Para uma nova Ontologia da Obra de Arte

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"Arthur Danto: para uma nova Ontologia da Obra de Arte" in ENCUENTRO HISPANO-PORTUGUÉS DE ESTÉTICA “ARTHUR DANTO Y LA FILOSOFÍA DEL ARTE” 23-25 de Octubre, 2014 Universidad de Valladolid, Facultad de Filosofía y Letras O questionamento filosófico de Arthur Danto, é um convite para participar numa revolução em torno da pergunta: “O que é a arte?” A resposta tradicional: arte é “mimesis”, sustentada essencialmente por Platão e Aristóteles, mesmo tendo suportado teoricamente a ontologia da arte durante largos séculos, não parece mais ajustar-se às reais circunstâncias da produção artística. Que a relação entre arte e realidade há muito que deixou de ser mimética, já Heidegger, em Origem da Obra de Arte, tinha lembrado, ao afirmar que uma obra de arquitectura, como por exemplo um templo grego, não constitui imitação de coisa alguma. Quando pensamos no caso paradigmático da arte ready-made, coloca-se a questão dantiana dos “indiferenciáveis”, isto é, porque é que uma determinada caixa de detergente exposta na sala do museu é arte, mas no expositor de um supermercado já não é? O que define ontologicamente uma obra de arte? Danto questiona as relações entre arte e realidade, pondo em causa as convenções culturais que sustentam tanto o objecto artístico como o comum. Se o sentido ontológico da obra de arte já não depende do critério de sermos capazes de reconhecer o seu referencial, depende ainda, segundo Danto, de um critério que nos permita identificar determinado objecto como objecto artístico, salvaguardando a sua especificidade. Ainda que a arte não faça a imitação de um modelo real, é por relação ao real que a arte da segunda metade do séc. XX se constitui. O nosso autor defende que cabe à Filosofia da Arte estabelecer os critérios de distinção entre estes dois níveis de realidade e encontrar a identidade da obra de arte, determinando as suas especificidades ontológicas. Essa parece ser a grande questão que norteia o programa filosófico de Arthur Danto. A sua proposta é a de uma ontologia da obra de arte de cariz essencialista, que se numa primeira abordagem parece remeter para uma linha de pensamento que vai de Platão a Heidegger, na verdade distancia-se profundamente destes. Danto afirma que o problema~º da Filosofia da Arte tem sido o de procurar a “essência errada” . Destaca a heterogeneidade da arte contemporânea como característica essencial e afirma que esta não se compadece com definições de carácter nominalista. Como encontrar uma identidade comum se as diferentes manifestações artísticas são intrinsecamente irredutíveis? A nova proposta ontológica, de fundamento hegeliano, vem conciliar o essencialismo com a importância dada à historicidade, constituindo esta uma extensão do próprio conceito de arte, como o próprio conceito dantiano “Mundo da Arte” já parece de certa forma anunciar. O facto de a teoria de arte constituir a própria condição de possibilidade da arte do séc. XX e não uma mera forma de a compreender, põe a nu a dependência que a arte contemporânea tem de um suporte ontológico teórico. É assim que o conceito “mundo de arte” ganha especial pertinência, pois só integrada num matriz comum cultural, num conjunto de teorias sustentatórias, implícitas ou explicitas, é que um objecto pode ser considerada obra de arte. A diferença de natureza de dois objectos “iguais”, como no caso emblemático das Brillo Boxes de Andy Wahrol não é de natureza percepcional evidentemente, mas sim de natureza conceptual. Essa é a primazia da arte contemporânea. Uma nova ontologia visa abraçar o carácter fortemente conceptual da arte, desligando-se definitivamente dos imperativos e preconceitos estilísticos que dominaram a arte até pelo menos metade do século XX. É assim que Danto chega à conclusão de que o complexo estatuto ontológico de uma obra de arte depende essencialmente das seguintes condições: “Ser acerca de alguma coisa e corporizar o seu sentido” . Os predicados diferenciadores da obra de arte face ao objecto comum deverão baseiar-se no respeito pela significação específica de que foi originalmente investida tanto a obra de arte como a coisa comum. Clarificando, Danto afirma que em última análise essa distinção seria semelhante à distinção entre um gesto intencional e um movimento espasmódico do corpo , isto é, um gesto intencional e diferentemente um gesto desprovido de intenção.
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