Pensamento Preireano - Bases Educacionais

July 21, 2017 | Autor: L. PÓs | Categoria: Education, Teacher Education
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44 ANOS ACOMPANHANDO O EDUCADOR www.fundacaoamae.com.br

ANO 44 . Nº 382 SETEMBRO . 2011

EXPEDIENTE

EDITORIAL

Capa de Renata Pimenta

Fotos: arquivo pessoal de Nita Freire

Nina Alexandrina

SETEMBRO . 2011 . Nº 382

Av. Bernardo Monteiro, 861 - Santa Efigênia - Belo Horizonte - CEP 30150-281 - MG - Brasil - Telefax: (31) 3224-5400 / 3224-6158 - www.fundacaoamae.com.br PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO AMAE: Lêda Botelho Martins Casasanta CONSELHO CURADOR: Ajax Gonçalves Ribeiro (Presidente), Ana Lúcia Amaral (Secretária), Audineta Alves de Carvalho de Castro, Fernanda Fernandes Sobreira Corrêa, José Leão Marinho Falcão Filho, Margarida Magda Machado Michel, Maria Auxiliadora Campos Araújo Machado, Raymundo Nonato Fernandes, Rosa Emília de Araujo Mendes CONSELHO DIRETOR: Diretora-Presidente: Lêda Botelho Martins Casasanta Diretora-Vice-Presidente: Maria Antonieta Bianchi Diretora Administrativo-Financeira: Helena Lopes Diretora de Relações Institucionais: Rui Cesar Rezende Souza Diretora de Publicações e Eventos: Albertina Salazar CONSELHO FISCAL: Francisco Liberato Póvoa Filho, Maria Odília Figueiredo De Simoni, Elza Marie Petrucelli Carayon Suplentes do Conselho Fiscal: Arlete Duarte Silva, Hortência Gatti Queiroga, Janice Lúce Martins Fortini EQUIPE EXECUTIVA: Célia Sanches, Cristina Elizabeth de Vasconcelos Ministerio, Flávia Duarte Carvalho, Gilda Pazzini Lodi, Maria da Anunciação Duarte Carvalho, Vera Lúcia Pyramo Costa Pimenta

[email protected] Diretora e jornalista responsável: Cristina Elizabeth de Vasconcelos Ministerio - Reg. prof. MG 06124/SJP - cristina@ fundacaoamae.com.br Editoras: Célia Sanches, Vera Lúcia Pyramo Costa Pimenta Estagiária: Bárbara Diniz Ilustração: Mirella Spineli (31) 3482-0081/9184-8954 Projeto gráfico: Renata Pimenta (31) 3267-6762/8489-3851 Impressão: Gráfica Del Rey (31) 3369-9400 Conselho Editorial: Albertina Salazar, Célia Sanches, Cristina Ministerio, Gilda P. Lodi, Gleisa C. Antunes, Mª das Graças D. Andrade e Valderez A. Valle. Suplentes: Ângela Franco e Marise Nancy de Alencar. Atendimento ao assinante: Rejane Pereira Lopes Av. Bernardo Monteiro, 861 - Santa Efigênia - Belo Horizonte - MG - Brasil- CEP 30150 - 281 -Telefax (31) 3224-5400 / 3224-6158 - [email protected] Nosso jeito de ser – A revista AMAE Educando é uma publicação da Fundação AMAE para Educação e Cultura. Escrita por professores para professores, com uma abordagem ligada à realidade vivida em sala de aula, a revista diferencia-se das publicações acadêmicas pela linguagem clara e objetiva, voltada, principalmente, para educadores de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Suas oito edições anuais (quatro em cada semestre) são comercializadas por assinaturas.

Há quem diga que o Brasil é um país sem memória, onde não existe espaço para valorizar e preservar os fatos, os objetos, os personagens que, cotidianamente, tecem a trama da nossa história. Em relação à educação brasileira, a revista AMAE Educando faz a sua parte e relembra a trajetória histórica do grande educador Paulo Freire, no mês em que comemoramos os 90 anos de seu nascimento. Desde a concepção de uma nova seção – Memória – até a diagramação das páginas 8 a 18, muitos foram os momentos de pesquisas na internet, de leituras de textos impressos, de elaboração de matérias, de convites para o envio de material, de solicitações de fotos, de identificação de fontes, de contatos por telefone e e-mail, etc. Foi aprendendo mais sobre o trabalho de Paulo Freire que nos veio a certeza de que, se não tivemos o privilégio de conviver com ele, cabe-nos, pelo menos, o dever de difundir um pouco de suas ideias, para que a educação popular mantenha, no alto do mastro, a bandeira empunhada por ele de uma educação realmente transformadora, a que leva à liberdade. Acreditando que é desde os primeiros anos escolares que as crianças aprendem a fantástica arte de viajar pelo tempo, como pequenos historiadores, publicamos alguns projetos que despertam a curiosidade, envolvendo os alunos em interessantes pesquisas (p.27). Todavia, há os que, chegando ao final do Ensino Fundamental, preferem realizar experiências e se preparar para outro tipo de pesquisa – as que revelam os segredos da Física. Para eles, vale guiar-se pela matéria da página 36. Com um olhar plural, podemos trabalhar também com conteúdos que parecem não ter muita coisa em comum: números, palavras e arte. “Buscamos, num universo de possibilidades, aquela que promoveria a integração e transitasse pelos universos temáticos sem perder a essência”, afirmam as autoras na matéria da página 42. Mas é setembro. Mês verde e amarelo. Dia da pátria. À página 41, Valderez Valle reúne, com a sensibilidade de sempre, algumas palavras que nos falam sobre o que é pátria. Lição para grandes e pequenos, para professores e alunos. Arte para ser compartilhada com toda a comunidade escolar.

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NESTA EDIÇÃO

Andreia Pereira e Cláudia Freitas

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COMEMORAÇÕES

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

BOLETIM

Notas sobre educação e cultura

A compreensão do mundo a partir de experiências que demonstram a Física no cotidiano

MEMÓRIA

Um roteiro sobre a trajetória de Paulo Freire e seu revolucionário método de alfabetização, algumas ideias que embasam a pedagogia freireana, as leituras de mundo e as possibilidades de aprendizagens mútuas em sala de aula, numa homenagem ao educador brasileiro que completaria 90 anos neste mês de setembro

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EDUCAÇÃO INFANTIL

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HISTÓRIA

Arquivo Nita Freire

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Um modelo contemporâneo de comunicação em sala de aula

CIÊNCIAS NATURAIS

Poesia para lembrar o que é pátria

Língua Portuguesa, Matemática e Arte, em perfeita harmonia

A transmissão de conteúdo em segundo plano, quando o que se pretende é um fazer pedagógico que transforme a realidade

Como ensinar História a crianças que iniciam sua vida escolar?

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EDUCAÇÃO INFANTIL

Projeto mostra como matar a curiosidade dos alunos com atividades instigantes e esclarecedoras

ENCARTE Conte um conto Dia de chuva Dia de sol

Maria Aparecida V. Lodi

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EM FOCO

MEMÓRIA

PAULO FREIRE –

O EDUCADOR DO POVO, UM CIDADÃO DA HISTÓRIA Cristina Ministerio é jornalista, pósgraduada em Jornalismo e Práticas Contemporâneas (Belo Horizonte – MG).

No ano em que comemoramos os 90 anos do nascimento de Paulo Freire, relembrar um pouco da sua trajetória torna-se programa quase obrigatório. Trata-se, afinal, da vida de um modesto nordestino que chegou a conhecer a fome, mas ganhou o respeito internacional. Que, preocupado com os pobres, os oprimidos, os cativos pela ignorância política, com o descompasso entre a educação ofertada e o processo de humanização, abole as cartilhas convencionais, posiciona-se contra a educação chamada por ele de bancária, investe no conceito de palavras geradoras e cria um revolucionário e libertador método de alfabetização de adultos. É perseguido, preso e exilado pelo golpe militar de 1964. Pesava sobre ele a seguinte acusação: alfabetizar para a conscientização e participação política na sociedade. Entra para a história mundial como um dos mais importantes e polêmicos filósofos da educação do século 20.

Luta sem trégua – Na Faculdade de Direito do Recife, sua terra natal, fortaleceu a formação humanista. No Setor de Educação e Cultura do Sesi/PE, teve os primeiros contatos com a realidade da educação brasileira, percebendo a desvantagem dos menos favorecidos na busca pela cidadania. Firme na sua crença de que todo ato de educação é um ato político, Paulo Freire, sem pregar o uso de armas, mas com otimismo, coragem e disposição para enfrentar as injustiças sociais, passou a perseguir uma educação realmente transformadora e a dedicar-se à luta contra o analfabetismo. Um combate travado por toda a sua vida, primeiro no Brasil, depois na América do Sul, na Europa, na África. Fora do seu país, ele obteve os primeiros reconhecimentos públicos desse trabalho, sendo homenageado de diversas maneiras por diferentes instituições internacionais. Paulo Freire marcou a cultural mundial e nunca mais “os saberes necessários à prática educativa” foram os mesmos. Nunca mais um projeto de educação de jovens e adultos deixou de considerar as ideias do incansável educador. Eterna herança – Doutor Ho-

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noris Causa por 34 instituições acadêmicas, cidadão honorário do Distrito Federal, do estado do Ceará e de 12 cidades brasileiras, Paulo Freire empresta seu nome a cerca de 300 escolas brasileiras, além de inúmeros diretórios acadêmicos, anfiteatros, bibliotecas, centros de pesquisas, praças, ruas e conjuntos habitacionais. Aclamado como um dos mais importantes pensadores brasileiros do século 20, seu legado é tema de pesquisas, monografias e teses, sua vida, inspiração para uma geração de professores. Sua vasta obra literária, traduzida para muitas línguas, renovou os conceitos da época e tornou-se uma espécie de bandeira para os que se sentiam abandonados pelo poder público. Seus escritos revelam a crença de que a escola deveria ser o local do diálogo, onde professores e alunos aprendem juntos, praticando uma educação problematizadora e de grandes transformações, onde o educando, conectado à sua realidade, recebesse as armas necessárias para uma liberdade trazida pelo conhecimento – delineava-se a Pedagogia da libertação. Sua obra é atemporal. É objeto, ainda hoje, de estudos em muitas instituições de pesquisa , faculdades de educação e

Valéria Abras

“O Painel Paulo Freire inspira-se no meio rural, onde Paulo Freire desenvolveu seu método de alfabetização de adultos, sob o tórrido sol do semi-árido. À esquerda, há uma trabalhadora do campo, que tem um livro sob o braço direito e carrega uma enxada, seu instrumento de trabalho, sobre o ombro esquerdo. Trata-se do adulto trabalhador a ser alfabetizado. No fundo, há casas típicas, à esquerda e à direita do mestre, que está no centro da composição, em atitude pensativa (imaginando as relações entre o universo do trabalho e o saber elaborado). Ele apóia o cotovelo direito sobre livros, que aqui representam o saber erudito, em meio ao universo popular. À direita, uma única árvore, sob a qual uma menina brinca com uma boneca de pano, remetendo-nos universidades. O livro mais famoso, o Pedagogia do oprimido foi publicado primeiramente em língua inglesa, nos Estados Unidos, em 1970. No Brasil, foi publicado em 1974, pela Editora Paz e Terra. Exercício da esperança – Em entrevista concedida ao jornalista Edney Silvestre, em 1997, na Universi-

a uma história contada pelo próprio Paulo Freire, sobre a filha do intelectual e a filha do operário, que sabia fazer bonecas. Trata-se de uma metáfora a respeito da cultura popular e da erudita. Também à direita, no primeiro plano, uma composição com uma enxada, uma boneca e um livro: o mundo do trabalho, a infância e a cultura erudita; diferentes universos a serem conciliados. Todos estão descalços, pois, para entender e vivenciar Paulo Freire, é necessário os pés no chão.” Luiz Carlos Cappellano – educador e artista, autor do painel localizado no CEFORTEPE / Secretaria Municipal de Educação de Campinas / SP

dade de Havard, nos Estados Unidos, Paulo Freire disse: “Quero ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida”. Talvez nos pareça pouco, diante de uma vida tão cheia de realizações. Talvez seja difícil respeitar um desejo tão humilde, vindo de tão grande mestre, afinal, são muitos os pedago-

gos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos, quase todos ligados a partidos de esquerda, que cultivam a esperança de que ele seja lembrado como Patrono da Educação Brasileira – Projeto de Lei nº 5.418/05, de autoria da deputada Luiza Erundina, que aguarda a sanção da presidente Dilma Rousseff. Estará o Brasil, finalmente, fazendo justiça a Paulo Freire? AMAE educando - 382 . Setembro . 2011

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Arquivo Konvyt

Leituras do tempo

1921 – Nasce no dia 19 de setembro no Recife, Paulo Reglus Neves Freire, filho do oficial da Polícia Militar de Pernambuco Joaquim Themístocles Freire e Edeltrudes Neves Freire, prendas domésticas. 1925 – Inicia sua vida escolar.

1956 – É nomeado membro do Conselho Consultivo de Educação do Recife. 1959 – Apresenta à Universidade do Recife a tese Educação e atualidade brasileira, para a obtenção do título de doutor em Filosofia e História da Educação. 1960 – Engaja-se em movimentos de educação popular surgidos no Nordeste, sendo um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, onde faz as primeiras experiências públicas do seu método de alfabetização para adultos. 1960 – Presta concurso público para catedrático efetivo da cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife, sendo aprovado em 2º lugar e obtendo o título de doutor.

1937 – Inicia o ginásio no Colégio 14 de Julho, concluindoo no Colégio Oswaldo Cruz, ambos no Recife.

1961 – Toma posse da cadeira de História e Filosofia da Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Recife.

1941 – Inicia sua carreira de professor de Língua Portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz, realizando o sonho da adolescência de ser professor.

1962 – Recebe o diploma de livre-docente da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife.

1943 – Ingressa na Faculdade de Direito do Recife, concluindo o curso quatro anos depois.

1962 – Colabora na criação e torna-se diretor do Serviço de Extensão Cultural (SEC) da Universidade do Recife, onde sistematiza e aperfeiçoa o seu método de alfabetização.

1947 – Exerce o cargo de assistente da Divisão de Divulgação, Educação e Cultura do setor de Educação e Cultura do Sesi-PE. No mesmo ano é promovido a diretor da Divisão de Educação e Cultura. 1947 – Inicia-se na docência do Ensino Superior, lecionando na Escola de Serviço Social, posteriormente anexada à Universidade do Recife. 1952 – É nomeado professor catedrático interino da cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife. 1954 – Torna-se diretor superintendente do Departamento Regional do Sesi-PE.

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1955 – Funda, no Recife, com mais duas educadoras, o Instituto Capibaribe, uma instituição privada de ensino.

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1963 – É escolhido, pelo então governador de Pernambuco Miguel Arraes, como um dos 15 conselheiros pioneiros do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco, por seu “notório saber e experiência em matérias de educação e cultura”. 1963 – Organiza e dirige a Campanha de Alfabetização de Angicos, por iniciativa do governo do Rio Grande do Norte, quando, graças ao sucesso na alfabetização de 300 adultos, torna-se conhecido como o educador do povo. 1964 – Assiste à adoção, pelo MEC, do “Método Paulo Freire” para integrar o Programa Nacional de Alfabetização (PNA) que previa a formação em massa de educadores para alfabetizar cinco milhões de adultos para a conscientização

1980 – Torna-se professor da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.

e participação política através do voto. 1964 – É acusado de subversivo pelo governo militar de 1964, que proibiu o “Método de Alfabetização Paulo Freire” por considerá-lo perigoso. É preso e, posteriormente, exilado. 1967 – Publica, no Brasil, seu primeiro livro – Educação como prática de liberdade (Ed. Paz e Terra), resultado de modificações feitas em sua tese Educação e atualidade brasileira. 1980 – Retorna ao Brasil e ao Recife, depois de 16 anos no exílio. 1980 – Filia-se, em São Paulo, pela primeira vez, a um partido político – o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual é um dos fundadores e supervisor do programa do partido para a alfabetização de adultos.

1989 – É nomeado para o cargo de secretário municipal de Educação de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina, quando concebe o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), programa público de apoio a salas comunitárias de educação de jovens e adultos. 1997 – Dá sua última aula na Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo. 1997 – Morre no dia 2 de maio em São Paulo, Paulo Reglus Neves Freire, de enfarte agudo do miocárdio, no Hospital Albert Einstein. Fonte: Fundação Joaquim Nabuco ([email protected]), Paulo Freire – uma história de vida (de Ana Maria Araújo Freire, Ed. Villa das Letras, 2006), www.paulofreire.org, http://pt:wikipedia.org/ wikipaulo_freire

PENSAMENTO FREIREANO - BASES EDUCACIONAIS -

Laércia Maria Bertulino de Medeiros é licenciada em Psicologia com habilitação em Psicologia Educacional, pós-graduada em Ciências da Sociedade e doutoranda em Ensino, Filosofia e História das Ciências; professora e líder do grupo de pesquisa Psicologia, Desenvolvimento e Educação do Curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba e Roberta Magna Silva Siqueira é estudante do curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, bolsista de Iniciação Científica, participa do grupo de pesquisa Psicologia, Desenvolvimento e Educação (Campina Grande - PB).

Autoras apontam algumas ideias de Paulo Freire consideradas, por elas, representativas da reflexão/ação/ reflexão freireana. “Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos.” Paulo Freire Começamos esta breve incursão sobre algumas ideias de Paulo Freire nos utilizando de uma frase na Nota do Editor do livro Sobre educa-

ção: diálogos (1982, p.11): “Paulo Freire (ainda é preciso dizer alguma coisa?)”. O pensamento de Paulo Freire está embebido nas filosofias que tiveram o homem como centro. Seu pensamento está baseado no neotomismo, no humanismo, no personalismo, no existencialismo, na fenomenologia e

no neomarxismo. Paulo Freire não se limitou a teorizar, mas empenhou-se para que estas questões tivessem repercussão positiva na sociedade humana, em geral, e na brasileira especificamente, o que faz dele um homem profundamente comprometido com a sociedade, principalmente com as camadas AMAE educando - 382 . Setembro . 2011

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populares. É por isso que Paulo Freire constitui um caminho seguro para a educação brasileira. Formação docente e concepção de teoria e prática

Arquivo pessoal / Nita Freire

As ideias freireanas servem como orientação para o processo de formação docente no que se refere à reflexão crítica da prática pedagógica que implica em saber dialogar e escutar, que supõe o respeito pelo saber do educando e reconhece a identidade cultural do outro. Hoje, mais que em outras épocas, se exige do educador uma postura alicerçada num processo permanente

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de reflexão que leve a resultados inovadores no trato da educação. Sem dúvida que as contribuições de Paulo Freire levam o educador à consciência de si enquanto ser histórico que, continuamente, se educa num movimento dialético no mundo que o cerca. Não é, pois, por acaso que as ideias freireanas se articulam com os interesses na formação do educador, pois, não se perde de vista o caráter histórico do homem associado sempre à prática social. É por essa ótica, tomando-se como critério de escolha a objetividade que explicita o pensamento pedagógico, antropológico e filosófico freireano, que destacamos duas obras: Pedagogia do oprimido e Educação

como prática da liberdade. Estas obras mostram as ideias sobre educação que permeiam a construção do educador, assim como atendem ao critério de criticidade em relação à visão de homem, sociedade e educação, aqui pretendida. No livro Educação como prática da liberdade, Freire (1979) se refere à teoria como um “contemplar”, certamente sendo fiel à etimologia da palavra que vem do grego ( φεθράω  ), e significa ver. Daí o sentido de teoria como observar, contemplar, ver. De fato, contemplar é uma expressão que, apesar de carregada de conteúdo místico, (embora se declarasse marxista, Paulo Freire era católico e estava profundamente ligado a entidades de caráter religioso como o Conselho Mundial das Igrejas – CMI), tem profundo sentido pedagógico, ao fazer desse contemplar a cultura, o sujeito da educação, o fenômeno educativo e, principalmente, o homem e a sociedade, um passo fundamental do quefazer pedagógico. Isto é, na compreensão de Freire, teoria é um princípio de inserção do homem na realidade como ser que existe nela e, existindo, promove a sua própria concepção da vida social e política. Ao enfatizar o caráter contemplativo da teoria, Paulo Freire garan-

te a inserção do homem na realidade. Ele deixa claro que teoria é sempre a reflexão que se faz do contexto concreto, isto é, deve-se partir sempre de experiências do homem com a realidade na qual está inserido, cumprindo também a função de analisar e refletir essa realidade, no sentido de apropriar-se de um caráter crítico sobre ela. Esse caráter de transformação tem uma razão de ser, pois provém antes de tudo, da sua vivência pessoal e íntima numa realidade contrastante e opressora, influenciando fortemente todas as suas ideias. Compreende-se, então, que teoria para Freire não será identificada se não houver um caráter transformador, pois só assim estará cumprindo sua função de reflexão sobre a realidade concreta. A definição de prática em Paulo Freire está baseada, inicialmente, na dialética hegeliana da relação entre “consciência servil” e “consciência do senhor”, ampliada para a conceituação de práxis colocada por Marx, referindo-se à relação subjetividadeobjetividade. Para tanto, Freire diz que é necessário não só conhecer o mundo, é preciso transformá-lo, o que coincide com Marx. Isto é significativo, visto que conhecer em Freire não é um ato passivo do homem frente ao mundo. É, antes de tudo, conscientização. Envolve intercomunicação, intersubjetividade, que pressupõe a educação dos homens entre si mediatizados pelo mundo, tanto da natureza como da cultura. Então, a prática não pode ater-se à leitura descontextualizada do mundo, ao contrário, vincula o homem nessa busca consciente de ser, estar e agir no mundo num processo que se faz único e dinâmi-

co, melhor dizendo, é apropriar-se da prática dando sentido à teoria. Sobre essa conceituação, assim se expressa Freire “[...] a práxis, porém, é ação e reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo” (1983, p.40). Portanto, a função da prática é a de agir sobre o mundo para transformá-lo. A relação entre teoria e prática centra-se na articulação dialética entre ambas, o que não significa, necessariamente, uma identidade entre elas. Significa, assim, uma relação que se dá na contradição, ou seja, expressa um movimento de interdependência em que uma não existe sem a outra. Assim, cada coisa exige a existência do seu contrário, como determinação e negação do outro; na superação, onde os contrários em luta e movimento buscam a superação da contradição, superando-se a si próprios, isto é, tudo se transforma em nova unidade de nível superior; e na totalização, em que não se busca apenas uma compreensão particularizada do real, mas coordena um processo particular com outros processos, onde tudo se relaciona. Portanto, a relação teoria e prática, em Freire, não é apenas um jogo de palavras, é reflexão teórica, pressuposto e princípio que busca uma postura, uma atitude do homem face ao homem e do homem face à realidade. A esse respeito reitera: “E é ainda o jogo dessas relações do homem com o mundo e do homem com os homens, desafiando e respondendo ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em termos de relativa preponderância, nem das sociedades nem das culturas. E, na medida em que cria, recria e decide,

vão se conformando as épocas históricas. É também criando e decidindo que o homem deve participar destas épocas” (Freire, 1993). Na afirmação acima está a base para entender teoria e prática na ação pedagógica, pois a relação teoria e prática se dá primeiro e antes de tudo na relação homem/mundo. Esta relação busca coerência entre pensamento e ação que é práxis. Do contrário, a ação sem pensamento é ativismo e o pensamento sem ação é verbalismo. Com isso, a ênfase da relação teoria e prática sobrepuja a visão dicotômica quando admite que: “É preciso que fique claro que, por isto mesmo que estamos defendendo a práxis, a teoria do fazer, não estamos propondo nenhuma dicotomia de que resultasse que este fazer se dividisse em uma etapa de reflexão e outra, distante, de ação. Ação e reflexão e ação se dão simultaneamente” (Freire, 1983, p.149). A fundamentação, teoria e prática numa relação de unidade, impõese como uma relação dialética, pois se a ação/reflexão/ação estiverem ausentes perde-se o ápice do processo de conscientização onde o educador se descobrirá autêntico com todo o significado profundo que essa descoberta acarreta. Diante dessas afirmações, é esclarecedor e indispensável para o educador considerar que nesta perspectiva se conseguirá superar a tendência tão frequente de trabalhar teoria e prática dissociadas entre si. Para tanto, é necessário que o educador compreenda que teoria e prática não se separam, ou seja, o vínculo teoria e prática forma um todo onde o saber AMAE educando - 382 . Setembro . 2011

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tem um caráter libertador. Para tanto, o pensamento pedagógico de Paulo Freire aponta para a comunicação, como princípio que transforma o homem em sujeito de sua própria história através de uma relação dialética vivida na sua inserção na natureza e na cultura, diferenciando-o dos outros animais. Esse processo de integração interativa é significativo quando vinculado ao diálogo que contém no seu cerne ação e reflexão, levando o homem a novos níveis de consciência e, consequentemente, a novas formas de ação. A fórmula que contém os elementos constitutivos para a análise do diálogo é esta: teoria/prática; discurso/ação; pensar/agir; pensamento/ ato. A partir desta visão, observa-se que a comunicação é possuidora de um caráter problematizador que gera consciência crítica e, através do diálogo como o dado da problematização, busca-se o compromisso de transformação da realidade. Vê-se que Paulo Freire parte sempre da análise do contexto da educação como um processo de humanização, ou seja, o caráter problematizador que se dá através do diálogo tem base existencialista, visto que o diálogo “se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens” (Freire, 1983, p.93). É fenomenológico, quando privilegia a palavra como objeto auxiliar do pensamento, quando diz que, “não existe uma linguagem sem um pensar e ambos, linguagem e pensar, sem uma realidade a que se encontrem referidos” (Id, p.102). E político, na medida em que permite uma compreensão crítica da prática social na

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relação social, histórica e cultural na qual o homem está inserido, ou seja, conhecimento e transformação da realidade são exigências recíprocas. Assim sendo, todo ato pedagógico em Freire é um ato político, assim como a comunicação é uma relação social, uma prática social transformadora e eminentemente política. Freire (1983, p. p. 94-97), aponta matrizes necessárias para conquistar ou chegar à práxis através do diálogo. São elas: • O amor ao mundo e aos homens como um ato de criação e recriação. • A humildade, como qualidade compatível com o diálogo. • A fé, como algo que se deve instaurar antes mesmo que o diálogo aconteça, pois o homem precisa ter fé no próprio homem. Não se trata, aqui, de um sentimento que fica no plano divinal, mas de um fundamento que creia no poder de criar e recriar, fazer e refazer, através da ação e reflexão. • A esperança, que se caracteriza pela espera de algo que se luta. • A confiança, como consequência óbvia do que se acredita enquanto se luta. • A criticidade, que percebe a realidade como conflituosa e inserida num contexto histórico que é dinâmico. É sobre esta base que Paulo Freire enfatiza o ato pedagógico, como uma ação que não consiste em comunicar o mundo, mas criar, dialogicamente, um conhecimento do mundo, isto é, o diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade e a aprofundar a sua tomada de consciência sobre ela até perceber qual

será sua práxis na realidade opressora para desnudá-la e transformá-la. Neste sentido, é que, através do diálogo, a relação educador/educando deixa de ser uma doação ou imposição, mas uma relação horizontal, eliminando as fronteiras entre os sujeitos. Educação problematizadora x educação bancária Freire não se limitou a analisar como são a educação e a pedagogia, mas mostra uma teoria de como elas devem ser compreendidas teoricamente e como se deve agir através de uma educação denominada libertadora. Para ele, educação é um encontro entre interlocutores, que procuram, no ato de conhecer, a significação da realidade e, na práxis, o poder da transformação. Entende-se por pedagogia em Freire, a ação que pode e deve ser muito mais que um processo de treinamento ou domesticação; um processo que nasce da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora. Em oposição à Pedagogia do diálogo, Paulo Freire desnuda a concepção bancária de educação; é uma crítica à educação que existe no sistema capitalista. Nessa concepção: “O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a prescrição; o educador é o que atua;

os educandos, os que têm a ilusão de que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos” (Freire, 1983, p.68). Este desnudamento serve de premissa para visualizar o poder do educador sobre o educando e, como consequência, à possibilidade de formar sujeitos ativos, críticos e não domesticados. A educação bancária se alicerça nos princípios de dominação, de domesticação e alienação transferidas do educador para o aluno através do conhecimento dado, imposto, alienado. De fato, nessa concepção, o conhecimento é algo que, por ser imposto, passa a ser absorvido passivamente: “Na visão ‘bancária’ da educação, o ‘saber’ é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão - a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro” (Id. p. 67). Como se vê, a opressão é o cerne da concepção bancária. Para analisar esta concepção que se fundamenta no antidiálogo, Freire (1983) apresenta características que servem à opressão. São elas: a conquista, a divisão, a manipulação e a invasão cultural. • Conquista - a necessidade de

conquista se dá desde “as mais duras às mais sutis; das mais repressivas às mais adocicadas, como o paternalismo” (p.162). • Divisão - “na medida em que as minorias, submetendo as maiorias a seu domínio, as oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condições indispensáveis à continuidade de seu poder” (p.165). • Manipulação - “através da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a seus objetivos. E quanto mais imaturas politicamente estejam, tanto mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras que não podem querer que se esgote seu poder” (p.172). • Invasão cultural - “a invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão de mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão” (p.178). Ao contrário da educação libertadora, a concepção bancária de educação não exige a consciência crítica do educador e do educando, assim como o conhecimento não desvela os porquês do que se pretende saber. Eis porque a educação bancária oprime, negando a dialogicidade nas relações entre os sujeitos e a realidade. Educação, para Freire, é libertação. Nesta concepção, o conhecimento parte da realidade concreta do homem e este reconhece o seu caráter histórico e transformador. Freire ressalta a necessidade de o homem entender sua vocação ontológica, como ponto de partida para se obter, nessa análise, uma consciência libertadora, isto é, o

homem só chegará à consciência do seu contexto e do seu tempo na relação dialética com a realidade, pois só desta maneira terá criticidade para aprofundar seus conhecimentos e tomar atitudes frente a situações objetivas. O comprometimento com a transformação social é a premissa da educação libertadora. Libertação que não é só individual, mas principalmente coletiva, social e política. O ponto de partida do pensamento de Paulo Freire se dá a partir da visão de uma realidade onde o homem já não era sujeito de si próprio, ou como ele mesmo se referia, se “coisificava”, anulando o sentido de sua vocação ontológica, ou seja, deixa de ser sujeito de seu agir e de sua própria história. Por essa análise, em Pedagogia do oprimido, a dialogicidade como essência da educação libertadora Freire aponta características necessárias para que se concretize. São elas: a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural. • Colaboração - a ação dialógica só se dá coletivamente, entre sujeitos, “ainda que tenham níveis distintos de função, portanto de responsabilidade, somente pode realizar-se na comunicação” (p.197). • União - a classe popular tem de estar unida e não dividida, pois significa “a união solidária entre si, implica esta união, indiscutivelmente, numa consciência de classe” (p.205). • Organização - “[...] é o momento altamente pedagógico, em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos, como um só corpo, buscam instaurar, com AMAE educando - 382 . Setembro . 2011

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a transformação da realidade que os mediatiza” (p.211). • Síntese cultural - consiste “na ação histórica, se apresenta como instrumento de superação da própria cultura alienada e alienante”. “[...] faz da realidade objeto de sua análise crítica” (p. p. 214 -215). Por essa ótica, o modelo de educação proposto por Paulo Freire se diferencia da educação tradicional, pois abomina, dentre outras coisas, a dependência dominadora, que inclui, entre outras, a relação de dominação do educador sobre o educando. Na ação educativa libertadora, existe uma relação de troca horizontal entre educador e educando exigindo-se, nesta troca, atitude de transformação da realidade conhecida. É por isso que a educação libertadora é, acima de tudo, uma educação conscientizadora, na medida em que além de conhecer a realidade, busca transformá-la, ou seja,

tanto o educador quanto o educando aprofundam seus conhecimentos em torno do mesmo objeto cognoscível para poder intervir sobre ele. Neste sentido, quanto mais se articula o conhecimento frente ao mundo, mais os educandos se sentirão desafiados a buscar respostas, e, consequentemente, quanto mais incitados, mais serão levados a um estado de consciência crítica e transformadora frente à realidade. Esta relação dialética é cada vez mais incorporada na medida em que, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo. Bibliografia FREIRE, Paulo e GUIMARÃES, Sérgio. Sobre educação: diálogos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

educativa. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. _______. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. _______. Educação como prática da liberdade. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. _______. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Moraes, 1999. http://www.paulofreire.ce.ufpb.br/ paulofreire/principal.jsp.Acesso em:30 de julho 2011. Contatos: [email protected] [email protected]

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

SALA DE AULA - ESPAÇO DE APRENDIZAGENS MÚTUAS Cleidson Carneiro Guimarães é engenheiro civil, especialista em Astronomia, mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências, coordenador dos cursos de Engenharia Mecânica, Elétrica e Civil do Senai (Feira de Santana-BA).

Uma reflexão, sempre oportuna, sobre o pensamento de Paulo Freire no que diz respeito às leituras do mundo feitas pelos alunos. Não é tarefa simples retomar as reflexões daquele que considerou a construção do conhecimento como um processo de construção social no qual ninguém constrói saberes sozi-

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nho, mas na interação com o outro. Ainda hoje há incompreensão, por parte de alguns professores, quando Paulo Freire (1996) afirma que “ninguém ensina ninguém e ninguém

aprende sozinho. As pessoas aprendem em comunhão.” Não são raros os momentos em que ouvimos o professor repetir esta expressão ou afirmar, em sala de aula, que não veio só ensi-

Segundo ele “ (Paulo Freire), a nossa leitura de mundo não começa na escola nem termina nela.



Para Paulo Freire (1988), o conhecimento tem uma fronteira muito mais extensa. Segundo ele, a nossa leitura de mundo não começa na escola nem termina nela. Antes de aprender a ler as palavras, aprendemos a ler o mundo. É por meio da nossa leitura do mundo que aprendemos a ler as palavras e, depois, por meio da razão,

utilizamos as palavras para expressar o mundo. Nessa perspectiva, os alunos que chegam à escola trazem leituras de mundo muito mais extensas do que os limites das disciplinas impostos pela escola. Se a compreensão do educador apresenta essa sensibilidade defendida por Paulo Freire, então, no diálogo com sua turma, ele aprenderá: • os valores construídos por seus alunos em grupo; • como eles interpretam os fenômenos ensinados em sua matéria; • como lidar com pessoas em grupo, liderar, motivar e inspirar aprendizes; • a estabelecer regras para o bem comum; • a habilidade de escutar;

Arquivo Konvyt

nar, mas, também, aprender. Todavia, o professor, muitas vezes, não sabe ao certo o que irá aprender com seus alunos e frequentemente ouve-se: “Afinal, o que vou aprender com o meu aluno?” “Vou ensinar Química e sou especialista na matéria, então o que o meu aluno tem a me ensinar acerca desta ou de outra disciplina?” Certamente, quando Paulo Freire afirma que a interação ensino/ aprendizagem não tem apenas um sentido, originando-se no professor e direcionado ao aluno, ele tem uma compreensão de conhecimento muito mais vasta do que o da disciplina que o professor leciona. Se o educador compreende que conhecimento é apenas aquele expresso pelo livro didático e presente no currículo escolar, então poderá concluir que ele aprende pouco com os seus alunos, afinal, uma vez ou outra, um deles lhe traz uma informação sobre a disciplina a qual ele ainda não conhece.

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• a argumentar com base nas ideias do outro; • a gerenciar conflitos. Os pontos destacados podem ser considerados como conteúdos? São competências e habilidades importantes à ação docente? Não pretendo completar esta lista ou tecer respostas aos questionamentos, mas trazê-las à reflexão, no intuito de contribuir com o educador para compreender a sala de aula como um espaço de construção de saberes que jamais é unilateral, mas de mão dupla. Nesse sentido, concordo com Cesar Coll (2000) ao apontar que a escola deve ser conteudista, pois o problema não está no conteúdo, mas na compreensão que temos acerca deles. Portanto, a crítica não está no conteúdo, mas na compreensão do que é ou não conteúdo. É ne-

Nina Alexandrina

de não ter aprendido nada, enquanto os aprendizes trazem várias lições de vida e estão dispostos a ensinar. Cabe-nos ouvi-los e extrair deles o que há de melhor e que possa nos fazer viver mais felizes. Bibliografia FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 18.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1988.

Jovens portadores de “leituras” que vão além das exigidas pela escola

cessário redimensionar o nosso entendimento ou, então, passaremos a vida inteira na escola e teremos a sensação

COLL, César. Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2000.

CONVERSA COM O LEITOR Prezado leitor, nós, da redação, criamos um espaço nas páginas de AMAE Educando para que você tenha voz. Comunique-se conosco manifestando sua opinião. [email protected] - (31) 3224-5400 - Av. Bernardo Monteiro, 861 - Sta. Efigênia - BH - MG - CEP: 30150-281 Fiquei encantada e tão feliz com meu conto publicado na edição nº 380, como se fosse a primeira vez que vocês publicam trabalhos meus. Nossa revista está cada vez mais rica de ensinamentos e colaboração para o crescimento das escolas no Brasil. Que Deus abençoe todas vocês! Um grande abraço.

ciso da edição 294, não consegui acessar esta adição no site. Obrigada. Natália (por e-mail)

Maria Luísa Amorim (Brasília-DF)

A edição 294 (set.2000) está esgotada. Outros números mais recentes podem ser obtidos pelo telefone (31) 3224-5400.

Gostaria de saber como posso conseguir uma edição antiga da revista. Pre-

Agradeço, sinceramente, a gentileza do envio da revista AMAE Educando

nº 381, de agosto de 2011. Expresso os meus cumprimentos pela excelente qualidade da revista. Parabenizo toda a equipe de brilhantes profissionais envolvidos na preparação desse trabalho tão importante. Gentileza transmitir meus especiais cumprimentos à Bárbara Diniz, aluna do UniBH e estagiária de Jornalismo da revista. Parabéns! Obrigada e um grande abraço. Sueli Maria Baliza Dias Reitora do UniBH (Belo Horizonte-MG)

Atenção ao novo e-mail da Fundação Amae: [email protected] 18

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