Os Movimentos Sociais Enquanto Espaços Educativos: Revelações e revoluções de uma história de vida feminista

June 30, 2017 | Autor: M. José Magalhães | Categoria: Social Movements, Feminism, Life Stories
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Cultura Escolar Migrações e Cidadania ­ Actas do VII Congresso LUSO­BRASILEIRO de História da  Educação  20 ­ 23 Junho 2008, Porto: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (Universidade do Porto)  ISBN 978­972­8614­13­3 

OS  MOVIMENTOS  SOCIAIS  ENQUANTO  ESPAÇOS  EDUCATIVOS:  revelações  e  revoluções da história de uma vida feminista  Maria  José  Magalhães,  Salomé  Coelho,  Deidré  Matthee,  Vânia Martins 

EIXO 4 – Inclusão, género e etnia 

Introdução  Este  artigo  insere­se  numa  pesquisa  mais  alargada  sobre  histórias  devida  de  mulheres  1 

vítimas de violência de género e doméstica  , cujo objecto de estudo foca nos percursos de vida  como  formas  de  aprendizagem  e  de  emancipação  através  da  participação  em  movimentos  sociais.  Os  principais  objectivos  consistem  na  produção  de  conhecimento  sobre  os  estudos  históricos  de  género,  nomeadamente  no  que  concerna  a  educação  e  os  atravessamentos  das  biografias e vidas pessoais com as trajectórias dos movimentos sociais, assim como dar voz às  mulheres  e  empoderar  mulheres  e  raparigas  no  sentido  de  agarrarem  em  mãos  o  seu  próprio  destino.  No campo dos estudos de género históricos, esta investigação insere­se também nos três  processos que Maynard e Purvis (1996) têm vindo a realçar: os da recuperação, reconstrução e  reflexividade  (ver  também  Maynard  e  Purvis1994),  por  um  lado,  levantando  questões  sobre  o  porquê  e  como  é  que  as  mulheres  ‘desapareceram’  das  preocupações  académicas,  por  outro,  estimulando  iniciativas  criativas  para  desenhar  conceitos  e  teorias,  projectos  de  prática  de  pesquisa  e  quadros  teóricos  explicativos  e,  por  outro  ainda,  incluindo  a  re­avaliação  e  o  re­  desenhar  dos  termos  e  dos  tópicos  que  estruturaram  as  práticas  das  disciplinas  académicas  existentes. 



O  projecto  consiste  numa  parceria  entre  a  Faculdade  de  Psicologia  e  de  Ciências  das  Educação  da  Universidade  do  Porto  e  foi  entretanto  financiado  pela  Fundação  Ciência  e  Tecnologia, designando­se “Love, Fear and Power: Pathways to a Non­Violent Life”.

2  OS  MOVIMENTOS  SOCIAIS  ENQUANTO  ESPAÇOS  EDUCATIVOS: revelações e revoluções da história de uma vida feminista 

Este artigo centra­se na história de vida de uma activista de diferentes movimentos sociais  –  sindical,  de  moradores,  feminista  —  cuja  trajectória  de  vida  atravessou  o  período  do  Estado  Novo  com  um  regime  fascista  (salazarismo),  viveu  a  sua  maturidade  no  pós­25  de  Abril,  embrenhada  nos  movimentos  revolucionários  de  então,  e  dobra  os  anos  1990  para  o  séc.  XXI  numa  participação  muito  implicada  nas  lutes  dos  bairros  sociais  num  contexto  politico  de  neoliberalismo, em que o Estado social mingua progressivamente.  Incia­se  o  artigo  com  um  debate  epistemológico  sobre  as  histórias  de  vida  como  metodologia fundamental para, de seguida, se passar ao percurso de vida de Maria, nome que  ficticiamente demos à nossa protagonista.  Assim,  no  âmbito  desta  pesquisa,  estamos  interessadas/os  em  ouvir  experiências  diversamente  coloridas  e  compreender  alguns  ecos  e  ressonâncias  paarticulares  e  específicos  de  cada  uma  e/ou  de  cada  grupo  social,  focando  na  complexidade  para  uma  melhor  compreensão da estrutura social. 

A metodologia e as opções epistemológicas  A  história  de  vida  é  aqui  tomada  como  “metodologia  fundamental”,  isto  é,  em  que  o  enfoque central se coloca no papel do sujeito e nas subjectividades e experiências pessoais não  como ilustração da teoria, nem como exemplo, mas como contributo central para o conhecimento  (Ferrarotti  1983;  Magalhães  2005).  No  campo  da  História,  desde  muito  cedo  que  o  percurso  individual  constitui  objecto  de  estudo  privilegiado,  no  sentido  de  nos  permitir  o  acesso  ao  conhecimento da vida social e humana de determinada época.  Ao  longo  do  século  XX,  as  contribuições  cruzadas  da  história  social,  da  antropologia  e  sociologia críticas, articuladas com a crítica feminista da ciência têm realçado esta metodologia  também  pelas  suas  possibilidades  heurísticas,  quer  na  dimensão  que  permite  de  desafiar  as  ideas  prévias  sobre  a  teoria  social  ou  a vida  social  de  um  dado  contexto,  quer  para  nos  trazer  conhecimento  sobre  as  identidades  sociais,  abrindo  possibilidade  para  a  emergência  da  “subjectividade explosiva”, conceito de que nos fala Ferrarotti (idem).  A  ideia  de  que  a  história  e  a  vida  social  não  se  fazem  apenas  de  objectividade,  e  da  importância  da  subjectividade  no  conhecimento  e  na  construção  da  vida  social  e  humana  têm  vindo a ganhar corpo nas ciências sociais em geral, ao ponto desta metáfora de “explosiva” nos  iluminar para a importância das intenções, das interpretações, dos sentimentos dos/as autoras/es  envolvidas  nas  acções  e  momentos  que  procuramos  descrever,  analisar  e  compreender  cientificamente.  Mas não é só a subjectividade que emerge explosivamente quando usamos as histórias de  vida como metodologia fundamental. Também a relação entre o individual e o social é colocada  de  forma  diferente  da  sociologia  mais  positivista  ou  da  História  mais  descritiva.  Em  vez  de  considerar cada ser humano como um átomo social, esta perspectiva crítica e feminista pretende

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considerar cada ser humano como um universo singular (Ferrarotti idem: 59), onde cada pessoa  faz uma síntese activa de um sistema social, através de uma “praxis totalizante” (idem).  Neste sentido, a compreenão da imbrincada relação entre a pessoa individual e o social é  realizada através da utilização da “razão dialéctica” que já Marx sinalizava e outros autores foram  desenvolvendo  (com  particular  incidência  para  Thomas  e  Znanniecki  1958;  Thompson  1963,  e  outros/as autores/as da Escola de Chicago e, mais recentemente, da Escola de Frankfurt).  Existe, aqui, subjacente, uma rutptura da dicotomia entre a intencionalidade nomotética e a  intencionalidade idiográfica, que, curiosamente, não apenas dividiu perspectives epistemológicas  na  mesma  disciplina,  como  dividiu  disciplinas,  sendo  que  o  mais  relevante  desta  ruptura  passa  pelo  desafio  à  hierarquização  dos  saberes  científicos  que,  na  ciência  dominada  por  uma  perspectiva  nomotética  tendia  a  desvalorizar  os  outros  contributos  para  o  conhecimento  científico. 

A dimensão da textualidade  Nesta  reflexão  cabe  também  uma  parte  dedicada  à  dimensão  da  textualidade  que  é  apanágio da construção da ciência, mas que aqui se pretende explicitar para não incorrermos no  perigo  de  outros/as  ao  esquecer  que  escrever  a  História  é  também  escrever  histórias,  de  cujo  resultado não se pode abstrair o papel de quem e quando e onde escreve, sendo que o acto de  escrita é, em si mesmo, um processo de objectivação e de ocultação, de ritual e de iniciação, de  desconstrução e reconstrução (Stronach 2002).  Nesta  investigação  que  levamos  a  cabo,  que  se  centra  sobretudo  nos  relatos  orais  das  próprias  vítimas  de  violência  doméstica,  de  mulheres  sujeitos  e  sujeitadas  a  processos  de  vitimização, mas  simultaneamente  autoras  de  processos  de  mudança  social  e  de  percursos  de  autonomização,  a  linguagem  tem  um  papel  de  relevo,  já  que  é  através  deste  meio  de  comunicação que os relatos de vida nos são  oferecidos na forma de testemunhos, e é também  através  da  liguagem  que  são  transformados  em  histórias  mais  ou  menos  coerentes,  em  que  a  relação  entre  biografia  e  autobiografia  e  grafia  se  misturam  produzindo  textos  partilhados, 

autografias e auto/biografias, nas palavras de Lis Stanley (1992; 1993), em que a relação com a  vida [bio] é críptica e não linear.  Nesta  reflexão,  não  podemos  deixar  de  ter  em  conta  o  papel  da  língua  e  da  linguagem  como sistema social (Weedon 1989) e o facto de que este sistema social (a língua), como muitos  outros, é classista, sexista, racista.  Este  aspecto  é  particularmente  relevante  quando  nos  deparasmos  com  relatos  e  testemunhos  de  vida  de  pessoas  de  classe  trabalhadora,  de  mulheres,  dos  “silenciados  da  história” (Freire 1972; 1978), cujas vidas e trajectórias, sentimentos e subjectividades encontram  diversos  obstáculos  para  serem  nomeados  e  descritos.  As  palavras  existentes  não  são  suficientes para expressar o outro lado da vida dos dominados, cuja dominação passa também  pelo  facto  de  não  disporem  de  expressões,  de  termos  para  dizer  das  suas  experiências,

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vontades,  desejos,  sentimentos.  Já  para  não  falar  das  questões  relacionadas  com  o  menor  acesso  ao  acervo  linguístico,  vocabular,  semântico  ou  gramatical.  Resta  ainda  referir,  neste  ponto, o carácter performativo da própria linguagem, aspecto realçado por alguns/mas autores/as  (entre  outros/as,  Butler  XXXX),  que  mostram  como  o  dizer  da  vida,  do  mundo,  é  também  uma  forma  de  o  construir.  Não  chega,  mas  é  um  caminho  para  a  construção  do  que  existe  ou  do  desafio ao sistema vigente.  Neste  sentido,  a  educação  constitui  um  campo  relevante  de  estudo  das  formas  e  mecanismos  de  transmissão  dos  valores  e  das  estruturas  sociais,  assim  como  da  sua  descontrução e reconstrução de novas estruturas sociais.  Assim,  esta  pesquisa  seleccionou,  para  a  elaboração  de  histórias  de  vida,  pessoas  comuns, neste caso, mulheres, desafiando também o que tem sido o canone autobiográfico, que  tem  assentado  em  figuras  masculinas,  sobretudo  brancas,  nos  países  centrais  e  de  classe  média: isto é, os homens da elite do mundo ocidental.  Curiosamente,  a  entrada  das  classes  trabalhadoras  tem  sido  feita  através  da  “descrição  dos  factos”,  muitas  vezes  assegurada  pelas  fontes  dos  intermediários,  mediadores  do  sistema  (assistentes sociais e outros profissionais emergentes com a transição para o modo de produção  capitalista), construindo, aqui também, um desigual acesso ao direito à subjectividade. Da classe  trabalhadora  esperam­se  factos  e  objectividade,  uma  verdade  escrutinada,  para  produzir  juízos  de  valor  sobre  o  seu  ‘direito’  aos  apoios  daquilo  que  era,  então,  um  conjunto  reduzido  e  assistemático de mecanismos de redistribuição 2 .  Esta diferença social manifesta­se igualmente pelo desigual acesso das classes sociais e  dos  grupos  de  género  e  de  pessoas  de  cor  ao  estatuto  de  obra  literária 3  ou  de  “verdade”  dos  factos.  Tendo  em  vista  um  conhecimento  histórico  objectivo,  temos  ainda  que  ter  em  conta  a  reconstituição social dos relatos individuais, reflectindo sobre os audit selves (Stanley 1993), isto  é, dos riscos de construção dos relatos em função de audiências, sejam elas o público dos meios  do  comunicação  social,  ou  o  públoico  académico  dos  standards  do  conhecimento  científico.  Nesta  questão,  entra  igualmente  o  problema  da  dimensão  da  “composição”  da  história  (Steedman  2000),  quer  por  parte  da/o  narrador/a  em  relação  aos  relatos  orais  das/os 



A este propósito podemos referir o que Carolyn Steedman (2000) refere para os finais do  séc.  XIX  em  Inglaterra  com  a  introdução  da  “Poor  Law”  que,  em  Portugal,  apenas  poide  ser  comparável a alguns mecanismos da segurança social nos finais dos anos 1960.  3 

Vale  a  pena  referir  aqui  uma  obra  autobiográfica  de  uma  mulher  negra,  escrava  xxxxxxxxx, que, tendo sido descoberta em vvvvvvv, por BBBBBBBBB, só é publicada em JJJJJJ,  porque  a  própria  investigadora  pretendeu  verificar  os  factos  ali  relatados  —  também  para  objectivos de investigação.

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narradoras/es,  quer  por  parte  dos/as  investigadoras/es  que  escrevem  sobre  esses  relatos  ou  lêem e interpretam outras fontes directas ou indirectas.  Apesar  de  apresentarmos  aqui  apenas  uma  história  de  vida,  esta  investigação  procura,  como  já  dissemos,  ouvir  diversas  mulheres  vítimas  de  violência  de  género  e  doméstica,  de  diferentes  classes  sociais  e  origens  geográficas,  no  sentido  de  apreender  experiências  diversamente  coloridas  e  compreender  ecos  e  ressonâncias  dos  discursos  de  género,  dominantes ou emancipatórios, reprodutores ou desafiadores do  sistema social. O interesse em  trabalhar  com  histórias  de vida  situa­se  na  preocupação  de  compreender  como  os movimentos  sociais se constituem como espaços e mecanismos de aprendizagem e de formação, permitindo­  nos focar na complexidade da compreensão da estrutura social.  Como  afirmam  Hatch,  J.  A.,  e  Wisniewski,  R.  (1995)  “as  histórias  de  vida  são  fontes  particularmente  ricas,  na  medida  em  que,  atentamente  inbterpretadas,  iluminam  quer  a  lógica  dos percursos de acção individual quer os efeitos dos constrangimentos ao nível do sistema que  estão implicados nesses percursos”. Mostrando com maior clareza a relação entre o individual e  o  social,  “mostram  como  as  mulheres  negoceiam,  nas  suas  vidas  quotidianas,  o  seu  ‘excepcional’ estatuto de género”, ao mesmo tempo que “tornam possível examinar as ligações  entre a evolução da subjectividade e o desenvolvimento das identidades femininas” (Hatch, J. A.,  & Wisniewski, R. 1995: 35) 

A dimensão emancipatória da pesquisa em histórias de vida  Uma  dimensão  importante  da  pesquisa  em  histórias  de  vida,  sinalizada  por  diversas/os  autoras/es,  consiste  nas  possibilidades  para  a  emancipação  social.  Neste  sentido,  não  é  de  menor importância sinalizar o contributo para a construção de um saber relevante para as (e nas)  vidas das pessoas.  Também nesta ordem de ideias, se situa o objectivo de derrubar dois mitos do liberalismo  educacional, sendo o primeiro a neutralidade da educação e o segundo, decorrente do primeiro,  sobre o carácter apolítico da educação.  Nada é neutro na história da educação, nem em termos de classe social, nem em termos  de  género.  Neste  sentido,  as  histórias  de  vida  de  mulheres,  nomeadamente  das  classes  trabalhadores têm igualmente um papel fundamental para des/construir o universo simbólico que  nos rodeia, trazendo do passado, mais ou menos recente, algumas lições para o presente e para  o futuro.  No  campo  concreto  das  histórias  de  vida,  é  ainda  de  realçar  o  lado  epistemológico  da  tranbsformação do que de perigoso e subversivo existe nas nossas memórias em possibilidades  de acção para a mudança.  A elaboração das histórias de vida nesta epistemologia que já apresentámos, significa uma  relação  dialógica  entre  investigador/a  e  sujeitos  da  investigação,  cuja  participação  é  sentida  como co­autoria, participação e diminuição da hierarquia entre os mundos académico e “real” da

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vida  social.  Como  afirmam  as  autoras,  “apresentando  narrativas  de  diferença  que  foram  co­  coligidas,  co­autoriadas  e  co­analisadas,  podemos  esperançadamente  apresentar  um  conjunto  de  possibilidades  para  as/os  leitores/as.  Estas  possibilidades  podem  ser  experienciadas  como  reconhecimento  da  experiência,  celebração  das  mulehres,  mudança  pessoal  e,  em  última  instância, acção política.” (idem: 54).  Parafraseando  Liz  Stanley,  esperamos  poder  passar  do  “self­made  man”  para  “women’s  made selves”, modificando não apenas o carácter genderizado do primeiro como o individualismo  que lhe está subjacente.  Assim,  as  nossas  audiências  podem  também  desenhar  paralelos  entre  as  vidas  ou  perspectivar  alternativas.  Neste  sentido,  podemos  chegar  a  audiências  que,  previamente  desapossadas ou deslocadas pela pesquisa tradicional, podem fazer sentido enquanto histórias,  enquanto pesquisa (Goodley, D., Lawthom, R., Clough, P., & Moore, M. 2004).  Neste sentido, através da história de vida de uma mulher pobre, líder popular e feminista,  podemos  conhecer  as  diversas  formas  pelas  quais  as  mulheres  participam  na  transformação  social, “negociando políticas, produzindo identidades femininas” (Alvarez e colegas 2003: 545). 

História de uma vida feminista  Maria, com 56 anos, é mãe de 3 filhos, tendo nascido na região Norte de Portugal, no seio  de  uma  família  numerosa  e  imersa  em  violência  doméstica,  onde  um  pai  alcoólico  agredia  constantemente  a  mãe  sempre  grávida.  Da  infância,  Maria  recorda  precisamente  isso:  “a  mãe  sempre  grávida  e  o  pai  sempre  bêbado”.  A  mãe  esteve  grávida  22  vezes,  realizando  alguns  abortos clandestinos para não ter todos os filhos.  Com  12  anos,  Maria  inicia  a  sua  actividade  laboral,  trabalhando  na  SICMA  e  na  UNIVERSAL em Matosinhos 4 , como operária conserveira.  Casou  muito  nova,  com  16  anos,  para  fugir  da  vida  familiar  e  porque  estava  grávida.  Dessa  altura,  recorda  a  total  ignorância  sobre  as  questões  da  sexualidade  e  contracepção.  A  gravidez ainda mulher/adolescente solteira era um destino certo para o casamento. Apesar das  suas  esperanças  de  fugir  ao  inferno  da  violência  do  pai,  esta  relação  revelou­se  uma  perpetuação  da  violência  vivida  no  seio  familiar,  uma  vez  que  Maria  também  era  vítima  de  violência doméstica por parte do marido.  Em 1974, com 22 anos, torna­se dirigente sindical do Sindicato da Indústria das Conservas  do  Norte  do  país.  Refere  que  se  tornou  activista  sindical  para  melhor  suprir  as  suas  necessidades  básicas  uma  vez  que  passou  fome,  teve  dificuldades  na  habitação,  pois  chovia  dentro  de  casa  e  vivia  na  miséria.  Lado  a  lado  com  o  pai  e  outros  camaradas  operários  e  sindicalistas,  reivindicou  melhores  salários  e  melhores  condições  de  trabalho  para  todos  os  trabalhadores em geral, e mulheres trabalhadoras em particular. 



Estas  eram  duas  das  mais  importantes  fábricas  conserveiras  de  peixe  do  país,  localizadas em Matosinhos, uma cidade periférica do Porto.

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Esta  aprendizagem  de  reivindicação  das  necessidades  básicas  e  dignidade  para  todo  o  ser humano desafiou o poder instalado na época. Foi uma aprendizagem feita lado a lado com o  pai,  camarada  de  luta.  Maria  refere  esta  contradição  entre  o  pai  camarada  sindical  e  o  pai  alcoólico e agressor da mãe.  Além  de  dirigente  sindical,  torna­se  activista  politica,  num  partido  de  orientação  de  esquerda. Aqui, recebe o apoio dos camaradas para enfrentar a situação de violência de que é  vítima em casa, por parte do marido. Refere que muitas vezes o chamaram à atenção no sentido  de  o  sensibilizarem  para  a  situação vivida  em  casa.  No  entanto,  os  camaradas  não  interferiam  demasiado pois consideravam que era uma questão do foro privado.  Membro do Grupo de Mulheres do partido, quando este se separou do mesmo, procurando  autonomia e dando origem a uma associação de mulheres feminista – a UMAR, Maria  também  se  fez  associada.  Decorria  o  ano  de  1977.  Torna­se  membro  activo  desta  associação  até  ao  presente,  participando  nas  mais  diversas  lutas  pelos  direitos  das  mulheres:  alfabetização,  habitação, creches, direito ao emprego, igualdade salarial, despenalização do aborto, luta contra  a  discriminação  feminina,  luta  contra  a  violência  e  exclusão  social.  Actualmente,  colabora  também nos projectos de intervenção na escola e na comunidade desta associação, na freguesia  de Aldoar.  Com  35  anos,  em  1987,  torna­se  Presidente  da  Associação  de  Moradores  do  Bairro  de  Aldoar, cargo que ainda hoje, passados 21 anos, exerce. Enquanto presidente e activista desta  associação de moradores, de um bairro extremamente carenciado, tem desenvolvido esforços no  sentido  de  melhorar  as  condições  de  vida  e  de  habitação  no  interior  do  bairro.  As  grandes  preocupações  centram­se  na  procura  de  habitação  condigna  para  todos  e  para  todas,  na  melhoria  das  habitações  existentes,  no  acompanhamento  das  crianças  para  uma  melhor  intervenção  comunitária  no  sentido  de  os  e  as  apoiar  para  virem  a  ser  cidadãos  e  cidadãs  de  plenos  direitos,  no  apoio  às  famílias  com  doentes  e  às  pessoas  portadoras  de  deficiência,  tentando  conseguir  os  apoios  necessários  a viverem  o  mais  condignamente  possível.  Sobre  os  habitantes do bairro, refere que não tem vergonha de pedir para eles e elas.  Em 2004, já mulher viúva, torna­se vice­presidente da Comissão de Utentes do Centro de  Saúde de Aldoar, desenvolvendo esforços, em conjunto com todos os seus membros, no sentido  de  melhorar  os  cuidados  de  saúde  à  população  da  freguesia,  nomeadamente  aos  mais  carenciados.  Desde 2005, é membro da Assembleia de Freguesia de Aldoar, tentando assim interpretar  os anseios da população de Aldoar, sobretudo dos mais carenciados e tendo como referência os  moradores do bairro de Aldoar.  Maria,  activista  politica,  social  e  feminista,  foi  recentemente  galardoada  pela  Câmara  Municipal  do  Porto  e  pelo  Presidente  da  República  como  forma  de  tributo  ao  seu  percurso  de  vida, sempre em prol dos outros e outras.

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8  OS  MOVIMENTOS  SOCIAIS  ENQUANTO  ESPAÇOS  EDUCATIVOS: revelações e revoluções da história de uma vida feminista 

Aprendendo com os movimentos sociais  O movimento feminista tem constituído exemplos históricos em que está evidenciado o seu  papel,  enquanto  movimento  social,  na  construção  de  saberes  que  puseram  em  causa  noções  teóricas  de  diversas  áreas  científicas  (da  medicina,  da  sociologia,  da  política,  da  economia,  da  epistemologia).  Enquanto,  no  movimento  da  chamada  primeira  vaga,  como  refere  Margarida  Louro  Felgueiras  (2008),  “o  debate  sobre  a  coeducação  é  contemporâneo  de  outras  lutas  travadas  pelas  mulheres  para  o  acesso  ao  trabalho  na  esfera  pública”  e  “a  procura  de  reconhecimento”  (idem: 184) de certos  secotres de mulheres profissionais (enfermeiras, parteiras), no feminismo  de segunda vaga, a atençao e acção pretendem safar as fronteiras entre o privado e o público.  Como  afirma  Manuela  Tavares  (2009),  “o  discurso  dos  direitos  foi  a  base  fundadora  do  feminismo  de  primeira  vaga.  Perante  o  «universalismo  da  diferença»  ao  considerar­se  que  a  biologia determinava as diferenças entre homens e mulheres e a subordinação destas, impunha­  se  o  «universalismo  dos  direitos»,  esses  sim  pertencentes  aos  homens,  como  herdeiros  dos  ideais de liberdade, fraternidade e igualdade da revolução francesa” (2009: 70).  Mais  evidente  no movimento  de  segunda  vaga,  os  grupos  de  mulheres,  através  da  troca  de experiências e do trabalho de conscientização, foram construindo novas visões em torno do  corpo,  da  saúde  e  da  sexualidade,  novos  conceitos  sobre  a  vida  privada  e  a vida  pública  e  as  concepções acerca da participação política, assim como rupturas epistemológicas em relação a  formas colonizadoras de construção do saber científico (este último a par de outros movimentos  no seio da ciência e da filosofia crítica).  No  campo  da  ciência,  foi  também  a  perspectiva  feminista  uma  (entre  outras  como  a  perspectiva freireana, dos movimentos populares da América Latina) das que desafiou o cânone  dominante mostrando que a transformação e emancipação se dá não apenas na esfera pública,  através  de  acções  claramente  políticas,  no  sentido  tradicional,  mas  igualmente,  na  esfera  privada, através de “lutas escondidas”, que as histórias de vida tão bem retratam (veja­se Araújo  2000; Araújo e Magalhães 2001; Magalhães 2005a).  No  campo  social,  as  questões  do  corpo,  da  sexualidade,  da  saúde  específica  das  mulheres,  do  direito  à  participação  política  na  esfera  pública,  do  direito  a  uma  voz,  foram  algumas  das  principais  ideias  que  atravessaram  o  movimento  de  segunda  vaga  (ver  Tavares  2000; ver também Tavares e colegas 2004; Tavares e cpolegas 2005).  Maria  é  uma  líder  local.  A  experiência  da  mãe    vítima  de  violência  po  parte  do  pai  que  viveu  com  muita  intensidade,  dá­lhe  alento  e  formação  para  a  luta  social.  Embora  tenha  engravidado cedo e, por isso, casado aos 16 anos, numa relação conjugal também atravessada  de  violência  do  marido,  não  deixou  de  apoiar  a  mãe  e  de  tentar  encontrar  estratégias  de  sobrevivência à violência doméstica.  Como  uma  infância  atravessada  de  pobreza,  é  operária  ainda  quando  criança,  e  estas  duas dimensões da  sua vida, vítima indirecta de violência doméstica por parte do pai, vítima de  violência do marido, vitima de violência económica na fábrica pela extrema exploração a que era  sujeita,  Maria  cruza  dimensões  de  vitimização  e  de  exploração  que  desafiam  a  nossa  compreensão sobre as formas como resistiu.

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Maria José Magalhães et al 



Para esta resistência, muito terá contribuído os laços de solidariedade e de afecto tecidos  entre irmâs e mulheres dos bairros onde viveu, solidariedade essa que se manifesta também no  apoio à mãe e que se desenvolve nas lutas sindicais dos finais dos anos 1960, anos de finados  para o regime fascista de Salazar.  Esta participação no movimento sindical, que lhe concedeu algumas alegrias de pequenas  vitórias  que  o  carácter  moribundo  do  sistema  permitia,  deu­lhe  força  e  coragem  anímica  para  resistir e aprender uma forma de estar na vida que faz de Maria uma líder e uma heroína local.  A  participação  numa  associação  de  mulheres  que  realizava,  à  epoca,  um  conjunto  de  actividades  de  animação  e  de  consciencialização  para  a  emancipação  das  mulheres  (trabalhadoras)  acrescentou  uma  dimensão  de  reconhecimento,  na  sua  identidade  enquanto  lutadora e mulher, que a participação sindical e partidária, segundo o que nos contou, não tinha  dado.  Sendo também a porta­voz (e dirigente) de uma das principais associações de moradores  de  bairros  sociais  do  Porto  –  a  de  Aldoar  –  Maria  acrescenta  o  activismo  no  desenvolvimento  local ao activismo feminista, de esquerda e sindical que tinha ou ainda vai desenvolvendo.  Aprendeu  a  dignidade  da  pessoa  trabalhadora,  assim  como  o  valor  da  independência  económica, com o pai e o sindicato, em conjunto com o valor da solidariedade e da luta social.  Mas foi com o movimento feminista que aprendeu a dignidade e importância da integridade  física e psicológica como mulher, assim como a forma como encontrar dimensões de autonomia  no espaço privado e de lutar pelo direito a participar  e a tomar decisões tanto na esfera pública  como privada. 

Nota final  Ainda no seu início, esta pesquisa em histórias de vida permite­nos compreender como as  mulheres  negociaram  os  seus  papéis  de  géneronos  seus  quotidianos,  nos  seus  contextos  de  vida  e  como  a  aprticipação  em  diversos  movimentos  sociais  se  constitui,  por  vezes,  como  mecanismo  de  resistência,  de  aprendizagem,  da  dignidade  da  pessoa  humana,  enquanto  trabalhador, mulher e pobre.  Podemos  desde  já  apontar  como  esta  história  de  vida  permite  dar  voz  às  mulheres,  ultrapassar o silêncio a que têm sido votadas (Lewis 1993).  Vislumbra­se, nesta história de vida, a possibilidade de encontrar uma outra protagonista  “com grande sentido estratégico”, que sabe “identificar a sua luta, que era a das mulheres, com  os  objectivos  de  classe…”  (Felgueiras  2008:  197),  falta­nos  o  depuramento  histórico  que  a  distância  temporal  permite  para  poder  “caracterizar  uma  «mentalidade»  como  forma  social  de  agir e pensar de uma época.” (Felgueiras 2008: 167).  Resta  continuar  nesta  investigação,  e  tentar  compreender  formas  e  mecanismos  de

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10  OS  MOVIMENTOS  SOCIAIS  ENQUANTO  ESPAÇOS  EDUCATIVOS: revelações e revoluções da história de uma vida feminista 

transmissão  de  conhecimentos,  de  saberes,  de  formas  de  estar  na vida,  de  desafio  ao  sistema  vigente  e,  na  medida  em  que  falamos  de  mulheres,  de  construção  de  um  sujeito  colectivo  feminino e feminista.

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Maria José Magalhães et al 

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