Para além da polêmica Alencar-Nabuco: Liberalismos, Nação e Escravidão no Pensamento Político Brasileiro

September 3, 2017 | Autor: Lucas Baptista | Categoria: Pensamento Político Brasileiro
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O registro da polêmica Alencar-Nabuco pode ser conferido no livro de Afrânio Coutinho, publicado em 1965. Na introdução, Coutinho (1965) argumenta que o embate literário travado entre estes autores ilustra também as duas atitudes que a filosofia da civilização brasileira da época comportava, quais sejam dos ocidentalistas e a dos brasilistas. Os primeiros - grupo no qual estava Nabuco - eram aqueles que insistiam nas raízes europeias, procurando fazer delas a essência de nossa civilização, e reforçando os laços de nossa dependência cultural à Europa; Os brasilistas – grupo de José de Alencar – não voltavam às costas à Europa, mas buscavam encarar o Brasil como algo novo, resultante da fusão de elementos distintos, isto é, um outro complexo racial, cultural, social, lingüístico, literário e histórico. (COUTINHO, 1965). Por tudo isso, esta polêmica é importante, contudo não é suficiente para compreendermos os liberalismos de Alencar e Nabuco.
Poderes pessoais que tentará eliminar, ou minimizar com a reforma eleitoral proposta em "Sistema Representativo" (1868), na tentativa de solucionar o problema da representação política das minorias e outros problemas "do mau governo.
Sobre a controversa questão do Poder Moderador ver: FAORO, Raymundo. O sistema político do Segundo Reinado. In: ______.Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo, SP : Globo, 2001. cap 10, p 401-472; HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Pássaro e a Sombra. In: ______. História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972. tomo II, vol. 5, p. 57-132.
No entanto, mesmo apresentando tantas contradições em seu interior, este ordenamento político se estende, enfrentando sucessivas intervenções imperiais, contradições entre seus princípios políticos , entre suas estruturas econômica e social, etc. Aspectos estes que não são exclusividades brasileiras, mas que ajudaram a construir um peculiar cenário político. "(...)contradição entre o princípio moderno da soberania popular e o da sanção divina; entre um sistema nominalmente representativo e a carência de verdadeira representação; entre um regime de natureza aristocrática e a inexistência de aristocracias tradicionais; entre um liberalismo formal e a falta de autêntica democracia; finalmente entre uma carta outorgada, de cunho acentuadamente monárquico, e uma constituição não escrita que pende para o parlamentarismo." (HOLANDA, 1972:69)

Sobre o fluxo das ideias e a geração de 1870. Ver: ALONSO, Angela. Idéias em Movimento: a geração de 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
"Que empenho tenho eu brasileiro, que escrevo principalmente para minha pátria, e que em cerca de quarenta volumes de minha lavra ainda não produziu uma página inspirada por outra musa que não seja o amor e admiração deste nosso Brasil;" (ALENCAR apud COUTINHO,1965:41)

Chamo à atenção o uso do termo democrático por Alencar em seus textos, principalmente em "Sistema Representativo", pois o autor se refere a um modelo representativo de governo que na realidade estava baseado no ordenamento político do Segundo Reinado.
Como bem aponta Wanderley Guilherme dos Santos (1991), "não propõe somente um argumento sobre o governo representativo, mas sobre a origem do governo e da sociedade, pois só desta maneira Alencar considera possível justificar um especial tipo de sistema representativo – que é o proporcional". (p 14)
As manifestações não se restringiram ao espaço europeu, atingindo também países como o Brasil onde as ideias revolucionárias chegaram nutrindo a formação dos intelectuais (ALONSO, 2002, p 53) e o espírito contestador; destaco Pernambuco, um dos importantes centros econômicos e culturais do país, influenciando na chamada Revolta Praieira (1848-1850), contestadora do poder imperial, dada em meio às disputas entre representantes dos partidos conservador e liberal (CHACON, 1981, p 21).
A singularidade brasileira sobre a qual Luiz Felipe de Alencastro discorre. ______. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlantico Sul Seculos XVI e XVII. São Paulo, SP : Companhia das Letras, 2000. 
"Nestas notas em tôrno de um José de Alencar que foi, ao mesmo tempo, crítico social, renovador das letras e reformador da língua literária do seu país - e não apenas literato convencional, muito menos beletrista de passo macio, conformado com o meio e satisfeito com as convenções literárias - o que se sugere é apenas o auxílio que à interpretação específica de uma literatura ou da obra ou da personalidade de um escritor de gênio ou simplesmente de talento criador ou renovador, pode trazer a interpretação sociológica e psicológica da cultura e do meio dentro dos quais se tenha desenvolvido, nem sempre passivamente - às vêzes até à rebours, - o gênio dêsse escritor ou o espírito dessa literatura" (FREYRE, 1955, p 02)
Joaquim Nabuco (1849-1910) era filho do senador e ministro Nabuco de Araújo com D.Ana Paes Barreto. Embora fosse filho de senador, Nabuco mão provinha da aristocracia puro sangue brasileira: a latifundiária. Seu pai, "o senador Nabuco de Araújo, pertencia à aristocracia burocrática: homens sem grande lastro econômico, que faziam carreira no Estado. " (ALONSO, 2007:19). D. Ana Paes Barreto também era de família tradicional de Pernambuco, os Suassuna. Quincas nasceu no engenho Massangana em Pernambuco e lá viveu com a madrinha até os oito anos de idade. Depois transferiu-se para a casa da família no Rio de Janeiro e ingressou no colégio D. Pedro II, onde conclui seus estudos secundaristas. Na Faculdade, Nabuco estudou com grandes nomes da política brasileira como, por exemplo, Castro Alves, Rui Barbosa, Afonso Pena e Rodrigues Alves.
É importante dizer que na formação intelectual de Nabuco iriam convergir muitas leituras e impressões quase nunca afinadas com o radicalismo liberal. Figuram na memória do pernambucano obras como de Espinosa, Plotino, Kant, Hegel, Strauss, Renan, Havet, Saint-Beuve, Taine, Scherer, Victor Hugo, Musset, Shelley, Goethe, Chateubriand e Cícero. Toda essa babel filosófica, sugere Nogueira (2010), ajudou que o jovem radical fosse pouco a pouco migrando para um campo mais moderado, deixando-se então fascinar de vez pelos mecanismos sutis da Monarquia Parlamentar. (NOGEURIA, 2010:118)
O livro foi escrito com a ajuda de Sancho Barros Pimentel, colega de Joaquim Nabuco na Escola de Direito do Recife.
Ferreira (2010) busca trazer à tona o debate entre o conservador Visconde do Uruguai e o liberal Tavares Bastos para compreender a novidade do liberalismo que emerge nesta época. A autora busca se ancorar na questão da relação entre leis e costumes para mostrar como esses autores – utilizando-se da obra de Tocqueville – responderão de maneira diferentes, e até mesmo opostas, a proposta de descentralização política e administrativa do Estado. De um lado, Visconde do Uruguai se posiciona contrário à proposta, argumentando que os costumes ganham precedência sobre a lei. "O político conservador tom nosso, digamos assim, caráter nacional como chave explicativa para fundamentar o modelo jurídico-político proposto por ele. " (FERREIRA, 2010:61). Na outra ponta, Tavares Bastos diz o contrário: as leis têm precedência sobre os costumes. É essa inversão analítica que possibilita a propostas de reformas adotadas pelo liberal, que ao invocar a descentralização política e administrativa do Estado, acaba por traçar um programa amplo de reformas, uma espécie de projeto civilizatório, que incluía "o liberalismo econômico e, no plano social, a abolição gradual da escravidão, a imigração e a instrução pública. " (FERREIRA, 2010:63). Ver mais em: FERREIRA, Gabriela Nunes. A relação entre leis e costumes no pensamento político brasileiro. In: Revisão do pensamento conservador: ideias e política no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec, 2010.
Logo depois de formado, Joaquim Nabuco retornou ao Rio de Janeiro e começou a redigir artigos para A Reforma – um pequeno jornal que dava voz aos moderados – como Nabuco de Araújo – e combatia os conservadores e republicanos. Nesse momento as ideias republicanas passavam a se espalhar na sociedade através de panfletos e jornais. A modernização dos processos de impressão barateou o custo dos jornais, facilitando a diversidade gráfica e o crescimento das publicações. Entre 1870 -1872 surgiram dezenas de jornais republicanos ou quase. Nesse contexto surgiram também três grandes periódicos nacionais de combate à dominação conservadora: O Diário do Povo (1868), A Reforma (1869) e o Opinião Liberal (1866) bem como se renovou o já tradicional Diário da Bahia. Vários desses jornais abriram espaços para os grupos contestadores que estavam então se constituindo: Bocaiúva, Rui Barbosa, Silva Jardim, Joaquim Nabuco e vários outros começaram a carreira nesses jornais. (ALONSO, 2002:277-278)
Nabuco também publicou nesse momento sua primeira obra literária, Camões e Lusíadas (1872). O artigo é uma homenagem ao escritor lusitano em razão do tricentenário de sua obra.
A passagem de Nabuco por Londres o fez optar definitivamente pela monarquia. Como lembra o próprio, a monarquia ficava sendo para ele a mais elevada das formas de governo: a ausência de unidade, de permanência, de continuidade no governo, que é a superioridade para muitos da forma republicana, convertia-se em sinal de inferioridade. (NABUCO, 1996:31)
Walter Bagehot (1826-1877) nasceu na Inglaterra e foi um dos fundadores da National Review em 1855 e também atuou como editor chefe do jornal The Economist em 1860. Dentre seus trabalhos mais conhecidos (e que, certamente mais influenciou o jovem Nabuco) destaca-se a obra sobre a Constituição Inglesa, na qual ele explora a Constituição do Reino Unido e sua relação com o Parlamento e a Monarquia.
Essa noção de monarquia é importante para compreender a linguagem liberal-abolicionista do pernambucano. Isso ajuda a renovar o monarquismo de Nabuco.
Esse foi o tema principal da dissertação de mestrado: OLIVEIRA, L.B. Linguagens do Abolicionismo no Brasil: a Nação no ideário político de Joaquim Nabuco. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). IFCH/Unicamp – Campinas, SP, 2013.


IX ENCONTRO DA ABCP




Pensamento Político Brasileiro






PARA ALÉM DA POLÊMICA ALENCAR-NABUCO: LIBERALISMOS, NAÇÃO E ESCRAVIDÃO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO






Lucas Baptista de Oliveira
Doutorando em Ciência Política - IFCH/Unicamp

Giovanna de Godoi Liguori Imbernon
Mestranda em Ciência Política – IFCH/UNICAMP




Brasília, DF
04 a 07 de agosto de 2014

PARA ALÉM DA POLÊMICA ALENCAR-NABUCO: LIBERALISMOS, NAÇÃO E ESCRAVIDÃO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO
Lucas Baptista de Oliveira - IFCH/Unicamp
Giovanna de Godoi Liguori Imbernon – IFCH/UNICAMP




Resumo do trabalho: O objetivo do artigo é analisar – ancorando-se na relação entre escravidão e construção da nação – os possíveis nexos entre o liberalismo de José de Alencar (1829-1877) e Joaquim Nabuco (1849-1910). O que se pretende verificar é como ambos autores mobilizarão os preceitos do liberalismo clássico europeu em sua linguagem para legitimar suas posições em relação à escravidão e também para lançar mão de projetos nacionais distintos.




Palavras-chave: José De Alencar; Joaquim Nabuco; Nação; Liberalismo





























Introdução
A proposta geral deste artigo é contribuir com a história do liberalismo brasileiro através da análise das ideias de José de Alencar (1829-1877) e Joaquim Nabuco (1849-1910). O objetivo específico consiste em verificar - se ancorando na relação entre escravidão e a construção da nação – os possíveis nexos entre estes autores que, mesmo se colocando como liberais, apresentam significativas diferenças entre eles. O ponto de partida para tal tarefa será a polêmica literária travada entre José de Alencar e Joaquim Nabuco nas páginas do O Globo em 1875, na qual o tema da nação parece ser central. Na realidade o que pretendemos aqui é explorar de modo mais integral o liberalismo destes dois autores a partir dessa polêmica.
Para cumprir tal tarefa situaremos José de Alencar e Joaquim Nabuco no contexto concreto de transição, crise e fim da sociedade escravista no Brasil, buscando chamar atenção para a linguagem política de ambos e perceber como eles mobilizarão preceitos do liberalismo clássico europeu para levar a cabo diferentes projetos políticos de nação. (MANHEIMM, 1986; SKINNER, 1985) Não se trata de um resgate das intenções desses autores, na medida que também se levará em consideração a ação indireta deles, sua ação póstuma, mediada por uma cadeia de atores subsequentes – sua tradição. A tradição interpela obras e os conceitos a partir de agendas e circunstâncias em parte inusitadas, impondo novos recortes e combinações. (POCOCK, 2003; BRANDÃO, 2007) Tudo isso para dizer que este artigo levará em consideração o contexto histórico e linguístico de nossos autores, quanto aquilo que se dispõe em termos de conhecimento sobre eles na contemporaneidade.
II. José de Alencar, o literato político com uma missão nacional
José de Alencar (1829-1887) também foi protagonista da história política e literária do país, exercendo papel decisivo, mesmo que muitas vezes ambíguo em suas diretrizes político-ideológicas, para a formação e consolidação de uma narrativa nacional essencialmente brasileira a partir de meados da década de 1850. Ao longo de quase cinquenta anos de vida, o escritor cearense exibiu grande talento para as letras, consolidando uma carreira repleta de romances até hoje populares. No entanto, cabe destacar, que sua trajetória não se restringe à arte literária.
As obras teatrais de Alencar bem como suas crônicas e seus escritos jornalísticos se estendem por gerações e gerações. Impõe-se aqui chamar atenção para as obras teórico-políticas do cearense, cujos temas centrais giravam em torno de questões como o funcionamento do sistema representativo e também questões jurídicas – o que se verifica no debate sobre a propriedade da escravaria. Romancista, crítico e político, o autor de múltiplas faces atuou nestes diferentes âmbitos sempre com grande engajamento e forte posicionamento político.
Filho de José Martiniano de Alencar, aclamado senador conservador da primeira metade do Século XIX, o jovem Alencar, desde muito cedo, espreitava as discussões políticas e o universo do qual seu pai participava ativamente, relatando em seus escritos a presença constante de figuras do Clube Maiorista: as reuniões que eram realizadas em sua casa e como a política passou a fazer parte de sua vida mesmo sem pretensão de participar deste meio (ALENCAR, 2009).
Alencar cursou faculdade de direito em São Paulo e se formou em 1850, e já no início dessa década iniciou seus trabalhos nos jornais, Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro, concentrando sua produção na literatura. A sua carreira política tem início no período da chamada Conciliação Partidária (1853-1862) - processo político de reequilíbrio das forças no interior do sistema imperial – e é nesse contexto que Alencar se elege ao cargo de Deputado na Câmara (1861-1863) para o cumprimento do primeiro mandato político. Vale lembrar que a década de 1860 foi marcada pela volta dos liberais à Câmara, trazendo novas ideias e suscitando questionamentos centrais acerca do sistema político da época e questões como a do Poder Moderador.
No contexto acima colocado, o Poder Moderador (garantido pela Constituição de 1824) retorna ao centro dos debates, suscitando questões como os limites do poder pessoal e sua relação com o modelo de monarquia constitucional brasileira. O tema se torna fonte de discussão também para Alencar, na medida em que o autor revelava seu repudio a apropriação dos poderes políticos e a sobreposição desses por poderes pessoais. No caso brasileiro, os poderes Executivo e Moderador estavam concentrados nas mãos do Imperador. Para Alencar essa concentração de poder pessoal desmoralizava as outras instâncias de representação, sobretudo os partidos políticos. Desta maneira, tais partidos assistiriam a um cenário de desfiguração da soberania, tendo o povo – a nação – a abdicação de sua própria para entrega-la às mãos deste Imperador (HOLANDA, 1972:62). Frente a estes impasses, Alencar (1868) dá as indicações de seu projeto de ação política que frente à necessidade de um governo de caráter monárquico e parlamentar, mobilizará a linguagem política em torno de preceitos do liberalismo para invocar a dimensão representativa, a qual deveria se tornar o foco desta forma de governo.
No fim dos anos 1860 Alencar será nomeado Ministro da Justiça, detendo em suas mãos grande responsabilidade administrativa frente aos acontecimentos da época. Em meio à Guerra do Paraguai (1864 – 1870) e um novo cenário de intenso fluxo de ideia políticas, endereçará ao Imperador suas famosas cartas "Ao Imperador: novas cartas políticas de Erasmo" (1867). Nessas cartas a finalidade do autor seria de aconselhar e direcionar o monarca nas duas principais questões do momento: a Guerra do Paraguai e a abolição da escravidão. A segunda questão que nos é mais interessante, tanto por sua extensão como pela sua centralidade na polêmica travada com Nabuco. É através dessas breves páginas que Alencar canalizará seus esforços na defesa de uma lenta política de abolição, indicando ao seu nobre interlocutor os caminhos do futuro da nação brasileira.
Pode-se reconhecer na musa inspiradora que incentivou seus trabalhos artísticos e teórico-políticos a metáfora do país, pois é o Brasil, em suas mais diversas dimensões e possibilidades, que dará ao autor o tema de sua vida e obra. Nessas páginas o literato articula tanto preceitos do liberalismo clássico – como o ideal de progresso e participação política – quanto o debate entre conservadores e liberais no Brasil em sua linguagem para compreender e buscar respostas aos problemas políticos e institucionais do país. Dito de outro modo, é nesse momento que Alencar busca inspiração na doutrina liberal europeia para fazer valer sua posição política no Brasil. Esse movimento produz uma originalidade no liberalismo de Alencar: o que não permite encaixá-lo nem como luzia, nem saquarema.

Nem luzia, nem saquarema: o conservadorismo e o liberalismo escravista alencariano
De tradição político-partidária conservadora, José de Alencar denominava-se um liberal aos moldes ingleses, aproximando-se de John Stuart Mill (RIZZO, 2010) e suas proposições acerca do modelo representativo de governo. Ele defendia um o programa político de unidade nacional em torno de um poder central e aliado à defesa de um progresso econômico ancorado na mão-de-obra escrava. Para ele, a escravidão era inevitável a um país de grande "atraso" na corrida econômica internacional e seus anseios de nela avançar.
E será nessa "(...) "conjunção contraditória" entre capitalismo e escravidão, em cujo núcleo Alencar se instala" (Ibid.) e desenvolve sua teoria, procurando conciliar as especificidades do país. Aborda em seus textos políticos, questões relacionadas a um propósito "democrático" presentes suas discussões sobre questões relacionadas aos costumes, aos poderes pessoais e outros processos que poderiam se tornar um obstáculo ao progresso de seu projeto político nacional. Sua posição política, no entanto, não deve ser definida pela defesa ou condenação de um ou mais aspectos, ou por simplesmente atuar junto ao partido conservador. Suas proposições são ambíguas, possuem aspectos conservadores, e outros liberais. Importante é que Alencar é muitas vezes interpretado sob a ótica de um destes argumentos, restringindo, assim, a análise completa de seu pensamento, pois não se limitaria a ser simplesmente saquarema ou luzia (RODRIGUES, 2001:145).É no exercício de mobilizar um arcabouço teórico liberal europeu, para dar forças a propostas políticas de tom conservador, que o autor se distinguirá de outros autores e políticos brasileiros de sua época.
De um lado recupera o liberalismo político de Mill em sua discussão sobre a questão da representação política e, em "Sistema Representativo", o autor traduz o mais puro espírito liberal, com um projeto político democrático muito mais engajado com as proposições liberal- democráticas, assim como, mais comprometido com um detalhamento de práticas e ações (RIZZO, 2010:177). Alencar se concentra em analisar as bases do governo representativo, dando atenção á questão eleitoral e propondo soluções para o caso brasileiro. A reforma do sistema eleitoral, com o objetivo de recuperar os preceitos democráticos que regem este tipo de governo, agiria em dois âmbitos: no plano das ideias, no qual trabalharia pela mudança dos costumes políticos nocivos, e, no plano prático, promovendo mudanças na legislação eleitoral vigente (ALENCAR, 1868:08). Para o autor, o Brasil viveria uma crise em seu sistema político, decorrente de um descompasso entre o propósito democrático e os métodos de seleção e participação políticas adotadas, desfigurando o eixo do governo representativo através da representação inadequada das minorias.
Ainda no sentido de manutenção do caráter democrático da representação, prossegue em direção aos passos de Mill, ao distinguir em seu texto as formas apropriadas para formação dos representantes políticos, assim como, a recuperação de valores e instituições das chamadas democracias originárias, trazendo para as experiências modernas as ferramentas democráticas do debate público e do parlamento, legitimando assim o governo (Ibid: 46). Desta forma, a solução proposta ao caso do governo representativo brasileiro é inclusão das minorias no processo eleitoral, necessitando, portanto, de uma reforma no sistema eleitoral que ampliasse o sufrágio e viabilizasse melhor representação partidária no parlamento, excluindo, assim métodos pouco democráticos como o voto censitário e a pura representação proporcional (RIZZO, 2010: 183).
De outro lado, Alencar recupera, como indica Ricardo Rizzo (2012), argumentos de Edmund Burke (1790) sobre o balanceamento dos elementos aristocráticos e democráticos do sistema político e como este jogo se relaciona com elementos e instituições históricas a caminho do progresso e da civilização. Alencar encontrará neste ponto os argumentos para a manutenção da escravidão, que como uma instituição funesta e degradante aos indivíduos, encontra seu propósito na medida em que possui uma função civilizadora, tornando-se imoral, como qualquer outra instituição, somente na medida que que descumprisse sua missão.
A concepção da escravidão como dado social, adotada por Alencar, permite a articulação das justificações para a adoção deste tipo de mão de obra em meio a um contexto que seguirá ao distanciamento da mesma. O autor reitera a importância de sua manutenção em quatro aspectos, como Indica Tâmis Parron (2013): a primeira com relação à cultura e raça, em cuja abordagem elástica do conceito de raça aliada a uma concepção civilizatória da função da escravidão levam à conclusão de que esta seria benéfica, no limite em que propagaria a civilização concomitantemente ao progresso do país. O segundo ponto diz respeito à dimensão político-social que por meio de um "paternalismo liberal" (p 24) tornariam os escravos e ex escravos detentores de direitos políticos e inclusive cidadãos. O terceiro argumento, de ordem econômica, justifica o emprego da mão de obra escrava pois esta seria essencial ao modo de produção agrícola brasileiro, assim como para a manutenção de seu status no sistema econômico internacional. O quarto e último elemento está relacionado diretamente a seu projeto político literário, o da formação da nação brasileira, que através da mistura dos povos e do contato com outras cultural, teria sua caracterização.
É neste tom aparentemente ambíguo que Alencar opera suas proposições políticas rumo a um futuro promissor da civilização, sem deixar de se preocupar com o passado e o presente da nação brasileira. A questão do ordenamento político e social do império estão presentes em seu projeto nacional, sendo mobilizados numa linguagem ambígua: carregada de posições conservadoras no que diz e, ao mesmo tempo, tingida de uma diretriz liberal europeia. É esse o tom do liberalismo de Alencar: manutenção da escravidão e mudanças na organização do sistema eleitoral em conjunto a garantias do governo representativo.
Do mito romântico indianista ao romance urbano realista: o projeto de nação brasileira
De uma grande preocupação com as questões nacionais, as obras de Alencar expressam em conjunto o seu projeto maior, sua "missão": a nação brasileira. Sua carreira literária foi marcada por produções como "O Guarani" (1857) e "Iracema" (1865), cuja narrativa indianista coloca em suas alegorias os elementos políticos e sociais de um país ainda marcado pelo conflito com seu passado colonial. Sendo assim, ele busca alternativas às interpretações de um caráter "não nacional", colocando-se à procura de uma identidade genuinamente brasileira. Também nos escritos políticos há essa mesma preocupação.
Em "Ao povo: cartas políticas de Erasmo" (1866), "Sistema Representativo" (1868) e outras obras políticas, teoria e prática se fundem, compondo uma dinâmica produção e atuação do autor. Apesar de se situarem em um contexto histórico muito específico, são escritos bem sucedidos na tarefa de recuperar o panorama político imperial, pois tratam de temas como: as formas de governo, a representação política, a escravidão, a propriedade etc. (PARRON, José de Alencar escritos políticos, Brasiliana Digital - USP).
Já no campo teórico-literário, em meio a fortes debates sobre as culturas reflexas (RICUPERO, 2004:95) e contexto político-social brasileiro singular, guia seu projeto maior, o da nação brasileira, a partir da integração entre os campos político e literário. Neste contexto, fruto de fatores e movimentos político-ideológicos, pós-revoluções de 1848, a Primavera dos Povos que tomou o mundo e, no Brasil, a Revolução Praieira (1848-1850), teve-se a certeza de um movimento de busca pelo "nosso", do fim das experimentações e do crescimento da força para a independência intelectual, como base para um "seguro e permanente progresso" (Ibid., p 100). Brasilista, como denomina Afrânio Coutinho (1965), Alencar se enquadrava em tendências nacionalizantes (tendência que se aliou a parte do romantismo) com a qual se fez necessário findar a sensação de cópia (RODRIGUES, 2001 p 129) que pairava pelo universo das ideias, afastando-se da Europa e da "herança cristã-greco-romana-ocidental, procurando encarar o Brasil como algo novo, resultante da fusão de elementos distintos, mas que não seria mais nenhum desses elementos isolados, e sim um outro complexo racial, cultural, social, linguístico, literário e histórico" (Ibid., p 8). Já ao final da vida, este tema estará presente no debate travado com o político liberal, de traços internacionalistas, Joaquim Nabuco, cujas críticas à peça, "O Jesuíta" (1875), culminaram em uma série de cartas, publicadas no jornal O Globo, de setembro a novembro de 1875, em que "(...)duas sensibilidades, duas formações literárias, duas concepções do Brasil e da literatura brasileira que se opõem, e, quiçá, se somam" estão presentes.
De traços nacionalizantes, Alencar atribui à sua obra um caráter brasileiro, procurando estabelecer o país como uma singularidade, dotado de seus traços culturais e linguísticos próprios. Seus romances possuem um estilo próprio, de criação e reinvenção da língua, rendendo-lhe muitas críticas sobre o estilo de sua linguagem que além de ferir os padrões de um "autêntico vernáculo", seria dotado de um espírito político retardatário e de "ressentimento pueril contra o Imperador" (ATAÍDE, 1977:11). Muitas vezes mal compreendido, tido como um homem ressentido, incomodado com as situações e polêmicas ocorridas, principalmente as que envolviam o Imperador, suas críticas eram tomadas como infantis e se seu projeto nacional, também mal interpretado, permanecia ofuscado. Ao retomar este projeto, vemos que o tema da nação está presente ao longo de suas obras tanto políticas como literárias. Além de seu empenho para dar forças à ideia, o próprio contexto literário favorecia tal missão de construção de um país livre, no qual intelectuais e autores românticos tinham consciência de seu papel neste processo, como indica Antonio Candido (2000:26).
Como lembra Benedict Anderson, do mesmo modo que este padrão de produção literária surge no Brasil, outras nações – ou futuras nações – também nos apresentam uma interessante articulação entre literatura e processo de formação de nação, pois esta forma literária, o romance, consente a criação de um vínculo imaginário, homogeneização do tempo e a cristalização da ideia de simultaneidade entre os acontecimentos, a permitir o cruzamento do espaço físico e ultrapassagem de suas barreiras, formando uma comunidade como "a ideia de um organismo sociológico atravessando cronologicamente um tempo vazio e homogêneo", como a exata expressão do que é uma nação, que percorre a história, que a precede e que a ultrapassa (2008: 56).
Durante o século XIX, o romantismo brasileiro toma a função de mobilizar os elementos que darão origem à tradição de um país, e é com a geração de Alencar que o Brasil moderno seria descoberto (RODRIGUES, 2001:127). Em termos mais abstratos, a concepção de Alencar segue este caminho, pois é através de seus romances, com a tentativa de recriar o mito de fundação da nação, ou da nova nação, agora brasileira e de brasileiros (RICUPERO, 2004, p 165), a partir de uma abordagem nativista, e mais à frente realista, mas ao mesmo tempo inovadora (RODRIGUES, 2001:130), que rompe com os cânones portugueses que assombravam o país (Ibid:136 -138).
Foi ele capaz de transformar a realidade, de resgatar um passado e projetar um futuro nacional sem limitar as heranças socioculturais. Além disso, cria uma linguagem, que enaltece as especificidades do Brasil, reunindo sentimento e elementos físicos e espaciais, como a natureza e a cidade, de forma excepcionalmente complexa, utilizando-se de tipos ideais na tentativa de reproduzir a realidade em seus romances. Decorrente de seus esforços literários de cunho programático (RIZZO, 2012:268), reuniu em seu projeto "qualidades do nativismo oriundo das experiências de oposição ao domínio português, e as novas ideias de fundação da nação" (RODRIGUES, 2001:130). Elabora em conjunto a toda uma geração romântica, o sentido do sentimento nacional, fundindo história e literatura em um movimento de afirmação do Brasil como nação, através de uma literatura ficcional preocupada em retratar o cotidiano, privilegiar a natureza e o povo brasileiros, sem se afastar da realidade.
"Portanto, o Romantismo brasileiro foi inicialmente (e continua sendo em parte até o fim), sobretudo nacionalismo. E nacionalismo foi antes de mais nada escrever sobre coisas locais. Daí a importância da narrativa ficcional em prosa, maneira mais acessível e atual de apresentar a realidade, quando ao leitor maior dose de verossimilhança e, com isso, aproximando o texto de sua experiência pessoal." (CANDIDO, p 40)

Como sua proposta de trabalho orbitou em torno de um projeto geral e maior, que integraria seus projetos político e literário, Alencar integra da mesma forma a questão da escravidão a esses projetos. Seja na tentativa de caracterizar e demonstrar a estrutura social e cultura brasileiras de seu tempo, em obras como "O demônio familiar" (1857) e "A mãe" (1860), seja no compromisso político com sua amada pátria, o autor consegue uma fluidez em seus temas sem abandonar seu projeto nacional. Esta literatura lhe serve também como meio de reiterar seu posicionamento político quanto à questão no momento, sendo possível dizer que a narrativa de Alencar também se articula numa linguagem política que recorre tanto às doutrinas liberais europeias quanto ao conservadorismo brasileiro para justificar a escravidão e conceber seu projeto nacional. Na próxima seção se verá que a linguagem política de Nabuco será outra.
Joaquim Nabuco e o liberalismo abolicionista
Quando Joaquim Nabuco levou a cabo a polêmica literária com José de Alencar ele havia acabado de voltar de sua estadia na Europa. Antes disso, Nabuco, que nascera em 1849, entrou para a Faculdade de Direito no ano de 1866. Embora tenha iniciado seus estudos em São Paulo, transferiu-se para Pernambuco e passou a estudar na tradicional Escola de Direito do Recife em 1869. Durante o período de faculdade, para além dos estudos, o envolvimento em atividades não acadêmicas, tais como a participação em sociedades fechadas, em jornais, em ciclos literários, era quase regra geral para os estudantes. Nesses espaços eles viam-se às voltas com polêmicas culturais e políticas referentes ao universo da sociedade brasileira e sua inserção no contexto civilizatório internacional. (SALLES, 2002:29) Durante os anos da Academia em alguns momentos Nabuco foi o radical adepto da democracia ultra que havia um minimum de monarquismo e um maximum de republicanismo e quase nenhum espaço para a religião e o catolicismo. (NOGUEIRA, 2010:117)
A tendência republicana presente no jovem Nabuco vai cedendo lugar à moderação ao longo de sua trajetória na Faculdade, refletindo o clima político que rondava a vida acadêmica daquela época. A modernização posta em curso no Brasil desde a abolição do tráfico de africanos transformou o debate nas Faculdades de Direito, de modo que a história da Academia dos anos 1860 pode ser caracterizada como uma intensa disputa política entre liberais moderados e radicais (Adorno, 1988). É preciso que se distinga com clareza a vertente liberal-radical (expressão que aparece pela primeira vez em 1866, na folha A Opinião Liberal), do conjunto bastante híbrido que será o Partido Liberal até abolição em 1888. O importante é que a passagem de Nabuco pela Faculdade coincide com o surgimento de uma nova corrente ideológica do liberalismo: preconizadora de valores liberais mais amplos do que os proferidos pelo discurso intra-oligárquico. (Bosi, 1988).
A influência do novo liberalismo nas ideias de Nabuco pode ser verificada em sua primeira obra, A Escravidão (1870). Na realidade, o livro era inspirado em A Escravidão no Brasil, que Perdigão Malheiros lançara em 1867, historiando e quantificando o escravismo, apontando sua imoralidade e ilegitimidade, sem contestar o direito de propriedade sobre a escravaria. (Alonso, 2007). Embora seja uma obra imatura, já aparece no argumento do pernambucano as teses de um dos principais expoentes desse liberalismo renovado: Tavares Bastos (1839-1875). Isso se torna claro quando Nabuco repete a ideia de que as leis mudam os costumes para invocar a necessidade de que más instituições - como a escravidão - deviam desparecer pela força de instituições boas.
Vale dizer que A Escravidão (1870) foi resultado da defesa pública feita por Nabuco em seu último ano na Escola de Direito do Recife. Naquela época, os alunos tinham o costume de defender um réu no tribunal no fim do curso e Nabuco escolheu o escravo Tomás – caso muito conhecido, pois se tratava de um escravo que matara seu senhor e um guarda. O interessante é que neste livro já aparece a ideia central que percorrerá a trajetória abolicionista de Nabuco anos mais tarde: de que a escravidão representa o adiamento da civilização brasileira na medida em que tudo corrompe: principalmente os costumes (base da sociedade livre).
Ao deixar a Academia a atividade maior de Joaquim Nabuco girou em torno dos artigos que escreveu para Reforma. Escritos entre 1871, 1872 e 1873, esses artigos tinham como função principal criticar a ideia dos republicanos, que não viam como modernizar o país sem mudar o regime de governo. Por isso, segundo o próprio Nabuco, foi nesta época que seu ideário fixou-se de vez na monarquia e a influência mais importante subjacente a este movimento foram as ideias do inglês Walter Bagehot (1826-1877). Para ele, o governo de gabinete proposto por Bagehot possuía uma superioridade prática sobre o sistema presidencial americano, sobretudo por conseguir captar de maneira mais eficiente as demandas da opinião pública através da Câmara dos Comuns.
Ainda que o jovem Nabuco tenha logrado brilho próprio com seus artigos, a política ainda não era sua vontade maior. Saiu candidato a deputado pelo Partido Liberal de Recife em 1872 e fracassou. Mas ele mesmo lembra que seu interesse naquele momento não estava na política do Brasil, estava em Sedan; não estava na formação do gabinete Rio Branco, estava no incêndio em Paris. (Nabuco, 1966). O desejo maior do bacharel era conhecer a Europa, conhecer os homens célebres, a literatura, a arte, a política, os costumes, a história, o direito, a poesia – tudo aquilo que para Nabuco representava séculos de civilização acumulada. O ano de 1873 foi praticamente dedicado à primeira viagem do jovem pernambucano ao continente europeu, passando pela Itália, França e Inglaterra.
Ao longo de sua trajetória no exterior Nabuco manteve firme suas veleidades literárias e publicou em Paris um livro de poesias em francês, Amour et Dieu, que havia escrito enquanto viajava pela Itália. E não hesitou em enviar sua publicação para algumas personalidades do mundo das letras. "Encontrou-se com Renan, Taine e George Sand, entre outras figuras da vida intelectual francesa. Quando voltou Nabuco trazia na bagagem mental as letras e civilização experimentadas e vividas pessoalmente. " (SALLES, 2002:87-88) O retorno do viajante foi em 1875 quando travou a conhecida polêmica com José de Alencar.
A polêmica Alencar-Nabuco: liberalismo e escravidão
A celeuma literária travada entre José de Alencar e Joaquim Nabuco tem registro nas páginas de O Globo em 1875 e o motivo desencadeador de toda polêmica é o fracasso na encenação de O Jesuíta de Alencar. Os ânimos se levantam quando ambos buscam justificar a ausência de público na peça. De um lado Nabuco sugere que a O Jesuíta não animava os novos frequentadores dos teatros do Rio de Janeiro; do outro, Alencar afirma que não havia público naquele momento como houvera há vinte anos. Este embate inicial abre ensejo para o jovem pernambucano analisar, ainda que num tom pedante e europeísta, o nativismo das obras do romancista cearense.
O importante é que Nabuco mira o político para atacar o literato. Ele nunca perde de vista que "o homem político prejudica por todos os modos" o homem da literatura. Por isso o incômodo do crítico diante da presença da escravidão nas peças O Demônio Familiar e A Mãe de Alencar. Tais peças seriam a prova de que o chefe da literatura brasileira considerava a escravidão um artefato poético, enquanto ele se aborrecia com tudo que aquela instituição lembrava. "Há certas máculas sociais que não se devem trazer ao teatro", retrucava o pernambucano.
A crítica de Nabuco à presença da escravidão nos romances de Alencar é errada do ponto de vista estético e político-ideológico. Tanto que Alencar o responde facilmente: "a escravidão é um fato de que todos nós brasileiros assumimos a responsabilidade, pois somos cúmplices dela como cidadãos do Império. " (COUTINHO, 1965:119) Ou seja, em sua crítica artística, lembra Nogueira (2010), Nabuco fechava os olhos para a realidade do país e reivindicava a existência de um momento de instrumentalização na reprodução estética, que deveria ver somente as coisas boas da vida, não as repugnantes. No entanto aqui a argumentação é dupla: Nabuco crítica tanto o chefe da literatura por retratar a instituição nefanda em seu teatro quanto o ex-deputado conservador por ser contrário a abolição da escravidão. (RICUPERO, 2004:201)
É essa crítica ambígua que norteará Nabuco em sua tarefa de "descobrir a incógnita da vocação literária" de José de Alencar. Nesse sentido, a despeito das questões estéticas e artísticas, vale destacar a rusga do jovem liberal diante das posições políticas de Alencar. Afinal, em que partido ele se acha? Que ideias apoia? "Por ocasião da discussão do elemento servil, o deputado cearense combateu denodadamente pela escravidão; hoje ninguém poderia dizer o que ele quer, ele mesmo não sabe." (COUTINHO, 1965:216)
É preciso lembrar que Joaquim Nabuco repudiava a ideia alencariana de que a escravidão, ainda que condenável em princípio, criava condições para o florescimento da civilização do país como em outros momentos da história universal (SALLES, 2002:89). Talvez seja por isso que ele se coloca contrário àquela instituição, mas não sabe muito bem, ao menos naquele momento, o que fazer com os escravos. " (RICUPERO, 2004:202) O mais importante é que essa postura de Nabuco revela sua dificuldade de reivindicar as ideais do liberalismo europeu na sociedade escravista brasileira. "Esposando um ideário que se chocava com nossa realidade, embora fosse por ela exigida, o jovem liberal era obrigado a diversas manobras para impedir a falsidade de seu pensamento. " (NOGUEIRA. 2010:93). É o liberalismo que faz Nabuco suspeitar do título de Alencar - tratado como chefe da literatura nacional ou "pai da nação" - ainda que ele mesmo não tenha em mente o seu projeto nacional.
O dilema liberalismo/escravidão/nação vai ganhar novos contornos nas obras e escritos abolicionistas de Nabuco. Na próxima seção se buscará revelar como o pernambucano vai mobilizar seu liberalismo abolicionista para propor o projeto político reformista de abolição e a regeneração da monarquia. O argumento central é que o léxico político de Nabuco congrega tanto aspectos da doutrina liberal europeia quanto elementos da tradição nacional do liberalismo para levar a cabo seu curso de ação. Nesse sentido, o liberalismo do pernambucano revela diferenças significativos se comparado ao liberalismo de José de Alencar.


O liberalismo abolicionista e o projeto político nacional

A Nação como problema duplo
A linguagem abolicionista de Nabuco se articula num contexto político-ideológico diverso no qual a nação estava em disputa. No plano imediatamente político, os últimos anos antes da abolição são marcados por fraturas e reconfigurações partidárias. Do lado conservador, a unidade escravagista dava sinais de esgotamento, levando o partido a cindir-se em dois; no campo liberal, embora certa parcela do partido já tivesse se convertido ao abolicionismo, as resistências ao projeto de emancipação total ainda existiam. Havia também o abolicionismo do partido republicano, cuja posição se colocava claramente no terreno antimonárquico. Tudo isso para dizer que as forças estavam em disputa e, nesse movimento, estava também em o jogo o modelo que deveria guiar a nação brasileira diante da crise e fim da sociedade escravista.
No plano das ideias, os projetos nacionais em disputa se relacionam intimamente com um processo no qual novas forças sociais passaram a exigir posturas e concepções mais ajustadas às aspirações do progresso e reforma político-social para o país. Formou-se, desse modo, um ambiente mais favorável à rápida difusão de doutrinas como o positivismo, o naturalismo e o evolucionismo. (NOGUEIRA, 2010:114) Naquele momento os cinco principais grupos político-ideológicos que se formavam eram: 1) os liberais republicanos; 2) os novos liberais; 3) os positivistas abolicionistas; 4) os federalistas científicos paulistas; 5) os federalistas científicos gaúchos (ALONSO, 2002:179-188). Joaquim Nabuco pertencia ao grupo dos novos liberais, que se "apresentaram como herdeiros da melhor cepa liberal do Império: da geração de Bonifácio, idealizadora da Independência e da monarquia com o trabalho livre, bem como de todos os reformadores do Segundo Reinado." (ALONSO, 2002:293) O mais importante é que o liberalismo – assim como o positivismo – vai se constituir no eixo ideológico principal que balizará o movimento abolicionista no Brasil e, nesse sentido, Nabuco tem papel fundamental como político atuante em prol de um projeto nacional liberal.
Para compreender a linguagem abolicionista de Nabuco é preciso lembrar que a questão da nação é um problema duplo. Isto é, se pode dizer que o fim evidente e previsível da escravidão e a relevância do tema das nacionalidades no panorama internacional são concomitantes a um momento importante da história intelectual brasileira. Momento esse que se coincide, mas não se confunde com a montante abolicionista no início da década de 1880. Mais precisamente, essas novas ideias se expressam na produção literária e cultural do Brasil daquela época – elementos que se relacionam intimamente com a construção da identidade nacional, tal qual adverte Benedict Anderson em seu conhecido trabalho sobre as Comunidades Imaginadas. (SALLES, 2002:110)
Esse novo movimento literário e cultural reelaborou a narrativa nacional na medida em que deslegitimou a tradição inventada pelos saquaremas: o nacionalismo indianista dos românticos (cujo o expoente maior era José de Alencar). A identidade brasileira será agora reafirmada pela formação histórica e racial do povo, ou melhor, pela consequência mais evidente dos efeitos específicos da escravidão na formação desse povo: a miscigenação. "Assim, a mestiçagem, e não mais os mestiços, num deslocamento verbal sutil mais significativo como processo histórico e biológico, havia sido a condição da nacionalidade e da civilização nos trópicos. " (SALLES, 2002:114). Nabuco destoa desta concepção de nação, pois ele busca compreender a escravidão moderna –e não a mestiçagem – como a marca do processo histórico e racial brasileiro. Assim ele exige o fim imediato dessa instituição e invoca seu projeto reformista como circunstância viabilizadora da nação. Não por acaso esse será um dos temas centrais de sua obra mais conhecida, O Abolicionismo (1883). É essa ideia de escravidão como explicação da nação que baliza a ação política de Nabuco e dá o tom de seu liberalismo, como veremos na próxima seção.
Escravidão, Nação, Liberalismo e Monarquia
O diagnóstico abolicionista de que a escravidão nos legou uma nação incompleta é ponto de partida para compreender o liberalismo de Nabuco. Em uma de suas obras principais, O Abolicionismo, esse parece ser o tema central. Por isso, logo nas primeiras páginas do livro, a escravidão toma uma dimensão elástica como se fosse um princípio definidor para analisar a realidade fragmentada. Como lembra o pernambucano,
"Esta [a escravidão] não significa somente a relação do escravo para com o senhor; significa muito mais: a soma do poderio, influência, capital e clientela dos senhores todos; o feudalismo estabelecido no interior, a dependência em que o comércio, a religião, a pobreza, a indústria, o Parlamento, a Coroa, o Estado, enfim, se acham perante o poder agregado a minoria aristocrática em cujas senzalas centenas de milhares de entes humanos vivem embrutecidos e moralmente mutilados pelo regime a que estão sujeitos [...]" (NABUCO, 2003:71)

A Escravidão como problema total exige que Nabuco unifique em seu argumento o que se encontra unido nos objetos de sua escolha. O que ele tenta mostrar a todo momento é que essa instituição não é um ente abstrato, é uma realidade que está nas coisas, na Lei, no Governo, na Coroa, nos costumes, na sociedade, no território e na geografia, enfim, na origem da nação. Dito de outro modo, o pernambucano aponta que a nação brasileira tinha sua origem ancorada no processo histórico da escravidão moderna e esta não poderia ser mais refeita, era um dado material. Contudo, as consequências, a obra da escravidão, poderiam e deveriam ser eliminadas por outra obra que significasse a realização efetiva da nação. (SALLES, 2002). Por isso, para Nabuco, "a nação só será possível enquanto tiver consciência que lhe é indispensável adaptar à liberdade de cada um dos aparelhos de seu organismo de que a Escravidão se apropriou". (NABUCO, 2003:70)
É a amplitude da escravidão que faz com que o movimento abolicionista seja uma "série de motivos políticos, econômicos, sociais e nacionais da mais vasta esfera e do maior alcance" (NABUCO, 2003:152). Para Nabuco o objetivo mais geral desse movimento consistia em refundar a nação sobre o princípio da liberdade no trabalho e na igualdade social das raças, na qual tanto o escravo seria um cidadão efetivo na medida em que o senhor fosse capacitado para a cidadania. Nabuco faz questão de frisar que a abolição como reforma social deveria atuar no sentido de criar condições para o trabalho digno e pleno em direitos. Só assim se despertaria "o incentivo do homem pobre a vista do bem-estar adquirido por meio do trabalho por indivíduos de sua classe" e ele poderia se efetivar cidadão. Ou seja, para Nabuco era necessário que a imensa massa de população livre atravessasse "pelo sentimento de independência pessoal, pela convicção de sua força e de seu poder, o longo estádio que separa o simples nacional do cidadão na comunhão que pertence" (NABUCO, 2000:134) Esse talvez seja o aspecto principal que caracteriza seu liberalismo abolicionista e sua ação política, qual seja de atuar no sentido de criar o povo-nação e dar a ele autoconsciência. (NOGUEIRA, 2010:158). Por tudo isso, lembra Nabuco,
"[...] o abolicionismo significa a liberdade pessoal, ainda melhor a igualdade civil de todas as classes sem exceção – é assim uma reforma social; significa o trabalho livre, isto é, é assim uma reforma econômica; significa no futuro a pequena propriedade, é assim uma reforma agrária [...]" (NABUCO, 2010:225)

Em linhas gerias, essas reformas consistiam num projeto de reconstrução da nação sobre o trabalho livre e a união das raças em liberdade. São pontos desse projeto: a) abolição completa, civil e territorial da escravidão; b) derramamento da instrução pública universal; c) reforma agrária, visando o desenvolvimento da pequena propriedade; d) imigração estrangeira europeia; e) industrialização; f) liberdade religiosa. É diante dessas reformas que Nabuco traça sua estratégia política. Para o pernambucano "a corrente abolicionista conseguiu pelo menos pôr em descoberto os alicerces mentirosos do liberalismo entre nós. " (NABUCO, 2003:74). Ou melhor, para ele o abolicionismo faria o partido liberal seguir sua marcha verdadeira, uma vez que viabilizaria a formação de um partido popular capaz de pressionar a Coroa para realizar transformações mais amplas. Em outras palavras, o que queria Nabuco era converter o futuro partido liberal, devidamente reorganizado, em representante do interesse geral da nação. Interessante é que Nabuco ainda insiste na forma monárquica como poder independente capaz de executar tais reformas.
O que merece maior atenção é que os argumentos mobilizados por Nabuco em sua ação política buscam inspiração tanto no liberalismo europeu quanto na tradição nacional dessa doutrina. Isto é, de um lado, a questão da nação presente nos escritos e obras do pernambucano invoca o espírito democrático do liberalismo europeu na medida em que ele reconhece que a participação política não é, e nem pode ser encarada como privilégio de poucos, pois fosse o que fosse uma nação ela sempre incluiria o elemento da cidadania e da escolha e da participação de massa. Sendo assim, Nabuco não definiu a nacionalidade somente pela posse do sentimento nacional, mas também acrescentou que os membros de uma nacionalidade desejam que seja um governo deles próprios ou de uma porção deles, assim como pensou John Stuart Mill (HOBSBAWN, 1990:31). Dito de outro modo, se pode dizer que a linguagem de Nabuco assimilou certas questões do democratismo liberal, sobretudo quando aponta para necessidade de reformas sociais para criar o povo e a nação e, assim viabilizar – ainda que no futuro – a construção de um "verdadeiro" governo representativo no Brasil. É nesse sentido que o abolicionismo pode ser considerado uma luta da nação inteira na qual a própria nação se constituiria. (NOGUEIRA, 2010)
Na outra ponta, a influência da tradição nacional na linguagem de Nabuco pode ser observada em sua defesa do monarquismo federativo. O que queria o pernambucano era regenerar a monarquia sobre novas bases sociais e políticas, de modo que fosse possível a existência "de um poder central forte o bastante para corrigir os excessos ou desvios da organização federal e do espírito separatista que pudessem abalar a unidade nacional" (NABUCO, 2010:223). Dessa forma a monarquia deveria ser transformada através de um projeto de descentralização administrativa e política do Império e, a Coroa atuaria como poder moral e independente executor das reformas e controlador dos poderes locais. Ao operar dessa maneira Nabuco revitaliza a tradição monárquica nacional, buscando reorientar o poder pessoal do Imperador. Como lembra o próprio, "neste último período a noção de monarquia para mim era esta: a tradição nacional posta a serviço da criação do povo, o vasto inorganismo que só em futuras gerações tomará forma e desenvolverá vida". (NABUCO, 2010:248) Tudo isso para dizer que a originalidade do léxico abolicionista ganha forma na fusão de elementos da doutrina liberal europeia e da tradição nacional do liberalismo que balizam o curso de ação política de Nabuco.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de nação presente na obre de José de Alencar aponta para uma nova linguagem política, que é mobilizada, não somente na literatura, mas também na própria política e é levada a cabo tendo em vista alguns preceitos do liberalismo clássico. (RODIRGUES, 2001). Em outras palavras, o político conservador articula em sua linguagem elementos históricos, sociais, econômicos e políticos para defender sua posição escravista, destacando a importância dessa instituição como missão educadora, como modo de produção econômica do país e como instrumento do Estado para um projeto nacional efetivo que tivesse como norte a inserção do Brasil no cenário político-econômico-político internacional. (PARRON, 2008; RIZZO, 2012). Em síntese, a existência da escravidão é legitimada no projeto de nação alencariana e, para justificar seu curso de ação, o autor mobiliza principalmente os princípios do liberalismo clássico como, por exemplo, o progresso e a noção de representação. O importante é que o liberalismo de Alencar acaba por justificar a escravidão como instituição que faria florescer o progresso moral, civilizatório e econômico da nação brasileira.
Na outra ponta, Joaquim Nabuco também mobilizara alguns preceitos do liberalismo clássico para defender seu projeto nacional, no qual a abolição da escravidão era condição fundamental para o desenvolvimento do país. Para Nabuco a nação brasileira tinha sua origem num processo histórico ancorado na escravidão moderna e essa origem não poderia se mais refeita, era um dado material. Contudo, as consequências, a obra da escravidão, poderiam e deveriam ser eliminadas e substituídas por outra obra que significasse a realização efetiva da nação. (SALLES, 2002). Dessa forma, o liberalismo presente na linguagem abolicionista de Nabuco é contrário ao liberalismo de Alencar, pois o fim da escravidão deveria ser o inicio de um projeto político que visasse uma transformação mais ampla, que atuasse no sentido de criar povo-nação e dar a ele autoconsciência. (NOGUEIRA, 2010). Esse é o duplo caráter nacional do liberalismo abolicionista de Nabuco: o de ser uma luta da nação inteira, na qual a própria nação se constituiria.
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