O regionalismo por meio das publicidades e merchandising do programa Galpão Crioulo

September 30, 2017 | Autor: T. Weinberg Jeffman | Categoria: Merchandising, Publicidade, Gauchidade
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O regionalismo por meio das publicidades e merchandising do programa Galpão Crioulo Prof. Dr. Flavi Ferreira Lisboa FILHO, Unipampa1 Darciele Paula MARQUES2 Luara da ROSA3 Tauana Jeffman WEINBERG4 Resumo A utilização da temática regionalista é constantemente evocada no programa Galpão Crioulo, em seu conteúdo, bem como na grande maioria das publicidades e merchandising veiculados, que utilizam os diversos recursos que a televisão propicia. Cabe ressaltar que esses anúncios embora tenham fins comerciais servem também para a propagação de uma cultura regional e sua legitimação. A união de aspectos identitários e a televisão impulsionaram o reconhecimento do programa, que tem sua trajetória iniciada em 1982. Por se tratar de um programa que trabalha com características regionais muito próximas do tradicionalismo: a musicalidade, os costumes, vocabulário típico, as vestimentas, danças, entre outros, este estudo se propõe a analisar as publicidades que são veiculadas nos intervalos do Galpão Crioulo e se estas possuem relação com o merchandising do programa. Por meio desta pesquisa exploratória verificou-se que a relação da publicidade e do merchandising com o público-alvo do Galpão Crioulo se dá através do culto ao programa, pois se deduz que as pessoas expostas ao recebimento do seu conteúdo, são aquelas que partilham de um mesmo gosto, que é representado pelo programa e o mesmo ocorre com o merchandising.

Palavras-chave: Publicidade, Merchandising, Galpão Crioulo Considerações Iniciais

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Professor Adjunto do Curso de Comunicação Social - habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa. Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, linha mídia e processos audiovisuais. ([email protected]) Acadêmica do Curso de Comunicação Social - habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa. ([email protected]) Acadêmica do Curso de Comunicação Social - habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa. ([email protected]) Acadêmica do Curso de Comunicação Social - habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa. ([email protected])

A TV é um dos meios de comunicação mais utilizados pelas pessoas hoje. Talvez por este motivo é que as empresas apresentam seus produtos e serviços em publicidades ou merchandising televisivos. A tevê seduz pelos seus recursos imagéticos e sonoros que permitem um envolvimento do espectador com a publicidade veiculada por meio de movimento, cores, expressões, recortes da realidade, perspectivas culturais, dentre outros, em um mercado de bens materiais e simbólicos. Embora a mídia televisiva seja criticada pela possibilidade de alienação ou por ser um mundo de “faz de conta”, essas críticas não lhe tiram o mérito de ser um meio de grande representatividade e de grande importância para o consumidor. A televisão faz parte da vida cotidiana da população, possui uma programação extensa e está presente na maior parte dos lares. Para VERONEZZI (2003, p. 01), “este é o meio de maior carisma entre as pessoas, fascínio este que sem dúvida, transfere à propaganda veiculada”. A televisão tem abrangência significava, tanto em âmbito geográfico, como populacional. Ela chega a diversas casas, atinge todas as etnias, classes, sexo e idade, isto significa que todo e qualquer produto pode ser veiculado neste meio, pois está ao alcance de qualquer público. É uma mídia com essas qualidades que os anunciantes mais procuram. Uma mídia que, segundo SILVERSTONE (2007), se faz onipresente. Ela possui credibilidade e chega a fazer parte da vida das pessoas. Neste sentido, é uma das melhores maneiras do produto/anunciante entrar no lar do seu consumidor e este ter conhecimento de sua existência. O Grupo de Mídia de São Paulo5 fez uma projeção que em 2003, 42,2 milhões de domicílios possuíam pelo menos um aparelho de televisão em casa, representando 86,5 % da 5

No cenário de fins da década de 60 e por toda a década de 70, o Grupo de Mídia e a mídia como um todo tinha tudo para progredir. O Grupo de Mídia foi pesquisar cobertura de TV, organizou comissões para estimular avanços de qualidade no ferramental de pesquisa, controle, relatórios de investimentos, dados de mercado. Foi buscar tecnologia e idéias de fora. Organizou encontros memoráveis de mídia. Trouxe Michael Napples, Larry Cole, Krugman e tantos outros profissionais de agências, veículos, anunciantes e especialistas em pesquisa, para aprimorar conceitos de cobertura, freqüência eficaz, Net Impact, planejamento e a nova mídia. Muitos foram batalhar dando aulas nas escolas de comunicação. Pelo Brasil afora o Grupo de Mídia se mobilizou em exaustivos fins de semana organizando seminários, palestras, cursos especiais e motivando a criação de grupos regionais. Incentivou-se a implantação do Audi-TV, a vinda da Leda da Argentina e a participação no projeto ABAP/IBOPE. Momentos complicados pelos quais o País passou alteraram rumos e posturas da Mídia. Mas o Grupo se manteve sempre buscando a evolução da atividade. É incalculável o significado da obra que o Grupo construiu. O Grupo possui sua sede. Edita o Mídia Dados. Diversas comissões de trabalho todos os anos compartilham de estudos ou movimentos vitais para a valorização da atividade. Os seus

população brasileira, número este que confirma a presença da televisão no cotidiano das pessoas. Isso reflete num massivo investimento neste meio, arrecadando entre 59% e 62% dos investimentos publicitários no Brasil. Pela credibilidade e grandiosidade que a TV transfere para os programas, identificado através das características listadas anteriormente, fundamenta-se o propósito do estudo da publicidade e merchandising no Galpão Crioulo.

O programa: suas significações e formato Em abril de 1982 teve início um dos programas de maior representatividade do regionalismo sul-rio-grandense, o Galpão Crioulo, veiculado e produzido pela RBS TV. Desde seus primórdios, tem como apresentador o advogado, jornalista, ator, compositor, escritor, antropólogo, historiador e um dos maiores folcloristas do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto Fagundes (Nico). Em 2004, Nico ganhou a companhia de seu sobrinho, o cantor Euclides Fagundes Neto (Neto Fagundes), reconhecido como um dos mais populares artistas da música gaúcha. Nico e Neto simbolizam a figura do passado e do presente, cada um com suas características e peculiaridades, mas ambos num auxílio recíproco na consolidação das tradições dentro do programa. Nico com sua trajetória confere ao programa um amparo histórico cultural que é passado de geração em geração, representando a sabedoria que os patriarcas passam aos demais. Neto simboliza o contemporâneo, as novas gerações de tradicionalistas que mesmo conservando um passado histórico buscam uma maneira atual de cultivar as tradições gaúchas. Conforme LISBOA (2007) “no RS, tem-se um regionalismo constantemente evocado, atualizado e reposto constantemente, principalmente pela mídia. No caso da identidade gaúcha, ela é projetada do passado e cria práticas no presente”.

cursos são disputadíssimos. Todos os anos o Grupo organiza visitas a empresas de mídia, associações e centros tecnológicos americanos para saber de novidades na área de mídia. Alguns profissionais chegaram aos comitês internacionais de mídia de suas agências. Vários sentam ao lado do dono. Alguns já são donos. Não foi pouco. O Grupo de Mídia, seguindo a sua vocação primordial, por certo estará atento a novas mudanças, buscando novos formatos de avaliação de mídia. E o profissional de mídia , acima de tudo, deverá continuar abrindo seus horizontes, adquirindo conhecimentos que o habilite a ser mais que Mídia - a ser um profissional de comunicação; participando ativamente de todos os movimentos do negócio da propaganda. (Descrição retirada do site: )

Através de gestos e olhares que um tem com o outro, Nico e Neto transmitem a sensação de que concordam entre ambos, como se passado e presente afirmassem um mesmo propósito. Um exemplo disso é a fala de Nico na apresentação do Galpão Crioulo na cidade de Cruz Alta: “Eu fecho os olhos com aquele momento histórico e meio lendário dos padres erguendo uma cruz muito alta para uma missa na vastidão desolada e aos se afastarem os índios passaram a reverenciar aquela cruz. E aos poucos uma povoação se formou assim, bela, a encantadora, a rica, a fértil cidade de Cruz Alta, aonde veio o Galpão Crioulo trazendo nomes estrelares do gauchismo.”6 O programa tem como característica a apresentação de artistas consagrados e também os iniciantes no mundo da música gaúcha, que através deste acabam consolidando-se no cenário musical do Sul. Estes artistas trazem ao programa uma diversidade musical, apresentando os ritmos pertencentes à música regional como: milonga7, chamamé8, entre outras. O programa não se limita apenas aos gêneros musicais, mas também apresentam em seu repertório outros tipos de culto a tradição como: a pajada9 e a poesia10, que foram apresentadas no programa gravado no CTG Rancho da Saudade, onde se apresentaram os campeões do ENART11 de 2007. Neste programa, Nico referindo-se à poesia diz “com o olhar de um historiador, que não tem dúvidas de que esta juntamente com a declamação tem grande responsabilidade na imensa divulgação dos CTGs, a poesia acaba por atrair, conquistar e encantar.” 6

Fala de Antonio Augusto Fagundes, na apresentação do Programa Galpão Crioulo Melhores Momentos – Especial na Fenatrigo da cidade de Cruz Alta. 11 de fev. de 2007. 7 A milonga originou-se de uma forma de canto e dança da Andaluzia, Espanha, que, nos fins do século XIX, popularizou-se nos subúrbios de Montevidéu e Buenos Aires. No Brasil a milonga tem destaque no estado do Rio Grande do Sul, fazendo parte das tradições gaúchas. 8

Chamamé é um gênero musical tradicional da província de Corrientes, Argentina, apreciado também no Paraguai e em vários locais do Brasil (i.e. nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul) e em outros países. Em sua origem se integram raízes culturais dos póvos indígenas guaranis, dos exploradores espanhóis e até de imigrantes italianos. 9 A Pajada ou Payada é uma forma de poesia nascida no século XIX na campanha argentina. É uma forma de repente em estrofe de 10 versos, de redondilha maior (verso de sete sílabas) e rima entrelaçada, com o acompanhamento de uma milonga. 10 A poesia, no seu sentido mais restrito, parte da linguagem verbal e, através de uma atitude criativa, transfigura-a da sua forma mais corrente e usual (a prosa), ao usar determinados recursos formais. Em termos gerais, a poesia é predominantemente oral - mesmo quando aparece escrita, a oralidade aparece sempre como referência quase obrigatória, aproximando muitas vezes esta arte da música. 11 Encontro de arte e tradição Gaúcha do Rio Grande do Sul.

O Galpão Crioulo não se restringe apenas a exibições feitas em estúdio, mas também são feitas exibições externas. Cada programa pode ser produzido em uma cidade e em cada um é feito o resgate histórico do local além de mostrar a localização geográfica no Estado. Entende-se que esse aspecto itinerante remete a saga dos tropeiros12. Podemos identificar esta característica também através dos ícones de rodas de carretas, que se encontram no cenário do programa, transmitindo a sensação de que o programa seria a carroça que é conduzida por Nico e Neto através das cidades. Na fala de Antônio Augusto Fagundes concretiza-se a idéia do programa como um eterno tropeiro: “O tropeiro foi um abridor de caminhos, pois as primeiras rodas do Rio Grande do Sul foram demarcadas pelos tropeiros”

13

. Ao falar em “abridor de caminhos”, pode-se fazer uma alusão também aos

caminhos que o programa abre para os novos artistas que nele se apresentam. Os cenários têm como componentes objetos e acessórios típicos gaúchos. Identifica-se no cenário uma bancada, que sugere um balcão de bolicho14 de campanha, pois os merchandising de CDs, DVDs e livros, normalmente são feitos ali, ou seja, local em que se expõe o produto do artista anunciado. Para cada artista que se apresenta no Galpão Crioulo, percebe-se um aspecto de familiaridade entre eles e os apresentadores do programa, isto fica claro na maneira como Nico e Neto recebem os artistas, enfatizando experiências compartilhadas, além de enaltecer o artista e engrandecer seus feitos realizados. O que fica claro no momento em que Neto fala “da amizade com o artista que irá se apresentar e que já defendeu trabalhos dele, um grande compositor de belíssimas canções”.15 Os artistas retribuem de maneira recíproca os elogios feitos pelos apresentadores, sempre fazem questão de agradecer o convite e deixam claro que é uma satisfação se apresentar no programa. Eles justificam sua satisfação argumentando que o Galpão Crioulo é

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A palavra tropeiro vem de tropa, numa referencia aos homens que, em grupo, transportavam gado de uma região para outra ou ainda, transportavam mercadorias, usando o gado como meio de transporte, na época do Brasil Colônia. 13 Argumentação feita no programa Galpão Crioulo Melhores Momentos – 30º Expofeira de Rio Grande. 14 O mesmo que armazém, mercado da campanha. 15 Fragmento retirado Programa Galpão Crioulo da Califórnia da Canção Nativa, realizada na cidade de Uruguaiana. 05 de dez. de 2007

o melhor programa regional do Rio Grande do Sul, com suas porteiras sempre abertas aos artistas, consolidando a cada domingo a cultura do Sul.

A publicidade e o merchandising no Galpão Crioulo A publicidade é um instrumento que através de vários meios de comunicação (rádio, TV, outdoor, impresso e entre outros) veicula mensagens sobre produtos e serviços. Na comunicação publicitária, informar e persuadir são os elementos principais. Através das publicidades passa-se a informação, que tem por objetivo persuadir o público alvo, ou seja, influência-lo em relação à informação que lhe é transmitida. Segundo GOMES (2003, p. 35), “Informar e persuadir são os objetivos globais da comunicação publicitária” e continua “Em publicidade se utiliza à informação que motiva que induz o público.” (GOMES, 2003 , p. 35). Tendo como objetivo estimular o poder de compra.

A publicidade, tal como hoje é entendida, é uma forma de comunicação voltada para a divulgação positiva de produtos ou serviços com objetivo de despertar interesse de consumo. (CASTRO, 2003, p. 02)

Os comerciais televisivos conseguem este resultado quando mostram, algumas vezes através de cenas do cotidiano, a felicidade, a beleza e a auto-realização da pessoa que utiliza o produto anunciado, ou seja, são designados atributos valorativos a estes. Para conseguir despertar o interesse e o desejo das pessoas, a publicidade transforma o dia-a-dia das mesmas em mundos que estão no imaginário. Mundo em que todas as pessoas são felizes e perfeitas, assim faz com que o consumidor utilize o produto pensando que este fará com que sua vida fique igual ou parecida com a das pessoas dos anúncios. VESTERGAARD (2004, p. 179) diz

Mostrando gente incrivelmente feliz e fascinante, cujo êxito em termos de carreira ou de sexo – ou ambos – é obvio, a propaganda constrói um universo imaginário em que o leitor consegue materializar os desejos insatisfeitos de sua vida diária.

A publicidade deve transmitir mensagens que chame a atenção do público para o produto ou serviço que está sendo anunciado para estimular os desejos e o interesse para o que está sendo posto em evidência. Para DIEFENTHALER (2007, p. 32)

A mensagem persuasiva deve conter então argumentos que possam chamar a atenção dos receptores, despertarem-lhes interesse e desejo e levá-los a ação. É a ferramenta que proporciona ao profissional de propaganda à ação de despertar no público a percepção das vantagens de determinado produto. É ela que motiva e seduz o consumidor.

Ao adquirir os produtos exibidos pela televisão, os telespectadores desejam simbolicamente estabelecer uma identidade com o modo de vida que é mostrado nas publicidades, mesmo que a realidade material os impossibilite. Segundo SILVA (2007, p. 01) “(...) além dos claros objetivos econômicos, a publicidade também é um referencial para se compreender as culturas das sociedades contemporâneas.”, porém a publicidade é mais que um reflexo da sociedade. Ela influência na sociedade e é influenciada por ela. CASTRO (2003, p. 02) diz que no momento que a mídia televisiva passou a desempenhar um papel mais destacado na sociedade, a publicidade juntamente com ela consolida uma parceria que é fundamental, pois de um lado a publicidade tira proveito da força de persuasão que a televisão possui; e de outro lado, a publicidade pode garantir um retorno financeiro significativo para qualquer emissora, decodificado em compra de espaços para anúncios comerciais. Os comerciais quase sempre abordam em seu enredo acontecimentos atuais e que causam grandes comentários na mídia. As peças são em sua maioria de fácil compreensão do público. Para SILVA (2007, p. 04) “A razão das propagandas serem assim tão facilmente absorvidas e compreendidas é que a linguagem publicitária da mídia está estreitamente relacionada ao pensamento popular e recheada com as mesmas crenças e valores estereotipados”. A diferença mais evidente entre merchandising, como ferramenta do marketing, e publicidade é que no primeiro caso o produto é mostrado de uma forma que o público não percebe quando o produto está sendo evidenciado, o que pode ser um problema, pois com o

telespectador não tendo consciência de que o produto mostrado não faz apenas parte da cena, a marca poderá não ser lembrada ou a mensagem passada poderá não ser decodificada, com isso acaba não criando a fidelidade do consumidor com a marca ou produto. Já no segundo caso o telespectador sabe quando se trata de publicidade, e com isso o público decodifica a mensagem da peça com mais facilidade, deste modo à marca ou produto conquistará a fidelidade de consumidores. Para VERONEZZI (2003, p. 01) o merchandising tem dois problemas:

Primeiro: um comercial, ao contrário do merchandising, é parte de uma campanha que por sua vez é baseada em objetivos, estratégias, linha temática - e é pensado, criado, produzido a partir do plano de marketing do anunciante, que, quando bemfeito e criativo, faz o público gostar dele e do produto. Segundo: por não ter quase nada disso, o merchandising dificilmente é eficaz para construir, fortalecer e criar conceitos e identidade para a marca.

Um merchandising feito de maneira explícita pode acabar afastando o consumidor, pois este pode se sentir invadido, perturbado pela oferta de produtos num momento de lazer, momento este em que ele não está disposto a prestar atenção em produtos ou marcas, mas simplesmente descansar. Para LAS CASAS (2006, p. 257) “Se o termo marketing significa “ação no mercado”, o termo merchandising significa “ação na mercadoria”. É uma ferramenta de comunicação de marketing utilizada no ponto de venda e em espaços editoriais (TV, mídia impressa, etc.) para reforçar mensagens publicitárias feitas anteriormente (ou mesmo em substituição à propaganda, em alguns casos). Na TV o produto é posto em evidência no meio das cenas de novela, muitas vezes fazendo parte da fala do ator ou com destaque ao logotipo. Tudo é feito com o objetivo de atingir o telespectador, persuadindo-o. Nas palavras de CASTRO (2003, p. 05) “pontualmente, o merchandising consiste na explicação de um produto (marca ou serviço), seja pela referência explícita do personagem, seja pela sua posição estratégica no cenário, com vistas a influenciar o público e tentar transformá-lo em consumidor.”. Ele também é feito durante transmissões ao vivo pela TV, pois é inserido um logotipo virtual, como por exemplo, em jogos de futebol e em corridas de automobilismo.

O merchandising deve ser feito de maneira que o telespectador não se dê por conta que o produto está posto em evidência. Este modo de expor o produto nasceu no cinema nas produções de Hollywood da década de 1940. Era difícil ser identificado porque promovia a partir de uma categoria de produto, como por exemplo, mostrava-se o ator ou a atriz fumando, mas não se mostrava a marca do cigarro. Segundo VERONEZZI (2007, p. 01) Outros produtos também fizeram, durante anos, merchandising no cinema e, por terem sido bem-feitos, o público nunca chegou a perceber que se tratava de cenas inseridas no roteiro mediante verbas de publicidade. A não ser quando, devido à insistência do anunciante, lá pelo quarto ou quinto filme do 007 as pessoas começaram a reparar que havia algo a mais por trás das cenas em que James Bond sempre pedia um Dry Martini mexido, mas não batido, do que apenas charme e coincidência.

Aproveitando a força de persuasão da TV, alguns autores de novelas têm desenvolvido ações sociais importantes, por meio do merchandising social. Para SANT’ANA (2006, p. 23), Merchandising é um complemento de outras formas de atividade publicitária da mesma maneira como os cartazes são complementares para TV como veículo de publicidade, cada um fazendo um trabalho diferente, apesar de todos servirem para o mesmo fim, informando e persuadindo o consumidor a comprar ou consumir determinada marca.

O merchandising pode propiciar a ênfase dos benefícios do produto, valorização da marca e incentivo ao consumo por ser vista como uma ferramenta de grande eficiência em relação às vendas. Metodologia Trata-se de uma pesquisa exploratória, que se destinou a analisar materiais audiovisuais do programa Galpão Crioulo. Segundo GIL (2007, p. 41):

(...) pesquisa exploratória tem como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado, e análise de exemplos que estimulem a compreensão.

Demandou a utilização de um levantamento de dados, que foi feito através de decupagem de oito programas do Galpão Crioulo gravados em fita VHS. Foram apontados os

patrocinadores do programa, as publicidades mais veiculadas, a freqüência com que foi anunciada e sua análise. Além de uma análise do merchandising veiculado no interior do programa. Foi analisado o cenário de cada programa, os elementos que o compõe assim como suas significações além do ângulo de gravação de algumas câmeras. Este levantamento se tratou de uma abordagem quantitativa e qualitativa porque se pretendeu identificar o número de publicidades e merchandising, quais os produtos e marcas anunciadas, quem são as empresas anunciantes e a relação das mesmas, com o público do programa Galpão Crioulo.

Para verificação dos dados foi necessário fazer a gravação do programa Galpão Crioulo durante o mês de janeiro, fevereiro, dezembro, setembro e maio, foram escolhidos estes meses porque em janeiro e fevereiro são reprisados os melhores momentos de 2006, em setembro é o mês onde o espírito gaúcho está mais aflorado e a gauchidade manifestada na sua íntegra, maio e dezembro simbolizam a normalidade do programa. Entende-se por normalidade, como a rotina estabelecida ao longo dos programas que não integram o rol dos especiais e dos considerados melhores.

Resultados Os dados coletados através da análise apontaram 40 publicidades, que variam entre os tempos: 5’, 15’, 30’ e 1”, constatando que a publicidade mais veiculada foi a da Som Livre que é a gravadora da emissora Rede Globo, cuja RBS TV é uma das maiores filiadas. Além da publicidade da Som Livre ter uma relação com o conteúdo musical do programa. Na maioria das vezes as publicidades veiculadas são referentes a empresas que estão localizadas nas mais diversas cidades em que é produzido cada Galpão Crioulo. Na elaboração da tabela 1 foram utilizados os seguintes critérios em consideração ao tempo: foram contabilizados os quatro diferentes tempos de inserções, chegando ao número total. Pode-se observar que o 5’ equivale ao tempo destinado aos patrocinadores do programa, que também foi considerado na soma total do tempo de veiculação.

O ranking entre as publicidades levou em consideração o tempo total de inserções da mesma, ao invés do número de inserções, pois uma publicidade de duração de um minuto tem um investimento maior que outra que possui duas inserções de 15’, por exemplo. Consta também na tabela a seguir a freqüência de inserções de cada anunciante, onde pode ser visualizado que a Redemac, Panvel Farmácias e Lojas Becker possuem uma número significantes de inserções, compreendendo patrocínios e publicidades. Tabela 1- Identificação as publicidades mais anunciadas no programas do Galpão Crioulo Empresas

Freqüência

Som Livre Propaganda Social

15 10

Zero Hora Lojas Becker Portal Social Redemac Panvel Farmácias No Ar Feitio do Alegrete

12 20 4 27 23 4 5

Governo Federal Orbeat Music Agafarma Canal Futura Portal BBB Óptica Precisão Tele Domingo Pacto Ugalde Móveis Hagah Gauchito Correaria Nova Esperança Sony Clic RBS Globo.com Fenoeste Estância Santa Marta Ponte Internacional Carnaval RBS Instituto Airton Senna Cabanha Santa Clara Itapema FM Documentário Os Farrapos Prefeitura de São Borja Histórias Curtas

5 4 11 3 2 2 2 1 2 2 2 2 1 1 1 1 1

Tempos 5’ 2

15’ 1 3

30’ 3 6

1’’ 9 1

4

7 6

1

14

4 17 18

10 3

2 2 5

2

5 4 3 3 2 2 2

8

1 1 2 2

2 1

1

Total 10’ e 55” 4’ e 45” 4’ e 30” 4’ e 10” 4’ 3’e 55” 3’ e 15” 3’ 2’ e 30” 2’ e 30” 2’ 1’ e 40” 1’ e 30” 1’ 1’ 1’ 1’ 1’ 45” 30” 30”

1 1 1

30” 30” 30” 30” 30”

1

1

30”

1 1

1 1

30” 30”

1

1

30”

1 1

1 1

30” 30”

1

1

30”

1

1

30”

1

Ughini Esportes Tumelero Diário Gaúcho 3º Gineteada Sindi Loja

2 2 1 1 1

Lance Final

1

1 1 1 1

1 1

1

20” 20” 15” 15” 15”

1

15”

Os patrocinadores (Tabela 2) são na sua maioria regionais: Panvel Farmácias, Redemac, Lojas Becker, Agafarma, Ughini Esportes e CRdieMentz, contendo apenas um patrocinador de âmbito nacional: Som Livre, este que possui uma relação direta com a emissora que é veiculado o programa.

Tabela 2 - Identificação dos patrocinadores dos programas do Galpão Crioulo Patrocinadores

Nº de inserções

Tempo Total

Panvel Farmácias

18

1’ e 30”

Redemac

17

1’ e 25”

Lojas Becker

14

1’ e 1”'

Agafarma

8

40”

Som Livre

2

10”

Ughini Esportes

1

5”

CRdieMentz

1

5”

O merchandising exibido no Galpão Crioulo se dá de forma branda, pois as marcas dos instrumentos apenas foram focadas pela câmera, sem menções nas falas dos apresentadores, nem dos artistas. O modo como foram exibidos estava inserido no contexto de cada programa. O ângulo utilizado pela câmera dava aspecto de grandeza para a marca focada e também aos músicos, dando uma visibilidade maior a questão da musicalidade.

Tabela 3 - Listagem do merchandising efetuado nos programas do Galpão Crioulo Símbolo/objeto/instrumento

Marca/identidade

Quantidade itens

Gaita

Todeschini

2

CD CD DVD Gaita Bateria Baixo Talabarte CD Gaita Logo Pandeiro Gaita CD CD CD CD Gaita Talabarte Gaita Gaita Bandeira

Jorge Guedes Joca Martins Joca Martins Scandalli Sabian Heng Condor Renato Borguetti Todeschini Grupo RBS TV Contemporânea Hohner Jairo Lambari Martim Fierro Rúi Ávila Pedro Ortaça Scandalli Leffing Todeschini Standelli CTG Mourão da Estância

1 1 1 1 1 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1

Gaita Gaita Gaita CD CD

Todeschini Bulgari Scandalli Joca Martins Zezinho e o Grupo Floreio

1 1 1 1 1

CD CD Gravadora Gaita Mateira Pandeiro Gaita CD CD

Daniel Torres Leonel Gomes Vertical Scandalli RBS TV Contemporâneo Scandalli Mauro Moraes Luciano Maia

1 1 1 3 1 1 1 1 1

Programa Edição 1 Edição 2

Edição 3

Edição 4

Edição 5

Edição 6

Edição 7 Edição 8

A relação da publicidade e merchandising com o público-alvo do Galpão Crioulo se dá através do culto do programa ao que é tradicional na cultura gaúcha, pois as pessoas que estão expostas ao recebimento do conteúdo deste, sejam em aspectos culturais, históricos, geográficos e de entretenimento/ lazer, são aquelas que partilham de um mesmo gosto, atributo representado no Galpão Crioulo. O que se reflete em algumas das publicidades, como: a Redemac que mostra o cumprimento típico do gaúcho entre o funcionário da loja e o cliente, que transmitem uma proximidade e mostra que ambos são pertencentes a uma mesma

cultura, além do reflexo feito na logo da empresa com as cores que faz alusão a bandeira do Rio Grande do Sul. As Lojas Becker tem como garoto propaganda Neto Fagundes, um dos apresentadores do Galpão Crioulo que mantêm imagem de tradicionalista, pelo fato de estar pilchado a rigor e a Rede Agafarma que tem como slogan a seguinte frase: sinta-se bem, sinta-se em casa, que simboliza a hospitalidade que o povo do Rio-grandense possui. O merchandising estabelece sua relação com o público-alvo do programa de vários modos, mais especificamente quando mostra os CDs e DVDs dos artistas que se apresentam no Galpão Crioulo, pois estes interpretam as músicas tradicionalistas, que é um dos focos do programa. No entanto, precisou partir de um estudo do todo, para compreender os formatos encontrados no programa, entende-se que, neste caso, não existe relação entre a publicidade e o merchandising, mas ambos estão ligados ao público-alvo do Galpão Crioulo.

Considerações Finais A importância da publicidade e o do merchandising televisivo para que os propósitos comercias dos anunciantes sejam atingidos é significativa, pois a publicidade contribui com recursos como persuasão, estímulo de desejos e o despertar do interesse pelo produto. Já o merchandising introduz de uma forma amena e mais sútil a indução à compra, recorrendo a cenas que retratam o cotidiano das pessoas, estabelecendo desta forma uma relação linear com o público-alvo do programa em questão. Os artificios utilizados resgatam elementos proprios do regionalismo gaucho manifestado pela musicalidade, costumes, vocabulário típico, vestimentas, danças, entre outros. No Galpão Crioulo encontra-se uma mescla de significados culturais, históricos, comerciais e ideológicos que são propostos dominicalmente aos telespectadores, como uma forma de perpetuação desta função designada à publicidade e reforçada pelo merchandising que é a disseminadora de aspectos identitários, através da imagem, linguagem e vestimentas que compõem o programa.

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