O Paço do Conde de Barcelos

October 2, 2017 | Autor: C. Pimenta do Vale | Categoria: History
Share Embed


Descrição do Produto

CLARA PIMENTA DO VALE

o

Paço do Conde de Barcelos

BARCELOS 1 991

Separata da

« Barcelos-

Revista»

o PAÇO DO CONDE DE BARCELOS Clara Pimenta do Vale

Introdução

o trabalho que,

com modificações serviu de base a este artigo foi elaborado no âmbito de uma cadeira de História do Curso de Arquitectura da Universidade do Porto . Aproveito para agradecer aos colegas que comigo colaboraram, Joaquim Flores, Rogério Amoêda e Rui Carrasquinho, aos professores da cadeira, Arq. o A. Alves Costa, Arq. o Marta Cabral e Dr. Rui Tavares da FAUP e ainda ao Prof. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, da FLUP. Um trabalho escolar pressupõe que os interlocutores possuam certos conhecimentos básicos que se torna desnecessário repetir. Por essa razão o trabalho apresenta unicamente os factos essenciais à definição da nossa hipótese, e não uma História geral sobre o Paço dos Condes-Duques de Barcelos . Optou-se por manter a estrutura inicial porque torna o trabalho menos denso e com uma dimensão mais compatível com esta revista . Para essa informação complementar remeto para o Livro «O PAÇO DOS CONDES-DUQUES DE BARCELOS» do Arquitecto Francisco de Azeredo. Devemos salvaguardar o facto de o objectivo deste trabalho ser a reconstituição do Paço no tempo de D. Afonso, 7. o Duque de Bragança, e não a reconstrução actual do mesmo, que achamos que seja possível, mas com materiais diferentes que nos marquem as diversas épocas construtivas. 111

Evolução e Análise Urbanas Ao contrário do que é usualmente pensado, a primitiva implantação da que viria a ser a Vila de Barcelos, não se efectuou naquele promontório rochoso e planalto adjacente, em que hoje a encontramos . As primeiras ocupações conhecidas dão-se mais para Poente, num vale de férteis terrenos agrícolas, na zona em que o Cávado podia ser facilmente atravessado a vau . O fenómeno do cruzamento é, quase sempre, motivo para uma ocupação mais perene do lugar . Para além da utilidade do atravessamento de um rio , e dos proveitos que daí poderiam advir, o cruzamento tem um valor simbólico próprio, pela referenciação do espaço que produz . A construção da ponte, no local onde ainda hoje se encontra, ajuda a transferir, e a intensificar, a ocupação urbana da zona de Vila Frescainha, sua localização inicial, para o planalto mais a Nascente, onde já se encontravam os celeiros, pelo facto de aí os terrenos não serem propícios à agricultura . A localização da ponte prende-se com factores de carácter geológico e construtivo. O afloramento rochoso, com cota elevada em ambas as margens do rio, permite o lançamento da ponte . A continuação do veio granítico no interior do leito do Cávado possibilita a colocação dos apoios intermédios sem grandes dispêndios em fundações . É novamente o factor cruzamento que influencia a organização do território e decide a mudança da localização da Vila. A transferência da população foi certamente gradual mas de qualquer modo ráplda, pois sendo datado da segunda metade do Séc. XIV o início da construção da ponte, no primeiro quartel da centúria seguinte, possivelmente sobre o reinado de D. João, já se inicia a construção do muro da cerca. Se por um lado se pode ligar esta ordem régia a um certo prestígio do Senhor de Barcelos, o Conde D. Afonso, filho bastardo e mais tarde legitimado do monarca, por outro lado pode-se sempre depreender que a ocupação urbana já tinha uma densidade e dimensão razoáveis para justificar o facto . Devemos salvaguardar o facto de certos autores darem como anterior ao tempo do Conde D. Afonso a data da construção das muralhas. No entanto pelo documento do arquivo de Ponte de Lima (nota 1) sabemos que esta Vila pagava talha ao Conde D. Afonso para a construção das ditas muralhas e que continuou pagando em vida do seu filho o Conde D. Fernando, o que não se justificava se as obras já estivessem concluídas no tempo do primeiro. A muralha era de perímetro relativamente reduzido para a época tardia

112

I II

j

em que foi realizada, com poucas portas e meros postigos, deixando já de fora zonas urbanizadas, como por exemplo a Fonte de Baixo, onde existia uma gafaria. Era feita em alvenaria de pedra granítica, utillizando a argamassa bastante forte de barro da região que dava uma grande estabilidade à construção. Tinha sensivelmente três metros de espessura, e elevava-se a uma altura variável sendo depois rematada por merlões, como é possíve l constatar, por exemplo, no desenho de Duarte D' Armas. Sob as três torres da muralha situavam-se as portas da cidade. Na torre da Cadeia, como mais tarde viria a ser designada pelo facto de pará aí ter sido transferida essa função, encontrava-se uma das portas da Vila. Esta torre, de cantaria de granito, encontrava-se encostada à muralha e era através dela que era possível sair da cidade em direcção a Ponte de Lima e Prado. Possuía quatro pisos sendo os três últimos apenas fechados em três dos seus lados, Norte, Nascente e Sul, formando um «U». O quarto lado seria possivelmente fechado através de uma estrutura em madeira . Como justificação desta teoria o facto de encontrarmos, nas juntas de união das pedras do fechamento renascentista à estrutura pré-existente, o contorno de mísulas ao nível dos dois pisos superiores . O remate actual desta torre é da época renascentista, possuindo originalmente merlões semelhantes aos da muralha como nos é dado a observar no desenho do Séc. XV de Duarte D'armas . O esquema da passagem desta porta é em cotovelo, formando a entrada e a saída um ângulo recto, o que facilita o controle das pessoas que penetravam no burgo. A torre do Vale, onde se situava a porta do mesmo nome, e de que infelizmente já não existem vestígios era também em forma de «U» nos pisos superiores, como nos mostra o já citado desenho de Duarte D'armas. As portas eram no entanto em linha recta, sendo esta a saída utilizada por carros de animais, carroças ou outro equipamento agrícola . Estas duas torres são coladas, literalmente, à muralha. No local de encosto é possivel separar o que é muralha do que é muro da torre, pois existe duplicação da espessura da parede. A terceira torre situa-se à saída da já referida ponte, encostada a um maciço rochoso . Foi aumentanda nos finais do Séc. XV aquando da ampliação do Paço por D. Fernando, obras essas nunca concluídas, adquirindo assim um aspecto bastante diferente das restantes (nota 2). Ao nível baixo possuía três portas, estando uma no enfiamento da ponte e as outras duas colocadas em ângulo recto com a primeira, dando acesso aos caminhos que penetravam na vila, contornando o maciço rochoso onde se implantou o Paço . Existiam ainda dois postigos, ambos situados na zona fronteira ao rio .

113

o das vivandeiras junto à

referida torre, dava acesso à margem Cávado . O do pessegal, dava acesso ao poço da vila e era protegido (ver Fig. 1) por uma barbacã que também protegia o poço situado nas margens do rio. As muralhas são ainda hoje visíveis em algumas zonas (ver Figs . 2, 3 e 4) . A organização da vila não segue um esquema padrão. Baseia-se sobretudo nos caminhos que unem as portas medievais e os postigos. Na zona de ocupação mais densa, a poente a organização adapta-se a um esquema de quadrícula irregular, enquanto que a nascente, onde se situavam as propriedades conventuais não existia praticamente ocupação urbana do solo com excepção feita para a rua direita. Existem ainda alguns edifícios com raiz medieval, como a casa dos Pinheiros, a casa dos Carmonas, a do Alferes, a casa do Condestável eainda duas casas mais modestas, uma a Nascente do Paço e outra a Norte do Edifício da Câmara, ele também de raiz medieval, mas com muitas intervenções posteriores, e a Matriz, de maior antiguidade e importância, situada a Norte do Paço.

A Matriz e o Paço A matriz de Barcelos é um edifício com intervenções sucessivas ao longo de mais de dois séculos. Instaurada a colegiada no Séc . XV, 1474, por pedido de D. Afonso, Conde de Barcelos, já se encontraria possivelmente terminada a construção do edifício nesta data . Muitas vezes erradamente se atribuiu a D. Afonso a construção da Matriz de Barcelos, assim como a ponte, mas este apenas lhe conseguiu o título de colegiada. De raiz românica com influência galega, é edificada completamente no período gótico . Já no Séc . XVI a sua cabeceira é demolida substituindo-a outra mais curta e de capela mor recta, ao contrário da anterior, semi-circular. As capelas laterais d.esta reconstrução teriam sido demolidas ou profundamente alteradas, pois as que agora lá se encontram são uma reconstituição dos monumentos nacionais. Sofreu ainda diversas alterações nos Sécs . XVIII e XIX sendo da centúria de setecentos o longo transepto, inicialmente simétrico, e actualmente por necessidade do arranjo da praça em frente, profundamente assimétrico . A divisão entre as naves, que não é lida na fachada, é uma influência da arquitectura espanhola, assim como a característica decorativa dos capitéis (ver Figs. 5 e 6). O Paço e a matriz terão estado ligados por um passadiço segundo descrições, e segundo a cópia feita por António Augusto Pereira de uma pin-

114

Fig . 1. - Postigo do Pessegal

Fig . 2 - Restos das muralhas, na Rua do Arco

115

Fig. 3 -

Vista do local da antiga Torre da Ponte

Fig . 4 - Restos das muralhas na Rua Fernando de Magalhães e Meneses

116

Fig . 5 - Capitéis da igreja Matriz

Fig . 6 - Igreja Matriz Local onde rematava o passadiço

117

tura de seu pai (ver Fig. 7). As descrições são demasiado vagas e unicamente sabemos que o passadiço rematava na torre da matriz pelo seu lado nascente .

o Paço

do Conde de Barcelos

Os Paços dos Duques de Barcelos sofreram destruições sucessivas ao longo dos séculos. Serviram durante muito tempo de pedreira para as gentes do Concelho, chegando mesmo um vereador a vender dez mil carros de pedra. Nos finais do Séc . XIX com os ecos das discussões estrangeiras sobre o património e a reconstrução dos edifícios antigos, tenta-se repetidamente o restauro dos Paços . O dinheiro escasseia, pouco ou nada é feito. Existem vários projectos mas o único que chegou até nós foi o do arquitecto Ernest Korrodi (ver Figs. 8 a 12) . Não se sabe ao certo em que consistiram o projecto de restauro ou de reconstrução, nem o que foi feito segundo cada um deles. Sabemos, no entanto a partir da análise de fotografias e postais antigos que algumas das portas e das janelas, ou restos delas, que se encontram actualmente nas ruínas, foram aí postas aquando dessas obras e restauros dos monumentos nacionais. Pela fotografia de um postal antigo (ver Fig . 13) é possível verificar a não existência de portas voltadas a norte e a nascente na casa-torre voltada a poente. Essas portas são, aliás colocadas com uma falta de lógica desconcertante, acarretando por vezes a impossibilidade construtiva da estrutura do soalho, como por exemplo no corpo voltado a norte, onde a abertura das portas é um impedimento à estrutura e vice-versa. Noutros locais é ainda hoje possível detectar as cicatrizes nas pedras resultantes da colocação de elementos que foram encontrados soltos. É o caso da janela superior e da porta da parede mais a sul (ver Fig. 14), e do arranque da porta de arco, do corpo nascente, de fabrico recente (ver Fig . 15) .

Descrição Funcional do Paço de Barcelos O Paço de Barcelos é mandado construir por D. Afonso, filho bastardo de D. João I e estaria já concluído no primeiro quartel do Séc . XV, como pode depreender de um documento de meados da centúria que dá por concluídas as obras vinte e cinco anos antes . As obras foram retomadas por D. Fernando, filho do Conde D. Afonso, que pretendeu ampliar o Paço. Esta afirmação é justificada em parte pelo documento do arquivo de Ponte

118

3 J

J S

e

s 1-

é J

e o 1-

S I-

a

e s o n 31

s a o

Ol

ii:

o o 1-

lr

,. e 119

Fig . 8 - Projecto do Arq. Korrodi

_

I

__ J

BIBLIOT(n: CR E fl{.V,sEO·Il'lYI(IC il"lIr:;· ·DE8RR,CC!í:.°5 ·

. t:)C ~~ !I I: 100'

Fig. 9 - Projecto do Arq. Korrodi

120

Fig . 10 - Projecto do Arq. Korrodi

éJ3iBLIOTI?ECR·r IT{Y5EO ·lQ.Yl
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.