PALESTRA | WORKSHOP | Patrimônio Material e Expressão Gráfica

July 15, 2017 | Autor: Simone Prestes | Categoria: Cultural Heritage, Architecture and urbanism, Social and Culture Anthropology
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Universidade Federal da Fronteira Sul | UFFS

WORKSHOP Patrimônio Material e Expressão Gráfica

MESA REDONDA Patrimônio Histórico

MSc. Arq. Urb. Simone Litwin Prestes

Erechim, 13 de junho de 2015

“A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras”. Italo Calvino. As cidades e a memória 3. In: As cidades invisíveis, 1990.

Sentidos e imagens do patrimônio cultural em Erechim/RS na iminência de sua preservação institucional Capítulo 1 | A patrimonialização de um conjunto arquitetônico A cidade vivida se torna objeto de pesquisa Aspectos institucionais do patrimônio cultural O processo de patrimonialização em Erechim História urbana e patrimônio cultural O Plano Urbano e a Arquitetura de Madeira Da Arquitetura de Madeira à de Alvenaria Da Arquitetura de Alvenaria à Verticalização A centralidade do sítio cultural Capítulo 2 | Arquitetura de Madeira ou as casas que desafiam o tempo Casas humanizadas: patrimônio material e imaterial Arquitetura de Madeira em Erechim A preservação da Casa Rigoni O coletivo, o individual e o familiar A palavra evitada: tombamento

Capítulo 3 | Agentes do patrimônio cultural em Erechim O patrimônio como marca da cidade Competitividade entre cidades: a atividade turística O patrimônio como experiência cotidiana

História Urbana e Patrimônio Cultural Estes campos estão intimamente ligados, pois é a partir das transformações e permanências verificadas no espaço urbano, durante determinado período histórico, que é realizada a seleção das edificações consideradas como bens patrimoniais. Em Erechim, o COMPHAC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural), concluiu em 2009 o IPAC (Inventário de Proteção do Acervo Cultural), indicando 142 edificações para tombamento e que deixa clara a intenção de aliar a preservação patrimonial e seu potencial turístico às políticas de desenvolvimento econômico municipal. A miscigenação de estilos arquitetônicos foi o alvo da seleção, sendo utilizada como referência para a classificação do conjunto patrimonial: (1) Arquitetura Art Déco, (2) Arquitetura Eclética, (3) Arquitetura da Colonização, (4) Primeiras edificações em alvenaria, (5) Arquitetura Modernista, (6) Áreas de Interesse Cultural e de Preservação Natural, e (7) Arquitetura de Interesse Cultural Rural.

História Urbana e Patrimônio Cultural Todos os estilos arquitetônicos indicados no IPAC são reconhecidos pelo IPHAN em outras cidades brasileiras, fato que insere o conjunto erechinense em uma rede de sentidos ampla, que se refere à identidade e à memória nacional. A quantidade e a justificativa evidenciam certa hierarquização valorativa onde a Arquitetura Art Déco aparece como “estilo principal”. Há edificações públicas e de propriedade privada; com usos variados: administrativo, comercial, residencial, de lazer, educacional, hospitalar e fabril; e que se encontram em diferentes estados de conservação e de autenticidade Os bens estão dispersos, localizados entre outras edificações antigas e contemporâneas, não havendo delimitação de um centro histórico. Entretanto, a maioria das edificações está localizada no plano urbano original da cidade, tratado por mim como sítio cultural.

História Urbana e Patrimônio Cultural As edificações classificadas como bens patrimoniais no IPAC ainda não tiveram sua lei de tombamento promulgada, no entanto Leis Municipais protegem os seguintes bens : (1) Linha ferroviária; (2) Romaria de Nossa Senhora de Fátima, bem imaterial; (3) Centro de Tradições Gaúchas – CTG – Galpão Campeiro; (4) Centro Educacional São José. O prédio da antiga Comissão de Terras e Colonização, popularmente conhecido como “Castelinho” foi tombado por Lei Estadual em 1991. A edificação foi protegida por ser representativa da política imigratória no Rio Grande do Sul, que determinou a ocupação da região por imigrantes europeus e/ou seus descendentes. Nas ações municipais existe uma “retórica da perda”, nos termos de Gonçalves (1996), que diz respeito ao esforço de salvar referencias culturais importantes que correm o risco de desaparecimento ou de esquecimento; que se justifica pelas diversas ações de demolição e descaracterização de edificações antigas em Erechim.

História Urbana e Patrimônio Cultural O conjunto de bens selecionados no município de Erechim foi sistematizada em quatro imagens do sítio cultural, com ênfase na avenida central, através das quais se realiza uma leitura do desenvolvimento urbano e dos bens presentes no inventário, ressaltando as transformações e permanências. As cidades se transformam em função das práticas, necessidades, desejos e poderes dos diversos agentes sociais. Sendo que a organização da vida social e a gestão da produção coletiva são imbricadas ao espaço, assume-se que a materialidade e a existência social e política são indissociáveis.

A cidade é um produto social em constante transformação, que responde a usos práticos e simbólicos. A história urbana está nos espaços – materialidade, e na vida cotidiana, relações sociais e significados que os envolvem – imaterialidade.

História Urbana e Patrimônio Cultural O desenho urbano e as tipologias arquitetônicas são, ao mesmo tempo, os lugares da vida cotidiana e um registro. Assim, proponho

pensar a cidade como uma forma de escrita, composta por textos de diferentes tempos, fixados como memória durante o próprio ato de habitar Os elementos urbanos contém a experiência de quem os construiu e dos que neles viveram, denotando visões de mundo e modos de vida. A preservação patrimonial fixa textos com diferentes significados históricos, artísticos e culturais impedindo que sejam apagados. Em Erechim, os bens patrimoniais estão dispersos entre outras edificações de diferentes períodos, inclusive muitos prédios em altura, e localizados em sua maioria no sítio cultural. As quatro imagens do sítio cultural, objetivam uma leitura cronológica da história urbana, do sítio cultural e do conjunto patrimonial.

O Plano Urbano e a Arquitetura de Madeira -- Brasil no fim do século XIX, o Brasil se organizava segundo o novo regime republicano. Ferrovia São Paulo/Rio Grande, parte do projeto de unificação nacional. -- Comissão de Terras e Colonização, órgão do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e empresas colonizadoras.

-- Estação Ferroviária Paiol Grande (1910), que deu origem a Erechim. -- Projeto da Sede Geral na Estação Paiol Grande (1914), organizado pelo Eng. Carlos Torres Gonçalves. -- A atual Av. Maurício Cardoso estava consolidada com edificações de madeira de dois pavimentos, que abrigavam atividades comerciais no térreo e residências no pavimento superior. -- IPAC: Arquitetura da Colonização (12 bens); Arquitetura de Interesse Cultural Rural (2 bens); Primeiras Edificações em Alvenaria (3 bens).

Da Arquitetura de Madeira à de Alvenaria -- A diversificação e a expansão das atividades econômicas atraíram novos moradores e investidores. Outros desenhos de traçado viário foram sendo agregados ao plano urbano original, mas este se mantém como principal organizador do sítio cultural e da cidade. -- Dois grandes incêndios na década de 1930, ocasionaram a completa substituição das edificações de madeira por edificações de alvenaria na Av. Maurício Cardoso. As edificações mantiveram comércio no térreo e habitação acima, forma de organização dos espaços privados pelas famílias de imigrantes. A transformação material do espaço urbano foi ocasionada e acompanhada por uma valorização simbólica. -- A sede da Prefeitura Municipal, construída entre 1929-32, pretendia refletir o poder republicano através de suas características monumentais e do brasão da república no centro da fachada principal. -- IPAC: Arquitetura Eclética (22 bens).

Da Arquitetura de Alvenaria à Verticalização -- Apesar da expansão horizontal da cidade o sítio cultural se mantem como concentrador de atividades comerciais, de serviços, educacionais, administrativas e de lazer. -- As edificações na avenida central mantiveram a organização de usos, comercial no térreo e residencial superior com até 4 pavimentos.

-- Década de 1950 obras de qualificação do traçado viário no sítio cultural e da Praça da Bandeira. Parque Municipal Longines Malinowski (1948). -- Não consta no IPAC a Igreja Matriz Catedral São José (1969-77) construída após demolição da edificação em estilo Neobarroco (1927-42). -- A verticalização trouxe profundas modificações ao sítio cultural. Este processo, ainda em curso e cada vez mais acentuado, teve início em 1957 com a construção do Condomínio Erechim, de 12 pavimentos -- IPAC: Arquitetura Art Déco (66 bens); Arquitetura Modernista (22 bens).

(...) publicação de desenhos da cidade ou de elementos que a recordarão tal como ela existe atualmente. Ora, o que tem interesse para nós é tudo o que diz algo sobre o conteúdo material e humano da sociedade urbana pois estudá-la, em todos os seus aspectos, é a função primeira do urbanista. Sendo a urbanística uma ciência social e, simultaneamente, uma arte plástica, estamos ainda estudando quando desenhamos trechos da cidade ou unidades características de seu povo, para aprender composição da maneira mais prática e objetiva. (...) documentário de uma época (...) Francisco Riopardense de Macedo (Eng. Urbanista) Revista de Erechim. ano 1, n. 2, pg. 13.

Bibliografia BELLO, Helton (1997). O ecletismo e a imagem da cidade: caso Porto Alegre. Dissertação (Mestrado). UFRGS, Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional BENTANCUR, Paulo; et all (1999). Erechim: no coração do MERCOSUL. Erechim: Edelbra. FÜNFGELT, Karla (2004). História da Paisagem e Evolução Urbana da Cidade de Erechim – RS. Dissertação (Mestrado). UFSC, Programa de Pós-Graduação em Geografia. GARCEZ, Neusa (2008). Marcos do colonizador: o “Castelinho” e a Casa. Erechim: EdiFapes.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos (1996). Retórica da perda. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ. HACHMANN, Rosely (2007). Resgate e Preservação da Memória Urbana e Arquitetônica do Centro Histórico de Erechim. Monografia (Especialização). UFRGS, Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional.

MENEGATI, Altair José; et al (2000). Álbum fotográfico da história de Erechim. Erechim: Editora Edelbra. PRESTES, Simone (2012). Sentidos e imagens do patrimônio cultural em Erechim/RS na iminência de sua preservação institucional. Dissertação (Mestrado). UFSC, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. WEIMER, Günter (2004). Origem e evolução das cidades RioGrandenses. PoA: Livraria do Arquiteto.

[email protected] ufsc.academia.edu/moneprestes

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