Os estereótipos na Imprensa escrita
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1
Os estereótipos na Imprensa
Aparentemente, o CM é o jornal que
escrita: Correio da
mais tendência tem para a estereotipia,
Manhã, I e Público
uma vez que é, claramente, uma publicação de cariz sensacionalista e
Ana Maria Martins, Liana Rego e
popular. No seu modelo editorial,
Margarida Queirós
atribui-se
mais
fotografias
e
normalmente
importância aos
títulos,
aparecem
em
às que letras
garrafais, e os assuntos de destaque
Palavras prévias
estão,
normalmente,
associados
à
O trabalho de análise aqui apresentado
criminalidade e à sinistralidade. Há uma
pretende explorar a estereotipia na
maior tendência para a tabloidização e,
imprensa escrita, tendo por base um
portanto,
adivinha-se
estudo
apetência
para
de
a
maior
propagação
de
realizado
sobre
Manhã (CM),
oIe
estereótipos e de representações sociais.
melhor
Embora esteja longe de ser um jornal de
aproveitamento desta análise, o nosso
referência em Portugal, é a publicação
corpus inclui uma edição anual de cada
com
um dos jornais, desde o ano de 2009 até
português. Ainda assim, em termos
2015,
percentuais
o Correio
caso
uma
de
o Público (P).
Para
correspondente
um
à
primeira
mais
tiragem
não
no
existem
território
grandes
segunda feira de maio. Dada a extensão
diferenças na quantidade de estereótipos
temporal da recolha, e o facto de se
que detetamos no CM e nos restantes
integrarem 21 jornais e cerca de 1200
dois jornais em análise, mesmo não
notícias na nossa análise, achamos
sendo estes de cariz sensacionalista. O
pertinente cingir o estudo aos títulos e
jornal I, por exemplo, sendo o mais
aos lead de notícias, deixando, assim,
recente do grupo em estudo (surgiu em
de fora a leitura do corpo das mesmas.
2009), e mesmo estando ainda numa
Tendo em conta que é nos títulos e
fase identitária demasiado indefinida,
nos lead que se cruzam a macro e a
tem seguido um modelo popular, mas
superestrutura, consideramos que é
não em formato tablóide. Apresenta
suficiente para o rigor deste artigo
várias reportagens nas suas edições,
limitarmos a análise dessa forma.
muitas
notícias
internacionais
e,
geralmente, aborda todo o tipo de assuntos da atualidade, sem grande
2
diferença
de
destaque
entre
eles.
enquanto integrante da abordagem
O Público, por outro lado, é o principal
jornalística da realidade, possibilita uma
jornal de referência português e o único
identificação mais agilizada e completa
em análise com Livro de Estilo. É um
da estereotipia nas notícias. Como
diário que aposta muito na reportagem e
definição de representação social,
que se caracteriza pela preferência por
consideramos a noção de Denise
notícias
Jodelet, apresentada no artigo de Maria
Cultura,
de
Economia,
dando
aos/às
Política
e
leitores/as
Manuel Baptista, “Estereotipia e
informações sobre os assuntos mais
Representação Social”: trata-se de “uma
importantes da atualidade. Prioriza os
modalidade de conhecimento
espaços de opinião e deixa bem claro no
socialmente elaborada e partilhada, com
seu Estatuto Editoral que, no tratamento
um objetivo prático, contribuindo para a
das
construção de uma realidade comum a
notícias,
não
recorre
ao
sensacionalismo.
um conjunto social”. A estereotipia é, então, entendida como uma
A metodologia de análise a seguir neste artigo divide-se em dois tipos de leitura: a quantitativa e a qualitativa. Para a análise discursiva, e tendo como motor do trabalho a detecção ou a ausência da estereotipia, consideramos fundamental abordar a modalidade, a lexicalização, a
representação social, porque acaba por ser uma reprodução das mesmas: “(…) o enviesamento cognitivo, que é a estereotipia social, mais não faz do que veicular e expressar determinadas representações sociais” (BAPTISTA, 2004: 105).
personagem jornalística e a figura de estilo, uma vez que estas categorias se
Tal como defende Adriano Duarte
adivinham, à primeira vista, interligadas
Rodrigues no artigo “Considerações
com a utilização do estereótipo no
preliminares sobre o quadro enunciativo
léxico.
do discurso midiático”, a comunicação social não está imune à passagem de preconceitos e de ideais pré-concebidas;
Contextualização:
estereotipia
como representação social Para os propósitos deste artigo, a compreensão do estereótipo enquanto representação social e, por isso,
assim
sendo,
podem
processar
a
informação com base em estereótipos, sendo um reflexo da própria linguagem utilizada na sociedade em que se inserem,
dos
seus
costumes
e
3
convencionalidades.
Dessa
forma,
a que os discursos se referem e que
reconhece-se, sem grande surpresa, que
pretendem impor à audiência.
existe a preconização de representações sociais e estereótipos nos media e que, tal facto, se justifica com a própria ideologia e subjetividade que está - e é inerente à linguagem e à sociedade que partilha
o
seu
uso.
Exigir
Não se trata de negar que os discursos mediáticos impõem visões do mundo e ideologias dominantes e alimentam as diferentes formas de dominação, mas de afirmar que esta característica não é
essa
específica destas modalidades de
imunidade aos órgãos de comunicação social
e
aos/ás
jornalistas
é
desconsiderar parcialmente a noção de que
a
objetividade
perseguido, concretiza
mas
é
que
totalmente,
um
ideal
nunca
se
mesmo
no
discurso. Bem vistas as coisas, qualquer discurso, inclusivamente o discurso que estou neste momento a escrever (…) insere-se num processo de imposição de ideias procurando levar os interlocutores a aceitar aquilo que o
discurso jornalístico.
locutor pretende ser verdadeiro, bom, A análise crítica do discurso (ACD)
belo ou interessante. (RODRIGUES,
para o estudo dos discursos mediáticos
2010: 124).
costuma pretender mostrar que a materialidade textual dos discursos mediáticos é responsável pela construção e pela imposição da realidade, pela manipulação das audiências, utilizando os discursos retóricos da linguagem, procurando assim denunciar o facto de servir a imposição de ideologias dominantes. Mas, se pararmos para pensar, não é a materialidade dos textos de que são formados os enunciados dos discursos mediáticos, mas o seu quadro enunciativo que constrói o mundo no seio do qual existe e tem sentido aquilo
Para
concluir
a
designação
de
estereótipo e a fundamentação da pertinência do seu estudo dentro do contexto
mediático,
e
mais
propriamente na construção noticiosa, apraz-nos
dizer
que,
segundo
Billigmeier, este é uma “(…) mistura distorcida de impressões inadequadas sobre os outros, que ignoram diferenças internas”
(1990 apud BAPTISTA,
2004: 107) e que “(…) poderá ser entendido como um esquema cognitivo socialmente
partilhado,
produto
do
processamento de informação social, cujo conteúdo é normalmente enviesado
4
(construindo os sujeitos categorizações super-generalizadoras, exageradas ou até falsas). Cristalizado em torno de uma palavra que o designa e reflectindo relações
entre
estereótipo
grupos
pode
compreendido
sociais,
ser
se
o
melhor
integrado
em
representações sociais mais latas de que faz parte.” (BAPTISTA, 2004: 112).
Análise Quantitativa: os baixos níveis percentuais
JORNAIS
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
TOTAL
Correio da Manhã
65
85
88
123
122
120
127
730
I
25
41
28
33
29
38
33
227
Público
40
39
38
23
34
41
29
244
TOTAL
130
165
154
189
185
199
189
1201
Tabela 1
JORNAIS
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS COM ESTEREÓTIPOS
Correio da Manhã
730
8
I
227
0
Público
244
1
TOTAL
1201
9
Tabela 2
5
Ao longo do estudo desenvolvido, percebemos que, meramente em termos numéricos, a estereotipia não revela uma presença muito forte nas notícias
Notícias sem estereótipos 100%
98,9%
de nenhum dos três jornais em análise. 99,59%
Obviamente, é importante não esquecer que a leitura eitura quantitativa descura por completo a leitura de conteúdo, que ajuda
a
compreender
o
tipo
de
mecanismos utilizados que acabam por formar o(s) estereótipo(s), ótipo(s), qual a sua natureza e quais as representações sociais
a
que
Simultaneamente,
são
inerentes.
entendemos
que,
mesmo que a presença de estereótipo seja 1.10% Correio da Manhã
0.00% I
0.41% Público
também
escassa
no CM,
a
comparação com os restantes jornais (Público e I)) confirma a expetativa de que um jornal de cariz sensacionalista
Gráfico 1
apresenta mais tendência para uma abordagem estereotipada da realidade. Para
melhor
absorver
os
dados
presentes noss gráficos 1 e 22, achamos
1% Notícias sem estereótipos
pertinente a consideração ração das anteriores tabelas
(1
e
22).
Notícias com estereótipos 99%
Análise Qualitativa: a conotação lexical das notícias
Gráfico 2
6
Uma vez retida a noção percentual da
questão, porque à custa de um trabalho
presença da estereotipia nas notícias dos
jornalístico mais rigoroso, imparcial e
jornais analisados, percebemos que o
isento, sem ideologias pré-concebidas, a
relevo numérico não é muito forte.
única coisa que se acrescenta é um
Porém, e mesmo sendo algo de positivo
reconhecimento
para
informação por parte dos/as leitores/as.
a
qualidade
do
jornalismo
mais
imediato
da
praticado, é importante compreender o tipo de estereótipos mais ocorrentes e se estes são, ou não, nocivos para o entendimento do/a leitor/a e para a questão deontológica que pode ser levantada aquando da ocorrência da
Como
apurado
na
exposição
quantitativa, o Público contem apenas um estereótipo, num universo possível de 244 notícias. Contudo, achamos que, para um melhor entendimento destes casos pontuais, devemos fazer uma
estereotipia.
especial referência ao que encontramos. Sabemos que, sendo o estereótipo fruto
No Público, o
das representações e relações sociais, a
existente (na edição de 2009) pode
utilização do mesmo facilita o processo
levantar algumas dúvidas; isto porque o
de entendimento do/a leitor/a e agiliza-
jornalista que escreveu a notícia –
o. Acaba por fornecer um conjunto de
Carlos Dias – recorre, claramente, a
informações que vão ao encontro de
uma estratégia de objetividade, sendo
uma noção padronizada na sociedade,
que o estereótipo se exprime não pelas
partilhada
pouco
palavras do jornal ou do jornalista, mas
compreendida na sua conotação – a
sim pelas palavras de Vital Moreira. O
maioria das vezes, pejorativa - por estar
título desta notícia, «“Alguém tem
tão enraizada no senso comum. No
dúvidas de que eram os militantes do
entanto, a responsabilidade jornalística,
PCP?”,
cuja
das
pressupõe uma visão conotada que a
preocupações mais comuns aos órgãos
principal figura da notícia tem dos
de comunicação, deve significar, pelo
militantes
menos, uma tentativa de isenção de
o Público acaba por reproduzir uma
estereotipia. O/A jornalista não deve
generalização estereotipada presente no
praticar
discurso do político português.
pelas
salvaguarda
ou
massas
é
difundir
e
uma
o
uso
de
estereótipos, mesmo os que possam ser elogiosos para a pessoa ou o grupo em
único
pergunta
Vital
estereótipo
Moreira»,
comunistas.
Contudo,
7
Aproveitando a distinção que Helen
realidade. Cinco na edição de 2010 e
Fulton
News e Soft
três nas edições de 2012, 2013 e 2014
News, no seu artigo “Print news as
(uma em cada ano). Numa das edições
narrative”, é expectável que um jornal
de 2010, lê-se os seguintes título,
de referência como é o P dê menos
subtítulo e lead: “Sócrates repreende
espaço para a estereotipia nas suas
segurança”;
notícias. O modelo editorial desta
apercebeu-se do empurrão dado a
publicação encaixa na definição que a
jornalista que o queria abordar”. “O
autora
de hard
primeiro-ministro repreendeu ontem,
news, sendo que estas se caraterizam
em Peniche, um dos elementos do corpo
por recorrer a muitas fontes, por
de segurança pessoal por este ter
privilegiar a objetividade e por abordar
empurrado uma jornalista que tentava
temas de interesse nacional: «'Hard'
obter declarações suas”. À primeira
news são as notícias mais atuais, que
vista, todo o contexto da notícia pode
envolvem política, economia, relações
parecer inócuo. Contudo, o facto de
industriais, setores público e privado,
o CM ter explorado um acontecimento
eventos
tão
faz
de Hard
inglesa
defende
recentes
que
devem
ser
“Primeiro-ministro
insignificante,
apenas
por
se
noticiados. 'Hard' News representam a
relacionar com o Primeiro-ministro,
ideia que o jornal tem acerca daquilo
revela uma certa conotação negativa
que o público precisa de saber para
associada a José Sócrates que vai ao
atuar como cidadãos e cidadãs bem
encontro,
informados;
(FULTON,
estereótipos criados em volta dos
O jornal I, contrariamente
políticos, mas, também, de forma
2005:226).
1
(...)”
de
com
forma
a
geral,
de
aos outros dois jornais em análise, não
particular,
personagem
apresenta qualquer estereótipo, num
jornalística que o próprio Sócrates
total de 227 notícias analisadas. Pese
representa.
embora alguns casos dúbios, acabamos por não contabilizar nenhum título ou lead como sendo preconizador de estereotipia.
É notícia o facto de Sócrates defender uma jornalista porque, no geral, o expectável é que este, bem como os políticos, sejam pouco cordiais e pouco
Por outro lado, o CM apresenta, no
simpáticos (estereótipo). A personagem
total, oito leituras estereotipadas da
do Primeiro-ministro, criada e difundida
1
Tradução livre
pelos
media, corrobora
a
ideia
8
defendida por Mário Mesquita no seu
por recorrer à categorização através da
capítulo “A personagem jornalística: da
modalidade.
narratologia à deontologia”, inserido na
Ramos, escreve: “Polícia trava leilão de
obra “O Quarto Equívoco”, de que os
prostituta” (título); «O cartaz prometida
textos jornalísticos contribuem para a
uma festa de arromba: “gajas boas”,
criação de personagens, planas ou
“copos grátis” e, para terminar, um
espessas, que constroem noções e ideias
“magnífico leilão”, em que o prémio
que passam para os/as leitores/as e que
era... uma prostituta.». Classificar o
estes/estas
cartaz noticiado como promotor de uma
aceitam
como
sendo
verdadeiras.
O
jornalista,
Ricardo
“festa de arromba” é categorizar as “festas de arromba” como as que têm os
Ainda no CM, desta vez no de 2014, lêse o seguinte título: “PJ suspeita de ajuda ao Monstro”. Este adjetivo, aqui usado também como substantivo, é, no fundo, uma personificação, uma vez que, neste contexto, se destina a designar um ser humano, Manuel Baltazar,
que
cometido
está
duplo
preso
por
homicídio.
ter O
elementos
referidos
nomeadamente
no tal cartaz,
“gajas
boas”.
Ora,
consideramos que esta leitura e a designação “festa de arromba”, que vai além da informação factual parte já de um estereótipo do próprio jornalista e que, como é normal nas representações sociais, é aceite e reconhecido pelos/as leitores/as.
estereótipo inerente a este título é relativo à conotação negativa – muitas
Os restantes estereótipos encontrados ao
vezes, exagerada – atribuída como
longo
norma a todos os homicidas. O léxico,
no Correio
neste caso, é pautado por uma figura de
exemplos
de
estilo, estrategicamente escolhida, bem
origem
num
como, de novo, pela criação de uma
generalização. Os títulos destas notícias
personagem.
ajudam-nos
Os
homicidas,
na
deste
trabalho,
da
Manhã,
todos
eles
são
cinco
leituras que
a
tiveram
pressuposto
perceber
de
qual
o
comunicação social, são tidos como
estereótipo a que estão ligadas: “Mulher
seres humanos
desumanizados,
de Tiger Woods ganha 500 milhões”;
perversos e assustadores. De novo no
“Aguilera sexy em videoclip”; “Nobre
Correio da Manhã, e de novo na edição
mata para irritar madrinha”; “Confusa
de 2010, constatamos que há mais um
com
exemplo que merece particular atenção,
cheques”;
gravidez,
Bárbara
“Fogo em
prédio
entrega mata
9
mendigo por desintoxicação”. Contudo,
beijar tanto homens como mulheres”.
em alguns casos, a leitura de subtítulos
No caso da notícia acerca de “Bárbara”
e/ou
de lead acrescenta sentido aos
Guimarães, o texto passa a mensagem
títulos e comprova a existência de
de comparação entre a maternidade e a
estereotipia. Por exemplo, na notícia em
chegada de uma “cegonha”, uma ave
que se lê “mendigo”, é através da leitura
frequentemente associada às mulheres
do lead que sabemos que se trata não de
que vão ser mães por serem dóceis,
um mendigo, mas sim de um sem-
protetoras e monógamas. Por último,
abrigo. Neste caso, o estereótipo remete
mas não menos importante, resta um
para a ideia generalizada de que todos
dos estereótipos mais originais que
os sem-abrigo são pedintes. Também no
encontramos no nosso estudo, e que se
título a respeito da esposa de Tiger
representa, primeiramente, através da
Woods
do lead que
palavra “nobre”. O texto que noticia que
percebemos o quão tendenciosa a
um membro da aristocracia portuguesa
abordagem noticiosa é, uma vez que
matou
Elin Nordegren não ganhou dinheiro
madrinha” está a associar o conceito de
algum mas, como foi traída pelo golfista
“nobre” a uma educação específica,
e quer divorciar-se, encontrou-se com
mimada e de privilégios tantos que
vários advogados conceituados dos
seriam
EUA para “sair do casamento (…) com
homicídio.
é
através
o
padrinho
capazes
de
para
“irritar
justificar
um
a conta bancária recheada”. Além disso, a imagem que acompanha a notícia
Conclusão: tabloidização e
apresenta Tiger Woods à esquerda, com
estereotipia
menos destaque, e Elin Nordegren em lingerie, a ocupar mais espaço que o próprio texto. Nessa mesma página, encontramos
a
notícia
sobre
a sexyness de Christina Aguilera no seu videoclip. Porém, quando partimos para a leitura das restantes macroproposições torna-se óbvio que a definição de sexy é, neste contexto, uma das noções que a sociedade partilha a respeito disso: “a cantora aparece com um ar sensual a
Regressamos, portanto, às noções de Helen Fulton. Quando a autora inglesa distingue as soft e as hard news,e tendo nós já previamente caracterizado as segundas em associação ao jornalismo praticado
pelo
Público,
a
ideia
defendida é que as soft news dão aos/às leitores/as aquilo que estes/estas querem - e não necessariamente o que precisam. Desta forma, a abordagem feita nestas
10
notícias tem uma maior tendência para o
desenrolam
sensacionalismo: faz títulos garrafais e
representação social, isso não significa
textos
pequenos,
promovendo
que
maior
agilidade
do
entendimento
e
uma
as
tendo
por
categorizações
processo
de
levantem
questões
reconhecimento
da
deontologia
e
base
feitas
não
nível
da
a
da
uma
responsabilidade
informação, tendo, consequentemente,
jornalística: o discurso noticioso não
mais aptidão para o uso da estereotipia.
pode ser entendido como um discurso
Consideramos,
qualquer,
portanto,
que
a
uma
existência de uma maior percentagem
características
do uso do estereótipo nas notícias do
específicas.
vez muito
que
tem
próprias
e
CM é perfeitamente expectável e vai ao encontro do que se pode extrair do seu estatuto
editorial.
No
entanto,
constatamos, também, na nossa análise, e concordando com João Figueira, que "o CM é muito competente naquilo que faz e que as notícias que dá quase nunca são
desmentidas
porque
são
verdadeiras, isso significa que estamos diante de um projeto editoral que deve ser olhado com respeito, mesmo que não se goste do estilo." (FIGUEIRA,
Simultaneamente, e pese embora o facto de existir estereotipia nas notícias que foram submetidas à nossa análise, é fácil constatar - através dos números que as representações sociais não acontecem de forma significativa na imprensa escrita portuguesa. A presença estereotipia
"uma vez constituída, a representação leva os indivíduos a procurar 'criar' uma realidade que valide as previsões e explicações
implicitamente
contidas
nessas representações" (BAPTISTA, 2004: 105) e, por isso, a leitura estereotipada da realidade fomenta a continuação da estereotipia enquanto modo de compreensão do mundo e limita o reconhecimento de diferenças internas.
2012:84).
de
Como nos diz Maria Manuel Baptista,
é
apenas
residual.
Contudo, e como se percebe quando procedemos à leitura das notícias que se
Nas
nossas
considerações
finais
achamos importante referir que o uso da estereotipia
nas
notícias
é
uma
estratégia para criar uma abordagem dos acontecimentos com a qual o/a leitor/a ou seja, as massas - se identifique. O/A leitor/a
reconhece
rapidamente,
a
informação
compreende-a
e,
posteriormente, acaba por concordar
11
com ela e com a categorização que lhe
N. (2009) Meninas da Capricho,
está implícita.
Mulheres da Vogue: Imprensa Feminina e a Invenção da Adolescência
Bibliografia
Eterna., in:Revista Glamour.
BAPTISTA, M. M. (2004) Estereotipia
MACNAMARA, J. (2006) Media
e Representação Social – Uma
Content Analysis – Uses, Benefits %
abordagem psico-sociológica , In: O
Best Practice Methodology; Global
Poder e a Persistência dos
Media Analysts.
Estereótipos: 103-115.; Universidade de Aveiro.
MESQUITA, M. (2006) A personagem Jornalística: da narratologia à
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de Coimbra.
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FIGUEIRA, J. (2012) A Imprensa Portuguesa (1974-2010); Ed.: Angelus Novos.
FULTON, H. (2006) Print News as Narrative, In: Narrative and Media, 218-244.
HEINZELMANN, F. L.; STREY, M.
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