O OURIÇO-LILÁS, Lytechinus variegatus (Lamarck, 1816) E O LIXO MARINHO NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS, BRASIL

July 13, 2017 | Autor: Moacir Tinoco | Categoria: Residuos solidos, Sea Urchins, Marine Debris, Ouriço do mar
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XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011

O OURIÇO-LILÁS, Lytechinus variegatus (Lamarck, 1816) E O LIXO MARINHO NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS, BRASIL Carvalho-Souza, G. F.1 2 4*; Miranda, D. A.3; Tinôco, M. S.2,3 ¹ Programa de Pós-Graduação em Geociências, Universidade Federal da Bahia, Rua Barão de Geremoabo, S/N. Campus Universitário de Ondina, CEP: 40170-280, Bahia, Brasil. ² Centro de Ecologia e Conservação Animal – ECOA/ 4 ICB/ UCSal; ³ Universidade Católica do Salvador – UCSal; Comissão Cientifica da Global Garbage; * E-mail: [email protected]

RESUMO O presente trabalho buscou descrever o comportamento de cobertura do ouriço-lilás, Lytechinus variegatus utilizando o lixo marinho, em costões rochosos da Baia de Todos os Santos. As observações foram obtidas em dois costões rochosos (Farol da Barra e Porto da Barra), sendo realizados 60 censos visuais subaquáticos utilizando um método de amostragem em mergulho livre, apresentando baixo custo e aplicável a ambientes recifais costeiros. Realizaram-se 30 censos visuais por área em transectos de 30 x 4 metros utilizando uma adaptação do protocolo AGRRA, para dados qualitativos e quantitativos nos períodos matutino (n= 15) e vespertino (n= 15), devido a variação de marés, incidência de luz e deriva dos resíduos. A utilização de resíduos naturais e o lixo marinho na associação com o ouriço-lilás, Lytechinus variegatus, foi observada em ambas as localidades, sendo que em áreas mais contaminadas como o Porto da Barra, os indivíduos utilizam em maior proporção o lixo marinho. No caso apresentado os ouriços estariam utilizando estes detritos não somente por uma possível seletividade, mas pela elevada disponibilidade destes materiais de origem antropogênica, modificando as condições do comportamento natural destes animais. Palavras chave: resíduos sólidos, comportamento de cobertura, estado da Bahia.

INTRODUÇÃO O lixo marinho atualmente representa uma extensa e crescente ameaça aos ambientes costeiro e marinho (UNEP, 2005). Sua representatividade nestes ambientes vem protagonizando uma das mais novas e ainda desconhecidas associações nas assembléias dos recifes de todo o mundo, devido à crescente disposição destes resíduos nestes ambientes (CARVALHO-SOUZA, 2009). Estes resíduos sólidos dentro da teoria e dos processos ecológicos tornam-se uma condição para as espécies e assim estas respondem de acordo com sua necessidade de recursos para realização de seu ciclo natural (BEGON et al., 2006). O lixo marinho é conhecido por afetar ao menos 267 espécies de animais marinhos em todo o mundo, incluindo 86% de todas as espécies de répteis marinhos, 44% de todas as espécies de aves marinhas e 43% de todas as espécies de mamíferos marinhos, além de muitas espécies de peixes, corais, moluscos e crustáceos (LAIST, 1987). No entanto são ainda incipientes, informações sobre as associações de invertebrados e lixo marinho. O ouriço-lilás, Lytechinus variegatus (Lamarck, 1816) (Echinodermata, Toxopneustidae), é comumente encontrado em regiões costeiras e rasas, ocorrendo em fundo arenoso (HILL & LAWRENCE, 2003). Freqüentemente, essa espécie pode adornar-se com os restos de materiais como estratégia de proteção e camuflagem realizando um comportamento para cobertura (VERLING et al., 2004). O comportamento de cobertura ou “covering behavior” é muito discutido na literatura quanto sua real função, havendo possibilidades de relações a fatores bióticos e abióticos (VERLING et al., 2004). No entanto a influência destas ações antropogênicas como o lixo marinho, poderia vir a estar alternando o uso de materiais nas estratégias dos ouriços. A partir disto o presente trabalho buscou descrever o comportamento de cobertura do ouriço-lilás, Lytechinus variegatus e o lixo marinho, em costões rochosos da Baia de Todos os Santos com o objetivo de analisar a hipótese se uma área com determinado nível de contaminação apresenta relação ao uso de materiais para cobertura dos ouriços.

MATERIAIS E MÉTODOS A Baía de Todos os Santos (BTS) é o segundo maior acidente geográfico da costa do Brasil com uma área de 1223 km², resultante de uma longa cadeia de eventos geológicos, Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia

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permitindo nesta formação em seu contorno e fisiografia, uma série de enseadas, ilhas, canais, sub-baias, penínsulas, recifes de corais, costões rochosos e praias (DOMINGUEZ & BITTENCOURT, 2009). Nossas observações foram realizadas em costões rochosos (Farol da Barra, 13°00’32.05” S - 38°00’32.20” O e Porto da Barra, 13°00’13.85” S - 38°32’01.19” O), localizados na entrada da Baía de Todos os Santos, nordeste do Brasil (Figura 1), um ponto com registros de contaminação por resíduos sólidos (CARVALHO-SOUZA & TINOCO, 2011) e assim possibilitando o contato destes materiais com a biota.

Fig. 1 - Mapa da área de estudo e marcações dos locais de amostragem subaquática (de baixo para cima: Farol da Barra – P1 e Porto da Barra – P2). Os dados coletados em campo foram registrados em placas de PVC, georeferenciamento das áreas de estudo, registros fotográficos e observações das características físicas. Foram realizados 60 censos visuais subaquáticos utilizando um método de amostragem em mergulho livre, apresentando baixo custo e aplicável a ambientes recifais costeiros. Realizaram-se 30 censos visuais por área para dados qualitativos e quantitativos nos períodos matutino (n= 15) e vespertino (n= 15), devido a variação de marés, incidência de luz e deriva dos resíduos. Utilizou-se uma adaptação do protocolo AGRRA (Atlantic Gulf Reef Rapid Assessment), visto a sua eficiência comprovada em amostragens quantitativas de comunidades bióticas. Os transectos em linha de cabo com multifilamentos de polipropileno e chumbo de 30 x 4 metros (totalizando 120m2) foram estendidos aleatoriamente em profundidades entre 0,5 e 10 m, nas intermediações de todo o costão rochoso. A velocidade de natação manteve-se constante durante toda a coleta de dados, com uma duração média de 12 minutos cada. Em cada indivíduo observado nos transectos foi mensurado os resíduos naturais e antropogênicos que os ouriços utilizaram como cobertura. Todo o resíduo (desde fragmentos a itens inteiros) foi registrado e somente os antropogênicos foram removidos manualmente e acondicionados em sacos de tela. A classificação e quantificação dos resíduos encontrados foram categorizados da seguinte forma: fragmentos rochosos (FRAG-ROC), fragmentos de algas (FRAG-ALG), biodetritos (BIODET), conchas de molusco (COMOL), plástico (PLA), vidro (VID), madeira (MAD), papel (PAP), metal (MET), tecido (TEC), restos de artefatos de pesca (APE) e outros (OUT) (ex. borracha, óculos, calçados, isopor e afins).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram observados ao todo 113 ouriços-lilás, ao longo de uma área total de 7200 m2, sendo 58 indivíduos encontrados em P1 e um número de 55 no P2.

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As análises de descrição estatística evidenciaram a hipótese onde no Porto da Barra obteve nas associações do ouriço-lilás um resultado extremamente significativo com os fragmentos naturais (p = 0.0002) e também com o lixo marinho (p < 0.0001). O que não ocorreu no Farol da Barra onde foi extremamente significativo mais uma vez com fragmentos naturais (p = 0.0004), no entanto sem significância com o lixo marinho (p = 0.4184). Pode se observar que ouriços-do-mar em ambientes menos contaminados como o Farol da Barra mantêm, com condições propícias e menos desequilibradas, a utilização de restos de diversos materiais naturais como restos de conchas, corais, algas e detritos minerais. L. variegatus apresentou aqui uma intrínseca associação com resíduos sólidos principalmente materiais plásticos (n= 66), utilizando-os para cobertura. Um fato alarmante disto é a reconhecida problemática do plástico no ambiente marinho. Fierce e Lapin (2004) realizaram um experimento utilizando as espécies L. variegatus e T. ventricosus, com relação ao uso de materiais naturais ou não como cobertura para se proteger da radiação ultravioleta. Estes autores encontraram evidencias de seletividade para T. ventricosus em materiais de cor escura (tiras pretas), que reduz a luz solar em sua superfície aboral, e nenhuma distinção para L. variegatus, onde este pode ter rejeitado o material plástico simplesmente por ser um material estranho e introduzido, ou escolher materiais que lhe permitam misturar-se no substrato natural (grass strips). É possível também que esta seja evidenciada em larga escala utilização por lixo marinho aos demais ouriços como Tripneustes ventricosus e Equinometra locunter, onde são observados também utilizando lixo marinho.

CONCLUSÕES O presente trabalho analisou a utilização de resíduos naturais e o lixo marinho na associação com o ouriço-lilás, Lytechinus variegatus, observando que em áreas mais contaminadas como o Porto da Barra, os indivíduos utilizam em maior proporção o lixo marinho. No caso apresentado os ouriços estariam utilizando estes detritos não somente por uma possível seletividade, mas pela elevada disponibilidade destes materiais de origem antropogênica, modificando as condições do comportamento natural destes animais.

REFERÊNCIAS BEGON, M.; TOWSEND, C. R. & HARPER, J. L. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2007. 740 p. CARVALHO-SOUZA, G. F. 2009. Poluição Marinha em ambientes recifais na Baía de Todos os Santos: composição, síndromes ecológicas e aspectos conservacionistas. Monografia de conclusão de curso, Universidade Católica do Salvador (UCSal), 113p., BA, Brasil. http://www.globalgarbage.org/monografia_gustavo_freire_de_carvalho-souza.pdf. CARVALHO-SOUZA, G. F.; TINÔCO, M. S. 2011. Avaliação do Lixo Marinho em Costões Rochosos na Baía de Todos os Santos, Bahia, Brasil. Revista da Gestão Costeira Integrada. 11(1):135-143. DOMINGUEZ, J. M. L.; BITTENCOURT, A. C. S. P. 2009. Geologia. In: HATGE, V.; ANDRADE, J. B. Baía de Todos os Santos – aspectos oceanográficos. EDUFBA, Salvador. p. 42. FIERCE, S. E. B; LAPIN, H. E. 2004. Selectivity of covering material in two sea urchins, Tripneustes ventricosus and Lytechinus variegatus. Dartmouth Studies in Tropical Ecology. HILL, S. K. & LAWRENCE, J. M. 2003. Habitats and characteristics of the sea urchins Lytechinus variegatus and Arbacia punctulata (Echinodermata) on the Florida Gulf-Coast shelf. Marine Ecology, 24(1): 15-30. LAIST, D. W. 1987. Overview of the biological effects of lost and discarded plastic debris in the marine environment. Marine Pollution Bulletin, 18(6B):319-326. UNEP - United Nations Environment Programme. 2005. Marine Litter. An Analytical Overview. 47p, UNEP/FAO. Nairobi, Kenya. http://www.unep.org/regionalseas/marinelitter/publications/docs/anl_oview.pdf.

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VERLING, E., CROOK, A. C. & BARNES, D. K. A. 2004. The dynamics of covering behaviour in dominant Echinoid populations from American and European West coasts. Marine Ecology, 25(3): 191-206.

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