Para que servem as instituições culturais em épocas de crise ? (2015)

August 14, 2017 | Autor: Rui Matoso | Categoria: Cultural Policy, Cultural Theory, Democratization
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DRAFT in progress / ESBOÇO em desenvolvimento

Para que servem as instituições culturais em épocas de crise ? Todos sofremos agora mais do que em qualquer outro momento pela falta total de agentes, de instituições coletivas capazes de atuar efetivamente. Zygmunt Bauman1

[ Data e autor desconhecidos. ]

Ao longo da história da humanidade, a formação da cidade enquanto território político de uma comunidade (polis) ou das mais diversas instituições (políticas, sociais, culturais, cívicas, etc), surge como resultado da interação entre pessoas e a envolvente contextual com o propósito de organizar a vida colectiva em torno de princípios, valores e bens comuns (paz, saúde, liberdade, segurança, igualdade, educação, cultura,...) orientadas para promover a “vida boa” (bios) na sua pluralidade de situações, e assim salvaguardar o futuro. Sem um nível adequado de interação social e simbólica que permita gerar laços de 1 http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=102739 Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

pertença cultural, estimular novos vínculos sociais e simultaneamente produzir a capacidade para partilhar novas ideias e novos mundos, uma instituição não cumpre o seu desígnio de nutrir e sustentar as relações sociais. Neste sentido, uma instituição pode também ser vista como uma tecnologia social que possibilita a durabilidade e sustentabilidade de uma determinada sociedade. Uma instituição é assim um coletivo de elementos em interação permanente – com maior ou menor inércia-, composto por actores humanos e não-humanos (máquinas), os quais em conjunto favorecem o desenvolvimento de estratégias de ação. No caso das redes telemáticas, veja-se, por exemplo, o papel das tecnologias de mediação, nomeadamente nas “redes sociais” (facebook, twitter,etc.) e o potencial que comportam para criar ligações online e offline. Na esfera pública cultural uma das mais relevantes funções sociais das instituições, especialmente por via das práticas artísticas, é a capacidade de criticar e propor alternativas ao status quo vigente, o qual se expressa na cristalização das hierarquias, dos privilégios e das desigualdades. É por esse motivo que uma sociedade democrática não pede instituições paternalistas com modelos pré-concebidos, inculcados e administrados de cima para baixo, designadamente em épocas de crises múltiplas. As instituições devem antes conjugar as vontades coletivas e representar a sociedade civil (ou parte dela) face aos poderes políticos previamente instituídos no âmbito das constituições políticas republicanas, contribuindo desse modo para o desenvolvimento das sociabilidades, das solidariedades e para a intensificação da democracia. As instituições devem (re)conhecer e agir mediante os problemas concretos que afetam as sociedades em cada época, funcionando como um dispositivo coletivo de resolução/mitigação desses mesmos problemas. Os públicos das instituições seriam então mobilizados pelo pragmatismo e por uma ética que não é fundada na noção de obrigação mas na noção de valor, porque para lidar com os problemas as pessoas teriam de ajustar o seu comportamento (atitudes, motivações, estratégias, etc.) em relação à situação concreta. Ao mesmo tempo que sustentam a coesão e o equilíbrio necessário à construção social do mundo, as instituições (em geral) deveriam ser catalisadores do debate plural de ideias e projetos distintos - acolhendo o agonismo inerente às dissensões- de forma regular e sistemática, pois a isso obriga a diversidade sociocultural. Neste aspeto é fulcral que as instituições articulem estratégias de resistência contra fenómenos extremos, em especial contra toda e qualquer configuração do fascismo, seja político, social, financeiro ou de outro género. Desse modo, abrem espaço à inovação social e ao questionamento radical, não ficando exclusivamente ao serviço de esquemas reprodutores do condicionamento social e de comportamentos miméticos. Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

INSTITUIÇÕES CULTURAIS / CAPITALISMO SEMIÓTICO O que capitaliza o capital é poder semiótico. Félix Guattari (A Revolução Molecular)

[ Damien Hirst, Lullaby, the Seasons (2002) -fragmento. ]

O campo cultural, como qualquer outro campo, não o podemos esquecer, é atravessado por forças de dominação e poder que atuam em diversos espaços sociais, com grande relevo no próprio aparelho de Estado e administração pública. Se entendermos que um equipamento cultural público (teatro, museu, etc.) representa a materialização histórica de um certo tipo de instituição cultural (material e simbólica, espacial e semiótica) - tão antiga como o théatron grego – podemos afirmar que tudo o que anteriormente referimos se aplica com maior acuidade ao sector cultural. Porquê? Porque importa reconhecer a indubitável importância da dimensão cultural (simbólica) nos processos de individuação psicológica e coletiva, certamente com diferentes nuances ao longo da história, mas com um maior grau de complexidade nas atuais sociedades ditas do conhecimento e da informação. É sabido que o capitalismo pós-fordista reveste-se de um investimento generalizado na flexibilidade dos processos, dos produtos, dos padrões de consumo, dos mercados e da organização do trabalho. Nesta situação, a crescente mercadorização da cultura sob a égide do capitalismo tardio globalizado vem determinando a capitulação incondicional da cultura face aos Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

imperativos do capital global, numa lógica de comercialização generalizada de todos os aspetos da vida e do conjunto das relações sociais. Sob estas condições, o cidadão é tratado simultaneamente como consumidor e como produto, como empreendedor que se explora a si mesmo de modo a produzir mais valias para o capital. Como Debord vaticinou, o espectáculo é o capital a um tal grau de acumulação que se torna imagem, e a imagem é um objeto mediador das relações sociais, o que significa que as relações sociais mediadas pela cultura (imagens, artes, conhecimentos, etc.) ficam capturadas pela mesma lógica de mercantilização infinita, que nos seus aspetos fundamentais significa: privatização dos serviços públicos, precariedade generalizada, aumento da miséria e pobreza... No horizonte do “Capitalismo Cognitivo”, Franco Berardi Bifo avança com o conceito de Cognitarian Subjectivation (Bifo, 2010) apropriando-se da noção de intelecto geral delineada por Marx no manuscrito Grundrisse. Actualizando a concepção inicial de Marx, Bifo incide a sua análise nos excessos do trabalho semiótico em torno da linguagem, do conhecimento e da informação, i.e., na produção daquilo que designa como info-mercadoria ou semiocapital: «O semiocapital apropria-se das energias neuro-psíquicas e coloca-as ao seu serviço, submetendo-as às velocidades maquínicas e compelindo a atividade cognitiva a seguir o ritmo da produtividade das redes telemáticas.» (idem, tradução nossa). Tal como os peixes num aquário dependem da qualidade da água em que estão imersos, nós dependemos da atmosfera cultural existente a cada momento e daquela que soubermos produzir. As instituições devem por isso zelar pela boa qualidade da vida cultural, pela qualidade da vida mental e espiritual dos cidadãos, ou seja, pela defesa de um meio-ambiente cultural revitalizante, criativo, crítico e emancipador. Mas que processos de subjetivação individual (individuação psíquica) e coletiva podem ocorrer no contexto do capitalismo cultural? Questionando de outro modo, qual o papel das instituições culturais num ambiente globalmente dominado pela ditadura dos mercados? Numa outra dimensão da cultura – formas da religião -, a ideologia financeira apropriou-se e incutiu sobre os povos do sul (católicos) a ideia de que a dívida pública equivale a um pecado cometido contra o deus dinheiro, a análise de Walter Benjamin em torno do Capitalismo como Religião é esclarecedora, o capitalismo é provavelmente o primeiro exemplo de um culto que não é expiatório (entsühnenden), mas culpabilizador, evocando a ambiguidade da palavra alemã «Schuld», que significa ao mesmo tempo dívida e culpa. Neste sentido, o que o capitalismo tem de historicamente inédito é que, enquanto religião, não representa a ideia cristã de salvação, mas Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

antes, a de ruína do ser humano. Ainda que as instituições culturais forneçam os meios (espaço, tempo, pessoas, tecnologias, etc.) que possibilitam a interação social-simbólica e a experiência estética, tal função não está isenta da sujeição aos múltiplos poderes e violências simbólicas que operam condicionamentos individuais e coletivos. Convém por isso ter um entendimento da instituição cultural (material: espaço físico ou intangível -comunicação-) enquanto dispositivo sociotécnico transdutor, ou seja, enquanto ecossistema produtor de equilíbrios meta-estáveis (nem estáveis, nem instáveis) e interface por onde circulam as codificações e as descodificações das palavras-de-ordem e dos textos, em sentido lato. É em interação com este meio-ambiente-cultural (o tal aquário semiótico) e espaço de socialização secundária, que em parte se modulam as formas de pensar e agir dos indivíduos, a individualidade e auto-identidade (self). A profundidade desta interação transdutiva, sabe-se hoje, não é apenas entre individuo e ambiente, mas alcança o estrato neuronal e alterações na neuroplasticidade induzidas pela intensa imersão em ambientes tecnológicos. O homem é assim o único animal, diz Berardi Bifo, que desenvolve ambientes que por sua vez moldam o cérebro humano. É pois legitimo afirmar que as instituições culturais são co-responsáveis pela qualidade das transações, das interações e das experiências, não podendo por isso demitir-se do seu papel mobilizador dos agenciamentos críticos que permitam a auto-reflexão individual e coletiva, em especial em épocas de crise e desorientação como aquelas que vivemos. Caso contrário perdem valor institucional e não servem (ou pouco servem) à função de contribuir para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das capacidades humanas e florescimento do bem-estar, solidariedade, liberdade, justiça, democracia, etc. Se as instituições culturais públicas, inerentes à categoria do comum, não (re)agirem às dinâmicas coercivas lançadas na sociedade - dinâmicas que assumem contornos cognitivos, emocionais, afectivos e simbólicos, mas que promovem igualmente a despolitização de largas camadas da população-, recriando novos paradigmas de interação e mediação cultural, ficam reféns dos sistemas de dominação e controlo (mercados e governação). O reposicionamento das instituições culturais deverá partir do reconhecimento dos problemas existentes a cada momento: para além dos problemas locais, a questão da economia/hipertrofia da atenção, hipermediatização, despolitização, exaustão psicológica, precariedade laboral, angústia social, depressão económica, alterações climáticas, guerra infinita, Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

etc, etc, etc. Só reconhecendo, agindo e comunicando a partir da problematização criativa dos problemas concretos é que as instituições culturais validam a sua pertinência junto dos públicos emancipados – os que potenciam a comunidade que vem. A comunicação assume assim a condição prévia de toda a participação e também da formação dos públicos. O público neste contexto é, na esteira do pragmatismo de John Dewey, um público político no sentido forte e associativo. Não sendo um grupo ou comunidade naturalizado e dado antecipadamente, o público co-emerge através das interações e transações, e por isso mesmo não preexiste às condições e situações que provocam essa emergência. Ou seja, os públicos são plurais e dinâmicos, não são uma identidade cristalizada, existem em potência, podendo ter existência real caso se verifiquem as condições e os contextos necessários à interação. Por outro lado, as pessoas que integram esses públicos - todos nós na medida em que somos simultaneamente leitores e produtores de textos - requerem um quadro de interação e participação, bem como delineiam um horizonte de expectativas que exige atenção e dedicação genuína por parte das instituições culturais. Os públicos não são actores neutros e incapazes, antes pelo contrário, transportam consigo toda um património de conhecimentos e capacitações adquiridas ao longo da vida que lhes permitirá averiguar e avaliar o valor das instituições. E o facto de estarmos hoje mais afastados da participação cívica e da interação social-simbólica diz muito acerca do fracasso das instituições e do seu contributo para a vitalidade social e urbana.

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CRÍTICA INSTITUCIONAL / PRÁTICAS INSTITUINTES Anger is an Energy. John Lydon

Artistic freedom today should be tied to a different ideological project: an exploration of a principled fundamental democracy in which the imaginative force of art is a primary tool do defy rather than secure democratist monopolies of power. Jonas Staal

[ Thomas Hirschhorn, Gramsci Monument (2013)]

No decurso das primeiras vanguardas, designadamente do dadaísmo, desenvolveram-se práticas artísticas sustentadas pela vontade de transformar as estruturas sociais, aproximando arte e vida num mesmo plano através de estratégias de arte crítica e política. A história da arte contemporânea é prolixa na diversidade e intensidade de ações e processos que visam alterar a correlação de forças e poder no campo artístico e social. Joseph Beuys criou a “Universidade Livre” fundada sobre princípios de autonomia e autogestão. Hans Haacke vem trabalhando subversivamente por dentro das instituições, desconstruindo formas de dominação financeira e ideologias totalitárias. Mais recentemente, artistas como Christoph Schlingensief (1960-2010) ou Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

colectivos como Rimini Protocol criaram projectos que provocam instabilidade na perceção de fenómenos sociais, económicos e políticos. Outros criam instituições e movimentos verdadeiramente implicados em problemáticas sociais como Filip Noterdaeme e o seu Homeless Museum of Art, o Institute For Human Activities de Renzo Martens, a Church of Stop Shopping do Reverendo Billy ou o Imigrant Movement Internacional impulsionado por Tania Bruguera. Na vertente da Crítica Institucional são os artistas quem desencadeia as ações numa luta de tomada de posições na esfera das artes contemporâneas, no combate contra a mercadorização absoluta ou privatização do valor artístico pelo mercado. A instalação “GERMANIA” de Hans Haacke para o pavilhão alemão da Bienal de Veneza de 1993 é considerada paradigmática pela maneira como expôs as relações entre ideologia, história e instituições de arte. O pensamento e a ação crítica relevam do questionamento da obediência absoluta e da submissão dos sujeitos às formas autoritárias de governação. Nesse sentido a crítica requer uma prática autocrítica que produza a transformação das subjetividades, implica por isso uma vontade de não querer ser governado através de políticas injustas e ilegítimas, mas também recusar as verdades ou as narrativas impostas de forma autoritária. Uma das linhas de intervenção neste campo é o denominado artivismo, cujas práticas vêm sendo implementadas dentro e foras das instituições culturais, tornando-se muitas das vezes aliadas dos protestos cívicos ocorridos nas cidades. Em 2014 Rui Mourão criou múltiplas performances artivistas no confronto direto com instituições culturais públicas, designadamente no Museu de Arte Contemporânea - Museu do Chiado com a exposição Os Nossos Sonhos Não Cabem nas Vossas Urnas! Apesar de nas últimas décadas o activismo artístico performativo estar praticamente desaparecido da rua, o colectivo Felizes da Fé (1985) trouxe entre os anos 80 e 90 uma forma peculiar de provocar a ordem burguesa conservadora ligada ao regime de Cavaco Silva. No sector das artes visuais portuguesas, apesar de serem escassas as exposições com abordagens críticas e interventivas, a recente exposição O Tempo e o Modo, para um Retrato da Pobreza em Portugal, afirma que «o pensamento cultural e artístico deve contribuir para uma reflexão e observação do estado da Pobreza, analisando a sua evolução histórica, de forma a permitir um entendimento esclarecido e crítico da mesma, que seja útil à sociedade e aos cidadãos...numa proposta clara de pensamento como intervenção.» (Emília Tavares e Paulo Mendes, 2014). A prática crítica, seja em que campo for, não emana automaticamente de uma pressuposta liberdade inata da alma, nem é fruto da espontaneidade individual, pelo que a sua existência de Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

facto só é viável em contextos culturais propícios à reflexão e interrogação das formas de poder, à análise dos discursos e das práticas de governação, ou à desordenação das regras institucionais de produção e distribuição de conhecimento. Agir criticamente no actual contexto requer um entendimento de que os mecanismos de coerção e condicionamento do capitalismo tardio e da tecnopolítica (biopolítica, biopoder, neuropoder,...) são hoje substancialmente distintos e atravessam integralmente os corpos e as mentes humanas, como Foucault, Deleuze ou Guattári souberam demonstrar. A passagem da sociedade disciplinar (Foucault) a uma sociedade de controle (Deleuze) introduziu novos dispositivos técnicos que estendem as possibilidades de vigilância ao infinito e aceleram as ligações ao mundo virtual e tecnológico. O controle é hoje um dispositivo global contínuo e ilimitado, baseado na rapidez e no curto prazo, ao passo que a disciplina era administrada na longa duração. O homem pós-moderno já não é exclusivamente disciplinado pelas estruturas hierárquicas de poder, mas passou a ser também o homem endividado pela fluidez abstracta do capitalismo. Na nossa atualidade pós-política, em que o discurso dominante tenta obstruir a própria possibilidade de uma alternativa à ordem atual («there is no alternative», já dizia a baronesa Margaret Thatcher em 1970), todas as práticas que possam contribuir para a subversão e a desestabilização do consenso neoliberal hegemónico são certamente bem-vindas. É isso que Chantal Mouffe advoga quanto se questiona acerca da conceção de estratégias artísticas na política e estratégias políticas na arte, mas também sobre o tipo de relação a ser estabelecida com as instituições: devem as práticas artísticas críticas estar envolvidas com as atuais instituições, com o objetivo de transformá-las ou devem abandoná-las por completo? O conceito de práticas instituintes, permite-nos reformular as relações ente crítica e instituição cultural, vendo na crítica uma condição necessária aos processos de gestão, produção e mediação cultural, e na possibilidade de re-instituir a partir da intensificação da democracia e da participação. Desde logo isto significa, tal como referido anteriormente, partir do reconhecimento, análise e problematização criativa dos problemas concretos que afetam sociedades e grupos sociais concretos. Debater os problemas e elaborar estratégias e narrativas alternativas, construir visões contra-hegemónicas que favoreçam as transformações desejadas. Diríamos então que a passagem de um paradigma fundado no protagonismo e iniciativa do artista (Crítica Institucional) para uma outra visão mais abrangente onde o artista, o activista entre outros actores sociais colaboram na construção de imaginários sociais alternativos ou na democratização das instituições (Práticas Instituintes), se deve à necessidade de reagir a um Rui Matoso 2015 | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso | [email protected]

agravamento global das condições de vida e à intensificação complexa das crises no decurso da história catastrófica do capitalismo. A mobilização da “imaginação radical” (imaginar desde a raiz dos problemas) através de ações que convoquem a participação da arte na esfera sociopolitica e na vida comum. A imaginação radical, diz Max Haiven, «surge na maioria das vezes de forma mais vibrante em quem encontra a maior ou a mais aguda opressão e exploração, e muitas vezes é atrofiada e diluída em quem goza de maiores privilégios». O fundamental na ideia de práticas (artísticas/culturais) instituintes é a confrontação com o “democratismo”, que por um lado representa o dispositivo global de manutenção de monopólios de poder (político, militar, financeiro) sob uma aparência superficial (mediática) de democracia cada vez mais exposta nas suas verdadeiras intenções de dominação e controle; e por outro, está incorporado nos nosso habitus e estruturas de pensamento individuais e colectivas. Trata-se portanto de abrir espaços glocais de crítica e criação, momentos constituintes da democracia fundamental (Jonas Staal), logo, da democratização de todos os campos, da ecologia, economia, política, arte, etc. Algumas dessas novas práticas instituintes terão passado, para além de noutros territórios, também por aqui: Truth is Concrete um acontecimento que durou 24 horas/7 dias, e que reuniu mais de 200 artistas, ativistas e teóricos para produzir e discutir estratégias e táticas em arte e política. Beyond Allegories um debate no qual participaram 250 artistas, políticos, representantes sindicais, professores universitários, dramaturgos, representantes de organizações de refugiados e ONGs, jornalistas e estudantes. Reuniram durante sete horas na Câmara Municipal de Amesterdão para discutir o papel da arte no âmbito da governança, mobilização política e ação . Artist Organisations International reúne mais de vinte representantes de organizações fundadas por artistas cujo trabalho enfrenta as actuais crises na política, economia, educação, migração e ecologia. Apresenta igualmente uma agenda sociopolitica que liga o campo da ética com a estética. Não sendo apenas um meio de "questionamento" e "confrontação", a organização situa-se no campo da luta política diária. ECLECTIS (European Citizens' Laboratory for Empowerment: Cities Shared) é um projeto de cooperação entre diversas estruturas artísticas e culturais europeias, visando a implementação de processos para favorecer a integração dos cidadãos na tomada de decisões urbanas, valorização da diversidade europeia, o diálogo intercultural e as novas tecnologias como fontes para estimular a criatividade e novas práticas.

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