O neoclassico e a sociedade industrial

October 27, 2017 | Autor: William Natividade | Categoria: Historia, Arquitetura e Urbanismo
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Unidade: O Neoclássico e a Sociedade Industrial Unidade I:

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Unidade: O Neoclássico e a Sociedade Industrial Apresentação

Como já foi dito, o classicismo em arquitetura e urbanismo se refere aos padrões e soluções estéticas desenvolvidas pelos antigos gregos e romanos, e que dominaram o cenário construtivo por pelo menos cinco séculos. O primeiro momento em que a linguagem clássica foi redescoberta e aplicada aos projetos contemporâneos foi na Renascença italiana. Durante o barroco, esta linguagem não desapareceu por completo – foi repaginada e experimentada em novas formatações,

rompendo

com

todas

as

rígidas

regras

dos

tratados

renascentistas e criando espaços movimentados, dramáticos, que exprimiam toda a emoção à flor da pele da Igreja na Contra-Reforma, e todo o luxo e ostentação dos detentores do poder. Como reação aos excessos decorativos e à ostentação do Barroco e do Rococó, surge a partir do século XVIII um movimento na arquitetura e nas artes em geral de retomada do classicismo, chamado neoclassicismo. Este prefixo neo- exprime a ideia de “novo”, mas neste caso indica uma nova apreciação dos princípios clássicos em um período mais tardio. No entanto, o neoclassicismo do século XVIII é diferente do classicismo renascentista por uma série de motivos. Segundo Glancey,

século XVIII e na primeira metade do século XIX pela arquitetura neoclássica, a arquitetura grega e romana atualizada com novas finalidades e tecnologia. A invenção do projeto do Renascimento inicial e do Alto Renascimento deu lugar a uma arquitetura mais arqueologicamente correta à medida que a cultura do mundo antigo era progressivamente revelada, documentada e disseminada” (GLANCEY, 2007, p. 119).

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“O poder e a erudição na Europa Ocidental foram representados no

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O neoclassicismo vai aplicar a linguagem clássica em usos diversos e abrangentes: monumentos, igrejas, estações de trem, escolas, fachadas de fábricas, casas de campo, prefeituras, “e até mesmo, em North Yorkshire, para um chiqueiro” (GLANCEY, idem). Não será apenas a arquitetura antiga que será revista, mas também as contribuições dos arquitetos renascentistas passam a ser referências para arquitetos ingleses, franceses e até mesmo americanos. Na Inglaterra, por exemplo, há um movimento de inspiração na obra arquitetônica de Palladio, que ganha até nome: palladianismo. Surgido inicialmente na França e na Inglaterra, o neoclassicismo vai se tornar a linguagem preponderante ao longo de todo o século XVIII e XIX, inclusive além-mar, se tornando a representação arquitetônica oficial de países como os Estados Unidos. No Brasil, o neoclassicismo persiste com força até as primeiras décadas do século XX, como podemos ver na obra do nosso principal arquiteto neoclássico aqui em São Paulo, Ramos de Azevedo. Dentre suas obras neoclássicas podemos destacar o Teatro Municipal e a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. O neoclassicismo também teve novo ressurgimento nas últimas décadas, sobretudo dando caráter historicista a uma série de edifícios considerados “de alto padrão”. Contexto A arquitetura neoclássica é fruto de um contexto bastante particular: o Iluminismo. Este termo denota um período bastante prolífico da história

sociologia, política e religião. De forma marcada, os intelectuais deste período defendiam o exercícios da razão para discutir e analisar os fatos. Um dos mais destacados filósofos alemães do período, Immanuel Kant (1724-1804) definiu o termo Iluminismo da seguinte forma: "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo" (KANT apud Wikipédia, verbete Iluminismo).

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intelectual, marcando significativos avanços nas ciências em geral, na filosofia,

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As teorias e avanços científicos propiciados pelo Iluminismo catalisaram uma

série

de

acontecimentos

políticos,

sociais

e

econômicos

que

transformaram a sociedade e deixaram um marco na História. As discussões políticas levaram à revolta contra a monarquia absolutista, o Ancien Régime, e à Revolução Francesa. No âmago deste acontecimento, as discussões sobre uma nova sociedade francesa geraram textos importantes para nossa sociedade, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, produzido em 1789. É o início da noção de Direitos Humanos – e o bordão Igualdade, Fraternidadee Liberdade acabou tornando-se um ideal universal. “A independência norte-americana (1775-1783), a Revolução Francesa de 1789, as revoluções espanholas a partir de 1812 e a 1 emancipação ibero-americana (1810-1824) são todas partes de um mesmo fenômeno geral: de uma mesma revolução social que acarreta o fim dos antigos regimes e põe em manifesto uma aceleração social que será incrementada ao longo do século XIX” (PEREIRA, op.cit., p. 181).

Historicamente, o início da Revolução Francesa em 1789 separa a Idade do Humanismo da Idade Contemporânea (PEREIRA, idem). A própria ideia de Nação começa a se consolidar neste período. A Europa, antes fragmentada em várias pequenas regiões (principados, condados, ducados), começa a formar os nações mais próximos ao que conhecemos hoje. Unidos em torno deste ideal, as diversas nações buscam consolidar uma identidade coletiva e

conservação de seus monumentos históricos, autênticas relíquias nacionais. Em termos de avanços nas diversas áreas do conhecimento, o impacto da atitude humanista foi gigantesco. Uma série de ciências surgiram ou se consolidaram neste contexto: avanços na física mecânica, na química, as primeiras teorias evolucionistas da biologia datam desta época. Para além da teoria, os avanços científicos levaram a uma série de inventos e avanços tecnológicos que possibilitaram o acontecimento mais estrondoso da Era Moderna: a Revolução Industrial. Surgem as primeiras máquinas que substituem o trabalho do homem, alavancam a produção e levam a sociedade a se reformular totalmente no novo cenário do capitalismo. O impacto, positivo

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construir seus símbolos – como bandeiras, hinos e até a detecção e

Podemos incluir neste cenário a própria Independência do Brasil, em 1822.

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e negativo, da Revolução Industrial foi sem precedentes, e afetou a economia, a política, a organização social, e geografia humana, as relações de trabalho, e também a própria arquitetura – principalmente o espaço urbano. Para operar as novas máquinas e os novos conhecimentos técnicos que surgiam à medida que a indústria crescia, surgem novos profissionais e atividades econômicas, como os engenheiros. A primeira escola dedicada à formação deste novo profissional é aÉcole des Ponts et Chaussés (Escola de Pontes e Estradas), fundada em 1747 na França. É este o profissional que domina a técnica da ferrovia, da construção de estruturas novas como estações de trens e fábricas, usando novos materiais construtivos como o ferro e o concreto armado. Já no lado mais humanístico, neste período também ocorrem avanços em áreas como a história da arte, a arqueologia e as ciências sociais. É deste período a publicação das enciclopédias, ou compêndios onde estudiosos desenvolviam diversos tópicos. A primeira, a Encyclopèdie ou Dictionnaire Raisonné de Sciences, des Arts e des Métiers data do século XVII e foi publicada até 1772. Uma vasta obra: eram 33 volumes, compreendendo 71.818 artigos, de autoria de importantes iluministas como Voltaire, Montesquieu e Rousseau.Há uma concepção racionalista e cartesiana2 do conhecimento, que inclusive possibilitou que algumas destas áreas do conhecimento se organizassem e se embasassem em metodologia científica. A principal contribuição neste sentido veio do historiador de arte prussiano Johann Joachin Winckelmann (1717-1768), o qual, com sua obra “Geshichte der Kunst des

metodologia objetiva para o estudo da História da Arte. Também é considerado “Pai da Arqueologia” por suas considerações metodológicas acerca da exploração de sítios históricos, em 1755, surgidas de sua experiência na escavação das cidades romanas de Pompeia e Herculano. Estas duas cidades romanas haviam sido completamente soterradas pela erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C., só sendo descobertas e excavadas em meados do século XVIII. O que os arqueólogos descobriram foram cidades do Império Romano praticamente intactas, o que possibilitou avanços no estudo da civilização romana, principalmente sua arquitetura e urbanismo. Refere-se ao método investigativo proposto pelo filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596-1650), que deu as bases da ciência moderna. Descartes é considerado um dos mais importantes e influentes intelectuais da História. 2

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Altertums”(História da Arte Antiga), publicada em 1764, inaugurou uma

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A arquitetura neoclássica O neoclassicismo se pauta principalmente em um processo de ruptura com o próprio classicismo. “Na arquitetura, este espírito científico leva a uma interrupção na tradição clássica, uma revisão conceitual da arquitetura do barroco e uma busca da natureza própria da arquitetura” (PEREIRA, op.cit., p. 182). Esta busca pela “essência” da natureza e a noção de que o classicismo – por ter suas raízes na antiguidade, portanto na natureza, era “naturalmente correta” (SUMMERSON, 2006, p. 90) – levou os intelectuais a desenvolverem uma série de estudos e levantamentos da arquitetura clássica grega e romana. Alem deste fato, é interessante levantar outro dado: segundo Pevsner, os franceses e ingleses, até o século XVII, ainda construíam suas obras no estilo gótico, tradicionalmente associado com sua identidade. A maior parte dos arquitetos destas regiões desconhecia os feitos e avanços plásticos e projetuais dos italianos ao longo do Renascimento. A linguagem clássica da arquitetura renascentista apenas passou a ser absorvida pela sociedade em geral muito mais tarde, mais precisamente, dentro do contexto do Iluminismo. A busca por um estilo construtivo que expressasse os ideias iluministas levou à natural associação à arquitetura clássica, até por uma natural associação com a grandeza do Império Romano, muito cultuado à época como modelo de sociedade ideal (SUMMERSON, 2006; PEVSNER, 2002). Duas questões em particular levaram à consolidação do neoclassicismo como linguagem amplamente adotada no século XVIII: as viagens de estudo, o viagens que acabaram por originar a ideia contemporânea de “turismo”, Glancey nos explica: “Ao longo de todo o século XVIII, um pequeno exército de arquitetos, artistas e seus clientes excursionaram pelas ruínas e monumentos da Grécia e de Roma, o que ficou conhecido como o Grande Tour. Eram turistas e, a partir de meados do século XVIII, os aruqitetos começaram a agir mais e mais como turistas que estudavam os edifícios famosos ao longo da história e queriam recriá-los ao voltar. Enquanto apenas mostramos fotos e vídeos de templos gregos e romanos, os arquitetos europeus e americanos do século XVIII e início do século XIX efetivamente os construíram” (GLANCEY, op.cit., p. 120).

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“Grande Tour”; e a descoberta de sítios históricos novos. Com relação às

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Em essência, os arquitetos viajavam e analisavam minuciosamente a arquitetura grega e romana. Havia na época, inclusive, um debate intelectual: qual das duas civilizações era “melhor” ou tivessem dado as maiores contribuições à arquitetura clássica? Por um lado, alguns intelectuais defendiam a supremacia da arte e arquitetura gregas, como é o caso de Winckelmann, que citamos anteriormente. Profundo conhecedor da arte grega, Winckelmann era um defensor das ideias de Belo e Harmonia dos gregos, e exaltou a maestria de sua arte em sua obra História da Arte Antiga. Ele foi o primeiro estudioso a estabelecer distinções entre arte Grega, Greco-Romana e Romana, e a comprovar uma antecedência dos gregos em relação aos romanos. Além dele, foram significativos os estudos de Le Roy, “Ruínas das mais belas antiguidades da Grécia”(1758), que trazia desenhos técnicos e mensurados exaltando as glórias da arquitetura grega; e de James Stuart e Nicholas Revett, “Antiguidades de Atenas”( 1762). Por outro lado, muitos eram os entusiastas de Roma antiga, afirmando sua supremacia arquitetônica. O mais exaltado era Giovanni Battista Piranesi (1720-1778), famoso gravurista e arquiteto italiano. Sua obra

“Della

Magnificenza ed Architettura de’ Romani”(A magnificência da arquitetura romana), publicada em 1761, era uma celebração da arquitetura italiana, trazendo desenhos requintados e extremamente detalhados das ruínas romanas, assim como de obras renascentistas. Seu estilo foi muito copiado pelos seus contemporâneos, e seus desenhos orientaram muito a prática de

fidelidade seu estado de conservação à época. Além disso, eram um detalhado documento da arquitetura italiana, fornecendo modelos da arquitetura clássica italiana aos arquitetos mais distantes.

Fig. 1: Representação das ruínas do Arco de Tito no século XVIII, por Piranesi. Este arco foi reconstruído posteriormente.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/co

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conservação dos monumentos históricos do período, por retratarem com

mmons/1/15/Piranesi-Titusbogen.png

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Fig. 2: Gravura representando a Praça de São Pedro, obra barroca de Bernini, com a Basílica de São Pedro ao fundo. Aqui, Piranesi retrata a arquitetura renascentista e barroca italiana. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/com mons/5/54/Piranesi_Piazza_San_Pietro.g if

A celebração da arquitetura romana foi coroada com a descoberta da cidade de Pompeia em 1748. Quase tudo o que conhecemos sobre as diferentes construções romanas, seus programas, suas formas, espaços e aparência, e que estudamos na Unidade 2 desta disciplina, surgiram desta descoberta. A partir deste profundo conhecimento histórico do classicismo, há um processo de ruptura: “Situando-se o classicismo em sua perspectiva histórica, diminui-se sua universalidade e se descobre o caráter precário da convenção que há três séculos dominava a arquitetura. A consideração das regras clássicas como modelos variáveis implica uma revisão

e

rupturacom o classicismo. Porém, e paradoxalmente, essa perda de

(PEREIRA, op.cit., p. 182).

Ao contrário do processo de retomada do classicismo romano pelos arquitetos do Renascimento, no Neoclassicismo do século XVIII, o estudo das formas do passado não leva à inventividade e criatividade projetual, mas a indagações críticas e à aplicação bastante didática das formas do passado. Os tratados de Vitrúvio e dos renascentistas foram analisados e estudados minuciosamente, e seus preceitos aplicados diligentemente em novas construções – porém sempre atualizados em função dos novos programas e materiais construtivos. “Muitos arquitetos ainda estavam convencidos (...) de que as regras estabelecidas nos livros de Palladio garantiam o modelo „certo‟ para construções elegantes” (GOMBRICH, 2008, p. 476).

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valor absoluto dá lugar ao fenômeno do neoclassicismo”

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“Foi na França que, em meados do século XVII, começaram a ser feitas perguntas a respeito da verdadeira natureza das ordens e do modo pelo qual deveriam ser empregadas em edifícios modernos. A „natural correção‟ das ordens não estava em discussão; pelo contrário, a principal preocupação dos críticos franceses era assegurar sua pureza e integridade. A nova preocupação surgiu em uma série de livros” (SUMMERSON, op.cit., pp. 90-91).

Longe de negá-la, estas obras procuravam explicar o motivo da soberania da linguagem clássica. Os estudiosos passaram a estudar as ordens clássicas e reproduzi-las em novas gravuras; propondo critérios para seus usos e investigando diferenças entre cada uma das ordens, como o tratado de Claude Perrault. Mais tarde, a obra do Abade Laugier, Essai sur l’architecture (Ensaio sobre a arquitetura), publicado em 1753, procura estabelecer uma natural progressão da “cabana primitiva” até as formas da arquitetura clássica – ou seja, o tradicional sistema de colunas que apoiam uma cobertura. Para ele, as ordens gregas eram uma evolução do uso de troncos de madeira para construírem as colunas e as vigas da cabana primitiva. Esta teoria revolucionária mudou a base a do pensamento arquitetônico ao longo dos séculos XVIII e XIX(SUMMERSON, 2006). Embora na aparência nada pareça mudar, pois os conceitos e formas clássicas continuam sendo utilizados, a ruptura é profunda: a linguagem cada período e civilização particular encontravam uma linguagem própria – que era aplicada universalmente, pois expressava sua relação intrínseca com aquela época e aquele lugar. Agora, não. A linguagem clássica é retomada em período completamente diverso, em vários lugares completamente diferentes, sendo utilizada como se fosse apenas um estilo arquitetônico. “A linguagem deixa de ser um valor absoluto e passa a ser um mero instrumento de comunicação” (PEREIRA, op.cit., p. 182). Ou, nas palavras de Gombrich, as pessoas passaram a “escolher o estilo de suas casas do mesmo modo como se escolhe o padrão de um papel de parede” (GOMBRICH, op.cit., p. 477).

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arquitetônica passa a ser esvaziada de seu sentido essencial. Até então,

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Neste contexto, surge o fenômeno do Palladianismo: a reapreciação da obra do arquiteto italiano Andrea Palladio por um grupo de jovens arquitetos liderados por Lorde Burlington (1694-1753). Por considerarem a arquitetura palladiana como exemplo de perfeição, estes jovens arquitetos baseavam-se principalmente no Tratado de Palladio, os Quattro Libri, que teve nova edição publicada na Inglaterra. Inspirado por este texto, o arquiteto Colin Campbell (1676-1729) escreve seu Vitruvius Britannicus, publicado em 1715, que pretendia ser um guia para a “correta” arquitetura britânica aos moldes de Vitrúvio. Tanto Campbell quanto Lorde Burlington projetaram casas de campo prestando homenagem à famosa Villa Capra de Palladio, em cópias quase idênticas, como podemos observar nas imagens a seguir.

Fig.3: Mereworth Castle (1722-1725)Kent, Inglaterra Arq. Colin Campbell Fonte:

_Kent.jpg/350px-Capriccio_with_a_view_of_Mereworth_Castle,_Kent.jpg

Fig. 4: Chiswick House(1723-1729), Londres, Inglaterra Arq. Lorde Burlington Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/Chiswick_House.jpg

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http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/da/Capriccio_with_a_view_of_Mereworth_Castle,

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Assim como a Villa Capra de Palladio buscava uma fluidez entre o espaço interno e o externo, fundindo a casa na paisagem, as versões inglesas costumavam ser rodeadas pelo jardim tipicamente inglês. Embora possa parecer uma contradição a princípios – casas formais palladianas em meio a um informal jardim inglês – isso fazia parte de um princípios marcadamente antifrancês (PEVSNER, op.cit., p. 355). No paisagismo do séc. XVIII, são dois os estilos icônicos e antagônicos: por um lado, os rígidos e geométricos jardins franceses, como vimos no Laranjal do Palácio de Versalhes, na Unidade 5; por outro, os jardins românticos ingleses. Estes jardins eram inspirados nas pinturas de artistas como Claude Lorrain e Nicolas Poussin, que geralmente retratavam ruínas clássicas ou góticas em um cenário idílico, de suaves gramados em colinas ondulantes, quase sempre com a presença de uma pequena lagoa. Este cenário, digno de ser representado em um quadro, recebeu a denominação de “pitoresco”. Estes cenários “naturais” eram recriados artificialmente por paisagistas como William Kent (1685-1748) para acompanhar a arquitetura palladiana, como vemos no caso da própria

Fig. 5: Os jardins da Chiswick House, com uma lagoa artificial em frente a uma pequena réplica de uma rotunda, ou templo circular romano. Este jardim foi desenhado por William Kent. Fonte: http://www.gardenvisit.com/assets/madge/chiswick_house_garden2/original/chiswick_house_garden2_orig inal.jpg

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Chiswick House, projetada por Lorde Burlington.

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O arquiteto Colin Campbell também projetou sua própria casa de campo no estilo palladiano, o imponente Houghton Hall, em Norfolk. A variantes inglês das construções de Palladio são mais pesadas e dispõem de formas e composição mais livres que as do arquiteto italiano.

Fig. 6: Houghton Hall (1722-1726) Casa de campo em Norfolk, Inglaterra Arq. Colin Campbell Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a8/Houghton_Hall_200807202.jpg

deste espírito de revivescência. Assim como os admiradores de Palladio construíam cópias de suas casas de campo, alguns arquitetos faziam referência a famosas construções gregas. Inspirados pela teoria do Abade Laugier de que os templos gregos eram uma evolução natural da cabana primitiva, a arquitetura grega foi interpretada como uma arquitetura ao mesmo tempo natural e racional, o modelo de perfeição a ser seguido e aplicado em qualquer tipo de construção.

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Os simpatizantes da arquitetura grega também construíam obras dentro

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“O estilo foi adotado com grande entusiasmo.Na Grã-Bretanha mostrou-se adequado ao projeto não apenas de imitações de monumentos gregos – foi feita uma tentativa de recriar o Parthenon como um monumento aos mortos das guerras napoleônicas no topo da colina Calton, em Edimburgo – mas também de igrejas, casas de campo, museus, galerias, universidades e até das primeiras estações ferroviárias” (GLANCEY, op.cit., p. 128).

Um exemplo evidente desta corrente neoclássica é a Igreja de São Pancrácio, em Londres, construída pelos arquitetos William Inwood e seu filho Henry. A igreja paroquial inglesa traz, em sua extremidade oriental, um pórtico com cariátides parecidas com as do templo grego Erecteion, em Atenas 3. Já a torre da igreja remete ao Templo dos Ventos, também de Atenas.

Fig. 7: Igreja de São Pancrácio (1819-1822) Londres, Inglaterra Arquitetos William e Henry Inwood Elevação norte Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/St_Pancras%2C_London%2C_north_elevation%2C_

Fig. 8: Fachada principal da Igreja São Pancrácio (St. Pancras) Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/86/New_St_Pancras_Parish_Church.jpg/771pxNew_St_Pancras_Parish_Church.jpg 3

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R_Waller_April_2006.jpg

Ver imagens do templo no texto da Unidade 2 desta disciplina.

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A cidade de Edimburgo, capital da Escócia, chegou a ser conhecida como a “Atenas do Norte”, tamanha a quantidade de construções no estilo grego. Esta força da arquitetura grega manteve-se até o fim do século XIX, quando a Inglaterra já havia migrado do neoclassicismo grego para o neogótico e os estilos ecléticos. O monumento neoclássico desta corrente que mais se destaca na cidade é a Royal High School, uma escola de ensino médio oficial da Monarquia, projetada por Thomas Hamilton (1784-1858). À mesma maneira de sua fonte de inspiração, o Partenon, a escola foi implantada no alto de uma colina, com vista para toda a cidade – como se estivesse numa acrópole.

Fig. 9: Royal High School (1825-1829) Edimburgo, Escócia Arquiteto Thomas Hamilton Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a9/Royal_Scottish_Academy%2C_Edinburgh.JP

Foi na Alemanha – antiga Prússia – que a revivescência grega foi mais evidente. A linguagem arquitetônica dos gregos antigos foi o símbolo do governo de Frederico, o Grande. O símbolo máximo de seu governo é o Portão de Brandenburgo, um imponente monumento na entrada da cidade de Berlim. Construído por C. G. Langhans (1733-1808), esta imponente estrutura é baseada no Propileu, na Acrópole de Atenas e chegou a ter uso prático como alfândega. No entanto, sua imagem é comumente associada às marchas do exército nazista, já no século XX, e também como símbolo da divisão e reunificação da Alemanha.

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Fig. 10: Portão de Brandemburgo (1789-1793) Berlim, Alemanha Arq. C. G. Langhans Fonte: : http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a9/Brandenburg_gate_sunset.jpg

O templo de Walhalla, localizado às margens do Rio Danúbio, é uma cópia bastante fiel do templo grego paradigmático. Construída no topo de uma colina, como se fosse uma acrópole, a obra foi encomendada pelo futuro Ludwig II da Bavária ao arquiteto Leo von Klenze, que a construiu entre 1829 e

Fig. 11: Walhalla (1829-1842) Próximo a Regensburg, Alemanha Arq. Leo von Klenze Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1d/Walhalla_aussen.jpg

O mais importante arquiteto neoclássico alemão, no entanto, é Karl Friedrich Schinkel (1781-1841). Schinkel inspirou-se também na arquitetura da Grécia antiga, porém sem copiá-la literalmente; pelo contrário, ele se inspirou e atualizou a linguagem clássica.

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1842.

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“O que caracteriza seus edifícios não é simplesmente sua beleza profunda e, muitas vezes, elementar, mas seu rigor. Além de ser um brilhante nome do movimento, foi também, talvez, o primeiro funcionalista de verdade. Seus edifícios não são simplesmente perfeitos para as tarefas que lhe foram atribuídas, mas expressam claramente a própria estrutura. Mais do que isso, eles fazem uso de tecnologia e materiais novos, quando apropriados” (GLANCEY, op.cit., p. 130).

A sua obra de maior destaque é o grandioso Altes Museum, em Berlim. Uma obra que reflete como nenhuma outra o espírito da arquitetura do Iluminismo. Por um lado, é símbolo do Estado prussiano, por outro, atende às funções pragmáticas de museu e galeria de arte. A fachada principal da edificação consiste em uma imponente colunata de 18 colunas jônicas refinadas. Sobre o entablamento, correspondem às colunas 18 esculturas de águas, voltadas ora para a esquerda, ora para a direita. O acesso à entrada se dá por uma imponente escada. Para cada um dos lados, ficam as galerias, iluminadas por cima. No centro, porém surge uma rotunda de dois pavimentos, com colunas e uma cúpula sem decoração, considerada um dos espaços mais belos do mundo. Por estar encerrada em um bloco retangular, a cúpula não é visível na área externa do museu. “O que Schinkel criou ali, então, são os elementos básicos de toda

dentro de um cubo e esse cubo é ainda colocado dentro de um retângulo – o corpo principal do museu, tal como definido pela extensão da colunata – cujas proporções são tiradas da esfera e do cubo. O Altes Museum é, simultaneamente, um racional e romântico monumento ao espírito, não apenas da arquitetura grega, mas de toda a arquitetura” (GLANCEY, op.cit., p. 131).

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arquitetura: a rotunda pode ser lida como uma esfoera colocada

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Fig. 12: Altes Museum (1823-1830) Berlim, Alemanha Arq. Karl Friederich Schinkel Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/32/Bundesarchiv_Bild_183-1987-0302-

Fig. 13: Planta do Altes Museum. Destaque para as formas geométricas regulares e perfeitamente proporcionais. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e9/Altes_Museum_Berlin_plan.jpg

Esta regularidade matemática das formas neoclássicas também poderão ser vistas nas obras dos arquitetos franceses. Por um lado, a arquitetura clássica é considerada ideologicamente adequada à nova sociedade que surgia: ora representa os ideais dos novos Estados democráticos, como os Estados Unidos da América; ora é ideal para associar o Império Napoleônico às glórias do antigo Império Romano.

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Os Estados Unidos adotaram a linguagem neoclássica como arquitetura oficial, que perdura até hoje nos edifícios cívicos. A escolha por esta linguagem específica foi feita por Thomas Jefferson(1743-1826), um dos fundadores da nação americana e também terceiro presidente dos Estados Unidos. Jefferson desenvolveu suas ideias arquitetônicas durante um período em que viveu na França,

atuando

como

embaixador

em

Versalhes.

Influenciado

pelo

palladianismo, Jefferson também construiu uma casa em homenagem à Villa Capra em Monticello, no estado da Virginia, para si mesmo. O padrão do Capitólio para abrigar as funções governamentais, tanto em nível estadual quanto federal, foi criado por ele. Uma de suas concepções mais influentes foi o projeto para a Universidade de Virginia, em Charlottesville, a primeira universidade estadual americana. Dentro do espírito iluminista, a biblioteca era

Fig. 14: Biblioteca da Universidade de Virginia - Rotunda (1817-1826). Charlottesville, EUA. Projetado por Thomas Jefferson. Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/archive/a/a8/20090426020054!University-ofVirginia-Rotunda.jpg

A estética neoclássica que domina a paisagem de Washington, D.C. em construções como a Casa Branca e o Capitólio foi extremamente influente no restante do mundo. “Desde que foram erigidos esses primeiros edifícios norteamericanos, sociedades novas – tentando apresentar uma fachada respeitável ao mundo – tomara emprestado o estilo de Jefferson” (GLANCEY, op.cit., p. 124). Afinal, para Jefferson, o neoclássico expressa a autoridade da natureza e o poder da razão, o espírito da democracia.

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o cerne do campus, com formas que remetem ao Panteão de Roma.

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Já para Napoleão, a construção de arcos do triunfo em Paris, à moda daqueles construídos pelos césares romanos para celebrar suas vitórias, associaria inevitavelmente a glória de seu próprio império com o romano.

Fig. 15: Arco do Triunfo Carousel (1806-1808), Paris. Construído pelos arquitetos Percier e Fontaine, imitava o Arco de Septímio Severo, em Roma. fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e8/Arc_de_Triomphe_du_Carrousel.jpeg/79 8px-Arc_de_Triomphe_du_Carrousel.jpeg

A associação do Império Napoleônico com a arquitetura neoclássica era intencional. “Napoleão desenvolveu um estilo poderoso, ou o que hoje chamaríamos imagem corporativa, para sua corte; o arquiteto Charles Percier (1764-1838) foi o favorito do imperador e desempenhou um papel central no estilo império, pelo qual, excetuando as batalhas, o reinado de Napoleão é lembrado” (GLANCEY, op.cit., p. 126). A arquitetura neoclássica tornou-se o

fundadas por ele. Alguns dos mais importantes símbolos da arquitetura neoclássica foram construídos na França, como suporte dos ideais revolucionários dos franceses. Um exemplo deste tipo de monumento é o Panthéon de Paris, construído entre 1755 e 1792. Inicialmente, fora projetado para ser a Igreja Sainte Geneviève; porém com a eclosão da Revolução Francesa, acabou sendo convertida em um Panteão dos heróis da Revolução. Com planta em cruz grega, coroada por um imenso domo assentado sobre um tambor formado por colunas, a construção foi um projeto revolucionário para a França da época. Os quatro braços também são coroados por domos mais baixos, à maneira das igrejas bizantinas. Apoiada quase inteiramente sobre colunas inteiras,

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“estilo do império”, sendo ensinada oficialmente nas Academias de Belas Artes

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elegantes, Soufllot cria um espaço interno amplamente iluminado e translúcido. Soufflot almejava recriar a luminosidade, o ambiente espaçoso e as proporções de uma igreja gótica, porém utilizando a linguagem clássica para consegui-la (FRAMPTON, 2004, p. 14).

Fig. 16: Panthéon (1755-1792) Paris, França Arq. Jacques-Germain Soufflot Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f3/Pant%C3%A9on_%28Francia%29.jpg/547px-

Fig. 17: Interior do Panthéon, à altura do transepto. Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/82/Int%C3%A9rieur_du_Panth%C3%A9on. jpg/400px-Int%C3%A9rieur_du_Panth%C3%A9on.jpg

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Pant%C3%A9on_%28Francia%29.jpg

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Abaixo, vemos a imagem da Sede da Assembleia Nacional Francesa, o Palais Bourbon, também deixando evidente suas inspirações nos templos gregos:

Fg. 18: Palais Bourbon, Sede da Assembleia Nacional Francesa (1722) Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5d/Palais_Bourbon_de_Nuit.jpg

Porém, as iniciativas mais interessantes deste período na França foram exercícios mais utópicos, que imaginavam uma sociedade ideal baseada nos princípios iluministas da Revolução Francesa. Um dos arquitetos mais criativos deste cenário foi Etienne-Louis Boullée (1728-1799), que construiu pouco, mas foi autor de uma série de projetos de monumentalidade tamanha que

hoje. Suas formas geométricas puras, sem adornos, combinadas a uma monumentalidade extrema, provocam ao mesmo tempo empolgação e ansiedade. Segundo Frampton, mais do que qualquer outro arquiteto iluminista, Boullée era obcecado pela luz como metáfora para o divino, e explorava os recursos de luz em seus projetos (FRAMPTON, op.cit., p. 14). Dentro destas fantasias, podemos destacar o Cenotáfio dedicado ao físico Isaac Newton. O projeto deste túmulo monumental tinha a forma de uma esfera de proporções gigantescas, com 150m de altura, sobre um cubo de duas camadas. “A esfera representava o universo, e o sarcófago de Newton, na mente de Boullée pelo menos, seria abrigado nesse espaço enorme e aterrador” (GLANCEY, op.cit., p 127). Esta construção ao mesmo tempo aterrorizante e tranquilas evocam o sentimento do sublime, tão apreciado

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jamais poderiam ser executados pela técnica da época e, talvez, mesmo a de

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pelos românticos do período. A luz, aqui, penetrava no interior desta esfera imensa em pontos perfurados na parede; à noite, Boullée imaginou uma pira suspensa, com fogo, simbolizando o sol (FRAMPTON, idem).

Fig. 19: Cenotáfio para Isaac Newton (1785) Projeto não executado. Arq. Etienne-Louis Boullée Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Boull%C3%A9e__C%C3%A9notaphe_%C3%A0_Newton_-_Coupe.jpg

Boullée tinha planos grandiosos – projetos de uma cidade monumental, refletindo o poder de Napoleão, repleta de obras que estimulassem a fé (projetos para grandes igrejas) e o saber (projetos de museus, óperas, acreditava no poder transformador social da arquitetura – a capacidade de transmitir aos cidadãos os princípios humanistas e encontrar as formas ideiais para o homem racional. Membro da Academia Real da Arquitetura, muitos dos projetos possíveis de serem edificados foram executados por alunos de Boullée.

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bibliotecas e universidades).Arquiteto influenciado pelas ideias do Iluminismo,

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Fig. 20: Projeto para a Bibliotec Nacional (1784) Não executado. Projeto de Boullée. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6d/Bibliotheque_nationale_boul.jpg

O arquiteto Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806) foi Arquiteto do Rei em 1773, teve sua carreira finalizada e chegou a ser preso e quase morto durante a Revolução Francesa. Alguns dos edifícios europeus mais grandiosos de seu tempo foram construídos durante este período em que atuou para o Antigo Regime. Uma compilação de seus projetos foi publicada em 1804 com o título de L’Architecture considerée sous le rapport de l’art, des moeurs et de la législation (Arquitetura considerada em relação à arte, à moral e à legislação), e serviu de inspiração para gerações de arquitetos que o seguiram. Porém, é na utopia urbana de Arc-et-Senans que reside sua contribuição mais interessante. Trata-se de uma vila industrial projetada em torno das Salinas Reais, que ele havia construído em parte entre 1773-1779.

orientava em torno do edifício da fábrica, construído na ordem dórica mais pesada possível. Na concepção de Ledoux, cada construção deveria refletir em suas formas e matéria o seu caráter, e expressavam suas funções através de formas. “..os arquitetos iluministas franceses, como Etienne-Louis Boullée ou ClaudeNicolas Ledoux, defendem e propõem diversas propostas de cidades ideais e formas ideais. As formas puras e os volumes puros (o cubo, a esfera, o cone ou o cilindro) vêm a ser bases e essência da arquitetura” (PEREIRA, 2010, p. 183).

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Inicialmente semicircular (e posteriormente oval, em seus projetos), a cidade se

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Fig. 21: Projeto para a cidade ideal de Chaux (1804) Parte deste projeto foi construído entre 1773-79. Arc-et-Senans, França. Arq. Claude-Nicolas Ledoux. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/Projet_pour_la_ville_de_Chaux_-_Ledoux.jpg

Na França, no interior de escolas de engenharia, como a École des Ponts e Chaussés, e no espírito da Revolução Científica perpretada pelos ideias iluministas, surge a necessidade de incorporar no processo construtivo alguma forma de sistematização pragmática, como ocorrera com as outras ciências. Há a necessidade de aplicar à arquitetura uma metodologia e

processo de classificação das diferentes edificações conforme seu gênero e finalidade: religiosa, civil ou militar, ou arquitetura pública ou privada. Surge o conceito de tipo, associando um padrão formal a um programa específico – ou seja, uma determinada forma é correspondente a uma função. No entanto, a classificação dos tipos apenas evidenciou o quanto estes eram escassos e insuficientes para a enorme variedade de programas arquitetônicos surgidos em decorrência da Revolução Industrial.

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codificação científica de seus termos e componentes. Assim, inicia-se um

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Neste período não era raro a transferência de usos os mais diferentes de uma mesma construção, chegando mesmo a casos curiosos como a Igreja de La Madeleine (1804-1809), construída por Pierre Vignon, o Inspetor Geral das Construções da República, designado por Napoleão.Primeiramente foi concebida como templo dedicado à Grande Armada por Napoleão em 1806; em 1837 quase foi transfrormada na primeira estação ferroviária de Paris; e em 1842 foi consagrada como igreja. Ou seja, qual seria sua classificação tipológica? Religiosa, cívica ou técnica?

Fig. 22: Igreja de La Madeleine (1804-1809) Paris, França. Arq. Pierre Vignon Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ea/La_Madeleine_de_Par%C3%ADs.JPG

Reagindo contra a classificação por tipos, e ao mesmo tempo buscando atender à demanda construtiva do período que se seguiu à Revolução, JeanNicolas-Louis Durand (1760-1834), professor de Arquitetura na Escola Politécnica de Paris, buscou encontrar uma metodologia construtiva universal.

Napoleônico, pelo qual estruturas apropriadas e econônicas poderiam ser criadas através da permutação modular. Assim, através da combinação de elementos pré-determinados, poderia ser realizada uma combinação de diversos módulos, gerando plantas e elevações variadas com custo mínimo. Durand defendeu seu método criticando o Panthéon de Soufllot e suas 206 colunas e 612 metros de paredes; alegando que com seu método, ele poderia propor um templo circular com área comparável à do Panthéon, porém com apenas 112 colunas e 248 metros de parede – uma economia considerável.

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Sua pretensão era de elaborar uma versão arquitetônica para o Código

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Sua abordagem pragmática e utilitária entende que o objetivo maior da arquitetura é sua função, expressa através da conveniência e da economia. A economia se daria através

da simplicidade, regularidade e simetria dos

elementos compositivos de seu método. Os elementos, como escadas, coberturas, aberturas, eram classificados e só tinham sentido depois que inseridos em uma composição coerente. Desta forma, Durand faz da composição projetual do arquiteto uma teoria combinatória que associa entre si os elementos arquitetônicos em formas geométricas simples (o círculo e o quadrado, a esfera e o cubo). Estas ideias de racionalização máxima do processo projetual serão, sem dúvida, as raízes do que posteriormente veio a ser conhecido como Movimento Moderno na arquitetura, no século XX. Mas isso nós veremos numa próxima

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oportunidade!

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Referências ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte como História da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

FRAMPTON, Kenneth. Modern Architecture: a critical history. Nova York: Thames & Hudson, 2004.

GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Ed. Loyola, 2007. GOMBRICH, Ernst H. História da Arte. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2008. 16a edição.

JOKILEHTO, Jukka. History of Conservation. Tese de Doutorado defendido na Universidade de York. 1986. ICCROM.

SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 4a edição. PEREIRA, José Ramón A. Introdução à História da Arquitetura – das origens ao século XXI. Porto Alegre: Bookman, 2010.

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ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. Coleção Mundo da Arte. São Paulo: Martins Fonte2, 2009. 6a edição.

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PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo:

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