Para além da “arte”: habitus e imagem

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Actas do IV Congresso de História da Arte Portugesa em Homenagem a José-Augusto França

23 NOVEMBRO SESSÃO TEMÁTICA 11 – “VAI E VEM”: QUESTÕES DE CULTURA VISUAL

Para além da “arte”: habitus e imagem Maria Inês Afonso Lopes École des Hautes Études en Sciences Sociales (GAHOM), França Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, Faculdade de Letras, Universidade do Porto Bolseira FCT A partir de um esforço conjunto, nas últimas décadas, destacaram-se académicos que numa tentativa de trabalho multidisciplinar começam a questionar a auto referência do campo disciplinar da história da arte, numa ainda paulatina viragem disciplinar1. A historiografia da arte começa a analisar os objectos artísticos por outros prismas, no entanto, a compreensão do que define uma obra de arte e qual o objecto de estudo da disciplina, continua a partir de pressupostos ambíguos que tornam a historia da arte uma prática disciplinar sem um quadro epistemológico indeterminado. Impõem-se, assim, várias questões: afinal quais são os prossupostos para a definição de um objecto enquanto arte? Qual é a diferença entre esta categoria e a cultura material/visual? A partir da perspectiva da história da arte, podemos considerar incluir na produção científica objectos criados com outra funcionalidade – como Hans Belting refere uma história da arte antes da época da arte sem cair na anacronia? Qual é o papel da agencialidade dos objectos na categorização artística? Como conseguir encontrar uma visão metodológica que evite a tendência, muitas vezes recorrente, de explicar a arte pela arte? Qual o lugar da crença2 e do capital simbólico3 na sua catalogação? Se a partir das novas premissas teóricas a história da arte começa a reformular as abordagens ao objecto da disciplina, impõem-se novas questões: partindo da premissa, cada vez mais comum, de que os objectos não têm significado per se4, dependendo de várias condicionantes estruturais e fenomenológicas que levam os agentes a lhe atribuir significados e funções, porquê a tão radical diferença na catalogação (arte, artefacto etnológico, etc.) dos objectos de cultura material/visual? A historiografia da arte portuguesa não é excepção, na necessidade de um debate que abarque estas questões. Devido à natureza do seu património, maioritariamente vernacular e em constante processo de artificação5, o discurso académico assentou na valorização artística dos objectos. O quadro científico português desenvolveu grande parte da sua produção na centralidade dos estilos, formas, encomendadores e artistas, esquecendo frequentemente a relação que estes mantem com as estruturas, e com os usos dos objectos. Pode-se notar na sua produção científica um sistema

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Entre eles destacam-se Hans Belting com a sua abordagem à antropologia da imagem; Georges DidiHuberman ao “recuperar” para o debate científico a obra de Warburg ou W.J.T. Mitchell com os seus estudos de cultura visual. 2 BOURDIEU, Pierre – Les Règles de l’art. Genèse et structure du champ littéraire. Paris : Éditions du Seuil, 1998. 3 Segundo a concepção bourdieusiana: BOURDIEU, Pierre – O poder simbólico. Lisboa: Edições 70, 2011. 4 Cf. BELTING, Hans – La Vraie image: croire aux images?, Paris: Gallimard, 2007; e BELTING, Hans – Pour une anthropologie des images. Paris: Gallimard, 2004. 5 Sobre este conceito, ler o Posfácio: HEINICH, Nathalie; SHAPIRO, Roberta – “Quand y a-t-il artification?” in HEINICH, Nathalie; SHAPIRO, Roberta – De l’artification. Enquêtes sur le passage à l’art. Éditions de L’École des Hautes Études en Sciences Sociales: Paris, 2012.

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hierarquizado onde determinadas obras de cultura material/visual são enaltecidas, enquanto outras são quase completamente esquecidas - lembradas apenas em inventários e pequenas monografias. É a partir deste postulado que pretende-se apresentar questões, não só relativas às metodologias da história da arte em Portugal, mas também à definição dos seus objectos de estudo. A título de exemplo, parte-se assim, de uma análise comparativa de dois artefactos: os retábulos das almas presença recorrente na historiografia da arte portuguesa - e as alminhas - objecto que apesar de aparecer em alguns inventários artísticos é mais frequente em obras de etnografia. Partindo da análise da estrutura devocional comum destes dois objectos, de divergente catalogação disciplinar, poder-se-á (re)questionar a sua topografia dentro da produção científica. Em todo o território português é comum encontrarmos vários vestígios da religiosidade católica a partir de objectos cultuais e devocionais criados como suporte material e ritual das crenças. Num espaço até ao século XX marcadamente rural, onde a secularização é ainda um processo em curso, a crença era uma parte integrante dos ritmos individuais e colectivos ligados à vida e à morte. Os sujeitos viviam ritmados pelo toque dos sinos – sinalizadores da vida social – e pela cadência das orações diárias que ligavam os vivos e os mortos - o mundo terreno e o mundo celeste. Ainda hoje, essencialmente em zonas rurais, encontram-se vestígios destas vivências, a partir de imagens e rituais que continuam a estruturar o quotidiano. Talvez um dos fenómenos religiosos do qual encontramos vestígios mais assinaláveis em território nacional seja a devoção às almas do Purgatório: expressa pela quantidade de alminhas que cadenciam as estradas e os caminhos, pelos retábulos nas igrejas, os esmolários dedicados às almas, e as pequenas imagens devocionais em vários suportes. No interior do país, ao toque dos sinos, ainda se pára a certas horas para rezar uma Ave-Maria e um Pai-Nosso pelas almas, num costume já mencionado em constituições sinodais e manuais de boas práticas pelas almas do Purgatório já nos séculos XVI e XVII6. Todos os anos pela Quaresma, perdura o ritual da encomendação das almas, em que cada participante recorda os seus mortos num momento de coesão da comunidade7. A marca da persistência desta devoção também se encontra impressa em cancioneiros8, livros de orações e em práticas como a confissão e os legados testamentários9 desde a idade média. Estes vestígios devocionais que perduram só demonstram um fenómeno de longa duração que segundo Carlos

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Temos como um dos exemplos as Constituições synodaes do Bispado de Coimbra feitas & ordenadas em synodo pellosõr Dom Affonso de Castel Brãco bispo de Coimbra, cõde de Arganil. e por seu mandado impressas. Coimbra: per Antonio de Mariz, 1591, p. 127 e VELASCO, Luis – Advertencias espirituaes para mais agradar a Deos Nosso Senhor: cõ hum exercicio mui proveitoso pera despois da Sagrada Comunhão. traduzido em lingoa Portuguesa, & acrecentado por Luis Alvrez dªAndrade. Lisboa: Antonio Alvarez [Edição de autor], 1625. 7 Sobre este tema consultar: ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira – “Ementação das Almas. Rezes de Ceia”. Porto: Separata da Revista de Etnografia n.º 5, 1963. 8 BRAGA, Teophilo – Através de pequenos cânticos populares que referem a obrigação de orar pelos mortos a partir de parábolas. Cancioneiro de musicas populares contendo letra e musica de canções, serenatas, chulas, danças, descantes, cantigas dos campos e das ruas, fados, romances, hymnos nacionaes, cantos patrioticos, canticos religiosos de origem popular, canticos liturgicos popularisados, canções politicas, cantilenas, cantos maritimos, etc. e cançonetas estrangeiras vulgarisadas em Portugal. Porto: Typ. Occidental, 1893-1899. 9 As dádivas per anima já são um costume medieval desenvolvido na época moderna. Para melhor compreender a importância dos testamentos para a salvação da alma, consultar: CHIFFOLEAU, Jacques – La Comptabilité de l'au-delà: les hommes, la mort et la religion dans la région d'Avignon à la fin du Moyen Age vers 1320 vers 1480. Rome: École Française de Rome, 1980 e RODRIGUES, Maria Manuela B. Martins – Morrer no Porto durante a época barroca: atitudes e sentimento religioso. Porto: Tese de mestrado em História Moderna apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1991.

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Alberto Ferreira de Almeida (1934-1996), terá sido, pelas suas várias expressões, “um dos mais significativos elementos para determinar a personalidade-base das gentes do Noroeste peninsular10“. Em relação aos vestígios da cultura material, o arquétipo que age sobre a matéria pode assumir a forma de retábulos, presentes do século XVII ao século XX, e de alminhas, das quais temos testemunhos desde o século XVIII até aos nossos dias. Poder-se-á questionar o peso que a variação formal e topográfica do mesmo arquétipo tem na percepção e acção dos sujeitos. Até onde o método iconográfico/iconológico, muitas vezes difundido na história da arte como a solução para à compreensão do sentido das imagens, poderá ser eficaz na compreensão de imagens de origem menos erudita? As raízes do método iconográfico/iconológico desenvolvido por Erwin Panofsky vão buscar aos documentos e formas eruditos as suas principais fontes11. Contudo, na crença e doutrina do Purgatório, nem mesmo o Concílio de Trento, que funcionou como fixador de fórmulas de religiosidade, definiu a sua iconografia. Pensa-se que a (re)produção iconográfica do Purgatório definiu-se na associação dos elementos distintos, ligados ao seu imaginário teológico - fogo e almas -, que se encontram em Sermões, pequenos livros de devoção e orações. Por outro lado, pode-se perceber uma apropriação imagética de parte da iconografia dos Juízos Finais medievos, em que o Inferno era representado como um local de penas e fogo onde as almas sofriam o castigo final. No entanto, há um elemento que faz divergir o fogo do Inferno do fogo do Purgatório, que apesar de tão doloroso como o do Inferno é temporário e purificador: as almas que se encontram no Purgatório são vulgarmente representadas em gestos de oração ou prestes a serem salvas por anjos, o que concede às imagens um elemento de esperança, essencial à manutenção desta devoção. Em várias entrevistas realizadas durante o trabalho de recolha etnográfica pode-se constatar que a esperança na salvação e o Purgatório estão relacionados12. A reprodução cumulativa das orações pela salvação da alma – quase quantitativa e obsessiva, como refere Jacques Chiffoleau - é mobilizada pela esperança na salvação que este lugar oferece. O confronto entre as imagens do Purgatório e as do Inferno permite questionar o próprio papel da iconografia no imaginário, relacionando-a com a temporalidade das imagens. Ainda hoje nas igrejas se cultuam os retábulos dos séculos XVII e XVIII com almas em oração com a Virgem, Cristo, ou santos e anjos em auxílio das almas. Aos olhos de um historiador da arte ou de um connaisseur esta imagem é, pelas suas componentes iconográficas, uma representação do Purgatório. No entanto, em entrevistas recolhidas junto de crentes, ouve-se, por vezes a referência ao “altar do Inferno”, comprovando os limites da leitura iconográfica per se. Mesmo nos documentos da época moderna, por vezes, encontram-se frases dúbias, onde o Purgatório parece ser confundido com o Inferno, numa amálgama conceptual talvez criada pelo fogo estar presente nos imaginários de ambos os lugares. Pode-se questionar o papel da sociabilização prévia dos agentes na compreensão/percepção dos imaginários e das imagens. A vivência da cultura material está ligada à reprodução oral de crenças locais fundidas com fragmentos doutrinários, já previamente adaptados13. Cada sujeito tem um habitus14 ligado a uma estrutura simbólica de crenças e práticas, em que a (re)produção é um elemento fundamental. Nesse sentido, do mesmo modo que Panofsky definiu o 10

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – “O Culto a Nossa Senhora, no Porto, na Época Moderna: Perspectiva antropológica” in História do Centro de História da Universidade do Porto. Vol. II, Porto: Centro de História da Universidade do Porto, 1979. 11 PANOFSKY, Erwin – O significado nas Artes Visuais. Lisboa: Editora Presença, 1989. 12 Visto a sua crença basear-se na ideia de que quanto mais sufrágios se fizessem per anima, mais depressa esta sairia dos tormentos do Purgatório. Ou seja, os agentes poderiam ter algum controlo sobre o tempo de (ex)purgação. 13 CABRAL, João de Pina – Filhos de Adão, filhos de Eva: a visão do mundo camponesa do Alto Minho. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1989, p.162. 14 A partir do conceito bourdieusiano.

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habitus erudito ligado à escolástica, relacionando-o ao sistema de construção gótica15, poder-se-á fazer um exercício idêntico nas povoações onde o registo escrito não tem um papel tão preponderante e a atribuição de significados e usos dos objectos é feita de um modo distinto. Esta análise vem expor com clareza a impossibilidade de uma leitura dogmática e completa dos significados das imagens, principalmente a partir de um registo histórico no qual faltam os depoimentos dos sujeitos que primeiramente as usufruíram ou criaram. Nos documentos que poderiam ter uma maior circulação popular na época moderna (essencialmente sermões e pequenos panfletos sobre o Purgatório) as diferenças entre ambos os fogos eram claras: porém, como é possível verificar a sua verdadeira difusão e correcta compreensão? Através do registo das práticas dos sujeitos, associadas aos depoimentos actuais e às imagens que sobreviveram, não será possível uma maior aproximação da acção que as imagens exerceram sobre os sujeitos, perseguindo aquilo que Didi-Huberman chamou a dimensão anacrónica da história da arte? Propõem-se através de outra metodologia, usar uma técnica complementar para a compreensão das imagens: a tentativa de perceber como os ritos e a memória interagem com elas, segundo a corrente de Aby Warburg16 e de Carlo Severi17. Nos documentos a importância da dimensão mnemónica da imagem é assinalada já no século XVII, por Lucas Andrade18: “e meu pay fez imprimir muitas mil repartindoas por todos, pera que ajudassem a sahir as almas das penas do Purgatorio de quem era particular devoto, alem das lembranças que fez por nas portas, e postigos desta Cidade, e partes publicas huas taboas com as almas pintadas, pera os fieis Christaõs tivessem memoria dellas, pera as socorrerem com suas oraçens”19. Tanto os retábulos das almas como as alminhas têm ritos a eles associados. O seu papel mnemónico e agencialidade revelam-se quando num caminho, ao passar por uma alminha os crentes param e fazem uma oração pelas almas, ou quando são colocadas velas sobre os altares, em frente aos retábulos, lembrando os defuntos. A necessidade da recordação e do rito era essencial na medida em que cada oração encurtava o tempo das almas no Purgatório, a quais num gesto gratidão quando chegassem ao Paraíso também orariam pelas almas daqueles que as salvaram, num sistema de dom e contra-dom20. Nesse sentido, as confrarias organizavam orações em torno dos retábulos, onde acendiam cirios e velas, sinalizando o dom, tal como à passagem pelas alminhas ainda hoje se deixam objectos devocionais como esmolas21 ou velas22. Durante o trabalho etnográfico, a maior motivação

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PANOFSKY, Erwin – Architecture gothique et pensée scolastique. Trad. et posf. de Pierre Bourdieu. Paris: Éditions Minuit, 1967. 16 WARBURG, Aby – Le Rituel du serpent: récit d'un voyage en pays Pueblo. Paris: Macula, 2003. 17 SEVERI, Carlo – Le Principe de la chimère: une anthropologie de la mémoire, Paris: Éd. Rue d'Ulm (Musée du Quai Branly), 2007. 18 VELASCO, Luis –Advertencias espirituaes para mais agradar a Deos Nosso Senhor: cõ hum exercicio mui proveitoso pera despois da Sagrada Comunhão e agora acrescentado por Lucas Andrade Capelão de sua Magestade e capelão de Villaverde seu filho. traduzido em lingoa Portuguesa, & acrecentado por Luis Alvres d’Andrade natural de Lisboa, & impresso a sua custa: dedicado ao conde de Odemira [sic]. Em Lisboa: por Antonio Alvarez, 1656. 19 VELASCO, Luis – Advertencias espirituaes para mais agradar a Deos Nosso Senhor : cõ hum exercicio mui proveitoso pera despois da Sagrada Comunhão e agora acrescentado por Lucas Andrade Capelão de sua Magestade e capelão de Villaverde seu filho. traduzido em lingoa Portuguesa, & acrecentado por Luis Alvres d’Andrade natural de Lisboa, & impresso a sua custa: dedicado ao conde de Odemira [sic]. Em Lisboa: por Antonio Alvarez, 1656, pp. 143-145. 20 Sobre este tema consultar: MAUSS, Marcel – Ensaio sobre a Dádiva. Lisboa: Edições 70, 1988 e, para uma leitura relacionada com a reversibilidade de méritos entre vivos e mortos na cristandade: LAUWERS, Martin – La Mémoire des ancêtres, le souci des morts: morts, rites, et société au Moyen Age: Diocese de Liège, XIe-XIIIe siècles. Paris: Beauchesne, 1997. 21 Todas as alminhas analisadas contêm esmolários.

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apresentada pelos agentes para a realização dos rituais foi a sua antiguidade e a (re)produção do que tinham “visto fazer” desde jovens em frente às imagens ou durante uma encomendação das almas. Diante dos retábulos observaram pais e avós orarem pelos seus mortos, e muitas vezes chorarem pelo medo do Inferno/Purgatório. Diante das alminhas viam as pessoas que por elas passavam oravam e tiravam o chapéu, em respeito e lembrança pelos defuntos. Neste processo apreenderam as práticas, as ladainhas e os gestos que agora (re)produzem frente ao mesmo suporte ritual onde “viram fazer”. Esta agencialidade mnemónica e ritual da imagem está de acordo com as teorias de Aby WARBURG e Carlo SEVERI, que vêem a imagem como mnemónica de rituais e portadora de uma memória social. O papel da cultura escrita, particularmente quando se refere às imagens, tem de ser (re)questionado. A (re)produção social das estruturas desenvolve-se na articulação das práticas dos sujeitos, em que tanto os objectos como as imagens, e também os texto e a cultura oral, são operativos conforme o habitus que cada agente possui. Por outro lado, a importância da teologia e doutrina, enquanto construção racional e mental, quando os sujeitos já tem o habitus incorporado. Até que ponto o rito e o culto às imagens significa verdadeiramente uma crença coesa, ou estas práticas são apenas uma (re)produção física e automatizada que já se desprendeu do possível sentido? Para os agentes os objectos estéticos podem conter significados que os distanciam totalmente do “campo artístico”, em que os académicos e o mercado os tentam inserir. Independentemente da sua catalogação dentro do discurso científico, a arte tem muitas vezes funções muito semelhantes a outros objectos considerados menos dignos de análise pela historiografia da arte: reflexão que disciplinas dos últimos trinta anos como os visual studies, com W. J. T. Mitchell e a história das imagens com autores como Jean-Claude Schmitt tem vindo a completar. Cabe cada vez mais ao académico/investigador esbater estas diferenças, embora para melhor compreender o seu objecto de estudo precise antes de mais de reflectir sobre o habitus do campo onde ele próprio se insere.

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Nos testamentos, o número de donativos de cera é significativo. Daí o papel das velas (iluminação) e a importância dada à manutenção da sua luz, o que demonstra a importância da sinalização do acompanhamento dos mortos no seu caminho post mortem.

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Fig. 1 – Retábulo das almas da Igreja Matriz de Vila do Conde

Fig. 2 – Retábulo das almas da Igreja Matriz de Odeceixe

Fig. 3 – Alminhas na entrada de Monsanto

Fig. 4 – Alminhas na estrada nacional Santo TirsoGuimarães

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