Paleontologia e paisagem.

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ENSAIOS DA PAISAGEM – OLHARES E VALORES DESDE A PRÉ-HISTÓRIA

CAPÍTULO 2 Paleontologia e Paisagem Davide Federico Berté, PhD.

Paisagem sem o homem... A paisagem é comumente definida como a fisionomia particular de um território, determinada pelas suas características físicas, biológicas, antropológicas e étnicas. A definição clássica da paisagem, é a mesma adotada nos capítulos precedentes deste volume, não prescinde da presença humana e da percepção do observador. Devendo tratar de épocas em que o homem ainda não estava presente, ou cuja capacidade de modificar o ambiente circunstante era muito limitada, tal definição resulta ser pouco apropriada. Neste capitulo a palavra paisagem será utilizada mesmo na própria acepção das ciências naturais, em particular da branca que tem o nome de ecologia da paisagem. A ecologia da paisagem nasce, em 1939, com a obra homônima do naturalista alemão Carl Troll (1899-1975) que estuda a integração entre geografia e ecologia; ao interno desta disciplina, a paisagem é definida como complexo junto com ecossistemas. Em um ecossistema a componente biótica (os organismos animais, os vegetais, os fungos, as bactérias, etc..) interagem e é influenciada de uma abiótica (ambiente, clima, morfologia, da superfície, natureza dos solos, etc.). A geografia influencia fortemente os organismos, tanto que a evolução pode também ser definida como adaptação de uma espécie em [26]

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um determinado ambiente e, as mudanças ambientais possam ser dos fatores muito influenciados pela seleção natural. A paisagem, considerada sob esta ótica, é, metaforicamente falando, um agente que forma os organismos e, portanto, seu estudo merece ocupar um lugar de relevância na vida. Merece também considerar os organismos no contexto do seu ambiente, pois contribui para um melhor entendimento da evolução; nesta ótica a visão que temos da natureza é mais balanceada, nisto, não existem organismos mais ou menos evoluídos (no melhor sentido do termo), mas apenas organismos mais ou menos adaptados ao ambiente em que vivem. Evolução e progresso... Neste ponto é bom fazer uma importante precisão para os que não são adequados ao trabalho. É preciso esclarecer enfim que o termo “evolução” não é completamente sinônimo de “progresso”, como geralmente se acredita. Darwin em “Origem das Espécies” (1859) nunca utilizou tal terminologia, mas sempre falou de “descendência com modificações”. Neste ponto surge a pergunta espontânea: mas se Darwin não utilizou tal termo, como é que a teoria acabou por chamar-se assim? O termo “evolução“ se difundiu através de Herbert Spencer (1820-1903) no seu livro “Principles of Biology” (1864). A conversa de Spencer era muito mais colorida e de impacto em relação à de Darwin, com muitas imagens e metamorfose sobre a evolução difundida junto aos grandes públicos, em realidade são atribuídas a ele uma toda sobre a famosa expressão: “a sobrevivência do mais adaptado”. O termo “evolução” obtém um grande sucesso, mas ambíguo: literalmente isso indica um desenvolvimento previsível e organizado (do latim evolução: desenvolver). Na divulgação de [27]

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Spencer todas as criaturas estão dispostas ao logo de uma Scala Naturae linear que, parte dos organismos mais simples e leva até aqueles mais complexos. Num primeiro olhar poderia parecer correto porque, considerando a historia da vida sobre a Terra, podemos constatar que de simples organismos monocelulares são derivadas criaturas pluricelulares muito complexas. Uma análise mais aprofundada e articulada porem evidenciará que esta tendência no aumento da complexidade não é uma propriedade intima da evolução, mas somente o efeito de um desenvolvimento casual. A complexidade, admitida não concebida que isso seja ‘’semânticível’’ e/ou definida como precisa, é uma propriedade que se desenvolve em função da adaptação ao ambiente, mas poderá proceder de um sentido ou de outro. Como, por exemplo, se prende em consideração ao caso dos parasitas, tal pensamento resultará mais evidente. O ambiente do parasita é seu hospede e, regularmente uma precisa parte disto. Os parasitas são perfeitamente adaptados ao seu hospede/ambiente e podem também ter um ciclo muito complexo, com a passagem de mais hospedes intermediários. Do ponto de vista morfológicofuncional, porem muitas vezes, estes organismos são caracterizados por uma extrema simplificação anatômica. Órgãos de sentido complexos desaparecidos em favor de um plano corporal muito bom para o estilo de vida conduzido. Por derivar de antepassados com estruturas complexas, a evolução os “guiou“ em direção a uma complexidade perdida. A tênia é perfeitamente “evoluída” em quanto está bem adaptada ao seu ambiente. Outro erro comum em considerar a historia da vida é aquilo de adotar uma visão que implica um final teleológico cósmico, ou seja, ver um fim ou um objetivo na evolução geral como ápice dos organismos. Normalmente estes discursos se concluem incensando o Homem como ápice da evolução, a quem se teria chegado inevitavelmente. Uma das visões mais famosas este tipo de interpretação e aquela do jesuíta Pierre Theilhard de Chardin (1881-1955), que concebeu a evolução como uma tendência e versa o “ponto ômega”, ou seja, o [28]

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Cristo; nesta visão o comparecimento do Homem é um fato necessário e já previsto. A moderna visão paleontológica, porem tende a ver o comparecimento do Homem como um evento ligado a contingência histórica, que teria podido verificar-se ou não. A causalidade substituiu a casualidade. A pesquisa paleontológica colocou bem em evidencia que a evolução Humana não foi uma marcha em direção ao progresso, como foi muito representada, não se é o que veio em série ordenada de espécies (sempre mais bípedes, mais inteligentes e menos pelosos), mas um florir de numerosas espécies. No passado a savana africana foi densamente ocupada grupos de hominídeos, australopitecos, parantropos, hominíneos (os cujos pertencem ao gênero Homo), que conviveram no mesmo período e no mesmo ambiente. A afirmação da linha evolutiva que trouxe para a nossa espécie foi um evento contingente. Os nossos antepassados tiveram, simplesmente, a fortuna de sobreviver e transmitir os seus genes para as gerações futuras. Seria errado julgar o seu sucesso evolutivo à luz da nossa evolução, os caracteres que lhes permitiu sobreviver, não só eles mesmos, foram evoluídos na nossa espécie. O bipedismo, para fazer um exemplo, se evoluiu mais vezes na historia dos primatas e isto demonstra que esta condição não é necessariamente ligada ao surgimento de toda uma série de características complexas. Primatas bípedes como Oreopithecus tiveram sucesso no seu ambiente e depois foram prontamente extintos. Homo sapiens, então, não se encontrariam no termo de uma escala de progresso, mas seria mais humildemente o ultimo raminho de um viçoso broto evolutivo. Na natureza, enfim, por quanto um organismo possa ser bem adaptado ao seu ambiente, não é mais perfeito, isso te leva pra trás de muitas estruturas que recontam a historia de pequenos vestígios de antigos órgãos (do latim vestigium = pegadas, vestígios). Tratando-se de partes anatômicas não mais funcionais, que a seleção natural conseguiu eliminar tudo. Tais organismos, do momento em [29]

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que não possuem mais alguma função, tornam-se “invisíveis” para a seleção natural. Estes vestígios de organismos contam a historia da evolução destes animais, que podem ser indicações úteis sobre o modo de vida dos seus antepassados. Por exemplo, a baleia azul mantem um pequeno resíduo do cinto pélvico (bacia e fêmur). Esta estrutura não se desenvolve mais nenhuma função, mas é uma “lembrança” anatômica de quando os antepassados de tais animais caminhavam sobre a terra firme. Outros exemplos de vestígios de organismos podem ser os esboços da bacia da piton, ou o apêndice intestinal no homem. Estas pequenas “imperfeições” incidem nos organismos e são inevitáveis, em quanto nestes últimos devem adaptar-se modificando estruturas já existentes. Para dizê-la com as palavras do biólogo francês François Jacob (1920-2013); a seleção natural não procede como um engenheiro que projeta uma estrutura exnovo, em maneira muito boa, mas como um “bricoleur” que deve se arranjar adaptando aquilo que tem. O Mundo em contínua modificação... A superfície do planeta Terra está em contínua modificação. Esta afirmação contrasta com a nossa percepção do mundo, porque, muitas destas modificações acontecem em uma escala grande e longa, maior do que a duração de uma vida humana. As únicas e grandes agitações que se rendem participativos de grande potência que permanece latente no interior do nosso planeta são as erupções vulcânicas e os terremotos. Parte destes singulares episódios catastróficos dificilmente percebeu fenômenos como erosão de montanhas ou a deposito de finíssimos sedimentos no fundo dos oceanos que chegam a formar camadas muito espessas. Uma corrente aparentemente muito estável e impossível de se imaginar algo de mais imóvel, mas se andamos a observar de perto as rochas que as compõem, poderemos ter [30]

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surpresas a cerca da sua origem; por exemplo, poderemos descobrir restos de organismos marinhos no interior de camadas rochosas. Por fim, no cume do Everest, que com os seus 8.848 metros de altura, sendo a montanha mais alta do nosso planeta, é formada de rochas que há um tempo congelavam no fundo de um oceano. Hoje parece evidente que, se encontramos organismos marinhos, quer dizer que há muito tempo estes organismos deveriam ser encontradas no mar e então as rochas se elevaram em seguida, até a altura que se tem hoje. No passado porem, não imaginando a grande profundidade do tempo geológico e postulando a firmeza dos continentes, as interpretações dos fosseis seriam muito fantasiosas a respeito aos nossos standers modernos. Para explicar a presença de fosseis marinhos sobre as montanhas se recorria, frequentemente a narrações bíblicas do Dilúvio universal, mas também do degelo contemporaneamente de todas as geleiras continentais do mundo. O nível marinho não poderia jamais recobrir também o cume do Everest e então não poderia prestar contas dos fosseis que ali se encontram. A teoria das placas tectônicas foi uma conquista relativamente recente da geologia moderna e permitiu a compreensão melhor de uma serie de fenômenos, como, por exemplo, a formação das cadeias montanhosas, a abertura dos oceanos, a origem dos ascos magmáticos, e ainda outros aqui não citados. As formas da paisagem influenciam fortemente os organismos que vivem sobre a superfície: o substrato rochoso influencia a química do solo (por exemplo: contribuindo a formar um terreno acido ou básico) e então as plantas que poderão crescer: a posição e a forma dos continentes determinam a circulação das correntes, alterando fatores importantes como precipitações e temperatura; a corrente fria que circunda a Antártica influencia fortemente o clima do hemisfério austral, mas esta se instaurou só quando a Antártica se encontrou na posição atual: a corrente marítima quente do [31]

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Golfo, que esquenta as costas europeias, mostra a cara no Atlântico, originando o istmo do Panamá; a presença dos Andes permite o acumulo de nuvens sobre o lado boliviano, muito chuvoso, mas constitui uma barreira que transforma o lado argentino muito árido. Além, da presença das cadeias montanhosas, rios ou mares pode representar uma barreira invencível para muitas espécies. Definitivamente, os organismos viventes são expressões de adaptação nos ambientes circunvizinhos, biótico e abiótico, e a evolução não é que a resposta às mudanças das condições externas. O isolamento, especialmente entre as quais surgem as barreiras intransponíveis como, por exemplo, montanhas, rios ou mares, mais um pré-requisito para levar ao aparecimento de novas espécies. A atual distribuição dos organismos a nível geográfico é um instrumento muito útil para indagar como mudou o aspecto do nosso planeta no tempo. Os fósseis como testemunha dos antigos ambientes Hoje os fosseis são reconhecidos como restos ou traços de seres viventes que viveram num passado mais ou menos remoto. Os fosseis são testemunhas importantes, que recontam a historia da vida sobre a terra e como foram modificados o ambiente e a paisagem. Esta visão moderna, que se afirmou só recentemente, é o resultado de muitas observações e estudos de numerosos naturalistas. No passado, os ossos fósseis eram interpretados como restos de criaturas monstruosas ou mitológicas. A teoria mais difusa no contesto medieval fazia recurso a historia do dilúvio universal para explicar o encontro de conchas marinhas sobre as montanhas. Durante o Renascimento se andou afirmando a ideia neoplatônica de que os fosseis não seriam restos de animais, mas formas geológicas originadas em virtude de uma força plástica das rochas, ou seja, de uma influência divina para [32]

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ilustrar ao Homem a harmonia do criador entre o reino animal, vegetal e mineral. Leonardo da Vinci (1452-1519) tratou o problema dos fosseis no “Codice Leicester”, porém, como tudo os seus outros escritos, não são publicados, então as suas observações e as suas descobertas ficaram desconhecidas até a época recente e não tiveram modo de influenciar os seus contemporâneos. Leonardo reconhece que as conchas fósseis eram restos de organismos marinhos e que esses não podiam ter sido transportados pelo dilúvio porque, às vezes eram encontradas ainda com as articuladas em posição de vida, e, além disso, são muito pesadas para serem transportadas pelas correntes. Leonardo refutou também a suposta “origem geológica”, segundo a qual os fósseis teriam crescido no interior das camadas. Acrescenta a tal conclusão, notando que estes se encontravam exclusivamente nas rochas de clara origem marinha, que geralmente se encontravam quebrados e desarticulados e que, contidos em uma matriz dura e rígida, não poderiam crescer sem romper (este julgamento em seguida foi desenvolvido independentemente também por Stenone). Leonardo, reconhecida corretamente a verdadeira natureza dos fosseis, procurou de compreender qual mecanismo poderia ter elevado camadas fosseis do fundo do mar até o elevado das montanhas, e que se deveria confrontar com os limites da ciência da época. No contexto cultural, no qual operava a natureza, não era um correspondente do corpo humano, medida de todas as coisas, e a terra era considerada literalmente como um organismo vivo. Leonardo procurou, sem encontrar uma explicação aceitável, comparar a circulação da água no subsolo com a circulação sanguínea no corpo humano. Segundo a teoria de Leonardo, a agua subterrânea teria saído das montanhas através de um sistema similar ao arterial, envolvendo de qualquer maneira também as conchas fósseis. Durante o Renascimento se acreditava que a Terra fosse relativamente jovem e então resultava árduo os [33]

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desenvolvimentos mecânicos tão velozes para produzir estas mudanças. Particularmente é sabido que a data é 4004 a.C. calculada pelo arcebispo James Ussher (1581-1656) na sua erudita obra, reconstitui a cronologia da Terra baseando-se em acontecimentos históricos, da Bíblia, da Torah e de outros textos religiosos ou não. O bispo Nicoló Stenone (1638-1686) desenvolve independentemente das observações sobre a natureza dos fosseis parecidas com as formuladas por Leonardo. Stenone, enquanto se encontrava em Livorno, Itália, teve a maneira de observar as glossipetrae ou línguas de pedra e reconhece que se tratava de dentes de tubarão. Observando os afloramentos deduz, corretamente, que tais objetos não poderiam se formar no interior da rocha dura, mas que deveriam ser inclusos quando a matriz era ainda mole. As línguas de pedra, para poder deixar as suas marcas no sedimento circunvizinho, deveriam ser mais velhas do que as rochas que as incluíram. Deste modo Stenone demonstrou que as rochas sedimentares não foram criadas junto com a Terra, porém, derivam dos depósitos em lagos, rios e mares. O fosseis marinhos além de mais geralmente se encontram longe do mar, e, resultam assim, serem indicadores de grandes mudanças. Os mares e as terras emersas não estiveram sempre na mesma posição, são mudadas, e as montanhas são emersas pelas aguas. Graças as suas observações, foi possível, pela primeira vez, conceber um mundo em modificações. Também o tempo se alongava em milhares de anos, quando as solidas rochas não eram ainda iguais e a Terra era um pouco mais jovem. Nem todos os cientistas, porém concordavam que os fósseis poderiam refletir a historia do planeta: em um mundo com um tempo acabado, sem possibilidade de evolução ou extinção, todos os organismos deveriam ser contemporâneos. Neste contexto cultural os fosseis não poderiam ser utilizados como instrumentos de medir o tempo. Para chegar à visão dos fosseis como testemunhas da historia [34]

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da vida, era necessário chegar a perceber o sua mudança no tempo. Este problema é afrontado por George Cuvier (1769-1832), pai da anatomia comparada. Cuvier reconhece as semelhanças dos fosseis com alguns correspondentes atuais, mas também que algumas formas foram extintas e caracterizam certas camadas rochosas. Além do que, os animais provenientes de camadas mais recentes eram semelhantes aos atuais, enquanto aqueles mais antigos se destacavam, maiormente. Cuvier porem não atribui estas semelhanças a uma parentela, ou então a uma evolução de antepassados semelhantes, mais a um tipo de ”modelo” repetido com variações. Cuvier teve mérito de reconhecer que a historia da vida sobre a Terra era muito mais antiga de quanto suposto e, desenvolvida a teoria de uma serie de criações, de caráter mão a mão sempre mais “moderno”, quebrados por causa de eventos catastróficos. Outro personagem importante para o nosso discurso, também se é muito mais desconhecido, foi Giovanni Battist Brocchi (1772-1826) que no livro “Conchiologia fóssile subappennina” (1814), tratou do tema da extinção das espécies. Brocchi com as suas pesquisas reconhece que as espécies não só se extinguem, mas podem também se modificar. Brocchi foi o primeiro a desenvolver a analogia das espécies como indivíduos que nascem, crescem e morrem. A obra de Brocchi é lida pelo jovem Charles Darwin, que se perguntou sobre o nascimento das espécies e inspirou-se dessa analogia para o desenvolvimento da sua famosa teoria. A descoberta de grandes retiros marinos e dos primeiros dinossauros colocou em evidencia como o mundo em precedência foi habitado por animais, com formas muito bizarras, absolutamente diversos dos atuais. Gideon Mantell (1790-1852), um médico de campanha, destes apaixonados por ciências naturais, descobre e descreve em 1822 o iguanodonte, o primeiro dinossauro da [35]

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nossa notável ciência. Mantell, em seguida a numerosas outras descobertas de dinossauros, postulou que antes da atual Era dos Mamíferos, devia ter sido a Era dos Répteis, muito mais antiga. Com o desenvolvimento da teoria da evolução a obra de Charles Darwin (1809-1882) teve um impulso para alongar o tempo geológico. O mecanismo da seleção natural, claramente descrito pela primeira vez por Darwin, procedia muito lentamente e gradualmente; era preciso então que a Terra tivesse muitos mais anos do que a quantia da hipótese anterior. A evolução, se verdadeira, necessitava de tempos geológicos muito longos, mas ainda na metade do século XIX as estimativas da idade da Terra eram mesmo muito longe dos quatro bilhões e meio de anos que atribuímos hoje. A teoria de Darwin casou-se bem com a teoria geológica gradual avançada de Charles Lyell (1797-1875) que explicava as grandes mudanças geológicas como a soma de pequenas mudanças em tempos muito longos. A visão do nosso planeta, porém, apesar da evidencia de fenômenos como a erupção vulcânica ou terremotos, continuava a ser muito estática. Os geólogos ainda se limitavam a hipótese de mudanças de nível marítimo com imersão ou o afundamento de pontos da Terra entre os vários continentes. Neste caso, Atlântida, a ilha inventada por Platão no seu dialogo “Crizia”, poderia tranquilamente ser um antigo continente afundado. A geologia moderna que se desiludiu a causa da existência do grande continente desaparecido, que ficou vivo só nas imaginações fantásticas, todavia presenteou com uma visão muito articulada, e intelectualmente mais satisfatória da história da Terra. A atual teoria da Tectônica e placas é muito recente e surge da teoria da deriva continental, exposta por Alfred Wegener (1880-1930) no seu livro “A formação dos continentes e dos oceanos“ de 1910. Wegener recolhe uma série de indícios e deduz que os continentes, num determinado [36]

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tempo, deveriam ocupar posições diferentes das quais ocupam atualmente e de estarem unidos. Wegener comunicou o próprio raciocínio de observação inicial de que as costas da América do Sul e da África parecem se complementar e talvez fossem unidas. Dando prova de ser um cientista eclético, recolhe provas provenientes dos campos científicos diversos, como, por exemplo, da Geologia, Paleontologia e Paleoclimatologia. Wegener reconhece de confirmações anteriores da hipótese sobre o passado de união dos continentes sulamericano e africano, uma continuação entre as camadas geológicas africanas e sul-americanas. Além disso, nas rochas carbônicas e permeáveis da Argentina, Ilhas Falklands, África do Sul, Índia, Austrália e Tasmânia, foram encontradas evidências de uma antiga glaciação. Se os continentes fossem providos na sua posição, isto teria sido um comportamento de que no Carbonífero e no e Permiano o hemisfério boreal tivesse apresentado um clima de calor tropical e aquele austral fosse inteiramente coberto de gelo. Esta situação absurda poderia ser facilmente explicada supondo que os continentes austrais fossem reunidos e posicionados mais vizinhos ao polo sul. Wegener, em particular, observou que na África e na América do Sul se encontravam fósseis da mesma espécie, mas que estas não seriam capazes de atravessar um oceano. Eventuais pontos da Terra não teriam podido desaparecer, porque a crosta continental, mais ligeira, não poderia afundar na oceânica, mais densa e pesada. Também porque a distribuição dos animais atuais, objetos de estudo da Zoogeografia, coloca em evidência que alguns grupos muito antigos presentes na América do Sul, têm os mesmos parentes mais próximos dos grupos da África. Um exemplo neste sentido é representado pelos peixes dipnóicos de água doce, presentes na América Meridional do gênero Lepidosiren, na África com Protopteros e na Austrália com o gênero Neoceratodus, contudo, pensamos também nos pássaros ratitas, como, por exemplo, a ema sul-americana (Rhea americana) e o avestruz africano (Struhio camelus). Ao contrário, grupos geologicamente [37]

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mais recentes mostram grandes diferenças, como, por exemplo, a distinção entre os macacos platirrinos do Novo Mundo e os catarrinos do Velho Mundo. As semelhanças entre os grupos mais recentes são devidas das “convergências evolutivas”; se pretende indicar com esta expressão, que soluções parecidas foram desconsideradas de organismos diversos; alguns exemplos, particularmente apreciáveis, são semelhantes aos colibris, iguanídeos, cactos na América do Sul com nectarinas, agamidos e euforbiáceas suculentas na África. Wegener, contudo não conseguiu individualizar um mecanismo eficaz para poder explicar de modo acadêmico. Os mecanismos invocados por Wegener, como a rotação da Terra e a atração lunar, implicavam forças muito debilitadas para poder confirmar a movimentação das massas continentais. Só em seguida, após a descoberta dos dorsais oceânicas graças às explorações submarinas, a teoria de Wegener foi ao auge. Os dorsais oceânicos são grandes cadeias montanhosas que se localizam no fundo dos oceanos, junto aos quais se tem a saída de material magmático e a formação de nova crosta. A datação paleo-magnética dos dorsais oceânicos, efetuadas após a segunda guerra mundial, demonstraram a parte central ser mais jovem, confirmando a teoria de Wegener e fornecendo-lhe um mecanismo eficiente para explicar o deslocamento dos continentes. Hoje a teoria da placa tectônica, originada da teoria da deriva dos continentes, faz parte de cada texto de ciência e é universalmente aceita, enquanto que com um mecanismo relativamente simples, é capaz de se explicar múltiplos fenômenos. A superfície da Terra está em continua modificação, os continentes se deslocam e se encontram formando novas cadeias de montanhas, enquanto as montanhas existentes sofrem erosão e se planificam, o magma ferve novamente podendo fazer nascer novos vulcões ou nova crosta, os mares são cheios dos sedimentos. E obviamente, [38]

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enquanto a crosta terrestre sofre todas estas mudanças, também os ambientes deslocados se modificam, o clima muda seguindo a latitude, a altitude, a circulação das correntes marinhas e atmosféricas, etc. Os organismos reagem a todas estas mudanças, transferindo-se para ambientes mais favoráveis, ‘’evoluindo’’ ou extinguindo-se. A história que um geólogo hoje pode ler nas camadas rochosas é muito complexa e fascinante quanto pudessem terem imaginado os primeiro cientistas que se ocuparam do assunto. Quando dois mundos colidem: O grande intercâmbio americano... Há cerca de três milhões de anos acontece à emersão do istmo do Panamá, colocando em ligamento o continente norte americano com o continente sul americano. A América do Sul terminou assim um longo período de isolamento começado cerca de 84 milhões de anos, quando se separou da África. A abertura do Atlântico meridional durante o Cretáceo Superior, a última época do Mesozoico, determinou então a separação da África e América Meridional. Quando acontece a separação, os ecossistemas das terras emersas eram dominados por grandes dinossauros, mas os mamíferos já estavam presentes e diferenciados nos principais grupos: Prototheria, ou Monotremata (que colocam ovos), Metatheria ou marsupiais e Eutheria ou placentários. Com a separação da África, animais e plantas sul-americanas se encontram completamente isolados do resto do mundo; cerca de 65 milhões de anos, com a extinção dos dinossauros, ficaram disponíveis numerosos conchiferos ecológicos e os mamíferos tiveram uma extraordinária adição reparativa. A América do Sul é um enorme laboratório natural e as estradas da evolução levaram os marsupiais presentes em direção a soluções adaptativas únicas. Muitas formas evoluídas [39]

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na América do Sul eram endêmicas deste continente e não tiveram correspondentes no resto do mundo. Entre os grupos mais importantes eram seguramente os xenartros, que devem o seu nome (do grego: “estranha articulação”) a presença de uma articulação acessória entre as vertebras, ausentes em todos os outros mamíferos. A superordem dos Xenartros, a qual é pertencente os Vermilingua (tamanduás), Pilosa (preguiças) e Cingulata (armadilhos). Entre os representantes extintos deste grupo recordamos os gliptodontes, as preguiças-gigantes e os pampatéridos. Outros animais eram inclusos na superordem dos Meridiungulata, que incluíam Pyrotheria (semelhantes aos elefantes, com incisivos transformados em presas), Astrapotheria (semelhante a um hipopótamo, talvez com uma pequena tromba de elefante, patas posteriores robustas e as inferiores delgadas), Notoungulata (um grupo muito diversificado que incluía animais de tamanhos variados entre um coelho e um rinoceronte) e Lipoterna (semelhantes aos camelídeos, representante mais famoso deste grupo é Macrauchenia). Os principais predadores eram grandes pássaros inaptos ao voo. Entre os mamíferos predadores eram os Sparassodonta, incluindo tilacosmilidos, borhyenidos e proborhyenidos. Por ter uma dieta à base de carne, estes marsupiais não eram aparentados com a atual ordem Carnívora, pertencendo aos mamíferos placentários. Enfim, eram os paucitubercolados, um grupo de pequenos mamíferos insetívoros ou frutívoros, aos quais pertencem apenas os cenolestidos ou gambá-musaranho, encalhados e limitados pelos Andes. Destas faunas o mais surpreendente, sobretudo, são as convergências evolutivas de formas muito distintas. Entre elas, verso a solução anatômica semelhante, como, por exemplo, a Macrauchenia, um mamífero litopternos sulamericano muito semelhante ao lhama, um camelídeo hoje difuso nas mesmas áreas e em ambientes semelhantes. [40]

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Darwin, durante a sua viagem ao redor do mundo a bordo do bergantim H.M.S. Beagle, teve maneira de observar fósseis de Macrauchenia e notou a grande semelhança com os camelídeos, mas também que o número de dedos que apoiavam por terra era diferente. Por ter classificado erroneamente Macrauchenia entre os perissodáctilos (animais que se apoiam sobre o terreno com um número dispare de dedos como cavalos, tapirus e rinocerontes) Darwin, todavia considerou este encontro um estimulo ao raciocinar sobre a convergência evolutiva. Uma das formas de convergência evolutiva mais peculiar é representada seguramente por Thylacosmilus, um tigre com dentes de sabre marsupial. A semelhança com os verdadeiros tigres com dentes de sabre é extraordinária, sobretudo considerando que Thylacosmilus não era um felino, mas um marsupial sparassodont. Tratava-se de um animal particular, enquanto os caninos superiores desenvolviam as próprias raízes até acima das orbitas e, a diferença dos tigres dos dentes de sabre placentais era de crescimento contínuo. No passado se pensava que estes animais foram extintos pela competição direta com Smilodon, proveniente da América do Norte, mas em realidade o encontro não teria modo de acontecer porque Thylacosmilus era já extinto ao menos 1 milhão e meio de anos antes da chegada do tigre dos dentes de sabre norte-americano. A estrutura esquelética muito maciça das patas anteriores de Thylacosmilus é muito semelhante daquela dos vários tigres dos dentes de sabre e é provável que utilizassem a mesma técnica de parar a presa e imobiliza-la antes de mata-la. O istmo do Panamá tem uma dupla função: de um lado liga o norte e o sul da América, por outro lado isolou o oceano Atlântico e o oceano Pacífico. A formação do istmo, além de alterar a circulação das correntes oceânicas bloqueando a Corrente Norte Equatorial, permite a instauração da Corrente do Golfo. A formação do istmo vem em concomitância com [41]

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uma fase glacial que provocou o abaixamento do nível marinho e, na zona do Golfo do México, reduziu notavelmente o encalhe (geográfico) de muitos invertebrados marinhos. Esta situação de água baixa e quente fornece o ambiente ideal para muitos corais, já há cerca de 3,5 milhões de anos se teve a formação das barreiras coralinas no Mar do Caribe e um aumento das espécies foraminífero bentônico. A barreira coralina, fornecendo um habitat favorável, provocou consequentemente também um aumento de biodiversidade entre os outros organismos marinhos. A migração de faunas entre norte e sul da América é notada entre os estudiosos com o acrônimo de GABI (Great American Biotic Interchange). A leitura tradicional do evento supunha a supremacia dos eutérios, mamíferos, placentais, que chegavam ao sul da América e por competição levaram a extinção os metateri, os mamíferos e os marsupiais. Os eutérios tinham maiores sucessos por serem ‘‘mais evoluídos’’ e mais avançados na “escala de evolução” (já discutimos anteriormente que o grau da evolução em realidade é simplesmente função de adaptação a um próprio ambiente particular). A troca faunística entre o norte e o sul da América foi bastante balanceada. A sucessiva afirmação evolutiva dos mamíferos placentais é procurada na maior taxa de especificações que tiveram na América do Sul, provavelmente ligado também no habitat muito favorável, muito mais vastos dos que os que encontraram. Além da América do Norte, estar em contato com o continente euroasiático, do qual atingiam ocasionalmente novos grupos de animais: estes migrantes aumentavam a biodiversidade. A fauna da América do Norte era muito mais diversificada do ponto de vista do número de famílias presentes. Muitos marsupiais que conseguiam chegar ao continente norte americano ficaram lá confinados, colonizaram territórios mais restritos e andaram menos ao encontro a fenômenos de especialização. A diferença do sucesso de dois grupos não é de procurar uma “superioridade [42]

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biológica” quanto mais em fatores biológicos e ambientais. O absurdo das hipóteses de uma “superioridade biológica” vem do óbvio, avaliando a expressão da biodiversidade das Metatheria sul americana e como alguns exponentes deste grupo de convergência evolutiva tivessem assumido formas extraordinariamente parecidas as suas contrapartes formas extraordinariamente parecidas as suas contrapartes norteamericanas. As adaptações, parecidas desenvolvidas por grupos animais não aparentados, são devido ao fato de ocuparem o mesmo nicho ecológico. As soluções anatômicas funcionais para afrontar problemas semelhantes são evidentemente limitadas. Os estudos desenvolvidos em Grande Intercâmbio Americano revelaram que foi tratado de um fenômeno muito mais complexo do que suposto inicialmente. Recentemente se acertou que foram alguns precursores que conseguiram passar de um continente a outro antes que a ponte de terra se formasse completamente. Porém foi possível graças à presença de algumas ilhas formadas em seguida ao desenvolvimento de um arco vulcânico, data da colisão da zona caraíbica com a sulamericana. Essas primeiras dispersões ocorridas antes da formação do istmo não fazem parte ao GABI verdadeira, mas são das dispersões pré GABI. As dispersões pré Gabi do sul em direção ao norte foram protagonizadas principalmente pelos xenartros, todavia também cricetidos e pássaros ratitas. Os animais envolvidos nessa dispersão do norte verso ao sul fazem parte grupos mais heterogêneos, como os carnívoros, pecari e camelídeos. Estes foram os pioneiros, porém ficaram confinados geograficamente e não conseguiram difundir-se ulteriormente no continente colonizado. A causa deste bloqueio é de procurar, no clima tropical da América central, por animais bem adaptados a essas condições e que não conseguiam difundir-se nas áreas com clima e habitat diferentes. As primeiras passagens foram aquelas das Thinobladistes e Pliometanastes na América do Norte entre 8,5 e 9 milhões de anos e aquele dos procionídeos Cyonasua na América do Sul 7,3 milhões de anos. Em seguida da origem as [43]

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preguiças-gigantes Megalonyx. Por volta de 6 milhões de anos teve também a passagem dos sigmodontinos, uma subfamília dos cricetidos, que deve o seu nome a típica forma dos seus dentes molares. A passagem sucessiva é testemunho do encontro de achados no Texas do grande pássaro não voador Titanis há 5 milhões de anos. Titanis walleri era um pássaro predador de 2 metros e meio de altura e que podia pesar aproximadamente 130 quilos. Este animal notável, vulgarmente chamado de pássaro do terror, foi o único predador de grande porte a colonizar o continente norte americano. Há pouco tempo foram encontrados em Guanajuato, no México, dois xenartros: o pampatéridos Plaina e o milodontidos Glossotherium. Glossotherium, originário da América do Sul, chegou ao México entre 4,8 e 4,7 milhões de anos e ficou confinado; os recorrentes achados no Arizona se referem a três milhões de anos. As trocas pré GABI entre 4 e 3 milhões de anos se intensificaram e viveram na paisagem por ao menos outros 6 migrantes. Entre estes, era o gliptodonte Gliptotherium que teve o seu desaparecimento em Guanajuato, há cerca de 3,9 milhões de anos e presente no México até 2,7 milhões de anos, quando, finalmente, conseguiu ocupar a América do Norte. Sempre em Guanajuato se registra a presença do roedor idroceridos Neochoerus. Neste seguiu o xenartro Pampatherium. Da América do Norte teve invasão de um taiassuídeo, o pecari Platygonus, 3,7 milhões de anos o camelídeos Lama. A grande divisão, além de zonas equatoriais dessas duas espécies é de procurar no entre ‘’Optimum’’ Climático Plioceno (3,25-3,05 milhões de anos) que provocou a formação de ambientes de savana funcionando como verdadeiros e próprios corredores ecológicos para atravessar o continente. Esses migrantes do norte encontraram uma continuidade ambiental que facilitou a sua dispersão. Basta considerar que os pecaris Platygonus conseguiu atingir até a Argentina há 3,1 milhões de anos. [44]

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O GABI propriamente dito é sucessivo a formação do istmo do Panamá, enquanto implica a passagem através dessa ponte de terra. Atualmente se pode subdividir esse fenômeno em quatro fases, sendo possível considerar como a pulsação provocada pelos ciclos glaciais. Durante o avanço glacial as savanas secas se difundiram até outras latitudes tropicais e as florestas pluviais contraíram-se até a transformação de áreas refúgio. As fases do GABI testemunham sedimentos de ambientes de savana no meio da região americana, o que fugia assim dos corredores ecológicos. Isso era em continuidade com ambientes semelhantes, que se estendiam no continente. A savana brasileira ou cerrado, com 2 milhões de km², atualmente cobre cerca de 23% do território do brasileiro, representa um bioma muito antigo e rico em biodiversidade. Durante as fases glaciais a savana localizada no meio do continente americano estava em contato com a brasileira e as espécies em dispersão tinham a sua disposição amplos espaços para colonizar. Ao contrário, indo em direção a América setentrional, era distribuída sobre um areal muito mais reduzido, constituindo então um obstáculo para a dispersão da fauna. Os areais disjuntos de muitas espécies atuais testemunham que as várias áreas de savana deveriam estar ligadas entre elas. Uma ulterior vantagem da glaciação foi dada pelo abaixamento do nível marítimo, que também teve relação com a porção do istmo emersa, como fosse maior, alargando sensivelmente a ponte natural entre os dois continentes. A maior capacidade de difusão em direção ao sul foi possível graças à presença da Cordilheira dos Andes, que atravessa todo o continente. Estudos sobre pólen fósseis encontrados na Colômbia e nas divisas de Bogotá mostraram que na sucessão altitudinal foi mantida, também durante as épocas glaciais, uma variedade de ambientes que permitiu a dispersão da fauna. O GABI I, verificado entre 2,6 e 2,4 milhões de anos, possibilitou outra ponte de terra, formada também das [45]

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mudanças climáticas concomitantes. O GABI I foi bem balanceado, com 4 famílias de mamíferos do norte (canídeos, mustelídeos, equídeos e gomfoterídeos) e quatro da América do Sul (dasipodídeos, pampaterídeos, gliptodontídeos e megaterídeos). Entre os grupos provenientes do norte, os carnívoros eram representados por canídeos, com o gênero Pseudalopex, semelhantes a uma raposa e, de mustelídeos, com o gênero Galictis. Entre os herbívoros tinha o grupo dos perissodáctilos com os equídeos (Hippidion e Onohippidion) e os proboscídeos com um gomfoterídeos, um mastodonte com dois pares de patas. Entre as famílias provenientes do sul, eram dasipodídeos (com o gênero Dasypus, com aparência também do moderno armillo), os pampaterídeos (Holmesina), os megaterídeos (Heremotherium, uma espécie de preguiçasgigantes) e os gliptodontídeos (Pachyarmatherium). Sempre durante o GABI I, em virtude das condições climáticas favoráveis e das instaurações do habitat favorável, teve a difusão na América do Norte do Glyptotherium, surgido na época pré GABI, mas ficou confinado no México. O GABI II, acontecido a cerca de 1,8 milhões de anos, teve uma preponderância de espécies do norte. O contingente proveniente do norte era composto de ursídeos (Arctotherium), felídeos (Felis, Puma, Panthera e o do tigre dos dentes de sabre Smilodon), os pícaros Catagonus, camelídeos (Paleolama e Hemiauchenia), cervídeos (Epiuryceros e Antifer), o tapirus (Tapirus) e os proboscideos gomfoterídeos (Stegomastodon e Cuvieronius). Do sul, conseguiram chegar os milodontidos Paramylodon (em que alguns autores propuseram que sejam originários de uma evolução local de Glossotherium, agregados durante a fase pré GABI) foi sedimentado Myrmecophaga, com uma dieta a base de formigas. O tigre dentes de sabre, na América do Sul, esteve presente com a espécie Smilodon populator, foi um dos maiores [46]

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felinos que aparece sobre a Terra. Entre 1.5 e 1.3 milhões de anos passaram diversos grupos singulares, seja em direção sul ou ao norte, mas se trata de fenômenos e episódios que não entram no interior das fases do GABI. O GABI III, verificado em 800 mil anos, sempre foi a favor das espécies da América do Norte. O único grupo que colonizou a América do Norte nessa fase foi o opossum Didelphis, enquanto na América do Sul chegavam os jaguarundis Parailurus, os cervídeos Paraceros e um taiassuídeos Pecari. O Gabi IV aconteceu há mais ou menos 125 mil anos e teve uma exclusiva passagem em direção ao sul. Os carnívoros foram representados por 3 famílias: mustelídeos (como a lontra Lutra), canídeos (Canis) e felídeos (com jaguatirica Leopardus). Depois os equídeos (Equus), leporídeos (Sylvilagus). O único xenartro envolvido no GABI IV foi um gliptodonte (Glyptotherium), porém viajou da América do Norte em direção ao sul. As passagens da fauna entre norte e sul da América foram limitadas a estes 4 episódios principais e, com a exceção de poucos casos, nos intervalos não aconteceram passagens. A situação que podemos observar hoje é semelhante aquela dos intervalos entre os vários fluxos de dispersão, com a região mesoamericana ocupada por florestas tropicais que fogem pela passagem de animais adaptados a viver em ambientes mais áridos. Tal situação já era notada do paleontólogo americano George Gaylord Simpson (1902-1984) com a palavra de pontes filtrantes para escrever uma ponte continental que não permite uma troca de fauna livre, mas só uma troca restrita e determinada de formas biológicas. Outro exemplo notável de ponte filtrante, além do istmo do panamá é representado pela península arábica, com o seu ambiente desértico, não permite a passagem de animais de floresta da África para a Ásia ou vice versa. O Gabi tradicionalmente é referido aos mamíferos. No entanto recentemente se é interrogado também sobre [47]

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influência que isso pode ter acontecido por outros grupos de animais. O fator limitante é representado do registro fóssil pelos mamíferos continentais. Para outros grupos, como, por exemplo, os pássaros, são praticamente ausentes em particular modo por aqueles da região equatorial. Para estudar os efeitos da formação de ponte de terra sobre animais Passerinae se fez então um recurso a técnicas moleculares. As famílias ligadas a ambientes de floresta tropical (Thamnopihlidae e Dendrocolaptidae) efetuaram uma troca só depois da formação da ponte de terra porque um braço de mar representa para eles uma barreira insuperável, famílias mais gerais do ponto de vista da escolha do habitat (Thraupidae e Icteridae) tiveram um maior grau de dispersão, chegando a colonizar também as ilhas do caribe. Também o caso dos Passerinae confirma que a dispersão geográfica é ligada a continuidade de um habitat. Grupos especializados em viver em um determinado ambiente são blocados também por pequenas barreiras geográficas, para eles intransponíveis. Interessante notar que para Passerinae das regiões tropicais a maior difusão foi a da América do Sul em direção ao Norte, ao contrário de verificado para os Mamíferos. Outras colisões entre continentes: África e Eurásia... A África foi um continente isolado a partir do Eoceno Superior tinha desenvolvido uma fauna autóctone. Cerca de 19 milhões de anos a falha do Mar Vermelho já era ativa do Oligoceno Superior que se abre ulteriormente provocando a rotação anti-horária da placa árabe e a sua colisão com a placa anatólica. A passagem marítima, o mar Mediterrâneo e o oceano Indo-Pacífico se fecham com a formação de uma ponte de terra ligando a Eurásia à África. Essa passagem é notável, como a ponte dos gonfoteros, enquanto os proboscídeos foram os primeiros a passar. A [48]

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formação dessa ponte, mesmo no caso do istmo do panamá, teve importantes repercussões sobre a fauna. Muitos antepassados dos grandes mamíferos, que atualmente associamos as savanas africanas, vieram da Eurásia. Também as faunas da África difundiram-se na Eurásia chegando, em alguns casos, através do estreito de Bering, colonizando também o ‘’Novo Mundo’’. O gênero Homo se originou na África, para depois difundir-se com sucesso em todo o planeta. As trocas faunísticas entre África e Eurásia foram múltiplas e sobre uma escala temporal longuíssima; e serão estudados brevemente em 4 fases. Antes do contato Eurásia e África não tinham zebras, rinocerontes e suídeos. Os herbívoros mais difundidos eram os hyraxes, diferenciados em um grande número de espécies de diversos tamanhos e morfologias. Tinham depois antracoterídeos de aspectos semelhantes aos hipopótamos, e aos proboscídeos primitivos, muito menores do que os elefantes atuais e ainda não haviam desenvolvido a característica proboscídea. Entre os proboscídeos existiam também animais como Arsinoitherium, de aspecto similar ao atual rinoceronte, porém com dois grossos chifres ósseos na cara. Os carnívoros presentes pertenciam à ordem atualmente extinta creodonta, um grupo bem distinto da atual ordem carnívora. Os creodontes eram diferentes dos atuais carnívoros pela dentadura, enquanto nos carnívoros os pares de dente carnassiais são sempre constituídos do quarto prémolar superior e do primeiro molar inferior, nos creodonta existiam dois pares do primeiro e segundo molar superior e do segundo e terceiro molar inferior. Entre os grupos que se difundiram na Europa neste primeiro período podemos contar os proboscideos gomfoterídeos e os primatas hominoides. Gomphotherium era um proboscídeo de tamanho de um elefante indiano dotado de 4 patas, um par superior e um par inferior. Pouco depois da passagem dos gomfoterídeos foram à vez de outro grupo de [49]

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proboscídeos, os deinoteris. Deinotherium giganteum, estes poderiam chegar a quatro metros de altura e eram caracterizados por um único par de chifres inseridos na mandíbula e voltados para baixo. Com os primeiros proboscídeos chegaram também os lagomericídeos, cervídeos primitivos que conviviam com os mosquídeos, ainda com algumas características primitivas, como os longos caninos superiores nos machos. Neste período na Europa chegaram também os migrantes na América do Norte, entre eles os equídeos Anchitherium. Sabe-se também que no primeiro desaparecimento do tragulídeos Dorcatherium, um grupo de ruminantes primitivos, hoje confinados nas florestas tropicais africanas e do sudeste asiático. Da Ásia, chegaram à Europa girafas e bovinos. As girafas, provavelmente, originando-se no Paquistão com Progiraffa, se difundiram na Europa com os gêneros Teruelia e Lorancameryx. Os bovinos provavelmente originando-se na Ásia colonizaram concomitantemente Europa e Ásia. Muitos mamíferos atualmente típicos da África chegaram da Ásia e da Europa. Com a formação da ponte, há cerca de 19 milhões de anos, entre os primeiros grupos a invadir a África foram os perissodáctilos, ungulados, caracterizados por ter um número impar de dedos. Entre os perissodáctilos que invadiram a África, aparecem os primeiros rinocerontes e calicoterídeos. Os calicoterídeos são um grupo de animais que se extinguiram há 2 milhões de anos, que tinham um aspecto muito bizarro. A cabeça semelhante à de um cavalo, as patas anteriores muito longas indicavam uma locomoção semelhante a do gorila, dotado de grossos artelhos que provavelmente serviam para escavar. Entre os primeiros artiodátilos, os unfulati com números pares de dedos, que invadiram a África foram os climatocerídeos (um grupo estreitamente aparentado com as girafas, antílopes e suídeos primitivos). Entre os primeiros [50]

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verdadeiros carnívoros a entrar na África foram os felídeos, os mustelídeos e anficionídeos; estes, porém não substituíram imediatamente os creodontes, que continuaram a prosperar com a família dos nimravídeos. Durante o Mioceno Médio, cerca de 15 milhões de anos, os movimentos tectônicos levaram importantes mudanças ambientais na África. Neste período o fechamento do mar de Tétis, levou uma modificação na circulação das massas das áreas úmidas e da distribuição das chuvas, se instaurou uma estacionalidade, ou seja, a definição das estações. A consequência sobre a vegetação foi uma fragmentação das florestas, assim como uma difusão das pradarias e da savana arborizada. Nesse período chegaram às primeiras hienas, representadas inicialmente de pequenas espécies, insetos ou onívoras semelhantes aos mangustos. Os mastodontes, proboscídeos da floresta com dentes adaptados a mastigação de folhas tenras, deram origem aos vários elefantes, caraterizados por uma dentadura altamente especializada por uma dieta básica de vegetais muito mais abrasivos. Há cerca de 10 milhões de anos atingiu ao primeiro equídeo, Hippotherium primigenium, com 3 dedos por pata. Os equinos se originaram na América do Norte e depois se difundiram em todo o mundo em ondas migratórias sucessivas. Em cerca de 8 milhões de anos teve inicio uma terceira onda migratória veio firmar-se com muitos herbívoros típicos da savana. Da Ásia chegaram à África as primeiras girafas, caracterizadas por corpos maciços, pescoço curto e chifres de aspecto bizarro como, por exemplo, Sivatherium. No mesmo período chega também o antepassado do atual rinoceronte branco. A partir de 6,5 milhões de anos chegaram numerosas subfamílias dos antílopes: ippotraginos, reduncinos, alcelafinos e epicerotinos. Os antílopes epicerotinos, desde que apareceram não tiveram mostrado modificações, talvez porque a única espécie dessa subfamília a impala (Aepyceros melampus), [51]

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com a sua dieta generalista e pouco especializada conseguiu adaptar-se a mudanças climáticas e ambientais. Ao contrário, as outras subfamílias de antílopes, extremamente especializadas na dieta, estiveram sujeitas a elevadas taxas de especialização e extinção. Contemporaneamente se teve uma ulterior invasão de hienas e felinos. As hienas deste período tiveram aspecto muito semelhante aos caninos (mesmo as hienas pertencendo à subordem dos feliformes) e entre os gêneros principais estão os Ictitherium, Hyaenictitherium, Lycyena e Hyaenictis. Entre os felinos agregados neste período foi o tigre dos dentes de sabre Machairodus. A última dispersão se teve na passagem entre Plioceno e Pleistoceno e comportou a definição atual faunística na África. A desertificação do Saara, entre 2.5 e 2 milhões de anos, teve a consequência de separar os vários biomas. O gênero Homo saiu da África em três momentos notáveis na literatura científica com o Out of África. No primeiro Out of África se verificou mesmo por volta de 2 milhões de anos: algumas populações de Homo ergaster, talvez mesmo para fugir para o não árido do Saara, que se difundiu em direção leste. A colonização da China se diferenciou na espécie Homo erectus. O caminho do Homo ergaster em direção a Europa se pode seguir graças a uma série de sítios mais recentes e da acumulação de pequenas diferenças morfológicas e, por volta de 1,85 milhões de anos há o testemunho encontrado em Dmanisi, na Geórgia, de uma espécie humana arcaica, denominada Homo geórgicus, se tratando de um momento da mais antiga presença humana encontrada fora da África. Muito provavelmente o Homo geórgicus é uma espécie derivada do Homo ergaster, com quem divide muitos caracteres anatômicos, se difundindo verso a Europa, aonde teve origem ao Homo antecessor. As sucessivas testemunhas da presença do gênero Homo na Europa encontram-se na Espanha (Atapuerca), na Itália (Pirro Norte) e na França (Pont d’ Cavaud e Le Vallonet). [52]

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O segundo Out of África se coloca em cerca de 700 mil anos e vê o ingresso na Europa do Homo heidelbergensis, depois dará origem ao Homo neanderthalensis, que então não é um antepassado da nossa espécie. O terceiro e último Out of África acontece em cerca de 100 mil anos, em que aparece como protagonista a nossa espécie Homo sapiens, originando-se na África há aproximadamente 200 mil anos. O sucesso do Homo sapiens foi enorme, tanto que colonizou todo o planeta em tempo relativamente breve. Na Europa Homo sapiens chega há 45 mil anos. Paulatinamente o homem de Neandertal restringe-se sempre mais a sua área, até desaparecer por completo há próximo de 35 mil anos. Por volta dos 45 mil anos o Homo sapiens atinge também a Austrália. No novo mundo, a América do Norte é atingida por volta dos 25 mil anos e a América do Sul a partir dos 15 mil anos. Paulatinamente o Homo sapiens se difunde pelo mundo e assiste a extinção da megafauna; todos mamíferos de grandes dimensões desaparecem em concomitância com o aparecimento da nossa espécie, que encontrou assim uma presa fácil e disponível, enquanto no resto do mundo, como já foi dito, depois das grandes glaciações se assiste a extinção da megafauna, com notável perca da biodiversidade, a frisar que na África isso não acontece. A extinção na África atinge poucos grupos, em muitos casos se teve apenas as extinções locais. Conclusão... A interação entre os organismos viventes e ambientes em que vivem são múltiplas e complexas. A visão moderna e dinâmica dos ecossistemas da evolução dos organismos pela seleção natural e da geologia, aos antípodas, a respeito da visão precedente, que era estática. A concepção do mundo como criação perfeita desejada por Deus, desde o início, assim como a conhecemos hoje, resulta-se difícil de [53]

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conciliar com a teoria da evolução. No fim do século XVIII era difusa a teologia natural, cujo objetivo era indagar a existência e a natureza de Deus a partir da sua criação. A obra mais célebre sobre argumento é seguramente aquela do pastor anglicano Wiliam Paley (1743-1805) publicada em 1802: Teologia natural ou evidência de existência e atributos do divino. Paley recorre a uma argumentação famosíssima: se em pleno campo debatermos em um relógio, não pensamos que este seja originado espontaneamente, mas que seja feito por um relojoeiro; analogicamente as estruturas complexas dos organismos não possam ser formadas de só fruto da obra de um relojoeiro, ou seja, de um criador. Paley era um grande observador da natureza e forneceu numerosos exemplos de adaptações a favor das suas hipóteses. A leitura da sua obra influenciou Darwin que, então, na “Origem das espécies”, levou uma pletora de exemplos contrários de atos a demonstrar que é tudo outra coisa perfeita. O mecanismo da seleção natural é simples, mas extremamente eficaz para uma prestação de contas em termos naturalísticos (e, porém, sem ter que recorrer a um “relógio divino”) de todos os casos de adaptação que observamos na natureza, o relógio enquanto objeto inanimado necessita de um relojoeiro, um organismo vivente enquanto complexo não, os organismos viventes se modificam devagar durante o curso das gerações em resposta aos estímulos ambientais. Se os observamos bem e se os prendemos em consideração os testemunhos fósseis, descobrimos que adaptações e imperfeições derivam da sua história evolutiva. Os organismos não são perfeitos sobre todos os pontos de vista. Nem a sua presumida perfeição é indício de um interventor, criador particular da parte de um “projetista divino” como indicado pelos sustentadores do assim dito “desenho inteligente”; esses, porém, são a confirmação da acomodação de estruturas já existente. A teoria elaborada por Darwin funciona bem, se uma prestação de contas das adaptações descritas por Paley seja das imperfeições enquanto se considera os organismos como o fruto de uma história. O [54]

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conceito de história evolutiva é o nó central da compreensão. A paleontologia se revela uma disciplina complexa, que deve conciliar as metodologias de estudos histórica, do biólogo e do geólogo. O resultado da interação destas disciplinas que fornecem uma fascinante descrição da historia da vida do nosso planeta. Todas estas disciplinas confirmam que a historia da Terra é muito mais longa do que poucos milhões de anos, hipnotizados inicialmente; atualmente se estima que ela tenha uma idade de cerca de 4 milhares e meios de anos. A vida precede de como se foi originada, mostra-se muito ligeira (cerca de 4 milhares de anos) mas foi só entorno de 2.7 milhares de anos que se desenvolveu os primeiros organismos pluricelulares. Com o advento pluricelular, se teve uma radiação evolutiva, os primeiros que apareceram muitos organismos e se diversificaram enormemente, indo ocupar as conchas ecológicas disponíveis. Os organismos fotossintéticos, absorvendo anidrido carbônico e produzindo oxigênio como elemento de descarte, modificou a composição da atmosfera, transformando-a em semelhante a atual. Também do ponto de vista geológico, as mudanças foram muito importantes, as colisões entre as placas tectônicas trouxeram para a formação de cadeias de montanhosas, em outros pontos se formaram arcos vulcânicos, novos oceanos foram abertos, etc. Algumas variações na excentricidade da órbita, na precessão dos equinócios e na inclinação orbital tiveram a definição de alguns grandes ciclos (ditos ciclos de Milankovitch), periodicamente terminaram alternância dos períodos glaciais e interglaciais. Todas estas mudanças geográficas e climáticas alteraram as condições de ambientarse, constrangendo os organismos que se adaptava a mudança. Os organismos mais adaptável e restrito a condições ambientais são chamados estenoecios enquanto aqueles menos seletivos nos confrontos dos parâmetros ambientais são [55]

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chamados euriecios; os primeiros são muito avantajados em um ambiente estável, mas são extremamente vulneráveis as mudanças ambientais, enquanto os segundos são mais resistentes. Organismos muito especializados serão, então, sujeitos a taxas de extinção mais elevadas em quando bastará uma pequena mudança a colocar em balanço o seu delicado equilíbrio com o ambiente. Também as taxas de evolução, porém serão maiores para estes organismos, enquanto a seleção natural operante será muito forte. Condições ambientais muito estáveis no tempo levam a evolução do ecossistema inteiro, até o estagio assim dito “de clímax”, alcançado quando a seleção de todos componentes bióticos estão em equilíbrio entre eles. Atualmente os ecossistemas mais complexos e ricos de biodiversidade são aqueles da floresta tropical e das barreiras coralinas, Como temos visto no Grande Intercâmbio Americano, variações nas extensões dos vários ecossistemas são naturais e são revestidas de uma função importante, causando a difusão e o isolamento de grupos animais e vegetais. Atualmente estes ecossistemas estão ameaçados por um fator que esta alterando as condições naturais: o Homem. A extinção das florestas e a poluição estão causando a perda de um incredível patrimônio de biodiversidade. A perda do habitat é uma das principais causas da extinção. As populações que restam, isoladas em pequenas áreas distintas entre elas, estão majoritariamente sujeitas ao risco de extinção, enquanto ao verificar eventos acidentais, ocorre um impacto maior sobre as pequenas populações. A paisagem tornou-se antrópico. A paisagem natural hoje não existe mais quanto tal, se não em algumas áreas remotas do planeta. O impacto do homem sobre os vários ecossistemas é muito forte; então é importante que procuremos fazer o nosso melhor para encontrar novas maneiras de salvaguardar o nosso planeta, na constante procura necessária de um equilíbrio entre colonização e tutela, entre exploração dos recursos e do respeito dos mesmos. [56]

ENSAIOS DA PAISAGEM – OLHARES E VALORES DESDE A PRÉ-HISTÓRIA

Agradecimentos Os meus mais sentidos agradecimentos para Amerigo Barzaghi, Stefano Rossignoli, Sara Daffara e, aos meus genitores que leram o primeiro texto e que me deram conselhos uteis e sugestões. BIBLIOGRAFIA Agustí J. & Antón M. (2002). Mammoths, sabertooths, and hominids: 65 million years of mammalian evolution in Europe. Columbia University Press. Argot C. (2004). Functional-adaptive features and palaeobiologic implications of the postcranial skeleton of the Late Miocene sabretooth borhyaenoid Thylacosmilus atrox (Metatheria). Alcheringa: An Australasian Journal of Palaeontology, 28(1): 229-266. Cody S., Richardson J.E., Rull V., Ellis C. & Pennington T. (2010). The Great American Biotic Interchange revisited. Ecography, 33: 326-332. Collins L.S., Budd A.F. & Coates A.G. (1996). Earliest evolution associated with closure of the Tropical American Seaway. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, 93: 6069-6072. Gould S.J. (1980). Il pollice del panda. Il Saggiatore. Gould S.J. (1983). Quando i cavalli avevano le dita. Feltrinelli. Gould S.J. (2003). Otto piccoli porcellini. Il Saggiatore. [57]

ENSAIOS DA PAISAGEM – OLHARES E VALORES DESDE A PRÉ-HISTÓRIA

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