O NATAL – O NASCIMENTO DE TRADIÇÕES

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JP | EFEMÉRIDE

2016.12.23

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O NATAL – O NASCIMENTO DE TRADIÇÕES HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

A

s tradições natalícias fazem parte da nossa História, do nosso percurso de vida. Muitas nasceram na mitologia, outras nas famílias reais. Ainda temos a tradição bem açoriana do Menino Mija? Vamos conhecer melhor o nascimento de uma cultura da partilha e de interação do mundo Ocidental... A tradição do Pai Natal é antiga, remontando à mitologia nórdica. Odin era o rei do Asgard na mitologia escandinava. Quando não habitava no seu palácio dourado, o Gladsheim, Odin, ou Woden, encontrava-se no Valhala que era o “salão dos mortos”, entre os heróis e onde pontificavam as formosas valquírias a quem competia manter permanentemente cheios os vasos de bebida que eram feitos de chifre. “Val” significa morto. Odin possuía como companheiros inseparáveis dois corvos, Hugin e Munin, que representavam respetivamente o Pensamento e a Memória, os quais voam diariamente através do mundo para lhe levarem as notícias acerca dos atos cometidos pelos humanos. Uma vez convenientemente informado pelos seus corvos, Odin partia num trenó puxado por renas levando consigo presentes com que iria recompensar as boas ações praticadas ao longo do ano. Eis o mito que verdadeiramente se encontra na origem da fabulosa crença do “Pai Natal”, séculos mais tarde adaptado pela Igreja Católica a uma versão mais cristianizada, com a substituição de Odin por um bispo que também

distribuía presentes - São Nicolau. Este bispo, que viveu no século IV, sabendo da existência de três jovens mulheres, que se queriam casar, e precisavam de dote, mas como eram pobres, os pais não tinham como pagá-los. A vida delas estava traçada a serem párias da sociedade. Então, o Bispo São Nicolau, preocupado e interessado em ajudar os seus paroquianos, arran-

mos ver D. Fernando II, no Palácio da Pena, representando-se se a si próprio como São Nicolau rodeado de sete crianças (os seus filhos nascidos àquela data). Há um outro postal, mais calmo e contemplativo, onde se pode ver um dos príncipes a segurar um cavalinho de brincar e a olhar para uma mesa, sobre a qual está montada uma árvore de Natal muita decorada. Em poucos anos, os hábitos natalícios da famí-

ravam que fosse transmitida essa imagem de harmonia. Tudo indica que conseguiram. Rapidamente as pessoas consideraram indispensável a árvore de Natal nas comemorações natalícias, até aos dias de hoje. O Natal, no século XIX, passou a ser então o centro da realidade familiar dos portugueses, permitindo uma maior relação entre pais e filhos, procurando-se a interajuda entre familiares. O Natal, além da celebração religiosa, o nascimento de Jesus Cristo, passou a festa das crianças. Nos Açores, além da tradição da árvore de Natal trazida pelo Rei artista, há uma outra muito importante, a do menino mija. Esta tradição antiga continua bem viva, sobretudo por permitir a convivência, a amizade e a fraternidade entre pessoas.

jou os 3 sacos de moedas para os dotes, lançando estes pelas chaminés abaixo das casas das raparigas. Os sacos com o ouro caíram dentro das meias que as moças haviam colocado a secar junto da lareira. Nascia outra tradição do nosso Natal. No século XIX, D. Fernando II, o Rei artista, um príncipe da família alemã Saxe-Coburgo-Gotha, casado com a rainha portuguesa D. Maria II, a Educadora, trouxe da Alemanha para Portugal a tradição da árvore de Natal, conforme se podia apreciar através de desenhos de sua autoria. A tradição dos presentes para as crianças também surgiu no século XIX. Em postais do século XIX, pode-

lia real portuguesa começaram a ser imitados por todos os portugueses. No ano de 1848 foi publicada, em Inglaterra, no Illustrated London News, uma ilustração com a família real britânica, em Windsor, junto à árvore de Natal. Como se passou com Portugal, o costume da árvore de Natal foi também popularizado por um príncipe da mesma dinastia alemã, Alberto de Saxe-Coburg-Gotha, primo de D. Fernando II e marido da rainha Vitória. A rainha, retratada em família, assim como o seu primo D. Fernando II, juntamente com os filhos, apresentava um ambiente acolhedor. As famílias reais procu-

SNACK-BAR CANTINHO DA PRAIA

Na época natalícia, os açorianos enfeitam as suas casas, com as suas mesas cheias de iguarias, guloseimas, salgados, licores, etc. Assim, entre a noite de Consoada e o dia de Reis, os açorianos convidam os seus amigos para as suas casas, dizendo que o seu Menino mija. Esta interação e partilha fazem parte do ADN dos açorianos, mostrando que nos Açores o Natal é símbolo de partilha e de dádiva. Durante o Natal, quando uma pessoa pergunta se o “menino mija?”, o outro abre a porta de sua casa e recebe os amigos, esta capacidade de convívio e de partilha, é algo único. Os açorianos procuram dar o que podem, mostrando que o Natal é mais que uma festa, é uma celebração de paz, amor, alegria, família e amizade.



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