O PAPEL DA IMPRENSA NO DEBATE ESTÉTICO DO SÉCULO XIX
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XI SEL – Seminário de Estudos Literários 50 anos do II Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária UNESP – Câmpus de Assis – 24 a 26 de outubro de 2012 Anais eletrônicos, Assis, UNESP, 2013 – ISSN: 2179-4871 _____________________________________________________________________________________
O PAPEL DA IMPRENSA NO DEBATE ESTÉTICO DO SÉCULO XIX A LIBERDADE DO POETA NOS PERIÓDICOS DA RESTAURAÇÃO (18151830) Yuri Cerqueira dos Anjos (Doutorando – USP) Orientador: Philippe Willemart
RESUMO: Tendo como fio condutor o tema da "liberdade", analisaremos o debate estético desenvolvido em diversas publicações periódicas francesas do início do século XIX (1815-1830) e observaremos como ele se relaciona com as condições históricas da época. Num contexto onde a escrita de imprensa carregava diversas influências políticas, sociais e literárias, o diálogo crítico acalorado acerca do valor da nova escola romântica se revela interessante para a análise das interseções entre literatura, imprensa, política e sociedade. Nesse período de grandes transformações, publicações de diversas vertentes tomaram a discussão artística como pauta importante. Desde quotidianos como Le Constitutionnel, até publicações mais esporádicas como La Muse française, e posteriormente o Le Globe, podemos perceber que o debate literário na imprensa toma contornos diversos em função de como e quanto cada folha incorpora e difunde ideias atreladas a elementos extraliterários ao seu discurso. Duas tendências se delineiam mais claramente: o romantismo, por um lado, é “incorporado” pela imprensa como caminho para a exploração de questões de ordem política, mas, por outro, o próprio movimento busca se apropriar da escrita periódica como meio de se afirmar no cenário cultural do seu tempo. Observamos uma diferença fundamental entre os tipos de suporte periódico: jornais (mais politizados) ou revistas (mais literárias). Além disso, surge dessa observação a visão do lugar ambíguo da imprensa (entre agente e testemunho) em meio às transformações literárias e culturais de uma época. PALAVRAS-CHAVE: Imprensa, Romantismo, Século XIX.
Introdução Em um curioso artigo publicado nas páginas do grande cotidiano liberal o Constitutionnel, artigo intitulado Sobre o Café – Novas considerações do doutor Virey, vemos uma curiosa comparação entre os hábitos alimentares e os hábitos literários dos franceses no início do século XIX: Racine e o café passarão, dizia madame de Sévigné» (…) Beber é uma moda que não muda nunca. (…) Quanto a Racine, o senhor Schlegel se encarregou da sua derrocada; hoje há apenas um pequeno número de incrédulos que ousam prejudicar a imortalidade do poeta e a da bebida que nós devemos à Arábia. (Le Constitutionnel, 14.05.1816)
O lugar insólito que ocupa a literatura nesse artigo sobre os benefícios medicinais do café, parece revelador de uma necessidade incontornável de inserção no debate literário. Pierre Moreau comenta justamente que "após o Império (...) não há jornal
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ultra, ministerial ou liberal que não possua a sua crônica de livros"(MOREAU, 1960, p. 94). Aqui, fica claro que, além de fortemente presente, o tema literário contamina outras rubricas e mostra a centralidade cultural do debate em torno do romantismo. Ao olharmos para o papel da imprensa nessa verdadeira Batalha que se travou em torno da estética romântica, é necessário ter ao mesmo tempo consciência da sua força e dos seus limites. Dessa forma, procuraremos traçar um breve panorama de como esse debate foi tomando corpo em alguns periódicos franceses nos anos da chamada Restauração francesa que vai de 1815 a 1830. Tal período, além de representar uma relativa unidade histórica, abarca no campo literário as primeiras publicações dos grandes nomes do romantismo francês (Lamartine, Vigny, Musset, Hugo) e culmina com a chamada “Batalha de Hernani”, em 1830, apoteose do debate entre romantismo e classicismo e marco da afirmação do romantismo francês.
A política das resistências Um dos pontos centrais do acalorado debate sobre a nova estética romântica era o grau de liberdade a ser atribuído ao poeta diante da tradição e dos preceitos clássicos. A ideia de liberdade artística não era uma polêmica apenas restrita ao âmbito literário. Mais do que isso, ao colocar em questão todo o passado literário e a ideia de valor universal da literatura, dentro de um contexto pós-revolucionário e pós-napoleônico, a polêmica se tornava ainda mais complexa, sendo impossível se falar em liberdade artística sem levantar uma série de outras questões de ordem histórica, social e política. No contexto da Restauração a palavra "liberdade" é objeto de um generalizado processo de valorização. Porém, se os dois grandes polos da opinião política da época, os liberais e os monarquistas, defendiam a construção da liberdade, essa liberdade era sempre acompanhada de um fator regulador. A experiência histórica recente ainda carregava as marcas dos anos de radicalização da Revolução de 1789, marcas que praticamente obrigavam qualquer texto sobre liberdade a tratar também das formas de contenção das liberdades. No campo monarquista, o periódico intitulado Le Conservateur, encabeçado por Chateaubriand, mostrará os seus princípios numa ordem que revela a hierarquia das suas prioridades:
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Fig. 1 – Frontispício do primeiro tomo do Conservateur, uma das principais folhas monarquistas da Restauração. “A religião, o Rei, a liberdade, a Carta, e as pessoas honestas”. (Le Conservateur, 1818, p. 7) quanto mais defendermos os princípios da verdadeira liberdade, mais nós exigiremos para os cidadãos a garantia dos direitos, e mais nós deveremos nos levantar contra tudo o que ultrapassa os limites da experiência, marcados pela Sabedoria. (Le Conservateur, 1818, p. 40)
Já no campo liberal, a Carta constitucional e as leis serão o princípio regulador por excelência. A ideia básica de liberdade dos liberais defende que justamente : Só é verdadeiramente livre aquele que, obedecendo às leis, consagra todos os seus esforços a impedir que essas leis sejam esquecidas em relação aos outros. Não há liberdade sem lei; só há licença e tirania. (Le Constitutionnel, 25.07.1819)
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Fig. 2 – Primeira página do Constitutionnel de 25/07/1825, um dos maiores quotidianos liberais da Restauração.
Não só podemos sentir as contradições entre duas concepções de “verdadeiras liberdades” como podemos prever, diante desses exemplos, as dificuldades que surgirão a qualquer proposta artística que ponha em cheque a ideia de regra, ou que defenda uma liberdade mais ampla e menos regulada. Nesse sentido, a famosa oposição presente no primeiro romantismo francês entre monarquistas românticos e liberais classicistas, oposição que parece chocante ao protagonista de Ilusões Perdidas de Balzac, deve também ser relativizada. Se é verdade que os primeiros românticos eram notadamente monarquistas e cristãos, eles também defendiam ideias, como o estatuto transcendental do poeta, por exemplo, que não eram tão compatíveis com essa doutrina. É justamente na imprensa que encontraremos indícios desse embate entre as concepções literárias e as concepções políticas. Da mesma forma que na França o romantismo parece ter um duplo nascimento – um de raiz liberal figurado nas obras de Mme de Staël (De la Littérature, De l’Allemagne), outro de raiz monarquista surgido das reflexões de Chateaubriand sobre o cristianismo – também as críticas ao romantismo surgiam dos dois lados, tanto na imprensa de orientação liberal quanto na imprensa de orientação monarquista. Nem sempre portanto monarquismo e romantismo andavam juntos. No Conservateur podemos ler um conselho ao poeta: Tristeza (...) se ele entrar no caminhos das trevas! Se como Lord Byron na Inglaterra, ele pertencer às doutrinas do mal. (...) Lord Byron é incontestavelmente poeta pela expressão; mas seu gênio brilha como um meteoro sinistro: seu talento que o havia sido dado para guiar, desorienta. (Le Conservateur, tome VI, 1820, p. 509)
Do lado liberal também parece haver um certo receio a qualquer traço de desordem e de liberdade mais franca na criação. Traço que os liberais queriam ver apenas como fruto passageiro de uma época (a revolucionária) onde uma desmesurada energia que se alia raramente com a severidade das regras e as delicadezas do gosto, parecia ter mudado tudo entre nós.
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(Le Journal du commerce [Le Constitutionnel], 01.12.1818)
Parte dos liberais acreditava que, uma vez passado esse período turbulento, a herança revolucionária se sedimentaria sob a calmaria da Restauração e seu almejado equilíbrio entre os poderes real e constitucional. Dessa forma, num cenário onde a imprensa se mostra fortemente ancorada em concepções políticas, as ideias e obras românticas, ao trazerem à tona questões polêmicas como a influência estrangeira, a valorização/desvalorização do passado nacional, a vontade de fazer uma leitura da Revolução, do Império, do movimento iluminista, entre outras, se configuraram também como possíveis fatores de incompatibilidade e ao mesmo tempo de interesse. O traço político do romantismo fazia dele ao mesmo tempo matéria a ser rejeitada e matéria a ser tratada nos grandes periódicos da época, dando a ele contraditoriamente visibilidade ao criticá-lo.
As revistas literárias Essa visibilidade e circulação do debate romântico na imprensa serve de base para que, principalmente a partir dos anos 1820, os próprios escritores e artistas românticos se lancem na produção periódica voltada à difusão e discussão das ideias estéticas. Entre essas revistas, as mais conhecidas são certamente Le Conservateur littéraire, e a Muse française. Tais revistas, apesar de vinculadas a correntes políticas, representam um tratamento mais cuidadoso da questão literária. Ao contrário dos jornais de grande circulação, esses periódicos mais esporádicos dos quais participam grandes personagens do romantismo francês como Émile Deschamps, V. Hugo, A. de Vigny e Sainte-Beuve, revelam um projeto midiático onde a literatura não mais se apresenta apenas como um meio para levantar discussões políticas. Nas páginas dessa duas revistas, os jovens escritores buscam constantemente elevar a literatura a um estatuto acima da política. No poema de abertura da revista Le Conservateur littéraire, um poema de V. Hugo traz versos programáticos e emblemáticos: Não, todos os vossos bons discursos não me converteram. E por que quereis que eu abrace um partido?
(Le Conservateur littéraire, t. 1, pt. 1, p. 3) Ao contrário de folhas como o Constitutionnel, nessas pequenas revistas a literatura é o principal objeto redacional, e por isso a hierarquia entre literatura e política parece começar a se alterar num esforço em construir um ethos crítico de neutralidade: O autor não terá do que reclamar sobre a nossa parcialidade; e se em algum momento não estivermos de acordo, ele poderá argumentar sobre as impressões que suas poesias produziram em nós, e não sobre opiniões prévias sobre o gênero [romântico] ao qual elas pertencem. (Le Conservateur littéraire, t. II, pt. 2, p. 88)
Essa “opiniões prévias” são justamente uma leitura da crítica tal como ela é feita nos grandes veículos de comunicação. Ao estabelecer uma oposição com a forma de crítica dos quotidianos, essas revistas se inserem no debate estético como uma nova voz 731
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nesse acalorado diálogo, propondo uma nova perspectiva na qual a liberdade estética não se define necessariamente pela liberdade política: Desde que a literatura virou domínio da política, não se pode trazer à tona uma obra sem que ela seja de imediato louvada por um partido e rebaixada por outro. (Le Conservateur Littéraire, t I, pt. 1, p.246)
Pouco a pouco, partindo desse princípio básico de recusa do político, veremos surgir tentativas de aprofundamento das concepções críticas e literárias, num discurso crítico que vai amadurecendo, mostrando uma preocupação filosófica e metodológica muito interessante para pensar o tema da liberdade romântica. Vemos, por exemplo, em um texto da Muse Française uma importante formulação acerca da mobilidade da literatura, da liberdade do artista, das regras da arte e da função do crítico: Ainda que as regras da arte sejam imutáveis como as leis da natureza, a fisionomia das literaturas variam com os séculos, e a crítica deve também necessariamente ter a sua parte variável. Ela consiste em apreender e a determinar as novas relações de uma literatura com o tipo eterno do belo. (La Muse française, t. I, 1823, p. 3)
Fig. 3 – Capa do segundo tomo da Muse Française, uma das revistas mais importantes no cenário romântico
Sendo assim ainda mais pertinente do que a oposição monarquistas românticos/ liberais classicistas, vemos surgir a oposição entre concepções literárias guiadas politicamente e concepções literárias mais autônomas, as primeiras representadas principalmente na imprensa de grande circulação e as segundas sobretudo na imprensa redigida pelos próprios escritores. Essas pequenas revistas, apesar de operarem em um espaço restrito, representam um passo importante na conquista estética do questionamento de modelos e valorização
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da originalidade, pois se revelam como espaços textuais que tornam público e inserem no debate textos de maior complexidade e argumentação em torno de um tema que nas mãos dos grandes jornais tendiam a se transformar em pura querela política.
Estética, política e literatura: o caso do Globe Parece ser somente em 1824, quando surge o periódico Le Globe, que uma folha mais abertamente política irá assimilar o debate também de forma mais complexa. Isso se deve, em larga medida, ao ganho de força da proximidade entre o romantismo e o liberalismo. Pouco a pouco, os conceitos liberais de liberdade, transformação e progresso históricos darão espaço para a entrada das concepções românticas de contestação das regras tradicionais. A racionalidade e a ampla defesa da herança do século XVIII – fatores que impediam a aceitação liberal de uma escola literária questionadora – serão, aos poucos, deixadas relativamente à parte para que entre em cena, sob o signo da ideia de progresso, a defesa de uma literatura que seja uma expressão moderna da sociedade e, portanto, ponha em sintonia romantismo e liberalismo. Assim como as revistas que acabamos de ver, no Globe um sinal da liberdade concedida ao escritor é a reavaliação acerca do papel do crítico. É surpreendente ver o quanto os artigos desse periódico conseguem conciliar a ideia de uma nova crítica com a liberdade do escritor. Contrariando a ideia da autoridade crítica, que nas folhas mais literariamente conservadoras representava a universalidade das regras e a força da tradição, a crítica do Globe propõe novas formas de abordagem. Mais do que um arauto das poéticas clássicas e das regras rígidas, o crítico se propõe como um leitor. Aqui, ao lado da liberdade do poeta, surgirá a liberdade do leitor e ambas serão legitimadas ao se encontrarem, numa espécie de solução dialética: Ao artista pertencerá a iniciativa, mas ao público o veto. Não haverá portanto independência absoluta nem de um lado nem do outro (...); e dessa dupla dependência, dessa dupla liberdade, nascerão as leis do gosto menos imperfeitas, menos arbitrárias que podemos esperar neste mundo. (Le Globe, 02.04.1825)
Os artigos do Globe trazem à tona uma passagem que Claude Millet chamará de passagem do sistema retórico da crítica para o sistema estético (MILLET, 2007), no sentido de dar conta da perda de importância paulatina do sistema de regras clássico na criação literária e de apontar a ascensão de uma abordagem estética da arte.
Conclusão Sendo assim, mais do que testemunha, a imprensa é divulgadora e defensora de concepções que se espalharão no contexto cultural da sua época. O interesse dos escritores em se inserir nesse contexto revela o quanto imprensa e cultura letrada estavam intrinsecamente ligados e se influenciavam mutuamente.
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O debate estético que acabamos de acompanhar não é portanto feito de discursos estanques e isolados, mas na e pela imprensa eles são postos em relação e é justamente esse diálogo que permitirá as suas mudanças e evoluções. Nesse sentido é revelador o eco das palavras do Globe no mais pungente manifesto romântico, o prefácio de Cromwell: Que a regra das unidades, a separação absoluta dos gêneros, a declamação anotada do Conservatório e o estilo pomposo da escola, desmoronem-se um após o outro sob os golpes do bom senso. (Le Globe, 29.10.1825) Martelemos as teorias, as poéticas, os sistemas. Joguemos por terra esse velho reboco que mascara a fachada da arte! (Préface de Cromwell, 1827, p. 23)
Diante desses exemplos, podemos observar que a imprensa, esse suporte cada vez mais presente no cenário cultural francês, mostrou-se incontornável e acima de tudo basilar para a evolução do movimento romântico e da crítica literária do século XIX. Seu caráter coletivo, público, polifônico e periódico contribuiu para a composição, difusão, troca e evolução dos discursos, para as viradas de campo, para a movimentação conturbada das ideias românticas. A imprensa permitiu sobretudo, ao configurar em suas páginas o confronto entre criação e recepção, a construção e o amadurecimento da ideia de liberdade: pilar central da estética do romantismo francês.
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