Observações sobre corpos na estrada

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DISCIPLINA: Fotografia III DOCENTE: Valécia Ribeiro DISCENTE: Zimaldo Melo Cachoeira, 24 de maio de 2013

OBSERVAÇÕES SOBRE CORPOS NA ESTRADA 1. APRESENTAÇÃO A ideia do vídeo Observações sobre Corpos na Estrada surgiu a partir de viagens que realizei, nos anos de 2010 a 2012, entre os municípios de Cachoeira e São Felix com a finalidade de freqüentar as aulas do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo. Nestas viagens me deparei com a triste realidade da mortalidade de animais silvestres nas estradas da região. São diversas espécies nativas que estão sujeitas a interferência humana nesta situação que é apontada por especialistas como uma das principais causas da extinção de espécies, a saber, a implantação de rodovias em habitats de animais silvestres. Dessa observação surgiu a idéia de criar interferências nas estradas com a finalidade de chamar atenção dos usuários das estradas quanto a este problema ambiental causado pela a ação do homem, mostrando seus efeitos através dos corpos nas estradas. Um outro fato que é observado nas estradas da região é a ocorrência de carcaças de carros abandonados ou, como se diz, desovados nas estradas, provavelmente pela ação de quadrilhas que praticam a eliminação de provas de roubos de carro ou pela ação dos próprios proprietários que tentam fraudar seguros a fim de receber idealizações por perda total do veículo. Ora, esses carros também podem ser vistos como corpos em decomposição, só que nesse caso são inorgânicos, que não atraem as espécies carniceiras, que colaboram no processo de decomposição de organismos em putrefação.

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Conceito O conceito deste trabalho aborda a rotina de viagens realizadas por mim entre Lauro de Freitas e Cachoeira. Neste sentido, imagens repetidas de um itinerário muitas vezes percorrido se sobrepõem, embaralhando a nossa visão. Na velocidade do trajeto não percebemos as singularidades passageiras, que apesar de marcarem a nossa memória se tornam fugidas, e rapidamente são substituídas por novas imagens que sobrepõe-se às anteriores e que rapidamente são substituídas novamente.  Nessa velocidade de sobreposições, não nos damos conta do inusitado, do trágico ou bizarro, nem sequer do sublime ou do poético. Situações que nos afetam sem que percebamos. Que nos tocam por um breve momento, sem desviar a nossa atenção, sem mudar o foco da nossa atenção. Histórias deixadas para trás, singularidades esquecidas no fundo do nosso inconsciente, difíceis de serem recuperadas, descritas ou narradas. Poética Busquei nesse trabalho uma poética do transitar. Um olhar sobre corporeidades, tanto orgânicas quanto inorgânicas, ignoradas ao longo desse trajeto percorrido diariamente, causar um estranhamento do olhar na revelação dessas singularidades que são facilmente esquecidas pela memória e que não permanecem em nossas lembranças pela repetição exaustiva de um percurso. Objetivos Este trabalho busca revelar essa singularidade esquecida no decorrer deste trajeto tantas vezes percorrido, recuperar, no meio desse embaralho, o trágico e o poético. Fixar em nossas memórias o que é passageiro, o que não impregna a nossa lembrança, o que nos afeta mas não nos toca. 2. JUSTIFICATIVA Esse trabalho se justifica pelo fato de lançar um olhar sobre aspectos que muitas vezes passam despercebidos para as pessoas que transitam pelas rodovias da Região do Recôncavo da Bahia, alimentando assim um olhar crítico a respeito de realidades que fogem a percepção do transeunte. Parcebe-se então singularidades que se relacionam com o cotidiano e no entanto, pela rapidez da vida, não nos afetam de forma contundente. Pode-se então perceber descasos com a vida e com a sociedade, que em um primeiro instante não parecem ser relevantes, mas, com um olhar mais aprofundado, revelam uma realidade que deveria ser diferente. O vídeo Observações sobre corpos na estrada nos 2

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trás, então, esse questionamento do olhar, que a princípio é descompromissado e, com a percepção daquilo que deixávamos escapar a nossa percepção, passa a ser crítico. 3. CURRÍCULO Iniciei minha carreira de publicitário na Agência Engenhonovo, em 1990. Passei por algumas das principais agências de publicidade de Salvador, tendo trabalhos relevantes com clientes conhecidos como Cofic, Pólo Petroquímico de Camaçari, Shopping Piedade, Rede Unimar, Construtora André Guimarães, Promédica, entre outros. Fui certificado pela Apple Brasil, indústria de computadores, especialista em sistema de produção digital, sendo um dos poucos certificados pela empresa no Norte-Nordeste do país. Implantei na Faculdade FTC o primeiro Apple Training Center do Nordeste no ano de 2001. Também fiz assessoria para diversas agências do mercado publicitário nordestino, qualificando os profissionais de criação e produção a trabalharem com os sistemas Apple Macintosh, Apple Final Cut Studio, QuarqXPress e Adobe Creative Suite. Fui ainda, integrante da equipe vencedora do Prêmio Ethos de Jornalismo de 2006 pelo documentário DIS Baixo Sul. Desenvolvi várias identidades visuais para empresas baianas. Em 2010, retornei para Academia para cursar a faculdade de Artes Visuais com ênfase em Multimeios da Universidade Federal do Recôncavo Baiano - UFRB, ingressando na primeira turma aberta do curso. Recentemente tive projetos classificados nos editais do Banco do Nortdeste/BNDS 2012 e Setorial de Artes Visuais da Secult/BA 2013. Participou da 11ª Bienal do Recôncavo da Bahia com o trabalho "Desenho Aleatório Colaborativo sem as Mãos" No campo das artes, tenho interesse pelo estudo das proporções, da relação do fruidor com a obra de arte na hipermodernidade, pelas novas aplicações da gravura na contemporaneidade e pelas manifestações artísticas no espaço público. Desde a antiguidade grega o homem se interessa pelo estudo das relações proporcionais, sendo Pitagoras o primeiro a perceber a existência de uma relação mágica expressa pela divina proporção do retângulo áureo. Platão também utiliza esse conceito na sua teoria do mundo das ideias, que diz que a arte é o simulacro de um simulacro. Neste sentido, desenvolvi o projeto de pesquisa "O inato na percepção visual" para a disciplina Metodologia da Pesquisa em Artes, com orientação do Professor Antonio Carlos Portela. Já a relação do fruidor com a obra de arte modifica-se a na modernidade, retirando este de uma atitude meramente contemplativa e dando-lhe um papel de concretização da obra. Na hipermodernidade a obra de arte somente se realiza através da interferência do 3

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fruidor. Também na contemporaneidade, a obra de arte, que perdeu sua áurea com a reprodutibilidade técnica, como indicou Walter Benjamin, e por isso, deixa de ser necessário um espaço asséptico para a sua instalação. Atualmente vemos cada vez mais a obra de arte permeando o espaço público. Com a evolução da tecnologia, a partir dos anos oitenta, quando se estabelece o período da revolução tecnológica, ocorre uma mudança radical nas técnicas de reprodução da imagem. O computador trás uma nova perspectiva para a utilização da tecnologia, já que o computador não é simplesmente um aparelho pré-programado, como argumenta Vílem Flusser em A Filosofia da Caixa Preta, pois o computador aceita novas programações, dando ao "funcionário" uma possibilidade de que ele deixe de ser um mero repetidor de comandos e passe a interferir diretamente no aparelho, criando novas possibilidades de significação para seus recursos. Venho utilizando desde meu ingresso no Curso de Artes Visuais, tanto meios convencionais, como o desenho, a pintura, o relevo e a xilogravura, por exemplo, como novos meios como a programação, a eletrônica, a interatividade, a web arte, dentre outros. Venho utilizando programação em Processing em diversos projetos, onde desenvolvo uma poética da espacialização do corpo na esfera digital em trabalhos como o "Desenho Aleatório Colaborativo sem as Mãos" e "Pollock v.1.0" onde o fruidor cria a sua própria versão da obra de arte, que é serializada, tornando-se portanto única, mesmo sendo gerada a partir de um meio tecnológico. 4. INFORMAÇÕES TÉCNICAS A video arte Corpos na Estrada foi captada com uma câmera PD170 da Sony, utilizando mídias miniDV. Essa câmera utiliza o formato SD (Standard Definition) com resolução de 720x480px. Dessa forma, este trabalho rompe a barreira da obsolescência programada imposta pela industria, ignorando assim a atual exigência das produções em vídeo, que impõe o formato HD (High Definition) aos produtores de obras audiovisuais. Foram feitos 5 registros durante viagens de Lauro de Freitas para Cachoeira, com 2 horas de duração cada uma. Na primeira versão foram usadas as imagens do percurso entre a BR324 e a cidade de Cachoeira, cobrindo 50Km do total de 120Km entre as duas cidades. Foi necessário desenvolver um meio para diminuir a trepidação da câmera, para isso utilizei dois recursos, o primeiro foi prender a correia de suporte da câmera em uma outra correia presa aos suportes de mão no teto do carro, a outra foi a utilização de um tripé como suporte da câmera. Esse segundo recurso acabou se mostrando o mais eficaz. De

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qualquer forma, foram utilizadas todas as imagens na montagem, o que resultou em uma edição que em alguns momentos indica a precariedade da captação. A montagem do vídeo foi feita com o software Apple Final Cut 7, em um computador Apple Mac Book Pro processador Intel Core Duo de 2GHz com 2GB de memória RAM, a mídia foi capturada em um HD externo Expansion de 500GB utilizando conexão USB 2. Por se tratar de uma máquina do ano de 2007, que também se encontra próxima a obsolescência, optei por uma edição que não utilizou filtros a fim de reduzir o tempo de renderização. Foram utilizados recursos de sobreposição de camadas de vídeo, alternado a opacidade para gerar um efeito de profundidade. Para completar o material editado, utilizei imagens disponíveis na rede social YouTube, cujos autores são indicados nos créditos finais do vídeo.

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5. IMAGENS DA OBRA As imagens da obra foram capturadas do vídeo na resolução de 720x480 px.

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