O TEXTO CIENTÍFICO ENSINADO EM PODCASTS: UMA PROPOSTA DE USO EM UM CURSO A DISTÂNCIA

May 22, 2017 | Autor: Rafael Ruggi | Categoria: E-learning, Scientific Writing, Learning Objects, Podcasts, Flipped learning
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Rafael Ruggi

O TEXTO CIENTÍFICO ENSINADO EM PODCASTS: UMA PROPOSTA DE USO EM UM CURSO A DISTÂNCIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto Federal de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Tecnólogo em Sistemas para Internet. Área de Concentração: Informática na Educação

Orientadora: Profa. Dra. Rosana Ferrareto Lourenço Rodrigues

São João da Boa Vista 2016

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação do Serviço de Biblioteca – IFSP

Ruggi, Rafael. R931t

O texto científico ensinado em podcasts: uma proposta de uso em um curso a distância / Rafael Ruggi. – 2016. – 113 – Orientadora: Rosana Ferrareto Lourenço Rodrigues. – Trabalho de Conclusão (Tecnologia em Sistemas para Internet) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Câmpus São João da Boa Vista, 2016.

AGRADECIMENTOS

Eu agradeço a todos que me ajudaram na elaboração deste trabalho de qualquer maneira. À professora Rosana, que me guiou mais que a estrela de mesmo nome; minha família; e algumas pessoas que me impulsionaram a algo na linha de podcasts: Caio Teixeira, Heitor de Paola, Henrique Sampaio, Caio Corrainni, Douglas Pereira, Jeff Gertsman, Vinny Caravella, Brad Shoemaker, Dan Ryckert, Drew Scanlon, Alex Navarro, Austin Walker, Jeff Bakelar, Ira Glass, Jad Abumrad, Robert Krulwich e a Ryan Davis.

RESUMO

RUGGI, R. O texto científico ensinado em podcasts: uma proposta de uso em um curso a distância. Trabalho de Conclusão de Curso - Instituto Federal de São Paulo, São João da Boa Vista, 2016.

Participar de aulas expositivas de qualquer disciplina está no calendário de estudantes do ensino fundamental, médio ou superior. Muitos docentes tentam “suavizar” essa exposição do conteúdo para que as aulas se tornem menos maçantes e improdutivas. O podcast é uma das ferramentas que pode auxiliar esse processo. Podcasts são programas de rádio distribuídos digitalmente por RSS (HARRIS; REA, 2009) e, desde a sua concepção (HEMMERSLEY, 2004), têm também sido utilizados como recursos de sala de aula (RAINSBURY, 2006), porém não de maneira abrangente, este trabalho ajuda a fechar essa lacuna. Focando no estudo, elaboração, produção e distribuição de podcasts, este trabalho visa a apresentá-los como objetos de aprendizagem em um curso de redação científica a distância aplicando um método específico para seu desenvolvimento, esse consistindo das seguintes etapas: préprodução, produção e pós-produção (MIRO, 2013a) (FOSCHINI E TADDEI, 2006). Esse podcast foi ofertado no LALETEC (Laboratório de Letramento Técnico-Científico), no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo, câmpus de São João da Boa Vista. O material apresenta as macro e microestruturas do texto científico com cinco episódios cada, que abordaram desde aspectos mais abrangentes até propriedades mais específicas dos gêneros textuais científicos. A macroestrutura textual constitui os seguintes assuntos: o texto científico (gênero: tema, composição, estilo e tipo textual argumentativo); o texto argumentativo (modelo da retórica aristotélica); o artigo científico (seções); o desenvolvimento (referencial teórico e metodologia); a conclusão (resultados e discussão). Na microestrutura textual, são abordados: o estilo (linguagem); o resumo (segundo a ABNT); o abstract (e o uso da tradução automática); o uso de dados visuais (tabela, quadros, gráficos, etc.); e a coesão textual (tópico frasal / marcadores discursivos). Tais podcasts têm, entre seus gêneros: entrevistas, discussões e até a adaptação de uma das estruturas para uma receita culinária. Os passos técnicos para a construção do podcast foram pré-produção (pauta), produção (gravação) e pós-produção (edição e distribuição) (MIRO, 2013a) (FOSCHINI E TADDEI, 2006). Os podcasts foram distribuídos como material de apoio a partir da metodologia Flipped Learning, na qual o aluno tem contato com os podcasts antes de ir para a aula. No término do curso de redação científica fez-se uma pesquisa com os alunos e, um dos dados apresentados como resultados mostra que apenas um dentre os trinta e dois dos entrevistados não aprovou a utilização de podcasts no curso. Os materiais distribuídos em formato podcast estão disponíveis por intermédio de RSS, seja essa permanência para estudo para provas do próprio curso ou ainda para auxílio na escrita de novos textos científicos. Concluiu-se que é fácil manter um podcast, que devem haver mais iniciativas de criação de podcasts para auxiliar na área acadêmica, focando não apenas na redação científica e sim em todas as disciplinas, e em todos os ciclos de ensino. Como trabalhos futuros indica-se a criação de um estudo comparativo com dois cursos, um com e um sem podcasts, para que se possa medir diferenças quantitativas sobre o aproveitamento dos podcasts. Palavras-chave: Produção de Podcasts. Objetos de aprendizagem. Texto Científico. Flipped Learning. Educação a Distância.

ABSTRACT RUGGI, R. The scientific text taught in podcasts: a proposal of use in an e-learning course. End of Course Reasearch - Instituto Federal de São Paulo, São João da Boa Vista, 2016.

To participate in classes of expositive content is in the agenda of any student, in any degree, basic, high school or graduation. Many teaching professionals try to “soften” such exposition of content, so that classes become less boring and less unproductive. The podcast is one of such tools that can help this process. Podcasts are radio shows distributed digitally by RSS (HARRIS; REA, 2009) and, since the conception of the term (HEMMERSLEY, 2004), it has been used as a resource in classrooms (RAINSBURY, 2006), however not in a broadly way, this research helps to close this gap. Focusing on the study, elaboration, production and distribution of podcasts, this paper seeks to show them as Learning Objects, in an e-learning course of scientific paper production applying an specific method fot its development, consisting of the following phases: pre-production, production and post-production (MIRO, 2013a) (FOSCHINI E TADDEI, 2006). This podcasts was offered by LALETEC (Laboratory of Technical-Scientific Literacy), at Instituto Federal de Educacão Ciência e Tecnologia de São Paulo, câmpus São João da Boa Vista. The material presents the macro and microstructures of the Scientific Text, and contain from broader matters to more specific properties of the Scientific text gender. The Scientific text macrostructure contains the following topics: The Scientific Text (gender: theme, composition, style and argumentative type of text); the argumentative text (Aristotelle model of Rethoric); the scientific paper (sections); the development (theoretical referential and metodology); the conclusion (results and discussion). In the textual microstructure, the expanded topics are: the style (discourse); the Brazilian abstract (by ABNT), the translated abstract (and the use of machine translation); the use of visual data (tables, boards, graphs, etc.); text cohesion (topic sentence / discursive markers). Such podcasts are presented from these discursive genders: interviews, discussions and even the adaptation of one of its discursive structures to a food recipe. The technical steps taken to the construction of the podcast were pre-production (schedule), production (recording) and post-production (editing and distributing) (MIRO, 2013a) (FOSCHINI E TADDEI, 2006). The podcasts were distributed as support material through the methodology Flipped Learning, in which students have contact with the podcasts before going to classes. At the end of the course a questionnaire was filled by the students and only one between thirty two students did not approve the utilization of podcasts in the course. The materials distributed as podcasts are available through RSS, in order to be used for studying, as well as for helping in new academic writing. It was concluded that it is easy to maintain a podcast, that it should be more initiatives in the creation of podcasts for academic use, focusing not only in the writing of scientific papers, but in all courses, and in every educational level. As future research it is indicated the creation of a comparative study in order to evaluate the quantitative gain of utilizing podcasts. Keywords: Podcasts. Learning objects. Scientific Writing. Flipped Learning. E-learning.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Pauta-guia de um podcast ............................................................. 28 Figura 2 – Pessoa.XML ................................................................................... 33 Figura 3 – giantbomb.rss................................................................................. 34 Figura 4 – Primeira configuração dos equipamentos utilizados ...................... 53 Figura 5 – Segunda Configuração dos equipamentos utilizados..................... 54 Figura 6 – Terceira configuração dos equipamentos utilizados....................... 54 Figura 7– O Gravador de áudio Audio Recorder HD....................................... 64 Figura 8 – O caminho dos arquivos no dispositivo Android............................. 65 Figura 9 – A mesa de som Behringer Europower PMP1000 com destaques.. 67 Figura 10 – A traseira mesa de som Behringer Europower PMP1000 com destaques ...................................................................................... 68 Figura 11 – O gravador de Mão Sony ICD-PX312 ligado................................ 69 Figura 12 – As entradas superiores e o microfone dinâmico do Sony ICDPX312 ............................................................................................ 69 Figura 13 – O Receptor de áudio Shure PGXD4 Wireless Receiver............... 70 Figura 14 – O emissor de áudio Shure PGXD1 Bodypack Transmitter........... 71 Figura 15 – A gravação do podcast................................................................. 72 Figura 16 – Os setores do Audacity ................................................................ 76 Figura 17 – As ondas de voz cercadas pelo silêncio a ser cortado................. 77 Figura 18 – A tela de cadastro de uma nova conta no SoundCloud ............... 78 Figura 19 – O upload do arquivo na ferramenta SoundCloud ......................... 79 Figura 20 – Ajuste de configurações na ferramenta SoundCloud ................... 80 Figura 21 – A exibição do podcast na ferramenta SoundCloud ...................... 81 Figura 22 – A exibição do podcast na plataforma Moodle............................... 82 Figura 23 – A exibição da ferramenta IFSP Nuvem ........................................ 83 Figura 24 – Compartilhando o podcast na ferramenta IFSP Nuvem ............... 84 Figura 25 – O arquivo RSS utilizado ............................................................... 85 Figura 26 – Amostragem de Participantes ...................................................... 91 Figura 27 – Área de conhecimento dos participantes ..................................... 92 Figura 28 – Reação ao Flipped Learning ...................................................... 92 Figura 29 – Suporte a Objetos de aprendizagem............................................ 93 Figura 30 – Aferindo a qualidade dos podcasts em geral ............................... 93

Figura 31 – A classificação dos Podcasts quanto ao Curso de Redação Científica........................................................................................ 95 Figura 32 – A classificação dos Podcasts quanto ao desenvolvimento da pesquisa ........................................................................................ 96

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - As fases e as tarefas da produção de podcasts ............................ 31 Quadro 2 - As exposições de conteúdo em sala de aula................................. 42 Quadro 3 - As exposições de conteúdo em aula............................................. 47 Quadro 4 - Os Gêneros do Texto Ouvido........................................................ 50 Quadro 5 - Os Participantes do Texto Ouvido................................................. 52 Quadro 6 - Adaptação dos mapas de atividades do curso de redação científica......................................................................................... 57 Quadro 7 - Os Softwares de gravação e edição de áudio ............................... 62 Quadro 8 - Os podcasts do Texto Ouvido........................................................ 87

LISTA DE SIGLAS AAC

Advanced Audio Coding (Codificação de Áudio Avançada)

ABNT

Associação Brasileira de Normas Técnicas

CTI Renato Archer

Centro de Tecnologia de Informação Renato Archer

EaD

Educação a Distância

IFSP

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

LALETEC

Laboratório de Letramento Técnico-Científico

MP3

MPEG-1 ou MPEG-2 Audio Layer III

MPEG

Moving Picture Experts Group (Grupo de Especialistas em Vídeos)

PUC

Pontifícia Universidade Católica

RSS

Really Simple Syndication (Sindicalização Realmente Simples)

SBV

São João da Boa Vista

UNESP

Universidade do Estado de São Paulo

UNIFAE

Universidade das Faculdades Associadas de Ensino

UNIFAL

Universidade Federal de Alfenas

UNIFEOB

Universidade da Fundação de Ensino Octávio Bastos

SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................17

1.1 Motivação ............................................................................................................................. 20 1.2 Objetivos............................................................................................................................... 21 1.3 Organização deste trabalho................................................................................................. 222

2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................254 2.1 Produção de podcasts ......................................................................................................... 254 2.1.1 Antes de Começar ............................................................................................................ 326 2.1.2 A pré-produção de um podcast ........................................................................................ 367 2.2.3 A produção e a pós-produçao de um podcast .................................................................. 379 2.2

RSS .................................................................................................................................... 32

2.2.1 O Feed................................................................................................................................ 32 2.2.2 Agregadores de Feed ....................................................................................................... 436 2.3

Educação com Podcasts..................................................................................................... 37

2.3.1 Podcasts como Objetos de Aprendizagem....................................................................... 438 2.3.2 Podcasts no Flipped Learning............................................................................................ 40 2.3.2 Educacao a Distãncia e sua relação com Podcasts ............................................................ 43

3 METODOLOGIA ........................................................................................................49 3.1 Antes de comçear um podcast .............................................................................................. 49 3.1.1 A temática do podcast........................................................................................................ 49 3.1.2 O formato podcast.............................................................................................................. 50 3.1.3 A escolha do nome............................................................................................................. 51 3.1.4 Os Participantes.................................................................................................................. 52 3.1.5 os equipamentos utilizados para a gravação ...................................................................... 49 3.2 A pré-produção dos conteúdos de áudio............................................................................... 55 3.3 A produção dos podcasts ...................................................................................................... 61

3.3.1 O necesssário para a gravar................................................................................................ 61 3.3.2 Passos para a gravação de um de um podcast.................................................................... 63 3.3.3 Gravando podcasts com pessoas........................................................................................ 73 3.4 A edição ou pós produção de um podcast ............................................................................ 73 3.4.1 A apresentação da ferramenta Audacity ........................................................................... 74 3.4.2 A edição do áudio .............................................................................................................. 76 3.4.3 A publicação do podcast .................................................................................................... 78

4 RESULTADOS ...........................................................................................................86 4.1 Os podcasts produzidos ........................................................................................................ 86 4.1.1 Dificuldades encontradas na produção do Texto Ouvido .................................................. 88 4.2 O questionário de avaliação do Texto Ouvido...................................................................... 90

5 CONCLUSÕES FINAIS..............................................................................................99 REFERÊNCIAS ..............................................................................................................103 APÊNCICE A.................................................................................................................107

Capítulo

17

1 Introdução Ter sido assinante de um famoso jornal nos anos 90 proporciona um sentimento parecido com o de hoje receber notícias pela Internet via Really Simple Syndication (RSS), também chamado de RSS Feed. Naquela época, caso se tivesse assinado um jornal diário, criaria-se, com o tempo, uma lista de jornais em ordem decrescente dos antigos até os mais atuais. Tal pilha poderia ser chamada de “agregadora de notícias”. A pilha aqui descrita, é uma pilha literal onde se empilham várias coisas, podem ser revistas, jornais, periódicos, ou qualquer coisa que tenham volumes. É a partir desse mesmo conceito que agregadores de RSS são nomeados. Agregadores de RSS são softwares que imitam esse conceito de pilha, mas, ao invés de jornais, tem-se atualizações diárias de um website, por exemplo. A diferença é que o RSS não é apenas uma ferramenta para assinantes, mas também para publicadores. É uma tecnologia de distribuição de conteúdo digital, geralmente de sites na web, que permite que assinantes se inscrevam, como em uma assinatura de jornal (FINKELSTEIN, 2005). RSS também é o principal meio pelo qual podcasts são distribuídos. Podcasts são parecidos com programas diários ou semanais de rádio, com formato tradicional, onde existe um locutor ou host, narrando determinada história ou acontecido, como, por exemplo, o programa A voz do Brasil1 ou Café com o Presidente(a)2, mas são distribuídos digitalmente, frequentemente em formato MP3 ou AAC, publicados através da Internet e nela atualizados

1

A voz do Brasil, programa tradicional de política brasileira. . 2

Mais

informações

em:

Café com Presidente(a), programa com o presidente do Brasil, com entrevistas semanais. Mais informações em .

18

via RSS (HARRIS; REA, 2009). Existem podcasts muito prestigiados em território nacional como é caso no Nerdcast 3 , que tem seu próprio RSS feed, ou seja, sua própria pilha de atualizações para distribuição de conteúdo. Esse tipo de distribuição de programas de rádio via RSS começou em meados de 2005 com a popularização do iPod e seu aplicativo para ouvir música, o iTunes4, que serve até os dias de hoje como agregador de podcasts (HAMMERSLEY, 2004). Pouco antes do facilitador RSS, o termo Podcast foi cunhado a partir de uma dúvida de Hammersley (2004) sobre como chamar o serviço: “But what to call it? Audioblogging? Podcasting? GuerillaMedia?”. Hammesrley (2004), então chegou ao termo podcast a partir da junção de “Pod”, do aparelho iPod (em que POD é acrônimo para “Personal On Demand”, que significa “Pessoal sob Demanda”) e “Cast”, parte da palavra “broadcast”, que significa “transmissão”. Broadcast refere-se à distribuição de conteúdo digital (SCHOFIELD; ARTHUR, 2006). Alguns dados interessantes são apresentados por Hudson (2011). No ano de 2011, o podcast com mais downloads individuais teve mais de cinquenta e nove milhões de downloads, o que por si só pode ser interpretado como um grande sucesso. Contudo, ainda segundo Hudson (2011), depois de “podcast” ter sido considerada a palavra do ano de 2005 pelo New Oxford American Dictionary5, o conceito de podcast tem estado esquecido com a grande insurgência do movimento nas redes sociais. Já na área da educação, é perceptível que, há muitos anos, têm surgido tentativas de inserção dessa tecnologia. Rainsbury (2006) confirma tal perspectiva ampla e claramente. Ele defende que, principalmente na área médica, muitos podcasts foram iniciados com o intuito

3

Disponível em .

4

Programa que toca músicas e é agregador de RSS, primeiramente utilizado no iPod mais informações em: . 5

New Oxford American Dictionary. Versão Online em:

19

de ajudar no desempenho dos alunos em assuntos específicos, tais como radiologia, patologia e até anatomia. Porém a falta de literatura a respeito da aplicação de podcasts no meio educativo é um problema. Já no ensino de línguas, também já é visível a participação de outros autores no universo da tecnologia a serviço da educação, como Zucolotto (2015) e Volpato (2012). Porém, em tais casos, com videoaulas, disponíveis pela internet 6 . Então, por que não desenvolver podcasts como objetos de aprendizagem para o ensino de outras disciplinas, tais como matemática, física, química, línguas? Toda disciplina com muito conteúdo a ser transmitido ao aluno de forma expositiva pode ser remodelada a partir do uso de novas abordagens, inclusive com o uso de tecnologia. Uma teoria educacional que visa a melhoria desse aproveitamento do tempo de professores e alunos em sala de aula é o “Flipped Learning” ou “Flipped Classroom”, traduzida como “Sala de Aula Invertida”. Nessa metodologia de ensino, os alunos leem algum texto, ou veem algum vídeo, antes da aula propriamente dita, quando só então o professor faria algum tipo de atividade prática, visto que seus alunos já teriam tido prévio contato com o conteúdo expositivo (HERREID; SCHILLER, 2013). O podcast, nesse caso, seria usado como recurso para prover esse conteúdo prévio aos alunos. Diante do exposto, é que se apresenta como objetivo deste trabalho a criação de podcasts, por meio de RSS, para a adoção da abordagem flipped learning em um curso de extensão na modalidade a distância para o ensino de redação acadêmica7.

6

7

Disponíveis respectivamente em < http://www.gilsonvolpato.com.br> e .

O curso em questão será oferecido, a partir de agosto/2015, por meio do Projeto LALETEC – Laboratório de Letramento Técnico-Científico, com sede no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP) câmpus São João da Boa Vista (SBV), fomentado pela Pró-Reitoria de Extensão (PRX) no processo via Edital nº 990 Programa Institucional de Apoio a Projetos de Extensão do IFSP 2015.

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1.1 Motivação A região de São João da Boa Vista tem se tornado um polo universitário de referência, para onde convergem muitos estudantes em busca de capacitação em nível técnico e superior. Na cidade de São João da Boa Vista, além dos tradicionais Centros Universitários – Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (UNIFAE) e Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), há, desde 2007, um câmpus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP) e, mais recentemente, em 2013, a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP) inaugurou seu câmpus experimental. Na cidade vizinha, Poços de Caldas, há um câmpus da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e um da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Minas. Além dessas instituições de renome, há muitas outras pequenas faculdades nessas duas e nas demais cidades da região, tais como Espírito Santo do Pinhal, Aguaí, São José do Rio Pardo, Casa Branca e Mococa. Além das instituições de ensino, há também a parceria com o Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer 8 , em Campinas, que é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que atua na pesquisa e no desenvolvimento em tecnologia da informação, com intensa interação com os setores acadêmico, por meio de diversas parcerias em pesquisa, em vários projetos de cooperação sendo a criação do curso de redação científica a distância um desses projetos. A grande motivação para a criação de tal laboratório deve-se à constatação da necessidade cada vez mais urgente de se preparar alunos para novos contextos de comunicação, onde língua materna e estrangeira convivem e a escrita normalizada é

8

O IFSP-SBV já tem parceria com o CTI Renato Archer Campinas (), devido à criação de um Grupo de Pesquisa no CNPq, o WebSemanTec (), para o desenvolvimento de produtos tecnológicos, tais como um repositório de objetos de aprendizagem (em que ficarão armazenados e serão disponibilizados futuramente os podcasts).

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fundamental. Geralmente, disciplinas regulares dos diversos cursos não apresentam, como foco principal, o ensino minucioso da escrita acadêmica, em qualquer língua. Os alunos ingressantes de tais cursos, geralmente, têm o ensino de escrita restrito ao que lhes foi transmitido, com ênfase nos padrões para avaliações de sistemas de ensino e vestibulares, o que por si só não condiz com a socialização ou especificidades do discurso acadêmico. Além disso, a escrita acadêmica em inglês não é uma habilidade alvo nos cursos de idiomas disponíveis no mercado. Finalmente, o fato de já existirem trabalhos correlatos também justifica esta pesquisa, alguns desses trabalhos publicados pela própria equipe do LALETEC justificam a necessidade crescente de pesquisa sobre o tema. Destacamos como projetos similares no Brasil, a capacitação para a escrita acadêmica com auxílio de tecnologia, os trabalhos de Volpato (2012), que demonstra vários aspectos do texto científico e suas nuances, por meio de videoaulas; o de Zucolotto (2015) e, finalmente os trabalhos Rodrigues (2015a) e Rodrigues (2015b) sobre o próprio LALETEC .

1.2 Objetivos O objetivo principal deste trabalho é produzir podcasts como objetos de aprendizagem para atender a uma das demandas, que é a construção de material didático, de um curso de extensão na modalidade a distância para o ensino de redação acadêmica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP) câmpus São João da Boa Vista (SBV). Os objetivos específicos são a produção, edição e publicação, por intermédio da tecnologia RSS, de um conjunto de dez podcasts, com temática educacional, voltada principalmente para a redação científica para a formulação de um objeto de aprendizagem que

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será aplicado no estilo Flipped Learning no curso de redação científica ministrado pelo LALETEC. Outro objetivo específico A proposta é produzir dez podcasts, dos quais cinco atenderão a uma perspectiva macro dos conteúdos (tópicos mais abrangentes da escrita acadêmica), e cinco serão de abordagem micro (aspectos mais específicos do conteúdo). Os cinco módulos macro terão como temas: o texto científico (gênero - tema, composição, estilo e tipo textual argumentativo); a macroestrutura do texto argumentativo (modelo da retórica aristotélica); o artigo científico (seções); o desenvolvimento (referencial teórico e metodologia); a conclusão (resultados e discussão). Os cinco módulos micro abordarão: o estilo (linguagem); o resumo (segundo a ABNT); o abstract (e o uso da tradução automática); o uso de dados visuais (tabela, quadros, gráficos, figuras e outras ilustrações); e a coesão textual (tópico frasal e marcadores discursivos). No entanto, apenas a definição dos módulos temáticos não é o suficiente para a gravação dos podcasts. Pensando nisso, foram definidos gêneros textuais abrigarão os temas, entre eles: entrevista, discussão e receita culinária.9

1.3 Organização deste trabalho Após apresentarem-se, na introdução, o tema, a justificativa e os objetivos desta pesquisa, este trabalho terá as seguintes seções: capítulo teórico, metodologia, resultados e conclusões. Serão apresentados, no capítulo teórico, considerações sobre as etapas de produção de um podcast, da pré-produção, passando pela produção até a pós-produção dos programas, depois será abordado o RSS para a distribuição dos podcasts e, por fim serão apresentadas 9

Ideias de gêneros sugeridas por Isabella Bruno Pereira e Hiago Macillis Henrique Cândido Rosa, monitores bolsistas do já citado LALETEC.

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considerações sobre o podcast como objeto de aprendizagem, seu uso no Flipped Learning e a concepção do Ensino a Distância (EaD) para o projeto. Serão ainda discutidos o letramento acadêmico e a necessidade de capacitação para a escrita científica. No capítulo de metodologia, serão detalhados os passos para a criação dos podcasts, passando inicialmente pelo processo de concepção das pautas, utilizando como base o design instrucional, até o processo de produção ou gravação propriamente ditas, assim como o uso do software de edição, finalmente abordando as tecnologias para a distribuição. Como resultados, pretende-se apresentar todos os podcasts produzidos, assim como uma pesquisa realizada para avaliar o proveito do podcast pelos alunos, ou seja, os ouvintes. As conclusões trazem as considerações do encaixe do trabalho como um todo, assim como fecham todos os aspectos educacionais e de produção que circundaram todo o projeto.

Capítulo

2 Pesquisa Bibliográfica Neste capítulo, o foco será a fundamentação de todos os aspectos técnicos e tecnológicos necessários para a criação de um podcast. Sendo assim, inicialmente, serão levados em consideração aspectos de como o podcast é criado, depois seu meio de distribuição. Além disso, este trabalho leva em consideração todos os aspectos da distribuição, publicação de podcasts, explicando-se os pormenores do arquivo RSS de distribuição, seu funcionamento e como elaborá-lo. É também relevante salientar que, na sequência, serão apresentados, também como fundamentação, uma discussão sobre a educação com podcasts, o seu uso como objetos de aprendizagem em aulas cuja abordagem seja o Flipped Learning e a sua relação com a EaD.

2.1 Produção de podcasts Nesta seção, localizam-se as bibliografias necessárias para que processos e procedimentos de produção dos podcasts sejam entendidos. Inicialmente, deve ser levado em consideração que o podcast é uma mídia que é principalmente voltada para o entretenimento, sendo assim, a maioria das informações sobre seus processos e métodos será provida por quem os produz, ou seja, não necessariamente a comunidade científica. Ainda nessa nota, deve-se pensar na construção de conteúdo multimídia como algo sem regras definidas, portanto os processos de produção de podcasts que são aqui descritos não são totalmente padronizados, tendo cada autor uma maneira específica de definir os processos de produção. Esta subseção será dividida da seguinte maneira: incialmente será explanado o necessário para a produção de um podcast, depois disso, haverá explicações para as suas diferentes fases da produção.

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2.1.1 Antes de começar Segundo Miro (2013a) existem decisões muito importantes que devem ser tomadas antes da criação de um podcast. Entre elas, estão a escolha da temática, a escolha dos participantes e integrantes, a escolha do nome e dos equipamentos que serão utilizados. Quanto a temática e a escolha dos participantes e integrantes do podcast, Miro (2013a) expõe “A temática precisa ser algo que você entenda, algo que você domine. Ninguém ouvirá seu podcast se você não souber do que está falando. [...] Procure por pessoas que entendam do assunto que você deseja tratar em seu podcast”. Pereira (2013) ainda defende que outro aspecto importante (além dos já defendidos por Miro) é o de escolher um formato, antes de começar, para que assim se alcance originalidade trazendo a unicidade ao programa. Já quanto ao nome designado ao podcast, Miro (2013a) explica que: “Se o nome do seu podcast remeter a temática do mesmo vai facilitar a vida de quem faz buscas por podcasts em sites de pesquisa[...]”. E apesar disso ainda aponta que “Ninguém ouve ou deixa de ouvir um podcast por causa do nome[...]”. Sendo assim, pode-se concluir que, apesar de ser uma decisão importante, o nome não necessariamente diz respeito ao conteúdo. Miro (2013a) ainda reitera “Como já disse, o nome não influi na qualidade do conteúdo”. Quanto aos equipamentos necessários para a gravação, Foschini e Taddei (2006), Pereira (2013) e Miro (2013a) afirmam que o necessário para começar a gravação é um microfone, para captar as vozes dos participantes, e um computador, para realizar tanto a gravação como a edição e mixagem do áudio e afins. É importante notar que vários outros aparelhos hoje em dia podem ser usados para captar o áudio, além de microfones – smartphones e gravadores de mão são acessórios que podem fazer a mesma função de um microfone para captar voz. Porém, ao contrário do microfone, é muito complicado trocar a funcionalidade do computador de mixagem e edição do áudio gravado, pois não existem alternativas versáteis e de fácil utilização para tais tarefas em outros tipos de aparelhos como smartphones gravadores de mão, como acontece com a funcionalidade do microfone. Ainda no tópico de equipamentos, os autores indicam softwares para a gravação e edição dos podcasts nos computadores, as alternativas de software dadas pelos autores são Audacity10, Adobe Audition11, Soundforge Pro12 (PEREIRA, 2013), (MIRO, 2013a).

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Audacity é um editor e gravador de áudio de múltiplas faixas grátis e fácil de usar desenvolvido para Windows, Mac OS X, GNU/Linux e outros sistemas operacionais. Sua interface é traduzida para várias línguas.

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Uma vez que todos os elementos de preparação para o podcast foram apresentados, apresentam-se, a seguir, os elementos de produção de fato do podcast.

2.1.2 A pré-produção de um podcast A pré-produção consiste no planejamento do que vai ser dito em um podcast, assim como a leitura de qualquer material. Nesse quesito Foschini e Taddei (2006) expõem dois pontos primordiais para a pré-produção de um bom podcast. Inicialmente defendem que é necessário fazer um breve roteiro do que vai se falar, para que se possa navegar pelo assunto abordado com segurança, podendo dessa maneira calcular melhor o tempo do podcast com cuidado para essa estrutura não tire a naturalidade da fala ou do discurso apresentados. E preparar a conversa, no sentido da criação de uma pauta, ou seja, estudar o assunto que será abordado, dando espaço a entrevistadores que participarão do áudio, assim como a participantes que não têm um conhecimento profundo sobre o tema. Tremeschin (2013) define a pauta como “o texto que os podcasters (pelo menos o host) usarão para guiar a gravação”. Ele ainda explica que existem cinco tipos de pauta. Inicialmente ele expõe que existem podcasts que não têm pauta definida, os quais se parecem com uma “conversa de bar”, e ainda adverte que é difícil se ter um podcast desse tipo, pois difícil de se prever sua finalidade. A pauta-guia também é exposta. Como explicado por Tremeschin (2013), a pauta-guia é, na realidade, apenas uma lista do que deve ser falado durante aquele podcast, como ilustrado na figura 1.

(Audacity is a free, easy-to-use, multi-track audio editor and recorder for Windows, Mac OS X, GNU/Linux and other operating systems. The interface is translated into many languages). Disponível em 11

Adobe Audition CC. Estação professional para mixagem de áudio, acabamento e edição de precisão. (Adobe Audition CC. Professional audio workstation for mixing, finishing and precision editing). Disponível em:

12

Sound Forge™ Pro é a aplicação de escolha para uma geração de prolíficos e criativos artistas, produtores e editores. Grave áudio rapidamente em uma plataforma sólida, aplique processamento de áudio sofisticado com precisão cirúrgica, e renderize arquivos masterizados de alta qualidade com facilidade. (Sound Forge™ Pro is the application of choice for a generation of creative and prolific artists, producers, and editors. Record audio quickly on a rock-solid platform, address sophisticated audio processing tasks with surgical precision, and render top-notch master files with ease.). Disponível em:

28

Figura 1 – Pauta-guia de um podcast

Fonte: Elaboração do autor.

Depois dessas pautas, Tremeschin (2013) ainda expõe mais três pautas: a pautalembrete, que é como a guia, mas para cada um dos itens, haveria uma breve descrição de quais tópicos seriam abordados; a pauta-informativa, a ser utilizada em podcasts mais técnicos, sobre a qual o autor afirma:

Por ser o tipo mais complexo é o que pode variar mais de podcast para podcast. Mas sua ideia é basicamente ser dividida em tópicos e subtópicos e cada um contendo informações precisas e detalhadas sobre o mesmo (TREMESCHIN, 2013, p. 1).

E, por último, Tremeschin (2013) expõe a utilização da pauta-transcrita, que consiste do script em que a pauta é “exatamente o podcast em si”. O autor ainda afirma que esse tipo de pauta só deve ser feita quando uma pessoa realiza gravação, assim “o podcast será uma leitura da pauta”. Apesar desse tipo de pauta não parecer diretamente voltada ao entretenimento, o autor dá exemplos como Escriba Café13 e Café Brasil14, que são podcasts de apenas um apresentador e um microfone e que, em sua opinião, são podcasts de alta qualidade.

13

14

A história, o homem, seu mundo e o universo. Disponível em

Nossa proposta é reunir “personal trainers” que estimulem você a praticar uma espécie de “fitness intelectual” que ajude a manter seu cérebro em forma. Para isso, distribuímos “Iscas Intelectuais”, pequenas reflexões sob forma de artigos, discussões, vídeos, podcasts, cartuns e outras formas de expressão. Disponível em:

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2.1.3 A produção e a pós-produção de um podcast Tremeschin (2013, p. 1) define as fases do processo de produção de podcasts da seguinte maneira: Em uma ideia geral, enquanto que a produção de um filme pode ser dividida em pré-produção, produção, e pós-produção, um podcast também pode ser levado desta maneira. Em ambos, a produção será a gravação e a pós será a edição [...]

Dito isso, a seguir os passos que configuram a produção de fato dos podcasts são descritos, da gravação do programa, até a edição e publicação.

A gravação do podcast

Miro (2013a) divide o processo de gravação em dois ambientes: o presencial e o pela internet. E explica que, no ambiente presencial, fica claro que os integrantes e participantes do podcast se unirão em um lugar comum com os equipamentos anteriormente descritos (microfone ou similar e computador, se necessário) para a gravação do podcast. Já pela internet, são usados alguns outros softwares para a comunicação e outros para a captação do áudio da conversa. A essência desse tipo de programa é que seus participantes estão distantes geograficamente, impossibilitando um encontro presencial. Pereira (2015, p. 1) reitera:

Caso os integrantes do seu podcast não possam se reunir para a gravação, a solução é gravá-lo pela internet. Como você já deve imaginar, a primeira coisa que você e os parceiros de podcast devem ter é uma conexão razoável e estável. Isso é necessário para evitar quedas e uma qualidade ruim de áudio.

No caso da gravação pela internet, inicialmente é necessário um software de conexão com os outros participantes e integrantes do programa. Geralmente, o programa mais utilizado para realizar a conexão é o Skype15, como defendido por Snell (2015, p. 1, tradução nossa)

15

Skype é um sistema de troca

de mensagens

que

pertence a

Microsoft.

Disponível

em:

30

O Skype permite conversas com um áudio de melhor qualidade que uma conversa telefônica normal, e pode-se ter chamadas, com duas, três, cinco, até dez pessoas todas de uma vez.16

Snell (2015) ainda expõe que existe mais de uma maneira de se gravar o programa quando se está usando uma ferramenta de comunicação como o Skype. Inicialmente Snell (2015) explica que uma pessoa, geralmente o host, ou a pessoa que editará o programa grava todas as trilhas de áudio, assim compondo uma grande trilha, assim como se tivessem várias pessoas em uma sala gravando com um único microfone. Dessa maneira, não existem muitas maneiras de ajustar separadamente a voz dos ouvintes, dando menos possibilidade a edição do áudio. Outra maneira popular de gravação, também apresentada por Snell (2015), é quando cada integrante e participante do programa grava o seu próprio microfone e, depois do fim da gravação, entrega aquele áudio para o editor do podcast. As duas maneiras são totalmente válidas para a gravação de um podcast. É possível perceber que, entre esses e outros recursos, a configuração de gravação do programa pode ficar bem complexa. Foschini e Taddei (2006) reforçam a ideia, certos de que “quanto mais sofisticar a produção do podcast, mais terá de entender sobre programas de edição de áudio”.

A edição e publicação do podcast

Como já exposto anteriormente, existem vários softwares capazes da tarefa de editar o podcast recém gravado. Foschini e Taddei (2006) definem alguns processos de edição como retirar ruídos, adicionar filtros de áudio, adicionar vinhetas, trilhas sonoras e a conversão para o arquivo MP3. Miro (2013b) adiciona mais alguns aspectos importantes ao processo de edição do podcast. Ele explica que dividir o programa em blocos e fazer uma transição de um bloco para outro é uma boa prática e que se deve procurar não realizar transições bruscas de músicas ou efeitos sonoros diretamente para as vozes dos participantes. Tal transição deve ser realizada de maneira mais suave, utilizando recursos do editor como um dos filtros presentes em todos os editores de áudio anteriormente citados, os de aparecimento e desaparecimento

16

Skype lets you have audio conversations with quality beyond what you’ll find on a regular phone call, and you can have calls with two, three, five, even ten people on it all at once.

31

gradual17. Outro ponto exposto por Miro (2013b) é utilizar um software para nivelar o volume das vozes gravadas como o Levelator 18 , o que melhora a qualidade do áudio antes de se começar a gravar, assim se tem menos discrepâncias nos volumes das vozes dos integrantes. Com o passo final da produção de um podcast, vem a tarefa de publicá-lo. Para a publicação do material, é necessário realizar os seguintes dois passos: o primeiro seria realizar upload do arquivo final, convertido ou não para MP3 para um servidor, isso é um serviço geralmente provido pela iniciativa privada chamado de hospedagem (FOSCHINI, TADDEI; 2006). Já o segundo passo seria configurar uma maneira de distribuir esses arquivos. Para a execução do segundo passo existem duas alternativas, a primeira utiliza a configuração de um nome para que os arquivos dos podcasts facilmente acessíveis por outros na internet, esse serviço é chamado de configuração de domínio. (MIRO, 2013a), (FOSCHINI, TADDEI; 2006). Já a outra alternativa é a criação de um arquivo RSS e divulgalo manualmente na web. É importante dizer que as duas alternativas ao segundo passo da publicação do podcast não são excludentes, pode-se ter um domínio, onde os podcasts ficam acessíveis pelo nome, geralmente em uma página web e conjuntamente pode-se ter um arquivo RSS para a publicação imediata dos podcasts. Agora que todos os aspectos que cercam a criação de um podcast, da pré-produção a pós-produção foram apresentados, para melhor ilustrar seus processos segue no quadro 1 uma representação mais simplificada das fases da produção de áudio e as tarefas a serem realizadas para sua completude.

Quadro 1 – As fases e as tarefas da produção de podcasts Fase da produção

Antes de começar

Pré-produção

17

18

Tarefas da fase Escolha de:  Formato;  Nome;  Temática;  Participantes;  Equipamentos. Escolha e criação de uma pauta, as opções

Fade-in, fade-out.

Software livre utilizado para nivelar os sons encontrados durante a gravação do áudio. Disponível em: .

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Produção

Pós-produção

são:  Sem Pauta;  Guia;  Lembrete;  Pauta-Informativa;  Pauta transcrita. Gravação com equipamentos escolhidos Edição do áudio gravado a fim de melhorar o som para o ouvinte. Hospedagem do áudio em um serviço de hospedagem. Compartilhamento do link hospedado, ou por RSS ou por Domínio. Fonte: Elaboração do Autor.

Visto que todos os aspectos cercando a produção de um podcast foram pormenorizados, é possível basear com bibliografia uma das técnicas de publicação da ferramenta, sendo assim o RSS é apresentado a seguir.

2.2 RSS RSS é uma sigla que já teve vários acrônimos: rich site summary, really simple syndication ou, ainda, RDF site summary. Todos esses acrônimos representam várias versões dessa mesma tecnologia. Segundo RSS 2.0 Specification (2003, tradução nossa), “seu nome é um acrônimo para ‘distribuição, como num sindicato, realmente simplificada’”. 19 Uma “pilha de conteúdo” digital é distribuída por RSS, que, em suma, é um framework de distribuição dessa pilha, que é chamada de feed. Sendo assim, cada publicador de conteúdo na web tem seu próprio RSS feed (HOLVOET, 2006). Para entender o conceito de um feed como uma pilha de conteúdo, é necessário aprofundar-se a respeito de sua constituição.

2.2.1 O Feed O feed é um arquivo contendo eXtensible Markup Language (XML) com alguns elementos obrigatórios. A linguagem de marcação XML, por sua vez, é para a marcação de documentos, e contém informações estruturadas. Ao contrário do HTML, outra linguagem de

19

“Its name is an acronym for Really Simple Syndication” (RSS 2.0 Specification, 2003).

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marcação que tem por objetivo a exibição de páginas web, o XML marca o texto a fim de transmiti-lo e/ou classificá-lo. E, sendo o objetivo outro, também é seu conjunto de tags20, que, no caso, nem são fixamente especificadas como no HTML. Visto que essa é uma linguagem para classificação de dados, não há ponto na predefinição de tags. Segundo Whalsh (1998, tradução nossa): “XML não especifica nem semântica, nem um conjunto de tags”21. A dúvida então pode ser desperta pelo leitor, quanto qual o objetivo de um arquivo com linguagem XML. Um arquivo XML pode especificar uma miríade de conteúdos, como por exemplo, o título de uma página, ou o texto contido na página, um link para o download de um podcast, entre muitos outros. Segue exemplo de uma, dentre infinitas maneiras de se estruturar uma pessoa, em XML. Figura 2 - Pessoa.XML

Fonte: Elaboração do autor.

É possível visualizar, a partir da Figura 2, como funciona a estruturação de dados por XML, assim como suas atribuições semânticas. A primeira tag: serve para que outros sistemas ou páginas identifiquem esse arquivo de somente texto, inicialmente, como XML, mas ela não é obrigatória. Seguindo, nota-se que as tags delimitam o escopo de uma pessoa, ou seja, suas propriedades e características estarão entre suas tags de abertura e fechamento. Seguindo tal lógica, é constatado que as tags , , e , significam, respectivamente, nome, idade, profissão e trabalho de tal pessoa (WALSH, 1998). É desse tipo de estruturação de dados que é constituído um RSS feed, conforme visualizado na Figura 3: 20

Estruturas de linguagens de marcação, geralmente utilizadas para delimitar início/fim de uma regra ou algum objeto semântico. 21

“XML specifies neither semantics nor a tag set”.

34

Figura 3 – giantbomb.rss

Fonte: Elaboração do autor.

O código apresentado na Figura 3 mostra uma semelhança latente na eestruturação de “Pessoa” anterioromente visto e a definição de um RSS feed. Entre as tags ficarão os elementos que delimitarão as informações do feed. É importante ressaltar que esse não é um RSS feed comum, esse é um RSS feed de um podcast, mais especificamente do podcast chamado Bombcast 22 . É importante notar que RSS feeds diversos têm certas especificidades para serem considerados RSS feeds (RSS 2.0 Specification, 2003). A mais importante é que o arquivo XML deve conter uma tag e, dentro dessas tags, ficarão os elementos do feed. As tags devem conter, como visto na Figura 3, obrigatoriamente o atributo version, que, por sua vez, deve conter qual a versão, ou seja, quais as regras que se aplicam somente àquela versão de arquivo de feed. Para efeito de

22

Podcast sobre videogames distribuído pela CBS Interactive. Para maiores informações, pode-se acessar .

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explicação, aqui, serão demonstrados os elementos obrigatórios da versão 2.0 do RSS, visto que é a mais recentemente publicada em sua especificação RSS 2.0 Specification (2003). Dentro do escopo de , existe a tag, também obrigatória segundo a versão 2.0 denominada . Dentro dessa tag, ficarão todos os elementos de referência ao feed, e, para referenciar essa área do arquivo de feed com mais facilidade, essa área do arquivo será denominada “escopo do feed”, visto que todas as informações necessárias do feed ficarão contidas dentre essas tags. Para ser denominado um feed, escopo deve conter três tags obrigatórias: , e , que são bem autoexplicativas em seu conteúdo como um todo. Dentro das tags

43

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