Os imaginários culturais na construção identitária madeirense (implicações cultura/economia/relações de poder)

July 19, 2017 | Autor: Ana Salgueiro | Categoria: Identity (Culture), Economia, History of Madeira Islands, MAdeira island
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Os imaginários culturais na construção identitária madeirense (implicações cultura/ economia/relações de poder)

Ana Salgueiro Rodrigues CEHA_Madeira CECC (FCH-UCP)

The cultural imaginary in the Madeira identity construction (culture/economical/ power relations assumptions)

ANUÁRIO N.º 3 Centro de Estudos de História do Atlântico ISSN: 1647-3949, Funchal, Madeira (2011)

pp. 184-204

** Doutoranda em Estudos de Cultura na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCHUCP), com tese intitulada “Ex-île… O exílio nas literaturas das Ilhas Atlânticas (Cabral do Nascimento, João Varela e João de Melo, é bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia – FCT, desde 2008, investigadora júnior do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (FCH-UCP), tendo integrado, a partir de Janeiro de 2011, o projecto «O deve e o haver na História da Madeira» promovido pelo CEHA. É mestre em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e licenciada em LLM Estudos Portugueses pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É co-autora do livro Vozes de Cabo Verde e Angola. Quatro percursos literários (CLEPUL, 2010), tendo a sua investigação mais recente sido ocupada particularmente pelo estudo das literaturas e culturas das Ilhas Atlânticas, assim como pela problemática do exílio. Tem participado em encontros académicos nacionais e internacionais e editado em publicações periódicas e/ou colectâneas de ensaios diversos, comop.ex.: “A Cape-Verdian view of Europe: history and geography revised in the writings of G. T. Didial”, Europe in Black & White (2010); “Fantasia? Lusitana? Cinema, história(s de vida) e ética artística em Daniel Blaufuks e João Canijo”, Doc on-line (nº 9, Dez. 2010); “Insulated voices looking for the world”, A comparative history of literatures in the Iberian Peninsula (2010); etc.

Resumo O trabalho aqui apresentado seguirá duas linhas de abordagem distintas, mas complementares. Uma primeira, de carácter mais teórico-ensaístico, procurará demonstrar, por via do cruzamento de várias perspectivas teóricas hoje validadas em diversas áreas disciplinares, como os imaginários culturais criados, postos em circulação e recriados pelas sociedades estão fortemente implicados quer na contínua (re)elaboração do perfil identitário dessas mesmas comunidades, quer, como defende Lawrence Harrison, no design de políticas e/ou programas de desenvolvimento económico. Uma implicação que também se estende aos discursos que, paralela e complementarmente, pretendem legitimar (ou questionar) a execução dessas estratégias político-económicas. Assim, sublinhando a existência de uma permanente negociação (consciente ou inconsciente) entre, por um lado, esses imaginários e definições identitárias e, por outro, as performances políticas e económicas, procuraremos chamar a atenção para os pré-conceitos culturais (não raras vezes esteriotipados) que condicionam (entre outras) as decisões político-económicas e a sua aceitação ou questionação por parte dos grupos sociais nelas envolvidas. Um facto cultural que, nesta exacta medida, não deverá ser ignorado pelos discursos científicos que, nas diversas áreas, se ocupam do estudo desses fenómenos político-económicos. A segunda linha de abordagem, assumindo um carácter mais hermenêutico, tomará um corpus de análise heterogéneo, constituído por imagens cartográficas do Atlântico e textos cronísticos anteriores ao séc. XIX, assim como discursos literários e jornalísticos produzidos por autores madeirenses no primeiro quartel do século XX. Procuraremos demonstrar como, neste corpus, a imagem da ilha e sua identidade cultural são (re)construídas como lugares de fronteira, caracterizados pela instabilidade, pela flutuação e pelo carácter híbrido. Palavras-chave: imaginário insular atlântico; espaço de fronteira; identidade cultural; performance política e económica; cartografia; literatura madeirense.

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Abstract The study here presented will follow two different though complementary approaches. The first, featuring a theoretical and analytic perspective, will try to demonstrate, through the crossing of various theoretical views advocated by various study fields, how the cultural imaginary created, spread and recreated by society are attached to the continuous (re) construction of the identity profile of these same communities, and, as argues Lawrence Harrison, in the design of politics and/or programs of economical development. A signification that also reaches the speeches that, simultaneously and complementary, tries to justify ( or question) the implementation of these political and economical strategies. Hence and underlying the existence of a permanent negotiation (conscious and unconscious) between, for the one hand, those imaginary and identity definitions, and, on the other hand, the political and economical performances we will try to draw the attention to the pre-conceptions (stereotyped most of the times) that influence (among others) the political-economical decisions and their acceptation or not by the social groups involved. A cultural fact that, for the given reasons, should not be ignored by the scientific speeches that in the different areas, concentrate in the study of these phenomena. The second approach, more hermetic, will be devoted to a heterogenic corpus made up of map images of the Atlantic and chronicles written before the 19th century, as well as literary and newspapers writings produced by Madeira authors during the first quarter of the 20th century. We will try to demonstrate, how the image of the island and its cultural identity are built in this corpus as territories of frontier, marked by instability, fluctuation and hybrid character. Key-words: Atlantic insular imaginary, territory of frontier, cultural identity, political and economical performance, mapping, Madeira literature.

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«The human economy […] is embedded and enmeshed in institutions, economic and non-economic. The inclusion of the noneconomic is vital. For religion or government may be as important to the structure and functioning of economy as monetary institutions or the availability of tools and machines themselves that lighten the toil of labor.» Karl Polany, C. Arensberg & H. Pearson, Trade and Market in early empires (1957). «if we learn anything from the history of economic development, it is that culture makes all the difference. (Here Max Weber was right on)» David Landes, The wealth and poverty of nations (1998)

1. Economia e Cultura: o Desafio do Cultural (Re)Turn no Discurso Económico

1

A

brir uma comunicação com a citação de dois economistas de renome internacional, e em especial num congresso que apresenta como temática específica a análise de questões financeiras e de relações de poder, criará, eventualmente, a errónea expectativa de aqui nos propormos apresentar um trabalho situável no âmbito restrito da economia, da gestão ou das finanças. Nada de mais contrário à verdade, ainda que a nossa actual área de investigação – os Estudos de Cultura -, pelo carácter transdisciplinar que a enforma, não vire as costas a estas disciplinas, antes procurando dialogar com elas. Ora é justamente este exercício transdisciplinar que aqui nos propomos desenvolver. E neste sentido, com as epígrafes citadas, procuramos sublinhar a tese que preside a este trabalho e que, de um modo geral, enquadra a nossa colaboração no projecto «O deve e o haver na história da Madeira». Defendemos que a construção identitária (neste caso, a madeirense) - i.e., o modo como nós e os outros construímos imagens e narrativas do que somos e do que não somos, ou como através dessas imagens nos identificamos e/ou diferenciamos em relação a distintos grupos e comunidades – é algo muito mais complexo e relevante do que à primeira vista pode parecer. Trata-se, na verdade, de um processo que se encontra profundamente implicado, quotidianamente, nas nossas performances sociais, políticas, culturais e também - como bem lembra Lawrense Harrison (2000: xxx)- no design de políticas e/ ou programas de desenvolvimento económico, seja a nível regional/insular, seja a nível nacional, seja a nível internacional/transnacional. A este respeito, convém aqui recordar, antes de mais, as propostas teóricas de Eric Hobsbawm, Benedict Anderson ou Sélim Abou no que ao conceito de identidade cultural diz respeito , mas tam2

1

Este trabalho insere-se no projecto individual intitulado «Os imaginários culturais na construção identitária madeirense» que, desde Janeiro de 2011, começámos a desenvolver no âmbito do projecto colectivo levado a cabo pelo CEHA e intitulado «O deve e o haver na história da Madeira». Esse projecto individual articula-se, ainda, com a investigação que desenvolvemos no CECC – Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa e em particular na linha de investigação «Cultura e conflito».

2

ABOU, 2009, De lídentité et du sens; ADERSON, 2005, Comunidades imaginadas; HOBSBAWN e RANGER, 1984, A invenção das tradições.

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bém não esquecer aquilo que, na senda destes e outros autores, Paulo Miguel Rodrigues, ainda em 2010, na primeira edição do Congresso internacional – As ilhas do Mundo e o mundo das ilhas, sublinhava relativamente à construção identitária madeirense . Ou seja, convém ter presente que, como qualquer outra identidade, também a madeirense, longe de poder ser entendida como uma essência homogénea e estabilizada ab initio, é sobretudo um processo historicamente situável e em permanente reequação, que decorre do encontro, confronto, diálogo e negociação dos agentes e fenómenos culturais madeirenses com o outro, devendo, também por isto, ser entendida como um processo cultural dialógico e polifónico, em que intervêm não apenas os próprios insulares, mas também os outros não madeirenses. 3

este quadro contextual e conceptual, começamos por evocar a pergunta com que Carsten Herrmann-Pillath (da Frankfurt School of Finance and Management) intitulou, em 2010, um seu artigo publicado no International Journal of Cultural Studies: “What have we learnt from twenty years of economic research into culture?” . 4

Na verdade, este título-pergunta e o texto que o acompanha poderão (ou antes deverão) ser lidos como um exercício de avaliação da viragem cultural que, desde a década de 1990, se tem vindo a impor, gradual e legitimamente, na área dos Estudos Económicos. Uma viragem que, como notaram Luigi Guiso, Paola Sapienza e Luigi Zingales , retoma-actualizando uma já longa tradição do discurso económico, que remonta, por ex., a Adam Smith, Stuart Mill, Karl Marx, Max Weber, António Gramsci ou Karl Polany, e cujo princípio epistemológico comum (partilhado por estes pensadores de tão distintas sensibilidades ideológicas e de tão diversos contextos histórico-culturais) ficaria inscrito, de forma lapidar, no título da colectânea publicada em 2000, por Lawrence Harrison e Samuel Huntington: Culture matters: how values shape human progress . Um livro onde foram reunidas algumas das comunicações apresentadas no Symposium - Cultural values and human progress, promovido pela Harvard Academy for International and Area Studies e que teve lugar em Cambridge (Massachussetts), em Abril de 1999. 5

6

É certo que a inclusão deste projecto de Lawrence Harrison e Samuel Huntington no âmbito dos Area Studies norte-americanos (e lembremos que se trata declaradamente de um projecto interessado na análise das implicações detectáveis entre cultura, política, economia e desenvolvimento social), nos pode suscitar algumas reservas do ponto de vista ético e ideológico. Sobretudo se evocarmos os propósitos declaradamente políticos que estiveram na génese desta área transdisciplinar (os Area studies), no pós-II-Guerra-Mundial e em plena Guerra-Fria, e se lembrarmos a não-rara apropriação do conhecimento científico produzido nos Area Studies por parte do poder político norte-americano, colocando-o ao serviço de algumas das suas políticas hegemónicas. Contudo, do ponto de vista epistemológico e metodológico, trata-se, em nosso entender, de um contributo válido, pelas diversas, divergentes e novas perspectivas económicas e político-económicas que reúne. Recuperando a ideia de Clifford Geertz de que a cultura é um conceito de “thick description” , o qual se refere “to the entire way of life of a society: its values, practices, symbols, institutions, and human relationship” , a publicação de Lawrence Harrison e Samuel Huntington procurou dar visibilidade à cultural turn verificada na área da Economia na década de 1990, apostada numa metodologia transdisciplinar, não apenas centrada na análise econométrica, aberta às humanidades e, mais 7

8

3

RODRIGUES, 2010, «Da insularidade: prolegómenos e contributos para o estudo dos paradigmas da Madeirensidade (1910-1926)»

4

HERRMANN-PILLATH, 2009, «What have we learnt from twenty years of economic research into culture?».

5

GUISO et alii, 2006, «Does culture affects economic outcomes?».

6

HARRISON e HUNTINGTON, 2000, Culture matters.

7

GEERTZ, 2000, The interpretation of cultures.

8

HARRISON e HUNTINGTON, 2000, Culture matters, p. XIV.

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recentemente, até às ciências cognitivas . Uma viragem cultural que, como afirma Carsten Hermann-Pillath, assume que: 9

«the economy is embedded into the cultural activity of human beings, who constantly create meaning and identities, thus shaping the functionality of the economic system by creating the agents themselves [and the values] that interact in its wheeling and dealing. […].But there is also the cultural creativity of the economy. The market process generates actions and artefacts which themselves shape and change culture, both in the narrow sense of generating new behavioural stances and frames in market action, and of contributing to cultural evolution beyond the marketplace» . 10

Deste modo, na senda do que na área da Filosofia e dos Estudos Políticos (por exemplo, com Foucault) ou nas áreas dos Estudos Literários e dos Estudos de Cultura (de que Edward Said será aqui apenas uma referência), também a Economia re-conhecia, então, as fortes implicações existentes entre discurso e construção identitária, entre discurso cultural e legitimação ou questionação de poder, e, em última análise, entre representações identitárias, performance económica e gestão do poder. Julgo que, a este último respeito, basta evocarmos o trabalho de George Akerlof e Rachel Kraton (“Economics and identity” ), para percebermos como a identificação ou diferenciação relativamente a um determinado perfil identitário afectam , na verdade, a performance social e económica dos indivíduos e dos grupos em que eles se inscrevem, condicionando ainda a relação social, política e económica desses indivíduos com outros indivíduos e/ou grupos . 11

12

13

Neste sentido, para tentarmos compreender aquilo que foi e é o relacionamento económico-financeiro da Madeira com diversas instituições extra-insulares (assim como as relações de poder que, por esta via se estabelecem) será relevante dar visibilidade e conhecer as perspectivas económicas que aqui referimos e que, desde os anos 1990, demonstraram ser a cultura um factor económico determinante, quer nos situemos a um nível projectivo, como o da política económica, quer a um nível retrospectivo, como o da história económica.

2. Mapas e Textos: Cartografias da Madeira como Espaço Cultural de Fronteira Pensar a construção identitária madeirense, de acordo com os pressupostos teóricos já aqui enunciados, implica analisar as representações da Madeira e dos madeirenses, desenhadas ao longo 9

Relativamente à crítica contra o excessivo peso atribuído pela Economia aos métodos matemáticos da Econometria ver: GUISO et alii, 2006, «Does culture affects […]», p.7. Estes autores destacam, por exemplo, a importância quer do valor ‘confiança’, quer d a partilha de uma mesma língua ou da proximidade/grau de conhecimento cultural entre empresas e instituições, no desenvolvimento das negociações económico-financeiras.

10

HERRMANN-PILLATH, 2010, «What have we learnt […]», p.17.

11

AKERLOF & KRANTON, 2000, «Economics and identity».

12

Incluam-se aqui: os valores, os pré-conceitos, as restrições, as expectativas comportamentais, as preferências, … que são internalizados pelos indivíduos de um dado grupo: homem/mulher, adolescente/adulto, europeu/chinês, madeirense/continental….

13

Cf. aspectos com impacto económico mais ou menos evidente e que, em grande parte, decorrem de factores culturais: a confiança/desconfiança relativamente ao outro e a si mesmo; a competição/colaboração dentro do mesmo grupo ou em relação a outros; o empenho na produtividade ou, pelo contrário, a desmotivação; a possibilidade ou a inviabilidade negocial, seja, neste último caso, ora pela adopção de uma atitude de subalternização ou paternalismo, ora pela atitude auto-defensiva de evitar (o medo de) a diferença ou o desconhecimento do Outro. Ver a este respeito AKERLOF e KRANTON, 2000, «Economics and identity».

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dos tempos, quer por insulares locais, quer por outros extra-insulares. Representações que estarão certamente sujeitas a diversas modalizações e/ou evoluções, decorrentes dos valores e pré-conceitos que enformam o olhar de quem, a partir de dentro ou de fora, vai pensando e dizendo a Madeira ao longo da história. A análise da problemática da construção identitária madeirense não caberia, como é óbvio, num espaço tão restrito como o disponível na presente publicação. Daí que tenhamos dado prioridade, no nosso corpus de análise, a três diferentes tipos de discursos (o cartográfico, o cronístico e o poético) e a duas épocas históricas particulares (os séculos XVI-XVII e o período da I Guerra Mundial). Preside a esta escolha o propósito de verificar até que ponto as representações da Madeira, nos primeiros tempos da sua colonização, configuraram (ou não) um imaginário identitário que será retomado e actualizado (ou não) durante os anos de 1914-1918, um tempo especialmente relevante quer do ponto de vista da questionação identitária (basta evocarmos os preparativos das comemorações do V centenário da chegada de Zarco à Madeira), quer do ponto de vista da afirmação de um discurso político-administrativo e económico autonomista . 14

2.1. Mapas Num trabalho recentemente publicado , Isabel Capeloa Gil e João Ferreira Duarte sublinham que o mapeamento do espaço é simultaneamente «a task of discerning and appropriating, of study and domination» e que, por conseguinte, «maps, atlases and charts have served the dynamics of power and knowledge», não se encontrando, por isso, quer a sua elaboração, quer a sua leitura desvinculadas de valores culturais e ideológicos . 15

16

Neste sentido, e ao contrário do que muitas vezes ocorre, os mapas, segundo Isabel Capeloa Gil e João Ferreira Duarte, não podem ser lidos como representações passivas e anódinas do espaço, exigindo sempre uma leitura crítica que não exclua a dimensão cultural e política. Uma leitura que nos permita, por um lado, descortinar qual o posicionamento (geográfico, ideológico, epistemológico, em resumo, cultural) do cartógrafo, relativamente ao mundo mapeado; mas que, por outro lado, também nos permita compreender em que medida esses posicionamentos do mapeador foram fundamentais para a sua elaboração cartográfica, a qual, em suma, corresponde a uma versão de mundo, culturalmente situada . 17

Como é sabido, uma das alterações na cartografia ocidental do mundo, promovida pela expansão europeia iniciada no séc. XV, foi uma gradual deslocação da centralidade dessas representações: da Europa e do Mediterrâneo, para o Atlântico. É justamente essa mudança com que nos deparamos, quando analisamos, por exemplo, os três primeiros mapas que seleccionámos: (1) a recriação do mapa-mundo de Eratóstenes (c. 220 a.C); (2) a reprodução do portulano de Angelino Dulcert (c. 1339); e (3) o mapa-mundi de Gerardus Mercator (1569). Se nos dois primeiros exemplos somos confrontados com o olhar da cultura ocidental da Antiguidade Clássica e da Idade Média, ainda muito centrado no Mediterrâneo e na Europa, no «Nova et aucta orbis terrae descriptio ad usum navigatium emendata», de Gerardus Mercator, pelo contrário, a perspectiva é já a de um moderno olhar ocidental sobre a geografia do mundo, cujo centro se deslocou para o Atlântico. 14

A respeito do movimento autonomista na Madeira, nos anos 1910-1920, ver: PITA, 1985, «Decadência e queda da I República […]»; VERÍSSIMO, 1985,«Em 1917, a Madeira reclama autonomia»; VERÍSSIMO, 1990, «O alargamento da autonomia nos distritos insulares».

15

GIL e DUARTE, 2011, «Introduction: modernity’s fluid cartographies».

16

GIL e DUARTE, 2011, «Introduction: modernity’s fluid cartographies»,p.1.

17

A respeito do conceito de versões discursivas de mundo ver GOODMAN, 2006,Linguagens da arte.

190

Mapa 1. Reconstrução do mapa-mundo de Eratóstenes, séc.II a.C, [http://www.henry-davis.com/ MAPS/AncientWebPages/112.html], acesso em 02-06-2011.

Mapa 2. Reprodução do portulano de Angelino Dulcert, c. 1339, [http://mashpedia.es/ Angelino_Dul cert], acesso em 01-06-2011.

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Mapa 3. «Nova et auta orbis Terrae descriptio ad usum navigatium emendata», Gerardus Mercator, Flandres, 1569, [http://www.ask.com/wiki/Mercator_Projection], acesso a 01-062011.

Os mapas que, de seguida, aqui serão por nós brevemente analisados foram produzidos e/ou publicados nos séculos XVI-XVII, mantendo, de igual modo, o Atlântico no centro das suas representações do mundo. Porém, é curioso notar que a Madeira assume aí um posicionamento ambivalente: umas vezes surge efectivamente no centro desta nova concepção ocidental do mundo, sendo cartografada na zona central dos mapas e como espaço obrigatório de escala e de cruzamento nas rotas transatlânticas , como sucede no mapa de Gerardus Mercator (Mapa 3) ou nos de Abraham Ortelius de 1570 ou de Guiljelmo Blaeuw de 1630 (Mapas 4 e 5); mas outras vezes, pelo contrário, esta ilha assume uma configuração inequivocamente periférica, evidenciada, não apenas pelo carácter diminuto da representação do seu território no gigantismo dos mapas-mundo, mas também porque, em mapas como o de Rumold Mercator, produzido em 1587 (Mapa 6), a Madeira surge, na verdade, cartografada nos limites do hemisfério onde se representa a Europa e, por conseguinte, sendo representada na fronteira entre o mundo europeu e os outros mundos. 18

18

A respeito das Ilhas Atlânticas como espaços fundamental de cruzamento das rotas transatlânticas, lembremos que já em 1954, Albert Silbert apontou esta mesma relevância. Cf. SILBERT, 1997, Uma encruzilhada do Atlântico

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Mapa 4. «Mapa orbis Terrarum», Abraham Ortelius, 1579, [http://ocw.unican.es/ humanidades/teoria-y-metodos-de-la-geografia.-evolucion-del/material-de-clase/ archivos-modulo3/proyecciones-cartograficas/mapa-orbis-terrarum-de-abrahamortelius-1579], acesso em 01-06-2011.

Mapa 5. «Nova totius Terrarum orbis geographica ac hydrographica tabula», Guiljelmo Blaeuw, c.1630, [http://dawnemapy.com.pl/pages/mapy/swiat/xvii-w. php?p=20], acesso a 02/06/2011.

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Mapa 6. «Orbis terrae compendiosa descriptio», Rumold Mercator, Flandres,1587/1609, [http:// www. cosmography.com/catpages/mercator-world.htm], acesso em 30/05/2011.

A atribuição à Madeira (por não insulares, destaque-se) deste carácter ambíguo, ambivalente e de fronteira é reforçado quando temos em consideração, p.ex., o conteúdo discursivo do acordo de paz de Cateau-Cambrésis, assinado em 1559 e estabelecido entre as três grandes potências do momento: Espanha, França e Inglaterra. Contemporâneo de alguns dos mapae-mundi aqui em breve análise, este documento político-diplomático definiu uma nova ordem europeia e mundial, estabelecendo, entre outros acordos, que a linha da Ilha d’El Hierro (nas ilhas Canárias e num meridiano muito próximo do da Madeira) constituiria o limite do mundo regulado pelas leis territoriais dos reinos da Europa. Para lá dessa linha ficava o mundo do outro, da barbárie, do (pseudo)vazio da (pseudo)terra de ninguém; o mundo do não-europeu, do não-cristão, do considerado não-civilizado ou até não-humano. Deste entendimento do mundo, implícito no documento firmado em Cateau-Cambrésis, nos lembra Fillipo Ruchi: «No peace beyond the line» was the unanimous call shared by all courts in Europe. The validity of the jus gentium would come to an end at the meridian of El Hierro Island. Beyond that would prevail the law of the strongest . 19

Não nos ocupamos aqui da análise de (entre muitos outros) os mapas dos séculos XVIII e XIX 19

RUCHI, 2008, «Space, law and power […]».

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que cartografam a Madeira e onde os olhares literários, etnográficos, antropológicos e geo-botânicos (que, neste período, se iam impondo com os valores culturais românticos e científicos em ascensão) terão modalizado, certamente, o modo como a Madeira é vista e mapeada. Conviria, porém, verificar se, pese embora a emergência destes novos olhares culturais sobre a ilha (olhares de dentro e olhares de fora), a imagem que dela se constrói não continua a ser marcada pela mesma ambivalência (de centro periférico) e pelo mesmo carácter de fronteira (entre Europa e outros mundos) . 20

2.2. Textos cronísticos e poéticos Em 1552, João de Barros, declaradamente inspirado pela crónica de Gomes Eanes de Zurara, trazia à luz a sua «Década Primeira», onde a figura de João Gonçalves Zarco e o achamento do Porto Santo e da Madeira assumem especial relevo por, segundo aquele cronista, terem dado «princípio […] á navegação, e commercio da Ethiopia, desde Guiné até os Abixins» (sic) . 21

Porto Santo e Madeira, até por serem ilhas desabitadas à chegada de Zarco, surgem, assim, como espaço de um prolongamento português, «em que o coração da gente Portugueza se estendesse pera seu serviço [i.e., para o serviço dos portugueses]» . 22

Num primeiro momento, a imagem do Porto Santo é construída discursivamente como a de uma ilha de salvação, como a de uma terra-oferta de Deus, em recompensa pelos trabalhos dos portugueses. E mais adiante, dessa vez em comentário relativo à ilha da Madeira, é de novo o carácter central deste espaço insular que sobressai, quando o cronista lembra que Madeira é: «Nome já mui celebrado e sabido per toda a nossa Europa, e assi em muitas partes de África, e Ásia por os frutos da terra de que todas participam; e ella tão nobre, fértil, e generosa em seus moradores que tirando Inglaterra mui antiquíssima em povoação, e illustre com a magestade dos seus Reys, em todo o mar Oceano Occidental a esta nossa Europa ella se pode chamar princeza de todas» (sic) 23

São de sublinhar nesta passagem, quer o posicionamento cultural do cronista (europeu e português, supostamente com vasto conhecimento do restante mundo), quer a valorização da Ilha da Madeira, seja pela relevância estratégica que ela assume no tráfego transatlântico, seja pela identificação dos dons da terra e dos «seus moradores» com os de um outro espaço insular europeu: a Inglaterra . Na verdade, estes insulares parecem não necessitar de maior atenção discursiva na economia da narrativa, justamente por serem acriticamente identificados com um nós-portugueses, com um nós-europeus e, em última análise, com um nós-europeus-insulares, ou seja, um nós-ingleses. 24

25

20

Seria interessante verificar, por exemplo, se no mapeamento da Madeira do século XVIII e XIX predominam as representações cartográficas mais abrangentes (como os mapae-mundi) e destinadas ao uso da navegação e à sinalização dos territórios encontrados e/ou dominados pelos europeus, ou se, pelo contrário, a predominância se encontra em outros tipos de representações cartográficas, de abrangência espacial mais restrita, mais centrados na ilha e produzidas para outros fins que não aqueles.

21

BARROS, 1778, Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto […], p.13

22

BARROS, 1778, Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto […], p.37.

23

BARROS, 1778, Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto […], p. 36.

24

Note-se o epíteto de «princeza» de todas as ilhas atribuído pelo cronista à Madeira.

25

Consideramos que esta aproximação/identificação da Madeira (ilha do Infante, como lembrará Cabral do Nascimento em 1917, no seu poemeto Além-Mar) não deve ser descontextualizada, devendo ser tida em consideração a relação próxima que a casa real de Portugal mantinha então com Inglaterra.

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Sendo esta representação da Madeira decorrente do olhar do cronista (mediatizado, em grande parte, pelo saber livresco que possui ), João de Barros traça-nos ainda na sua obra uma outra e bem distinta imagem da Madeira: a imagem construída por aquilo que hoje poderíamos designar opinião pública contrária ao movimento expansionista português. Dando voz a essa «gente» , que evocava quer o carácter dessa outra «fera gente» encontrada nas Ilhas Canárias, quer o carácter estranho da excessiva fertilidade das terras insulares que, por todas estas diferenças, eram entendidas como um espaço inviável para o nós (portugueses, cristãos, civilizados), João de Barros escreve, citando a voz dessa opinião pública: 26

27

«[O Infante] mandou seus vassalos passar além-mar romper terras que Deos deo por pasto dos brutos. E bem se vio quanto mais naturaes são pêra elles, que pêra nós, pois em tão poucos dias huma coelha multiplicou-se tanto, que os lançou fora da primeira Ilha, quasi como amoestação de Deos, que há por bem ser aquella terra pastada de alimárias, e não habitada por nós» . 28

Uma vez mais, verificamos que a representação da Madeira flutua ambivalentemente entre a identificação das ilhas e dos insulares com um nós-português/europeu, e, em sentido bem contrário, com um outro, estranho e assustador para esse nós. Um nós que, embora apresentado como unidade sócio-político-cultural, revela implicitamente ser detentor de uma voz não uníssona, desdobrando-se num perfil polifónico e heterogéneo quando se questiona sobre o que é/como é a Madeira e os seus habitantes. Avançando um século e evitando a análise da brevíssima, laudatória e ufana referência à Madeira em Os Lusíadas, centremos por breves momentos a nossa atenção no poema Insulana, editado em 1635, em Antuérpia, e da autoria de Manoel Thomas, escritor nascido no reino, mas radicado na Madeira. Neste caso, o diálogo com Camões e João de Barros torna-se evidente. Desde logo, na «Proposição», onde a Madeira surge uma vez mais como a «Princesa das Ilhas descobertas», numa construção discursiva que, até pela intertextualização com o episódio da Ilha dos Amores de Os Lusíadas, constrói uma imagem idealizada da Madeira, identificável com a do Paraíso perdido. Em Insulana a Madeira é, de facto, representada como a ilha acolhedora, prémio atribuído por Deus aos heróis portugueses que irão «no/ Mar caminho abrindo», contra «os medos» e contra a «névoa medonha» . 29

A identificação do nós-portugueses com a Ilha é aqui matizada pela intervenção do elemento divino. A Ilha não é Portugal, nem é a Europa cristã, diferenciando-se, deste modo, desses espaços do nós. Um nós, contudo, a quem Deus atribuiu uma missão transcendente: «A quem o Autor do mundo poderozo/ Criou para exaltar a fé gloriosa/ Cujo estandarte em tudo venturozo/ Com mão potente, forte, & belicosa» . 30

No entanto, pese embora essa diferenciação ambígua entre nós-Portugal e ela-Madeira, representada aqui como actualização do mítico Paraíso, a ilha surge no poema de Manoel Thomas como um espaço oferecido a esse nós, como o nostos original a que o nós (português e cristão), depois de um tempo de deriva, merece regressar por recompensa divina. 26

Lembremos, p.ex., o reconhecimento de que a sua crónica reescreve Zurara.

27

BARROS, 1778, Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto […], p.41.

28

BARROS, 1778, Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto […], p.41. Negritos nossos.

29

THOMAS, 1635, Insulana, estr. 91.

30

THOMAS, 1635, Insulana, estr. 89.

196

Assim, numa outra modalização, voltamos a encontrar a representação da Madeira como um espaço ambivalente que, com significado relevante, é também referido, logo na “Proposição” do poema, como “porta aberta”, através da qual Portugal entraria em novos mundos, sublinhando-se, deste modo e uma vez mais, o carácter fronteiriço atribuído à Madeira . 31

2.3 Da Madeira como espaço-fronteira Verificamos, assim, que quer na cartografia, quer na cronística, quer na poesia, quer até no discurso diplomático-político dos séculos XVI-XVII, se assiste à construção de representações da Madeira, responsáveis pela cristalização de um imaginário insular paradoxal que se manterá activo até ao séc. XX e que será actualizado, quer por João Augusto Pina, quer por Cabral do Nascimento, entre muitos outros autores . 32

Reflectindo, justamente, sobre a construção identitária moderna, Boaventura de Sousa Santos define o seu conceito de espaço-identitário-de-fronteira, sublinhando a distância que este seu entendimento de fronteira apresenta relativamente à fronteira conceptualizada pela cultura norte-americana dominante. Destaca Boaventura de Sousa Santos: «a nossa fronteira não é frontier, é border»; ela não implica que para «além de nós se conceba o vazio, uma terra de ninguém», nem promove a ghetização; antes concebe que «de algum modo o vazio está do lado de cá, do nosso lado», na instabilidade e fluidez do nosso lugar-fronteira, marcado pelo trânsito cosmopolita de inúmeros povos, línguas e culturas, que não raras vezes são percepcionados como sendo de outros-eus, com quem os sujeitos-fronteira se identificam apenas parcial e provisoriamente . O sociólogo acrescenta ainda que, em espaços culturais como estes, a identidade se assume, sobretudo, como uma forma (a forma da fronteira) e não como uma substância: 33

«A zona fronteiriça é uma zona híbrida, babélica, onde os contactos se pulverizam e se ordenam segundo micro-hierarquias pouco susceptíveis de globalização. Em tal zona, são imensas as possibilidades de identificação e de criação cultural, todas igualmente superficiais e igualmente subvertíveis […] [Este facto, por um lado,] confere grande liberdade e até arbitrariedade à criação cultural por parte das elites, por outro, vota estas à inconsistência social, ao mesmo tempo que permite igualmente às classes populares criar sem grandes tutelas a «sua» cultura […] do momento [, umas vezes pensada como centro, outras como periferia de outros centros vários]» . 34

Neste sentido, consideramos que pensar a Madeira enquanto um espaço-fronteira, como o concebe Boaventura de Sousa Santos e como, de facto, representaram a ilha cartógrafos, diplomatas, cronistas e poetas desde o início da sua colonização, talvez ajude a compreender certas performances económicas e certas acções políticas quer da e na Madeira, quer em relação à Madeira, mas também em outros espaços e instâncias de poder não insulares. Aos economistas e historiadores caberá aferir em que medida estas permanentes (re)construções identitárias da Madeira, tantas vezes (re)elabora31

THOMAS, 1635, Insulana, «Proposição».

32

Na secção seguinte do presente trabalho, deter-nos-emos na análise de dois projectos poéticos destes dois autores madeirenses.

33

SOUSA SANTOS, 1993, «Modernidade, identidade e a cultura de fronteira», p. 48.

34

SOUSA SANTOS, 1993, «Modernidade, identidade e a cultura de fronteira», p.49.

197

das sob a forma da fronteira, estarão implicadas nas performances político-económicas que à ilha e ao arquipélago disseram respeito, ao longo dos tempos.

2.4 A literatura madeirense como lugar de memória: a construção identitária insular em tempo de crise e de afirmação autonomista (1914-1918) Saltando no tempo até ao período da I Guerra Mundial, verificamos que, internamente e protagonizado pelos próprios madeirenses, se assiste, nestes anos, a um interessante debate sobre a identidade da sua comunidade. Um debate que não pode ser desvinculado nem do espírito comemorativista estimulado pela aproximação do V centenário da chegada de João Gonçalves Zarco à Madeira, nem das múltiplas crises (políticas, sociais, económicas e de valores gerais) que dominaram o espaço cultural português durante a segunda década do século XX. Uma situação que terá contribuído decisivamente para o acentuar do discurso autonomista, o qual, segundo Paulo Miguel Rodrigues, já tradicionalmente se fazia sentir na ilha, em momentos de maior perturbação política e económica, desde o início do séc. XIX . 35

Evocaremos aqui, em breves linhas, dois projectos literários distintos, promovidos entre 191617, e que nos parecem ser ilustrativos da retoma e actualização do imaginário identitário madeirense traçado, quer por insulares, quer por extra-insulares, desde os primeiros tempos da colonização do arquipélago . Colocados em diálogo, estes dois projectos revelam, uma vez mais, a construção de uma imagem da Madeira ambivalente, contingente e fluída, claramente identificável com a forma da fronteira, no sentido proposto por Boaventura Sousa Santos. 36

A 15 de Maio de 1917, com o título «Perpetuando uma data. Descoberta da Madeira», o jornal Diário da Madeira publicava um artigo onde era divulgada a recente proposta comemorativa, apresentada por João Augusto Pina (militante no Partido Republicano Reconstituinte, e, por conseguinte, não democrático e nacionalista) à Junta Geral do Distrito do Funchal . Este projecto visava assinalar o quinto centenário da chegada de Gonçalves Zarco à Madeira, num contexto em que, na ilha, a figura deste navegador era com frequência recuperada artisticamente , sendo apresentada ora como a do «heroico progenitor» madeirense de origem portuguesa, ora como a do protagonista de um feito histórico «que se quer monumentalisar» . 37

38

39

Para João Pina, a efeméride impunha, por isso, um acto comemorativo assinalável, dado que se tratava de um feito que deveria servir «para lição de todos», não podendo ficar «em vergonhoso es35

RODRIGUES, 2008, A Madeira entre 1820-1842: relações de poder e influência britânica.

36

Desenvolvemos com maior profundidade a análise destes dois projectos numa comunicação apresentada na 32nd Annual APEAA Conference (Maio de 2011, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra): RODRIGUES, 2011, «Stranger to the other self: Madeira as a Luso-Britannic identity in Cabral do Nascimento».

37

ANÓNIMO, 1917, «Perpetuando uma data. Descoberta da Madeira», p.1.

38

Para além do busto de Zarco que em 1914 Francisco Franco, recém-chegado de Paris, esculpia no Funchal e de que dá conta Paula Ferreira, num artigo de crítica publicado no Diário da Madeira a 31 de Março de 1914, lembremos outras manifestações artísticas insulares, noticiadas nesse mesmo jornal, e nas quais se procura heroicizar a figura do navegador e acentuar o carácter memorável da sua viagem. No início de 1915, um artigo do Almanach Illustrado do Diário da Madeira que comentava o trabalho escultório de Francisco Franco sublinhava o contributo desta obra para a «glorificação do descobridor audacioso, o arguto marinheiro que iniciou o período explendido das descobertas portuguezas […], a quem devemos á gloria legitima de termos nascido n’esta terra de sol!» (Anónimo, 1915, «Gonçalves Zarco em bronze», p. 4, sic). A 18 de Agosto de 1915, aquele mesmo diário noticiava a conclusão de um quadro representativo da figura de J. G. Zarco, da autoria do pintor e gravador continental (mas radicado desde há alguns anos na Madeira) Luiz António Bernes. E a 1 de Outubro de 1916, o mesmo periódico dava conta da «transcrição para piano» da última composição musical do maestro e compositor Manuel Ribeiro (continental, mas também a residir e trabalhar no Funchal entre 1911 e 1917, em serviço militar), intitulada Rapsodia Zargueida, que passava, assim, a estar disponível para «muitas pessoas, amadoras deste genero d’arte” e que deram “enthusiascos applausos” aquando “da sua 1º e 2º audição» na cidade (Anónimo, 1916, Diário da Madeira, p.1).

39

FERREIRA, 1914, «Gonçalves Zarco em bronze», p.1.

198

quecimento essa data memorável» . A nível nacional, essa viagem «representa[va] […] o início audaz da nossa [leia-se: portuguesa] epopeia marítima» ; e a nível insular, constituía o momento fundador da Madeira enquanto comunidade, devendo, por isso, estar presente no «espírito de todos os madeirenses de uma maneira muito particular» . 40

41

42

O projecto então proposto por João Augusto Pina, na verdade, consistia num desafio literário dirigido à intelectualidade da ilha, para que se produzisse: «uma obra mais perdurável [do que simples festejos comemorativos e] que […] sirva […] de ensinamentos uteis e proveitosos para a geração contemporânea. Quero referir-me a uma obra litteraria, de carácter histórico, mas de feição popular e principalmente destinada às classes menos doutas, de facil e prompta consulta, em que toda a vida deste archipelago nas suas multiplas manifestações e variados aspectos seja posta em saliente relevo, embora em resumido quadro, […] de molde a tornar essa obra um repositório abundante de informações e notícias que possa particularmente interessar a todos aquelles que, por falta de tempo ou de preparação especial, não lhes seja possível consagrar-se a demorados estudos e mais largas investigações» . 43

A literatura era assim entendida por este intelectual, na Madeira e em Maio de 1917, como um efectivo e necessário lugar de memória, no sentido conferido por Pierre Nora a este conceito : um fenómeno cultural artístico que pode contribuir significativamente para a recriação da memória cultural da comunidade e, nesta medida, para a (re)construção simbólico-identitária da nação, aqui entendida, em sentido genérico, como comunidade dotada de uma consciência identitária partilhada. Uma (re) construção simbólico-identitária que, como bem notou Maria José Canelo, co-existe (e por vezes até pré-existe) em relação à (re)construção político-administrativa e institucional dessa mesma nação . 44

45

Por seu lado, em Fevereiro desse mesmo ano de 1917, o madeirense de ascendência luso-britânica e judaica, Cabral do Nascimento, publicava o poemeto épico, Além-Mar, cuja redacção e publicação dos primeiros ensaios haviam tido início logo após a entrada de Portugal na I Grande Guerra . Relativamente a este poemeto é de assinalar a aparente estranheza que reside no facto de João Pina, aquando da apresentação do seu projecto comemorativo à Junta do Funchal, não ter feito qualquer menção ao texto de Nascimento. Isto porque, apesar das divergências partidárias que afastavam os dois intelectuais (Pina era um republicano, mas um reconstituinte; Cabral do Nascimento, um monárquico, crítico, mas frequentador do grupo integralista de António Sardinha), Além-Mar fora publicado apenas alguns meses antes, tinha sido sobejamente comentado na imprensa madeirense coeva e, na verdade, perfilava-se, até certo ponto, como aparente concretização antecipada da proposta comemorativista de João Augusto Pina: uma narrativa literária que procurava funcionar como lugar de memória e como exercício artístico de reflexão sobre a identidade madeirense 46

Consideramos que uma explicação para este silêncio não residirá apenas na divergência parti40

ANÓNIMO,1917,«Perpetuando uma data […]», p.1.

41

ANÓNIMO,1917,«Perpetuando uma data […]», p.1.

42

ANÓNIMO,1917,«Perpetuando uma data […]», p.1.

43

ANÓNIMO,1917,«Perpetuando uma data […]», p.1 (sic).

44

NORA, 1989, «Between memory and history. Les lieux de mémoire».

45

CANELO, 2001, «Nações em revista(s)».

46

A respeito da génese de Além-Mar ver RODRIGUES, 2008, «Uma ilha Além-Mar ou a nostalgia do Paraíso perdido em Cabral do Nascimento».

199

dária, mas antes no modo diferenciado como os dois intelectuais insulares pensaram a identidade madeirense e a relação da sua ilha quer com o estado-nação português, quer com outras comunidades, na década de 1910. O discurso heroicizante e comemorativista de João Pina aproxima-se da posição assumida por outros intelectuais madeirenses que (mais ou menos autonomistas, monárquicos ou republicanos) entendiam a Madeira como obra gloriosa de portugueses e como filha lusitana de Zarco e seus companheiros. Esforçavam-se, assim, por apagar da memória colectiva local o contributo de outras culturas e povos, no processo de formação da sociedade e identidade cultural do arquipélago, e desenvolviam uma linha de pensamento identitário muito próxima do determinismo étnico homogeneizador e do nacionalismo exclusivista que Sérgio Campos Matos apontou como sendo tendências dominantes no discurso sobre a nação, promovido em Portugal durante o período da I República Portuguesa . 47

Esta linha de reflexão identitária distanciava-se de um ancestral imaginário cultural madeirense, não desvinculável, desde o séc. XVIII, da forte presença e influência britânicas na ilha. Referimo-nos à história e às figuras do trágico par de namorados britânicos - Ana d’Arfet e Roberto Machim -, a que a lenda conferia o estatuto de primeiros habitantes da ilha. Um imaginário fortemente enraizado na memória cultural insular, quer pela circulação da lenda ao nível da literatura popular, quer pela recuperação dessa narrativa em textos da literatura erudita, como: Saudades da terra de Gaspar Frutuoso (final do séc. XVI); Insulana de Manuel Tomás (1635); Epanáfora amorosa de D. Francisco Manuel de Melo (final séc. XVII); ou ainda Zargueida de Francisco de Paula Medina e Vasconcelos (1806). Não será por isso de estranhar que, contra a tendência heroicizante e essencialista do nacionalismo exclusivista que, na época, dominava o discurso identitário português e madeirense, o luso-britânico Cabral do Nascimento tenha optado por reescrever poeticamente a história da fundação da sua comunidade, em Além-mar, num tempo particularmente crítico, como, de resto, o próprio poeta explicita na fórmula de fechamento do poema: «Acabou de se imprimir este livro […] aos 8 de Fevereiro do ano de 1917 da era de Cristo, e III da Guerra Europeia» . 48

Além-Mar, de facto, recupera a figura de Zarco e a «história tormentosa das Caravelas que aportaram à Ilha do Senhor Infante na madrugada do século XV» . Porém, assumindo um registo de contra-memória, destitui, quer o protagonista, quer a sua história, da aura heróica que outros lhe atribuíam. Para além disto, dialogando com a longa tradição literária e cronística que, como já notámos, desde pelo menos João de Barros, identificava de algum modo a Madeira com a Grã-Bretanha, concedendo inclusivamente às figuras lendárias dos britânicos Roberto Machim e Ana d’Arfet o estatuto de primeiros habitantes da Madeira, Cabral do Nascimento atribui ao seu Zarco a missão de buscar uma Ilha “divina” e “sonhada”, onde fosse possível dialogar com e conhecer a história desses seus primeiros e não-portugueses habitantes . 49

50

Ora é justamente aqui que Nascimento desconstrói a aura heróica do seu Zarco, reescrevendo deceptivamente a narrativa da sua viagem. A Ilha inicialmente sonhada e procurada por Zarco correspondia a uma actualização do Paraíso, sendo idealizada como a ilha-asilo dos que fogem ao desespero e à desolação deixados no «promontório que se diz de Sagres», espaço simbólico, aqui legível 47

MATOS, 2002, «História e identidade nacional». Ilustrativo deste processo de revisão da nação madeirense, por via da inscrição de uma memória pública nos periódicos locais, encontra-se, por exemplo, no primeiro texto da coluna “Efemérides madeirenses”, começada a publicar no Diário da Madeira a 1 de Julho de 1917, precisamente com um texto intitulado “1 de Julho de 1419. Descobrimento da Madeira”. Classificando como “lendas inverosímeis” os relatos, mais literários ou historiográficos, que “afirmavam que o arquipélago da Madeira fora descoberto muito anteriormente a João Gonçalves Zarco” e por “navegadores” de outras nações, o autor anónimo deste texto enaltece a “gloria que aos portugueses pertence” por terem sido os verdadeiros pais fundadores desta comunidade insular. Ao mesmo tempo, declara não terem qualquer “valor nem melhor fundamento” lendas como “a dos amantes ingleses Roberto Machim e Ana Arfet”.

48

NASCIMENTO, 1917, Além-Mar, p.16.

49

NASCIMENTO,1917, Além-Mar, capa.

50

NASCIMENTO,1917, Além-Mar, p.8.

200

como sinédoque quer do Portugal continental, quer da própria Europa . Porém, no final do poemeto, a ilha avistada pelo anti-herói de Nascimento corresponde antes (e apenas) a uma ilha da «angústia triste» , a ilha dos mortos, onde apenas se cruzam, fugazmente, os portugueses e as sombras desses outros britânicos; uma ilha onde, de facto, já não é viável reconstituir uma qualquer unidade identitária homogénea, não instável e não perturbadora, mas que antes se apresenta, justamente, como um espaço-fronteira. 51

52

Verificamos, deste modo, que é contra o discurso homogeneizante, essencialista e heroicizante do Estado português e de sectores dominantes da intelectualidade madeirense que Cabral do Nascimento ora problematiza a ideia da nação moderna (seja a madeirense, seja a portuguesa ou até as europeias), criada depois do movimento expansionista para o Atlântico, ora reflecte sobre o perfil identitário possível nessas modernas nações (entre as quais se encontra a portuguesa e a madeirense), sujeitas à instabilidade, fluidez, heterogeneidade e conflito de valores, que decorrem sobretudo da mobilidade humana entre nações e culturas. Mais do que conceber a identidade cultural madeirense como a amostra pura de uma suposta portugalidade homogénea, instalada na ilha, ab initio, com a chegada de Zarco, Nascimento entende a construção da nação madeirense, em Além-Mar e em outros textos posteriores, como um processo tensional e supra/transnacional, gerador de um perfil identitário heterogéneo e fragmentário, em permanente reelaboração, como fica ilustrado na cena final do poemeto: Zarco, ainda em viagem, «de giolhos» e aquém da ilha avistada, parece consciente de que aquela não é, afinal, a «mais divina terra que h[avia] sonhado», ou seja, o paraíso original . Daí também o poemeto terminar com as palavras desesperadas de Zarco, em apelo à «Virgem-Mãe», para que esta o venha reconfortar, «enxuga[ndo-lhe] os olhos…» . 53

54

A Madeira, para Nascimento, não deixando de ser Portugal, não podia também ignorar nem a descontinuidade geográfica em relação ao continente, nem os contínuos e perturbadores fenómenos de mobilidade humana e de encontro/confronto de culturas verificados no arquipélago, desde o séc. XV. Factores que, em seu entender, teriam sido determinantes para a emergência de uma problemática, mas inquestionável, diferenciação inclusiva em relação a Portugal . 55

Ora, em Além-Mar a activação da memória das afinidades e implicações quer da cultura portuguesa, quer da cultura britânica na realidade madeirense (processo que será retomado pelo poeta em outros textos e em relação a outros povos e culturas) deve ser entendida como uma tentativa de reconstrução simbólico-identitária da Madeira, coeva dos diversos projectos autonomistas que, a um nível político e económico-administrativo, procuraram também refazer esta comunidade insular. Porém, longe de ter como objectivo único a construção de um discurso identitário estável e apaziguador, Cabral do Nascimento assume a atitude crítica de denunciar o carácter falacioso desses desenhos identitários. Colocando em negociação o local madeirense, o nacional português e britânico e o transnacional atlântico, Nascimento reconstrói uma imagem da Madeira ambígua, instável, transnacional e nostalgicamente exílica, que se identifica, de facto, com a forma da fronteira. Esta representação da ilha não terá sido alheia, certamente, nem à genealogia da família do poeta, nem à sua experiência insular e continental: era um português da Madeira, com sangue não exclusivamente português, que em Lisboa e no Funchal se via diferente/diferenciado em relação aos outros, com quem parcialmente se identificava e com quem comungava uma certa identidade. De igual modo, 51

NASCIMENTO,1917, Além-Mar, p.3.

52

NASCIMENTO,1917, Além-Mar, p.10.

53

NASCIMENTO,1917, Além-Mar, p.8.

54

NASCIMENTO,1917, Além-Mar, p.14.

55

Referimo-nos aqui ao conceito de diferenciação inclusiva proposto por Ulrich Beck: BECK, 2007,The cosmopolitan vision.

201

essa imagem da ilha não terá sido estranha ao convívio estético e cultural que, em Lisboa, desde o Outono de 1915, Cabral do Nascimento manteve com alguns dos modernistas de Orpheu, apologistas daquilo que Maria José Canelo designou por nacionalismo cosmopolita . Aliás, este conceito quase parece ecoar, avant la lettre, em diversos textos publicados por Nascimento na década de 1920. 56

Porém, no caso deste intelectual madeirense, a nostalgia do absoluto (que, em nosso entender preside a este modo de pensar a nação e que, em grande parte, parece decorrer da crise moderna experienciada por um Eu que se descobre fragmentário e destituído de um centro único e absoluto) nunca assumiu o carácter «restorative» que Svetlana Boym atribui a certa experiência nostálgica . Na escrita de Nascimento, ao contrário do que António Sousa Ribeiro e Maria Irene Ramalho identificaram, por exemplo, na obra de Fernando Pessoa, já nem pode existir a imaginação de um império universal, capaz de assegurar a «possibilidade de uma identificação estável», una e total, dado que, como se torna evidente no final de Além-Mar, a hipótese do regresso a um nostos primordial e absoluto se tornou inviável . 57

58

Longe da imagem idílica de Paraíso atlântico (herdada das primeiras representações da ilha e que o marketing turístico, no séc. XX, procurava vender a uma Europa em guerra e em profunda crise), mas também distante da figura da ilha onde todas as culturas convivem harmoniosamente em felicidade, a Madeira representada na escrita de Nascimento é antes a da ilha ilusória: um aparente Paraíso, onde, na verdade, apenas se encontra a morte, o desespero e a ruína fragmentária desse todo perfeito um dia sonhado. Nesta representação deceptiva da Madeira - onde não é possível deixar de ler a discursivização de uma experiência insular traumática, marcada pela angústia do insulamento (na ilha ou no continente), pela ameaça da barbárie da guerra que em Dezembro de 1916 e de 1917 atingiria de facto o Funchal, e pelo testemunho da penúria, da fome, da doença e do caos político que diariamente eram noticiados na imprensa periódica madeirense- Portugal e Grã-Bretanha assumem justamente esse perfil: o de fragmentos desarticulados da identidade madeirense; o de Outros-Eus, paradoxalmente estranhos e familiares relativamente à identidade cultural que Nascimento reconstrói na e da Madeira. Aos economistas (e) historiadores caberá aferir em que medida estas permanentes (re)construções identitárias da Madeira estarão implicadas nas performances político-económicas que à ilha e ao arquipélago disseram respeito, ao longo dos tempos e em especial durante o período da Grande Guerra.

56

CANELO, 2001,«Nações em revista(s)», p. 440.

57

BOYM, 2001, The future of nostalgia, p.41.

58

RIBEIRO e RAMALHO, 2001, Entre ser e estar, p. 431.

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