O REGIME JAPONÊS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, SEU ULTRANACIONALISMO E RELAÇÃO COM O TOTALITARISMO E FASCISMO1

May 31, 2017 | Autor: Jose Filipe Suzuki | Categoria: Japan
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Trabalho de conclusão da disciplina de História das Relações Internacionais Ii, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, elaborado durante o primeiro semestre de 2014 sob orientação do Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni.
Aluno do terceiro termo do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo.
MARUYAMA, Masao. Studies in the Intellectual History of Tokugawa Japan. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 323.
Ibid. p. 329.
Ibid. p. 330.
Ibid. p. 331.
FUKUZAWA, Yukichi. Shin Nihon shi, vol. II (1892), apud. MARUYAMA, Masao. Op. Cit. p. 331.
MARUYAMA, Masao. Op. Cit. p. 327.
Ibid. p. 332-3.
HALL, John Whitney. El Imperio Japones. Decima Edición. Ciudad de Mexico: Siglo Veintiuno, 1973, p. 256-261.
Ibid. p. 263-4.
Ibid. p. 264
HIROSHI, Mitani in MAKITO, Saya. The Sino-Japanese War and the Birth of Japanese Nationalism. Tokyo: International House of Japan, 2011, p. IX.
Ibid. p. 166.
Ibid. p. 19, 21-22.
Ibid. p. 26.
BEASLEY, W. G. Modern Japan: Aspects of History, Literature and Society. Tokyo: Charles E. Tuttle Company, 1988.
Op. Cit. p. 38.
Ibid. p. 39
Ibid. p. 56.
Ibid. p. 68.
MAKITO, Saya. Op. Cit. p. 120, 122.
Ibid. p. 130-131.
KOSAKA, Masataka, in GLUCK, Carol and GRAUBARD, Stephen R., editors. The Japan of Hirohito. New York: W. W. Norton & Company, Inc., 1992, p. 27.
KAWAHARA, Toshiaki. Hirohito and his times: a Japanese perspective. Tokyo: Kodansha International Ltd., 1990, p. 49.
KOSAKA, Masataka. Op. Cit. p. 30.
Ibid. p. 31.
Ibid. p. 35-36.
KAWAHARA, Toshiaki. Op. Cit. p. 58.
KOSAKA, Masataka. Op. Cit. p. 37.
Ibid. p. 38.
Ibid. p. 43.
BIX, Herbert P.. Hirohito and the making of modern Japan. New York: HarperCollins Publishers Inc, 2000, p. 326.
Ibid. p. 328.
Ibid. p. 328-9.
CHANG, Iris. The rape of Nanking: the forgotten holocaust of World War II. New York: Penguin Putnam Inc, 1998, p. 4.
BIX, Herbert P.. Op. Cit. p. 336.
KAWAHARA, Toshiaki. Op. Cit. p. 101.
BIX, Herbert P.. Op. Cit. p. 377.
ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 558-559.
Ibid. p. 474, 476.
Ibid. p. 534.
Ibid. p. 560.
MUSSOLINI, Benito. Fascism Doctrine and Institutions. Roma: Ardita Publishers, 1935, p. 7-42.
FLETCHER, Miles. Intellectuals and Fascism in Early Showa Japan. The Journal of Asian Studies. Vol. 39, n. 1, p. 43-44, Novembro, 1979.
Ibid. p. 46.
Ibid. p. 46, 48.
Ibid. p. 48, 49.
WILLENSKY, Marcus. Japanese Fascism Revisited. Greater China. Vol. 5, n. 1, p. 61, Inverno de 2005.
Ibid. p. 67.
BIX, Herbert P.. Rethinking "Emperor-System Fascism": Ruptures and Continuities in Modern Japanese History. Bulletin of concerned Asian scholars. Vol. 14, n. 2, p. 6, Abril-Junho, 1982.
Ibid. p. 7.
Ibid. p. 7,8.
Ibid. p. 8.
Ibid. p. 12.
DOWER, John W, in GLUCK, Carol and GRAUBARD, Stephen R., editors. The Japan of Hirohito. New York: W. W. Norton & Company, Inc., 1992, p. 56,57.
WILLENSKY, Marcus. Op. Cit. p. 60.


O REGIME JAPONÊS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, SEU ULTRANACIONALISMO E RELAÇÃO COM O TOTALITARISMO E FASCISMO
José Filipe Suzuki Leal Roque

Resumo
O objeto de estudo nesse artigo é o que sempre foi preterido nos estudos sobre a Segunda Guerra Mundial: o regime japonês imperialista. Por meio da exposição da história recente do Japão, da análise de autores que tratam da realidade japonesa à época e do uso de conceitos criados por pensadores respeitados, o Japão militarista do século XX será caracterizado.

Palavras-chave: Japão, Segunda Guerra Mundial, Militarismo
Abstract:
The object of study in this article is what has always been pretermitted in studies about World War II: the imperialist Japanese regime. Through exposition of the recent history of Japan, the analysis of authors who dealt with the Japanese reality at that time, and the use of concepts created by respected thinkers, the militarist Japan of the twentieth century will be characterized.

Key words: Japan, World War II, Militarism


INTRODUÇÃO

Para se compreender o regime japonês presente durante a Segunda Guerra Mundial, é necessário ter uma visão mais ampla de como ele chegou ao estágio em que se encontrava. Assim, o estudo se inicia com o nascimento do nacionalismo japonês, componente importantíssimo para o inicial sucesso do militarismo japonês, passando pelo papel que tiveram guerras menores nas quais se envolveu o Japão antes da Segunda Guerra, como a Primeira e Segunda Guerras Sino-Japonesas. A imprensa também será levada em conta, além do sistema educacional, para entender como se deu a cooptação das massas pelo governo expansionista. Então, autores, tanto ocidentais como orientais, serão utilizados com o fim de esclarecer a relação que mantinha o imperador Hirohito, o Exército e os civis entre si e com a política da época. Por fim, o conceito de "totalitarismo" e "fascismo" serão apresentados para chegar-se ao objetivo deste artigo: caracterizar o regime japonês como totalitário e/ou fascista e, se não for esse o caso, propor uma denominação para ele.

NACIONALISMO JAPONÊS

O ponto inicial do qual se deve começar a análise é o momento em que se pode dizer que o Japão nasceu como um Estado-Nação moderno. Masao Maruyama define o termo nação nos seguintes termos:
...a nation exists only if the members of a given group of men are aware of the common characteristics that they share with each other and that distinguish them from other nations as a special nation and possess some desire to preserve and foster this unity.
Para o autor, não basta haver uma estrutura governamental e instituições políticas comuns em um determinado território para que uma nação se constitua: é necessário que o povo como um todo deseje pertencer a uma comunidade comum, sendo que essa consciência nacional, inevitavelmente, convergirá na consciência de unidade política. O nacionalismo é, pois, indispensável para o Estado moderno existir como tal.
Todavia, de acordo com o autor, a consciência política nacional não surge espontaneamente. Para que uma nação política surja de um conjunto de agrupamentos, é necessário um "estímulo externo" que desperte o sentimento de nação. Normalmente, esse fator externo se dá na forma de uma ameaça de uma potência estrangeira, um inimigo comum, o que, no caso japonês, ocorreu apenas após o fim do feudalismo da Era Tokugawa e no decorrer do Período Meiji.

Feudalismo na Era Tokugawa (1603-1868)

Maruyama diz que, somente após o fim da estrutura feudal do período Tokugawa, foi possível que a solidariedade nacional se desenvolvesse. Logo, faz-se necessário discorrer sobre essa estrutura para uma melhor compreensão da opinião do referido autor.
Primeiramente, havia a completa separação entre a força militar e o campesinato, sendo que os primeiros detinham o monopólio do poder político e se distinguiam social e culturalmente em seu estilo de vida em relação ao povo comum (camponeses, artesãos e os mercadores).
Pode-se dizer que havia dois "Japões", completamente diferentes, sendo isso um indício da falta de coesão interna. O campesinato, basicamente, existia para pagar impostos. Os comerciantes nas cidades eram considerados como o mais baixo estrato da pirâmide social, sendo estereotipados como gananciosos e desprovidos de qualquer senso de justiça ou virtudes.
Enfim, a sociedade feudal do período Tokugawa se dividia em duas partes: a classe dos samurais, com o poder político, e a classe das pessoas comuns, que constituíam cerca de 90% da população total, os quais eram "no more than the objects of political control".
Além dessa divisão em dois estratos, mesmo dentro destes havia um grande número de distinções hierárquicas que também incluíam distinções regionais, produzindo um forte regionalismo, impedindo o desenvolvimento da unidade nacional, ainda que houvesse a figura do imperador como centralizador do poder (o feudalismo Tokugawa é chamado, muitas vezes, de feudalismo centralizado):
But in essence the Tokugawa remained just another house of feudal lords. (...) Each of the 270 han [domínios] constituted an insulated political unit... (...). Communications between the separate han were deliberately made extremely difficult. Within each han the samurai were ranked into twenty, thirty, or more strata... (...). ..."many millions of people through Japan were sealed up in many millions of separate boxes or separated by many millions of walls".
Desde a fundação do país, a mentalidade das pessoas era a de que o Japão era a Terra dos Deuses e havia o senso de autoconfiança racial, mas é evidente o grau de desunião existente entre os han, provocado pelas barreiras mútuas e rivalidade entre eles até o período Tokugawa. Maruyama é claro ao dizer que a própria estrutura existente no período era um obstáculo decisivo para a formação de uma nação unificada e unida.
Essa mentalidade começou a mudar quando, em junho de 1853, Comodoro Perry, mandado pelo presidente norte-americano Fillmore, chegou ao Japão com quatro navios de guerra, pedindo pela abertura dos portos japoneses. Isso fez com que os vários líderes de domínios se reunissem e inquirissem o imperador sobre o assunto e serem orientados sobre essa "crise nacional", porém, a população comum ainda era mantida ignorante nos assuntos de política interna e externa. A partir de então, pela existência de ameaças externas que punham em risco a soberania japonesa, termos como "defesa nacional", "o inteiro país do Japão", "expulsar os bárbaros", somado ao processo de maior centralização do poder nas mãos do imperador, começaram a se difundir entre intelectuais e líderes feudais.

Período Meiji (1868 - 1912) e consolidação do nacionalismo

Com o fim do período Tokugawa, o feudalismo japonês foi posto em cheque e mudanças decisivas ocorreram: em 1869, foi criado um Departamento da Guerra; em 1871, com a abolição dos han, as antigas guardas foram postas sob um controle central; em 1872, planos para um sistema de recrutamento obrigatório estavam completos; em 1873, a posse da terra foi reorganizada, que pode ser considerada a primeira "reforma agrária" moderna japonesa. As mudanças foram radicais na direção da centralização do poder e da construção de um Estado forte e uma nação unida e, em 1877, a última resistência dos samurais para impedir que o novo Estado se consolidasse falhou, quando uma sublevação foi suprimida pelo recém-organizado exército.
Nesse período iniciou-se a ocidentalização do Japão e é impressionante a forma como isso ocorreu:
...adopción del armamento de estilo occidental... (...) En total serían tal vez unos 3000 los consejeros extranjeros del gobierno que llegaron al Japón, hasta 1890. Los expertos alemanes se empleaban para organizar nuevas universidades y escuelas de medicina... (...) ...colaboraran en la redacción de una constitución... (...) Los consejeros americanos contribuyeron a crear centros agrícolas y un servicio nacional de correos. (...) ...enseñó a los japoneses una nueva técnica diplomática. Los consejeros británicos se dedicaban al desarrollo de los ferrocarriles, del telégrafo y de las obras públicas. El exército, en cambio, contava con instructores militares franceses.
Ainda que a influência se deu de maneira direta, a peculiaridade japonesa de adaptar ao seu próprio estilo as tendências externas e não abandonar sua cultura passada se mostrou no fato de que nenhum desses estrangeiros foi posto em cargos de chefia dos órgãos administrativos japoneses e, assim que os locais se sentiram capacitados para se desenvolverem sozinhos, o serviço dos ocidentais foi dado como acabado.
Em 1889, a Constituição Meiji foi promulgada, colocando o imperador como absoluto e sagrado, superior ao governo, sendo a personificação do estado. O imperador continuava sendo a representação mais pertinente da identidade nacional. Com essa Constituição, que tinha fortes traços ocidentais, o Japão passou a ser visto como "civilizado" pelas potências, sendo tratado de uma forma mais igual (ainda que não totalmente igual aos norte-americanos e europeus).
Com essas reformas, o Japão se destacava cada vez mais na região do leste asiático, sistema no qual, antes dominado pela China, ocupava uma posição periférica e não participava ativamente nas relações dessa ordem. Os efeitos da industrialização e modernização se refletiram numa política externa expansionista e, em 1894, com o estourar da Guerra Sino-Japonesa, a política imperialista nasceu e consolidou o nacionalismo japonês, ao mesmo tempo em que começou a cooptar ideologicamente a população, o que, mais tarde, seria muito bem empregado durante a participação japonesa na Segunda Guerra Mundial.

A Guerra Sino-Japonesa (1894-1895)

"As a result of the Sino-Japanese War and the accompanying developments in mass media, Japan became a modern nation-state". A partir dessa afirmação, logo se percebe a importância da Guerra Sino Japonesa de 1894 na consolidação do Japão como nação e o papel que teve a imprensa. Como desenvolvido no início, uma nação, para assim ser chamada, precisa que a população se considere como pertencendo a uma comunidade única, com uma cultura e história comuns, e será mostrado como esse espírito de pertencimento e união foi despertado no Japão durante essa guerra.
A origem do conflito se dá na competição entre China e Japão pela hegemonia na Coreia, onde, em 1894, uma revolta camponesa estourou. Como a situação saiu de controle do governo coreano, este pediu reforços para o governo chinês, do qual era um "estado vassalo". Em 1885, Japão e China haviam assinado um tratado no qual eles prometiam notificar um ao outro caso um deles enviasse tropas para a Coreia, por isso, os chineses informaram o governo japonês de suas futuras mobilizações. Isso fez com que a classe governante e, principalmente, os militares, demandassem o envio de tropas japonesas para a península da Coreia (o que ocorreu), ainda que esta não tenha requisitado ajuda nipônica. Porém, logo uma trégua foi alcançada entre os revoltosos e o governo coreano e não havia mais razões, nem para China, nem Japão, permanecerem com tropas ali. Então, a retórica japonesa usada para enviar soldados mudou: exigiam-se reformas políticas na Coreia, plano com o qual a dinastia Qing recusou-se a cooperar e as hostilidades começaram. O Japão, mais bem preparado para uma guerra moderna devido à já explicada incorporação do conhecimento ocidental relativo à guerra, logrou uma vitória que deu início ao seu imperialismo, que se estenderia até meados do século XX, ao obter uma possessão colonial, a ilha de Taiwan. O foco aqui, todavia, será o de analisar a repercussão interna da guerra, evidenciando os meios pelos quais o nacionalismo japonês se fortaleceu e deu início a uma ideologia, a qual será definida mais adiante.

Uma "guerra justa"

Uchimura Kanzo, em 1894, publicou um livro chamado "Japan and the Japanese". Nele, legitimava a participação japonesa na guerra ao dar a ela a caracterização de "guerra justa". A expansão territorial japonesa para competir com as potências européias e cumprir a missão de "líder" da nova ordem do leste asiático e, como tal, defender o "oprimido" (Coreia) das ações do mais forte (China), eram dois pontos importantes em sua argumentação.
Support for the Sino-Japanese War ran like a fever throughout Japan and although antiwar sentiment was not totally absent, it was very limited and soon overwhelmed. (...) Japanese perceived the war as a just war aiding the cause of Korean independence - not as an act of naked aggression.
Esse ponto de vista foi abraçado pela nação toda, uma vez que punha o Japão como um bastião da civilização e da justiça, ainda que, para levar esse progresso para seus vizinhos, fosse necessário o uso da força. Assim, o Japão entrou em sua primeira guerra moderna, apoiado pelo nacionalismo da população, dando início a uma série de vitórias, que apenas se interromperia com a derrota na Segunda Guerra Mundial.

O papel da imprensa

Ao início da Guerra Sino-Japonesa, uma corrida empreendida pelos jornais japoneses começou para o envio de correspondentes às frentes de batalha: 129 repórteres de 66 jornais foram mandados para a China e Coreia. A importância social de se ler um jornal era enorme, já que isso era um sinal de civilização, como dizia a carta de um estrangeiro estampada no jornal Chugai shibum: "throughout the world, wherever the government is just and the people civilised, newspapers will flourish ... You can judge a country's relative superiority by the number of its newspapers". Relatos da guerra nos jornais, que supunham ser apenas informativos, foram a única maneira de a população entrar em contato com a realidade da guerra, portanto, a população dependia dos jornais para formar sua opinião. No que tange à cultura, a predominância era de notícias reforçando a ideia de subdesenvolvimento da Coreia, que justificava a "ajuda" japonesa para modernizar o país, e a descrição de chineses como pobres e ignorantes, os quais também precisavam ser guiados rumo à modernidade. "Factual reporting in this vein simultaneously served to imprint an ideology".
As notícias que chegavam ao povo comum era, muitas das vezes, inexato, principalmente no que diz respeito à forma de atuação dos soldados japoneses, com a finalidade de inflamar a população no apoio à guerra. Massacres que envolviam civis, como o que ocorreu em Port Arthur, não eram assim relatados pelos jornais e os leitores não ficavam totalmente a par do que ocorria no ultramar. Os chineses eram descritos como "mercenaries motivated solely by cash, indifferent soldier who would flee as soon as their lives were threatened", enquanto que os japoneses "fought for his nation, for justice, and for honor. (...) death in combat was glorious". Isso resultou na criação de "heróis" da nação, algo tão importante para a formação de uma nação, e contos de heroísmo começaram a surgir nos jornais. Existiam, principalmente, dois motivos para isso: o jornalismo se tornava facilmente em propaganda ao inflamar a opinião pública para o suporte à guerra e heroísmo vendia. Esses contos produziram e implantaram na mente das pessoas a ideia de que era honroso morrer pelo país lutando nobremente pelo imperador.

A guerra para as crianças

Um enorme impacto teve o conflito sobre as crianças japonesas. Engolidas pela euforia da guerra, elas adentravam na ideia da guerra mais facilmente. Pode-se ver isso pelos brinquedos com que passaram a se divertir a partir desse evento. As lojas estavam repletas de material de guerra, como armas de brinquedo, chapéus militares, livros ilustrados sobre a guerra, entre muitos outros. Isso ajudou a permear a juventude japonesa com o sentimento xenofóbico para com os chineses que era dominante naquela sociedade.
A educação escolar também foi uma fonte de doutrinação pró-guerra. Livros escolares transmitiam episódios da guerra Sino-Japonesa, sempre exaltando as virtudes japonesas e a boa ação da intervenção militar:
...schoolchildren are informed that "Military service and taxes are truly the two great duties of the citizen, and subjects of our empire should happily fulfill these duties". (...) The concept of a sacrificial death for one's country as a sacred act was now to be hammered into schoolchildren.
Dessa forma, as massas foram cooptadas pela ideologia estatal, desde os de mais tenra idade aos adultos, ideologia que se fortaleceria até a Segunda Guerra Mundial, e as crianças desse período, doutrinadas com ideias de honra, submissão ao imperador, e da infalibilidade do Japão, seriam os pensadores que teriam influência nas décadas de 1930 e 1940.

PARTIDOS, EXÉRCITO E IMPERADOR

Um ponto fundamental para caracterizar o regime nipônico durante a primeira metade do século XX é o papel do imperador e sua relação com os militares e os gabinetes de primeiros-ministros na política nacional. Há autores defendendo que Hirohito, o qual ascendeu ao trono em 1926, pouco influenciou nas decisões políticas tomadas entre o período que assumiu e a derrota do Japão na Segunda Guerra, afirmando, pelo contrário, mostrar desaprovação pela política imperialista dos militares sendo contra contra a guerra. No entanto, há outros autores que mostram em seus estudos uma visão distinta, a de um imperador atuante que dispunha de autoridade política considerável, tanto sobre a facção militar quanto sobre os primeiros-ministros e outras autoridades, fazendo uso dela para, de maneira decisiva, guiar os rumos do país.

Hirohito para Kosaka e Kawahara

Japan failed to modify and adapt a political order established during the Meiji period to hasten modernization. (...) Though the emperor himself was not responsible for the failure to change the political order, it is undeniable that many of the acts that led to tragedy were carried out in his name, however painful they were to him.
Ao analisar esse trecho de Masataka Kosaka, pode-se extrair sua posição em relação ao assunto: o imperador, apesar de ter tomado sobre si a responsabilidade dos atos que levaram o Japão à guerra no Pacífico, era contrário a elas. Outro autor, Toshiaki Kawahara, diz: "struggle between an emperor who wanted peace and a military that was running out of control", referindo-se ao período pré-guerra. Ele também é da opinião de que os militares manipularam o imperador para se utilizarem, para seus próprios fins, da grande autoridade do imperador.
Um dos fatores que levaram ao governo militarista, aponta Kosaka, foi o baixo crescimento econômico durante as décadas de 1920 e 1930. Ele cita o economista Sato Kazuo, que afirmou que indústrias mais novas, como construção de navios, eletricidade, finanças, lucravam mais que as atividades econômicas mais velhas, como comércio e mineração de carvão. Com isso, a combinação das poucas e poderosas indústrias e financeiras (zaibatsu) dominava as atividades mais lucrativas e a população em geral permanecia em uma situação de dificuldades. Para agravar a situação que levaria os militaristas ao poder, a população estava convicta de que corrupção política era real e de que os partidos políticos não davam atenção para o bem estar social.
Em 1931 houve o Primeiro Incidente da Manchúria. A esse tempo, o Japão já havia ocupado essa região chinesa. No dia 18 de setembro desse ano, uma bomba explodiu perto de Mukden, destruindo trilhos de uma estrada de ferro administrada pelos japoneses. Culpando forças chinesas, forças japonesas atacam Mukden e ocupam a Manchúria inteira. Esse evento foi colocado por Harada Kumao, homem envolvido na política da época, como um "prelúdio" para os militares tomarem o controle, além de o primeiro passo rumo à Guerra do Pacífico. Após esse incidente, uma corrente de assassinatos começou nos altos círculos da política japonesa, levando ao extremismo, encorajando excessos e a expansão militar, uma vez que o público em geral desconhecia a real posição do imperador, dando suporte aos militares e se rejubilando pela ocupação da Manchúria.
"The emperor, consistently opposed to the dominance of the military and to policies of foreign aggression, was by custom prevented from expressing his personal opinion". Aqui, Kosaka afirma que o imperador era impedido de dar suas opiniões nas decisões de guerra e, mais adiante, reitera a posição de irresponsabilidade do imperador ao afirmar que o Gabinete era que estava no comando dos negócios do Estado. Muitas outras passagens de seus escritos mostram a impossibilidade e impotência do imperador em decisões cruciais, jogando sobre os militares toda a culpa de guerra, além de mostrar um Hirohito cheio de virtudes, apenas, sendo inteiramente a favor da paz.
Por fim, uma passagem muito importante para a compreensão desses autores é a que se segue: "For those for whom the identity of the nation is important - this author included - the success of the postwar reforms stems from the historical continuity maintained"(grifo nosso). Deve-se ter em mente que a "identidade da nação" a que o autor se refere é a figura do imperador e que a "continuidade histórica" é o sistema imperial, por isso, ele tem uma visão tão favorável ao imperador, desprovendo-o de imperfeições humanas e o adornando apenas com virtudes divinas.

Hirohito para Bix

Herbert Bix, por outro lado, vê que a atuação de Hirohito foi decisiva no período considerado. Desde a Segunda Guerra Sino-Japonesa, em 1937, ele vê o imperador como apoiando as decisões que levaram à Guerra no Pacífico:
On the same day Hirohito informed the Imperial Diet that while he was constantly preoccupied with "securing peace in Asia through cooperating with China,... China... does not really understand our empires's true intention. To our deep regret they have constantly caused difficulties and problems that have finally resulted in the present incident. Our troops, displaying loyalty and bravery, are suffering hardships solely to make China self-reflect and to quickly establish pease in East Asia.
Nessa passagem, Hirohito tenta justificar a invasão japonesa na China e a consequente Segunda Guerra Sino-Japonesa, sendo, logo já, desmentida a visão de que o Imperador não via, pelo menos em algumas vezes, com bons olhos a via militar tomada pelo Japão.
Outro argumento usado foi a criação, em 1937, da Conferência de Ligação entre o Quartel General Imperial e o Governo (Tradução livre de Imperial Headquarters-Government Liaison Conference). Pelo menos, oito Conferências Imperiais ocorreram entre 1938 e 1941, nas quais somente alguns ministros do Estado participavam, como o primeiro-ministro e o ministro das finanças. Nessas conferências, Hirohito presidia e aprovava decisões concernentes a todos os países afetados diretamente pela política japonesa e Bix, além de descrever a realidade política japonesa em termos de "powerless cabinet", "an emasculated constitution" e "a dynamic emperor participating in the planning of aggression and guiding the process", é categoricamente claro ao dizer que Hirohito tinha, sim, poder decisório:
Essentially the imperial conference was designed to allow him [Hirohito] to perform as if he were a pure constitutional monarch, sanctioning matters only in accordance with his advisers' advice but not bearing responsibility for his action. (...) The imperial conference was the device for legally transforming the "will of the emperor" into the "will of the state".
Outro ponto crucial é o conhecimento ou não de Hirohito nas atrocidades de guerra cometidos pelos japoneses. Um deles é o "Estupro de Nanking", no qual estima-se que entre 260.000 e 350.000 não-combatentes foram massacrados, entre 1937 e 1938. Membros da família imperial sabiam do ocorrido em Nanking, assim como ministros e generais. Ishigari Itaro, chefe do Escritório do Extremo Oriente (East Asian Bureau), em seu diário, escreveu: "a letter arrived from Shanghai reporting in detail on the atrocities of our army in Nanking. It describes an horrendous situation of pillage and rape". É muito improvável, portanto, que muitas autoridades soubessem do ocorrido e que o bem informado Hirohito não. Há um provérbio que diz que "quem cala, consente" e o imperador permaneceu silencioso sobre o incidente.
Até o fim da guerra, Bix afirma que em todas as decisões, Hirohito teve papel fundamental, mas que essa participação foi deliberadamente camuflada. Assim, efetivamente, os atos eram perpetrados pelas mãos do imperador, mas a responsabilidade destes eram postas nas costas de outrem (muitas vezes, os militares).
Algo interessante de se analisar são citações muito semelhantes de Hirohito que aparecem tanto no texto de Kawahara, quanto nos escritos de Bix, com interpretações diferentes. Um desses trechos relaciona-se com as consequências de uma guerra contra os EUA. A primeira delas é "surely the United States will embargo imports of oil and scrap iron to Japan by way of retaliation. What will happen to Japan then?", sendo a outra, "I heard that the United States will ban exports of oil and scrap iron [to Japan]. We can probably obtain oil from other sources, but don't you think we will have a problem with scrap iron?". A primeira, citada por Kawahara, insere-se em um contexto no qual ele mostra a cautela com que o imperador tomava decisões e a sua relutância em ir à guerra, expressa por meio de questionamentos a seus ministros. Já a segunda, citada por Herbert Bix, refere-se a uma estratégia de guerra sendo discutida por Hirohito e seus ministros. Assim, seus questionamentos seriam parte de uma discussão de estratégias na visão de Bix, enquanto que na visão de Kawahara, seriam formas de mostrar sua insatisfação com a guerra e sua oposição a ela.

MILITARISMO, FASCISMO OU TOTALITARISMO?

Por fim, resta a seguinte questão: como se define a ideologia que guiou o Japão antes e durante a guerra? Não é uma pergunta simples, sua resposta não é fácil e nem mesmo definitiva, como se verá. Em verdade, essa discussão envolve intelectuais, tanto orientais quanto ocidentais, desde o período pré-guerra aos dias de hoje, e encontram-se muitas visões distintas. Aqui, far-se-á uma compilação de alguns desses pontos de vista variados, os quais serão comparados para se chegar a uma conclusão, utilizando-se, também, de conceitos cunhados por pensadores consagrados.

Totalitarismo

Hannah Arendt, em seu livro "As Origens do Totalitarismo", exclui a possibilidade de o Japão ter sido uma forma de regime totalitário: "Até hoje conhecemos apenas duas formas autênticas de domínio totalitário: a ditadura do nacional socialismo, a partir de 1938, e a ditadura bolchevista, a partir de 1930". Para qualificar um regime como totalitário, ela cunha o complexo conceito de totalitarismo, do qual alguns trechos que confirmam o não-enquadramento do Japão no seleto grupo de regimes totalitários criado pela autora serão utilizados.
Arendt cita dois componentes necessários para o totalitarismo florescer: a propaganda e o terror, mas, após o totalitarismo se consolidar completamente, a propaganda é totalmente substituída pelo terror. É verdade que o Japão cometeu crimes de guerra e atos de extrema crueldade e barbarismo para se impor nas regiões ocupadas, mas não se constata um uso muito forte de um aparato repressivo interno. A propaganda foi extensamente utilizada para a cooptação das massas ao regime, mas o terror não foi implantado internamente com a mesma intensidade que nos regimes alemão e soviético. Uma das razões para isso pode estar no fato de que, tanto na Alemanha quanto na União Soviética, o "inimigo do regime" também se encontrava dentro do território nacional (judeus, na Alemanha, ou simplesmente inimigos do regime, tanto na Alemanha quanto na URSS), enquanto que no Japão, por ser uma ilha e a população ser homogênea, não havia a presença de etnias diferentes, além de a propaganda governamental ter tido um resultado muito expressivo.
Outro fator considerado é a importância da existência de uma dupla autoridade: o partido e o Estado, sendo a relação entre eles a de uma autoridade aparente e a outra real, ou seja, uma máquina governamental de fachada a esconder o verdadeiro poder do partido. No Japão, como demonstrado, não havia um partido preponderante, uma vez que os primeiros-ministros eram apontados pelo Imperador e o gabinete que se formava estava sob a influência do mesmo, ou seja, o líder não estava amparado por nenhum partido. Não havia um "Partido Nazista" ou um "Partido Comunista" para o qual todos tinham que prestar contas e reverenciar. Esse posto era ocupado, no Japão, pelo Imperador, somente.
Em relação à esfera militar, no totalitarismo há a presença da polícia secreta e do exército. A polícia seria o único órgão do poder e despreza o poder do Exército, uma vez que as forças militares são duvidosas no caso de uma guerra civil. O governo totalitário julga os territórios ocupados como se fossem rebeldes culpados de alta traição, preferindo, então, ocupá-los com a polícia ao invés de com as forças militares. Isso implica, também, a abolição da diferenciação entre um país estrangeiro e o país de origem. No Japão, Hirohito não precisou lutar pelo poder, nem houve necessidade de uma polícia secreta para a consolidação do regime. O exército era uma instituição muito forte no Japão, como alguns dos autores acima citados afirmam, sendo ele o responsável pela invasão e controle de outros países e, como se dirá na última seção, a polícia trabalhava em função de complementaridade com o exército, não havendo essa rixa defendida por Hannah Arendt nos regimes totalitários. Quanto ao fato da não-diferenciação entre países conquistados e país de origem, essa diferenciação sempre foi patente no universo japonês. Desde a Primeira Guerra Sino-Japonesa, o ideal que justificava a guerra era o de um Japão moderno que levava essa modernidade para os povos símplices e atrasados da Ásia, ajudando-os a se desenvolverem, quisessem eles ou não. No decorrer da Segunda Guerra Sino-Japonesa, atrocidades foram cometidas, mas apenas em terras estrangeiras. Com isso, mais uma das características totalitárias não se aplica ao regime japonês.
Uma vez que conceitos devem ser usados apenas quando o que for caracterizado possuir todos os componentes requeridos pelo mesmos, o termo totalitarismo, como se constatou, não se encaixa perfeitamente na realidade japonesa, não podendo, portanto, ser usado para qualificar o regime expansionista japonês.

Fascismo

Para se iniciar uma discussão sobre o fascismo, nada melhor que ir até a fonte, ou seja, nos escritos de Benito Mussolini, que cunhou o termo. Primeiramente, é muito visível em seu escrito "A Doutrina do Fascismo" sua insistência em qualificar o fascismo como "espiritual", uma "forma de pensamento", "religioso", ou seja, algo não muito palpável na realidade, mas definido nas ideias. Ele frisa como mais importante essa definição no campo teórico: "...Fascism is not only a system of government, but also and above all a system of thought" e "Fascism is now clearly defined not only as a regime but as a doctrine". Podem-se extrair, no entanto, alguns pontos caracterizadores importantes desse escrito "fluido": aversão ao individualismo, oposição ao Socialismo e Liberalismo, necessidade da guerra. Com esse primeiro respaldo teórico, adiante se exporá a visão de autores que trabalharam com o tema, Miles Fletcher, Marcus Willensky e o já citado Herbert Bix, para enfim caracterizar o regime imperial japonês.
Miles Fletcher trabalha com autores japoneses da época para indicar a existência de elementos de teor fascista na sociedade japonesa. O que se constata é a falta de objetividade e vagueza sobre o que seria o fascismo. O primeiro escritor citado é Royama Masamichi, que via como principal força diretiva por trás do fascismo o nacionalismo. Assim como descrito por Mussolini, Royama também via o fascismo como uma fonte de ideias ao invés de um rígido modelo de regime, discordando em alguns pontos, mas sendo favorável ao fascismo. Outro pensador citado é Ryu Shintaro, que também via o fascismo como o despertar do nacionalismo e um movimento anticapitalista, mas não acreditava que o Japão rumava a um regime fascista. O último autor trabalhado por Fletcher é Miki Kiyoshi, cuja visão é mais energética que dos outros dois. Considerava o fascismo irracional, também o relacionava ao nacionalismo exacerbado e não constatava perigo de o Japão se tornar fascista. Isso nos mostra que o fascismo era identificado, primordialmente, com o nacionalismo, havendo grupos favoráveis a essas ideias e que alguns pontos do regime japonês poderiam ser considerados como tais, mas que o aparato estatal japonês como um todo não podia ser assim caracterizado.
Marcus Willensky e Bix, por outro lado, posicionam-se como defensores da existência do fascismo no regime japonês. O que Willensky coloca, logo de início, é que "fascism as theory and fascim in application may be so glaringly different as to render them unrelated for all practical purposes". Com isso, ele não se prende ao fascismo pregado por Mussolini, mas se atém às suas práticas para caracterizá-lo. Willensky afirma que muitos dos traços fascistas já existiam no início do século XX no Japão e apenas se desenvolveram: "Imperial Japan was fascist not because it successfully copied what was happening in Italy and Germany but because that is what the Meiji oligarchs intended it to be, though at the time they lacked the particular word to describe it as such". Ele mostra semelhanças entre a relação do exército italiano para com Mussolini e a relação do exército imperial japonês para com o imperador, e basicamente, as semelhanças param por aí. No plano econômico e político, Willensky não se aprofunda e, para dar continuidade a esse ponto de vista, os argumentos dados por Bix serão agora expostos.
Bix designa o regime japonês como "fascismo de sistema imperial" (emperor-system fascism), termo cunhado por Moriya Fumio, em 1949. Para defender sua posição, Bix passa por todas as esferas da sociedade japonesa, militar, política e econômica, identificando estruturas fascistas.
Em 1933, é dito que, com o reforço da censura da mídia, houve mais de 18.000 prisões políticas. A polícia, internamente, ao gerar medo do comunismo e da anarquia, "pavimentou o caminho para os militares agirem", sendo essa presença do aparato policial caracterizadora do fascismo nessa área.
Em outra esfera, várias leis desde 1900 decretam a fascização da estrutura legal japonesa: em 1900, "Public Peace and Police Law", a qual dava total controle da liberdade de expressão à polícia; em 1925, "Peace Preservation Law" e, em 1935, essa lei eliminou toda a oposição à guerra e à expansão militarista; e, em 1936, "Thought Crimes Prevention and Observation Law" marca o fim desse processo. Bix rebate autores que dizem haver um Japão militarista com essas leis:
A state in which top corporate executives shared power directly with the military, while retaining in their own hands supervisory direction over national economic affairs, is more characteristic of fascism than of an ordinary military dictatorship. Nor does the militarist label apply to a state which always remained, in a sense, "under civilian control" because the military, with all of its imperial prerogatives, was unable to conquer the highest citadels of executive power.
Quanto à economia, a aliança da burguesia japonesa com os militares e o apoio daquela a um regime conservador são sinais da fascização da economia, uma vez que os líderes das grandes indústrias, uma vez ingressos na burocracia, podiam influenciar de alguma forma a política japonesa, também havendo, durante o esforço de guerra, o fenômeno da guerra total:
Almost 4 million new workers were brought into the industrial labor force between 1930 and 1945 (...). The number of technical schools increased from 11 to over 400 between 1935 and 1945 (...) Mobilization for war stimulated a spectacular concentration of capital.
É verdade que muitos elementos do regime e da sociedade japoneses contêm traços fascistas, como foi demonstrado. Também é verdade que muitos autores eram favoráveis ao nazi-fascismo europeu e julgavam-no como a ideologia que sairia vencedora da Segunda Guerra Mundial. Bix, consistentemente, reafirma sua visão de que o Japão foi fascista durante esse período. No entanto, o que se pode apreender é que, como em toda a sua história, o Japão, se incorporou elementos fascistas ao seu regime, fê-lo à sua maneira, adaptando-os à sua realidade. A presença do Imperador e sua relação com as forças armadas e com as autoridades civis faz do Japão um caso único, sendo mais adequado cunhar um outro termo para esse regime, como alguns escritores japoneses fizeram, aplicando o termo "Japonismo" (Japanism ou, em japonês, Nipponshugi), já que mesmo tais características fascistas podem ter se desenvolvido antes mesmo de o Fascismo surgir como corrente ideológica na Europa, como quando ocidentais foram chamados ao Japão para a modernização do país, ou a forma como a cultura chinesa sempre foi modificada e absorvida pelos nipônicos. Portanto, após toda a exposição das diferentes visões serem consideradas, o regime imperialista japonês, assim como não pôde ser classificado como totalitário, por apresentar apenas alguns pontos em comuns com regimes totalitários, não pode ser considerado fascista pela mesma razão.

CONCLUSÃO

O objetivo deste artigo foi o de classificar o regime japonês da Segunda Guerra Mundial. Contudo, foi necessário um recuo histórico, para que os elementos mais importantes dessa sociedade àquela época fossem compreendidos, tais quais o nacionalismo, o papel do imperador, dos militares e dos civis na política, como se deu a modernização japonesa, entre outros pontos que foram abordados. Com o início na Era Tokugawa, pôde-se apreender porque o nacionalismo surgiu apenas após a Revolução Meiji e após as Guerras Sino-Japonesas. Analisando o papel da imprensa, da educação escolar e dos pensadores japoneses do tempo referido, a mentalidade da sociedade japonesa foi clareada para nós. Ao ter exposto o papel do imperador na política e sua relação com os outros setores do governo, juntamente com a apresentação de conceitos como "totalitarismo" e "fascismo", o que se conclui é que o regime japonês não era nem totalitário, nem fascista. Os autores trabalhados apontam a existência de elementos totalitários e elementos fascistas na organização japonesa, mas, apenas a presença de alguns componentes não torna toda a estrutura totalitária ou fascista, além de que alguns desses elementos já estivessem presentes no Japão antes mesmo de o fascismo surgir na Europa. A posição defendida aqui é a de que ali existia um regime à parte, que foi denominado como Japonismo, apresentando, sim, semelhanças com outros regimes no continente europeu, mas todas suas peculiaridades e particularidades impediu-o de ser enquadrado como fascismo ou totalitarismo.

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