O sublime-pavoroso e a ‘Estética da resistência’ em Saramago

July 4, 2017 | Autor: Orlando Grossegesse | Categoria: The Sublime, José Saramago
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Orlando Grossegesse (Universidade do Minho – Braga)

O sublime-pavoroso e a ‘Estética da resistência’ em Saramago O pequeno José abomina o prazer estético que deveria sentir ao olhar para a representação do martírio de S. Bartolomeu em Mafra – um episódio identificado pelo próprio autor como vivência inicial de uma mundividência e, transposta à escrita, de uma poética cuja génese, de facto, pode ser observada desde as crónicas, nomeadamente na discussão de artes plásticas (criação / recepção). Ao longo da evolução da escrita saramaguiana surge uma abordagem do sublime-pavoroso que se opõe ao conceito de Kant e Schiller. Saramago dialoga sobretudo com o segundo para chegar a uma redefinição da relação entre representação viva do sofrimento, a fim de suscitar um misto de pavor e afecto compassivo, e a representação da resistência contra o sofrimento que, no entanto, não encontra a sua força na “liberdade interior do ânimo” de Schiller. Nomeadamente a partir de Manual de Pintura e Caligrafia, Saramago propõe outra educação estética do Homem a que chamamos a educação para a ‘Estética da resistência’, numa abordagem inspirada pela comparação com Die Ästhetik des Widerstands (1975-81) de Peter Weiss. Em diálogo com o Inferno de Dante, ambos os autores chegam a definir uma nova competência estética (aisthesis) perante o pavor causado pelo mundo pós-holocausto e em clara oposição à tradição do Iluminismo. Deste modo, surge o sentido político do sublime-pavoroso como elemento fundamental de uma estética de transgressão que, no caso de Saramago, é discutida, de forma romanceada, através de Ricardo Reis perante a realidade de 1936, e que experimenta a sua maior prova como escrita n’ O Ensaio sobre a Cegueira.

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