Sul
3.720.411
4.188.042
4.147.077
Fonte: Banco Mundial, 2013. Adaptado pelas autoras.
Apesar da grande desproporção do PIB dos países da AS, este sistema desenvolve dinâmicas comerciais ambiciosas e expansivas, como a presença de representantes da Turquia, Oriente Médio, África, Oceania e Ásia em reuniões de cúpula do MERCOSUL. Além disso, o Japão – importante ator internacional da atual ordem – mostrou interesse em sua aproximação com o bloco. Um aspecto frágil e importante sobre o comercio é sua especialidade em exportação de commodites. Implica, por sua vez, em uma dependência maciça com os produtores de manufaturas e que coloca em risco a economia da região em um momento de tensão (PATRIOTA, 2011). Isto mostra que o sistema sulamericano, expresso em seu setor econômico, usufrui de um leque diverso de parceiros, o que corresponde a um crescimento da quantidade de comércio feita pela região, todavia, corresponde a uma estrutura rúptil por sua submissão à demanda externa.
Agora que já temos ideia de quão grande é a disparidade que caracteriza a América do Sul, assim como o Mercosul, analisaremos os dados referentes a balança comercial deste bloco (Tabela 2) para entender em quais proporções se desenrola o mesmo.
Tabela 2 – Balança Comercial do Mercado Comum do Sul (Mercosul)
US$ F.0.B

E x p o r t a ç ã o
I m p o r t a ç ã o
R e s u l t a d o s

Ano

US$ F.O.B.
(A)


Var. %

Part. %
(**)


US$ F.O.B.
(B)

Var. %
(*)

Part
%
(**)

Saldo
(A-B)

Corrente
(A+B)

Cobertura
(A/B)
2010

22.601.500.959
42,79
11,19
16.620.151.158
26,80
9,14
5.981.349.801
39.221.652.117
1,36
2011
27.852.507.305
23,23
10,88
19.375.753.370
16,58
8,56
8.476.753.935
47.228.260.675
1,44
2012
22.799.767.448
-18,14
9,40
19.250.400.534
-0,65
8,63
3.549.366.914
42.050.167.982
1,18
2013
24.683.426.808
8,26
10,20
19.269.416.429
0,10
8,04
5.414.010.379
43.952.843.237
1,28
2014
20.420.948.626
-17,27
9,07
17.271.708.007
-10,37
7,54
3.149.240.619
37.692.656.633
1,18
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2015. Adaptado pelas autoras.

Notamos que a balança comercial do Mercosul sempre foi positiva, apresentando bons resultados, apesar de não refletir a situação real dos países, realça a relevância que poucas unidades exercem no quociente geral.
Depois de termos a base de dados mínima para avaliarmos o contexto em que o grupo de integração econômica sulamericano está inserido, podemos considerar que na região existe uma relação de centro-periferia na periferia, o que quer dizer que a AS é considerada uma região em desenvolvimento, não tendo alcançado padrões de socioeconômicos satisfatórios quando comparados a regiões desenvolvidas, por esses mesmos indicadores. O processo, como se fez afirmar, vem mudando de forma lenta devido ao grande protecionismo que os Estados ainda exercem sobre suas economias e à desconfiança que permanece nos governos por conta de suas empresas pouco especializadas e preparadas para uma concorrência sem barreiras. Isto posto, o processo no Mercosul está fadado a se intensificar e a abranger outros países, além de outros blocos, como a União Europeia. Isso fará com que as unidades busquem um equilíbrio entre si, pois com o aumento do fluxo de comercio entre elas, maior será a dependência que ocasiona, consequentemente, o alcance das conjunturas se estende a todos, tanto em uma ascensão econômica, assim como em uma crise.

CAPACIDADE DE INTERAÇÃO
Segundo Buzan e Little, a capacidade de interação está relacionada à capacidade de transporte, comunicação, potencial físico que permite as unidades trocar informação e bens, além de normas, regras e instituições compartilhadas pelas unidades (International Systems in World History p.80). As unidades que compõe o Mercosul possuem essa característica, já que o mesmo possui uma personalidade jurídica, com direito próprio que abrange todos os estados-partes. A seguir especificaremos as normas e instituições que são compartilhadas pelos países do Mercosul. A estrutura institucional do Mercosul foi definida pelo Protocolo de Ouro Preto (1994), e é composta pelos seguintes órgãos: Conselho de Mercado Comum, Grupo de Mercado Comum e Comissão de Comércio do Mercosul, que são os órgãos dotados de poder decisório. E há ainda os órgãos dependentes, vinculados à algum órgão de poder decisório: Parlamento do Mercosul, Foro Consultivo Econômico e Social e a Secretaria Administrativa.
O Conselho do Mercado Comum é o responsável pela condução do processo de integração do Mercosul, e por assegurar o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Tratado de Assunção, se apresentando como o órgão superior do Mercosul. O Conselho do Mercado Comum deve reunir-se pelo menos uma vez a cada semestre, sendo integrado pelos Ministros das Relações Exteriores, Ministros da Economia ou seus equivalentes de cada Estado Parte. O Grupo Mercado Comum se apresenta como órgão executivo do Mercosul, sendo responsável pelas medidas que garantem o cumprimento das deliberações do Conselho do Mercado Comum. É composto por quatro membros titulares e quatro suplentes por país, e coordenado pelos Ministérios das Relações Exteriores. A Comissão de Comércio do Mercosul é encarregada de assistir o Grupo Mercado Comum, cuidando para as devidas aplicações dos instrumentos de política comercial acordados pelos governos para o funcionamento da União Aduaneira, bem como o acompanhamento das políticas comerciais comuns intra -Mercosul e com terceiros países.
O Foro Consultivo Econômico-Social se submete às recomendações do Grupo Mercado Comum, e é responsável pela representação dos setores econômicos e sociais, sendo integrado por igual número de representantes de cada Estado Parte. A Secretaria Administrativa do Mercosul é um órgão de apoio que presta serviço aos demais órgãos do Mercosul, com sede na cidade de Montevidéu. O Parlamento do Mercosul tem como propósito de garantir a representatividade dos povos do Mercosul, respeitando sua pluralidade ideológica e política, promover a democracia, liberdade e paz, Promover o desenvolvimento sustentável da região; Garantir a participação dos atores da sociedade civil no processo de integração; Contribuir para consolidar a integração latino-americana mediante o aprofundamento e ampliação do MERCOSUL; e promover a solidariedade e a cooperação regional e internacional.
As unidades do Mercosul também estão submetidas a normas comuns, como os tratados de direito originário, que instituíram o funcionamento e estrutura do Mercosul, são eles o Tratado de Assunção (1991), O Protocolo de Ouro Preto (1994), que definiu a estrutura institucional, como visto acima, o Protocolo de Olivos (2002), que regulamenta a solução de controvérsias no Mercosul e Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul – PARLASUL (2005). Além disso há também o direito derivado, que é resultado das tomadas de decisões das instituições do bloco. É o caso das decisões do Conselho Mercado Comum, resoluções do Grupo Mercado Comum e diretivas da Comissão de Comércio do Mercosul. Assim, possibilitam maior interação entre os países do bloco, pois normatizam, por exemplo, a Defesa da Concorrência, aplicação de salvaguardas para terceiros países, subsídios, Zonas Francas e outros dentro do Mercosul. Diante do exposto observa-se que os países do Mercosul tem um potencial de capacidade de interação alto, pois estão vinculados a normas e instituições que são comuns a todos, com representantes dos países participando de reuniões periódicas.
No que concerne a capacidade de transporte, Martins (2001) argumenta que nos países do Cone Sul, e até mesmo em toda América Latina verifica-se uma estrutura muito precária de interligação entre os polos, e que segundo o autor nem os acordos internacionais sobre a rede viária pan-americana nas décadas de 80 e 90, e outros acordos regionais foram capazes de adequar. O autor também salienta que tanto no setor ferroviário quanto no rodoviário, houve ausência de esforços conjuntos entre os países, pois os mesmos criam que sua soberania poderia ser ameaçada (MARTINS, 1994, p. 42). A infraestrutura do transporte é composta principalmente pelo Corredor São Paulo-Buenos Aires, que apresenta a melhor infraestrutura do Cone Sul e engloba três países: Brasil, Argentina e Uruguai, porém os principais polos geradores de demanda são as cidades de São Paulo e Buenos Aires. Porém há também os polos intermediários: Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Montevideo. Há também os corredores transversais: O Corredor Paranaguá, que liga o porto ao estado de Mato Grosso e ao Paraguai; O Corredor Rio Grande, que faz ligação entre o porto de Rio Grande até o nordeste da Argentina; O Corredor de Santos, que corta transversalmente São Paulo; O Corredor Bahia Blanca, que é o principal corredor de exportação da Argentina e integra a rede do Corredor São Paulo-Buenos Aires.
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai são signatários do "Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre" – o A.T.I.T., que regula a prestação de serviços de transporte terrestre rodoviário, de cargas e de passageiros, e o transporte ferroviário entre estes países do Cone Sul. Porém, o Mercosul ainda enfrenta sérios problemas que dificultam a interação entre as suas unidades, principalmente no setor rodoviário. Entre as maiores dificuldades, cita-se a interação entre Brasil e Argentina, já que esta é o principal comprador de produtos brasileiros no bloco. A Argentina por exemplo, não aceita o certificado de fumigação reconhecido internacionalmente pela ONU, fazendo com que o caminhão fique parado mais um dia para procedimento exigido pela aduana, e também enfrenta no país limitação na quantidade de abastecimento em diesel, e diferenças no padrão de dimensionamento de altura dos caminhões, aumentando consideravelmente o custo das operações. Outro ponto é burocracia gerada nas aduanas, visto que não há integração de fato entre os sistemas aduaneiros informatizados, há uma burocracia muito grande em relação a documentos, fazendo com que o caminhão fique parado muitos dias na aduana, gerando desvantagens para o empresário e entraves para o transporte intrabloco.

A ESTRUTURA DO SUBSISTEMA
De acordo com o modelo de Buzan e Little, a estrutura diz respeito ao posicionamento das unidades no sistema, ou seja, como elas estão arranjadas, levando em conta a diferenciação entre as mesmas e suas capacidades relativas. O Mercosul é caracterizado por possuir uma assimetria entre suas unidades, isto é os estados membros que o integram possuem diferenças sociais, políticas e econômicas, quadro que é um desafio para integração regional. Segundo SOUZA, OLIVEIRA e GONÇALVES, o os países membros do Mercosul apresentam assimetrias estruturais, que são caracterizadas por "discrepâncias quanto a dimensão econômica, posição geográfica, dotação de fatores, acesso à infraestrutura regional, qualidade institucional e nível de desenvolvimento dos Estados-membros" (2010 p.07). Um exemplo dessas assimetrias é o índice populacional: dos 285,3 milhões de habitantes do Mercosul, a maioria absoluta está concentrada no Brasil, 202,4 milhões, a Argentina possui 41,8 milhões, a Venezuela 30,8 e Paraguai e Uruguai possuem respectivamente 6,9 e 3,4 milhões de habitantes. O Brasil é a maior economia do bloco, com um PIB de 2.252 trilhões de dólares, seguido da Argentina com 475 bilhões, Venezuela com 381 bilhões, Uruguai e Paraguai com 49 e 25 bilhões respectivamente (ver Tabela 1). Esses dados nos revelam claramente o quanto os países do Mercosul são desiguais e assimétricos em termos populacionais e econômicos. Souza, Oliveira e Gonçalves (2010) ainda salientam que essas assimetrias também determinam em parte a capacidade das unidades de se beneficiarem da integração econômica, visto que as tarifas podem refletir os interesses comerciais dos países com maior influência, principalmente Brasil e Argentina.
BRASIL
O Brasil, como já exposto acima, possui índices que destoam significativamente do restante dos países do bloco, é um país com forte potencial de liderança regional e que desempenha esse papel de líder no processo de integração. É o maior país da América do Sul em termos territoriais e populacionais, faz fronteira com todos os países da América do Sul, com exceção apenas do Chile e do Peru e possui um extenso litoral que é chave para o comércio. Estes fatos corroboram a grande relevância estratégica do país no subcontinente. Segundo Jaime Preciado (2008), o Brasil tem se posicionado como principal interlocutor sul-americano no sistema internacional, possuindo projeção geopolítica e capacidade de gestão global. O autor salienta que esta posição deriva do esforço e de eventos de projeção do Brasil, como exemplo o destaque da participação no G4, a participação no grupo dos BRICs, a liderança expressa no G20 no marco da rodada de Doha, e o reconhecimento formal do Brasil como potência global por parte da União Europeia. No âmbito regional e especificamente no Mercosul, o Brasil desempenha um papel econômico fundamental:
[...] o peso econômico do Brasil no bloco é incontestável, tendo seu PIB representado sempre participações superiores a 75% do PIB do bloco, seja em momentos de crise interna, seja em momentos de crescimento acelerado dos parceiros que conformam o Mercosul. (SOUZA, OLIVEIRA e GONÇALVES, 2010, p.15)
VENEZUELA
A Venezuela é o país mais recente a se tornar membro efetivo do Mercosul. Segundo Preciado, a Venezuela possui uma "dupla condição paradoxal, de liderança regional" (2008 p. 263), pois possui uma influência de tomar a frente em questões de integração regional, principalmente no campo energético e, em um eixo ideológico, tem um discurso anti-hegemônico no qual questiona a dependência dos países que são os grandes centros de poder mundial, em especial os Estados Unidos. O boletim estatístico anual da Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP) emitido em julho de 2011, declarou que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo, com cerca de 296,5 bilhões de barris. O petróleo além de ser a principal fonte de renda da Venezuela, representa uma ferramenta de projeção geopolítica como potência energética mundial, conduzindo também à uma liderança regional (PRECIADO, 2008). O país atualmente possui instabilidades políticas e econômicas, enfrentando manifestações e protestos no ano de 2014, com o presidente Nicolás Maduro sendo acusado de instalar um governo com características ditatoriais, queda do preço do petróleo e previsão de decrescimento do PIB segundo a CEPAL. Porém, é certo que os recursos energéticos que possui, constituem ferramenta poderosa para o governo venezuelano, além disso, no âmbito internacional o país exerce papel de destaque na Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP).

ARGENTINA
A Argentina é a 29ª maior economia do mundo e 2ª maior economia da América do Sul, com um PIB de 610 bilhões de dólares. O país possui 2,8 milhões de quilômetros quadrados de mar jurisdicional e cinco mil quilômetros de costa, com uma população de 41,8 milhões de habitantes. O país é o segundo do Mercosul que mais exporta para o mundo, correspondendo à 34 bilhões de dólares, perdendo apenas para o Brasil que exportou o equivalente a 110,5 bilhões de um total de 191,2 bilhões do Mercosul, segundo dados divulgados pela Divisão de Inteligência Comercial – DIC do Ministério das Relações Exteriores. A economia da Argentina está principalmente relacionada à agricultura e a pecuária, o país tem uma das mais produtivas agriculturas do mundo, sendo um grande exportador de cereais, com destaque para o trigo. A Argentina, juntamente com o Brasil e o México, integra o G20, por constituírem as maiores economias da América Latina.
URUGUAI
O Uruguai e o Paraguai constituem as menores economias do Mercosul. Daniel Rótulo (2002) reconhece que para muitos analistas, os países pequenos enfrentam dificuldades restritivas na sua capacidade negociadora, considerando variáveis estruturais como tamanho, população e território nesta análise. Porém, o autor argumenta que existem outras variáveis importantes para considerar, como o desenvolvimento interno, da capacidade de elaborar estratégias e o contexto em que ocorre a negociação. Segundo o autor, o Uruguai possui uma capacidade de gerenciar consenso entre os atores políticos e sociais no mercado interno e externa, e credibilidade e legitimidade ação internacional, fatores que fornecem ao Uruguai certo poder de negociação no Mercosul (RÓTULO, 2002, p.4).

PARAGUAI
O Paraguai entrou no Mercosul sendo a economia mais aberta em comparação com as outras economias da América do Sul. Porém segundo Lucas Arce (2010), o país não estava tão disposto ao modelo de integração regional, ficando assim com maiores desvantagens de aproveitamento do projeto regional. Silva e Rodrigues argumentam que apesar do Mercosul ser de grande relevância para o desenvolvimento do Paraguai, principalmente no que diz respeito a superação de suas diferenças estruturais, o país não demonstra total satisfação com o bloco, visto a permanência das assimetrias (2010 p. 28). Assim, os autores destacam a busca de alternativas ao Mercosul por parte do Paraguai, como a disposição de fechar acordos comerciais com os Estados Unidos. O Paraguai é um grande produtor de commodities, principalmente a carne e a soja. Porém como declarou em janeiro o ex-ministro da Fazenda paraguaio, Germán Rojas: "Mesmo integrado ao Mercosul, o Paraguai fez a sua parte buscando outros mercados e hoje enviamos soja, carne e produtos industrializados, como plásticos, para a Rússia, o Oriente Médio e a Ásia". O Paraguai, em 2013, registrou o terceiro maior crescimento do mundo, 14,1%, segundo dados do Banco Mundial.

COSIDERAÇÕES FINAIS
Existe disposto no SI uma diversidade unidades, as quais exercem diferentes níveis de influencia, que como vimos, determina a formação de processos, designa a capacidade de interação que cada uma tem e que relaciona com outras, fazendo com que a estrutura do sistema se forme. Destarte, algumas agem mais e são melhor no modelamento de novos processos. A vista disso, podemos inferir que seria preciso fugir da anarcofilia que simplifica os fatores a serem considerados ao explorar o Sistema Internacional sulamericano. Com o Mercosul, comprovamos que os abismos existentes na capacidade que as unidades têm de interagirem entre si, faz com que a busca por uma maior cooperação econômica tenha que enfrentar obstáculos para a sua aplicação. Equilíbrio não é sinônimo de equidade, mas para mantê-lo, é preciso que haja um fluxo satisfatório de relações interestatais mantendo a estrutura, pois sem interação, não existe sistema.




















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