O Morgado de Paço de Sousa: da administração de Pedro Leite Pereira de Melo à organização documental do arquivo da família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada

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O Morgado de Paço de Sousa: da administração de Pedro Leite Pereira de Melo à organização documental do arquivo da família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada Vilma Joana Correia Paiva de Freitas Cardoso

PALAVRAS-CHAVE Arquivos de Família; Casa da Companhia; Geneologia; RESUMO Testemunho de vivências de tempos já idos, os arquivos de família apresentam-se no presente, como um imprescindível veículo de informação para o estudo social da família e dos indivíduos que a compunham. Nos últimos anos, o estudo e organização dada a estes arquivos têm contribuído não só para a sua salvaguarda, mas também para a reconstrução da história destas famílias. Na senda destas preocupações, o tratamento e organização do arquivo da Casa da Companhia, em Paço de Sousa, surge-nos como imprescindível, sendo esta casa um exemplo de ascensão económica e política através dos seus membros, dos quais se destaca Pedro Leite Pereira de Melo, fidalgo e 1º administrador do morgado de Paço de Sousa, surgindo-nos ainda como figura presente em momentos políticos que marcaram a história da região e do país, no século XIX.

COMUNICAÇÃO

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Introdução Testemunho de vivências de tempos já idos, os arquivos de família apresentam-se no presente, como um imprescindível veículo de informação para o estudo social da família e dos indivíduos que a compunham. Colmatando muitas vezes a falta de informações nos arquivos estatais, permitem olhar a sociedade de outrora através de um caráter mais pessoal, no papel que determinadas famílias e seus indivíduos desempenhavam no tempo e espaço em que viveram. A valorização dos arquivos de família através da sua conservação, organização e estudo, têm possibilitado novos desafios não só à Arquivística como também à História Social, permitindo ainda que, a memória de muitas famílias, extintas ou não, possam ser contadas e perpetuadas através do cuidado a estes arquivos. Nos últimos anos, o estudo e organização dada a estes arquivos têm contribuído não só para a sua salvaguarda, mas também para a reconstrução da genealogia destas famílias, e conhecimento do património que possuíam muitas vezes unido na figura da “casa” e morgadios, além do papel político e económico que um ou mais membros desta tiveram. Uniões matrimoniais com vista à entrada na nobreza, adquirição de bens e proteção destes através da instituição de morgadios, a noção da importância da identidade da família ligada a uma “casa”, são práticas a que se assiste desde o século XVI, prolongando-se até meados do século XIX, com a extinção dos morgadios em 1863. A Casa da Companhia e o Morgado de Paço de Sousa afeto a esta, apresentam-se assim como um exemplo de ascensão económica e política através de duas figuras marcantes da sua história: José de Azevedo e Sousa e Pedro Leite Pereira de Melo, fundador e 1º administrador do morgadio, respetivamente. Como primeiro objetivo deste estudo, abordaremos o papel que Pedro Leite Pereira de Melo, juntamente com sua esposa Dona Sebastiana Máxima de Azevedo e Sousa, tiveram como administradores do morgadio, que se prolongaria até ao seu neto Diogo Leite Pereira de Melo. Figura proeminente da Casa da Companhia e também da Quinta do Choupelo em Vila Nova de Gaia, o papel político de Pedro Leite Pereira de Melo durante alguns dos períodos mais conturbados da nossa história não passará também despercebido. Fruto da investigação que tem levado não só à reconstrução da genealogia como ao estudo histórico desta família, abordaremos também o trabalho que tem sido feito na organização do seu arquivo, depositado atualmente no Arquivo Municipal de Penafiel. Família com diversas ramificações, e fundos relativos a mais do que uma casa, salientaremos a aplicação da organização por modelo sistémico no fundo respeitante à Casa da Companhia, consistindo na organização da documentação por produtor e respeitando a orgânica familiar, um método que tem vindo a ser defendido por vários investigadores e aplicado a outros arquivos de família.

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1. A Casa da Companhia: berço do Morgado de Paço de Sousa A Casa e quinta da Companhia situa-se na freguesia de Paço de Sousa, no concelho de Penafiel, devendo a sua designação à função que durante anos teve como mesa abacial dos jesuítas. Na segunda metade do século XVI, por ordem do Cardeal D. Henrique, foi o mosteiro de Paço de Sousa entregue aos jesuítas, a fim de se dissolver a comunidade beneditina ali existente desde o século X. Não se verificando tal extinção, veio o mosteiro a retornar aos beneditinos, porém a mesa abacial, foi desmembrada e entregue aos jesuítas do Colégio de Évora em 1579, por Breve do Papa Gregório XIII. Perto do mosteiro, seria então erguida em 1581, uma residência e seus celeiros, servindo de morada aos padres jesuítas que recolhiam as rendas da mesa abacial e administravam os coutos que lhe couberam.1 Em 1759, com a expulsão dos jesuítas do território português, todos os bens do Colégio e Universidade de Évora, foram doados à Universidade de Coimbra, onde se incluía a mesa abacial de Paço de Sousa. Em fevereiro de 1772, com a venda em hasta pública dos bens dos jesuítas, a Casa da Companhia, juntamente com toda a extensão de quinta e os foros pertencentes à mesa abacial, foram arrematados por José de Azevedo e Sousa. Rico comerciante ligado aos vinhos do Porto, José de Azevedo e Sousa (1723-1788), fez da Quinta da Companhia o bem mais proeminente do que viria a ser o Morgado de Paço de Sousa. Tendo arrematado diversos bens, comprado outros e enriquecido com os negócios do vinho, viria a instituir um morgadio em 1779, nomeando como primeiros administradores, sua filha Dona Sebastiana Máxima de Azevedo e Sousa e o marido desta, Pedro Leite Pereira de Melo. Tendo residência constante entre a Quinta do Choupelo de Vila Nova de Gaia, onde nasceriam todos os filhos de José de Azevedo e também de sua filha Dona Sebastiana, o morgadio seria efetivamente sediado em Paço de Sousa, tendo como casa mãe, a Casa da Companhia, onde de resto se preservou todo o seu arquivo documental. Continuando na família, foi sofrendo intervenções durante o século XIX e XX, sobretudo pelo cunho de Diogo Leite Pereira de Melo, 3º e último administrador do morgadio. De aspeto neoclássico pelas alterações sofridas, a casa é ainda ladeada por espaços ajardinados e mata, possuindo uma capela exterior junto ao edifício, construída durante a segunda metade do século XVIII, mas já descrita na arrematação de José de Azevedo. Consagrada a Nossa Senhora da Conceição, possui ainda dois brasões ao teto da sacristia e da capela, com as armas dos Leite Pereira.2 De destacar que embora a entrada na nobreza se tivesse dado com o casamento de Dona Sebastiana e Pedro Leite, e José de Azevedo e Sousa nunca tivesse tirado carta de brasão

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Cf. AGUIAR, J. Monteiro de – Penafiel Antiga. Subsídios para a futura Monografia do Concelho. In Boletim da Câmara Municipal de Penafiel. Penafiel, Câmara Municipal de Penafiel, 1932. p. 55-56. Cf. COELHO, Manuel Ferreira; MENDES, Manuel – Capelas e Textos Etnográficos de Paço de Sousa. Penafiel, Centro Cultural e Rancho Folclórico de Paço de Sousa, 1975. p. 43-50.

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de armas, existe na parte superior do portão de entrada da Quinta da Companhia, um brasão com as armas dos Azevedo.3

2. Pedro Leite Pereira de Melo Como uma das figuras mais proeminentes relacionadas à Casa da Companhia e Morgado de Paço de Sousa, aparece-nos Pedro Leite Pereira de Melo, fidalgo da casa real e no qual o nosso estudo se foca. Sendo um dos produtores com mais documentação dentro do fundo da Casa da Companhia, administrou, em conjunto com sua esposa, o Morgado de Paço de Sousa, o qual só se viria a extinguir com seu neto, Diogo Leite Pereira de Melo. Nascido a 21 de julho de 1741, na Quinta de Campo Belo, na freguesia de Santa Marinha de Vila Nova de Gaia4, Pedro Leite Pereira de Melo apresenta-se aqui, não só como o 1º administrador do Morgado de Paço de Sousa, mas também como um veículo de condução à nobilitação da família de José de Azevedo e Sousa, através do seu casamento com a filha deste, Dona Sebastiana Máxima.

2.1. Antepassados Debruçando-nos um pouco sobre a ascendência e identidade de Pedro Leite Pereira de Melo, seu pai, Diogo Francisco Leite Pereira, natural da cidade do Porto, foi fidalgo da casa real e senhor da Casa de Campo Belo, morgado de Quebrantões e do reguengo de Gaia a Pequena. Em documentação sobre apontamentos genealógicos encontrada no fundo da Casa da Companhia, a ascendência da família Leite é apresentada como oriunda da província de Trás-os-Montes, mais concretamente da vila de Chaves, sendo considerado o seu “progenitor”, Pedro Esteves.5 Teve este um filho, Álvaro Pires Leite, alcaide mor de Monforte de Rio Livre e que também residia em Chaves, sendo o primeiro da família a usar o sobrenome “Leite”, perpetuado depois pelos seus descendentes.6 Destaca-se a partir daqui, o facto de se achar inúmeros “Álvaros” nas gerações posteriores, sendo tal explicado nos apontamentos genealógicos do fundo estudado: “pelo que em memoria e contemplação sua tiveram e conservarão muitos desta família o nome de Álvaro”.7 A Álvaro Pires Leite, seguiu-se o seu filho João

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Atualmente, a Casa e Quinta da Companhia estão classificados como Monumento de Interesse Público, desde 2013, conforme a Portaria n.º 205/2013, DR, 2.ª série, n.º 71, de 11-04-2013. Cf. ADPRT, Fundo da Paróquia de Vila Nova de Gaia (Santa Marinha), PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0007, Registos de Batismos, 1725-1742, fl. 470v. Sobre este Pedro Esteves, diz-se “que viveo no Reinado de El Rey D. Diniz, e era da mesma geração dos conquistadores daquela Villa em cuja memória a tomarão por apellido e por diviza as Chaves. Informação retirada de um conjunto de documentos inicialmente produzidos por Pedro Leite Pereira de Melo e continuados pelas gerações posteriores da família, contendo informações genealógicas sobre a família Leite Pereira de Melo. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, Apontamentos Genealógicos, s/cota. Deriva este apelido “Leite”, segundo os apontamentos genealógicos da Casa da Companhia e a obra de Felgueiras Gayo, do gosto de Álvaro Pires Leite, por leite cozido, tendo sido conhecido pelo termo antigo de “leite coito”. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, Apontamentos Genealógicos, s/cota.

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Álvares Leite, tendo este último, um filho de nome Álvaro Anes Leite. Casaria este com Filipa Borges, dada como filha de Diogo Borges, senhor de Gestaçô, da qual teve numerosa descendência, e da qual se destaca o seu filho Álvaro Leite, por ter fundado o Morgado de Quebrantões. O seu filho primogénito, Diogo Leite, sucede-lhe na Casa de Quebrantões e a este é lhe confirmado o senhorio de Gaia Pequena.8 Sucedeu a Diogo Leite, o seu filho Álvaro Leite Pereira, que tal como seu pai, obteve confirmação do senhorio de Gaia Pequena a 20 de agosto de 1504, sendo fidalgo da Casa Real e tendo casado três vezes. Da primeira mulher, Dona Marta Pereira, teve o primogénito Diogo Leite Pereira, que não sucedeu na Casa de Quebrantões por ter morrido ainda em vida de seu pai, passando este para seu irmão Sebastião Leite. Diogo Leite Pereira serviu em Tânger onde era fronteiro mor e casou com Dona Antónia de Magalhães Pessoa, filha de Gaspar Pessoa de Carvalho que foi desembargador dos agravos e administrador da albergaria de Canaveses.9 Sucedeu a Diogo Leite Pereira, o seu filho Álvaro Leite Pereira, que foi feito comendador pelos serviços que prestou o seu pai na comenda de Alegrete. Casou com Dona Antónia de Vasconcelos, filha de Manuel Mendes de Vasconcelos. Tanto no nobiliário de Felgueiras Gayo, como nos documentos da Casa da Companhia, é referido que Álvaro Leite Pereira matou a sua esposa, Dona Antónia de Vasconcelos, por a achar em adultério com Francisco Pereira de Magalhães, contador da Relação do Porto, em 1622.10 Casando segunda vez com Dona Francisca Barreto, suceder-lhe-ia o filho, Diogo Leite Pereira. Diogo Leite Pereira, fidalgo da Casa Real e comendador de São João de Alegrete do bispado de Portalegre, serviu no Brasil e morreu em Goa, onde também serviu como capitão das naus em 1640. Casou com Dona Helena de Noronha, filha de Martim de Távora de Noronha, senhor de Campo Belo e capitão das naus da Índia, e de sua mulher Dona Maria Leme. Com este casamento passou ainda, a Casa de Campo Belo para a posse da família dos Leites, sendo administrada pelo seu filho mais velho, Álvaro Leite Pereira, que, além de acrescentar o título de senhor de Campo Belo, por herança materna, passou também a ser senhor do morgado de Quebrantões e Gaia Pequena.11 Casou três vezes, desconhecendo-se a identidade da terceira esposa. Da primeira vez com Dona Maria Josefa de quem teve descendência e que morreu precocemente; numa segunda vez com Dona Lourença Constança de Azevedo, filha de Lourenço de Azevedo e Vasconcelos, fidalgo da Casa Real. Desta senhora teve o filho que lhe sucedeu, Diogo Francisco Leite Pereira, fidalgo e cavaleiro da Ordem de Cristo, casado com Dona Ana (também confundida com Ângela) Casimira de Lima e Melo, continuando como senhor de Quebrantões, Gaia Pequena e Campo Belo.

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Diogo Leite foi ainda vedor no Porto em 1523, e procurador em Cortes em 1535, tendo casado com Dona Violante Pereira, filha de Diogo Brandão e Dona Isabel Nunes, senhores da Casa de Coreixas. Cf. Gayo, Felgueiras – Nobiliário das Famílias de Portugal. Barcelos, Agostinho de Azevedo e Meirelles e Domingos de Araújo Afonso, 1938-1941, Tombo XVII, fl. 22. A doação do Gaia a Pequena, foi concedida por D. João II, a 22 de fevereiro de 1491, tendo sido confirmada posteriormente por D. Manuel I. Cf. ANTT, Chancelaria Régia 1211/1826, PT/TT/CHR/J/0009/455, Chancelaria de D. João II, liv. 9, fl. 123. 9 Dona Antónia de Magalhães Pessoa, depois de viúva de Diogo Leite Pereira, casou 2ª vez com Manuel Mendes de Vasconcelos. Cf. Gayo, Felgueiras – Nobiliário das Famílias de Portugal…, Tombo XVII, fl. 22. 10 Cf. Gayo, Felgueiras – Nobiliário das Famílias de Portugal. Barcelos, Agostinho de Azevedo e Meirelles e Domingos de Araújo Afonso, 1938-1941, Tombo XXVIII, fl. 80. 11 Depois de ter sido passado o morgado de Quebrantões e o senhorio de Gaia Pequena, a seu tio-avô Sebastião Leite, quis o Rei D. João IV, que Álvaro Leite Pereira casasse com a neta deste e herdeira do vínculo, Dona Luísa Leite. Por se ter recusado esta a casar, fez o rei mercê ao dito Álvaro Leite Pereira, dos morgados. Cf. Gayo, Felgueiras – Nobiliário das Famílias de Portugal..., Tombo XXVIII, fl. 80.

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Se do lado paterno, Pedro Leite Pereira de Melo descendia dos senhores do morgado de Quebrantões e da Casa de Campo Belo e Gaia Pequena, pelo lado materno, sua mãe, Dona Ana (Ângela) Casimira de Lima e Melo, era filha de Dona Maria de Melo Barreto e Pedro da Costa Lima, cavaleiro da Ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real e familiar do Santo Ofício, tendo ainda sido superintendente das naus da Ribeira do Porto. Deste ramo familiar pouco se sabe, não tendo chegado até nós documentação produzida pela ascendência materna de Pedro Leite Pereira de Melo.12

2.2. Ligação à Casa da Companhia Da juventude de Pedro Leite Pereira de Melo, sabemos que não sucedeu na casa do seu pai, por não ser o filho primogénito, tendo a administração do Morgado de Quebrantões e Campo Belo, ficado a cargo do seu irmão Francisco António Leite Pereira. Em 1745, ainda criança, recebeu o alvará de fidalgo cavaleiro13 e a 15 de abril de 1779, casou em São Julião da Barra, concelho de Lisboa, com Dona Sebastiana Máxima de Azevedo e Sousa, filha de José de Azevedo e Sousa e de Mariana de Jesus da Rocha, representada através de procuração por José Borges Pacheco Pereira.14 A esposa, natural de Santa Marinha em Vila Nova de Gaia e residente em Paço de Sousa, no concelho de Penafiel, foi a terceira filha do segundo casamento de José de Azevedo e Sousa com Mariana de Jesus da Rocha.15 Dois meses antes, a 11 de fevereiro de 1779, José de Azevedo fazia um vínculo perpétuo da sua terça e de sua esposa, incluindo os seus bens e intitulando-o de Morgado de Paço de Sousa, deixando Dona Sebastiana como administradora deste vínculo e declarando posteriormente no seu testamento, que o fez como condição principal de Pedro Leite Pereira de Melo casar com Dona Sebastiana.16 Existindo uma clara troca de interesses com este casamento, como filho segundo de uma família de nobres brasonados sem direito ao morgadio de Quebrantões, Pedro Leite Pereira de Melo conseguiu através da administração do Morgado de Paço de Sousa, o fulgor financeiro que necessitava e do qual seu sogro José de Azevedo e Sousa fez questão de frisar quando se refere a si, no próprio testamento, de que se tratava de um “nobre fidalgo sem nada de seu”.17 Por conseguinte, também José de Azevedo beneficiou a própria família com este casamento. Se detinha uma enorme riqueza derivada da ascensão que os burgueses beneficiaram durante 12 Segundo Felgueiras Gayo, a avó materna de Pedro Leite Pereira de Melo seria filha de Dona Teresa Barreto de Barros, casada com Pedro de Melo de Alvim, que foi senhor da Casa da Carreira em Viana do Castelo e fidalgo real, sendo esta última filha de Barnabé Veloso de Miranda, fidalgo e cavaleiro da Ordem de Cristo e descendente de João Velho Barreto. Cf. Gayo, Felgueiras – Nobiliário das Famílias de Portugal. Barcelos, Agostinho de Azevedo e Meirelles e Domingos de Araújo Afonso, 1938-1941, Tombo VI, fls. 66-68. 13 Cf. ANTT, Registo Geral de Mercês 1639/1949, PT/TT/RGM/C/0035/56784, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 35, fl. 470. 14 Cf. ANTT, Fundo Paróquia São Julião da Barra, PT/TT/PRQ/PLSB60/002/C3, Registos de casamento da Paróquia de São Julião, 1773-1787, fl. 69v. 15 Dona Sebastiana nasceu a 20 de janeiro de 1756, na freguesia de Santa Marinha de Vila Nova de Gaia. Cf. ADPRT, Fundo da Paróquia de Vila Nova de Gaia (Santa Marinha), PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0008, Registos de Batismos, 1742-1766, fl. 321. 16 José de Azevedo e Sousa fundou o morgado de Paço de Sousa em favor da filha Dona Sebastiana Máxima e seu genro Pedro Leite Pereira de Melo, relegando os outros filhos. O primogénito Francisco de Azevedo e Sousa, fruto do seu primeiro casamento, não podia assumir a administração de um morgadio por ser clérigo e tesoureiro-mor da Sé do Porto; o único filho que teve com Mariana de Jesus da Rocha, José de Azevedo e Sousa, foi declarado demente e a filha mais velha Ana Benedita de Azevedo e Sousa, inapta para administrar o vínculo, tendo em conta que possuía dívidas do seu primeiro casamento. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, PT/AMPNF/FLPMA/A/F, Tombo 1, Declaração do vincollo, fls. 87-93v. 17 Além de deixar claro que Pedro Leite Pereira de Melo era um fidalgo sem direito ao morgadio da família e não possuía fortuna, José de Azevedo e Sousa frisou que este se casou com sua filha, Dona Sebastiana, sabendo de antemão que viria a administrar o vínculo que o sogro instituíra: “e se resolveo a cazar com a dita nossa filha, foi na certeza de nella se fazer o referido vincolo”. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, PT/AMPNF/FLPMA/A/H, Tombo 1, Certidao com o theor do testamento com que falesceo Jozé de Azevedo, fls. 19v.

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o regime pombalino, tendo arrematado diversos bens aos jesuítas no qual se incluía a Casa da Companhia, faltava à família de José de Azevedo, a entrada na nobreza, proporcionada pela união de Dona Sebastiana com Pedro Leite Pereira de Melo. Numa época em que as uniões matrimoniais, a manutenção da posse económica de terras na família e a identificação desta com uma “casa”, faziam parte da estratégia de ascensão social de muitas famílias ao longo dos século XVII e XVIII, José de Azevedo usou de cada uma delas para que pudesse subir da posição de um comerciante burguês, para um proprietário com ligações à nobreza. Construindo a sua Casa do Choupelo e adquirindo a Casa da Companhia, tornando esta última a casa nobre ligada ao morgadio que instituiu, José de Azevedo conseguiu evitar a dispersão do património fundiário que adquiriu, conservando-o no seio da família através da sua filha Dona Sebastiana e permitindo que, a principal fonte de riqueza fosse a renda das terras e bens edificados, de resto, uma política continuada pelo genro Pedro Leite Pereira de Melo.18 A análise dos documentos que este arquivo de família nos apresenta, permite perceber que desde sempre houve uma clara escolha de José de Azevedo por esta filha e futuro genro, em detrimento dos outros filhos. Alegando a impossibilidade de instituir um morgadio aos únicos dois filhos varões que tinha – Francisco Maria, fruto do primeiro casamento, era tesoureiro-mor na Sé do Porto e José Joaquim, do segundo casamento, foi dado como inapto mentalmente – José de Azevedo afastou também as outras filhas daquela administração. Dona Maria Clementina que havia casado com um rico comerciante do Porto, Cristóvão Guerner mas sem nobilitação, fora deserdada por o ter feito contra a vontade do pai, e Dona Ana Benedita, que ainda que tenha casado com José Ferreira de Sousa Gavião, dono da Casa do Pinheiro em Amarante, herdou deste várias dívidas. O título nobiliárquico, o descender de uma das famílias e casa mais conhecidas de Vila Nova de Gaia, de onde José de Azevedo e Sousa era natural e detinha a sua Quinta do Choupelo e todos os seus negócios relacionados ao vinho do Porto, contribuíram assim para a escolha de Pedro Leite Pereira de Melo, juntamente com sua esposa, para administrador do vínculo instituído por José de Azevedo e Sousa.

2.3. A administração do Morgado de Paço de Sousa Além da Casa e Quinta da Companhia, juntamente aos foros desta, encontravam-se vinculados ao Morgado de Paço de Sousa, um rol de propriedades que se estendiam por dezoito freguesias do concelho de

18 Segundo Nuno Monteiro, desde o século XVI, que o termo “Casa” adquiriu por vezes, maior importância que os próprios indivíduos que a ela pertenciam, estando intimamente ligadas a um título nobiliárquico. Ainda que tenha adquirido com o casamento, a Casa da Companhia, Pedro Leite Pereira de Melo surge-nos muitas vezes ligado à sua antiga casa, a Casa de Campo Belo, em Vila Nova de Gaia, esta desde sempre ligada à nobreza e ao morgadio de Quebrantões. Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo – O crepúsculo dos grandes:a casa e o património da aristocracia em Portugal 17501832. Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998. p. 35.

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Penafiel e por mais concelhos dos distritos do Porto, Aveiro e Braga.19 Ao longo da sua vida, Pedro Leite Pereira de Melo foi aumentando os bens do vínculo, através de compras e emprazamentos. Anexado ao vínculo, ficou também, a legítima de José Joaquim de Azevedo e Sousa, irmão de Dona Sebastiana. Tendo sido interditado pelo pai aos vinte anos e sendo considerado doente e demente aos vinte e quatro, José Joaquim viu a sua legítima ser anexada ao vínculo do morgadio, decisão que viria a ser contestada por sua mãe Mariana de Jesus da Rocha, e pelo próprio após a morte de José de Azevedo, mas sem efeitos práticos.20 Se do lado da sua esposa, Pedro Leite conseguiu a administração de um morgadio riquíssimo, controlando os negócios inerentes a este, ainda que oficialmente, também Dona Sebastiana fosse morgada, do seu, no ano de 1809, herdou por parte de seu irmão António Leite Pereira de Melo, que foi abade em Santo Ildefonso, no Porto, todos os seus bens, incluindo umas casas na Travessa dos Pardieiros, sita na mesma cidade.21 Herdaria, ainda, juntamente com sua mulher Dona Sebastiana, a Quinta do Pinheiro em Amarante, deixada pela irmã desta, Dona Ana Benedita de Azevedo e Sousa, que casara primeira vez com José Pereira Gavião Pessoa, da dita Quinta do Pinheiro, e depois com António Teixeira Vasconcelos de Queirós, tendo falecido sem descendência de ambos os matrimónios.

2.4. Papel na sociedade e política Fidalgo e morgado, convém ressaltar também o papel que Pedro Leite Pereira de Melo teve a nível político na sociedade em que viveu. Na documentação aparece-nos como vereador na Câmara Municipal do Porto em 1788, e intendente da Fábrica de Aguardente Sousa, no ano de 1793. Em 1820, fez parte da Junta Preparatória das Cortes pertencente à Junta Provisional do Governo Supremo do Reino.22 Ainda que a maioria da documentação produzida por Pedro Leite Pereira de Melo, seja maioritariamente relacionada à administração das propriedades do morgado de Paço de Sousa, é possível notar o seu interesse e participação nas movimentações políticas que ocorreram em Portugal durante a Revolução Vintista, revelando um caráter mais

19 Nomeadamente nas freguesias de Paço de Sousa, Irivo, Urrô, Valpedre, Capela, Canelas, Lagares, Cabeça Santa, Oldrões, Galegos, Rans, Vila Cova, Duas Igrejas, Marecos, Guilhufe, Santiago de Subarrifana, Milhundos e São Mamede de Recezinhos, dentro do concelho de Penafiel. Contavam-se ainda foros vinculados ao morgadio, nos concelhos de Arouca, Baião, Castelo de Paiva, Chaves, Felgueiras, Guimarães, Lamego, Lousada, Melgaço, Oliveira de Azeméis, Paços de Ferreira, Paredes, Porto (cidade), Santa Maria da Feira, São Pedro do Sul, Tondela, Trofa, Vale de Cambra e Vila Nova de Gaia. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada. 20 Em 1802, José Joaquim de Azevedo e Sousa moveu uma sentença cível contra o cunhado Pedro Leite Pereira de Melo, pedindo o primeiro para que lhe revogassem o auto de exame e petição do seu pai que o deu como demente, no ano de 1780, alegando estar capaz de reger e administrar os seus bens. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, PT/AMPNF/FLPMA/A/H, Sentença civel com salva do Apelado Pedro Leite Pereira de Mello contra o Apelante Joze Joaquim de Azevedo e Souza., 1802. 21 Encarregava-lhe este seu irmão, de dar uma pensão anual até ao fim da vida, a um mendigo cego e surdo que este albergara em sua casa, com a condição de que, quando o desvalido morresse, Pedro Leite Pereira de Melo lhe mandasse dizer missas em sua alma. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, Certidão de testamento com que faleceu António Leite. 22 Pedro Leite Pereira de Melo era, a par de Francisco de Sousa Cirne de Madureira, um dos vogais representantes da nobreza, na Junta Provisória do Governo Supremo do Reino. Em 1820, num encontro realizado em Alcobaça com o objetivo de conter as duas “revoluções” de caráter liberal no Porto e Lisboa, criaram-se duas juntas: a do Governo Supremo do Reino, que incluía Manuel Fernandes Tomás, Silva Carvalho e Ferreira Borges; e a Junta Provisional Preparatória das Cortes, presidida pelo conde de S. Paio, onde se incluía Pedro Leite Pereira de Melo. Cf. SERÉN, Maria do Carmo; PEREIRA, Gaspar Martins – O Porto Oitocentista in RAMOS, Luís A. de Oliveira (dir.) - História do Porto. Porto, Porto Editora, 1994. p. 465

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liberal do que o de muitas famílias do concelho à data, conhecidas por apoiarem o movimento absolutista. 23 Ainda durante as invasões francesas, Pedro Leite Pereira de Melo foi mencionado em ata da vereação da Câmara Municipal de Penafiel de 1808, na qual se refere que ajudou as famílias dos soldados do concelho de Penafiel com géneros e dinheiro.24

2.5. Descendência e continuação da administração do morgadio Do casamento com Dona Sebastiana Máxima, Pedro Leite Pereira de Melo teve cinco filhos. Na documentação da Casa da Companhia, aparece-nos em alguns apontamentos, o primogénito desta união, de nome Diogo Leite e que é dado como tendo morrido ainda menor. No entanto, nos registos de batismo de Santa Marinha em Vila Nova de Gaia, onde todos os filhos de Dona Sebastiana e Pedro Leite Pereira de Melo nasceram, não existe um Diogo, mas sim uma Mariana, nascida a 9 de fevereiro de 1780, quase um ano após o casamento destes.25 A 30 de dezembro de 1781, mais de um ano após o nascimento desta filha, nascia uma outra, Mariana Isabel Leite Pereira de Melo.26 O facto de se acharem duas Marianas nos registos de nascimento, pode ser explicado no provável falecimento da primeira, sendo costume dar-se o nome do bebé falecido, ao filho seguinte. Em toda a documentação do fundo da Casa da Companhia, apenas e só apareceu mencionada Mariana Isabel, o que corrobora não só a tese de que a primeira faleceu, como deveria ter ocorrido em tenra idade. Menos explicado é o facto de ser dado sempre como primogénito Diogo, ainda que nenhuma data de nascimento seja apontada nos documentos. A ausência do registo deste filho nos livros paroquiais de Santa Marinha em Vila Nova de Gaia, pode indicar que o nascimento deste deu-se talvez em outra freguesia.27 A 4 de fevereiro de 1784 nasce Ana Adelaide Leite Pereira de Melo, tendo como padrinho o tio materno Francisco Maria de Azevedo e Sousa.28 No entanto, nenhum destes primeiros filhos deixou documentação no fundo da Casa da Companhia, que tenha chegado até nós. Não são sequer citados no testamento de Dona Sebastiana, feito no ano de 1816, ao contrário dos dois filhos mais novos, pressupondo-se que tenham morrido

23 Dando como exemplo a Casa das Mouras, na freguesia de Rio de Moinhos, o seu arquivo familiar revela o apoio ao regime absolutista que Columbano Pinto Ribeiro de Castro Portugal da Silveira deu, por altura da guerra civil de 1828-1834. As preocupações políticas de Pedro Leite aparecem-nos em alguma correspondência presente na documentação produzida por si, como o caso das cartas de Manuel Velho da Cunha Azevedo, seu provavelmente primo por parte da esposa Dona Sebastiana, lhe enviava, relatando as movimentações francesas entre 1794 e 1795. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada, PT/AMPNF/FLPMA/A/H/002, Série de correspondência de Pedro Leite Pereira de Melo, 1790-1826. 24 Além das famílias dos soldados naturais do concelho de Penafiel, contavam-se também das freguesias de Parada de Todeia e Cête, no concelho extinto de Aguiar de Sousa. Pedro Leite Pereira de Melo ajudou estas famílias ao providenciar-lhes sustento com a entrega de pão, azeite e dinheiro, tendo ainda mandado que se tratassem os enfermos à custa da sua fazenda. Cf. AMPNF, Fundo da Câmara Municipal de Penafiel, PT/AMPNF/CMPNF/B/A-001,Livro de registo dos actos da Câmara, 1803-1815, Lv. 12, fls. 137v-138. 25 Foram padrinhos de Mariana, os seus avós maternos, José de Azevedo e Sousa e Mariana de Jesus da Rocha, tendo sido a criança baptizada na capela da Quinta do Choupelo. Cf. ADPRT, Fundo da Paróquia de Vila Nova de Gaia (Santa Marinha), PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0009, Registos de baptismo, 1766-1780, fl. 393. 26 Cf. ADPRT..., PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0010, Registos de baptismo, 1780-1786, fl. 33v. 27 A pesquisa pelo registo de nascimento e batismo de Diogo Leite Pereira de Melo, filho de Pedro Leite e Dona Sebastiana, na freguesia de Paço de Sousa, concelho de Penafiel, onde está localizada a Casa da Companhia, também se revelou infrutífera. 28 Cf. ADPRT..., PRQ/PVNG16/001/0010, Registos de baptismo, 1780-1786, fl. 96v.

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ainda na menoridade. A 24 de dezembro de 1785, nascia José Augusto Leite Pereira de Melo.29 Fidalgo da Casa Real, foi coronel do regimento de milícias da Maia, estando ao comando desta quando foi a Restauração do Porto, em 1808, fazendo parte da assinatura do termo de aclamação feito no Paço Episcopal, e da criação da Junta Suprema a 12 de junho de 1808.30 Casou em 1814 com Dona Emília de Sousa Alcoforado Teixeira e Lencastre, filha de Gaspar Teixeira de Magalhães, visconde do Peso da Régua.31 No ano de 1789 nasceu Pedro Leite Pereira de Melo, filho mais novo que herdaria o nome do pai. Foi alferes e posteriormente capitão do regimento de infantaria n.º 18, sendo feito cavaleiro da Ordem de Cristo e, em 1824, comendador da Ordem Militar de São Bento de Avis.32 Dona Sebastiana Máxima de Azevedo e Sousa viria a falecer a 8 de dezembro de 1830, tendo Pedro Leite Pereira de Melo falecido a 25 de outubro de 1831, ambos na freguesia de Santo Ildefonso, na cidade do Porto.33 A partir daqui, passa a administração do Morgado de Paço de Sousa, para seu filho José Augusto Leite Pereira de Melo.34 Prolongou-se esta administração até ao ano de 1837, sucedendo na administração do morgadio, seu neto Diogo Leite Pereira de Melo, filho de José Augusto e de sua esposa Dona Emília Delfina.35

3. Organização do Arquivo da Casa da Companhia Recuando a uma época em que a constituição de arquivos privados se tornou essencial para a administração das casas e morgadios, fazendo prova documental da posse de terras e justificando ainda, os títulos nobiliárquicos de uma família, a Casa da Companhia surge-nos como um exemplo onde houve uma clara preocupação em criar um arquivo não só como comprovante do património que possuía, como um claro meio para a perpetuação da memória da família. 29 Teve como padrinhos, o avô materno José de Azevedo, e a avó paterna Dona Ana Casimira Lima de Melo. Cf. ADPRT..., PRQ/PVNG16/001/0010, Registos de baptismo, 1780-1786, fl. 187. 30 Ainda em 1809, José Augusto Leite Pereira de Melo participou na defesa da cidade do Porto contra o exército francês, em frente às baterias do Senhor do Bonfim. Estaria presente como comandante da brigada de milícias, nas campanhas da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura, no ano de 1810, sendo nomeado comandante interino da Divisão do Porto. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada, PT/CC/FLPMA/A, Apontamentos Genealógicos. 31 José Augusto Leite Pereira de Melo casou com Dona Emília Delfina de Sousa Teixeira Alcoforado e Lencastre, em maio de 1814, desconhecendo-se ainda em que concelho e freguesia. Cf. SOUSA, Maria Leonor Machado – A guerra peninsular em Portugal: relatos britânicos. Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2007. p. 96. 32 Cf. ANTT, Fundo Registo Geral de Mercês 1639/1949, PT/TT/RGM/F/159245, Alvará. Comenda Honorária da Ordem de São Bento de Avis, 1824. Pedro Leite herdou da parte de Dona Sebastiana vários prazos, incluindo os da Quinta do Pinheiro em Amarante, a qual passa a administrar, e os das quintas de Cabo Vila e Quintã, no mesmo concelho. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada, [Testamento de Dona Sebastiana Máxima de Azevedo e Sousa], 1816, fls. 1-2. 33 Dona Sebastiana Máxima foi sepultada na Igreja das Carmelitas, no Porto, enquanto Pedro Leite Pereira de Melo viria a ser sepultado na Igreja de Santo Ildefonso. Cf. ADPRT, Fundo da Paróquia de Salto Ildefonso, PT/ADPRT/PRQ/PPRT12/003/0017, Registos de óbito,1819-1835, fl. 204V e fl.218v. 34 José Augusto Leite Pereira de Melo morreu a 10 de agosto de 1837, na freguesia de Paço de Sousa. Cf. ADPRT, Fundo da Paróquia de Paço de Sousa, PT/ADPRT/PRQ/PPNF22/003/0008, Registos de óbito, 1833-1854, fl. 164v. 35 Diogo Leite Pereira de Melo nasceu a 25 de junho de 1822, na freguesia de Santo Ildefonso, na cidade do Porto, tendo sido o último administrador do Morgado de Paço de Sousa, extinguindo-se este em 1863. Foi casado em primeiras núpcias com a prima paterna Dona Maria Cândida Peixoto de Melo e Alvim, de quem teve três filhos, e segunda vez com Francisca Amélia Mourão Leite, de quem teve dois filhos, tendo o mais velho destes, Joaquim Augusto Leite Pereira de Melo ficado na possa da Casa da Companhia. Diogo Leite Pereira de Melo foi ainda presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia entre 1878/1879 e entre 1884/1886 e organizou um grupo musical em Paço de Sousa, dando concertos num coreto localizado na Quinta da Companhia. Morreria a 22 de dezembro de 1906, em Paço de Sousa. Foi ainda responsável por várias obras de intervenção na Casa da Companhia, não se tendo no entanto, concluído estas. Cf. ADPRT, Fundo da Paróquia de Santo Ildefonso, PT/ADPRT/PRQ/PPRT12/001/0036, Registos de baptismo, 1820-1822, fl. 318; ADPRT, Fundo da Paróquia de Paço de Sousa, PT/ADPRT/PRQ/PPNF22/003/0017, Registos de óbito, 1902-1911; MENDES, Manuel – Esboço Histórico da Banda Musical de Paço de Sousa (no seu cinquentenário). Paço de Sousa, Banda Cultural e Musical, 1991. p. 36.

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Segundo Nuno Monteiro, é impossível afirmar que todas as casas nobres do país tivessem uma contabilidade organizada, dispondo de ofícios administrativos como escrivão próprio, sabendo-se que no final do século XVIII, só as casas nobres mais importantes eram dotadas de uma contabilidade bem elaborada com arquivos próprios.36 No entanto, a história e a arquivística têm-nos mostrado nos últimos anos, com o crescente interesse nos arquivos de família, que os arquivos não eram apenas uma excepção dos grandes senhores, mas também dos pequenos morgados, com maior ou menor dimensão e organização. Tendo sido construída em 1581 para servir de mesa abacial aos jesuítas, a Casa da Companhia testemunharia já com estes, a presença de um arquivo, tendo chegado até nós, o chamado Livro do Celeiro, quatro tombos de propriedades e alguns documentos avulsos, perfazendo o núcleo mais antigo de documentação neste fundo. Tendo sido os foros da mesa abacial arrematados juntamente com a Casa da Companhia, por José de Azevedo em 1772, a partir daqui assiste-se ao crescimento exponencial do arquivo, constituindo-se mais de três dezenas de tombos que reúnem documentação relativa ao Morgado de Paço de Sousa e muita documentação avulsa. Fazendo da instituição de um morgadio um dos seus objetivos, José de Azevedo e Sousa pretendeu não só combater a dispersão do património fundiário que conseguira, como dotar sua filha Dona Sebastiana e seu genro ligado à nobreza, Pedro Leite Pereira de Melo, de uma fonte de riqueza através da possa de terras e propriedades que posteriormente foram aumentadas por Pedro Leite e sua descendência. Toda a documentação relativa a este morgadio foi organizada desde finais do século XVIII, em tombos que guardam não só as compras, vendas e emprazamentos relativas ao vínculo, mas também todo o processo de instituição deste e as posteriores sentenças que envolveram uma disputa da administração do Morgado de Paço de Sousa, por parte de Dona Sebastiana e seu marido, e Mariana de Jesus da Rocha e José Joaquim de Azevedo e Sousa, mãe e irmão desta, respetivamente. No que toca à genealogia, tão presente nos arquivos de família como forma de legitimar a nobreza de sangue e perpetuar a memória de família, Pedro Leite Pereira de Melo pareceu preocupar-se mais com o esforço de reunir dados sobre a ascendência de sua família do que o seu sogro, ainda que fosse José de Azevedo a instituir o morgadio.37 Num conjunto de documentos reunidos numa pasta em couro, a qual se nomeou de Apontamentos Genealógicos, chegaram até nós várias informações sobre os antepassados de Pedro Leite Pereira de Melo e os vários ramos da sua família, um trabalho que viria a ser continuado pelas gerações posteriores até aos atuais proprietários da Casa da Companhia.

36 Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo – O crepúsculo dos grandes: a casa e o património da aristocracia em Portugal 1750-1832. Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998. p. 409 37 Para além do papel económico de um morgadio, este ligava-se intimamente à perpetuação da memória funerária dos seus administradores, através dos legados e missas que instituíam em caráter perpétuo. Segundo Maria de Lurdes Rosa, uma das principais intenções que levavam à fundação de um morgadio, prendia-se com a conservação e aumento do nome e da memória das suas casas, muitas vezes através de um código de conduta que era imposto aos seus descendentes, de forma a transmitir modelos de comportamento, regras de conduta social e até formas de relacionamento. Cf. ROSA, Maria de Lurdes – O morgadio em Portugal, sécs. XIV-XV. Lisboa, Editorial Estampa, 1995. p. 20.

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Ajudando-nos este arquivo a perceber e revelar a história por detrás dos seus produtores, reconstruindo a sua genealogia e percursos pessoais e profissionais, cabe também aqui, falar-se um pouco da construção deste imenso arquivo e o seu caminho, desde que a Casa da Companhia era mesa abacial, passando pelo Morgado de Paço de Sousa e sua preservação na família, até chegar ao Arquivo Municipal de Penafiel, onde hoje se encontra. Desde então, o seu estudo e organização têm vindo a ser feitas, tentando manter ao máximo o respeito pela ordem original que lhe foi dada.

3.1. Depósito no Arquivo Municipal de Penafiel e designação do sistema Até ao ano de 2003, o arquivo da Casa da Companhia conservava-se dentro da casa nobre, acomodado em estantes em madeira. Tendo sido assinado o protocolo de depósito com o Arquivo Municipal de Penafiel, a documentação foi transferida para as instalações do AMPNF em duas fases, a primeira em 2003 e o restante no ano verão de 2005, onde se conserva até hoje. A partir de então, o arquivo da Casa da Companhia tem sido alvo de trabalhos de organização e descrição arquivística e de estudos históricos.38 Contendo documentação que se estende desde o século XVI até à segunda metade do século XX, o arquivo de família reúne, não só documentos produzidos aquando do tempo em que foi mesa abacial dos jesuítas, e posteriormente quando casa nobre do Morgado de Paço de Sousa, mas também documentação que adveio de outras casas, quer por laços de matrimónio, quer por herança, nomeadamente da Casa do Poço, da Casa do Pinheiro e dos Condes de Alpendurada. Por tal facto, decidiu-se nomear este sistema como “Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada”, uma vez que este ocupa o papel de entidade detentora dos outros fundos das casas do Poço, Pinheiro e Condes de Alpendurada, cuja documentação não foi produzida dentro da Casa da Companhia. Relativa a esta, para além da já mencionada documentação dos jesuítas, foi possível identificar documentação produzida desde José de Azevedo e Sousa, passando por toda a sua descendência e continuada pela linha de Dona Sebastiana Máxima e Pedro Leite Pereira de Melo, até aos trisnetos destes. Os documentos relativos ao Morgado de Paço de Sousa encontram-se maioritariamente reunidos num conjunto de trinta e nove tombos, destinados a albergar documentação sobre determinadas propriedades e bens. A maioria dos tombos teve uma numeração, mas apenas poucos chegaram até nós com esta visível e com índice e numeração dos documentos anexados, sendo possível observar que, ao longo do tempo, os tombos foram sendo desmembrados, estando os documentos descosidos e envoltos em bifólios que servem de capas, com

38 Em 2003, foram feitas guias de incorporação do fundo da Casa da Companhia, tendo sido atribuídas cotas temporárias aos documentos analisados. Foi também feito trabalho de descrição dos documentos pertencentes ao fundo da Mesa Abacial e alguns outros da Casa da Companhia, pertencentes ao produtor Diogo Leite Pereira de Melo, por estagiários do Arquivo Municipal de Penafiel. Foi ainda feito o estudo histórico e genealógico de José de Azevedo e Sousa através da documentação produzida por este, pela Dra. Cecília Gomes, também em regime de estágio no AMPNF.

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apontamentos posteriores a lápis e caneta.39 Outros encontram-se avulsos, sem indicação a que tombo pertencem.

3.2. Organização por subsistemas Ainda que hoje se encontrem dentro do fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, houve documentação que claramente não pertenceu à Casa da Companhia nem foi produzida por membros que viveram nesta. Por ser um arquivo de grande dimensão e se achar muita documentação referente a outras casas nobres, cuja produção não parece ter continuado depois de se acharem na Casa da Companhia, o fundo dividese em quatro subsistemas referentes a cada uma das casas. Localizada em Amarante, a Casa do Pinheiro interliga-se à Casa da Companhia através do casamento de Dona Ana Benedita de Azevedo e Sousa com José Ferreira de Sousa Gavião. Não chegou até nós muita documentação desta casa, uma vez que Dona Ana Benedita residia nesta, no entanto, acabaria por herdá-la por morte de seu marido e, sem descendência própria, deixou esta a Casa do Pinheiro à sua irmã Dona Sebastiana e seu cunhado, Pedro Leite Pereira de Melo. A Casa do Pinheiro, no entanto, não chegou a ser anexada ao Morgado de Paço de Sousa, tendo sido posteriormente deixada a Pedro Leite Pereira de Melo, filho segundo de Dona Sebastiana e Pedro Leite Pereira de Melo, por herança materna.40 Quase todos os documentos referentes à Casa do Pinheiro, foram produzidos pelos antepassados de José Ferreira de Sousa Gavião, nomeadamente pelo seu pai, Francisco Xavier Ferreira de Sousa Gavião e sua mãe, Dona Angélica Leonor Pessoa de Sá e Cunha. No que toca à Casa do Poço, localizada no centro da cidade de Lamego, esteve esta ligada ao Morgado do Poço, tendo possivelmente a sua documentação chegado à Casa da Companhia através do casamento entre José Augusto Leite Pereira de Melo, administrador do Morgado de Paço de Sousa, com Dona Emília Delfina de Sousa Teixeira Alcoforado e Lencastre, e posteriormente com a ligação aos condes de Alpendurada.41 Alberga a documentação mais antiga presente no sistema Família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada, com documentos produzidos no primeiro quartel do século XVI, tendo sido organizados originalmente por propriedades e chegando até nós reunidos em maços. 39 Perceptível ainda em alguns tombos a numeração primária que lhes foi dada, seriam à volta de cinquenta e dois tombos de propriedades, tendo chegado até nós apenas trinta e nove. Os primeiros dizem respeito na sua maioria a propriedades que foram compradas, vendidas e emprazadas ainda por José de Azevedo e Sousa, sendo os mais recentes sobre negócios de Pedro Leite Pereira de Melo, administrador do morgadio. 40 Dona Sebastiana deixou a seu filho Pedro Leite Pereira de Melo, a casa e quinta do Pinheiro com todos os seus prazos, em Amarante, por vontade expressa no seu testamento. Cf. AMPNF, Fundo Família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada, [Testamento de Dona Sebastiana Máxima de Azevedo e Sousa], 1816, fl.1v. Viria depois Diogo Leite Pereira de Melo, seu neto, casar com sua prima, Dona Maria Cândida Peixoto de Melo e Alvim, filha de seu tio Pedro Leite Pereira de Melo e Dona Maria Leonor Pereira de Meneses, e única herdeira da Casa do Pinheiro, tendo esta passado para a posse de sua filha Dona Emília Leite Pereira de Melo e Alvim. 41 Filha de Gaspar Teixeira de Magalhães e Lacerda, 1º visconde do Peso da Régua, e Dona Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado, Dona Emília Delfina era neta pela via materna do 1º barão de Vila Pouca, Rodrigo de Sousa da Silva Alcoforado, e pela via paterna do senhor da Casa da Calçada, António Teixeira de Magalhães e Lacerda. No entanto, a ligação à Casa do Poço, dá-se com o casamento de sua irmã Dona Maria Antónia do Carmo de Sousa e Lencastre, com Manuel de Carvalho Rebelo de Menezes, administrador do Morgado e Casa do Poço, em Lamego. É possível também que a documentação tivesse vindo posteriormente a 1814, uma vez que João Batista de Carvalho Pereira de Magalhães, 2º conde de Alpendurada, era bisneto de Dona Maria dos Prazeres de Carvalho Rebelo de Menezes, única filha de Manuel de Carvalho Rebelo de Menezes e Dona Maria Antónia do Carmo de Sousa e Lencastre.

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No que toca à documentação dos Condes de Alpendurada, chegou à Casa da Companhia através do casamento de Maria Teresa Lucinda de Oliveira Leite Pereira de Melo, filha de Joaquim Augusto Leite Pereira de Melo, dono da Casa da Companhia e vindo a ser bisneto de Pedro Leite Pereira de Melo, com Francisco Manuel de Melo Pereira de Magalhães, filho de João Batista de Carvalho Pereira de Magalhães, 2º conde de Alpendurada. Contam-se neste subsistema, documentos sobre a propriedade de Vila Flor e outros prazos, tendo passado Francisco Manuel de Melo Pereira de Magalhães a ser 3º Conde de Alpendurada. Atualmente, tanto a documentação dos Condes de Alpendurada, como a documentação da Casa do Pinheiro, não se encontram estudadas, à excepção da Casa do Poço, que tem vindo a ser estudada e organizada pelo Arquivo Municipal de Penafiel.

3.3. Estudo e organização do subsistema Casa da Companhia Tomado como objetivo principal do nosso trabalho, não só o estudo dos administradores e moradores da Casa da Companhia, como também a sua organização a nível documental, encontra-se hoje este subsistema a ser trabalhado, organizando-se a documentação por produtores. Ainda que nos tenha chegado a certeza de que a documentação acerca de propriedades do Morgado de Paço de Sousa esteve organizada por tombos numerados, a verdade é que não chegaram na sua totalidade até nós e a na sua esmagadora maioria, estes tombos foram desmembrados, tendo a documentação se espalhado juntamente com a restante. Diferentemente à Casa do Poço, cuja documentação sobre a gestão patrimonial da casa estava até aos dias de hoje organizada por propriedades e dividida por maços, optou-se para o caso da Casa da Companhia, pela organização em secções referentes aos produtores de informação e seguindo para isso, a orgânica familiar.42 Pretendendo-se a reconstrução da estrutura orgânica desta família, optou-se assim pelo modelo sistémico, já implantado em outros arquivos familiares, identificando-se os membros que produziram documentação e tornando-se estes, secções orgânicas que albergavam os documentos respetivos.43 Assim sendo, o subsistema Casa da Companhia é composto por vinte e uma secções orgânicas, correspondendo aos produtores organizados por ordem cronológica e genealógica, desde o mais recuado até ao mais recente. Como primeiro produtor aparece-nos José de Azevedo e Sousa (A), seguido de sua esposa Mariana de Jesus da Rocha (B) e de seus filhos, por ordem genealógica de nascimento: Francisco José de Azevedo e Sousa (C); Ana Benedita de Azevedo e Sousa (D); José Augusto Leite Pereira de Melo (E); Sebastiana Máxima

42 Nos últimos anos, alguns sistemas de informação, familiares ou pessoais, têm visto adotado um modelo apresentado por Armando Malheiro da Silva, denominado de modelo sistémico. Segundo este, a organicidade de um arquivo de família deve assentar nas gerações e membros unidos por laços de parentesco, afastando-se do modelo proposto Manuel Silva Gonçalves, Paulo Mesquita Guimarães e Pedro Abreu Peixoto. Cf. SILVA, Armando Malheiro da – Arquivos familiares e pessoais. Bases científicas para aplicação do modelo sistémico e interactivo. In Revista da Faculdade de Letras: Ciências e Técnicas do Património. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004; GONÇALVES, Manuel Silva; GUIMARÃES, Paulo Mesquita; PEIXOTO, Pedro Abreu – Arquivos de família: organização e descrição. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 1996. 43 Tendo sido o modelo sistémico usado como forma de organização de arquivos de família, confira-se os trabalhos realizados nos arquivos familiares da Casa de Mateus por Armando Malheiro da Silva (2007); Paço de Calheiros por Isabel Ventura (2012); Casa do Porto por Carla Moreira (2012) ; Casa das Mouras por Vilma Cardoso (2013), entre outros.

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de Azevedo e Sousa (F); Maria Clementina de Azevedo e Sousa (G). Seguem-se os genros de José de Azevedo que produziram documentação: Pedro Leite Pereira de Melo (H) e Cristóvão Guerner (I), marido de Dona Maria Clementina. Segue-se depois a linha genealógica dos administradores do Morgado de Paço de Sousa, no caso, a descendência de Pedro Leite e Dona Sebastiana: José Augusto Leite Pereira de Melo (J) e sua esposa Emília Delfina de Sousa Teixeira Alcoforado e Lencastre (L); Diogo Leite Pereira de Melo (M) e sua primeira esposa Maria Cândida Leite Pereira de Melo (N), seguida de sua segunda esposa Francisca Amélia Mourão Leite (O); seus filhos da primeira união Álvaro Diogo Leite Pereira de Melo (P) e Alvim e Maria da Glória Leite Pereira de Melo e Alvim (Q); seus filhos da segunda união: António Augusto Leite Pereira de Melo (R) e Joaquim Augusto Leite Pereira de Melo (S). As últimas secções dizem respeito a Maria Teresa de Oliveira (T), esposa de Joaquim Augusto Leite Pereira de Melo; sua filha Maria Teresa Lucinda Leite Pereira de Melo (U) e o esposo desta, Francisco Manuel Pereira de Magalhães (V). Atualmente encontram-se descritos e organizados os documentos referentes aos produtores José de Azevedo, sua esposa e seus filhos, estando a maioria destes documentos reunidos nos tombos de propriedades e identificados por cota topográfica. Centrando-se o trabalho aqui apresentado no estudo da figura de Pedro Leite Pereira de Melo, encontram-se também os documentos deste produtor, descritos e organizados na secção que lhe pertence (H), constituída maioritariamente por documentos avulsos e outros reunidos também nos tombos de propriedades, entre os anos de 1767 e 1830. Encontra-se ainda descrita, a documentação de José Augusto Leite Pereira de Melo e sua esposa, Dona Emília Delfina, estando neste momento, a ser trabalhada a documentação de Diogo Leite Pereira de Melo, último administrador do Morgado de Paço de Sousa.

Conclusão Revelando-se uma fonte de informação de caráter único, seja por completar as informações que outros fundos institucionais não contêm, seja pela proximidade que detêm com os indivíduos que os produziram, os arquivos de família são hoje um instrumento indispensável ao estudo social da família e dos membros que a compõem. A reconstrução da genealogias há muito esquecidas, o papel que estes indivíduos tiveram para a história local e por vezes nacional, o testemunho de quem vivenciou períodos conturbados da história e também, o conhecer de como estas casas, dotadas de uma identidade própria, se organizavam a nível documental para fazer prova não só da posse dos seus bens, como na perpetuação da memória familiar. São alguns dos exemplos que um arquivo de família nos permite conhecer, contribuindo tanto para a História como para a Arquivística. Provindo de uma família nobre, Pedro Leite Pereira de Melo viria a unir-se à Casa da Companhia, numa altura em que as uniões matrimoniais favoreciam laços familiares e económicos. Para a família de sua esposa, foi o garante de uma legitimação à nobreza que seu sogro, José de Azevedo e Sousa tanto pretendia alcançar.

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Para Pedro Leite Pereira de Melo, o casamento permitiu-lhe uma condição económica que não possuía antes, não sucedendo no Morgado de Quebrantões por ser filho segundo, mas tornando-se administrador do Morgado de Paço de Sousa, instituído por seu sogro. Essencial na manutenção do património e na preservação da memória de família, viria este morgadio, tendo como casa nobre a Casa da Companhia, a reunir diversas propriedades em diversos concelhos de país, compradas e arrematadas por seu fundador, de resto uma política continuada por seu genro e seus descendentes, tendo-se extinguido em 1863, com Diogo Leite Pereira de Melo. Tornando-se uma das figuras centrais da Casa da Companhia, Pedro Leite viria não só a dar-lhe entrada na nobreza e aumentar o seu património, como também a revelar-se uma figura importante na política da região ao envolver-se com as principais ocorrências políticas da época. A correspondência que revela uma preocupação com a movimentação do exército francês na última década do século XVIII, o papel interventivo que teve ao prestar apoio às famílias dos soldados do concelho em 1808, ter feito parte da Junta Preparatória das Cortes em 1820, são alguns dos exemplos que revelam talvez um lado mais liberal de um nobre, a contrastar com os pensamentos e simpatias absolutistas que muitas casas da região mantinham. Com a escassez de fontes sobre Pedro Leite Pereira de Melo, o estudo debruçado na documentação da Casa da Companhia, tornou-se imprescindível, não só para a reconstrução da genealogia da sua família, como para compreender mais sobre a identidade deste produtor da Casa da Companhia que lhe legou o título nobiliárquico. Sendo constituída pelos fundos de quatro famílias, o sistema Família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada, reúne um extenso volume de documentação desde o século XVI até ao século XX, que tem vindo a ser estudado, descrito e organizado nos últimos anos. Pretendendo com este trabalho, dar a conhecer não só, o papel de um dos membros mais importantes desta família e morgadio, mas também o processo de organização que este arquivo de família, nomeadamente o fundo da Casa da Companhia tem tido, muito ainda falta fazer, no entanto. Organizado por produtores em ordem genealógica, conforme o modelo sistémico, faltam ainda estudar outros personagens, outras histórias que fazem parte desta família e que com certeza, nos ajudarão mais a compreender o pensamento e vivências de tempos já idos. Assim sendo, torna-se imprescindível, cada vez mais, a preservação destes arquivos de família, não só alertando a consciência de quem os detém, mas também na realização do tratamento, descrição, organização e digitalização destes fundos, colocando-os ao dispor dos investigadores sem por em causa a sua salvaguarda. Um trabalho que pretendemos vir a continuar para o fundo da Casa da Companhia, não só no seu estudo e organização, mas também na sua disponibilização online.

Fontes e Bibliografia Foram consultados a nível de fontes manuscritas, os seguintes fundos:

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- Arquivo Distrital do Porto - Fundo da Paróquia de Amarante (São Gonçalo), PT/ADPRT/PRQ/PAMT33/002/0007_m0077.tif, Registos de casamento, 1798-1854; Fundo da Paróquia de Santo

Ildefonso,

PT/ADPRT/PRQ/PPRT12/001/0036,

Registos

de

baptismo,

1820-1822;

PT/ADPRT/PRQ/PPRT12/003/0017, Registos de óbito, 1819-1835; Fundo da Paróquia de Paço de Sousa, PT/ADPRT/PRQ/PPNF22/003/0008, Registos de óbito, 1833-1854; PT/ADPRT/PRQ/PPNF22/003/0017, Registos de óbito, 1902-1911; Fundo da Paróquia de Vila Nova de Gaia (Santa Marinha), PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0007, Registos de Batismos, 1725-1742; PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0008, Registos de Batismos, 1742-1766; PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0009, Registos de baptismo, 1766-1780; PT/ADPRT/PRQ/PVNG16/001/0010, Registos de baptismo, 1780-1786; - Arquivo Municipal de Penafiel - Fundo da Câmara Municipal de Penafiel, PT/AMPNF/CMPNF/B/A001, Livro de registo dos actos da Câmara, 1803-1815; Fundo Família Leite Pereira de Magalhães e Alpendurada, PT/CC/FLPMA/A, Casa da Companhia; - Arquivo Nacional da Torre do Tombo – Chancelaria Régia 1211/1826, PT/TT/CHR/J/0009/455, Chancelaria de D. João II; Fundo da Paróquia São Julião da Barra, PT/TT/PRQ/PLSB60/002/C3, Registos de casamento da Paróquia de São Julião, 1773-1787; Registo Geral de Mercês 1639/1949, PT/TT/RGM/F/159245, Alvará. Comenda Honorária da Ordem de São Bento de Avis, 1824; PT/TT/RGM/C/0035/56784, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V. Foi consultada a seguinte bibliografia: Administração do concelho de Penafiel – 1837-1937. Penafiel, Arquivo Municipal de Penafiel, 1ª Edição, 2005; AGUIAR, J. Monteiro de – Penafiel Antiga. Subsídios para a futura Monografia do Concelho. In Boletim da Câmara Municipal de Penafiel. Penafiel, Câmara Municipal de Penafiel, 1932; ALMEIDA, Carlos; SILVA, Rui – De Cale a Vila Nova de Gaia. As instituições públicas e a sua evolução. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2010; CARDOSO, Vilma Joana Correia Paiva de Freitas – O Arquivo da Casa das Mouras: estudo orgânico e sua representação através do modelo sistémico. Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramos Arquivos Históricos. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2013; COELHO, Manuel Ferreira; MENDES, Manuel – Capelas e Textos Etnográficos de Paço de Sousa. Penafiel, Centro Cultural e Rancho Folclórico de Paço de Sousa, 1975; FUNDO, António José Pinto do – Elites e finanças, o concelho de Penafiel na reforma liberal (18341851). Museu Municipal de Penafiel, 2010;

17 Vilma Cardoso

GAYO, Felgueiras – Nobiliário de famílias de Portugal. Barcelos, Agostinho de Azevedo e Meirelles e Domingos de Araújo Afonso, 1938-1941; GONÇALVES, Manuel Silva; GUIMARÃES, Paulo Mesquita; PEIXOTO, Pedro Abreu – Arquivos de família: organização e descrição. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 1996; MENDES, Manuel – Esboço Histórico da Banda Musical de Paço de Sousa (no seu cinquentenário). Paço de Sousa, Banda Cultural e Musical, 1991; MONTEIRO, Nuno Gonçalo – O crepúsculo dos grandes: a casa e o património da aristocracia em Portugal 1750-1832. Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998; MOREIRA, Carla de Jesus Torres – O arquivo da Casa do Porto: o seu estudo e a sua representação – o modelo sistémico. Porto, Edição de Autor, 2012; ROSA, Maria de Lurdes – O morgadio em Portugal, sécs. XIV-XV. Lisboa, Editorial Estampa, 1995; ROSA, Maria de Lurdes, (coord.) - Arquivos de Família séculos XIV-XV: Que presente, que Futuro. Lisboa, IEM-Instituto de Estudos Medievais, 2012; ROSA, Maria de Lurdes; NÓVOA, Rita Sampaio da (coord.) - Arquivos de Família: Memórias Habitadas. Guia para a salvaguarda e estudo de um património em risco. Lisboa, IEM, 2014; SERÉN, Maria do Carmo; PEREIRA, Gaspar Martins – O Porto Oitocentista in RAMOS, Luís A. de Oliveira (dir.) - História do Porto. Porto, Porto Editora, 1994, p. 376-521; SILVA, Armando Malheiro da – Arquivos familiares e pessoais. Bases científicas para aplicação do modelo sistémico e interactivo. In Revista da Faculdade de Letras: Ciências e Técnicas do Património. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004; SILVA, Armando Malheiro da – Da memória ao acesso à informação na Casa de Mateus: as bases e objetivos de um processo sistémico, in Revista de Letras, Dezembro 2007, série 2, nº6, p. 305-317; SOUSA, Maria Leonor Machado – A guerra peninsular em Portugal: relatos britânicos. Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2007; VENTURA, Isabel – O Arquivo de Paço de Calheiros: uma abordagem sistémica. Porto, Universidade do Porto, 2012.

Anexos

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Figura 1: Retrato a óleo sobre tela de Pedro Leite Pereira de Melo (2ª metade do século XVIII)

Figura 2: Pedro Leite Pereira de Mello, gravura de 1822, da autoria de Francisco António da Silva Oeirense (1797-1870). Colecção de retratos dos Heróis de 1820, Biblioteca Nacional de Portugal.

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Figuras 3 e 4: Apontamentos Genealógicos presentes no fundo da Casa da Companhia contendo notas e árvores genealógicas.

Quadro 1: Árvore Genealógica de Pedro Leite Pereira de Melo e Dona Sebastiana Máxima de Azevedo e Sousa.

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Nota Biográfica Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde em 2013 obteve o grau de Mestre em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, com a tese “O Arquivo da Casa das Mouras: estudo orgânico e sua representação através do modelo sistémico”. Estagiou entre 2014 e 2015, no Arquivo Municipal de Penafiel. Membro da Associação dos Amigos do Arquivo de Penafiel, tem vindo a desenvolver o estudo histórico e organização arquivística do Fundo da Casa da Companhia, localizada em Paço de Sousa, concelho de Penafiel.

Referência bibliográfica, deste artigo, nestas atas: CARDOSO, Vilma Joana Correia Paiva de Freitas - O Morgado de Paço de Sousa: da administração de Pedro Leite Pereira de Melo à organização documental do arquivo da família Leite Pereira de Magalhães Alpendurada. I SEMINÁRIO: PENAFIEL E PENAFIDELENSES NA HISTÓRIA.- Atas. Penafiel: Amigos do Arquivo de Penafiel, ISBN: 978-989-207084, 2016.

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