Objetos de Desejo

July 15, 2017 | Autor: Alexandra Silva | Categoria: Critical Theory, Adrian Forty
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Descrição do Produto

"Ao longo da história, homens e mulheres sempre usaram roupas diferentes e, mesmo quando as mulheres começaram a usar calças, ou quando a moda "unisex" apareceu na década de 1960, a convenção, apesar da interferência temporária, nunca esteve em sério perigo de ser abandonada. Entre as maneiras possíveis de classificar as roupas, como por classe, idade ou raça do usuário, o sexo é a primeira e a mais comum nas histórias do vestuário pois, ainda que o design das roupas usadas por homens e mulheres tenha mudado, os trajes masculinos, em qualquer tempo e em qualquer lugar, quase sempre foram instantaneamente reconhecidos como diferentes dos femininos." Objetos de Desejo (Diferenciação em Design), Adrian Forty.
Adrian Forty introduz em Objetos de Desejo um estudo da história do objeto industrial. Este é um livro para que permite entender a história do design; como é que o conceito do projeto apareceu em primeiro lugar e que mudança trouxe aos objetos de hoje que os distinguem como uma peça útil à sociedade pelas suas características peculiares desenvolvidas no decorrer dos tempos. Levanta uma variedade de pontos que abordam a aparência do design, como é feito e comercializado; mostra como o design reflete as mudanças dos dias de hoje e a cultura.
Forty prova que o design tem progredido ao longo do tempo de acordo com as necessidades ou até as necessidades que assumimos serem as da nossa sociedade. Leva-nos a olhar os produtos de um modo diferente e acabamos por nos questionar sobre o porquê do jeito de um certo produto ser desenhado de certa maneira.
Isso nos leva à conclusão de que cada projeto foi feito com um certo pensamento e propósito em mente. Fruto desse propósito, em design, Adrian Forty menciona Montgomery Ward & Co, uma empresa norte-americana que incluiu no seu catálogo 131 tipos de canivetes agrupados em quatro categorias diferentes, uma diferenciação de sexos em objetos.
"A diversificação de modelos, não apenas para atender às muitas categorias diferentes de uso e usuário, mas também à grande variedade existente dentro de cada categoria, era um traço tao característico (…) que não pode ser descartado como resultado de mera teimosia e irresponsabilidade."
Poderia ser considerado algo inútil e até sexista esta diferenciação no entanto, como afirma Norio Ohga, presidente da SONY "O design é a única coisa que diferencia um produto do outro no mercado." Um designer é responsável pela criação de produtos atrativos através de soluções de qualidade, que transmitam conforto ao consumidor e sobretudo funcionalidade. A funcionalidade dos produtos é conseguida pela distinção correta das utilidades do mesmo produto de acordo com o seu consumidor. "O estudo do design não só confirma a existência de certas distinções sociais" mas mostra também a NECESSIDADE das mesmas. Isto remete-nos para a identificação das propriedades do produto. "A este respeito, destacam-se três tipos comuns de propriedades do produto ou dimensões que se relacionam com o comportamento de compra do consumidor, ou seja, estético, propriedades funcionais e sociais (Crozier, 1994; Jordon, 1998;. De Angeli et al, 2002)" Xue e Yen para International Journal of Design.
A diferenciação de género no design é então conseguida principalmente pela estética do produto. São estipuladas características "identitárias" dos dois sexos que são consequentemente transferidas para o desenho do produto. Assumem-se cânones para os sexos que de modo geral definem o objeto como masculino ou feminino: a feminidade é muitas vezes descrita pela delicadeza e pela sensibilidade enquanto que a masculinidade é definida pelo jeito agressivo e cru geralmente típico dos homens.
"Enquanto os designers estão desenhando diferenças distintas relacionadas com as necessidades de género, desejos e preferências, é ao mesmo tempo uma tendência crescente criar e adotar modelos sem género (Carlton, 1997), com o objetivo de não "discriminar" e de exibir uma aceitação de estilos de vida alternativos na sociedade de hoje. No entanto, reconhecendo que sempre haverá diferenças nas preferências e necessidades de género, especialmente quando se trata de certos produtos pessoais, tais como cosméticos, projetos sem género nem sempre são aplicáveis em todas as situações (Basow, 1992; Moss, 1999; pipoca & Marigold , 2000)." De Lishan Xue e Ching Chiuan Yen
Propõe-se de seguida a adoção de peças sem género sexual ou ainda peças unissexo. A admissão de características de um género específico é de facto importante no design de um objeto para um consumidor chave mas não é necessária ainda para mais quando o consumidor chave é o público geral e não um sexo particularizado. Isto remete-me para o termo popular "basic" onde o produto é desenhado para conjugar com tudo – tanto com o género do consumidor como com o ambiente envolvente do objeto. Poderíamos afirmar que a peça unissexo se inclui numa peça basic/sem género mas "cada macaco no seu galho" por isso assumem-se mais duas diferenciações "sexuais".
A ideia de um produto definido, característico e orientado para um sexo designado é difícil de desenvolver porque não há nenhuma teoria completa que abrange todos os aspetos diferentes da complexidade associada ao conceito. É claro que existe a necessidade de prestar uma atenção especial à seleção de associações aplicadas a um sexo para evitar apoderamentos com fortes conotações tanto masculinas ou femininas.
Não se diz impensável a denominação de somente dois géneros de diferenciação de design do produto mas seria sem dúvida enganador e de certa forma discriminador perante as outras diferenciações possíveis – a seria negligenciar as outras alternativas não menos importantes.
Assume-se então, a necessidade de uma abordagem neutra perante o design do produto.
"Pessoas específicas interagem em situações específicas e produzem comportamentos específicos em relação a diferentes propriedades do produto com que eles entram em contato. Se os produtos são lidos com base em interpretações dos designers, o idioma do produto que seria interpretado seria provavelmente de uma perceção sensorial que seria altamente subjetiva, provavelmente devido à sua experiência e filiação. Assim, há uma necessidade de conceber um método para sistematizar a perceção dos produtos e, especialmente, a forma como os seus atributos funcionais são definidos, a fim de chegar a uma base comum de comunicação e de compreensão. Um método neutro seria para recolher os pontos de vista dos não-designers." Lishan Xue e Ching Chiuan Yen


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