OS PROCESSOS DE FEMINILIDADE NAS TRAVESTIS E MULHERES TRANSEXUAIS E A REPERCUSSÃO NOS ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE TERAPIA OCUPACIONAL

RODRIGO GONÇALVES LIMA BORGES DA SILVA

OS PROCESSOS DE FEMINILIDADE NAS TRAVESTIS E MULHERES TRANSEXUAIS E A REPERCUSSÃO NOS ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE

MACEIÓ 2014

RODRIGO GONÇALVES LIMA BORGES DA SILVA

OS PROCESSOS DE FEMINILIDADE NAS TRAVESTIS E MULHERES TRANSEXUAIS E A REPERCUSSÃO NOS ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL, para obtenção do título de graduação em Terapia Ocupacional.

Orientador: Prof. Me. Waldez Cavalcante Bezerra Co-orientadora: Profa. Ma. Sandra Bomfim de Queiroz.

MACEIÓ 2014

Catalogação na fonte Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL

SILVA, Rodrigo Gonçalves Borges da.

S86o

Os processos de feminilidade nas travestis e mulheres transexuais e a repercussão nos espaços de sociabilidade. Maceió: UNCISAL, 2014. 29 p.

Catalogação na fonte Orientador: Prof. Me. Waldez Cavalcante Bezerra. Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL Co-Orientadora Profa. Ma. Sandra Bomfim de Queiroz

Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências da Saúde de Alagoas, 2014.

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Universidade

Estadual

1.Estudos do Gênero - Pessoas Transgênero. 2.Identidade de Gênero 3. Terapia Ocupacional.. I. Autor. II. Título.

. C.D.U.305-055.3: 615.851.3

Para todxs as pessoas.

AGRADECIMENTOS

Nesses micros espaços de tempo eu parei para pensar em meio a vários suspiros profundos e feixes elétricos fortes de inspiração que vem do meu cérebro. Ponho-me a escrever esses pensamentos que me levam na profundeza do meu ser. Reflito sobre esse inicio da minha trajetória acadêmica, em que pude fluir enquanto estudante de Terapia Ocupacional. Isso só foi possível graças às contribuições do universo para minha existência. Eu começo esses agradecimentos expandindo um pouco da minha super luz interior e compartilhando com o caos que é o nosso universo, com o caos que é nossas moléculas, acredito que eu vim daí. Agradeço aqui a todo cosmo, ao nosso universo, as coisas boas que existem e que não conseguimos ver, as coisas que ainda não têm nome e nunca terão. Agradeço também a natureza da terra, a todos os deusxs das coisas boas, da positividade. Agradeço aos meus antepassados que compartilharam comigo os genes que vem a integrar as minhas células. Agradeço, especialmente, à Maria Gonçalves Lima e a Rodek Borges da Silva, meus pais, que juntos decidiram unir seus gametas. Que de um momento de prazer eu fui concebido. Também por terem acreditado na minha existência, no meu desenvolvimento e que juntos mediram esforços e me deram liberdade para eu ser o que eu venho acontecendo no mundo. Aos meus avós, que são todxs maravilhosxs, aos meus irmãos, às minhas tias, especialmente a minha tia Eveline Araújo Gonçalves. Eu amo muito todxs. Às minhxs super amigxs, Herbert Loureiro, Diego Barbosa, Lucas Queiroz, Mariana Cavalcante, Caroline Born, João Paes, Esther Vieira, e também as coleginhxs que eu não citei aqui, vocês são pessoas todxs lindxs e maravilhxs. À minhx amigx mais que especial Natasha Wonderfull, que é um ser humano incrível! Às minhas plantas que todos os dias estavam em casa me esperando sempre felizes. Aos meus orientadorxs, que são pessoas que acreditaram em mim. Esse trabalho não existiria sem a orientação delxs, pois nesse momento histórico da UNCISAL são os únicxs competentes a construir junto comigo e debater temáticas como a que será abordada nesse trabalho. Aos que eu pude trocar conhecimentos durante a minha formação acadêmica. Aos meus educadores e educadoras da universidade, todos e todas as preceptoras dos estágios

obrigatórios, às minhas colegas de sala de aula, os meus companheiros e companheiras dos estágios, os monitores e monitoras das disciplinas, aos servidores e servidoras públicos e às pessoas que prestam serviços na UNCISAL. Também aos usuários e usuárias dos CAPS de Maceió; a todas as pessoas da comunidade do bairro do Pontal da Barra e da comunidade do Pingo D‟água; às pessoas que faziam uso dos serviços do ambulatório de Terapia Ocupacional da UNCISAL e seus acompanhantes; a todxs as crianças que eu pude brincar nesse percurso da universidade; às pessoas que vivem na instituição Casa do Pobre, eu não tenho palavras... Estou finalizando este processo da minha vida como Terapeuta Ocupacional, graças a todos nós! Agradeço profundamente a todas as pessoas que existiram e existem nos meus contextos de vida. Eu não poderia sair da universidade sem deixar essa contribuição. É com muito prazer que eu construí esse trabalho. Ele não é meu, ele é de todos nós.

“Eu enrabo o mundo” Jean Genet. “Só me interessa o que não é meu” Oswald de Andrade. ♡

OS PROCESSOS DE FEMINILIDADE NAS TRAVESTIS E MULHERES TRANSEXUAIS E A REPERCUSSÃO NOS ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE1.

THE PROCESSES OF FEMININITY IN TRAVESTIS AND TRANSGENDER WOMEN AND THE REPERCUSSION IN SPACES OF SOCIABILITY. Rodrigo Gonçalves Lima Borges da Silvaa Waldez Cavalcante Bezerrab Sandra Bomfim de Queirozc

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Acadêmico do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) - Maceió, AL, Brasil. b Terapeuta Ocupacional. Mestre em Serviço Social e Especialista em Educação em Direitos Humanos e Diversidade pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professor do curso de Terapia Ocupacional da UNCISAL - Maceió, AL, Brasil. c Jornalista. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Especialista em Comunicação e Política pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora da UNCISAL – Maceió, AL, Brasil.

Contribuição dos Autores2 Todos os autores participaram da concepção e redação do artigo.

Autor para correspondência: Rodrigo Gonçalves Lima Borges da Silva. Rua Carlos Jorge Calheiros, 32. Quadra C, Conjunto Samambaia, Serraria. Maceió – AL. Tel: (82) 9666-7375. Email: [email protected]

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Artigo apresentado ao curso de Terapia Ocupacional da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), como requisito para a conclusão do curso e obtenção do título de graduado em Terapia Ocupacional. O trabalho seguiu todos os procedimentos éticos para pesquisas com seres humanos de acordo com a Resolução n. 466/12. Informamos que a contribuição é original, inédita, e não está sendo avaliada para publicação em outro periódico.

RESUMO Este artigo é resultado de uma pesquisa realizada no município de Maceió-AL, nos anos de 2013 e 2014, e teve como objetivo descrever os aspectos das transformações do corpo e da identidade em travestis e mulheres transexuais que fazem parte da Associação das Travestis e Transexuais de Alagoas (ASTTAL), identificando as repercussões destes aspectos nos seus espaços de sociabilidade. Trata-se de um estudo qualitativo, de abordagem etnometodológica de campo, no qual se utilizou três fontes de registros e produção dos dados: o diário de campo, a observação participante e o grupo focal. Como técnica de analise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo, a partir da qual emergiram duas categorias temáticas: O despertar para sexualidade e as modificações corporais e Os impactos das identidades travestis e transexuais nos espaços de sociabilidade. Os resultados evidenciaram que o despertar da sexualidade, para as travestis e mulheres transexuais, é o início de um processo que leva gradativamente as modificações corporais e repercute cotidianamente em seus espaços de sociabilidade durante toda a vida, fragilizando os vínculos e colocando-as em situação de vulnerabilidade social. Palavras-chave: Identidade de gênero, Pessoas transgênero, Papel social, Terapia Ocupacional.

ABSTRACT This article is the result of a research in the city of Maceió-AL, in the years 2013 and 2014, and aimed to describe aspects of the transformation of the body and identity in travesties and transgender women who are part of the Association of Travestis and Transsexual of Alagoas (ASTTAL), identifying the impact of these aspects in their spaces of sociability. This is a qualitative study of ethnomethodological approach field, in which were used three sources of logs and production data: the field diary, participant observation and focus group. As a technique for data analysis was used the content analysis, from which emerged two thematic categories : 'The awakening to sexuality and body changes' and 'The impacts of travestis and transgender identities in spaces of sociability'. The results showed that the awakening of sexuality, for travestis and transsexuals, is the beginning of a process that leads gradually body changes daily and reflected in their social spaces throughout life, weakening the bonds and putting them in a situation of social vulnerability. Keywords: Gender identity, transgender People, Social Participation, Occupational Therapy.

A questão das identidades de gênero ou das identidades transgêneras – travestis e mulheres transexuais.

Recentemente os (as) pesquisadores (as) do Brasil começaram a incluir a temática das diversidades de gênero nas suas pesquisas e investigações. As questões de gênero são diferenças construídas dentro de contextos socioculturais, a partir das relações estabelecidas quanto às percepções sociais das diferenças biológicas entre os sexos, mas que não se limitam a estas diferenças. Em algumas culturas podemos relacionar o gênero, junto ou separadamente com a identidade sexual3, de modo que a construção dos símbolos e conceitos do que seriam os gêneros feminino e masculino foram de certa forma se limitando, sendo as identidades femininas e masculinas produtos histórico-sociais (BENEDETTI, 2005; PAIXÃO et al., 2008; SILVA, 2007). Bruns e Pinto (2003) reforçam que o gênero é uma construção social e, portanto, histórica, de modo que poder-se-ia supor que esse conceito é plural e que haveriam conceitos de feminino e masculino diversos. Assim, para Peres (2005a) as relações de gênero participam dos modos de subjetivação das pessoas, considerando as imagens, discursos e sentidos que são construídos em seus cotidianos, determinando diversas concepções de mundo e de relações. Contudo, a noção de gênero como uma construção social não é a única encontrada nas sociedades. É preciso refletir e problematizar também acerca da existência de perspectivas que estabelecem uma relação binária e natural acerca da construção do gênero, criando o binarismo homem/mulher, masculino/feminino ainda dominantes em algumas sociedades, como a brasileira. Segundo Jesus (2012) o binarismo, também denominado como “dimorfismo sexual” é a crença, construída ao longo da história da humanidade, em uma dualidade simples e fixa entre indivíduos dos sexos feminino e masculino, estando essa ideia associada à de que existiria uma relação direta entre as categorias sexo (biológica) e gênero (psicossocial). De modo semelhante, Jesus (2012) define o cissexismo como uma ideologia, resultante desse binarismo ou dimorfismo sexual, que se fundamenta na crença estereotipada de que características biológicas relacionadas ao sexo são correspondentes a características psicossociais relacionadas a gênero. O cissexismo, ao nível institucional, redunda em prejuízos ao direito à auto-expressão de gênero das pessoas, criando mecanismos legais e

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Para Money e Tucker (1981) identidade sexual é o senso de si mesmo como homem ou mulher.

culturais de subordinação daquelas que fogem ao gênero que lhes foi atribuído ao nascimento, chamadas de cisgênero e transgênero. Para estas últimas em particular, o cissexismo invisibiliza e estigmatiza suas práticas sociais, situação esta agravada pela estrutura patriarcal e machista da nossa sociedade. Opondo-se a essas perspectivas excludentes, temos a Teoria Queer, que segundo Richard Miskolci (2012) lida com o gênero como algo cultural, estando o masculino e feminino entre homens e mulheres, nos dois, de modo que cada um de nós – homem ou mulher – tem gestos, formas de fazer e pensar que a sociedade pode qualificar como masculinos ou femininos, independente do nosso sexo biológico. Assim, a Teoria Queer se propõe fazer uma critica e uma desconstrução da hegemonia da heterossexualidade em nossa sociedade. Para Miskolci (2012), o pressuposto de que a maioria é heterossexual é altamente questionável, pois se a homossexualidade é uma construção social, a heterossexualidade também é, sendo assim, o binário hetero-homo também é uma construção histórica que deveríamos repensar. Neste momento é importante distinguir alguns conceitos fundamentais à nossa temática: o de expressão de gênero, o de identidade de gênero, papel de gênero e o de orientação sexual. Para tal, usaremos as conceituações que Jesus (2012) publicou no “Guia técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros, para formadores de opinião”. Expressão de gênero é a forma como a pessoa apresenta a sua aparência e seu comportamento, de acordo com as expectativas sociais de um determinado gênero, depende da cultura em que a pessoa vive. Identidade de gênero é o gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento. Identidade de gênero e orientação sexual são dimensões diferentes e que não se confundem. Pessoas transexuais podem ser heterossexuais, lésbicas, gays ou bissexuais, tanto quanto as pessoas cisgênero. O papel de gênero é o modo de agir em determinadas situações conforme o gênero atribuído, ensinado às pessoas desde o nascimento; é de cunho social e não biológico. Já a orientação sexual é atração afetivossexual por alguém, vivência interna relativa à sexualidade. No conjunto das pessoas transgêneras encontram-se as travestis e mulheres transexuais. As travestis são, em sua maioria, pessoas que nascem com o sexo biológico masculino, com aparência física masculina, mas que não se identificam como homem. Tendem a construir uma identidade de gênero feminina, e ainda assim, têm o órgão sexual masculino, que segundo Jayme (2001) acaba se tornando o seu maior trunfo. Já as mulheres transexuais são pessoas que reivindicam o reconhecimento social e legal como mulher. É um

individuo que tem a convicção de que possui um sentimento intenso de pertencer ao sexo oposto, ou seja, seu sexo psíquico se encontra em discordância com o biológico (JAYME, 2001; JESUS, 2012; BRUNS; PINTO, 2003). Durante o processo de construção de suas identidades, as travestis e transexuais se diferenciam em alguns pontos, contudo ambas carregam em si símbolos e elementos femininos. A construção do corpo feminino começa muito cedo nas travestis, algumas na adolescência, quando percebem e se identificam com símbolos da figura feminina. É um processo subjetivo e profundamente particular em relação a elas. Dizem que são “mulheres” dia e noite, por meio de uma ação que denominam montagem, que são os processos e investimentos que as travestis e mulheres transexuais fazem para parecerem mais femininas, é um processo de manipulação e construção de uma apresentação feminina que seja suficientemente convincente para si e para a sociedade. Sendo assim, elas reconstroem gêneros, modificam corpo e nome, demonstrando a transitoriedade da pessoa (BENEDETTI, 2005; JAYME, 2001). Benedetti (2005) enumera varias mudanças corporais, desde as primeiras intervenções, como as unhas pintadas, maquiagem, o uso de perucas, sapatos e roupas, até os processos mais profundos e significantes de mudança, como os pelos e cabelos, a voz, a arte de esconder o pênis sob a roupa, as cirurgias plásticas e a aplicação de hormônios. As travestis buscam, em todo seu processo de transformação, aquilo que elas chamam de feminino. Com as mulheres transexuais o processo de feminilização não é tão diferente das travestis, ambas tem a figura feminina como parte da construção das suas identidades. Segundo Jayme (2001), uma particularidade das mulheres transexuais é o sentimento de que nasceram com o corpo errado, o órgão sexual é visto como um apêndice que deve ser retirado, assim, a transexual é aquela que fez ou deseja fazer a cirurgia de trangenitalização ou redesignação sexual.4 Desse modo, um ponto crucial na distinção entre travestis e transexuais está na relação que cada uma estabelece com o seu órgão sexual biológico. Enquanto as travestis não rejeitam o seu órgão e, inclusive, podem fazer uso do mesmo em uma relação homossexual na condição do ativo, papel atribuído ao gênero masculino, o órgão sexual biológico para a transexual é motivo de sofrimento e rejeição, levando em alguns casos a 4

Segundo Franco (2012) a transexualidade é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um transtorno de identidade de gênero, estando catalogada no Código Internacional de Doenças com o CID de n° 10-F64.0, sendo que o único tratamento para melhorar tal condição clínica é a troca de sexo social e genital, além de psicoterapia de apoio. O transexual busca a cirurgia de trangenitalização para adequar sua aparência física ao seu sexo psicológico, ou seja, o procedimento cirúrgico é a etapa mais importante do tratamento, necessitando de um diagnóstico preciso, multidisciplinar, por médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social.

automutilação e suicídio. Assim, ao passo que a travesti não almeja realizar a cirurgia de trangenitalização, este é o maior desejo da transexual.

A vulnerabilidade social em decorrência das identidades transgêneras

No meio social todas as pessoas são diferentes, no entanto, na vivência social nem sempre isso é considerado. As pessoas que não se enquadram dentro das perspectivas que o imaginário social dita em relação às normas de gênero e ao que vem a ser a representação social da figura do masculino e do feminino, são marginalizadas e sofrem preconceito e discriminação. Segundo Bento (2008) e Pelúcio (2009), a partir da ótica da Teoria Queer, de contestação a qualquer normatização que pode servir de dispositivo de poder e saber (remetendo ao pensamento de Foucault), as pessoas que, a exemplo das travestis e transexuais, fogem ao padrão heteronormativo são vistas como seres abjetos, porque não são inteligíveis para os padrões hegemônicos de gênero fundamentados no binarismo. A transfobia segundo Jesus (2012) é o preconceito e/ou discriminação em função da identidade de gênero de pessoas transexuais ou travestis, conceito que não deve ser confundido com homofobia. A transfobia é uma violência cotidiana feita diretamente com as pessoas que fazem parte da população transgênero, composta por travestis e transexuais. As pessoas transgênero são, portanto, alvos de preconceito, desatendimento de direitos fundamentais (diferentes organizações não lhes permitem utilizar seus nomes sociais e elas não conseguem adequar seus registros civis na Justiça), exclusão estrutural (acesso dificultado ou impedido à educação, ao mercado de trabalho qualificado e até mesmo ao uso de banheiros) e de violências variadas, de ameaças a agressões e homicídios (JESUS, 2013a). Levando em consideração a crença de que o corpo é aquilo que temos de mais natural e que aparece como uma fonte primordial da identidade de homens e mulheres enquanto pessoas de um sexo ou de outro, com todas as mudanças corporais realizadas pelas travestis e mulheres transexuais ao longo das suas vidas, a maioria delas não encontra espaços na vida social normatizada. A não aceitação pode ter início na família, sentindo-se as mesmas obrigadas a ir morar em outro ambiente e o acesso aos serviços de saúde, às políticas públicas e à circulação em diferentes territórios e instituições também é dificultado. Sem muita opção de moradia e meios de se sustentar, acabam seguindo para o contexto da rua e da noite, no qual encontram a prostituição como meio de sobrevivência, ficando sujeitas aos perigos da noite, como a violência e o frio (KULICK, 2008). Lopes

(1995) explica que esse é um fator que resulta nas intensas situações de violência física e moral que elas passam em seu cotidiano. Com toda essa carga de preconceito e discriminação, poucas conseguem ter mobilidade social e se inserir no mercado de trabalho. Escassos são os relatos de travestis que conseguiram se formar em uma universidade ou até mesmo concluir o ensino fundamental, pois as dificuldades que encontraram dentro do espaço educacional contribuem para intensificar a exclusão social vivida pelas travestis, exclusão esta marcada por componentes de ordem social (como desemprego, miséria, fome, condições precárias de moradia), institucional, familiar, material e afetiva (PERES, 2005a). É preciso ter a clareza de que estes grupos compõem a sociedade e revelam a diversidade que a mesma comporta. Contudo, vivemos num modelo de sociedade que tende a negar e excluir as diversidades humanas e valorizar a homogeneização do ser humano, de modo que os processos sociais de normatização existentes desqualificam e até mesmo excluem essas diversidades do convívio social, taxando de inferior tudo que foge ao padrão estabelecido. A partir do reconhecimento dos aspectos aqui levantados acerca do universo da população transgênera, este artigo tem como objetivo compreender os processos de feminilização das travestis e mulheres transexuais, bem como os impactos que tais processos acarretam em seus espaços de sociabilidade.

Percurso Metodológico

A pesquisa foi realizada no município de Maceió-AL, no período de março de 2013 a setembro de 2014, junto às pessoas que se denominaram travestis ou transexuais e que faziam parte da Associação das Travestis e Transexuais de Alagoas (ASTTAL). A aproximação com o campo de pesquisa se deu quando o acadêmico da pesquisa participou do 1° Seminário de Travestis e Transexuais Negras da Região Nordeste, realizado na cidade de Maceió, no ano de 2013. Posteriormente, o projeto de pesquisa foi apresentado pelo acadêmico da pesquisa para a presidenta e para a vice-presidenta da ASSTAL, as quais autorizaram a realização da pesquisa com membros da associação. O projeto foi encaminhado, via Plataforma Brasil, para o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e aprovado com CAAE nº. 23519713.8.0000.5011. Uma vez que a pesquisa investiga vivências singulares de determinados sujeitos em uma realidade específica, realizou-se o estudo a partir de pressupostos teórico-metodológicos

qualitativos. Considerando que Minayo et. al. (2011) afirmam que na pesquisa qualitativa a matéria-prima da pesquisa são as vivências, as experiências, a cotidianidade, onde o acadêmico da pesquisa vivenciou junto com as travestis e transexuais da ASSTAL, de momentos do seu dia-a-dia, visitando suas casas, indo a reuniões da associação, compartilhando de processos de montagem, de lazer e de outros momentos do cotidiano das mesmas. Como estratégia de pesquisa qualitativa utilizou-se a etnometodologia, que para Chizzotti (1991) é um modo de descrição social científica de uma pessoa ou da configuração cultural de uma população. Esse tipo de estratégia se caracteriza pela descrição ou reconstrução de mundos culturais originais de pequenos grupos, para fazer um registro detalhado de fenômenos singulares, a fim de recriar as crenças, descrever práticas e artefatos, revelar comportamentos, interpretar os significados e as ocorrências nas interações sociais entre os membros do grupo em estudo. Neste artigo, propõe-se descrever e analisar os processos de feminilização das travestis e transexuais, buscando compreender as repercussões de tais processos em sua sociabilidade. Para tanto, utilizou-se três fontes de registros e técnicas para a produção dos dados: o diário de campo, a observação participante e o grupo focal. Para Araújo et al. (2013) o diário de campo é um caderno de notas em que o pesquisador registra as conversas informais, observações do comportamento durante as falas, manifestações dos (as) interlocutores (as) quanto aos vários pontos investigados e ainda suas impressões pessoais, que podem modificar-se com o decorrer do tempo. Barbosa (2010) afirma que o diário de campo é um instrumento onde a escrita é a ferramenta mais importante, no sentido de organizar as sensações e os pensamentos e de organizar o mundo inconsciente do pesquisador. Em nosso estudo, este instrumento permitiu assinalar desde o processo de aproximação com o campo de pesquisa e com o grupo estudado, até os processos mais íntimos vivenciados com o mesmo. Outra técnica utilizada para a produção de informações foi a observação participante, que segundo Aires (2011) consiste na recolha de informação de modo sistemático, através do contato direto com situações específicas. Em nossa pesquisa, a observação participante se deu através da inserção do pesquisador no grupo pesquisado e na participação deste, por alguns momentos, nas vivências peculiares ao universo do grupo. A outra técnica utilizada foi o grupo focal, sendo esta a principal fonte das informações aqui apresentadas. Backes et. al. (2011) colocam que a homogeneidade nos grupos focais é importante a fim de potencializar as reflexões acerca de experiências comuns,

neste caso a experiência da feminilização do corpo e seus impactos na sociabilidade. O grupo focal foi formado por 3 travestis e 2 transexuais, numa faixa etária que variava de 21 a 48 anos de idade, as quais foram escolhidas a partir do vínculo formado com o pesquisador durante o processo de aproximação e imersão no campo de pesquisa, sendo também levada em consideração a variedade de idade, visando buscar uma diversidade maior de experiências no interior do grupo. Para a realização do grupo focal foi aproveitada uma tarde de domingo, horário que as participantes já se reúnem, na casa de uma delas. O espaço foi organizado em forma de uma roda de conversa para que todas as pessoas pudessem manter contato visual e escutarem umas as outras. Para provocar a discussão, utilizaram-se duas perguntas disparadoras (Quais as primeiras lembranças que vocês têm envolvendo a sua sexualidade? Podem ser de você com você mesmo ou com outras pessoas. Vocês poderiam falar sobre as intervenções realizadas para transformar o seu corpo?), as quais foram sendo complementadas com novos questionamentos para maior aprofundamento das questões levantadas e alcance dos objetivos da pesquisa, sendo estimulada a participação de todas. Para a análise e interpretação desses dados, foi tomada a técnica de análise de conteúdo que, segundo Bardin (2011), é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a interferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens.

Resultados e Discussão Tomando como base o material escrito do diário de campo, as observações participantes e principalmente a transcrição do áudio do grupo focal, foram identificadas as duas categorias temáticas que serão discutidas a seguir: O despertar para sexualidade e as modificações corporais e Os impactos das identidades travestis e transexuais nos espaços de sociabilidade. O despertar para sexualidade e as modificações corporais Durante a análise de conteúdo surge um elemento importante nos discursos das travestis e mulheres transexuais, um elemento que ganha foco, se torna central, norteador de tensões durante o grupo focal e que aparece também durante a vivência de campo: a sexualidade. Esta, para Bruns e Pinto (2003), é um termo que se refere ao conjunto de

fenômenos da vida sexual de um individuo, sendo parte integrante do ser humano e que se expressa por intermédio dos aspectos biológicos, psicológicos e social, sendo estes três bases inter-relacionadas e inseparáveis. Quando lançado o questionamento “Vocês poderiam falar sobre a primeira lembrança que vocês têm envolvendo a sua sexualidade? Podem ser de você como você mesmo ou com outras pessoas. Quem gostaria de falar sobre isso?” logo surge a primeira fala do grupo focal, de uma participante que se autodenomina travesti, uma fala ansiosa querendo se colocar primeiro e questionando: “Como assim sexo?” (Esmeralda5).

Esta fala ilustra o que Kulick (2008) coloca em relação às travestis brasileiras, de que elas sempre trazem a questão do sexo para o centro da cena. Em vários momentos do grupo focal, e durante a permanência no campo de pesquisa, as falas vão sendo trilhadas nessa mesma perspectiva, tanto as travestis quanto as mulheres transexuais relacionando sempre suas vivências ao sexo. Outro aspecto importante, já apontado pela literatura (JESUS, 2013b; SOARES et al., 2011; KULICK 2008; BENEDETTI, 2005), é o fato de as primeiras lembranças sobre a sexualidade remontarem a infância, situação esta relatada por todas as participantes, ilustrada nos relatos a seguir: Quando você é travesti mesmo, já vem do destino aquela coisa feminina, a gente não sabe explicar o porquê, quando a gente é menor a gente já tem, mesmo sem ter tomando alguma decisão na vida (Adrielly). [...] quando eu tinha 8 ou 10 anos de idade né? eu já me sentia uma criança diferente, eu não me sentia como os meninos normais, menino normal homem né? Já sentia essa diferença, eu não gostava mesmo... eu não sentia atração... eu não era um menino normal né? (Priscila).

Em relação à vida sexual, todas as travestis e mulheres transexuais trazem relatos parecidos, indicando que a primeira experiência sexual ocorreu na infância ou no começo da adolescência, sendo algo importante e determinante na construção e modelação das identidades sexual e de gênero na vida delas, como podemos perceber nesse relato de uma das participantes: 5

Para resguardar a privacidade dos sujeitos, todos os nomes aqui utilizados são fictícios e foram escolhidos pelas próprias entrevistadas especificamente para este trabalho.

Eu comecei a me descobrir quando eu acho que tinha uns 10 anos de idade, foi quando uma vizinha minha, eu acho que mais velha que eu pouca coisa, [...] pulou em cima de mim, me atacou de uma forma, está entendendo? Então eu fiquei... meio com nojo de mim mesma. Eu não consegui cometer o ato sexual porque era a primeira vez, pela falta de experiências, mas naquilo ali foi que eu vim descobrir que eu tinha nojo do... sexo feminino! Então dali por diante eu fui crescendo. Na escola me misturando mais com as meninas (Adrielly).

Este relato exemplifica o que Pimentel e Barbosa (2013) afirmam, de que ao relembrar da infância, as travestis fazem coincidir a direção do desejo sexual (por homens) com o prazer decorrente do desempenho dos papéis de gênero feminino, ou seja, elas relacionam o interesse sexual por pessoas do mesmo sexo ao desempenho dos papéis de gênero feminino e demonstram aversão, desde a infância, aos símbolos associados ao gênero masculino. Assim, segundo Kulick (2008), um ponto crucial da autopercepção como travesti pode ser não só a descoberta de que sente atração por homens, mas também de que possui um fascínio pelo universo feminino, assim como as mulheres transexuais. Nesse sentido, a identificação e o desempenho de papeis femininos, desde a infância, se mostra frequentemente presente nos relatos das travestis e transexuais:

Eu ajudava a minha mãe no dia-dia né? Ajudava a cuidar dos meus irmãos, [...] eu já me sentia diferente, eu já tinha levado uma vida de menina, minha mãe me criou como uma menina, fui criada sem pai, somente eu, ela e meus irmãos. Serviços de casa... eu me identificava muito bem nessa parte. [...]As pessoas já percebiam que eu não era... é... eu não era menino, não gostava de coisas de menino, gostava de coisas de menina. Colocava o vestido da minha mãe, coisas de meninas né? Que eu era mesmo trans né? [...] Eu já me sentia mulher (Priscila). Eu arrancava os milhos todinhos do meu pai para fazer boneca, daí eu já via que não gostava, minha mãe dizia que eu iria brincar com os meninos, eu já chorava, porque não queria brincar com os meninos (Esmeralda).

É possível observar nesses discursos a presença de vários elementos ditos femininos na infância das participantes. Estes estão sempre em contraponto com os elementos masculinos, que eram/são vistos de forma negativa, sem desejo e com estranhamento pelas travestis e transexuais quando crianças. Kulick (2008) descreve que esses elementos têm relação com o desejo homossexual, aflorado desde muito cedo na infância, e está ligado a papeis femininos ou afeminados como o brincar de boneca, atuar como mãe nas brincadeiras de casinha, ter o “pulso fraco” e “desmunhecar”. Benedetti (2005) também descreve que as

brincadeiras femininas fazem parte das narrativas das travestis sobre a infância e as primeiras memórias de sua “diferença”. A adoção de atitudes femininas pelo menino durante a infância é algo comum entre as travestis, a vontade de “ser menina” e o desejo sexual por meninos marcam o processo inicial da transformação do indivíduo e a vontade de se transformar na mais linda, tornar-se a mais glamorosa e ser desejada por todos os homens que passam e se encantam com seus maravilhosos corpos (PIMENTEL; BARBOSA, 2013). É na infância e adolescência quando as travestis e as mulheres transexuais têm seu primeiro contato com os elementos femininos, muitas delas com as roupas, sapatos e maquiagem da mãe, ao se vestir e tentar parecer femininas. Quando ainda não iniciaram a modelagem no corpo, é a vestimenta que corporifica qualidades femininas. Também é nesse momento da vida delas que começam as barreiras sociais que as impedem de fluírem de acordo com o desejo de parecerem femininas (BENEDETTI, 2005). O momento que antecipa as grandes modificações corporais é a montagem, termo usado pelas travestis e mulheres transexuais e que Jayme (2001) e Benedetti (2005) também trazem em seus trabalhos. Esta envolve vários procedimentos, como a depilação corporal, sendo os pelos faciais o maior desafio para fugir dos aspectos masculinos do corpo; fazer as unhas (uso de esmaltes); uso de maquiagem, roupas e sapatos femininos. Além da montagem, elas fazem outros investimentos no corpo, alguns bastante invasivos e perigosos, para chegarem ao objetivo da feminilidade, como é o caso do uso de hormônios, cirurgias plásticas, o bombar6 e a cirurgia de trangenitalização no caso das mulheres transexuais. Tanto as travestis como as mulheres transexuais fazem uso do hormônio como algo importante durante os processos de modificação corporal e do ficar mais feminina. Com eles [os hormônios] não criamos pelos no corpo e temos a pele lizinha (Fala de uma das travestis anotada no diário de campo do pesquisador). [...] é que nem uma guerra, quando você está mais velha, os pelos começam a crescer, vem os o pelos pubianos, o rosto começa a ficar azul, daí toma hormônio e os pelos começam a diminuir. [...] E outra coisa, o hormônio já vai dando aqueles traços de mulher, né? Eu vou me sentindo melhor (Esmeralda).

Os pelos são considerados um obstáculo constate na fabricação/construção do corpo feminino (BENEDETTI, 2005). Para elas, os pelos corporais são elemento masculino, 6

Segundo Benedetti (2005) bombar é o ato de injetar silicone, usualmente aplicado de forma caseira e por uma travesti mais velha que fica conhecida como bombadeira.

especialmente a barba. O uso do hormônio é um investimento importante na vida delas, pois é ele que traz os traços femininos, como a diminuição dos pelos corporais, crescimento dos seios, algumas ainda relatam que ajuda a tornar a voz menos grave.

Você já tem aquele jeito de mulher, só de olhar você já consegue ver, mas falta algo da mulher em você, o que é que falta? O peito! O peito chama atenção! Quando eu comecei a ficar com homem pela primeira vez, eu ficava acanhada, tinha o peito batido, que não era aquilo que o homem quer. olha Aí o que acontece? A gente toma aquele hormônio para os peitos (Esmeralda). A gente primeiro começa pelo hormônio para depois colocar o silicone. Quando a gente começa a tomar o hormônio, a gente fica sensível, é um procedimento de todas. [...] a gente vai ficando com o corpo com traços femininos, com o rosto feminino. A primeira transformação que você começa a perceber são os seios, daí a pele vem e deixa o rosto super feminino, a pele fica feminina (Adrielly).

Nota-se que elas trazem os seios como um elemento importante no processo de modificação corporal, e somente quando o hormônio não resolve essa necessidade é que elas partem para procedimentos mais invasivos, como as cirurgias plásticas ou até mesmo procedimentos caseiros de alto risco, como a bombação. Ainda sobre esta questão, algumas delas trazem em seus relatos os efeitos negativos do uso de hormônios, relacionados com o humor e com o desempenho sexual.

Atrofia até o órgão genital! (Ramona). Eu não tinha ereção, por questão de hormônio, nessa época eu pensei... não vou mais tomar hormônio, daí eu optei pelo silicone... não tomo mais hormônio hoje (Priscila). O efeito colateral a gente fica super nervosa, super agressiva, com paciência curta, que é efeito colateral do hormônio. Agora eu parei de tomar hormônio, porque quando chegava a hora principal eu não sentia prazer, eu não sentia orgasmo, o prazer era psicológico... de a gente se sentir mulher, feminina, de ver o homem nos tocando que nem uma mulher. Mas o prazer de sentir o orgasmo eu não conseguia ter, daí eu pensei „o que eu estou fazendo? Eu decidi parar de tomar hormônio (Adrielly).

A aparência é algo que toma lugar central durante a vida das travestis e das mulheres transexuais. Nessa categoria temática foi possível ter a visão de alguns dos percursos que elas fazem para chegar ao tão sonhado projeto de ter um corpo belo, um corpo feminino. Apesar de esses processos serem extremamente íntimos e ocorrerem de formas diferentes em cada uma, vimos que guardam algumas semelhanças entre si.

Os impactos das identidades travestis e transexuais nos espaços de sociabilidade

Para iniciar essa temática pontuamos a visão de Pimentel e Barbosa (2013) de que o corpo é percebido como referência que ancora a identidade. Comumente, é aceita a premissa de que o corpo – e por extensão a sexualidade - é o que temos de mais “natural”, sendo essa, portanto, nossa fonte primordial de identidade. Assim, nas travestis e mulheres transexuais a construção da identidade caminha junto com as modificações corporais. Mesmo antes de nascerem, os corpos já são carregados de significados, tornam-se alvos de atenção, controle, expectativas e investimentos sociais. Ao nascer, o ser humano cai em uma rede de saber-poder que determina os modelos existenciais, em sua maioria, marcados por modos capitalistas, cristãos, patriarcalistas e heterossexistas, em uma perspectiva de dobragem binária, premiando os normatizados com respeito e oportunidades, e castigando os diferentes com desprezo e obstáculos. É nesse último percurso sinuoso das diferenças que a identidade das travestis e das transexuais vem sendo construída no contexto da realidade brasileira (PERES, 2009). São muitos os contextos em que vivemos, nestes nos deparamos com os espaços de sociabilidade. Segundo Guimarães (2008), a palavra sociabilidade por vezes é usada como sinônimo de qualquer espécie de interação social; ela é fluida e as práticas e os espaços de sociabilidade sofrem mutações quando o contexto ao seu redor se altera. Em nossa pesquisa, os espaços de sociabilidade que foram relatados em comum pelas travestis e mulheres transexuais foram: a família, a escola e a rua. Para Souza (2012) a primeira vivência do ser humano acontece em família, independentemente de sua vontade ou da constituição desta; também é a família que lhe dá nome e sobrenome, determina sua estratificação social, lhe concede o biótipo específico de sua raça, e que o faz sentir, ou não, membro aceito pela mesma. Segundo Peres (2005b) as trajetórias de exclusão em relação às travestis têm início na família. A partir do momento em que as pessoas começam a manifestar a homossexualidade, incrementada pelo desejo de se transformar em travestis, são raras as famílias que conseguem expressar tolerância e estabelecer uma relação de aceitação e convívio tranquilo. Na maioria das vezes, essas pessoas são agredidas verbal e fisicamente, expulsas de suas casas e tendo que recorrer a amigos ou outras pessoas que lhes deem acolhimento. De todas as pessoas que fizeram parte da pesquisa apenas uma travesti voltou a viver com sua família; todas as outras pessoas relatam que saíram de casa muito cedo, na adolescência, e o motivo dessa saída relaciona-se com o fato de começarem a usar e se

expressar com elementos femininos, isto é, a saída de casa coincide com os primeiros investimentos para obter uma aparência feminina.

A minha família foi aquela coisa né, eu larguei logo cedo, minha mãe faleceu eu tinha 13 para 14 anos, então pronto, eu tive uma vida só mesmo (Esmeralda). Quando a gente é menor, mesmo sem ter tomando alguma decisão na vida, mesmo sem querer a homossexualidade, a gente não sabe o preconceito; isso começa na família, os primos são os primeiros a dizerem: Tome jeito! Tome jeito de homem! Fale que nem homem! Fale grosso! É coisa que já trazem da infância (Adrielly).

Não encontrando espaço para expressarem sua identidade transgênera no contexto familiar, as travestis e mulheres transexuais entram em contato com novas perspectivas de vida e começam a surgir os primeiros sofrimentos, marcados por agressões físicas e psicológicas, histórias de discriminação, e exclusão, caracterizando o que Peres (2009) chama de processo de estigmatização. Algumas vezes essa violência chega ao extremo do homicídio, segundo relatos da literatura sobre a temática. Esse processo se desenvolve como ondas, propagando-se da família para a comunidade, da comunidade para escola, para os serviços de saúde e demais espaços e contextos de relações com que essas pessoas venham a interagir (PERES, 2005). Procurei minha família, eu fui rejeitada pelos meus irmãos, lá do Maranhão, em 2008, minha família me rejeitou. O preconceito começa pela própria família, né? Me colocaram para fora de casa, minha mãe, meus irmãos! Me jogaram na rua! É a realidade da vida né! Ninguém quer aceitar a condição de eu ser trans, né? Na cabeça da família da gente, você é homem e não deixa de ser homem, eles não aceitam, não tem essa mentalidade de aceitar a sua orientação sexual, fui humilhada né, humilhada! [...] quando eu retornei lá para o Maranhão, retornei assim, transformada, uma travesti (Priscila).

Segundo Jesus (2013b) as memórias da infância como crianças trans, e de alguns de seus fragmentos, apontam para experiências comuns da vivência da transgeneridade entre os diferentes sujeitos, com aspectos negativos, como o sentimento do “estranho”, remetendo a uma internalização, pelas crianças, do discurso binarista de gênero que busca controlar e evitar que os limites atribuídos aos sexos biológicos sejam rompidos, e que sua falibilidade seja evidenciada. Para Benedetti (2005) deixar o lar parece ser um momento crucial no processo de construção dessas pessoas. Essa saída do lar está ligada a não aceitação dos familiares em relação às novas descobertas e mudanças relacionadas ao corpo e a sexualidade, está ligada as

intervenções corporais que não tem mais retorno quando são feitas, como o uso dos hormônios e a aplicação de silicone, a exemplo dessas falas:

Quando eu tomei a iniciativa de tomar hormônio, comecei a me descobrir... A me assumir, eu fugi de casa! (Adrielly). Aí eu comecei a tomar hormônio, comecei a mudar meu corpo, foi quando eu me lancei né [saiu de casa] (Priscila).

As descobertas e a percepção de que tem algo acontecendo de forma diferente do que acontece com as outras pessoas acontece com algumas travestis e transexuais. Esse momento gera um espanto, de modo que a mente e o corpo não podem ir contra o que elas desejam, que é ser o que elas realmente são. E, nesse momento, ser requer muita energia e coragem para enfrentar o contexto ao seu redor. A descoberta do corpo sexuado é um momento de atribuição de sentido para as várias surras, insultos e rejeições familiares. A descoberta de que ter um pênis e não conseguir agir de acordo com as expectativas sociais, ou seja, não conseguir desenvolver o gênero “apropriado” para seu sexo, é algo vivenciado com grande surpresa para alguns/algumas (BENT0, 2009). A família, portanto, ao invés de acolher, torna-se o primeiro espaço de sociabilidade produtor de exclusão, onde tem início o rompimento de vínculos e o processo de estigmatização, deixando as travestis e mulheres transexuais vulneráveis, sem estabilidade, sem rumo. Ficam marcadas negativamente, depreciadas a ponto de serem desprovidas do direito a ter direitos. Os processos de estigmatização vividos por elas denotam toda a organização de suas subjetividades, construídas ao longo das relações que estabelecem com os outros, com o mundo e consigo mesmas (PERES, 2009). Desprovidas do acolhimento familiar, muitas não conseguem sequer chegar a frenquentar a escola, e quando conseguem, se deparam com um novo espaço de sociabilidade que, na maioria dos casos, irá reproduzir o preconceito e a discriminação. A escola é um espaço onde ocorrem novas descobertas, onde as pessoas têm contato com uma diversidade de conhecimentos e de pessoas, o que poderia se configurar como algo positivo na vida daqueles que a frequentam. No entanto, segundo os relatos, a escola não se configura como uma experiência positiva para as travestis e mulheres transexuais, que continuam sofrendo agressões físicas e verbais.

Na escola fui me misturando mais com as meninas, e os meninos falavam: olha pra bichinha! Andando com as meninas! (Adrielly).

Isto confirma, de acordo com Peres (2009), que os processos de estigmatização e violências, também se manifestam com frequência no espaço escolar em relação às expressões travestis e transexuais. Essas manifestações discriminatórias por parte da família e também da comunidade contribuem para a efetivação de intensa segregação, por meio da limitação da participação no espaço social (PERES, 2005b). Ante os insultos e vivências negativas no contexto escolar, as travestis e transexuais não se percebem como pertencendo ao espaço da escola, se sentem fragilizadas e saem em busca de outros espaços de sociabilidade, nos quais se sintam aceitas. Esse momento é quando geralmente conhecem outra travesti ou transexual mais velha e experiente, que as acolhem e acaba sendo como uma „mãe‟ ou „madrinha‟, inclusive apresentando novas técnicas para melhorar a aparência feminina e também a vida noturna na rua. Eu estudava também a noite, mas daí eu conheci um travesti cabeleireiro e outro que frequentava a avenida, na prostituição. Me fez o convite para eu comparecer na avenida, daí colocou minha primeira roupa de mulher e foi quando eu vi que fiquei bem... Eu abandonei também a escola (Adrielly).

A rua é um espaço comum para todas as travestis e transexuais que participaram da pesquisa. A rua, nesse momento, apresenta-se como espaço de sociabilidade por onde elas circulam durante o dia e também espaço de trabalho a noite, pois é através da prostituição noturna que elas encontram aquele que parece o único meio de ter uma renda para suprirem as suas necessidades (moradia, transporte, alimentação e compra de produtos para investimento em sua beleza) e sobreviverem. Em nosso estudo, algumas são portadoras do vírus HIV e complementam a renda da prostituição com beneficio do governo. A construção dessa categoria temática nos possibilitou identificar e entender um pouco acerca das vivências das travestis e mulheres transexuais em alguns dos espaços de sociabilidade e que marcam as suas trajetórias de vida. Cabe ressaltar que tais processos não acontecem para todas da mesma forma, pois cada ser humano tem experiências de vida diferentes, circula por espaços de sociabilidade diversos, em contextos variados. Contudo, no universo das travestis e transexuais da pesquisa identificam-se muitas semelhanças.

O contexto estudado e as implicações para a Terapia Ocupacional Social

As primeiras discussões e práticas que mais adiante vieram a constituir o campo da Terapia Ocupacional Social datam da década de 1970, quando alguns profissionais da área iniciaram uma reflexão crítica sobre as determinações da prática profissional no âmbito das instituições. Desde então, passou-se a desenvolver recursos teóricos e metodológicos próprios a este campo de atuação, com base na crítica à institucionalização e medicalização dos problemas sociais, e na constituição de processos de reconhecimento e implementação do caráter universal dos direitos sociais (ALMEIDA et al., 2012; BARROS, 2004). De acordo com Barros (2004), os (as) terapeutas ocupacionais assumiram um extravasamento do campo da saúde como possibilidade para si, ao acreditarem que a profissão acumulou conhecimentos que podem contribuir para outros universos do sofrimento, da existência humana e da própria produção da qualidade da vida social. Delimitou-se um público específico de acompanhamento da Terapia Ocupacional Social que, apesar de composto por populações diversas, guarda entre si a experiência da vulnerabilidade e do impedimento à participação social e exercício da cidadania. O foco da ação profissional vai dirigir-se para pessoas, grupos e/ou comunidades que vivenciam diversos processos, dentre eles os de desqualificação social por preconceitos étnicos, de gênero e de orientação sexual, a exemplo das travestis e mulheres transexuais. A partir deste estudo, constatamos que as identidades transgêneras, quando expressadas na sociedade, tendem a empurrar as travestis e transexuais para a dupla dinâmica de vulnerabilização social colocada por Castel (1994): a fragilização ou rompimento dos vínculos formais de trabalho ou das relações sociais. Tais rupturas colocam essas pessoas na zona de vulnerabilidade ou desfiliação social, zonas estas que determinam uma restrição na participação social em igualdade de direitos, caracterizando a condição de desvantagem social, citada por Almeida et al. (2012). Na pesquisa ficou evidente que essas pessoas passam por várias situações que levam a sofrimentos diversos. Espaços que deveriam se configurar como importantes suportes na vida, como a família e a escola, tornam-se espaços de exclusão a partir das primeiras manifestações da diferença, restando a rua como alternativa para a (re)construção do ser travesti e mulher transexual, enquanto humanas e cidadãs. Na relação com as populações transgêneras, é importante que o (a) terapeuta ocupacional leve em consideração que as transformações do corpo trazem para elas o bem estar biopsicossocial. O (a) profissional deve estar atento aos processos de transformação corporal, entender como eles ocorrem e as repercussões dos mesmos no contexto de vida de cada pessoa, respeitando os desejos e as diferentes subjetividades. Para isso, é necessária uma

imersão no universo do outro, aproximando-se dos hábitos de vida para identificar os fatores que impedem o fluir nos espaços de sociabilidade. Percebe-se uma urgência pela “beleza”. A construção dos corpos nessas pessoas acontece sem muita crítica a respeito das consequências das escolhas, cabendo ao (a) terapeuta ocupacional problematizar tais questões junto com elas e possibilitar escolhas mais seguras, ainda no campo dos seus desejos e condições objetivas. Souza et al. (2011) afirmam que as práticas de modificações corporais se complicam em decorrência das desigualdades sociais, uma vez que, na maioria das vezes, as travestis e transexuais estão inseridas nos bolsões de pobreza, excluídas social, econômica, política e culturalmente, tornando difícil o acesso a procedimentos estéticos seguros para a construção do corpo feminino. Desse modo, o acompanhamento individual e territorial se mostra como metodologia valiosa de intervenção com este público. Inserir-se no cotidiano do sujeito, acompanhá-lo durante vivências significativas, explorar novas redes de suporte e construir de projetos de vida são possibilidades de ações para o (a) terapeuta ocupacional. Sobre os projetos de vida Almeida et al. (2012, p. 27) explicam que:

São construídos sempre em diálogo com as pessoas, situam-se no terreno do exercício da cidadania, caracterizam-se pela abertura para o novo, referência ao futuro e pelo caráter indelegável da ação projetada. Na construção de projetos de vida, articulam-se a identificação das necessidades, desejos e atividades que produzem sentido com o fortalecimento das redes sociais e do pertencimento grupal e/ou comunitário. [...] Trata-se de definir momentos e objetivos de processos que facilitem uma possibilidade de mudança, capaz de mobilizar as capacidades de seus membros, suas habilidades, suas ações, suas emoções, suas redes sociais e econômicas, assim como as expressões e conhecimentos para alcançá-la. Não se restringe à noção de “plano” em seu sentido prescritivo, na medida em que é elemento fundamental da constituição das identidades, dando sentido a trajetória pessoal ou coletiva e a experiências de vida, e está envolvido por uma visão retrospectiva e prospectiva.

É preciso também estar atento aos processos macro e micro políticos a nível local e nacional, como as políticas voltadas para as pessoas LGBT, os processos e procedimentos para a cirurgia de trangenitalização nas mulheres transexuais, as medidas de combate ao analfabetismo e evasão escolar, o direito ao uso do nome social nos serviços públicos de saúde, as políticas para as pessoas portadoras do HIV/AIDS, a política de redução de danos devido à exposição a riscos na prostituição, políticas de emprego e renda, entre outras. Nesse sentido, dada a complexidade das demandas colocadas pela população transgênera, as propostas em Terapia Ocupacional Social requerem a constituição de projetos intersetoriais e interdisciplinares, criando conexões entre as diferentes áreas de políticas

públicas e saberes diversos, criando um campo mais efetivo técnica e politicamente de intervenção. As ações devem, sempre que possível, serem construídas também em conjunto com as próprias travestis e transexuais, favorecendo a autonomia e o empoderamento. Portanto, acreditamos que a intervenção com esta população pode ocorrer desde muito cedo, buscando minimizar as possibilidades de que as expressões de gênero, ainda na infância e na adolescência, acarretem a ruptura dos vínculos familiares e/ou a evasão do contexto escolar. Pensamos que o suporte nesse momento da vida pode prevenir futuras situações de vulnerabilidade e risco, como a prostituição enquanto meio de trabalho e subsistência. Nas situações de vulnerabilidade já instaladas, o (a) profissional pode contribuir com a (re)construção das redes de apoio/suporte social, promovendo a desconstrução dos estigmas sociais em relação as populações transgêneras, além de auxiliar na elaboração conjunta de projetos de vida, onde a emancipação, o protagonismo e os direitos sociais possam ser restabelecidos na vivência das travestis e das mulheres transexuais.

Considerações Finais

O entendimento dos aspectos vivenciados por esse grupo se mostra fundamental para se pensar estratégias políticas e de intervenção para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, para repensar as formas de construção social do preconceito e discriminação e contribuir para a construção de uma cultura de respeito à diversidade e aos direitos humanos. O despertar da sexualidade, ainda na infância, para as travestis e mulheres transexuais é o início de um processo que leva gradativamente as modificações corporais e repercute cotidianamente em seus espaços de sociabilidade durante toda a vida. Como vimos, elas passam, desde muito cedo, por situações que fragilizam e/ou rompem os vínculos e que as colocam em situação de vulnerabilidade social, de modo a afetar a autonomia, os direitos e o empoderamento pessoal e social das mesmas. Este artigo, portanto, visa provocar a discussão entre os terapeutas ocupacionais sobre a questão da diversidade sexual e de gênero, e motivar a produção de novas pesquisas que possam refletir sobre as demandas que a população transgênera pode colocar para o (a) terapeuta ocupacional no campo social e as possibilidades deste profissional contribuir diretamente para melhoria da vida destas pessoas.

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