Os caminhos de ferro na vida e obra de Eça de Queirós

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Estação principal do caminho de ferro do norte e leste. Gravura, B. Lima/Pedrozo, 1866, in Arquivo Pitoresco, vol. 9, 1866, p. 1

Os caminhos de ferro na vida e obra de Eça de Queirós

Contextualização

1845

1856

1865

1880

1900

Contextualização

Progressão da velocidade dos Transportes Terrestres, in “Dicionário de História de Portugal” (dir. Joel Serrão)

Contextualização

Relógio da Estação de Évora, onde o comboio chegou em 1863

Questões de partida

5. Qual o impacto do caminho de ferro na sociedade e cultura oitocentistas?

3. Como observou Eça de Queirós a implantação e o desenvolvimento do caminho de ferro em Portugal? 2. Como é representado o caminho de ferro na obra de Eça de Queirós? 1. Que papel desempenhou o caminho de ferro na vida de Eça de Queirós?

Ilustrações da Gazeta dos Caminhos de Ferro, 1945, 1946

4. Constituirá o legado de Eça de Queirós um testemunho desse impacto?

Fontes

No âmbito literário/ficcional - O Mistério da Estrada de Sintra, 1870 - O Crime do Padre Amaro, 1874-75 - Tragédia da Rua das Flores, 1877-78 - O Primo Basílio, 1876-78 - A Capital, 1877-81 - O Conde de Abranhos, 1877-79 - Alves e Comp.ª, a. 1883 - Os Maias, 1878-1887 - Civilização / A Cidade e as Serras, 1892-93 - A Ilustre Casa de Ramires, 1890 - Correspondência de Fradique Mendes, 1900 No âmbito da atividade consular - Relatório “Commercio e Industria do Norte de Inglaterra. O Carvão. O Ferro. Produtos Quimicos. Os Estaleiros 1874-1875” (correspondência consular)

No âmbito da atividade jornalística e cronística - As Farpas (segundo a compilação de Uma Campanha Alegre), 1871-72 - Gazeta de Portugal - Gazeta de Notícia do Rio de Janeiro (rubrica Ecos de Paris) - Diário de Notícias (rubrica Cartas de Inglaterra) - Distrito de Évora

No âmbito da correspondência epistolar: - Correspondência trocada entre Eça de Queirós e Emília de Castro - Correspondência trocada entre Eça de Queirós e Ramalho Ortigão

Geografia queirosiana

Em Portugal: • Póvoa de Varzim • Vila do Conde • Verdemilho (Aveiro) • Porto • Coimbra • Lisboa • Leiria • “Tormes” (Santa Cruz do Douro, Baião)

No estrangeiro: • Mediterrâneo (Alexandra + Cairo + Port Said + Jerusalém) • Cuba • EUA • Canadá • Inglaterra • Espanha • França

Léxico das formas de locomoção na vida e obra de Eça de Queirós Rodoviários • Brake • Caleche • Carruagem • Chair-à-bancs • Coupé • Diligência • Dogcart • Fiacre • Liteira • Onibus • Sége • Tipóia

Marítimos • Brigue • Paquete • Vapor

Ferroviários • Caminho de ferro • Carruagem • Cavalo de fogo • Comboio • Bonde • Expresso • Furgão • Locomotiva • Máquina a vapor • Sleeping-car • Sud Express • Tramway • Trem • Vagão / Wagon • Vagão-salão

Ambientes ferroviários na vida e obra de Eça de Queirós Estações de comboios descritas na obra • Tormes (Linha do Douro) • Ovar Estações por onde Eça passou • Lisboa, Santa Apolónia • Lisboa • Lisboa, Rossio • Porto, Estação de Campanhã • Sintra, Chão de Maças • Porto, Estação de São Bento • Santarém • Entroncamento • Vila Franca de Xira • Sintra • Alhandra • Aregos • Póvoa de Santa Iria • Madrid • Biarritz • Paris, Gare du Nord • Salamanca • Paris, Orsay • Medina del Campo • Paris, Gare de Orléans • Paris, Gare de Orleans • Cairo • Jaffa (Palestina) • Jaffa • Gaza (Palestina) • Gaza • Darlington, Inglaterra • Londres • Charing Cross, Londres • Newcastle

Personagens ferroviárias na obra de Eça de Queirós Chefe de estação “o chefe de boné agaloado” Correspondência de Fradique Mendes, 1900 “O chefe da estação, gordo, com o queixo amarrado num lenço de seda preta, o boné de galão sujo posto muito ao lado, apareceu à porta da sala das bagagens, de charuto nos dentes.” A Capital, 1877-81 “e as nossas bagagens?... O chefe encolheu risonhamente os ombros nédios. Todos os nossos bens tinham encalhado, decerto, naquela estação de roseiras brancas que tem um nome sonoro em ola.” Civilização, 1892

Reconstituição de uma estação ferroviária. Acervo do Museu Nacional Ferroviário, Entroncamento

Chefe de estação “Logo na plataforma avistei com gosto a immensa barriga, as bochechas menineiras do chefe da Estação, o louro Pimenta, meu condiscipulo em Rhetorica, no Lyceu de Braga…” “o chefe Pimentinha, que a estalar d'obesidade se açodava gritando ao carregador todo o cuidado com as minhas malas…” “e recomeçou ele, com a sua inteligência superior de chefe, uma rebusca através das «arrumações», esquadrinhando zelosamente caixotes, vasilhas, pipos, chapeleiras, canastras, latas e garrafões... Por fim sacudiu os ombros, com indizível tédio, e desapareceu para dentro, para a escuridão das plataformas interiores. Passados instantes voltou, coçando a cabeça por baixo do boné, cravando os olhos em roda, pelo chão vazio, à espera que o saco rompesse das entranhas deste globo desconsolador. Nada! A Cidade e as Serras, 1893

Reconstituição de uma estação ferroviária. Acervo do Museu Nacional Ferroviário, Entroncamento

Personagens ferroviárias na obra de Eça de Queirós

Personagens ferroviárias na obra de Eça de Queirós

Carregador de estação

“Um carregador, que parecia ocupado por deleite próprio em resmungar blasfémias, levou-lhe com um ar soturno o baú a uma caleche.” A Capital, 1877-81 “Um carregador enrolava o cigarro, assobiando. “ Civilização, 1892 “Os carregadores de Medina eram os mais rápidos, os mais destros de toda a Europa!” “E eu estendia o braço, para receber dos carregadores açodados as nossas malas, os nossos livros, as nossas mantas―quando, em silencio, sem um apito, o trem despegou e rolou. Ambos nos atiramos ás vidraças, em brados furiosos: ―Pare! As nossas malas, as nossas mantas!... ―Oh! Que serviço! Oh que canalhas!... Só em Hespanha!... E agora? As malas perdidas!... Nem uma camisa, nem uma escova! Calmei o meu desgraçado amigo: Escuta! eu entrevi dous carregadores arrebanhando as nossas cousas... A Cidade e as Serras, 1893 O Carregador de estação, Brinquedos Raros, 1930

Personagens ferroviárias na obra de Eça de Queirós

Carregador de estação

“O carregador badalou lentamente a sineta para o comboio rolar. Então, não avistando em torno, na lisa e despovoada Estação, nem creados nem malas, o meu Principe e eu lançamos o mesmo grito de angustia: ―E o Grillo? as bagagens?... Corremos pela beira do comboio, berrando com desespero…” “Faltava inexplicavelmente um saco de couro, e em silêncio, com a guia na mão, um carregador dava uma busca vagarosa através dos fardos, barricas, pacotes, velhos baús, armazenados ao fundo, contra a parede enxovalhada. Vi este digno homem hesitando pensativamente diante de um embrulho de lona, diante de uma arca de pinho. Seria qualquer desses o saco de couro? Depois, descoroçoado, declarou que positivamente nas nossas bagagens não havia nem couro nem saco. (…) Então o capataz arrancou a guia das mãos inábeis do carregador, e recomeçou ele, com a sua inteligência superior de chefe, uma rebusca através das «arrumações», esquadrinhando zelosamente caixotes, vasilhas, pipos, chapeleiras, canastras, latas e garrafões... Nada!” A Cidade e as Serras, 1893 O Carregador de estação, Brinquedos Raros, 1930

Personagens ferroviárias na obra de Eça de Queirós

Carregador de estação

“Reclamei uma tipóia. O carregador atirou a jaleca para cima da cabeça, saiu ao largo, e recolheu logo anunciando com melancolia que não havia tipóias. – Não há! Essa é curiosa! Então como saem daqui os passageiros? O homem encolheu os ombros. «Às vezes havia, outras vezes não havia, era conforme calhava a sorte...» Fiz reluzir uma placa de cinco tostões, e supliquei àquele benemérito que corresse às vizinhanças da estação, à cata de um veículo qualquer com rodas, coche ou carroça, que me levasse ao conchego de um caldo e de um lar. O homem largou, resmungando. (…) Finalmente, o carregador voltou, sacudindo a chuva, afirmando que não havia uma tipóia em todo o bairro de Santa Apolónia. (…) Trémulo de cólera, mas submisso como quem cede à exigência de um trabuco, enfiei para a tipóia – depois de me ter despedido com grande afecto do carregador, camarada fiel da nossa trabalhosa noite.”

Correspondência de Fradique Mendes, 1900 O Carregador de estação, Brinquedos Raros, 1930

“Compreendia que a maneira eficaz e digna de mostrar à Câmara e ao país a verdadeira feição do seu talento sério, era pronunciar um grande discurso de eloquência grave: preparouse então com fervor para a sua verdadeira estreia. Os projectos pueris nesse momento em discussão, não lhe davam a oportunidade de fazer uma oração elevada. Eram medidas subalternas – estradas, um projecto de caminho de ferro [do Leste], legislação para as colónias…”

Conde de Abranhos, 1878

Conde de Abranhos Fontes Pereira de Melo

Personagens ferroviárias na obra de Eça de Queirós

“Durante o período legislativo desse ano, Alípio Abranhos fez ainda dois discursos, um, sobre política colonial, outro, sobre o projecto do Caminho de Ferro de Leste. Este último é sobremodo eloquente: poder-se-ia chamar a Ode ao Caminho de Ferro. Nunca o utilitário modo de comunicação foi descrito com tal colorido, com tal vigor de imaginação: «Vede-lo – exclama o orador – esse monstro de ferro, soltando das narinas turbilhões de fumo, semelhante ao Leviatã da fábula! (bravo! bravo!) Vede-lo, atravessando como um relâmpago os mais áridos terrenos: e que maravilhoso espectáculo se nos oferece então: ao contrário do cavalo de Atua, cuja pata fazia secar a erva dos prados, por onde passa este novo cavalo de fogo (bravo! bravo!) brotam as searas, cobrem-se as colinas de vinha, (muito bem! muito bem!) Conde de Abranhos, 1878

Conde de Abranhos Fontes Pereira de Melo

Personagens ferroviárias na obra de Eça de Queirós

Eça de Queirós e os melhoramentos materiais do século XIX

Jornadear nos caminhos-de-ferro portugueses de Norte e Leste, é, a todos os respeitos, uma aventura cheia de emoções. Correndo sobre os rails, há para nos interessar e excitar – a probabilidade do descarrilamento; parados, no bufete das estações, há, para nos estimular com uma sensação mais forte ainda – o envenenamento a 500 réis por estômago. Esta hesitação, entre o tombo e a cólica, mantém o espírito do viajante num estado delicioso de palpitação e vibração. (…) Talvez estar para ser fuzilado não cause tanto alvoroço! E a intenção da Companhia é evidente. As travessas podres, os rails gastos e desaparafusados, os túneis mal seguros, as pontes rachadas, os aterros que tendem a desabar, os desaterros que tendem a esboroar, as máquinas cansadas, o serviço desleixado, as refeições envenenadas, tudo, tudo, até as demoras, os atrasos, a confusão, tudo converge para o mesmo legítimo fim – comover fundamente o viajante, dar-lhe sensações supremas! As Farpas, 1871-72

Descarrilamento, Caldas de Moledo, 1878

Eça de Queirós e os melhoramentos materiais do século XIX

– Tem viajado decerto, amigo. Fale-me das cidades... Há boas estradas? – Há: mas estão todas na secretaria das obras públicas, para não se deteriorarem. – E o caminho de ferro? – É novo em Portugal, gatinha ainda. As Farpas, 1871-72

Eça de Queirós e os melhoramentos materiais do século XIX

A Sra. D. Maria da Assunção declarou que todas essas minas, essas máquinas estrangeiras lhe causavam medo. Vira uma fábrica ao pé de Alcobaça, e parecera-lhe uma imagem do inferno. Estava certa que Nosso Senhor não as via com bons olhos... – É como os caminhos de ferro, disse D. Josefa. Tenho a certeza que foram inspirados pelo demónio! Não o digo a rir. Mas vejam aqueles uivos, aquele fogaracho, aquele fragor! Ai, arrepia! O Crime do Padre Amaro, 1874-75

Eça de Queirós e os melhoramentos materiais do século XIX O padre Amaro galhofou, – assegurando à Sra. D. Josefa que eram ricamente cómodos para andar depressa! Mas, tomando-se logo sério, acrescentou: – Em todo o caso é incontestável que há nessas invenções da ciência moderna muito do demónio. E é por isso que a nossa santa Igreja as abençoa, primeiro com orações e depois com água benta. Hão-de saber que é o costume. Com água benta, para lhes fazer o exorcismo, expulsar o espírito inimigo: e com orações para as resgatar do pecado original que não só existe no homem, mas nas coisas que ele constrói. É por isso que se benzem e se purificam as locomotivas... Para que o demónio não se possa servir delas para seu uso. D. Maria da Assunção quis imediatamente uma explicação. Como em a maneira usual do Inimigo se servir dos caminhos de ferro? O padre Amaro esclareceu-a, com bondade. O Inimigo tinha muitas maneiras, mas a habitual era esta: fazia descarrilar um trem de modo que morressem passageiros, e como essas almas não estavam preparadas pela Extrema-Unção, o demónio ali mesmo, zás, apoderava-se delas! O Crime do Padre Amaro, 1874-75

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