Paternidade: esboço aula para especialização em Cuidado Espiritual da Faculdade Fidelis

May 17, 2017 | Autor: Matheus Negri | Categoria: Fatherhood, Paternidade
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Paternidade: esboço aula para especialização em Cuidado Espiritual da Faculdade Fidelis Matheus Negri1

Começamos a aula discutido a ementa. Propomos-nos a Desenvolver uma reflexão pastoral contextualizada brasileira a partir do contexto sociocultural e das Escrituras Sagradas. Primeiro definimos as áreas de estudo da Teologia: histórico-sistemática, bíblica e prática. O cuidado espiritual se inscreve na teologia prática. Essa é uma das mais recentes partes da teologia, tendo a sua sistematização no século XIX com Schleiermacher. Para ele a teologia prática se ocupa com a técnica da condução e do aperfeiçoamento da vida da igreja. Casiano Floristan, teólogo espanhol, foi o primeiro a escrever um manual de teologia prática para a América-Latina – Teología prática y práxis de La acción pastoral. Ele subdividiu a teologia prática em duas partes. Teologia prática geral observa as raízes bíblicas e históricas da teologia da ação pastoral e a questão dos agentes da pastoral; teologia prática especial, as disciplinas ou divisões da teologia na prática eclesiástica: missão, catequese, liturgia/homilética, comunidade, serviço. Dentro da comunidade está a dimensão da poimênica. Definimos poimênica como o ministério da ajuda da comunidade cristã para os seus membros e para outras pessoas através da convivência diária no contexto da igreja. O cuidado espiritual é uma dimensão da poimênica que procura ajudar as pessoas através da conversação e de outras formas de comunicação metodologicamente refletidas. Assim, seu objetivo é ajudar o indivíduo a viver sua relação com Deus, consigo mesmo e com o próximo de uma maneira consciente e adulta. Existem quatro tipos clássicos de modelos de cuidado espiritual. Temos o Fundamentalista de Jay E. Adams, seu objetivo é a confrontação, o uso

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Mestre em Teologia pela FABAPAR, especialista em Ética pela PUC-PR, bacharel em Teologia pela FABAPAR. Membro do grupo de pesquisa Teologia e Psicologia do CNPq. Membro da Associação Brasileira de Filosofia da Religião. Membro do Núcleo de Apologética e Ensino Cristão – NAPEC.

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exclusivo da bíblia como único fundamento para conduzir a vida do cristão; o Evangelical de Psicologia Pastoral de Gary Collins integra a psicologia moderna e o cristianismo bíblico numa visão psicoteológica do ser humano; o Holístico de Libertação e Crescimento de Howard Clinebell possui uma visão holística do ser humano que se baseia na antropologia bíblica, de forma a procurar desenvolver a personalidade com todas as suas possibilidades num processo de crescimento; e o quarto modelo, Contextual de uma Poimênica da Libertação de Lothar Carlos Hoch, o cuidado tem o caráter de apoio solidário na luta popular e acontece dentro do contexto específico de grupos de encontros. Quanto ao método a teologia prática possui duas abordagens para promover uma ação. Temos o ver, julgar e agir e a círculo hermenêutico. O primeiro método consiste em ser ver a presente situação do objeto do estudo, julgar a luz das sagradas escrituras e por fim propor uma ação prática. Já o círculo hermenêutico é formado por oito passos distintos: perceber a realidade da prática existente, analisar a autoexperiência, analisar a experiência dos envolvidos, formular perguntas, estudo de fontes bíblicas e confessionais, estudo dos textos relevantes das ciências humanas, diálogo entre a teologia e as ciências humanas e por fim esboçar uma proposta. Após a fundamentação teórica do curso passamos a abordar o objeto da matéria – a paternidade brasileira. Primeiro discutimos as transformações histórico sociais na família brasileiro como o êxodo rural e a propagação da televisão nos anos setenta. O uso da economia como eixo estruturador da sociedade, deixando os valores da solidariedade em segundo plano. A mudança do formato familiar de patricentrada para participativa, e a família nuclear. A terceirização das funções da família para os tios e tias da creche, condução... As novas formas de coabitação, como tentacular e homoafetiva. Os métodos contraceptivos, que separam o sexo da procriação. As transformações direta aos pais se referem a falta de hegemonia masculina, a ausência do pai devido a forte carga de trabalho, a crítica feminista que confunde autoridade com machismo e a difusão do exame de DNA. Também

observamos

as

transformações

jurídicas

da

família,

identificamos o documento dos direitos reprodutivos de 1979 (Rede Mundial

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dos Direitos Reprodutivos das Mulheres). A Constituição Federal de 1988 pondo um fim ao filho bastardo. A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, tornando a criança e o adolescente como sujeito de direitos. E os documentos do Ministério da Saúde chamados de Direito sexual e reprodutivo. Diante desse quadro é importante também verificar o contexto social e psíquico em que o pai brasileiro se encontra. Segundo Z. Bauman, estamos na Modernidade Líquida, as solides das convicções do passado não satisfazem mais. Juvenal Arduíni assevera que as características de nosso tempo é a intuição no lugar da racionalidade, o subjetivo ao metafísico, o emocionalismo, o sincretismo, o prazer, a tolerância e a violência. O que leva o sujeito a uma perturbação angustiante, devido à falta de referenciais e como consequência há a manifestação de suicídios, drogas e violências exarcebadas. Para esse quadro Rolo May, já na década de cinquenta, identificou três problemas do homem moderno: vazio, solidão e ansiedade. Todos esses sintomas são lidos pela psicanálise como tendo a crise da paternidade como causa. O que nos leva para uma pergunta: Por que o pai é tão importante? O pai é importante não porque ele é uma pessoa, mas porque a paternidade é uma função. Em 1913 Freud, em seu texto Totem e Tabu nos ajuda a entender, por meio de um mito científico, o princípio antropológico do pai. No mito existia um pai que era detentor de todas as mulheres da horda. Ele expulsava os filhos homem para que não tivessem acesso a elas. Um dia os filhos se juntaram numa fraternidade e atacaram o pai. Eles o mataram e comeram a sua carne, porém se sentiram culpados pelo que fizeram e se identificaram com o pai. De tal forma internalizaram a lei do pai contra o incesto e o tornaram grande em sua memória. Assim temos o pai como fundador da cultura, do sujeito e da religião. A lição que tiramos desse mito científico que a figura do pai interpreta a realidade. (1) Pelo pai se descobre o mundo das pessoas, a primeira ruptura entre mãe e filho é dada pelo pai. Pelo pai o filho encontra a existência masculina: o impulso para a autonomia, a docilidade, e a agressividade. (2) Pelo pai se descobre o mundo das coisas e dos valores: por meio das brincadeiras o pai insere os filhos na sociedade e os prepara para a

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profissão. A evolução do mundo dos valores, primeiro a mão por meio das ações afetivas ensina o que belo e bom. Depois o pai prolonga a atividade da mãe levando o filho a criar sua consciência moral. (3) Pelo pai se descobre o mundo religioso. Primeiro precisamos entender o caráter sobrenatural da fé e os seus pressupostos. A fé é um ato sobrenatural, por isso coloca a investigação psicológica de frente com o inacessível e misterioso. Mouboux disse “a fé é a resposta pessoal do homem ao Deus pessoal; é a doação de todo homem, o ato de uma pessoa que se entrega a outra pessoa”. A fé é, também, um ato individual, com todas as suas capacidades cognitivas e efetivas. Paul Tillich falou da fé até no inconsciente. Por isso somente a análise teológica pode indicar a estrutura dialogal da fé. A imagem bíblico-teológica do pai encontramos em Deus pai. Fizemos uma investigação em São Tomás de Aquino e em Karl Barth. Em São Tomás a paternidade de Deus é a sua própria pessoa subsistente e ingênita. Se revelando por meio da criação da humanidade, por seu governo divino e pela adoção do ser humano. Suas características são o amor, a perfeição e a misericórdia. E espera do ser humano honra, imitação, obediência e paciência. Em Karl Barth a paternidade de Deus é a mais profunda natureza de Deus, ligada ao seu ser. O teólogo lê em Romanos 8.16, “o próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”, uma ação trinitária – o Pai se revela no filho por meio do Espírito. Sabendo disso, como Deus revela sua paternidade? Para Barth não é a partir da paternidade humana, mas da paternidade divina entendemos a paternidade humana, pois “por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual se deriva toda a paternidade nos céus e na terra” Efésios 3.14,15. Assim em Karl Barth, Deus revela sua paternidade exclusivamente por meio de seu ato revelador. Quanto à psicologia religiosa da criança, ela é inicialmente influenciada pela religiosidade dos pais, podendo mudar drasticamente na adolescência. Sabemos que se faltar relacionamento do filho com o pai será difícil, mas não impossível, desenvolver uma atitude de fé e confiança em Deus. Já quanto à influência direta do pai na vida religiosa do filho sabemos por meio de pesquisas em que há maior chance do filho seguir a religião do pai do que da mãe, demonstrando uma força maior e mais duradora do pai em

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relação a mãe. Porém, como a fé é individual não há garantias empíricas de que os filhos seguirão a religiosidade dos pais. Encerramos a aula com uma atividade prática sobre a paternidade na vivência dos alunos.

Bibliografia básica

BOFF, Leonardo. São José a personificação do Pai. Verus Editora: Campinas, 2005. FREUD, Sigmund. Totem e tabu (1913). Rio de Janeiro: Imago, 1996. JURITSCH, Martin. Sociologia da paternidade: o pai a família e no mundo. Rio de Janeiro: Petrópolis, 1970.

Bibliografia complementar

DÖR, Joel. O pai e sua função em psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. DUMESIL,

François.

Paternidade,

maternidade

e

responsabilidade:

sugestões práticas. São Paulo: Paulus, 2008. HEINOWITZ, Jack. Pais grávidos: a experiência da gravidez do ponto de vista dos maridos. São Paulo: Cultrix, 2005. GOTTMAN, Jhon. Inteligência Emocional e a arte de educar nossos filhos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. LACAN, Jacques. A família. Lisboa: ASSIRIO & ALVIN Sociedade Editorial: 1981.

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