Onde está a herança missionária de resistência anticolonial? -- um diálogo entre Woodberry e Rieger

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[Práxis 25 (2015) 45-60] ONDE ESTÁ A HERANÇA MISSIONÁRIA DE RESISTÊNCIA ANTICOLONIAL? UM DIÁLOGO ENTRE WOODBERRY E RIEGER por Silas Fiorotti1

RESUMO O ensaio propõe uma discussão a partir da leitura do artigo The Missionary Roots of Liberal Democracy do sociólogo Robert D. Woodberry. Woodberry defende que a prevalência histórica de missionários protestantes promoveu condições para o surgimento de democracias mais estáveis em diversos contextos da África, da Ásia, da América Latina e da Oceania. Para esta discussão, o ensaio dialoga principalmente com o desafio das margens que foi apresentado por Joerg Rieger no artigo Libertando o discurso sobre Deus: pós-colonialismo e o desafio das margens. A crítica do ensaio não recai sobre proposta de reavaliação das raízes da democracia em diferentes contextos, mas sim sobre a suposta proposta implícita de provar que a presença dos missionários protestantes nestes contextos trouxe mais benefícios do que prejuízos. PALAVRAS-CHAVE Robert D. Woodberry; Joerg Rieger; missões protestantes; colonialismo. ABSTRACT The paper proposes a discussion from reading the article The Missionary Roots of Liberal Democracy of Robert D. Woodberry. Woodberry argues that the historical prevalence of Protestant missionaries promoted conditions for the emergence of more stable democracies in various contexts in Africa, Asia, Latin America and Oceania. For this discussion, especially dialogues test with the challenge of the margins that was presented by Joerg Rieger in a piece called Liberating Talk-God: Postcolonialism and The Challenge of The Margins. The criticism in this paper is not on proposed revaluation of the roots of democracy in different contexts, but on the alleged implicit proposal to prove that the presence of Protestant missionaries in these contexts brought more benefits than losses. KEYWORDS Robert D. Woodberry; Joerg Rieger; Protestant Missions; Colonialism.

                                                                                                                1

Silas Fiorotti é bacharel em Ciências Sociais (FESPSP), mestre em Ciências da Religião (UMESP) e doutorando em Antropologia Social (USP), pesquisador colaborador do CERU-USP e membro da comissão editorial da revista Espiritualidade Libertária. E-mail: [email protected].

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Introdução Os fatores materiais não explicam tudo. Até mesmo transações e trocas materiais podem ter significados distintos que não estão necessariamente relacionados a qualquer interesse utilitário. Pelo menos é o que aprendemos em diversas aulas e textos de antropologia, especialmente no clássico Ensaio sobre a dádiva de Marcel Mauss (2003). Neste mesmo sentido, de que nem tudo é explicado pelos fatores materiais, vem o artigo The Missionary Roots of Liberal Democracy do sociólogo Robert D. Woodberry (2012).2 É claro que não podemos deixar de mencionar que o título do artigo soa exagerado, talvez superestimando o trabalho missionário como um todo, mesmo diante das conclusões do autor – veremos mais adiante se o título é mesmo exagerado ou não. Woodberry afirma que a maioria das teorias sobre a democracia enfatiza os interesses materiais das classes sociais e ignora ou minimiza os interesses culturais e religiosos; e defende que a prevalência histórica de missionários protestantes em determinadas sociedades colonizadas, no século XIX e início do século XX, supostamente promoveu condições para o posterior surgimento de democracias mais estáveis – ele analisou dados estatísticos de 142 países da África, Ásia, América Latina e Oceania. Nossa crítica neste ensaio não recai exatamente sobre a proposta da pesquisa de Woodberry, proposta no sentido de reavaliação das raízes da democracia em diferentes contextos da África, da Ásia, da América Latina e da Oceania; mas sim sobre a suposta proposta implícita ou sobre os usos dos resultados da pesquisa no sentido de provar que a presença dos missionários protestantes nestes contextos trouxe mais benefícios do que prejuízos. Robert D. Woodberry é sociólogo e professor de Ciência Política na National University of Singapore. Em 2004, doutorou-se em Sociologia pela University of North Carolina, nos EUA, com a tese intitulada The Shadow of Empire: Christian Missions, Colonial Policy, and Democracy in Post-colonial Societies. Além disso, ele é filho de J. Dudley Woodberry que foi missionário entre muçulmanos, com forte ligação com a Casa Branca, e atualmente é professor de Estudos Islâmicos no Fuller Theological Seminary, nos EUA. 1. A recepção da pesquisa de Robert D. Woodberry entre os evangélicos daqui Antes de nos voltarmos diretamente ao artigo em questão, vale a pena mencionar de que

forma

duas

missionárias

e

teólogas

                                                                                                                2

“(...) social scientists should take culture and religion more seriously.” (p. 269)

brasileiras

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divulgaram a pesquisa de Woodberry aqui no Brasil. Primeiramente Bráulia Ribeiro (2014), no artigo A cultura, esta nossa inimiga, diz: Sou defensora ferrenha da missão que se encarna, que se empobrece, que se desnuda. Porém, creio também que para além dela temos de ser a missão que empodera para que se vença a pobreza, a missão que educa para que as gentes se dispam de aspectos perniciosos de suas culturas, mas continuem sendo elas mesmas. O sociólogo Robert Woodberry [2012] fez uma descoberta extraordinária e que enfraqueceu o mito do missionário ocidental “destruidor” de culturas [sic]. Com abundância de quadros de estatísticas e quatorze anos de pesquisa, ele percebeu que o fator que separou países da África que hoje se afundam na miséria e em governos tirânicos daqueles que experimentam a liberdade democrática foi um só [sic]: missionários protestantes que se empenharam em pregar um evangelho que transformasse as culturas onde trabalharam. (Ribeiro, 2014, p. 30)

Enquanto Bráulia Ribeiro faz esta breve menção, Antonia Leonora van der Meer (2014), dedica todo o seu artigo, intitulado Uma descoberta surpreendente sobre a influência real [sic] dos missionários, para falar sobre a pesquisa de Woodberry. Ela não menciona diretamente nenhum artigo de Woodberry, somente uma reportagem da revista Christianity Today (cf. Dilley, 2014), que provavelmente é a fonte de todas as suas informações. Citamos abaixo um trecho do seu artigo: [Supostamente para Woodberry] Áreas onde houve presença significativa de missionários protestantes normalmente estão mais desenvolvidas economicamente, têm melhor cuidado com a saúde, menos mortalidade infantil, menos corrupção, mais alfabetização e melhor nível acadêmico (especialmente das mulheres). Woodberry criou um modelo estatístico para testar a relação entre o trabalho missionário e a saúde [sic] das nações. Descobriu que o impacto de missões sobre a democracia foi enorme. Na China, os missionários lutaram para acabar com o tráfico do ópio. Na Índia, lutaram para acabar com os abusos dos grandes latifundiários. Os missionários não pensavam em se tornarem ativistas políticos. Simplesmente amavam o povo e procuravam corrigir as injustiças. A alfabetização e a educação em massa foram fruto da doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Se todos são iguais perante Deus, todos devem ter acesso à Bíblia na própria língua. O autor [Woodberry] não nega que houve abusos de missionários. Contudo é bom perceber, por meio de um estudo sério, que a obra missionária trouxe mais proveito do que problemas. (Van der Meer, 2014, p. 45)

Mais adiante, após uma breve exposição do artigo de Woodberry, voltaremos às afirmações de Bráulia Ribeiro e Antonia Leonora van der Meer. 2. Leitura do artigo de Robert D. Woodberry Voltando ao artigo de Woodberry, primeiramente destacamos que ele trabalha com o conceito Conversionary Protestants (CPs). Ou seja, ele defende que os missionários protestantes,

de

uma

forma

geral,

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(1) lançaram mão da persuasão proselitista, (2) incentivaram crentes leigos a lerem a Bíblia no vernáculo, e (3) creram na graça e na fé como caminho de salvação (p. 244). Aqui lembramos da passagem que o teólogo José Míguez Bonino (1924-2012) fala a respeito de um etos missionário que seria o pano de fundo teológico das missões protestantes, do final do século XIX. Neste etos missionário estariam inclusas as teologias do pietismo e do Grande Despertar, do século XVIII, associados aos nomes de John Wesley e George Whitefield, na Inglaterra, e de Jonathan Edwards, nos EUA. Ainda segundo Míguez Bonino, independente da diversidade confessional, o protestantismo teria um rosto evangélico —leia-se evangelical—, e cita George Marsden que, por sua vez, afirma que os evangélicos seriam (...) pessoas que professam uma total confiança na Bíblia e se preocupam com a mensagem da salvação que Deus oferece aos pecadores por meio da morte de Jesus Cristo. (...) Os evangélicos estavam convictos de que a aceitação sincera dessa mensagem do ‘evangelho’ era a chave para a virtude durante a vida presente e para a vida eterna no céu e que sua rejeição significava seguir o caminho largo que termina nas torturas do inferno. (George M. Marsden apud Míguez Bonino, 2002, p. 31)

Diante disso, e concordando com Woodberry, acreditamos que é possível fazer algumas generalizações sobre estes missionários protestantes ou Conversionary Protestants, do final do século XIX e início do século XX, e, até certo ponto, sobre como estas crenças motivaram diversas transformações. Logo no início do artigo, Woodberry já apresenta seu argumento, explicando por que a prevalência histórica de missionários protestantes, independentemente das conversões em si, supostamente promoveu condições para o surgimento de democracias mais estáveis na África, Ásia, América Latina e Oceania. Segundo Woodberry, a presença dos missionários protestantes em diversas sociedades, no final do século XIX e início do século XX, foi um fator catalisador para o desenvolvimento e propagação da liberdade religiosa, da educação em massa, da impressão em massa, de jornais, de movimentos sociais, de grandes reformas coloniais, e das proteções legais para os não-brancos. Para Woodberry, é possível associar os missionários protestantes à educação, à impressão ou indústria gráfica, à sociedade civil, ao desenvolvimento, e, consequentemente, à democracia, já que supostamente para diversos pesquisadores estes fatores estão diretamente relacionados com o desenvolvimento de democracias mais estáveis. Baseando-se principalmente em análise estatística, Woodberry afirma que a presença destes missionários protestantes é uma das variáveis mais importantes para

mensurar

as

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democracias na África, Ásia, América Latina e Oceania (pp. 244-245). O artigo é dividido em oito tópicos. No primeiro tópico, intitulado Consistent Association Between Protestantism and Democracy (pp. 246-247), Woodberry utiliza exemplos de outros contextos para afirmar que é possível associar o protestantismo com o desenvolvimento de democracias mais estáveis. Mas, como nestes outros contextos não é possível medir a prevalência histórica dos missionários protestantes, a análise de Woodberry volta-se somente para países da África, Ásia, América Latina e Oceania. No tópico intitulado Historical Evidence (p. 247), Woodberry defende a importância de usar a variável da prevalência histórica dos missionários protestantes. Segundo ele, estes missionários, diferentemente de outros grupos de colonos protestantes, foram para sociedades completamente diferentes e, mesmo assim, independentemente dos contextos, supostamente contribuíram para o desenvolvimento de democracias mais estáveis. No tópico The Origin of Democracy Theory and Institutions (pp. 248-249), Woodberry, seguindo autores como Eric Nelson (2010), defende que os fatores religiosos, que influenciaram diversos teóricos iluministas, foram fundamentais para o surgimento e desenvolvimento da democracia na Europa e nos EUA. Aqui, Woodberry sinaliza que, apesar da suposta negligência de grande parte dos pesquisadores contemporâneos, ele não está sozinho ao levar a sério os fatores religiosos para pensar o desenvolvimento da democracia. No tópico Printing, Newspapers, and The Public Sphere (pp. 249-253), talvez o mais importante do artigo, Woodberry volta-se especificamente para a presença dos missionários protestantes na África, Ásia, América Latina e Oceania. Primeiramente ele destaca que utiliza a noção de esfera pública de Jürgen Habermas. Na obra Mudança estrutural da esfera pública (2003), Habermas mostrou que na Europa, a partir do século XVIII, houve a emergência da chamada esfera pública burguesa ou sociedade civil que assumiu funções políticas e se articulou tanto com o Estado como com a esfera privada. Para Habermas, a evolução da imprensa marcou a mudança de função política e a reestruturação da esfera pública (cf. ibidem, p. 213). A partir disso, Woodberry argumentou que os missionários protestantes foram fundamentais para o desenvolvimento da impressão, dos jornais e, consequentemente, da esfera pública na África, Ásia, América Latina e Oceania. Por quê? Será que um conceito da análise de Habermas para a Europa pode ser utilizado para outros contextos? Woodberry acredita que sim, porque os missionários protestantes supostamente acreditavam que todas as pessoas, alvos da evangelização,

precisavam

ler,

inclusive

mulheres

e

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pessoas pobres em geral, para terem acesso aos textos bíblicos em suas próprias línguas. Somente através disso, é que as pessoas chegariam à conversão e à fé em Deus por suas próprias escolhas. Por isso, os missionários protestantes utilizaram muitos materiais impressos. Ainda falando sobre o desenvolvimento da impressão fora da Europa, Woodberry argumenta que a presença dos missionários protestantes foi fundamental. Mesmo com a tecnologia de impressão que já era dominada por diversos países asiáticos, as elites locais supostamente só adotaram e valorizaram os materiais impressos quando as populações já estavam expostas aos materiais impressos distribuídos pelos missionários protestantes, porque o conteúdo destes materiais impressos ameaçava o controle das interpretações religiosas destas elites. Até então, sem a presença dos missionários protestantes, só homens da elite eram alfabetizados e produzia-se apenas manuscritos. A atuação dos missionários protestantes mudou a postura das elites asiáticas e, consequentemente, estimulou o crescimento da educação em massa, da impressão em massa não controlada pelo Estado, de movimentos sociais, e de debates públicos, o que deu origem às esferas públicas (cf. p. 250).3 Ainda no mesmo tópico, Woodberry destaca o papel dos missionários protestantes no sentido de aumentar o nível de escolaridade das pessoas da África, Ásia e Oceania, principalmente daquelas que não faziam parte das elites locais.4 Como fruto da evangelização dos missionários protestantes, supostamente houve a emergência de grupos de pessoas religiosas, educadas e ativistas que fizeram frente às elites, e, consequentemente, ambientes de concorrência de crenças e ideias. Woodberry está sugerindo que essas não-elites passaram a controlar um pouco a ação das elites. Woodberry ainda destaca que a presença dos missionários protestantes supostamente foi muito importante para o surgimento de movimentos sociais e de protestos não-violentos; fator que, segundo Woodberry, não foi destacado nas teorias de Sidney Tarrow (2009) e Charles Tilly (1995).

                                                                                                                3

“In Asia Protestant missionaries and their local associates consistently spurred the growth of mass education, mass printing, social movement organizations (SMOs), and public debates, which gave rise to a public sphere (...). (...) CPs [Conversionary Protestants] were also important because they transformed who books were for and printed content that threatened elites’ control of religious interpretation, spurring reaction.” (p. 250)

4

Aqui os contextos latino-americanos são retirados por Woodberry, já que pesquisadores indicam que os protestantes fizeram uma clara opção pelas classes médias e altas, e “as ‘pessoas pobres e iletradas’ não só deixam de ser o alvo das missões protestantes [na América Latina, no início do século XX], mas elas se revelam um verdadeiro obstáculo à evangelização” (Wirth, 2011, p. 57). Mostramos em pesquisa de mestrado, como missionários protestantes em contextos africanos procuraram dialogar e até formar lideranças políticas advindas das elites locais e não necessariamente das não-elites (cf. Fiorotti, 2012, p. 91).

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No quinto tópico, intitulado Colonial Transformation (pp. 253-256), Woodberry destaca a importância do papel dos missionários protestantes na divulgação dos abusos coloniais em seus periódicos, na defesa de mudanças na política colonial, e até na formação de movimentos anticoloniais e nacionalistas,5 mesmo que só uma minoria tenha atuado diretamente nos movimentos nacionalistas (cf. pp. 253-255).6 No tópico Statistical Analysis (pp. 256-259), Woodberry apresenta as variáveis utilizadas na sua análise da amostra de 142 países da África, Ásia, América Latina e Oceania. Sua técnica utilizada é a da regressão, com a democracia como variável dependente e as outras como variáveis independentes. Para medir a democracia nestes países, Woodberry utiliza principalmente a média de pontuação de cada país, no período entre 1950 e 1994, uma variável de consolidação democrática, com base nos dados de Kenneth A. Bollen (2001) que, por sua vez, utilizou mais de 800 variáveis.7 Woodberry utiliza variáveis para medir o impacto das missões católicas e das missões protestantes, de acordo com os anos de exposição das populações às atuações delas. Ao que tudo indica, essas variáveis do impacto das missões, que vêm principalmente de dados das pesquisas do próprio Woodberry e da World Christian Encyclopedia de David B. Barrett (Barrett, Kurian e Johnson, 2001), são as mais importantes e que vão fundamentar a tese do artigo. As outras variáveis utilizadas por Woodberry são provenientes das chamadas teorias alternativas, que ele utiliza para evitar que algum outro fator relevante sobre o desenvolvimento da democracia seja associado indevidamente às missões protestantes. São dados da taxa de mortalidade de colonos, da expectativa de vida, da urbanização e da densidade populacional, entre outros, já que muitos pesquisadores afirmam que estes dados influenciaram o desenvolvimento da democracia.

                                                                                                                5

“CPs also dispersed power by publicizing colonial abuses, advocating for changes in colonial policy, and transferring ideas, skills, and networks that helped colonized people organize anticolonial and nationalist movements.” (pp. 253-254)

6

“(...) a significant minority of Protestant missionaries directly promoted democracy and equality through their teaching, translation, and support of nationalist organizations (...).” (pp. 254-255)

7

Além da base de dados de Kenneth A. Bollen (2001), para supostamente não utilizar apenas uma fonte para a variável de consolidação democrática e para minimizar algum viés, Woodberry utiliza também o índice Polity IV (1946-2013), de um período um pouco diferente, entre 1955 e 2007. Acreditamos que tanto a base de dados de Bollen como o índice Polity IV sejam utilizados por cientistas políticos e sociólogos em suas pesquisas. No entanto, Woodberry não problematiza as definições de democracia que foram utilizadas nestas bases de dados, nem menciona se estes dados cobrem todos os períodos em questão, o que dificilmente aconteceu devido ao excesso de variáveis utilizadas.

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No tópico Results (pp. 259-267), Woodberry apresenta cinco tabelas com suas regressões estatísticas, além da tabela com as variáveis que foi apresentada no tópico anterior.8 Há uma tabela, de número 2 (p. 260), em que são apresentadas quatro regressões e, a partir delas, Woodberry supostamente demonstra, através de três variáveis ligadas aos missionários protestantes, que há uma associação direta entre essa presença protestante e a democracia. Woodberry dedica uma parte deste tópico para refutar algumas hipóteses desta influência protestante estar sendo medida de forma errada e omitindo outra variável, inclusive indicando outras tabelas que podem ser consultadas num apêndice. Em outra tabela, de número 3 (p. 262), são apresentadas outras cinco regressões para efetuar o controle das variáveis da tabela anterior, mas supostamente os dados continuam indicando a associação direta entre essa presença protestante e a democracia. Diante disso, Woodberry especula que pesquisas anteriores sobre o impacto da colonização foram tendenciosas e negligenciaram o papel dos missionários protestantes. As outras tabelas, de números 4, 5 e 6 (pp. 264, 265 e 267), também apresentam regressões que visam comprovar que nenhum viés das variáveis ligadas aos missionários protestantes foi omitido. Woodberry continua defendendo que estas regressões estatísticas reforçam a plausibilidade das variáveis ligadas à presença dos missionários protestantes e desafiam pesquisas anteriores que enfatizaram outras variáveis como promotoras da democracia. No último tópico, intitulado Discussion and Conclusion (pp. 267-270), Woodberry conclui de uma maneira mais cautelosa que o próprio título do artigo; aqui ele afirma que sua análise apenas sugere que os missionários protestantes promoveram a democracia, e muitas vezes apenas de maneira indireta.9 Ao invés de vaticinar sobre as supostas raízes da democracia na África, na Ásia, na América Latina e na Oceania, e apesar da suposta robustez de seus testes e regressões estatísticas, Woodberry sugere que sua pesquisa está apenas indicando que precisamos reavaliar quais são estas supostas raízes da democracia.10

                                                                                                                8

Table 1 – Descriptive Statistics for Key Variables (p. 258); Table 2 – Robust Regression Predicting Democracy in “Non-Western” Societies: Mean Level of Democracy from 1950-1994 (p. 260); Table 3 – Robust Regression Controlling for the Process of Colonization (p. 262); Table 4 – Robust Regression Predicting Democracy in “Non-West”: Mean Level of Democracy from 1950-1994 (p. 264); Table 5 – Mechanisms by Which Protestant Missions May Have Influenced Democracy (OLS) (p. 265); Table 6 – LIML Instrumental Variable Regression with Robust VCE Predicting Democracy in “NonWestern” Societies: Mean Level of Democracy from 1950-1994 (p. 267).

9

“Both historical and statistical evidence suggest that CPs [Conversionary Protestants] promoted democracy, although often through indirect means.” (p. 267)

10

“(...) much of what we think we know about the roots of democracy needs reevaluation.” (p. 268)

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Antes de partirmos para as considerações sobre a pesquisa de Woodberry, mencionaremos os aspectos do desafio das margens que foram apresentados por Joerg Rieger.

3. O desafio das margens de Joerg Rieger Não temos a intenção de apresentar todo o artigo de Joerg Rieger (2008), intitulado Libertando o discurso sobre Deus: pós-colonialismo e o desafio das margens, apenas mencionaremos os aspectos do chamado desafio das margens que foram apresentados por ele e que consideramos relevantes para uma discussão sobre a pesquisa de Woodberry. Rieger defende que a religião precisa ser estudada no contexto dos estudos póscoloniais que consideram múltiplos aspectos de pressão e repressão, pois ela também serviu como instrumento de dominação colonial. Ele inicia seu artigo afirmando que utiliza o termo pós-colonialismo referindo-se aos “novos modos de pensar que evoluíram em relação às pressões coloniais e às suas sequelas” (p. 85). Neste sentido, para ele, só existe pós-colonial no plural, por conta das diversas histórias específicas que estão ligadas pelas experiências de povos colonizados. Neste contexto dos estudos pós-coloniais, Rieger apresenta pelo menos quatro aspectos do desafio das margens. O primeiro aspecto, apresentado no tópico O colonialismo e a história de seu passado (pp. 86-90), vai no sentido de não menosprezar a ambiguidade na situação pós-colonial, porque mesmo com o fim das dominações coloniais formais, outras relações de dominação ainda persistem. O segundo aspecto, apresentado no tópico Opções neocoloniais pelas margens (pp. 91-92), nos lembra que mesmo com a abertura às margens por parte daqueles que estão em posições de controle, ainda não há o estabelecimento de relações mútuas. O terceiro aspecto, apresentado no tópico As margens do império (pp. 92-96), lembra que as pesquisas acadêmicas precisam da perspectiva das margens, da perspectiva das próprias vítimas do neocolonialismo, para não servirem diretamente aos interesses do status quo. E, por fim, o quarto aspecto do desafio das margens, apresentado no tópico “A verdade vos libertará” (pp. 96-100), vai no sentido de desafiar a concepção de verdade que é dada a priori e do ponto de vista dominante. Para Rieger, a verdade nasce das tensões no meio da vida, da perspectiva das feridas. No último tópico, intitulado Conclusão: pós-colonialismo e o estudo da teologia e da religião (pp. 100-103), Rieger ainda destaca que todos os impérios coloniais modernos foram justificados religiosamente. Para ele, a proposta de uma simples inversão, colocando Deus do outro lado, ou uma idealização das pessoas marginalizadas, não seria satisfatória e reforçaria a

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mentalidade dualista e maniqueísta do colonialismo. A teologia e os estudos de religião, para Rieger, precisam transcender essa mentalidade colonialista e neocolonialista; sendo que uma nova mentalidade teológica supostamente nasce quando o discurso sobre Deus fica solto dos poderes existentes, quando provém das pessoas mais vulneráveis e marginalizadas que carregam as feridas. Inconclusões finais Reconhecemos a importância da pesquisa de Woodberry, principalmente por tratar-se de uma pesquisa que está voltada para fora da Europa e dos EUA, uma pesquisa ousada que busca os efeitos indiretos desta presença histórica dos missionários protestantes em diversas sociedades da África, da Ásia, da América Latina e da Oceania. Após a leitura do artigo, as afirmações de Bráulia Ribeiro (2014) e de Antonia Leonora van der Meer (2014), que foram citadas no início deste ensaio, mostram-se ainda mais simplistas e distantes de uma problematização mais honesta do papel dos missionários protestantes; principalmente diante das cautelosas conclusões de Woodberry.11 A pesquisa de Woodberry mostra-se como fruto de uma ousada empreitada. Por isso, mesmo sem algum erro metodológico gritante, consideramos que ainda é cedo para tratarmos essa pesquisa como inovadora, como uma pesquisa que efetivamente traz dados novos e propõe uma revisão de pesquisas anteriores. O próprio Kenneth A. Bollen, que teria inspirado Woodberry a pesquisar nesta temática, referindo-se à pesquisa de Woodberry, afirmou que “It's an excellent study. I don't see any particular flaw, but it's too bold to claim as an established fact. It's a single study. We have to see if other people can replicate it or come up with other explanations” (Bollen apud Dilley, 2014). Neste momento, após a leitura do artigo de Woodberry, pelo menos seis questões se impõem. Infelizmente não temos condições de avaliar se o método estatístico apresenta alguma falha ou não. As questões foram feitas a partir de aspectos que chamaram a nossa atenção e, principalmente,

pensadas

a

partir

do

chamado

desafio

das

margens

                                                                                                                11

Woodberry não afirma que os países da África, ou da Ásia, da América Latina e da Oceania, estão divididos entre aqueles que possuem “governos tirânicos” e aqueles que possuem “democracias livres”, mesmo que pareça sugerir algo neste sentido. Os dados do índice Polity IV (1946-2013), que Woodberry também utiliza como fonte da variável de consolidação democrática, dividem os países numa escala que vai do número 10 ao número -10: Full Democracy (10), Democracy (6 a 9), Open Anocracy (1 a 5), Closed Anocracy (-5 a 0), e Autocracy (-10 a -6). Essas classificações parecem sempre problemáticas. Mesmo numa China, classificada como uma autocracia pelo Polity IV, temos exemplos de indivíduos como Liu Ximei e Ai Weiwei – ver os documentários Ai Weiwei: sem perdão de Alison Klayman (EUA, 2011) e Não saia de casa! de Ai Weiwei (China, 2013).

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apresentado por Joerg Rieger. Não trata-se de uma tentativa de refutar ou desqualificar completamente a tese de Woodberry no sentido de fechar a discussão, nem tampouco de oferecer respostas definitivas para as questões levantadas. As questões são apresentadas aqui na tentativa de propor um diálogo sem simplificar demais a problemática ou negligenciar alguns aspectos que consideramos extremamente relevantes. Seguem abaixo as questões: (1) Por que Woodberry não dialogou com as obras de diversos pesquisadores que levam a sério os fatores culturais e religiosos? Se por um lado, Woodberry afirma que “(...) social scientists should take culture and religion more seriously” (p. 269); por outro lado, podemos dizer que diversos pesquisadores levaram e levam a sério os fatores culturais e religiosos: desde Edward E. Evans-Pritchard até Victor W. Turner, Clifford J. Geertz, Stanley J. Tambiah, Peter L. Berger, Terence O. Ranger, Jean Comaroff, e Danièle Hervieu-Léger, entre muitos outros. Neste sentido, de dialogar com a produção destes pesquisadores, Woodberry poderia ter problematizado e apresentado outras formas de interpretação da própria noção de conversão a uma “religião universal”, como diria Max Weber — no caso, o cristianismo em sua versão protestante. A noção de conversão apareceu no artigo de Woodberry supostamente da mesma maneira que foi proposta por Weber (2012), como uma mudança na vida dos indivíduos, ou interiorização de uma “ética da convicção”, que faz com que estes indivíduos rompam laços antigos e criem novas comunidades (cf. ibidem, p. 385). No entanto, pesquisas em diferentes contextos indicam que a conversão ou cristianização pode ter significados distintos para os indivíduos e grupos entre si (cf. Hefner, 1993). Em pesquisa de mestrado, a partir da leitura de etnografias missionárias, refletimos sobre o modo como os nativos evangelizados em contextos africanos converteram-se ou cristianizaram-se em seus próprios termos (cf. Fiorotti, 2012). Pensando em análises das democracias que levam a sério os fatores religiosos, mencionamos que algumas pesquisas, em contextos africanos, têm interpretado os discursos e as práticas religiosas em termos inerentemente políticos (cf. Geschiere, 2012; West, 2008). Estas pesquisas nos ajudam a pensar de que maneira os fatores religiosos geram transformações nas democracias em contextos africanos. (2) A quem interessa esta pesquisa de Woodberry?

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Esta é uma questão que aponta primeiramente para as motivações de Woodberry que, por sua vez, não foram explicitadas no artigo. A partir de onde ele fez a pesquisa? Por que Woodberry escolheu esta temática? Sua escolha está relacionada com o fato dele ser um norteamericano, um cristão protestante e filho de um missionário protestante? Há algum senso de superioridade ou atitude colonialista em suas motivações? Não sabemos se estas questões foram abordadas na tese de Woodberry, mas poderiam ser abordadas no artigo. No entanto, mais importante do que as motivações de Woodberry, são as repercussões e usos da sua pesquisa. A quem interessa esta pesquisa de Woodberry? Quem financiou a pesquisa e quem se beneficiará com estes resultados apontados por ela? São questões muito importantes. Sobre suas motivações, Woodberry enuncia algo neste sentido num depoimento presente na reportagem da revista Christianity Today: “We don't have to deny that there were and are racist missionaries”, says Woodberry. “We don't have to deny there were and are missionaries who do self-centered things. But if that were the average effect, we would expect the places where missionaries had influence to be worse than places where missionaries weren't allowed or were restricted in action. We find exactly the opposite on all kinds of outcomes. Even in places where few people converted, [missionaries] had a profound economic and political impact.” (Woodberry apud Dilley, 2014)

Aqui, Woodberry parece motivado a lutar contra um estereótipo em relação aos missionários protestantes como um todo. (3) A pesquisa de Woodberry não estaria reproduzindo a tendência de vincular os missionários protestantes ao ideário liberal e ao espírito democrático? Após nos questionarmos sobre as motivações de Woodberry, ainda sem as respostas sobre estas motivações, lembramos que os agentes do protestantismo têm a tendência de vincular o protestantismo ao ideário liberal, ao espírito democrático e ao mundo moderno (cf. Wirth, 2011, pp. 17-18). A pesquisa de Woodberry não estaria reproduzindo esta tendência? (4) Woodberry não estaria reforçando o dualismo “apoio ao colonialismo versus contribuição para a emancipação nacionalista”? Neste momento, lembramos que há uma tendência na historiografia das missões cristãs, especialmente nos contextos africanos, em transformar a influência dos missionários, por um lado, em mero apoio ao colonialismo ou, por outro lado, numa contribuição para a emancipação

nacionalista

(cf.

Péclard,

1999,

p.

113).

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Ou seja, uma tendência dualista e maniqueísta que sempre coloca a influência dos missionários num dos lados. Woodberry não estaria reforçando este dualismo? Podemos mencionar o fato de que o próprio etos missionário deu um lugar de destaque ao trabalho como meio de evangelização. Por mais que nossas análises tenham que buscar os efeitos indiretos da presença missionária que atuava com este paradigma colonizador, efeitos que podem ser surpreendentemente positivos e ligados às mais diversas formas de resistência anticolonial; por outro lado, não podemos negar que, em contextos africanos, houve uma intenção clara de formar uma população rural como mão-de-obra dócil, barata e bem treinada que não criasse “problemas” aos colonizadores (cf. ibidem, p. 129). Já em contextos latino-americanos, pesquisadores indicam que os protestantes fizeram uma opção pelas classes médias e altas (cf. Wirth, 2011, p. 57). (5) Por que Woodberry não enfatizou a variável denominacional e as disputas intradenominacionais dos protestantes? Se por um lado, como mencionamos anteriormente neste ensaio, é possível fazer algumas generalizações sobre os missionários protestantes e o chamado etos missionário, do final do século XIX e início do século XX; por outro lado, como é destacado também por pesquisadores das missões cristãs (cf. Bosch, 2002; Péclard, 1999, pp. 117-118), a variável denominacional passou a ser cada vez mais importante, inclusive com a “criação de pequenos e exclusivos ‘territórios’ de anglicanismo, presbiterianismo, luteranismo, etc.” (Bosch, 2002, p. 400) nas colônias. Estas denominações que desenvolveram-se em diversas colônias, permaneceram, por longos períodos, em alguns casos até a segunda metade do século XX, ligadas às sociedades missionárias e sedes das suas denominações na Europa ou na América do Norte, dependendo e sendo controladas por estas últimas. Além desta variável denominacional com as atitudes paternalistas e controladoras das sociedades missionárias e sedes das denominações, variável que a nosso ver não foi enfatizada satisfatoriamente por Woodberry, acreditamos que também é preciso levar em consideração as disputas intradenominacionais ao analisar o desenvolvimento e a influência das missões protestantes nestes diferentes contextos coloniais e pós-coloniais. (6) A pesquisa de Woodberry não negligenciou a própria vitalidade e resistência das sociedades e culturas locais? Esta última questão nos remete a uma outra questão que já nos colocamos

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neste ensaio, será que o conceito de esfera pública, proposto por Jürgen Habermas (2003), é o mais recomendado para analisarmos estes diferentes contextos da África, da Ásia, da América Latina e da Oceania? Mesmo seguindo Woodberry e admitindo que houve a emergência de esferas públicas nestes diferentes contextos em decorrência da presença de missionários protestantes, ainda assim precisamos admitir que as diversas sociedades envolvidas têm suas histórias que influenciaram tanto as situações coloniais como as pós-coloniais. Por vezes, pareceu-nos que a abordagem de Woodberry considera estes diferentes contextos como tabula rasa até a chegada dos colonizadores e dos missionários protestantes. Por exemplo, Georges Balandier (1976) destacou que tanto os Estados africanos que desapareceram como os que permaneceram apesar da partilha colonial, podem afetar os modelos e a consolidação dos Estados até hoje. Balandier (1969) já havia destacado anteriormente, no clássico Antropologia política, que a análise de diversos fenômenos contraria as chamadas “teorias banais do dualismo sociológico” (ibidem, p. 166). Ou seja, a análise destes fenômenos supostamente revela indivíduos que não organizam suas vidas situando-se no sistema tradicional nem no sistema moderno, mas sim numa dialética que opera entre um e outro e faz surgir um terceiro. O que dizer após as seis questões propostas? Chegamos ao fim deste ensaio com a sensação de que Woodberry não está propondo somente uma reavaliação das raízes da democracia em diferentes contextos da África, da Ásia, da América Latina e da Oceania; mas implicitamente, ou nem tanto, como mostramos no seu depoimento citado (cf. Dilley, 2014) e principalmente por conta das repercussões (cf. Ribeiro, 2014; Van der Meer, 2014), ele pretende provar que a presença dos missionários protestantes nestes contextos trouxe mais benefícios do que prejuízos. No entanto, se este é um dos objetivos da pesquisa, as questões que foram propostas a partir do desafio das margens tornam-se ainda mais urgentes. Uma pista para aqueles que estão nesta empreitada, ou numa disputa que busca legitimar as atuações dos missionários protestantes na situação colonial, está sinalizada no título do ensaio. Onde está a herança missionária protestante de resistência anticolonial? Esta herança não pode ser medida somente de acordo com os supostos benefícios ou prejuízos culturais, políticos e econômicos, mas também em termos de autonomia dos evangelizados em relação aos respectivos evangelizadores e da vulnerabilidade destes últimos, o que supõe um olhar mais atento aos diálogos entre missionários e nativos e às relações mútuas.

 

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