Os estereótipos na Imprensa escrita

July 12, 2017 | Autor: Margarida Queirós | Categoria: Discourse Analysis, Critical Discourse Studies
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1

Os estereótipos na Imprensa

Aparentemente, o CM é o jornal que

escrita: Correio da

mais tendência tem para a estereotipia,

Manhã, I e Público

uma vez que é, claramente, uma publicação de cariz sensacionalista e

Ana Maria Martins, Liana Rego e

popular. No seu modelo editorial,

Margarida Queirós

atribui-se

mais

fotografias

e

normalmente

importância aos

títulos,

aparecem

em

às que letras

garrafais, e os assuntos de destaque

Palavras prévias

estão,

normalmente,

associados

à

O trabalho de análise aqui apresentado

criminalidade e à sinistralidade. Há uma

pretende explorar a estereotipia na

maior tendência para a tabloidização e,

imprensa escrita, tendo por base um

portanto,

adivinha-se

estudo

apetência

para

de

a

maior

propagação

de

realizado

sobre

Manhã (CM),

oIe

estereótipos e de representações sociais.

melhor

Embora esteja longe de ser um jornal de

aproveitamento desta análise, o nosso

referência em Portugal, é a publicação

corpus inclui uma edição anual de cada

com

um dos jornais, desde o ano de 2009 até

português. Ainda assim, em termos

2015,

percentuais

o Correio

caso

uma

de

o Público (P).

Para

correspondente

um

à

primeira

mais

tiragem

não

no

existem

território

grandes

segunda feira de maio. Dada a extensão

diferenças na quantidade de estereótipos

temporal da recolha, e o facto de se

que detetamos no CM e nos restantes

integrarem 21 jornais e cerca de 1200

dois jornais em análise, mesmo não

notícias na nossa análise, achamos

sendo estes de cariz sensacionalista. O

pertinente cingir o estudo aos títulos e

jornal I, por exemplo, sendo o mais

aos lead de notícias, deixando, assim,

recente do grupo em estudo (surgiu em

de fora a leitura do corpo das mesmas.

2009), e mesmo estando ainda numa

Tendo em conta que é nos títulos e

fase identitária demasiado indefinida,

nos lead que se cruzam a macro e a

tem seguido um modelo popular, mas

superestrutura, consideramos que é

não em formato tablóide. Apresenta

suficiente para o rigor deste artigo

várias reportagens nas suas edições,

limitarmos a análise dessa forma.

muitas

notícias

internacionais

e,

geralmente, aborda todo o tipo de assuntos da atualidade, sem grande

2

diferença

de

destaque

entre

eles.

enquanto integrante da abordagem

O Público, por outro lado, é o principal

jornalística da realidade, possibilita uma

jornal de referência português e o único

identificação mais agilizada e completa

em análise com Livro de Estilo. É um

da estereotipia nas notícias. Como

diário que aposta muito na reportagem e

definição de representação social,

que se caracteriza pela preferência por

consideramos a noção de Denise

notícias

Jodelet, apresentada no artigo de Maria

Cultura,

de

Economia,

dando

aos/às

Política

e

leitores/as

Manuel Baptista, “Estereotipia e

informações sobre os assuntos mais

Representação Social”: trata-se de “uma

importantes da atualidade. Prioriza os

modalidade de conhecimento

espaços de opinião e deixa bem claro no

socialmente elaborada e partilhada, com

seu Estatuto Editoral que, no tratamento

um objetivo prático, contribuindo para a

das

construção de uma realidade comum a

notícias,

não

recorre

ao

sensacionalismo.

um conjunto social”. A estereotipia é, então, entendida como uma

A metodologia de análise a seguir neste artigo divide-se em dois tipos de leitura: a quantitativa e a qualitativa. Para a análise discursiva, e tendo como motor do trabalho a detecção ou a ausência da estereotipia, consideramos fundamental abordar a modalidade, a lexicalização, a

representação social, porque acaba por ser uma reprodução das mesmas: “(…) o enviesamento cognitivo, que é a estereotipia social, mais não faz do que veicular e expressar determinadas representações sociais” (BAPTISTA, 2004: 105).

personagem jornalística e a figura de estilo, uma vez que estas categorias se

Tal como defende Adriano Duarte

adivinham, à primeira vista, interligadas

Rodrigues no artigo “Considerações

com a utilização do estereótipo no

preliminares sobre o quadro enunciativo

léxico.

do discurso midiático”, a comunicação social não está imune à passagem de preconceitos e de ideais pré-concebidas;

Contextualização:

estereotipia

como representação social Para os propósitos deste artigo, a compreensão do estereótipo enquanto representação social e, por isso,

assim

sendo,

podem

processar

a

informação com base em estereótipos, sendo um reflexo da própria linguagem utilizada na sociedade em que se inserem,

dos

seus

costumes

e

3

convencionalidades.

Dessa

forma,

a que os discursos se referem e que

reconhece-se, sem grande surpresa, que

pretendem impor à audiência.

existe a preconização de representações sociais e estereótipos nos media e que, tal facto, se justifica com a própria ideologia e subjetividade que está - e é inerente à linguagem e à sociedade que partilha

o

seu

uso.

Exigir

Não se trata de negar que os discursos mediáticos impõem visões do mundo e ideologias dominantes e alimentam as diferentes formas de dominação, mas de afirmar que esta característica não é

essa

específica destas modalidades de

imunidade aos órgãos de comunicação social

e

aos/ás

jornalistas

é

desconsiderar parcialmente a noção de que

a

objetividade

perseguido, concretiza

mas

é

que

totalmente,

um

ideal

nunca

se

mesmo

no

discurso. Bem vistas as coisas, qualquer discurso, inclusivamente o discurso que estou neste momento a escrever (…) insere-se num processo de imposição de ideias procurando levar os interlocutores a aceitar aquilo que o

discurso jornalístico.

locutor pretende ser verdadeiro, bom, A análise crítica do discurso (ACD)

belo ou interessante. (RODRIGUES,

para o estudo dos discursos mediáticos

2010: 124).

costuma pretender mostrar que a materialidade textual dos discursos mediáticos é responsável pela construção e pela imposição da realidade, pela manipulação das audiências, utilizando os discursos retóricos da linguagem, procurando assim denunciar o facto de servir a imposição de ideologias dominantes. Mas, se pararmos para pensar, não é a materialidade dos textos de que são formados os enunciados dos discursos mediáticos, mas o seu quadro enunciativo que constrói o mundo no seio do qual existe e tem sentido aquilo

Para

concluir

a

designação

de

estereótipo e a fundamentação da pertinência do seu estudo dentro do contexto

mediático,

e

mais

propriamente na construção noticiosa, apraz-nos

dizer

que,

segundo

Billigmeier, este é uma “(…) mistura distorcida de impressões inadequadas sobre os outros, que ignoram diferenças internas”

(1990 apud BAPTISTA,

2004: 107) e que “(…) poderá ser entendido como um esquema cognitivo socialmente

partilhado,

produto

do

processamento de informação social, cujo conteúdo é normalmente enviesado

4

(construindo os sujeitos categorizações super-generalizadoras, exageradas ou até falsas). Cristalizado em torno de uma palavra que o designa e reflectindo relações

entre

estereótipo

grupos

pode

compreendido

sociais,

ser

se

o

melhor

integrado

em

representações sociais mais latas de que faz parte.” (BAPTISTA, 2004: 112).

Análise Quantitativa: os baixos níveis percentuais

JORNAIS

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

TOTAL

Correio da Manhã

65

85

88

123

122

120

127

730

I

25

41

28

33

29

38

33

227

Público

40

39

38

23

34

41

29

244

TOTAL

130

165

154

189

185

199

189

1201

Tabela 1

JORNAIS

NOTÍCIAS

NOTÍCIAS COM ESTEREÓTIPOS

Correio da Manhã

730

8

I

227

0

Público

244

1

TOTAL

1201

9

Tabela 2

5

Ao longo do estudo desenvolvido, percebemos que, meramente em termos numéricos, a estereotipia não revela uma presença muito forte nas notícias

Notícias sem estereótipos 100%

98,9%

de nenhum dos três jornais em análise. 99,59%

Obviamente, é importante não esquecer que a leitura eitura quantitativa descura por completo a leitura de conteúdo, que ajuda

a

compreender

o

tipo

de

mecanismos utilizados que acabam por formar o(s) estereótipo(s), ótipo(s), qual a sua natureza e quais as representações sociais

a

que

Simultaneamente,

são

inerentes.

entendemos

que,

mesmo que a presença de estereótipo seja 1.10% Correio da Manhã

0.00% I

0.41% Público

também

escassa

no CM,

a

comparação com os restantes jornais (Público e I)) confirma a expetativa de que um jornal de cariz sensacionalista

Gráfico 1

apresenta mais tendência para uma abordagem estereotipada da realidade. Para

melhor

absorver

os

dados

presentes noss gráficos 1 e 22, achamos

1% Notícias sem estereótipos

pertinente a consideração ração das anteriores tabelas

(1

e

22).

Notícias com estereótipos 99%

Análise Qualitativa: a conotação lexical das notícias

Gráfico 2

6

Uma vez retida a noção percentual da

questão, porque à custa de um trabalho

presença da estereotipia nas notícias dos

jornalístico mais rigoroso, imparcial e

jornais analisados, percebemos que o

isento, sem ideologias pré-concebidas, a

relevo numérico não é muito forte.

única coisa que se acrescenta é um

Porém, e mesmo sendo algo de positivo

reconhecimento

para

informação por parte dos/as leitores/as.

a

qualidade

do

jornalismo

mais

imediato

da

praticado, é importante compreender o tipo de estereótipos mais ocorrentes e se estes são, ou não, nocivos para o entendimento do/a leitor/a e para a questão deontológica que pode ser levantada aquando da ocorrência da

Como

apurado

na

exposição

quantitativa, o Público contem apenas um estereótipo, num universo possível de 244 notícias. Contudo, achamos que, para um melhor entendimento destes casos pontuais, devemos fazer uma

estereotipia.

especial referência ao que encontramos. Sabemos que, sendo o estereótipo fruto

No Público, o

das representações e relações sociais, a

existente (na edição de 2009) pode

utilização do mesmo facilita o processo

levantar algumas dúvidas; isto porque o

de entendimento do/a leitor/a e agiliza-

jornalista que escreveu a notícia –

o. Acaba por fornecer um conjunto de

Carlos Dias – recorre, claramente, a

informações que vão ao encontro de

uma estratégia de objetividade, sendo

uma noção padronizada na sociedade,

que o estereótipo se exprime não pelas

partilhada

pouco

palavras do jornal ou do jornalista, mas

compreendida na sua conotação – a

sim pelas palavras de Vital Moreira. O

maioria das vezes, pejorativa - por estar

título desta notícia, «“Alguém tem

tão enraizada no senso comum. No

dúvidas de que eram os militantes do

entanto, a responsabilidade jornalística,

PCP?”,

cuja

das

pressupõe uma visão conotada que a

preocupações mais comuns aos órgãos

principal figura da notícia tem dos

de comunicação, deve significar, pelo

militantes

menos, uma tentativa de isenção de

o Público acaba por reproduzir uma

estereotipia. O/A jornalista não deve

generalização estereotipada presente no

praticar

discurso do político português.

pelas

salvaguarda

ou

massas

é

difundir

e

uma

o

uso

de

estereótipos, mesmo os que possam ser elogiosos para a pessoa ou o grupo em

único

pergunta

Vital

estereótipo

Moreira»,

comunistas.

Contudo,

7

Aproveitando a distinção que Helen

realidade. Cinco na edição de 2010 e

Fulton

News e Soft

três nas edições de 2012, 2013 e 2014

News, no seu artigo “Print news as

(uma em cada ano). Numa das edições

narrative”, é expectável que um jornal

de 2010, lê-se os seguintes título,

de referência como é o P dê menos

subtítulo e lead: “Sócrates repreende

espaço para a estereotipia nas suas

segurança”;

notícias. O modelo editorial desta

apercebeu-se do empurrão dado a

publicação encaixa na definição que a

jornalista que o queria abordar”. “O

autora

de hard

primeiro-ministro repreendeu ontem,

news, sendo que estas se caraterizam

em Peniche, um dos elementos do corpo

por recorrer a muitas fontes, por

de segurança pessoal por este ter

privilegiar a objetividade e por abordar

empurrado uma jornalista que tentava

temas de interesse nacional: «'Hard'

obter declarações suas”. À primeira

news são as notícias mais atuais, que

vista, todo o contexto da notícia pode

envolvem política, economia, relações

parecer inócuo. Contudo, o facto de

industriais, setores público e privado,

o CM ter explorado um acontecimento

eventos

tão

faz

de Hard

inglesa

defende

recentes

que

devem

ser

“Primeiro-ministro

insignificante,

apenas

por

se

noticiados. 'Hard' News representam a

relacionar com o Primeiro-ministro,

ideia que o jornal tem acerca daquilo

revela uma certa conotação negativa

que o público precisa de saber para

associada a José Sócrates que vai ao

atuar como cidadãos e cidadãs bem

encontro,

informados;

(FULTON,

estereótipos criados em volta dos

O jornal I, contrariamente

políticos, mas, também, de forma

2005:226).

1

(...)”

de

com

forma

a

geral,

de

aos outros dois jornais em análise, não

particular,

personagem

apresenta qualquer estereótipo, num

jornalística que o próprio Sócrates

total de 227 notícias analisadas. Pese

representa.

embora alguns casos dúbios, acabamos por não contabilizar nenhum título ou lead como sendo preconizador de estereotipia.

É notícia o facto de Sócrates defender uma jornalista porque, no geral, o expectável é que este, bem como os políticos, sejam pouco cordiais e pouco

Por outro lado, o CM apresenta, no

simpáticos (estereótipo). A personagem

total, oito leituras estereotipadas da

do Primeiro-ministro, criada e difundida

1

Tradução livre

pelos

media, corrobora

a

ideia

8

defendida por Mário Mesquita no seu

por recorrer à categorização através da

capítulo “A personagem jornalística: da

modalidade.

narratologia à deontologia”, inserido na

Ramos, escreve: “Polícia trava leilão de

obra “O Quarto Equívoco”, de que os

prostituta” (título); «O cartaz prometida

textos jornalísticos contribuem para a

uma festa de arromba: “gajas boas”,

criação de personagens, planas ou

“copos grátis” e, para terminar, um

espessas, que constroem noções e ideias

“magnífico leilão”, em que o prémio

que passam para os/as leitores/as e que

era... uma prostituta.». Classificar o

estes/estas

cartaz noticiado como promotor de uma

aceitam

como

sendo

verdadeiras.

O

jornalista,

Ricardo

“festa de arromba” é categorizar as “festas de arromba” como as que têm os

Ainda no CM, desta vez no de 2014, lêse o seguinte título: “PJ suspeita de ajuda ao Monstro”. Este adjetivo, aqui usado também como substantivo, é, no fundo, uma personificação, uma vez que, neste contexto, se destina a designar um ser humano, Manuel Baltazar,

que

cometido

está

duplo

preso

por

homicídio.

ter O

elementos

referidos

nomeadamente

no tal cartaz,

“gajas

boas”.

Ora,

consideramos que esta leitura e a designação “festa de arromba”, que vai além da informação factual parte já de um estereótipo do próprio jornalista e que, como é normal nas representações sociais, é aceite e reconhecido pelos/as leitores/as.

estereótipo inerente a este título é relativo à conotação negativa – muitas

Os restantes estereótipos encontrados ao

vezes, exagerada – atribuída como

longo

norma a todos os homicidas. O léxico,

no Correio

neste caso, é pautado por uma figura de

exemplos

de

estilo, estrategicamente escolhida, bem

origem

num

como, de novo, pela criação de uma

generalização. Os títulos destas notícias

personagem.

ajudam-nos

Os

homicidas,

na

deste

trabalho,

da

Manhã,

todos

eles

são

cinco

leituras que

a

tiveram

pressuposto

perceber

de

qual

o

comunicação social, são tidos como

estereótipo a que estão ligadas: “Mulher

seres humanos

desumanizados,

de Tiger Woods ganha 500 milhões”;

perversos e assustadores. De novo no

“Aguilera sexy em videoclip”; “Nobre

Correio da Manhã, e de novo na edição

mata para irritar madrinha”; “Confusa

de 2010, constatamos que há mais um

com

exemplo que merece particular atenção,

cheques”;

gravidez,

Bárbara

“Fogo em

prédio

entrega mata

9

mendigo por desintoxicação”. Contudo,

beijar tanto homens como mulheres”.

em alguns casos, a leitura de subtítulos

No caso da notícia acerca de “Bárbara”

e/ou

de lead acrescenta sentido aos

Guimarães, o texto passa a mensagem

títulos e comprova a existência de

de comparação entre a maternidade e a

estereotipia. Por exemplo, na notícia em

chegada de uma “cegonha”, uma ave

que se lê “mendigo”, é através da leitura

frequentemente associada às mulheres

do lead que sabemos que se trata não de

que vão ser mães por serem dóceis,

um mendigo, mas sim de um sem-

protetoras e monógamas. Por último,

abrigo. Neste caso, o estereótipo remete

mas não menos importante, resta um

para a ideia generalizada de que todos

dos estereótipos mais originais que

os sem-abrigo são pedintes. Também no

encontramos no nosso estudo, e que se

título a respeito da esposa de Tiger

representa, primeiramente, através da

Woods

do lead que

palavra “nobre”. O texto que noticia que

percebemos o quão tendenciosa a

um membro da aristocracia portuguesa

abordagem noticiosa é, uma vez que

matou

Elin Nordegren não ganhou dinheiro

madrinha” está a associar o conceito de

algum mas, como foi traída pelo golfista

“nobre” a uma educação específica,

e quer divorciar-se, encontrou-se com

mimada e de privilégios tantos que

vários advogados conceituados dos

seriam

EUA para “sair do casamento (…) com

homicídio.

é

através

o

padrinho

capazes

de

para

“irritar

justificar

um

a conta bancária recheada”. Além disso, a imagem que acompanha a notícia

Conclusão: tabloidização e

apresenta Tiger Woods à esquerda, com

estereotipia

menos destaque, e Elin Nordegren em lingerie, a ocupar mais espaço que o próprio texto. Nessa mesma página, encontramos

a

notícia

sobre

a sexyness de Christina Aguilera no seu videoclip. Porém, quando partimos para a leitura das restantes macroproposições torna-se óbvio que a definição de sexy é, neste contexto, uma das noções que a sociedade partilha a respeito disso: “a cantora aparece com um ar sensual a

Regressamos, portanto, às noções de Helen Fulton. Quando a autora inglesa distingue as soft e as hard news,e tendo nós já previamente caracterizado as segundas em associação ao jornalismo praticado

pelo

Público,

a

ideia

defendida é que as soft news dão aos/às leitores/as aquilo que estes/estas querem - e não necessariamente o que precisam. Desta forma, a abordagem feita nestas

10

notícias tem uma maior tendência para o

desenrolam

sensacionalismo: faz títulos garrafais e

representação social, isso não significa

textos

pequenos,

promovendo

que

maior

agilidade

do

entendimento

e

uma

as

tendo

por

categorizações

processo

de

levantem

questões

reconhecimento

da

deontologia

e

base

feitas

não

nível

da

a

da

uma

responsabilidade

informação, tendo, consequentemente,

jornalística: o discurso noticioso não

mais aptidão para o uso da estereotipia.

pode ser entendido como um discurso

Consideramos,

qualquer,

portanto,

que

a

uma

existência de uma maior percentagem

características

do uso do estereótipo nas notícias do

específicas.

vez muito

que

tem

próprias

e

CM é perfeitamente expectável e vai ao encontro do que se pode extrair do seu estatuto

editorial.

No

entanto,

constatamos, também, na nossa análise, e concordando com João Figueira, que "o CM é muito competente naquilo que faz e que as notícias que dá quase nunca são

desmentidas

porque

são

verdadeiras, isso significa que estamos diante de um projeto editoral que deve ser olhado com respeito, mesmo que não se goste do estilo." (FIGUEIRA,

Simultaneamente, e pese embora o facto de existir estereotipia nas notícias que foram submetidas à nossa análise, é fácil constatar - através dos números que as representações sociais não acontecem de forma significativa na imprensa escrita portuguesa. A presença estereotipia

"uma vez constituída, a representação leva os indivíduos a procurar 'criar' uma realidade que valide as previsões e explicações

implicitamente

contidas

nessas representações" (BAPTISTA, 2004: 105) e, por isso, a leitura estereotipada da realidade fomenta a continuação da estereotipia enquanto modo de compreensão do mundo e limita o reconhecimento de diferenças internas.

2012:84).

de

Como nos diz Maria Manuel Baptista,

é

apenas

residual.

Contudo, e como se percebe quando procedemos à leitura das notícias que se

Nas

nossas

considerações

finais

achamos importante referir que o uso da estereotipia

nas

notícias

é

uma

estratégia para criar uma abordagem dos acontecimentos com a qual o/a leitor/a ou seja, as massas - se identifique. O/A leitor/a

reconhece

rapidamente,

a

informação

compreende-a

e,

posteriormente, acaba por concordar

11

com ela e com a categorização que lhe

N. (2009) Meninas da Capricho,

está implícita.

Mulheres da Vogue: Imprensa Feminina e a Invenção da Adolescência

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