O Sublime em Cruz e Sousa

May 25, 2017 | Autor: Valesca Rennó | Categoria: The Sublime
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3

Tentativa do poeta de desenhar e delinear a própria ideia que transcende.
A noite como escapismo para as reflexões aflitivas do poeta.
Visões transcendentais imagéticas.
Aliteração sugestiva de dedilhada
Aliteração sugestiva de dedilhada

Aliteração sugestiva de dedilhada

Aliteração sugestiva de dedilhada

Alusão à musicalidade
A mágoa como figura representativa do poeta.
Imagem fria
Imagem fria, ideia de vagueza.
Assonância, atribuindo recursos linguísticos e de imagem.
Recursos sensoriais.
O culto ao silêncio e autoreflexão
Imagens claras
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A luz do Sublime no Simbolismo de Cruz e SousaA luz do Sublime no Simbolismo de Cruz e SousaUniversidade Federal de Minas Gerais
A luz do Sublime no Simbolismo de Cruz e Sousa
A luz do Sublime no Simbolismo de Cruz e Sousa
Valesca Rennó
Literatura comparada
Belo Horizonte, 27 de junho de 2016



















Introdução ao tema:

O movimento simbolista brasileiro foi marcado por um conflito que ultrapassa questões estéticas tradicionais defendidas pela ideia do Belo. Surge então uma escola que permanece como uma mancha em toda a trajetória da literatura brasileira, em suas repartições entre o antigo e o moderno se pegarmos como corpus de análise a reciprocidade entre beleza e natureza proposto pelo teórico Schlegel. Entretanto, para Longino, as noções de estética estão associadas à faculdade do conceber pensamentos elevados e estas podem ser observadas claramente no objeto de estudo que apontam para a poesia em prosa de Cruz e Sousa.
A grosso modo, indo mais adiante na questão do Sublime que não se encerra na noção do Belo, temos o paradoxo comportamental do autor, que se insere no discurso autocrítico e autoconsciente, quando em sua temática retrata seus desejos pela mulher e pelos prazeres terrenos, que também cumprem um papel fundamental na sua inserção social. É possível associar esta relação comparativista com a abordagem de Burke e Longino, passando de forma tangencial por Schlegel. Este breve ensaio tem por intuito expor o resultado dessa análise comparativista, propondo uma reflexão acerca da composição poética em seus aspectos estruturais e formais até o psicológico do poeta em noções estéticas propostas longínquas propostas por estes três teóricos em Missal, Broquéis e Faróis.







Análise primária:

Toda a poética simbolista que perpassa entre o paradoxo do Romantismo até o modelo imposto pelos parnasianos é marcada pelo conflito. Conflito este que visa transcender além dos preceitos negados pelo próprio idealismo romântico, que envolvem desde a questão da estrutura até a ruptura temática. Partindo dessa premissa, é possível fazer uma análise comparativista levando em relação ao cerne da Obra Broquéis, Missal e Faróis de Cruz e Sousa à luz da estética Sublime.
Em defesa de um teria relativizada por Longino, em sua obra Do Sublime, o autor define a sua condição primeira na faculdade originária do conceber pensamentos elevados, daí surge a questão da transcendência poética buscada pelo poeta no ápice da sua composição. Essa ideia pode ser contestada quando esta se aproxima à necessidade do poeta em se elevar na busca pelo inalcançável, pelo espaço sidéreo e de todas das implicações mundanas que o afligem. O processo de elevação do eu lírico é maior do que ele, pois a existência é submedida e a consciência infinita, sendo assim, a premissa da estética Sublime faz com que o próprio movimento seja amplo. A paisagem com que vai se configurando o espaço da elevação desenha-se com figuras de linguagem e imagens que sugerem uma outra dimensão como aspecto sagrado.
A composição poética, mais do que estética, é auto reflexiva e crítica, apesar de tudo, consciente. Em Missal é possível notar uma influência consterna de Baudelaire, por isso, a crítica literária vem, sobretudo, ressaltando a ausência de originalidade da obra por se tratar de uma forma escrita que não obedece a um padrão de identidade poética a qual estava inserida a questão pós-parnasiana. Esta análise se dá, principalmente, por ter se tornado a luz o processo de formação dado pelo modelo francês de composição, muitas vezes, baudelairiano, não podendo ser transpassado aqui a questão do gênio.
Se a ideia do gênio surge para suprir a variante da questão do gosto, logo, Missal não pode ser considerada uma obra a ser julgada esteticamente insuficiente, se tratando do belo, pois, a ideia do Sublime é a de algo que está acima do belo, aquilo que não pode ser explicado. Consiste no transcendental, experimental e na harmonia. Toda a ideia pode ser observada no seguinte poema em prosa de Missal:

"[...] O dia abriu um explosão d'oiro, dum oiro inflamado de forja, trescalando perfumes, cheirando acremente à terra.
Quando para lá foste, o teu corpo frágil, tênue, traspassado do azulado enraizamento arterial das veias, era quase diáfano, transparente, vitrescível quase, através do qual bem facilmente a aurora coaria os seus flavos raios rútilos, como através de um delicado e aromático filó finíssimo, cor-de-rosa e translúcido. [...]
[...] Perfeito, soberbamente rico e raro, Campagnarde! esse humor campestre, esse alagamento e deslumbramento de luz com que regressas da Vida, do seio livre da grande amplidão da saúde, onde tudo, afinal, são concentradas forças, pujanças novas para o sangue, renascimento para a carne. [...]
[...] Ninguém, por certo, calcula, a ninguém sugere, por certo, a alta realidade do quanto é salutar e é nobre e supremo bem que lá se goza nos campos e como o corpo abalado pelos inevitáveis golpes da matéria falível, resiste o espírito, o fluido nervoso, dando à existência o equilíbrio sereno.[...]
[...] Nenhum pincel colorista, nenhuma entranhada emoção ou visão impressionista d'arte, nenhuma perceptibilidade acústica de músico, poderá bem com exatidão apanhar a cor, o sentimento, a errante, dispersa harmonia que se eterifica na liberdade dos campos e que assim te penetrou pelo coração e pelos olhos, primorosamente enflorescendo e viçando no teu corpo de graça, lirial e formoso. [...]"

Por um viés de poesia sugestiva, o poeta aponta que nenhuma arte é capaz de suprimir toda a beleza etérea do mundo, nem acompanhar a cor e a perfeição exata. Ou seja, sugere como algo infinito, passivo do inacabado. Tão perfeito que não se encerra um ciclo.
Trata-se de uma verdadeira alquimia verbal, rigorosamente singular na poesia simbolista. São experiência expressionais, pois nota-se o constante abandono da lógica aristotélica em favor de uma lógica do absurdo, de feição onírica e freudiana, como meio de engendrar imagens que representassem lampejos do inconsciente.

Análise secundária:

Edmund Burke, em A critical Enquiry into the Origino f Our Ideas of the Sublime and the Beautiful, aponta que todas as sensações tem relação de dor e prazer. Para Burke, a noção do prazer não necessariamente está desassociada à dor. Ambas podem se corresponder, e daqui decorre dois tipos de prazeres na concepção do crítico; o prazer associado à ideia do Belo e o outro mais complexo, antitético à dor e a que chama de deleite. É possível observar no poema dança do ventre, uma clara associação das ideias apontadas por Burke. Uma delas diz respeito à relação que ele faz com o sujeito ao ordenar as ideias básicas de todas as paixões, sendo a primeira associada ao próprio indivíduo, a segunda ligada ao êxtase e a dor e a terceira a excitação fulcral do Sublime.
Dança do ventre
 
Torva, febril, torcicolosamente,
numa espiral de elétricos volteios,
na cabeça, nos olhos e nos seios
fluíam-lhe os venenos da serpente.

Ah! que agonia tenebrosa e ardente!
que convulsões, que lúbricos anseios,
quanta volúpia e quantos bamboleios,
que brusco e horrível sensualismo quente.

O ventre, em pinchos, empinava todo
como réptil abjecto sobre o lodo,
espolinhando e retorcido em fúria.

Era a dança macabra e multiforme
de um verme estranho, colossal, enorme,
do demônio sangrento da luxúria!

Sem procedentes, o poema retrata o corpo de uma mulher no ato da dança e esta contorção o torna febril, ao mesmo tempo "tenebrosa e ardente". O horror causa sensação de prazer ao poeta, podendo assim ser dissociado com a natureza terrestre; a natureza carnal, sendo que a própria dor causa deleite ao poeta. A própria alegoria e metáfora utilizados para definir a mulher como um animal pode ser remetido na questão da própria natureza e dessa aproximação de dor e prazer, assim como defende Burke. O gosto estético, desse modo, desassociado à ideia de Kant, será uma ideia complexa que irá se constituir por duas hipóteses, resultante dos prazeres primários e prazeres secundários – ou pela ação da faculdade do entendimento de sua interação com as paixões, modos e comportamentos humanos.
Na questão harmônica, feita por uma análise linguística, pode-se dizer que há na poesia de Cruz e Sousa um estranho lirismo alvar, talvez a nota mais marcante seja o suposto contato do poeta com os cosmos, mediante a Luz dos astros e uma verborrágica música do espaço. Há também uma manifestação poética que tematiza o ato criativo ou a condição do Eu, quando reivindicam a abstração, a musicalidade, a sugestão, o exotismo e o requinte formal.
O objeto da poesia é essa infinidade de cosmos, de espaços impensáveis do mundo interior, das sensações e dos desejos. Ao se falar do poeta, consideram-no um ser diminuído pela incompreensão medíocre dos contemporâneos. A poesia simbolista é uma poesia sem lugar na crítica. Por este viés, tendo o Parnasianismo como uma das correntes estéticas mais influentes da Literatura mundial, elucidado boa parte dos poetas entre 1880 e 1920, é possível traçar um panorama que define propriamente o Simbolismo como sendo a poesia do futuro, produção a qual previa Schlegel em sua obra Om ästhetischen Werte der griechischen Komödie. Ou seja, a poesia que seria a perfeita junção dos românticos e dos modernos, sendo suprimidos de toda a técnica fundamentalista da arte, sem fazer a arte pela arte, sem modelo predominante, mas esteticamente belo e sublime.
A plasticidade que compõe toda a extensão da obra pode ser observada não só pelo conteúdo atenuante da busca pelo inalcançável, mas pela própria estrutura sugestiva, infindável e harmônica. Trata-se de recursos linguísticos que figuram o sensorial, que permitem ao leitor a experiência - a arte deve ser sentida.
Vilões que choram (Faróis)

[...]"Ah! Plangentes violões dormentes, mornos,
soluções ao luar, choros ao vento ...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
noites da solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
vou constelando de visões ignotas.

Quando os sons dos violões vão soluçando
Quando os sons dos violões nas cordas gemem
E vão dilacerando e deliciando
Rasgando as almas que nas sombras tremem

Harmonias que pungem, que laceram,
dedos nervosos e ágeis que percorrem
cordas e um mundo de dolências geram,
gemidos, prantos, que no espaço morrem ...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,
mágoas amargas e melancolias,
no sussurro monótono das águas,
noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Sons perdidos, nostálgicos, secretos,
finas, diluídas, vaporosas brumas,
longo desolamento dos inquietos
navios a vagar à flor de espumas.

Quando as estrelas mágicas florescem,
e no silêncio astral da Imensidade
por lagos encantados adormecem
as pálidas ninféias da Saudade![...]

Trata-se de um poema composto institivamente e marcado, metaforicamente, pela dor e sofrimento, pelo prazer e embriaguez, também marcada pelo horror do mergulho na matéria, que sugerem um brando apelo carnal do poeta e uma necessidade de autorreflexão. Figuras como antítese presente em imagens claras e escuras também podem ser observadas. Há, também, o uso imagens de sombras, incomodo do poeta diante da transitoriedade da vida. O poema também é composto por sinestesias e aliterações que sugerem uma certa melodia e hipoteticamente uma dedilhada de violão.
A unidade entre música e Letra é atingida quando o autor consegue superar o analogismo da linguagem, através do impulso da musicalidade, que atenua os nexos sintáticos entre as palavras. O caráter musical do verbo, tornando mais plástico, maleável é que lhe permite apreender o mistério, sem que este perca o aspecto inefável. Partindo dessa premissa, a linguagem acaba, como a música assim por nada dizer – o que força o poeta a reivindicar o silêncio imparcial.

















Conclusão:

Por assim dizer, é possível relacionar toda a extensão da obra de Cruz e Sousa que é marcada pela harmonia, pelos recursos imagéticos, sendo assim definhados ao sentimento do autor do prazer e êxtase à dor. Quando se perpassa a questão defendida de Longino, em um fluxo de consciência, é possível observar nos poemas retratados não só por objeto de análise a questão dos cosmos, do espaço e da transcendência sepulcral e o silencia, mas em toda a sua abordagem poética em que o autor sugere. Essa sugestão vaga, clara e alvar deixa uma lacuna que pode ser associada à ideia do Sublime que não se encerra a um ciclo, que escapa de formas tradicionais de beleza e visa o inalcançável.
Se pegarmos o objeto de análise através de uma perspectiva de Edmund Burke é possível também delimitar os aspectos pessoais e sensoriais do poeta em interface à dor e o êxtase que são retratados em uma parte considerável de toda a produção poética do autor. Sendo assim, essas associações e dissociações desencadeiam uma lógica que pode ser transpassada na crítica do Sublime assim sendo delimitada, tanto na divisa de Schlegel ao defender uma ação recíproca entre beleza e natureza até a manutenção do Belo como paralelo do vago – harmônico. A poesia é toda a extensão da perfeição como fora posto por estes críticos? Pode ser considerada ou observada como poesia do futuro em sua junção de traços pré-romanticos e parnasianos, antigos e modernos? A fim de reivindicar toda essa extensão e crítica, foi possível então observar que a poética de Cruz e Sousa se encaixa na definição de perfeito e algoz; celestial e terrestre, assim como proposto por Burke em sua teoria.







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