Os amuletos egípcios: formas animais

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Os amuletos egípcios: formas animais

Trabalho realizado para a disciplina de História Comparada das Religiões Pré-Clássicas, regida pelo Profº Dr. Luís Manuel de Araújo

Entregue a: 26 de Junho de 2015

Joana Vieira Varela Nº 46066 Mestrado em História, especialidade de História Antiga

Ano lectivo 2014/2015

Índice:

Os amuletos: uma definição inicial………………………...……………………...……..…3

Os animais do Antigo Egipto: a fauna mais comum e as ligações aos deuses…...………....6

Os animais como formas e seres amuléticos.……………………………...……….……...18

Bibliografia………………………………………………………………………………...21

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Os amuletos: uma definição inicial Os amuletos e a crença em algo superior sempre estiveram presentes na vida do Homem. A civilização egípcia não foi excepção. Este povo culto e instruído desenvolveu muitas técnicas de medicina, entre outras, tendo sempre em vista uma perspectiva não só anatómica mas também mágica. Como Rogério de Sousa refere, “a função mágica e a função química combinam-se na confecção dos medicamentos de forma a utilizar as substâncias que melhor possam combater o agressor, tanto no plano «etéreo», como no plano estritamente físico e material”1, utilizando-se artefactos que serviriam também para proteger, tanto na vida como na morte. Estes artefactos são então os amuletos. Os amuletos eram vistos (e são ainda hoje por quem neles acredita) como uma forma de protecção contra o “mau-olhado”, doenças, entre outras maleitas, sendo que tanto eram utilizados pelos vivos como eram colocados nas ligaduras que envolviam os corpos dos mortos, por exemplo. Ainda que por vezes seja difícil fazer a distinção entre os dois tipos de amuletos, por norma os que eram utilizados enquanto a pessoa estava viva tinham pequenos orifícios onde seria colocado um fio, para serem usados ao pescoço. Contudo, por vezes os amuletos que eram empregados em vida acompanhavam o morto na sua viagem para o mundo de Osíris2, o deus da vegetação, morte e ressurreição 3. Com uma cronologia bastante alargada, desde a Época Pré-Dinástica até à Greco-Romana, os amuletos prevalecem apenas com algumas alterações, mais marcadas a partir da implantação do cristianismo 4. Estes objectos com um cariz mágico adquiriam-no não só através de fórmulas complexas como encantamentos que eram recitados ou escritos em papiro e colocados no interior do amuleto, mas também através das suas características mais próprias, como o material de que eram feitos, a sua cor (por exemplo, o verde como símbolo da vegetação e de regeneração e o vermelho como cor do Sol poente, assim como do coração) e a sua forma, representando deuses e animais sagrados.5

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Vide Rogério de Sousa, “Os médicos no antigo Egipto: o simbolismo da prática médica”, Arquivos de Medicina. Direcção de Henrique Barros. Porto, ArquiMed, 2003, p.66 2 Confira Luís Araújo, “Amuletos”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p. 66 3 Atente em José Sales, As divindades egípcias. Uma chave para a compreensão do Egipto antigo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Estampa, 1999, p.29 4 Retome Luís Araújo, op. cit,. p.66 5 Vide Luís Araújo, A colecção egípcia do Museu de História Natural da Universidade do Porto. 1ªedição, Porto, Edições Centenário - Catálogo de Exposição, 2001, p.153

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Tanto as pedras preciosas como as rochas e as plantas eram utilizadas como amuletos pois eram vistas como formadas a partir ou através dos deuses, como se pode observar na descrição feita no Papiro Salt 825. Utilizando a tradução de Ritner, lê-se “Horus cried. The water fell from his eye to the earth and it grew. That is how dry myrrh came to be. Geb was sad on account of it. Blood fell from his nose to the ground and grew. That is how pines came to be and resins came to be from their fluid. Then Shu and Tefnut cried exceedingly. The water from their eyes fell to the ground and it grew. That is how incense came to be.”6.Assim, se as lágrimas e sangue dos deuses caíram na terra, aquilo que dela é extraído terá então propriedades mágicas derivadas dos deuses. Ainda que o Egipto fosse uma terra rica em rochas, pedras preciosas e animais, havia contudo uma procura de materiais que não poderiam ser obtidos no vale do Nilo propriamente dito. Turquesas podiam ser extraídas do Sinai, a prata provavelmente seria recolhida na Anatólia, o cobre na Núbia e no Sinai, enquanto que madeiras finas ou ricas e produtos como mirra e incenso seriam importados da Ásia. Uma das mais conhecidas pedras preciosas utilizadas para amuletos e jóias era o lápis-lazúli, conhecida pelos egípcios como “khesbed”, sendo extraída principalmente no Badakhshan, Afeganistão 7 . Também a faiança (pasta de quartzo vitrificada) era um dos materiais preferidos para a criação de amuletos: com tonalidades azuladas ou esverdeadas, devido a uma mistura de óxidos, que simbolizava a regeneração, sendo este material particularmente utilizado durante a Época Baixa. 8 Para que os amuletos funcionassem como tal era, por vezes, necessário dizer frases ou escrever num pergaminho fórmulas mágicas que eram então colocadas no seu interior e recitadas por um mágico. Para protecção de membros de crianças, por exemplo devia ser “recited over a child when the sunlight rises (…). The spell is to be spoken over an amulet made of gold and bread pellets, linen, and a seal inscribed with a crocodile and a hand, which is then worn by the child as protection” 9. Havia então especialistas na escolha dos amuletos para diversas situações, sendo este “curandeiro” quem indicava quais os amuletos a usar e como o fazer.

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Vide Robert Kriech Ritner, “The mechanics of ancient Egyptian magical practice”, Studies in Ancient Oriental Civilizations, Thomas HOLLAND, ed., Chicago, The University of Chicago, 2008, p.39 7 Confira Ian Shaw, ed. The Oxford History of Ancient Egypt, 1ªedição, New York, Oxford University Press, 2003, p.313 8 Recupere Luís Araújo, op.cit.. p.153 9 Atente em Kasia Szpakowska, Daily life in Ancient Egypt, 1ªedição, Austrália, Blackwell Publishing, 2008, p.31

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Tal como protegiam, os amuletos podiam ser utilizados para o mal, ou seja, tanto o “encantador” como os seus objectos podiam ser hostis. Os textos conteriam então fórmulas para contrariar o efeito benéfico dos amuletos, como se pode observar no papiro Ebers, onde dois profissionais se opõem, mostrando o elo que une a medicina à magia com a presença de um sacerdote ou sacerdotisa da deusa Sekhmet, conotada com um carácter agressivo e ligada a doenças e pragas, principalmente a partir do Império Novo. 10 Entre os diferentes tipos de amuletos foi feita uma distinção, por William Flinders Petrie, em cinco classes: amuletos ou similares (na qual se incluem, por exemplo, “o olho udjat, rã e mosca, ceptro de papiro uadj, garra de felino, dente”), amuletos de poder (como o ankh, os contrapesos dos colares menat, os encostos de cabeça, o pilar djed, o signo pesechkaf da abertura da boca, coroas e as serpentes sagradas ureus), os amuletos de propriedade (o colar usekh, os selos e as estatuetas funerárias, que se podem dividir em chauabtis e uchebtis), os amuletos de protecção (como o nó de Ísis ou tjet, os escaravelhos, os peitorais, representações de animais, conchas, cordas com nós, do hipocéfalo, pedras com inscrições e a cruz cristã) e, por fim, os amuletos de divindades que, como o nome indica representavam os vários deuses da mitologia egípcia, tanto com cabeças humanas como com cabeças de animais, ou até os animais divinizados, isto é, a representação de um deus através de animal 11. Há que fortalecer esta noção de manifestação dos deuses através dos animais e não dos animais como deuses: os animais eram apenas “manifestações divinas, corporizações dos deuses a que estavam ligados”, sendo que um deus podia ter mais de um animal ligado a si. 12

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Retome Robert Ritner, Idem, p.53 Vide Luís Araújo, “Amuletos”, Dicionário do Antigo Egipto, p. 66 12 Confira Luís Araújo coord., Antiguidades Egípcias. 1ªedição, Vol. 1, Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia - Catálogo da colecção do Museu Nacional de Arqueologia, 1993, p.248 11

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Os animais do Antigo Egipto: a fauna mais comum e as ligações aos deuses A maioria dos amuletos encontra-se na categoria ligada a deuses e a representações destes, na sua manifestação animal ou não. Torna-se então necessário fazer uma observação cuidadosa da fauna egípcia e da sua associação com os deuses desta civilização. Os deuses eram frequentemente representados como figuras humanas, muitas vezes com cabeças de animais que lhes eram associados. Estes animais são símbolos dos deuses pois estes, como seres divinos, têm tendência a esconder-se, protegendo a sua identidade, sendo que alguns destes animais ou símbolos tornam-se traços essenciais das figuras que representam. Contudo, há que ter em mente que nenhum destes animais é arbitrário, estando normalmente ligados por mitos e lendas aos deuses que representam. É importante, porém, lembrar que esta zoolatria que se tornou mais premente a partir da Época Baixa faz parte de um culto ligado obrigatoriamente à divindade, tornando-se assim (quase como a visão que se tem do faraó como ligação aos deuses) um elo de união com os deuses distantes. 13 No que toca à fauna selvagem do Antigo Egipto, esta é bastante diferente daquilo que hoje se pode observar na mesma área. Localizando-se este país no continente africano, grande parte dos animais enquadram-se no que se pode considerar a típica fauna africana, desde leões, a girafas, gamos, antílopes, cobras, cascavéis, leopardos, linces, tartarugas, sapos, entre muitos outros.14 Durante o Egipto faraónico, era muito usado o marfim de dentes de hipopótamo, mas o facto de existirem pentes de marfim retirado de elefantes dá-nos a indicação que este animal ainda existiria no Egipto no fim do quarto milénio A.C.15. Animais com grande apetite, os hipopótamos englobam em si uma dualidade: inicialmente eram vistos de maneira positiva, conotados com a deusa Taueret, representada por um hipopótamo fêmea que protegia as mães e as mulheres grávidas, e conotados com a deusa Apet, igualmente ligada à maternidade. Por outro lado, este mesmo hipopótamo era visto como uma força destruidora, ligada à água, e que foi associada ao deus Set devido a essa mesma força, como algo negativo, que perturbava

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Vide José Nunes Carreira, “Deuses”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.273 14 Confira José das Candeias Sales, “Fauna”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.370 15 Atente em: Dorothea Arnold, “Egyptian Bestiary”, The Metropolitan Museum of Art Bulletin. New Series, Vol. 52, No. 4. USA, The Metropolitan Museum of Art, 1995, p.8. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/3269051

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a maet16. O seu número foi sendo reduzido devido à forte caça que era feita a este animal, sendo que o século XIX foi a última época em que se pode observar este animal de porte grande no Egipto. Era associado maioritariamente ao renascimento, pois o hipopótamo surgia da lama que fertilizava as plantações que alimentavam a população egípcia. 17 Os elefantes foram dos animais que mais rapidamente se extinguiram no Egipto, sendo que actualmente esta espécie é inexistente no Egipto. Como acontecia com o hipopótamo, era extraído destes animais o marfim, que seria utilizado para armas, jóias e obras de arte. 18 Segundo E. A. Wallis Budge, a cidade de Elefantina teria o seu nome não pelo animal ser venerado nesse local, mas provavelmente por era semelhante em forma ao elefante. Este autor refere também que o elefante teria sido bastante referenciado em tempos pré-dinásticos pois “on the top of one of the standards painted on predynastic pottery' we find the figure of an elephant, a fact which indicates that it was the god either of some great family or district” 19. Também as gazelas e os antílopes se tornaram escassos no Egipto actual muito recentemente, no entanto, estes animais eram raros e apenas o egípcio caçador os conheceria bem. As gazelas eram o animal sagrado da deusa Anuket, uma deusa da caça, o que mostra a sua origem núbia, assim como as plumas usadas na sua coroa vegetal20. Como todos os deuses egípcios, Anuket tem em si a dualidade típica de um deus: “Her name could mean the ‘embracer’, either benignly as a nurse or lethally as a strangler”, mostrando assim que tem um lado positivo e um lado negativo.21 Este animal era também conotado com o deus Reshep (Reshef ou Reshepu), um deus da guerra sírio que foi importado para o panteão egípcio, e que era por vezes representado com a cabeça de uma gazela, conectando também com o deus Set22.

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Confira Maria João Seguro, “Hipopótamo”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.425-426 17 Retome Dorothea Arnold, op.cit., p.33 18 Vide José das Candeias Sales, “Elefante”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.315-316 19 Atente em Ernest Alfred Wallis Budge, The Gods of the Egyptians or studies in Egyptian mythology. Vol. II, 1st edition, London, Methuen & Co., 1904, p.365. Disponível em: http://www.etana.org/sites/default/files/coretexts/20626.pdf 20 Vide José das Candeias Sales, “Anuket”, op.cit., pp.81-82 21 Confira George Hart, “Anukis”, The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses. 2nd edition, London, New York, Routledge, 2005, p.29. Disponível em http://obinfonet.ro/docs/relig/egipt/egyptgods.pdf 22 Vide Pat Remler, “Frogs”, Egyptian mythology A to Z. 3ª edição, USA, Chelsea House Publishers, 2010, p.65. Disponível em: http://www.mrpandit.net/resources/EgyptianMythologyAtoZ.pdf e atente em George Hart , “Reshep”, op.cit. p.137

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O ibéx era um animal que era visto como amuleto de boa sorte e renovação, utilizado particularmente como presente de ano novo. Este animal era também utlizado como o signo hieroglífico para “ano”23. Os canídeos selvagens, como o cão selvagem, que viviam principalmente nas margens do deserto, deixam dúvidas de identificação até a zoologistas. Não se estranha, por isso, que seja difícil a identificação destes animais pelos próprios egípcios – como exemplo temos uma das formas do deus Anúbis com a sua cabeça de canídeo, ou Duamutef, um dos filhos de Hórus também com uma cabeça de canídeo representado nos vasos das vísceras utilizados para guardar o estomago do morto, ou ainda Uepuauet, um deus venerado em Asyut com outra cabeça de canídeo - animais que ainda hoje deixam dúvidas sobre a sua espécie. 24 Ainda assim, podemos identificar algumas diferenças: o cão selvagem teria um “focinho afilado e orelhas pontiagudas” e era normalmente representado com uma cor preta ligada ao renascimento, pois era colocado uma pasta à volta do defunto, que lhe daria uma cor mais escura.25 Estes cães foram associados a Anúbis pois deambulavam pelas necrópoles, que por sua vez eram o domínio do deus Anúbis, deus ligado à mumificação, aos defuntos e aos cemitérios. Muitas vezes este deus aparece na sua versão canina, em múmias, sarcófagos e amuletos protegendo o local de repouso do corpo do defunto26. Quanto aos felinos egípcios, os leões tornaram-se símbolos hieroglíficos, sendo por isso um felino muito frequente na fauna egípcia, enquanto que as leoas foram usadas para dar forma à deusa Sekhemet, entre outras. Os leões eram o símbolo do poder da monarquia – daí a esfinge ter o corpo desse animal. Como Dorothea Arnold descreve, “the lion embodies the forces of chaos, it belongs to a world beyond the ordered realm of the Egyptian king”27 e por isso era também caçado intensivamente. 28 A este animal estavam associados vários deuses, como Mahés, filho de Bastet, que ganhou popularidade durante o Império Novo e que era visto como protector dos inocentes e devorador dos culpados. A partir do período ptolemaico, a cidade de Leontópolis (actual Tell el-Mukdam) era o centro do seu culto, com um grande templo dedicado a este deus.29 A deusa Mut também era representada com cabeça de leoa, 23

Retome Dorothea Arnold, op.cit., p. 13 Recupere Dorothea Arnold, op.cit., p. 15 25 Vide Luís Manuel de Araújo, “Cão”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.177 26 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Anúbis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo, 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.80-81 27 Vide Dorothea Arnold, op.cit., p.16 28 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Leão”, op.cit., p.490 29 Vide Pat Remler, “Maahes”, op.cit., p.111. 24

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ligando-a também à deusa Bastet30. Aker, deus da terra depois suplantado por Geb, também era representado por dois leões, que deram origem a uma esfinge dupla, era também protector dos mortos. 31 Talvez a mais conhecida das deusas com cabeça de leoa seja Sekhmet, protectora da cidade de Mênfis e deusa associada a um lado mais feroz dos felinos, apesar de, como é tipicamente egípcio e já foi mencionado, também esta deusa tem si a dualidade da cura e da agressividade. 32 Assim como o leão, também o leopardo seria um animal frequente nos terrenos egípcios, sendo que a sua pele era frequentemente usada por sumo-sacerdotes e acreditava-se que garantiam fertilidade e rejuvenescimento33, por conseguinte era também usada nas cerimónias do “abrir da boca” e era também utilizada pelos mortos. Este animal estava também ligado aos guerreiros devido ao seu “porte altivo, as suas habilidades, como caçador, a rapidez, a agilidade e ferocidade”34, sendo por isso também associado, como o leão, à monarquia. Há que apontar que o leopardo e a chita eram por vezes confundidos, e actualmente estes animais estão muito pouco representados no Egipto. A pantera (ou leopardo negro) era um dos animais que representava a deusa Mafdet (por vezes também representada por um leão), deusa protectora do faraó. Esta deusa feroz combatia cobras e escorpiões: “the scratch of her claws is lethal to snakes, hence symbolically the barbs of the king’s harpoon become Mafdet’s claws for decapitating his enemies in the Underworld” 35 . Além desta vertente, Mafdet também era vista como uma deusa que acompanhava as almas dos defuntos no seu caminho para o Além. 36 Continuando nos felinos, o gato selvagem esteve bastante representado no Egipto, logo desde o Império Antigo. Estes gatos selvagens eram bastante ferozes com vários animais, especialmente com cobras, o que os ligava especialmente ao deus Ré, ligação esta que pode ser observada no mito da luta de Ré com a serpente Apófis. A partir do terceiro período intermediário (c.a.1070-712 B.C), estes gatos selvagens começaram a ser associados à morte e ao cuidado com o corpo do defunto. 37

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Confira George Hart , “Mut”, op.cit., p.97 Vide Luis Manuel de Araújo, “Aker”, op.cit., p.40 32 Atente em George Hart , “Sekhemet”, op.cit.,, p.138-9 33 Retome Dorothea Arnold, op.cit., p. 19 34 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Leopardo”, op.cit., p.493 35 Vide George Hart , “Mafdet”, op.cit., p.90 36 Vide Pat Remler, “mafdet”, op.cit., p.113 37 Recupere Dorothea Arnold, op.cit.,p. 21 31

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Os gerbos de longas orelhas eram também comuns no Antigo Egipto. Na arte era comummente representados apoiados nas suas patas traseiras, com as patas da frente levantadas, um gesto que os egípcios teriam associado a uma prece ao deus solar Ré. Tal como o gato selvagem, estes gerbos foram associados a rituais funerários.38 Um exemplo de outro animal normalmente representado nas suas patas traseiras é a lontra, apesar desta representação estar mais presente durante o período tardio e o período ptolemaico– representação esta que também estaria ligada à veneração de Ré. No Império Antigo, este animal seria representado a apanhar peixe no meio de plantações de papiro39. Existiam também dois tipos de ouriços-cacheiros no Egipto, sendo que a espécie Paraechinus aethiopicus, que hoje está praticamente extinta, seria bastante comum durante a época faraónica. Os egípcios teriam observado que os ouriços se escondiam no subsolo quando a comida era escassa, reaparecendo mais tarde – o que os levaria a fazer uma associação com a vida e este animal, isto é, ele renascia, ele voltava à vida. 40 Acredita-se que existam no Egipto, actualmente, cerca de trinta e quatro espécies de cobras, apesar de que no Antigo Egipto existiram cerca de quarenta e quatro, sendo a mais conhecida e difundida a “cobra, na sua versão mais encolerizada que em egípcio era chamada iaret, isto é, «a que se ergue», em clara alusão à sua postura quando está prestes a atacar”41. Outra cobra bastante conhecida é a cobra Nadja nigricollis, que terá sido maioritariamente conhecida pela sua designação latina, “uraeus”. Esta última cuspiria aos seus inimigos, sendo por isso representada nas coroas dos faraós, entre outros objectos, como símbolo amulético de protecção contra os inimigos42. É esta cobra que representa, por vezes, o Baixo Egipto. As cobras representam a eterna renovação contudo, a serpente Apófis é a inimiga do deus Ré, que tenta todas noites impedir a passagem da barca solar. Três grandes deusas estavam associadas a este animal: Uadijt, Renenutet e Meretseguer, correspondendo cada uma a um local onde se podia encontrar frequentemente estes animais, isto é, pântanos, campos de milho e colinas do deserto, respectivamente. Uadjit era associada ao papiro e à protecção de crianças, Renenutet era associada à colheita e à alimentação eterna e Meretseguer era uma divindade que não aparecia sempre como benevolente, pois podia atacar como um leão ou ser dócil e o seu nome significava “a que ama o silêncio”. As montanhas desta última deusa seriam usadas para 38

Vide Dorothea Arnold, op.cit.,p. 21 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p.25 40 Retome Dorothea Arnold, op.cit., p.22-23 41 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Serpente”, op.cit., p.782 42 Atente em Dorothea Arnold, op.cit., p.43 39

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entrar no submundo, associando o facto da cobra que a representava dormir debaixo de terra e acordar e sair desta todos os dias. 43 A lebre, apesar de não ser considerada uma presa valiosa para os caçadores, está bastante presente na fauna egípcia, o que se pode observar pelo facto de este animal se ter tornado também um hieróglifo, com um significado importante: além do seu som (wn), este hieroglífico seria utilizado para o verbo “ser”. Segundo Dorothea Arnold, “Ancient Greek and Roman authors believed that hares could sleep with their eyes open and reproduce without copulation. If these were also Egyptian beliefs, the hare might have represented extreme vigilance or the primeval deity’s self-creating power” 44 . Ainda que o número um seja associado “com os tempos primordiais e com o princípio da criação” 45, contudo, enquanto concordo com a primeira possibilidade que a autora apresenta, a segunda já me parece algo improvável devido à conhecida importância que os egípcios atribuíam ao número dois, sendo que os mitos de criação, associados então à “primeval deity”, como a autora lhe chama, incluem sempre dois elementos de criação, isto é o elemento único não consegue, por si só, criar algo novo, sendo sempre necessária a presença de dois participantes no acto da criação, seja o coração e a boca de Ptah, seja a mão direita de Atum e o próprio Atum, entre outros mitos46. Um dos animais mais perigosos existentes no Egipto era o crocodilo: fosse a navegar, fosse a passar com o gado pelas águas do Nilo, a população e os seus animais estavam constantemente ameaçados por este animal. Ainda que nos dias actuais o crocodilo esteja praticamente extinto desde o norte do Egipto até à zona de Assuão, está a prosperar no artificial Lago Nasser.47 Este animal foi associado a Set e ao deus Sobek, deus este visto como um símbolo de grandeza faraónica devido à sua capacidade de destruição. Sobek pode aparecer representado totalmente como crocodilo com uma coroa de plumas ou parcialmente com forma humana, sendo que está especialmente presente na zona do Faium. 48 Além destes animais, as tartarugas também eram frequentes no Antigo Egipto, representando um dualismo: “Being an animal of the shadowy deep, the turtle embodied 43

Vide Geraldine Pinch, “Snakes”, Egyptian Mythology: a guide to the Gods, Goddesses and traditions of Ancient Egypt, 1st edition, New York, Oxford University Press, 2002, p.199-200 44 Confira Retome Dorothea Arnold, op.cit., p.23 45 Vide Luís Manuel de Araújo, “Números”, op.cit., p.632 46 Para uma visão mais detalhada destes mitos, confira Luís Manuel de Araújo, Mitos e Lendas: Antigo Egipto, 1ªedião, [s.l.], Livros e Livros, 2005, pp-25-28 47 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p. 32 48 Vide George Hart , “Sobek”, op.cit., p.148

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cosmic danger and thus was ritually annihilated, but its power could also be made to work to the advantage of people by warding off evil.”49 Os sapos e rãs também eram (e são ainda) frequentes no Egipto, aparecendo maioritariamente durante as cheias do Nilo. Os antigos egípcios associavam-nos à criação, ao nascimento e à regeneração, pelas mesmas razões que associavam o hipopótamo ao renascimento: estes animais surgiam da lama fértil que o Nilo trazia nas suas cheias. 50 A deusa Heket era representada por uma rã, sendo “dadora de vida, que formava a criança no ventre da mãe e assistia ao parto”51. O peixe mais comum no Egito, Tilapia (Bolti actualmente), reproduzia-se dando à luz os ovos na sua boca, o que teria levado os egípcios a pensarem que se trataria de uma forma de geração espontânea, sendo por isso fácil de perceber que este peixe simboliza-se a renovação da vida. 52 O musaranho e o sacarrabo eram normalmente representados um ao lado do outro, servindo de complemento um ao outro: o primeiro, devido ao seu voraz apetite, era adorado pelos egípcios pois estes criam que ele comia ovos de crocodilo. O segundo animal, o sarracabo, servia de complemento à visão do primeiro animal, pois enquanto que o musaranho representada a cegueira das divindades solares, o sarracabo fornecia essa visão. Este último animal era por vezes chamado de rato-de-faraó, e matava ratos e serpentes, sendo por isso utilizado como símbolo de protecção contra estes animais. 53 O pato-real é uma das espécies mais conhecidas, sendo representada como hieróglifo, o que mostra o quão comum ele seria na época do Antigo Egipto. Esta ave era utilizada, entre outras, como oferenda aos deuses e aos defuntos54. Continuando nas aves, o íbis é uma ave sagrada que não é avistada no Egipto desde cerca de 1876. Apareceriam maioritariamente durante as cheias do Nilo, para acasalar, vindos do sul de África. Estes animais apresentam um corpo branco e uma cabeça e pescoço negro, sendo muitas vezes representados em tons verdes que aludem à vegetação, e por isso à

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Retome Dorothea Arnold, op.cit., p.34 Idem, ibidem, p.34 51 Vide Luís Manuel de Araújo, “Heket”, op.cit., p.411 52 Recupere Dorothea Arnold, op.cit.,p. 37 53 Idem, ibidem, p.39 54 Vide “Pato”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo, 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.666 50

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fertilidade. 55 Actualmente o British Museum tem múmias destas aves, que teriam servido de oferenda ao deus Tot, o principal deus associado a esta ave 56 . O íbis sagrado terá sido associado ao deus desde o período pré-dinástico, sendo que este deus alado levaria o rei do Egipto sobre o rio celestial caso o barqueiro estivesse relutante, sendo que o próprio rei se poderia transformar nesta ave, com as asas de Tot.57 Também as garças estavam largamente representadas no Delta do Nilo, sendo frequentemente representadas iconograficamente. Os antigos egípcios acreditavam que estas aves representavam o faraó na sua subida pelo céu, vendo-as também como uma representação da fénix. 58 A fénix era chamada de Benu, uma ave que em alguns mitos é retratada como o ser vivo mais velho do mundo e que está associada ao brilho e ao nascer do sol e, por isso mesmo, associada ao deus Ré e Osíris, o primeiro enquanto deus solar e o segundo enquanto guia “of the dead through the dangers of the underworld”. 59 Outra ave que seria bastante comum e que ganha grande significado na cultura egípcia é o falcão. Duas espécies ainda existentes no Egipto são o Falco biarmicus e o falcão peregrino, Falco Peregrinus 60 . Esta ave de rapina era normalmente associada à “manifestação da divindade cósmica, cujo corpo formava o firmamento, o olho direito o Sol, o olho esquerdo a Lua e as asas como protecção para terra”.61 O falcão era o animal por excelência do deus Hórus e, como o faraó era um Hórus vivo, fazia-se representar frequentemente por este animal. Porém, não era só o deus Hórus que era visto como falcão: o deus Anti, que mais tarde se assimilou a Hórus, era representado por um falcão com asas abertas, o deus Montu e o deus Sokar, que também se faziam representar, por vezes, por falcões.62 Tal como o falcão, o abutre vivia em zonas altas do Egipto, sobrevoando o deserto e as terras banhadas pelo Nilo à procura de alimento. Há que referir que no Egipto existem duas grandes espécies de abutres: o abutre-do-Egipto (Neophron ercnopterus) e o abutre sagrado (Gyps fulvus). Enquanto que o primeiro era o mais comum, o segundo era usalmente 55

Retome Dorothea Arnold, op.cit., p.30 Vide http://www.britishmuseum.org/explore/young_explorers/discover/museum_explorer/ancient_egypt/death/mumm y_of_an_ibis.aspx e http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/aes/m/mummy_of_an_ibis.aspx [consultados a 20/05/2015] 57 Confira George Hart , “Thot”, op.cit., p.156 58 Recupere Dorothea Arnold, op.cit., p. 31 59 Vide Geraldine Pinch, “Benu Bird”, op.cit., pp.117-118 60 Atente em Dorothea Arnold, op.cit., p. 45 61 Vide Luís Manuel de Araújo, “Falcão”, op.cit., p.362 62 Vide Pat Remler, “Falcon”, op.cit., p.60 56

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associado a divindades, em especial a deusas, como Mut e Nekhebet, devido à sua grande enveradura de asas, às “suas garras poderosas, o seu pescoço curvo, o bico longo e forte, e o olhar de aspecto perscrutador e agressivo”63. A maior parte das espécies de andorinhas existentes no Egipto não vivem permanentemente neste país, migrando apenas para o Egipto durante a primavera e o outono, migração esta que os antigos egípcios atribuiam a um ciclo regenerativo 64. Na arte, tal como acontece com o falcão, não há uma distinção das diferentes espécies de andorinhas.65 A poupa-eurasiática, Upupa epops, é uma ave colorida, que continua a ser bastante comum no Egipto. Dorothea Arnold refere que “in the Old Kingdom hoopoes were caught to be pets for children”66. Além destas aves, também a coruja-das-torres, Tyto Alba, marcava presença na fauna egípcia.

A

representação

desta

animal

foi

utilizada

como

signo

hieroglífico,

caracterítiscamente identificável devido ao seu desenho com cabeça algo arredondada, sendo que esta está virada de frente para o leitor, mostrando o olhar. Estas aves eram vistas, como ainda hoje o são, como caçadores natos, sendo também consideradas pelos antigos egípcios como aves ligadas ao luto e à morte. 67 Passando agora aos invertebrados, as abelhas tinham um importante papel no Antigo Egipto, fosse no que tocava à apicultura ou ao simbolismo. Desde cedo (provavelmente desde os primórdios dinásticos), a abelha foi utilizada para a extracção do mel, mas também para a alimentação, para fins medicinais e cosméticos 68 . Estas abelhas seriam armazenadas em recipientes de barro, sendo depois destes recipientes que se extraia o mel. A cera de abelha teve também um papel marcante, usada também em feridas, na fundição de metais, entre outras funções.69 Este animal representava o Baixo Egipto e a realeza, e estava ligado a várias deusas, como Nut, Hathor, Uadjit. Estava ainda ligada ao processo de criação: “nascidas das lágrimas do deus Ré, as abelhas exerciam a sua incansável e perene actividade sobre todas as flores, transportando o pólen vivificante, e participando assim na multiplicação da vida” 70.

63

Confira Maria João Seguro, “Abutre”, op.cit., p.25 Recupere Dorothea Arnold, op.cit., p.45 65 Idem, ibidem, p.45 66 Idem, ibidem, p. 46 67 Idem, ibidem p.47 68 Vide Maria João Seguro, “Abelha”, op.cit., p.19 69 Atente em Dorothea Arnold, op.cit., p.47 70 Vide Maria João Seguro, “Abelha”, op.cit., p.20 64

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As moscas eram outro animal bastante prezado no antigo Egipto, talvez pela sua velocidade de reacção e persistência. Representações destes animais eram oferecidas a soldados como recompensa pelo seu valor militar. Por vezes, as imagens de moscas podem ser confundidas com as de mosquitos. Para se protegerem destes insectos, os egípcios usavam redes de pesca e tentavam dormir em torres ou locais mais elevados, de modo a evitarem os mosquitos. 71 O escaravelho, Scarabeus sacer, era conhecido pelos antigos egípcios como kheper, e empurrava uma bola de esterco na terra sendo que este movimento foi associado ao movimento do disco solar no céu. 72 Este escaravelho alimentava-se dessa mesma bola de esterco e depositava nela os seus ovos, estando assim igualmente ligado ao renascimento.73 Era associado ao deus Khepri, o deus escaravelho que empurra a bola que era o disco solar pela abóbada celeste. 74 Outro animal bastante preponderante no Egipto era o escorpião, que ameaçava as populações com o seu veneno. Como a maior parte dos animais aqui referidos, também o escorpião era uma manifestação divina da deusa Serket, que era comummente representada com um escorpião no topo da cabeça. 75 Quanto ao gado, os egípcios criavam maioritariamente vacas e bois. Os bois eram utilizados para o trabalho agrícola, trabalho este que por volta do Império Médio começou a ser partilhado com os burros. Estes bois eram então utilizados agricultura, mas não só, pois as suas peles e chifres, além da sua carne, eram aproveitados para diversos materiais 76. Os touros variam entre animais com longos chifres e longas pernas e animais com longos chifres e pernas curtas ou ainda com chifres curtos ou sem chifres de todo. 77 A vaca era o animal associado maioritariamente à deusa Hathor, que normalmente era representada com cornos de vaca a rodearem o disco solar que tem em cima da cabeça, contudo também Ísis se faz representar de maneira muito semelhante. Este animal está associado à maternidade, tal como

71

Recupere Dorothea Arnold, op.cit., p.48 Vide Luís Manuel de Araújo, “Escaravelho”, op.cit., p.329 73 Retome Dorothea Arnold, op.cit., p.49 74 Vide Pedro Malheiro, “Khepri”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.482 75 Atente em Maria João Seguro, “Escorpião, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.331 76 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Boi”, op.cit., p.156 77 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p.51 72

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as deusas78. No caso do boi, o deus mais conhecido que se fazia representar por este animal era Ptah, na forma de boi Ápis, contudo esta forma em momentos suplantou o culto de Ptah, tornando-se uma divindade mais independente, principalmente na Época Baixa.

79

Retomando o que referi sobre o burro, este animal de carga foi domesticado logo desde o IV Milénio A.C., sendo não só um animal de carga mas também um meio de transporte. Tanto o seu pêlo como o seu leite eram aproveitados para fins medicinais. Numa vertente mais negativa, este animal era teimoso e era visto como símbolo de ignorância e foi o animal em que o deus Set foi transformado pelo deus Hórus 80 . Apesar de se conhecer o dromedário possivelmente desde o início da época dinástica 81, este só por volta do período romano é que se tornou um meio de transporte mais divulgado e utilizado. 82 Já o camelo terá sido introduzido no Egipto pelos Assírios durante o século VII a.C.. 83 Como o camelo, também o cavalo foi tardiamente inserido no Egipto. Trazidos pelos Hicsos, por volta de 1600 a.C., estes animais adaptaram-se rapidamente, tornando-se o animal de escolha para os carros militares e só na época ptolemaica é que terão sido usados para cavalgar. As três coisas que os egípcios mais valorizavam num cavalo eram a sua velocidade, a sua elegância e as suas maneiras.84 Enquanto que os animais anteriores eram mais tardios, o porco selvagem foi rapidamente domesticado, servindo essencialmente para alimentação. Este animal era visto como “porco” (assim como as pessoas que dele cuidavam), chegando até a serem feitas associações ao deus Seth. Por vezes a deusa Nut era descrita como uma porca que alimentava os seus filhotes, que seriam as estrelas – esta teoria quereria explicar o aparecimento e desaparecimento das estrelas.85 Haviam várias espécies de carneiros no Antigo Egipto, desde o Ovis platyura aegyptiaca ao Ovis longipes paleoaegyptiaca. O primeiro, normalmente tem longos chifres e pêlo menos grosso que o segundo, – utilizado para fazer lãs, e surge no Egipto por volta de 2000 a.C. Já o

78

Vide Cláudia Montes Farias, “Hathor”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 406-407 79 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Ápis”, op.cit., pp.83-84 80 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Burro”, op.cit., p.160 81 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p.54 82 Vide “Dromedário”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo, 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.284 83 Vide José das Candeias Sales, “Cavalo”, op.cit., p.190 84 Vide Dorothea Arnold, op.cit., p.54 85 Idem, ibidem, p.56

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segundo, surgiu durante o Império Antigo, vivendo no vale do Nilo, com longos cornos espiralados e pêlo comprido, assim como a sua cauda. Foi esta última espécie que serviu como imagem para o deus Knum. 86 Estes animais eram valorizados pelo seu leite, pelo seu pêlo, pela sua carne e pela utilidade para debulhar espigas durante as colheitas.87 No que toca aos macacos, pelo menos uma espécie terá sobrevivido até ao Império Médio, sendo que muitos destes animais eram importados da Etiópia e da Somália, servindo como entretenimento, principalmente para as senhoras. São normalmente representados no boudoir, mas também aparecem representações de macacos a comer e roubar tâmaras e figos. No Império Antigo, os macacos serviriam também como “cães-polícia”, isto é, há representações destes animais a apanhar ladrões 88 . Tal como o macaco, também o babuíno residente no Egipto terá desaparecido por volta do Império Médio, sendo por isso importados babuínos do Sul de África. Estes animais eram menos brincalhões e mais sérios que o macaco, sendo que no tempo das primeiras dinastias, o babúino era venerado e os antigos egípcios consideravam que ele veneraria o sol, o que lhe concedia uma maior importância que o simples macaco.89 O babuíno era, como o íbis, associado ao deus Tot 90 mas também ao deus Babi, conhecido pela sua agressividade e pelos apetites sexuais. 91 Por fim, temos o gato e o cão domésticos. Começando pelo cão doméstico, Canis familiaris, este animal era utilizado como cão de caça ou de guerra, sendo considerado um animal feroz92. Cães de guarda, estes animais eram considerados um símbolo de estatuto, sendo que os cães foram tendo diferentes designações ao longo do tempo, variando até no sentido em que a mesma palavra poderia significar animais com grandes diferenças entre si.93 Para concluir, e passando agora ao gato, os primeiros gatos domesticados teriam aparecido por volta do Império Médio e Império Novo, sendo principalmente apreciados pela sua capacidade de caça mas, como o cão, tornaram-se também companheiros que viviam com os seus donos em casa94. Eram animais associados à deusa gata Bastet, deusa da fecundidade e do lar. Foram muito representados na arte egípcia, em especial na “época saíta, período de 86

Idem, ibidem, p.56 Vide Malgorzata Kot Acúrcio, “Carneiro”, op.cit., p.179 88 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p.58 89 Vide Dorothea Arnold, op.cit., p.60 90 Vide José das Candeias Sales, “Tot”, op.cit., pp.831-832 91 Vide “Babi”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo, 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.134 92 Vide Luís Manuel de Araújo, “Cão”, op.cit., p.177 93 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p.57 94 Atente em Dorothea Arnold, op.cit., p.41 87

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extensa figuração animalista”95. Estes gatos seriam maiores que os gatos actuais, com “pêlo lustroso, , com orelhas longas e por vezes com brincos, bigodes espetados e cauda comprida”. Tanto os cães como os gatos, embora estes últimos em maior quantidade, foram sepultados e representados em túmulos, a acompanharem os seus donos para os protegerem no Além e para protegerem os seus bens.96

95

Confira http://museu.gulbenkian.pt/Museu/pt/Colecao/Antiguidade/ArteEgipcia/Obra?a=55 [consultado a 4/05/2015] 96 Vide Luís Manuel de Araújo, “Gato”, op.cit., p.389

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Os animais como formas e seres amuléticos Seguindo a linha de pensamento do capítulo anterior, o hipopótamo da deusa Taueret era amplamente usado como amuleto, tanto nas chamadas “facas mágicas”, bastões de nascimento ou ainda varinhas, utilizadas maioritariamente no Império Médio, como em colares com representações desta deusa.97 Os amuletos com forma de íbex levariam consigo desejos de bom ano novo, como símbolo de renovação.98 As esculturas de cães selvagens a representarem o deus Anúbis serviam como amuletos para túmulos, variando em tamanho e na pose do canídeo, com o intuito de proteger os corpos dos defuntos, que eram vandalizados pelos animais selvagens. Os felinos como o leopardo e a pantera eram vistos como símbolos de fertilidade, sendo principalmente usados por mulheres em cintos. 99 Quanto aos amuletos com forma de ouriço-cacheiro, estes foram criados pois estavam ligados ao renascimento, como já foi explicado anteriormente, e trariam de volta à vida o defunto, sendo também utlizados como amuletos contra mordeduras de cobras. 100 Um dos amuletos mais conhecidos é o da cobra uareus, como já foi explicado, cobra protectora do faraó, sendo normalmente feita em ouro, sendo que este metal dava-lhes características mágicas garantindo a eternidade, pois era associado à carne dos deuses. 101 Os amuletos com forma de lebre estariam ligados à fertilidade e reprodução, à vigilância e à protecção 102 , assim como os amuletos de sapos e rãs também estavam associados aos primeiros dois. 103 Quanto aos amuletos com forma de peixe, há que ter alguma atenção que o peixe mormyrus estava ligado a Osíris, pois teria comido o falo deste deus aquando da sua desmembração pelo seu irmão Set, tornando-se assim um relicário vivo. Fios com pendentes

97

Confira Cláudia Monte Farias, “Taueret”, op.cit., p. 806 Vide Dorothea Arnold, op.cit., p.13 99 Atente em Dorothea Arnold, op.cit., p.19 100 Recupere Dorothea Arnold, op.cit., p.23 101 Vide Pedro Malheiro, “Jóias”, op.cit., pp. 459-460 102 Retome Dorothea Arnold, op.cit., p.23 103 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p.34 98

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com forma de peixe cujo material devia ser uma pedra de cor verde eram colocados no pescoço de uma criança ou de uma jovem para impedirem afogamentos. 104 No Império Novo são mais conhecidos os grossos colares de ouro com características honoríficas, que os reis utilizavam para recompensar altos funcionários, oferecendo aos militares colares com representações de moscas 105. O escaravelho é um dos animais mais representados como amuletos no Antigo Egipto, podendo-se inserir numa categoria de amuletos naturalistas. As primeiras representações destes animais em amuletos datam do Império Antigo, sendo simples, sem inscrições, tornando-se mais complexos a partir do Império Médio, com selos e motivos decorativos, apresentado por vezes textos na sua base. Algumas destas inscrições eram constituídas pelo nome de faraós famosos, isto é, muitas vezes não eram gravados com os nomes dos reis da época em que foram feitos mas sim com nomes anteriores, o que dificulta a datação destas peças. Como símbolo ligado ao renascimento, foi muito usado na mumificação dos defuntos, na sua forma de escaravelho do coração. Este, como o nome indica, era colocado no peito do defunto, preso nas ligaduras que o rodeavam, na zona do coração ou então ainda aparecia pendurado no pescoço da múmia. Por vezes apresentava uma cabeça humana com corpo de insecto. O escaravelho do coração tinha como função evitar que o coração do defunto o traísse durante o julgamento final, não se rebelando contra o seu dono, como se verifica por inscrições do capítulo 30 do Livro dos Mortos. Este amuleto não substituía o coração, ao contrário do por vezes se pensa. Conhece-se também escaravelhos com asas abertas feitas separadamente, que seriam cosidos nas ligaduras que envolviam a múmia. 106 Este tipo de amuleto foi amplamente distribuído por outros povos que tinham ligações aos egípcios, principalmente os fenícios e cartaginenses. Contudo, os escaravelhos como amuletos, ainda que muito utilizados, tiveram um aparecimento tardio (só a partir do último quartel do III milénio) sendo que alguns destes escaravelhos, sobretudo a partir do Império Médio e do Segundo Período Intermediário, apresentam uma forma simplificada do insecto, chamando-se por isso de escarabóides, representado assim este animal sagrado com menos detalhes. 107

104

Confira Stephen Quirke e Jeffrey Spencer, eds., The British Museum Book of Ancient Egypt. 1ªedição, London, British Museum Press, 1994, p.173 105 Vide Luís Manuel de Araújo “Colares”, op.cit., p.212 106 Atente em Luís Manuel de Araújo, “Escaravelho”, op.cit., pp. 329-330 e confira Júlia Almeida e Luís Araújo, “Escaravelhos egípcios em Portugal”, Cadmo. Revista de História Antiga, nº19, Lisboa, 2009, p.101 107 Vide Luís Manuel de Araújo, “Escaravelho”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […]. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.330

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Como referi anteriormente, nas varinhas ou facas mágicas aparecia frequentemente a deusa Taueret e o deus Bés, mas também apareciam gatos, sendo estas algumas das primeiras representações apotrópicas deste animal. Seria, provavelmente devido à sua capacidade de destruir cobras que o gato estava aqui incluído. Pequenos amuletos com forma de gato seriam usados ao pescoço ou presos às roupas para proteger o seu dono contra os perigos do dia-a-dia.108 Um amuleto que é talvez menos conhecido é a perna de boi, utilizada (assim como a de outros animais) para mobília. Estes elementos invocariam para a força e o poder do animal representado. 109 Para concluir, todos os deuses tinham uma função e as suas estatuetas poderiam ser utilizadas como amuletos, símbolos individuais do poder da divindade, e os egípcios utilizavam estes amuletos como uma segurança para a sua vida, neste mundo e no Além. Os animais eram muitas vezes alvo de zoolatria, principalmente no culto popular, criando-se amuletos que valorizavam as suas qualidades, por vezes sem os associar sequer a uma divindade. Esta zoolatria foi até, em alguns casos, escolhida pelos egípcios como forma de se protegerem e aos seus próprios costumes e evitarem a invasão dos costumes de povos estrangeiros.110 Os mágicos recitavam sobre os amuletos com formas animais palavras mágicas que os protegeriam e lhes daria a força dos animais em causa, identificando-se assim com os deuses que se manifestavam nesses animais. Muitas destas fórmulas estão expressas nos textos dos sarcófagos e no Livro dos Mortos, no Papiro Ebers e nos vários Papiros Mágicos, mostrando que seriam amplamente divulgados por aqueles que os poderiam conhecer e sabiam ler. 111 Assim, e finalizando, este trabalho pretendeu mostrar a variedade dos amuletos egípcios com formas de animais e as suas representações divinas, a magia e o valor dado a cada animal e aos deuses, um elo quase inquebrável.

108

Para mais detalhe sobre o papel do gato no Antigo Egipto, atente-se em Jaromir Malek, The Cat in Ancient Egypt, 1st edition revived (1ª edição 1997, edição revista em 2006), The British Museum Press, London, 2015 109 Confira Dorothea Arnold, op.cit., p.53 110 Vide José das Candeias Sales, “Zoolatria”, op.cit., pp.882-883 111 Sobre estas fórmulas mágicas, vide o capítulo IX “Mundo Animal” de Christian Jacq, O mundo mágico do Antigo Egipto, 1ª edição, Edições ASA, Porto, 2000, pp.158-173

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BIBLIOGRAFIA: 1. Bibliografia Geral: 1.1 Obras de Referência: ACÚRCIO, Malgorzata Kot “Anúbis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 80-81 Idem “Leão”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.490 Idem “Leopardo”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.493 Idem “Serpente”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.782 Idem “Boi”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.156 Idem “Ápis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.83-84 Idem “Burro”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.160

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Idem “Carneiro”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.179 ARAÚJO, Luís Manuel de “Amuletos”, Dicionário do Antigo Egipto, Direcção de […], Lisboa, Caminho, 2001, pp.66-67 Idem “Bés”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], Lisboa, Caminho, 2001, p.150 Idem “Cão”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], Lisboa, Caminho, 2001, p.177 Idem “Colares”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.212 Idem “Escaravelho”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […]. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 329-331 Idem “Falcão”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.362 Idem “Gato”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.389 Idem “Heket”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.411 23 Joana Varela 46066

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Idem “Números”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […], Lisboa, Caminho, 2001, p.632 “Babi”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo, 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.134 CARREIRA, José Nunes “Deus”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 272-275 COONEY, Kathlyn M. “Scarab”, UCLA Encyclopedia of Egyptology. Editada por WENDRICH, Willeke, [s.n.], Los Angeles, 2008. Disponível em: http://escholarship.org/uc/item/13v7v5gd Idem “Dromedário”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo, 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.284 FARIAS, Cláudia Monte “Hathor”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 406-407 Idem “Ísis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 452-453 Idem “Sekhmet”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.772 Idem “Taueret”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.806 24 Joana Varela 46066

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HART, George The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses. 2nd edition, London, New York, Routledge, 2005. Disponível em http://obinfonet.ro/docs/relig/egipt/egyptgods.pdf MALHEIRO, Pedro “Jóias”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 459-461 Idem “Khepri”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 482-483 Idem “Meskhenet”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.566 Idem “Renenutet”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.750-751 “Pato”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo, 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.666 SALES, José das Candeias “Fauna”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.369-372 Idem “Elefante”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.315-316 Idem “Cavalo”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.190-191 25 Joana Varela 46066

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Idem “Tot”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.830-832 Idem “Zoolaria”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.882-884 SEGURO, Mª João “Escorpião”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.331 Idem “Hipopótamo”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.425-426 Idem “Abutre”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.25 Idem “Abelha”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.19-20 SOUSA, Rogério de “Magia”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.536-537 1.2 Referências electrónicas: http://www.britishmuseum.org/explore/young_explorers/discover/museum_explorer/ancie nt_egypt/death/mummy_of_an_ibis.aspx [consultado a 20/05/2015] http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/aes/m/mummy_of_an_ ibis.aspx [consultado a 20/05/2015] 26 Joana Varela 46066

Ano lectivo 2014/2015

http://museu.gulbenkian.pt/Museu/pt/Colecao/Antiguidade/ArteEgipcia/Obra?a=55 [consultado a 4/05/2015]

1.3 Obras Gerais BURY, J. B.; COOK, S. A.; ADCOCK, TF. E. The Cambridge Ancient History. 1st edition, Volume 2, London, Cambridge University Press, 1931. Disponível em: http://www.archive.org/details/cambridgeancient015571mbp 2. Bibliografia específica: ARAÚJO, Luís Manuel de, coord. Antiguidades Egípcias. 1ªedição, Vol. 1, Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia Catálogo da colecção do Museu Nacional de Arqueologia, 1993, pp.247-249 Idem A colecção egípcia do Museu de História Natural da Universidade do Porto. 1ªedição, Porto, Edições Centenário - Catálogo de Exposição, 2001 Idem Mitos e Lendas: Antigo Egipto, 1ªedião, [s.l.], Livros e Livros, 2005 ARNOLD, Dorothea “Egyptian Bestiary”, The Metropolitan Museum of Art Bulletin. New Series, Vol. 52, No. 4.

USA,

The

Metropolitan

Museum

of

Art,

1995,

p.8.

Disponível

em:

http://www.jstor.org/stable/3269051 BUDGE, Ernest Alfred Wallis Egyptian Magic. 1st edition, London, Kegan, Paul, Trench and Trübner & Co., 1901. Disponível em: https://archive.org/details/EgyptianMagic_51

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Ano lectivo 2014/2015

BUDGE, Ernest Alfred Wallis The Gods of the Egyptians or studies in Egyptian mythology. Vol. II, 1st edition, London, Methuen

&

Co.,

1904.

Disponível

em:

http://www.etana.org/sites/default/files/coretexts/20626.pdf JACQ, Christian O mundo mágico do Antigo Egipto, 1ª edição, Edições ASA, Porto, 2000 MALEK, Jaromir The Cat in Ancient Egypt, 1st edition revived (1ª edição 1997, edição revista em 2006), The British Museum Press, London, 2015 PINCH, Geraldine Magic in Ancient Egypt. 1st edition, London, British Museum Press, 1994 PINCH, Geraldine Egyptian Mythology: a guide to the Gods, Goddesses and traditions of Ancient Egypt, 1st edition, New York, Oxford University Press, 2002 QUIRKE, Stephen e SPENCER, Jeffrey, eds. The British Museum Book of Ancient Egypt. 1st edition, London, British Museum Press, 1994, pp.173-176, pp.182-183 REMLER, Pat Egyptian mythology A to Z. 3rd edition, USA, Chelsea House Publishers, 2010. Disponível em: http://www.mrpandit.net/resources/EgyptianMythologyAtoZ.pdf RITNER, Robert Kriech “The mechanics of ancient Egyptian magical practice”, Studies in Ancient Oriental Civilizations, Thomas HOLLAND, ed., Chicago, The University of Chicago Press, 2008

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Ano lectivo 2014/2015

SALES, José das Candeias As divindades egípcias. Uma chave para a compreensão do Egipto antigo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Estampa, 1999 SOUSA, Rogério Ferreira de “Os amuletos do coração no Antigo Egipto: tipologia e caracterização”, Cadmo. Revista do Instituto Oriental da Universidade de Lisboa, n.º 15, Lisboa, Centro de História, 2005, pp. 105-130. Disponível em: http://hdl.handle.net/10216/63557 Idem ”O simbolismo dos amuletos cardíacos no antigo Egipto”, Cadmo. Revista do Instituto Oriental da Universidade de Lisboa. Nº 20, Lisboa, 2010, pp.113-139. Disponível em: http://hdl.handle.net/10216/63880 SZPAKOWSKA, Kasia Daily life in Ancient Egypt. 1st edition, Australia, Blackwell Publishing, 2008 TEETER, Emily Religion and ritual in Ancient Egypt. 1st edition, New York, Cambridge University Press, 2011

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