O vento com duas faces

September 11, 2017 | Autor: A. Revista Interd... | Categoria: Arquitectura, Arquitetura, Arquitetura e Urbanismo, Estudos urbanos, Arquitectura y urbanismo
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O vento com duas faces Sílvio Silva1 (Portugal)

O silêncio namora com a cidade, pois os corpos que pintam os espaços voaram para a periferia, onde os preços rondam as migalhas e onde as portas de alguns equipamentos públicos se abriram. E o que era antes um jardim de cabeças a dialogarem sobre as vicissitudes do quotidiano, não é agora mais do que uma memória moribunda a mugir os últimos espasmos, como se as praças e as ruas fossem pequenos infernos. Mas o paradigma para a regeneração urbana tropeça na globalização. É certo que esta palavra permite ao filósofo dos espaços pensar em fiapos de cidade mais atractivos ao global, com intuito de a tornar mais sedutora aos agentes económicos, mas também é certo que os seus traços podem-se repetir, anulando paulatinamente os sinais memoráveis de um povo. Como equilibrar então estes gomos? Há uma tradição que nos fez chegar até aqui. Conservá-la é a única hipótese de sobreviver no mundo, de dizermos olá a quem não nos conhece. Mas compreender a essência do todo é fundamental, porque podemos descobrir nele valores possíveis de se incorporar no desenho de uma memória. Para isso, os fantasmas da cidade devem ser expulsos com os empurrões dos agentes culturais e das actividades criativas, como se fossem catalisadores e potenciadores da regeneração urbana. The silence is engaged with the city, the bodies which paint the places flew to the edge, where prices are around the crumbs and where the doors of some public facilities were opened. And what was once a garden of heads dialoguing about the vicissitudes of everyday life, is now no more than a dying memory mooing the last throes, as if the squares and streets were like tiny hells. But the paradigm for urban regeneration stumbles on globalization. It is certain that the word allows the philosopher of spaces to think about city lint more attractive to global, more appealing to operators, but it is also true that its traces can be repeated, blanking gradually the memorial signs of a nation people. How to balance these wedges? There is a tradition that brought us this far. To keep it, it’s the only chance of surviving in the world, say hello to anyone who doesn’t know us. But understanding the essence of the whole is fundamental, because we can find within it values which are possible to incorporate in the design of a memory. For this, the ghosts of the city must be expelled with the pushes of the cultural and creative activities, just like catalysts and enhancers of urban regeneration. Palavras-chave: Espaços Públicos, Regeneração do aglomerado urbano, Globalização, Agentes Culturais. Keywords: Public spaces, Regeneration of urban agglomeration, Globalization, Cultural agents.

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Arquiteto.

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A noite tropeça no dia e enche a cidade de ignorâncias. Aqui e ali surgem pontinhos artificiais, que incendeiam as torres metálicas ou as lojas quase despidas de artigos. Nos pisos que encaixam sobre esses dorsos moribundos, vivem velhos fantasmas, que pedem esmola na vivacidade anárquica da periferia, onde os preços rondam as migalhas e onde as portas de alguns equipamentos públicos abriram arraiais. No fim deste extracto de cidade surge-me ao rosto e ao rosto das fachadas com solidão uma Praça com desenho. No centro desta, a estátua de um patriota organiza-a cuidadosamente, como se organizasse uma superfície artificial, porque a essência deste espaço está engavetada numa bibliografia de um génio. Ao pé dela estão alguns bancos de pedra. Com o corpo refastelado nessa eloquência, olho para a composição abandonada e penso, “O que era antes um jardim de cabeças a dialogar sobre tudo não é agora mais do que uma memória asquerosa a mugir os últimos espasmos, como se as praças e as ruas fossem pequenos infernos”, enquanto abano negativamente a cabeça. Mas largo de súbito a reminiscência, pois a noite está fria e o sono carrega-me nas pálpebras. Levanto-me e desço a vereda, que está iluminada pelas luzes do céu. Pouco depois surge-me ao olhar um rectângulo conhecido. Paro o ímpeto junto dele e retiro do bolso do casaco uma estranha chave. E com ela a mexer-se por entre os meus dedos, coloco-a na fechadura e rodo-a. Quase no mesmo instante, a porta move-se ligeiramente. Sorrio e empurro-a com violência. Depois de vários pestanejos, a noite adormece no incerto. Para o seu lugar surge a alvorada, que é empurrada pelos senhores dos galinheiros. Na mesma proporção, coloco os pés no empedrado e vou até ao café da esquina, onde fazem umas torradas deliciosas. Como-as como um guloso e desapareço da solidão, que apenas conhece alguns forasteiros que insistem em namorar os desígnios da decadência. Sobre a Praça da República, outrora sala de visitas da cidade, os esqueletos com dores agasalham-se nas sombras das árvores, “E a massa humana empanturra a tristeza, caros amigos”, “É verdade, Manel. Os sinos do trabalho exigem a presença dos

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trabalhadores”, e agarram-se ao saber empírico como ninguém, navegando por mares pouco navegados. Mas o princípio da noite volta a cravar as garras nas costas do dia. E por causa disso, a luz que ofuscou a cidade perde a intensidade da adolescência, como se a obrigasse a transformar-se lentamente num deserto sem cheiro, num rio sem peixes, “Adeus, caros concidadãos do silêncio. Tenho que pensar em razões sobre a Renovação Urbana e Memórias Históricas”, “Não te esqueças de nós, homem”, “Não me esquecerei de ninguém”, sorrio e despeço-me dos meninos com a pele engelhada. Momentos depois, entro no meu conforto, que mais parece um refúgio de livros. Vou até à varanda, que fica a três pisos de altura do empedrado, e respiro o chilrear das bolas de penas. Ao longe, pregadas no horizonte, grandes torres iluminadas buscam o infinito. No meio delas, largas filas de máquinas com botões contagiam os nervos com desassossegos. Aqui, no centro das memórias, as luzes são meras obrigações sociais, pois não passam de simples desperdícios, pois não passam de simples bolas que enfeitam as fachadas ou o ar decadente. Agarro na cadeira centenária e acomodo-a no centro da varanda. Com gestos muito delicados, coloco o corpo debilitado sobre a fragilidade, “Regeneração da malha urbana”, surge-me ao pensamento, no mesmo instante que sinto o conforto a percorrerme os ossos, “É isso”, grito que nem as erupções, olhando para a cidade vazia que se degrada, como se olhasse para o território colectivo sem alma, “Regeneração da malha urbana”, repito, esgravatando o silêncio com o rosto. E assim que o bulício das minhas palavras morre na praia da noite, fico a exigir recomendações aos incautos que deambulam na vereda empedrada, como fazem as estátuas dos Tenentes-Coronéis. Uma lufada mais erudita e mais traquina empurra-me suavemente. Liberto-me da negra rigidez e volto a sentar-me. Ao longe, a nuvem anárquica continua a poluir o desassossego, pois a organização do espaço daquele território é uma malga de agulhas cravadas aleatoriamente no barro. E o que devia ser um paraíso dos faraós, a viver nas histórias com alegres memórias, é um enorme abismo, é um enorme flagelo. Com responsabilidades no crime, a máquina económica despreza tal desgraça.

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Subitamente, do meu lado direito, pressinto um ligeiro movimento. Sacudo os olhos, pois a imagem do horizonte esbofeteou-me o sentimento, e investigo o mistério, “Como vai o preguiçoso?”, o meu gato, com as costas um pouco inclinadas, senta-se na sua almofada, colocando as patinhas frontais sobre a bengala de madeira, “Regeneração da malha urbana?”, atira um espirro e olha para as construções desabitadas, que já lhes falta vários pedaços do pensamento, “É uma excelente vereda para voltarmos a gostar da cidade; é uma excelente vereda para recuperarmos a vida das memórias”, retira o olhar da crosta epidérmica e pousa-o no horizonte, “Temos quase sempre a sensação de que os lugares mais antigos apresentam maior urbanidade do que os lugares mais recentes. Talvez a diferença esteja na construção do objectivo: o homem para o lucro fácil”, “É um facto, companheiro. Mas prefiro centrar energias na regeneração do aglomerado urbano, porque se esses centros desmoronam uma parte desta cultura desaparece”, “E como consequência, a pura identidade da cidade será apenas uma saudosa reminiscência”, “É como se nos tirassem um braço ou uma perna do corpo”, “Ou até a língua”, sorrimos como dois janotas da eloquência, “Há uma tradição que nos fez chegar até aqui. Conservá-la é a única forma de sobrevivermos às culturas, de dizermos olá a quem não nos conhece”, pouso a mão direita sobre o dorso do meu companheiro, “Regenerarmos o património construído é como se revitalizássemos a nossa própria alma”, e digo-lhe suavemente. A bola de pêlo coça o nariz e olha-me, “Desse esforço virá um mar de oportunidades. Mas há que as trabalhar com perícia”, encolho os olhos dentro do crânio e enrugo a pele da testa, “Não entendi. Escapou-me algo”, “Vamos até à Praça do patriota”. Em menos de um suspiro, colocamos os passos trôpegos no reino do diabo, onde o silêncio e o mistério se encaixam na perfeição. Respiramos tristemente e calcorreamos o empedrado. Pouco depois, a estátua do patriota convida-nos a sentar num dos bancos com humidade. Sem hesitações e sem rodeios, aceitamos a gentileza. Quando uma pequena nuvem esconde algumas estrelas cintilantes, o meu companheiro pousa as costas na pedra e fixa o olhar no queijo negro, “Colorir o património arquitectónico com um novo paradigma é uma tarefa complexa mas fundamental. Como pensas descobri-lo?”, olho para o velho pensador e rasgo o cansaço com um pequeno AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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sorriso, “Junto os filósofos dos espaços e trabalhamos sobre o papel vegetal. Assim que descobrirmos um desenho que não deturpe qualquer alínea da nossa cultura e faça expulsar os fantasmas do silêncio, podemos construir a ideia”, “O futuro da Arquitectura está nas ideias, como defende e bem o Alberto Campo Baeza. Porém, para esboçares uma ideia é necessário ler atentamente todos os contextos do problema”, “Quando ela parte de premissas promissoras, está pronta para ser construída”, “Isso é muito redutor, companheiro, pois nem sempre o que achamos ideal é o correcto”, “Tens razão, por vezes a construção da ideia traz-nos o dissabor da mentira”, dois vampiros esquisitos atravessam a Praça e desaparecem por entre as sombras, “Gostaria que nos afastássemos destes vocábulos e nos concentrássemos apenas na problemática”, o meu companheiro levanta-se e senta-se na pedra, “Falaste que os filósofos dos espaços irão regenerar a malha urbana, como se procurassem o antídoto nos microscópios”, “Sim, nem mais”, “Tenho a certeza que os fiapos da cidade ficarão atractivos e conexos com as forças existentes, pois as rectas e as curvas serão pensadas como se fossem encaixes de madeira: o desenho dos espaços dissolvidos nos alinhamentos da cidade”, “As tradições irão ser o que eram”, “Mas não achas que a sedução ao magote pode terminar num novo silêncio?”, a pequena nuvem abafa a lua. Sem que nada fizesse esperar, ergo o corpo até à verticalidade e caminho. Ao pé do patriota coloco-lhe a mão esquerda sobre os sapatos e viro os olhos para o meu companheiro, “Esta estátua ficará iluminada pelas luzes dos comércios e das habitações, onde as famílias irão prosperar que nem cogumelos, e esta Praça será pequena para albergar tantos sapatos, nomeadamente nos dias de sol e nas noites quentes de Verão. Nada irá mudar esse paradigma, velho amigo. A algazarra voltará a estas pedras, vais ver”, “Estás a esquecer-te de um pequeno mas grande pormenor”, “Qual?”, “ A tua regeneração urbana e o teu paradigma tropeçam na globalização, que é uma forma de anulação de culturas”, alargo o olhar e cruzo os braços, acasalando-os contra o peito, “Esse raio baralha-me as cartas, companheiro”, “Repintar os sinais memoráveis da cidade é um mar de oportunidades. Porém há que as trabalhar com perícia, porque se assim não for podes cair nas tentações das repetições”, dá dois espirros muito grossos, “Um dos aspectos mais salientes do mundo contemporâneo é a influência de uma AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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cultura comum, como afirmava Fernando Távora”, “Mas ela encontrará por todo o lado valores culturais autóctones, companheiro”, “A defesa desses valores será enorme, caro amigo, mas é provável que alguns pilares sociais se desfaçam com os beijos da globalização”, engulo uma saliva seca com a afirmação. Despeço-me do patriota com um pequeno sorriso e deambulo por entre a Praça, olhando para o negro do céu, onde a nuvem engole um avião, “As identidades dos povos serão então engolidas pela globalização. Não posso deixar que isso aconteça aqui”, desprego o olhar da noite e cravo a fúria na bola de pêlo, “Uma atitude correcta, caro amigo. Mas não podes deixar que os nervos te interfiram com o raciocínio”, diz-me calmamente, sem despregar o corpo da inércia. Respiro fundo e volto a colocar o corpo sobre o banco de pedra, “Tens razão, os nervos não ajudam a procurar as veredas do futuro”, estico as pernas e coloco as mãos nos bolsos da calça, “Regeneração da malha urbana, regeneração da malha urbana”, “Até sonhas com ela”, deixo sair das minhas narinas algumas casquinadas inquietas. Quando o silêncio volta à Praça, coloco as pernas sob os meus glúteos, “Redesenhar espaços moribundos não é só escavar a memória e colocar os meninos da cidade a apropria-los”, “Sim, eu sei”, “Redesenhar espaços moribundos também é pensar na sedução dos agentes económicos: internos e externos; também é pensar nas novas vicissitudes políticas e morais; também é pensar nas novas necessidades; também é pensar num conjunto de coisas que vão além do simples alinhamento de forças ou do simples prolongamento de ritmos, que o urbanismo desta cidade exige. Redesenhar espaços moribundos também é pensar nos habitantes das outras cidades, pois o mundo global é um mundo de oportunidades, pois o mundo global é um mundo de exigências”, “Mas também é um mundo de flagelos! As uniformidades dos gestos, como disseste, é um dos exemplos”, “Compreender a essência do todo, companheiro, é poder descobrir nele valores passíveis de os incorporar no redesenho da memória sem danificar as tradições do rebanho. E isso tem uma grande vantagem: cidade mais atractiva ao global é uma cidade mais aberta à riqueza”, “Como é possível equilibrar esses gomos?”, a inércia do seu corpo é expulsa por um longo bocejo. Quase em simultâneo, os pequenos olhitos enchem-se de rios, como se o Inverno fosse todos os dias. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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Pouco depois, com gestos muito cuidadosos, coloca o corpo sobre a pedra e limpa o pêlo com a língua. Por vê-lo numa intimidade desairosa, a minha sobranceira esquerda atira a incompreensão para o céu. Mas o desajeitado, imbuído nas minuciosas limpezas, não recoloca a compostura dos Deuses, “Como é possível equilibrar esses gomos?”, pergunto-lhe novamente, agarrando-me aos nervos. O meu companheiro afasta a cabeça das perninhas traseiras e olha-me com veemência. Agarra-se à letargia, observando-me como um detective, mas desprende-se dela num abrir e fechar de olhos, “Rejuvenescer as memórias na era da globalização é essencial ter dentro do corpo duas posições antagónicas”, “Quais?”, “A primeira é uma posição de desespero, a segunda uma posição de esperança, mas a base de qualquer uma delas deverá conter a consciencialização dos problemas que afectam a atitude”, “Desespero, esperança, problemas? Troca isso por miúdos”, “Depois de abraçarmos a vontade, é necessário entender que a problemática da decisão é bastante complexa, pois esse mar tem demasiados tubarões com dentes afiados”, “Olha, já estou a tremer! E não é de frio”, “Com a consciencialização desse facto, ou seja, com a consciencialização de todos os problemas inerentes ao gesto, o desespero deve dar lugar à esperança. Se formos conscientes que tudo tem solução, desde que tomemos todas as medidas essenciais à investigação, o futuro irá navegar no paraíso”, “Volto à questão que me lateja no cérebro: como é possível equilibrar esses gomos?”, abre a boquita e deixa que um sorriso suave se crave nos seus lábios. Na vereda dos ociosos, uma dúzia de juvenis cavalgam lentamente a imaturidade, “Ó malta, o escuro encobrirá as nossas asneiras”, “Não sei, a polícia pode…”, “Cala-te paspalho, só dizes parvoíces”, e o brutamontes empurra o franzino com frieza, que o faz voar até à memória moribunda, “Quando é que alinhas nas brincadeiras sem dizer um se? Ah? Que puto chato!”, ajeita o cabelo com as duas mãos e olha para a magote amedrontada, “Vamos partir uns vidros e despejar uns contentores do lixo, malta?”, “Siiiimmmm”, responde o grupo em simultâneo. Quase no mesmo instante, as mãos e os braços varrem a solidão, como se a tempestade varresse a cidade. Porém, instantes depois, os membros perdem a genica e as línguas saltam das bocas desidratadas, “Bom trabalho, gente! A coisa ficou bem desfeita”, atira o brutamontes AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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com dificuldade, “Bem, vamos para a tasca do Silva. Precisamos de recuperar as forças”, coloca o corpo na verticalidade, “Porque existe muito para destruir”, e empurra os cadáveres ofegantes. No céu, uma nuvem mais larga e mais espessa agarra-se aos sapatos da outra. Por causa dessa união, a Praça sem sorrisos fica menos resplandecente, “Estes canalhas mereciam um chicote no lombo”, rosno com fúria, “Quando abrimos as portas às aranhas, não há nada que fique em paz”, “Grandes corjas! É preciso não ter sangue no corpo para se ser capaz de destruir os membros da memória”, “Tem calma, companheiro, tem calma. Os teus dentes já não podem viver ao pé dos nervos”, “Sim, eu sei, mas aquelas cenas…”, “Aquilo é o resultado das vontades do burgo”, “E como essas vontades abraçam o abandono, os espaços atraem os mosquitos da miséria”, “E atraem também a noite e o desespero”, “Por falar em desespero, estou ciente dos problemas e abracei a esperança. Que mais devo fazer?”, a bola de pêlo salta para o empedrado e estica os músculos das patas. No fim dos gestos indelicados, senta-se novamente no banco de pedra e coloca as patinhas frontais sobre a bengala de madeira, e coloca sobre elas a velha cabecita, “Vamos esmiuçar a tua pergunta: como é possível equilibrar esses gomos?”, tira a patinha esquerda da bengala e coloca-a a massajar o queixo, “Como vimos, para regenerar a malha urbana é preciso contornar a globalização. Mas não deves afastá-la muito, porque ela permite aos indivíduos, aos grupos e às organizações do mundo mergulhar nas dificuldades das escolhas”, “Isso faz-me lembrar a afirmação do François Ascher: ‘A globalização alarga, de maneira inédita, a paleta na qual os indivíduos, os grupos e as organizações mergulham para fazer as suas escolhas e desenvolver as suas especificidades’2. Encontrei-a num livro que já não me lembro do nome”, “Que cabeça avariada! A idade não perdoa!”, e sorri largamente, “Olha, o tipo com os dentes quase na cova a mandar injúrias”, e sorrimos com familiaridade. Quando os sorrisos se desprendem dos nossos lábios, um assobio forte enche-me a caixa do pensamento, “Falaste da problemática dos gestos uniformes, assim que tocaste na palavra globalização. Concordei contigo. Mas a minha concordância com ela baseia-se 2

François Ascher – Novos princípios do urbanismo seguido de Novos Princípios do Urbanismo. Um Léxico – Lisboa – 2010, pág 41. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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no saber empírico”, coloca a patinha esquerda sobre a bengala de madeira e olha-me com ternura, “A tua questão com barbas deverá permanecer então nas nossas cabeças, pois é preferível abater antes as dúvidas sobre os gestos uniformes”, com um pulo fugaz, o meu companheiro coloca o corpo no púlpito do patriota, “Vamos caminhar. Quero-te levar a um sítio”, retiro o corpo da pedra fria e agarro-me à noite. E quando ela me acaricia os cabelos grisalhos, dou duas guinadas muito duras para o lado direito, como se enxotasse uma dor amarga, e olho para o céu, “A minha pergunta já tem aranhas no dorso”, “Não sejas resmungão, caro amigo, faz o que te digo”, deslizo o olhar para o sabichão e vejo-o a saltar para o empedrado, “Ó tipo de língua afiada, toca a mexer a preguiça”, “Eu digo-te, velho rufia, eu digo-te umas quantas verdades sobre os teus gestos”, e movo lentamente a inércia, abanando a cabeça com irritação, “Não dês importância ao que não tem mais do que uma ironia brincalhona”, alargo as retinas e expulso os nervos do corpo. Ao pé do rio, viramos à esquerda e caminhamos até ao castelo. Mas antes de o invadirmos, torcemos os narizes cansados para a direita e palmilhamos avenidas muito largas, “Falta muito, companheiro? Tenho o corpo quase sem forças”, “Estamos quase a chegar, caro amigo, estamos quase a chegar”, com efeito, junto a uma Praça com dias de vida estacionamos o cansaço na relva, “Nossa Senhora dos Aflitos, obrigado por nos dares esta alegria”, “Estás um queixinhas enjoativo, velhinho!”, “Não tenho feito exercícios. É normal…”, mas interrompo bruscamente a minha explicação, porque grandes magotes de máquinas voadoras aparecem e desaparecem sobre a língua negra, que se perde por entre os horizontes, “Do outro lado, a cidade continua”, diz-me a bola de pêlo, como se agarrasse nas sombras e as enxotasse do meu corpo, “E cortam com não lugares a união das memórias?”, “Como diz o antropólogo Edward T. Hall, a dimensão oculta é o espaço necessário ao equilíbrio de qualquer ser vivo. Mas no homem essa dimensão torna-se cultural e por isso cada civilização tem a sua maneira própria de conceber as deslocações do corpo, a disposição interior das casas, as condições de uma conversa, as fronteiras da intimidade”3, engole um cansaço e retira da testa um desassossego, “Mas como a globalização necessita de ter uma mobilidade 3

Edward T. Hall – A Dimensão Oculta – Lisboa – 1986, contracapa

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generalizada, rápida e eficaz, as necessidades esgravatam a eloquência das culturas”, “E com isso, as civilizações perdem o controlo sobre as memórias”, “Nem mais, caro amigo”, coloca as patinhas frontais sobre a bengala de madeira e espirra suavemente, “Saúde”, “Obrigado”, limpa o nariz com a pata traseira esquerda e fixa o incerto, “A periferia é um lugar sem cheiros, porque é um turbilhão de desacertos”, a voz perde o fulgor da razão. Talvez aquela chuva comovida, que lhe cai das nascentes, lhe tenha entupido o discurso da consciência, “Aqueles monstros de vidro, que esburacam a sensibilidade do céu, não entregam as almas às características do burgo”, diz subitamente a bola de pêlo, depois de sugar o rio com o aspirador da raiva, “Nada encaixa com nada”, “Mas está na moda, caro amigo”, “As proporções, os movimentos, a intimidade, o discurso e tantas outros factores, de Nova Iorque ou de Tóquio, por exemplo, não são semelhantes aos corpos das cidades rurais”, “Porém, introduzir princípios actuais nessas cidades…”, “Introduzir não é devastar, percebes?”, “Pois, tens razão”, sacudo o bigode com os dedos indicadores, “A pacatez e o desenho das memórias não condizem com esta selvajaria”, “São dicotomias perfeitas, companheiro, são dicotomias perfeitas”, diz-me quase a vociferar, esbofeteando a relva com as patinhas. Com gestos muito rápidos, que mais parecem as mãos de mágicos, os nervos libertamno das agressividades. Sentindo-se sem as agulhas da hipérbole, ele coloca a bengala e o corpo nas posições habituais, “Compreendeste a problemática dos acenos uniformes?”, pergunta-me, fixando o olhar na língua preta, “Estes extractos da verdade dizem-me muito sobre os movimentos da globalização”, “Mas existem quase uma infinidade de…”, “Já compreendi, já compreendi”, e sorrio. A dança do eucalipto com as pequenas lufadas permite à luz artificial escorraçar intermitentemente as sombras do meu companheiro, que afugenta os fantasmas da periferia com o olhar, “Estás bem?”, descrava a fúria do mal e olha-me com extensa ternura, “Tenho o peito a querer morrer”, “Não o deixes”, levanto-me e estendo-lhe a mão direita. Da tristeza nasce-lhe uma pequena satisfação, como se o dia rasgasse a noite, enquanto as patinhas frontais deslizam até à montanha. Quando elas a tocam, movo delicadamente a floresta,

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obrigando-o a içar-se com eloquência, “Vamos voar”, pede-me, assim que a cabeça sente o arrepio da rectidão. Antes que a dor nos esprema os sentimentos e o sangue imaculado, atiramos os corpos para as estrelas, onde corremos como galgos, “Não quero voltar a sentir o desprezo pela essência arquitectónica, porque o homem merece respirar o equilíbrio perfeito entre o construído e o natural”, repete a bola de pêlo sem se engasgar, “Os construtores da anarquia deveriam mastigar o livro de Bruno Zevi: ‘Saber ver a arquitectura’. Talvez o pudor lhes mordesse a coragem assassina”, cuspo para o inferno com garras de águia. Como se fossemos um cometa que não destrói, as nossas desilusões embatem na Praça dos silêncios, “Finalmente, o cheiro da verdade”, “Preciso da pedra”, atiro-me para o conforto do banco e deixo que a minha respiração encontre os trilhos da pacatez. O meu companheiro, com a bengala a esgravatar um diálogo com o patriota, encosta o pêlo no púlpito, “Estás bem?”, vira a cabecita e olha-me, “Agora estou”, pousa a relíquia junto a si e cruza as patinhas frontais, acasalando-as com o peito eriçado. No céu, várias nuvens pardacentas constroem uma teia impermeável, “A regeneração do aglomerado urbano tropeça na globalização. Mas para ele ser atractivo ao global, sem danificar as tradições do rebanho…”, “Como é possível equilibrar esses gomos?”, interrompo-lhe, pintando a cara com sorrisos, “Tem calma. Deixa-me falar até ao fim”, e sorri como um infante com um rebuçado na boca, “Recapitulando: existe uma necessidade: recuperar a vitalidade e a juventude do aglomerado urbano com intuito de revitalizar as memórias. Porém, esta vontade esbarra na globalização, que é uma força que uniformiza os gestos”, “Move-se lentamente os ingredientes, e?”, “E coloca-se os agentes culturais a construir actividades criativas”, “E agora tenho na minha cabeça periquitos a voar! Foste duro!”, salta para o púlpito e agasalha-se aos pés do patriota, “Como é imprescindível pintar as memórias com sorrisos, não chega só produzir uma tinta com validade, porque é mais do que necessário arquitectar produtos que eternizem os movimentos dos sapatos sobre os silêncios actuais e que, ao mesmo tempo, seduzam a economia local, dos arrabaldes e do exterior”, “Podemos regenerar os espaços de acordo com as regras culturais do burgo, mas eles poderão voltar a morrer, caso não tenham manutenção. É isso?”, “Caso os espaços não tenham ímanes de sedução, a capa branca AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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passará a capa preta num período curto”, levanta o corpo e atira-me os olhos de pensador, “Fernando Távora escreveu: ‘…o que hoje era espaço vivo pode ser amanhã espaço morto, o que ainda hoje era ordem pode amanhã ser desordem’1. Para combater esta volatilidade contemporânea é necessário traçar sobre a regeneração do aglomerado urbano braços voluptuários que obriguem os transeuntes a permanecer nas memórias. Mas como diz também o Távora, ‘…projectar, planear, desenhar, não deverão traduzirse para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido, impostas por capricho da moda ou por capricho de qualquer outra natureza. As formas que ele criará deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a sua visão pessoal e a circunstância que o envolve…’1. E aqui intervém os agentes culturais a construir actividades criativas, como se fossem catalisadores e potenciadores das memórias moribundas. A cultura, a arte, a ciência podem assim, se articuladas com estratégia, ser um forte instrumento de regeneração urbana eficaz”, “Estou a compreender e a imaginar o equilíbrio entre as duas caras da mesma moeda”, “O vento, que é a necessidade, escorrega no dilema da globalização: uniformidade dos gestos ou a cultura autóctone. Mas ao introduzir os agentes culturais nesta indecisão, a caçadeira mata vários pardais”, salta para o empedrado e espreguiça-se com veemência. No céu, as estrelas voltam a picar o queijo negro, pois as nuvens pardacentas são reminiscências. Ao pé da lua, uma dúzia de pássaros voam em círculos, como se fossem um cardume sem orientação, “Os agentes culturais geram emprego, promovem a criação de riqueza e, naturalmente, fixam as famílias ao local, contribuindo também para a inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento humano”, “Manuel Aires Mateus defende que ‘temos que ser mais locais se queremos ser internacionais’2, numa clara alusão à defesa do património da cidade sem desprezar os benefícios económicos da globalização”, a bola de pêlo atira-se para o banco que estou sentado e senta-se, “Quando falamos de regeneração do aglomerado urbano, falamos de cultura construída, como se fossem cicatrizes de um povo”, “Assino por baixo”, “Não é de estranhar, portanto, que os filósofos dos espaços possam convidar os agentes culturais para o festim”, “E qual é o papel deles?”, abana a cabeça com negação, espreitando o passeio dos pássaros, “Como disse, redesenhar as cicatrizes sem danificar as memórias é uma AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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tarefa dos pensadores. Mas essas figuras do saber devem incorporar no vegetal as tarefas dos agentes culturais, porque serão eles que irão potenciar a vivência constante dos espaços, porque serão eles que irão seduzir os agentes económicos e a massa turística a investir tempo e dinheiro na cidade”, “Ela, portanto, conseguirá reunir em si as condições necessárias para o estímulo, sinergicamente relacionadas e sustentáveis”, “Exacto”, boceja um pouco e limpa as lágrimas dos olhos, “É com as actividades criativas que mimamos as tradições e seduzimos os benefícios da globalização”, “Eis a forma de equilibrar os gomos”, digo, como se na Praça estivesse uma magote imensa a ouvir o ditador, “Porém, é necessário que alguns agentes da cidade participem no cozinhado, porque sem eles o diabo envia novamente os séquitos do silêncio”, pouso o olhar nas paredes moribundas e enrodilho a pele encrespada, “O presente não pode ser o futuro nem o futuro ser uma amostra do presente”, e praguejo que nem um trovão. A bola de pêlo tapa os ouvidos com as patinhas e olha-me, “Já está tudo cuspido?”, abano afirmativamente a cabeça e descravo a fúria do rosto, “Ainda bem”, retira as patinhas da sensibilidade e coloca-as sobre a pedra fria, “A transferência dos equipamentos, o congelamento das rendas, as reduções drásticas de investimento, o êxodo humano para a periferia, gerou uma profunda degradação das memórias. O que era antes uma relíquia transformou-se agora num local de permanência activa de marginalidade, como se fossem fantasmas com rostos descosidos. Porém, o teu entusiasmo dará um novo alento ao aglomerado, pois a criatividade dos agentes culturais proporcionará às pessoas do burgo um mar de oportunidades”, “Será uma chuva gigantesca de…”, “Tem calma, companheiro, pois é necessário que surjam também a inclusão de outros factores”, “Quais?”, “Como diz Frank Lloyd Wright o artista não se pode repetir, ou seja, os filósofos do desenho devem pensar que cada espaço é um problema e que cada problema é uma carência”, “E a solução de cada fiapo tem que escapar ao capricho da moda”, “Mas não pode ser inflexível”, alargo o olhar e namoro a dúvida, “Todas as soluções devem permitir a troca de usos sem deformar a boa convivência entre a forma e a função”, “Ahhh, estou a pescar o teu raciocínio”, “A flexibilidade da forma permite ao espaço uma manobra mais íntima com a necessidade. E isso é fundamental para agarrar os movimentos das vicissitudes”, “E como o mundo ama e odeia o tudo com AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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veemência atroz, essa perspectiva agarra-se impecavelmente aos ziguezagues da globalização”, e sorrio como a alvorada, “No seguimento desta obrigatoriedade, os agentes políticos e os agentes culturais devem colocar os ouvidos em cima da mesa e as mãos no trabalho. Se assim não for, todo o projecto ficará nas margens da praia”, “Esses meninos estão sob a minha alçada, companheiro. Não há que ter medo, porque caso espirrem na direcção errada, eu atiro-lhes com a caçadeira”, e rasgo-me em casquinadas desmedidas, “Seremos uma equipa perfeita”, “Rédea curta, amigo, rédea curta”, “Fica descansado”, e dou duas palmadinhas suaves nas costas da bola de pêlo, que boceja com insistência, “É melhor…”, subitamente surge uma forte algazarra na vereda dos ociosos. Coloco as mãos sobre as pernas e olho para a escuridão. Por entre a luz da lua, os filósofos dos espaços escorraçam com o silêncio, “Como sabiam que…”, “Quando precisas de pensar, o teu corpo vem sempre para esta Praça”, interrompe-me o Silva, o mancebo da equipa. Alargo os lábios e encorrilho a pele da testa, enquanto olho para o meu companheiro. Mas quando o meu olhar pousa na pedra fria, a solidão traz-me a razão, “Obrigado, anjo querido!”, e abraço os homens e as mulheres que tornarão a folha branca numa efervescência com lógica.

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