Perspectivação conceptual e gramática

June 14, 2017 | Autor: A. Soares da Silva | Categoria: Portuguese, Cognitive Linguistics, Cognitive Grammar, Grammar, Conceptual or Semantic Perspective
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In: Revista Portuguesa de Humanidades – Estudos Linguísticos 12-1, pp. 17-44, 2008.

Perspectivação conceptual e gramática

AUGUSTO SOARES DA SILVA Universidade Católica Portuguesa – Braga [email protected]

Abstract A fundamental principle in Cognitive Linguistics establishes that meaning is conceptualization. Defining meaning as conceptualization implies to understand meaning in terms of construal operations. These allow for the construction of a given situation in alternate ways. Construal operations are the strongest argument towards a conceptualist or cognitive semantics and they perform an essential role in grammatical organization. Construal operations and the dimensions along which construals may vary are multiform. Langacker (1987, 1991, 1999) and Talmy (2000) have been proposing classification systems for construals operations in the attempt of finding a small number of basic types. The present study aims at commenting the proposed classifications and stressing the relevance of construal operations in the field of grammar. It will be argued that an exhaustive and complete classification will hardly be attainable, given the fact that construal operations may vary in very different ways. Far more interesting will be to look after their conceptual basis. A bidimensional conceptual space is underlying to the diverse construal operations. This space involves the dimension of structuring the object of conceptualization and the dimension of the intersubjective coordination between the subjects of conceptualization (Verhagen 2007). Finally, the essential function of construal operations within the grammatical organization will be illustrated by means of a brief analysis of three phenomena of Portuguese language: grammatical voice, the alternation between infinitival and finite complementation, and causative constructions. These three grammatical phenomena give raise to three relevant construal operations: respectively, Attention/Prominence, Perspective/Subjectivity, and Force Dynamics.

Keywords: attention, cognitive grammar, cognitive semantics, complementation, conceptualization, construal operations, force dynamics, intersubjectivity, perspective, prominence, subjectivity, voice.

1.

Introdução

Um dos princípios essenciais em Linguística Cognitiva diz que o significado é conceptualização. As expressões lexicais e todos os aspectos da expressão gramatical de uma situação envolvem, de algum modo, conceptualização. E o processo de conceptualização consiste numa determinada perspectivação do conceptualizador relativamente a uma entidade ou situação. Quer isto então dizer que a conceptualização envolvida no significado de uma expressão lexical ou gramatical não pode ser caracterizada somente em termos das propriedades do objecto de conceptualização, mas tem que necessariamente ter em conta o sujeito de conceptualização. Em Linguística

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Cognitiva, costuma designar-se pela expressão perspectivação conceptual (tradução que propomos para o termo inglês “construal”) o modo e os modos alternativos de conceptualizar determinada situação. Esses modos alternativos envolvem operações de perspectivação conceptual e estas operações correspondem a capacidades cognitivas gerais. É sobre estas operações e o papel fundamental que elas desempenham na organização gramatical que incide este estudo. São diversas as operações de perspectivação conceptual, razão pela qual alguns dos principais autores da Linguística Cognitiva, como Langacker (1987, 1991, 1999) e Talmy (2000a, b), têm proposto sistemas de classificação das operações de perspectivação conceptual no sentido de se poder encontrar nessa diversidade um pequeno número de tipos básicos. Numa primeira parte deste estudo, vamos sistematizar e comparar essas classificações. Mostraremos, a seguir, que dificilmente se poderá chegar a uma classificação exaustiva, visto que as operações de perspectivação conceptual podem variar de muitos modos diferentes. Mais interessante é encontrar a base conceptual subjacente. Veremos que esse espaço conceptual é bidimensional: contém a dimensão da estruturação do ‘objecto’ de conceptualização e a dimensão da coordenação intersubjectiva entre os ‘sujeitos’ de conceptualização. Finalmente, ilustraremos a importância das operações de perspectivação conceptual na gramática com a descrição, muito sumária, de três fenómenos gramaticais do Português: voz gramatical, alternância entre complementação infinitiva e complementação finita e construções causativas com manter e deixar. A eles correspondem três importantes categorias

de

perspectivação

conceptual:

Atenção/Proeminência,

Perspectiva/

Subjectividade e Dinâmica de Forças, respectivamente.

2.

A natureza perspectivista do significado linguístico

Um princípio da Linguística Cognitiva sobre a natureza do significado linguístico diz que este é perspectivista. 1 Quer isto dizer que o significado não é um espelho objectivo do mundo, não é uma questão de relações entre a linguagem e o mundo (ou “condições de verdade”), mas é o meio de construir o mundo e de o construir de 1

Sobre as propriedades do significado linguístico no quadro teórico da Linguística Cognitiva (de R. Langacker, G. Lakoff ou L. Talmy) e essencialmente entendido como conceptualização, ver Silva (2006a: cap. 12, 2006b). Argumentámos aí que o significado linguístico se caracteriza por ser (i) perspectivista, (ii) dinâmico e flexível, (iii) enciclopédico e (iv) baseado no uso e na experiência.

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determinada maneira ou perspectiva e, assim, de perspectivas alternativas. O modo mais simples de compreender este princípio é verificar as diferentes perspectivas espaciais pelas quais podemos designar uma mesma situação da realidade através de diferentes expressões linguísticas. Por exemplo, estando eu no jardim traseiro da minha casa e querendo dizer onde deixei a bicicleta, posso dizer, sem contradição, que a bicicleta está atrás da casa e que a bicicleta está à frente da casa. No primeiro caso, tomo a perspectiva da minha própria posição, do meu próprio olhar: à minha frente vejo a minha casa e a bicicleta está por trás dela. No segundo caso, tomo a perspectiva da orientação inerente de uma casa, conceptualizando-a, antropomorficamente, com uma parte da frente e uma parte de trás. Cada expressão linguística traz, pois, consigo determinada perspectiva, e isto acontece não apenas com as expressões espaciais mas também com outras expressões. Quer isto então dizer que o significado de uma expressão inclui, não apenas o ‘conteúdo’ conceptual que ela representa (as propriedades inerentes do objecto de conceptualização), mas também a ‘perspectiva’ a partir da qual esse conteúdo é construído. Entendendo o significado como conceptualização, este não pode ser apenas analisado em relação às propriedades do objecto de conceptualização, mas tem que necessariamente envolver, em menor ou maior grau, o sujeito de conceptualização. Noções como perspectiva, ponto de vista ou subjectividade mostram-se, assim, perfeitamente adequadas para a descrição e explicação do significado linguístico. A expressão mais generalizada em Linguística Cognitiva para designar os modos alternativos de conceptualizar determinada situação é perspectivação conceptual (“construal”). Trata-se efectivamente de uma capacidade cogn(osc)itiva geral e de uma capacidade que mostra que falar implica sempre uma escolha. Por exemplo, ao observar atentamente a distribuição de certas estrelas o falante pode descrever o que vê de diferentes modos: como uma constelação, um conjunto de estrelas, ou ainda pontos de luz no céu. Não obstante designarem o mesmo fenómeno, estas expressões são semanticamente diferentes, na medida em que reflectem diferentes conceptualizações. Elas diferem em termos dos “modelos cognitivos idealizados” (Lakoff 1987) ou dos “quadros conceptuais” (“frames”, Fillmore 1982) envolvidos. Por exemplo, determinada configuração de estrelas é considerada uma constelação num determinado modelo cognitivo e cultural do céu, mas este modelo está ausente quando conceptualizamos essa configuração como um conjunto ou, mais específica e tecnicamente, um “cluster”. Além disso, estas expressões diferem também em termos de múltiplo/único: pontos de luz no 3

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céu destaca a multiplicidade do objecto observado, ao passo que as outras duas expressões perspectivam a unidade desse objecto múltiplo. Esta capacidade de perspectivação conceptual tem sido explorada por dois fundadores da Linguística Cognitiva – Ronald Langacker e Leonard Talmy – e ambos a têm evidenciado como a função central da gramática, conduzindo assim a uma reinterpretação das categorias gramaticais, que passam a ser estudadas a partir do seu significado. Langacker (1987, 1990, 1991, 1999, 2008) desenvolveu o que ele próprio designou como Gramática Cognitiva – o modelo gramatical cognitivo mais inovador, consistente e inspirador. A Gramática Cognitiva de Langacker mostra como todo o significado é conceptualização, como as categorias gramaticais impõem determinada ‘perspectiva’ no conteúdo conceptual que designam, como a gramática é um inventário estruturado de unidades ‘simbólicas’, como cada unidade pode ser definida em termos esquemáticos e prototípicos e como entre sintaxe e léxico não há fronteiras mas um “continuum”. Talmy, sem ter dado um nome ao seu modelo, a não ser o de Semântica Cognitiva, com que intitulou a recente obra em que reúne grande parte dos seus estudos (Talmy 2000a, b), tem estudado com maior desenvolvimento os tipos específicos de perspectivação conceptual que são tipicamente expressos pelo subsistema gramatical (no sentido mais restrito de sintaxe e morfologia) e dificilmente pelo subsistema lexical. Ambos têm identificado, como veremos a seguir, importantíssimas operações de perspectivação conceptual (por vezes, com nomes diferentes para a mesma operação), comuns à percepção visual e à linguagem.

3.

Diversidade de operações de perspectivação conceptual

São vários e diferentes os processos que permitem conceptualizar determinada situação de perspectivas alternativas. A capacidade de perspectivação conceptual é pois um

fenómeno

multifacetado

e

multidimensional.

A

Linguística

Cognitiva,

principalmente através de Langacker e de Talmy, tem proposto classificações das operações de perspectivação conceptual. Falta, porém, articular sistematicamente as diferentes propostas de classificação. Especificamente, falta saber como é que as diferentes operações de perspectivação conceptual se relacionam, quais as operações mais básicas, poderão determinadas expressões linguísticas ser integralmente caracterizadas em termos de certas operações e não de outras. 4

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No estado actual dos conhecimentos, e para além dos resultados descritivos expressos nas classificações que referiremos a seguir, há dois aspectos cruciais. Por um lado, diferentes operações de perspectivação conceptual combinam-se entre si de tal modo que determinada construção linguística resulta, geralmente, da combinação de diferentes operações, residindo aí a razão de ela ser única e distinta de outras construções. Por outro lado, há operações de perspectivação conceptual que parecem ser mais salientes ou, pelo menos, mais conhecidas do que outras. Uma das operações mais conhecidas é o alinhamento assimétrico Figura/Fundo, popular a partir dos estudos da Psicologia Gestaltista. Foi introduzida na Linguística Cognitiva por Talmy (1978) e, depois, por Langacker (1987), embora com designações diferentes. É enorme o impacto desta operação na linguagem, tanto a nível dos itens lexicais como no domínio das construções gramaticais. Com efeito, o significado de um item lexical designa ou perfila (na terminologia de Langacker 1987, 1991) uma subestrutura dentro de uma estrutura mais ampla e o conhecimento desta sua base faz parte do significado desse item. O mesmo se passa com uma construção sintáctica: determinada construção impõe um perfil na interpretação de uma situação. Uma outra importante operação de perspectivação conceptual consiste no facto de entidades e situações poderem ser conceptualizadas em diferentes níveis de esquematicidade/especificidade. Podemos dizer que uma árvore que dá pinhões que se podem comer é um pinheiro manso, um pinheiro ou, simplesmente, uma árvore. E podemos exprimir a acção de escrever um artigo por fazer algo. E uma construção causativa analítica como fazer alguém ver tem um significado mais esquemático do que a expressão causativa lexical mostrar. Ainda um outro tipo de perspectivação conceptual consiste em conceptualizar algo em relação a outra coisa. Por exemplo, o tempo gramatical é determinado por relação com o agora do acto de fala, sendo por isso uma categoria deíctica, tal como o são os pronomes pessoais e os advérbios de lugar e de tempo. Outras formas de conceptualizar em relação com algo são a metáfora, a metonímia ou o contraste. Estas e outras operações de perspectivação conceptual têm sido objecto de sistematização e classificação. Vamos ver essas classificações.

3.1. Classificação de Langacker

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Sob a designação de imagética convencional (“conventional imagery”), Langacker (1987: 116-137) distingue três tipos de perspectivação conceptual, entendendo-os essencialmente em termos de ajustamentos focais: •

Selecção



Perspectiva



Abstracção

O primeiro permite prestar atenção a determinadas facetas do objecto de conceptualização em detrimento de outras. O segundo corresponde à posição a partir da qual determinada situação é observada e compreende quatro sub-categorias: (i) alinhamento

Figura/Fundo,

(ii)

Ponto

de

Vista,

(iii)

Dêixis

e

(iv)

Objectividade/Subjectividade. Esta última é entendida em termos de arranjo de visão entre o observador (conceptualizador, locutor) e a entidade que é observada, no sentido de que esta entidade pode ser construída como objecto ou como sujeito de conceptualização. Uma entidade é construída com subjectividade máxima quando permanece “fora de palco”, inerente ao próprio processo de per/concepção, sem ser o alvo deste processo; pelo contrário, a entidade é construída com objectividade máxima quando é colocada “em palco”, como foco explícito de atenção. A mudança da perspectivação objectiva para a perspectivação subjectiva constitui o que Langacker designa como subjectificação. Poderia também ser incluída na Perspectiva (embora o autor não o faça), a distinção de Langacker, já acima referida, entre perfil e base, essencial para a determinação do significado de uma expressão, já que uma expressão perfila algo sempre em relação a uma base semântica ou domínio para que necessariamente remete. A Abstracção tem a ver com a nossa capacidade de estabelecer semelhanças entre entidades distintas, pondo de lado as diferenças. Em trabalhos mais recentes, Langacker (2007, 2008) substitui a sua classificação inicial tripartida por uma classificação quadripartida: 2 •

Especificidade



Proeminência



Perspectiva

2

Num artigo dedicado aos universais de perspectivação conceptual (“universals of construal”), Langacker (1993b) distingue cinco operações: especificidade, escopo, proeminência, plano de fundo e perspectiva.

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Dinamicidade

A Especificidade corresponde à categoria anterior da Abstracção. A nova categoria da Proeminência compreende o alinhamento Figura/Fundo e as operações inicialmente categorizadas em termos de Selecção. A Perspectiva é entendida da mesma forma, excepto o subtipo da Figura/Fundo, que passa para a categoria da Proeminência. E a Dinamicidade tem a ver com o desenvolvimento de uma conceptualização ao longo do tempo processado (e não do tempo concebido). Esta última operação estava presente na distinção inicial de Langacker (1987) entre escaneamento sequencial, ou seja, ao longo do tempo e escaneamento sumário, isto é, a conceptualização holística de uma situação na sua totalidade; distinção ilustrada, por exemplo, na oposição entre verbo e sua nominalização, respectivamente. Tendo em conta as sub-categorias identificadas, a classificação actual de Langacker é a seguinte:

1. Especificidade 2. Proeminência 2.1.

Perfil vs. Base

2.2.

Trajector vs. Marco

3. Perspectiva 3.1.

Ponto de Vista

3.2.

Dêixis

3.3.

Escopo

3.4.

Objectividade vs. Subjectividade

4. Dinamicidade

A oposição Trajector/Marco (“Trajector/Landmark”) é um tipo de proeminência que ocorre nas categorias relacionais (todas as classes de palavras, excepto os nomes): um dos participantes é tomado como a entidade que está a ser localizada, descrita ou avaliada, sendo assim o Trajector ou o participante focal primário (a Figura, na terminologia tradicional), ao passo que o outro participante é considerado como o participante focal secundário ou Marco (o Fundo, na terminologia tradicional). Do lado da operação de Perspectiva, o Escopo de uma expressão é a totalidade de conteúdo conceptual para que ela remete como base do seu significado. Geralmente há lugar para 7

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a distinção entre escopo máximo e escopo imediato, sendo este último o foco de atenção ou a porção do conteúdo evocado potencialmente disponível para a observação focalizada. Por exemplo, o olho é o escopo imediato para as conceptualizações alternativas da íris e da pupila, sendo a cara o escopo máximo da respectiva conceptualização.

3.2. Classificação de Talmy

Talmy (1988a) propõe inicialmente 4 sistemas imagéticos como as principais categorias de fenómenos de perspectivação conceptual: •

Esquematização



Perspectiva



Atenção



Dinâmica de Forças

Há várias correspondências entre a classificação de Talmy e a de Langacker. A Esquematização de Talmy corresponde à Especificidade de Langacker e a Atenção de Talmy corresponde à Proeminência de Langacker. Ambos identificam e caracterizam em termos idênticos a categoria da Perspectiva. A Dinâmica de Forças está, porém, ausente na classificação de Langacker. Talmy (2000a: 40-84) mantém as mesmas quatro categorias ou sistemas esquemáticos,

como

presentemente as

denomina,

alterando

apenas

algumas

designações: •

Estrutura Configuracional



Perspectiva



Distribuição da Atenção



Dinâmica de Forças

Perpendicular a estes quatros sistemas está a categoria esquemática do Domínio, isto é, determinada operação de perspectivação conceptual pode aplicar-se a vários

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domínios. Por exemplo, e tomando o sistema da Estrutura Configuracional, de que a presença ou ausência de ‘delimitação’ é um exemplo, os conceitos podem ser construídos, tanto no domínio do espaço como no do tempo, como discretos (os ‘objectos’ no espaço e as ‘acções’ no tempo) ou como contínuos (as ‘substâncias’ no espaço e as ‘actividades’ no tempo). A nominalização converte conceitos do tempo em conceitos do espaço, pelo que as acções são construídas como objectos e as actividades como substâncias. Para Langacker, os domínios do espaço e tempo são determinantes para a distinção entre nomes e verbos: os nomes exprimem coisas e são perspectivados em termos de agrupamento e reificação conceptual, ao passo que os verbos exprimem processos, isto é, são construídos em termos de escaneamento sequencial de uma relação temporalmente manifestada. Todavia, Langacker considera a distinção entre nome e verbo, não como uma categoria esquemática autónoma, mas como uma instanciação da organização Figura/Fundo. Incluindo as sub-categorias, a classificação completa de Talmy (2000a: 40-84) é a seguinte:

1. Estrutura Configuracional 1.1.

Plexidade

1.2.

Estádio de delimitação

1.3.

Estádio de divisibilidade

1.4.

Grau de extensão

1.5.

Padrão de distribuição

1.6.

Axialidade

1.7.

Partição da cena

2. Perspectiva 2.1.

Localização perspectivista 2.1.1. Dêixis

2.2.

Distância perspectivista

2.3.

Modo perspectivista

2.4.

Sequencialização/sinoptização

2.5.

Direcção de visão

3. Distribuição da Atenção 3.1.

Força de atenção 3.1.1. Pôr em primeiro plano / pôr em plano de fundo 9

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3.2.

Padrão de atenção 3.2.1. Foco de atenção (Figura/Fundo, Centro/Periferia) 3.2.2. Janela de atenção 3.2.3. Nível de atenção

3.3.

Mapeamento de atenção

4. Dinâmica de Forças 4.1.

Ficticidade geral

5. Estado cognitivo

A Estrutura Configuracional, correspondente à estruturação esquemática ou configuração geométrica no espaço e no tempo, compreende sete sub-categorias: (i) plexidade ou articulação entre elementos equivalentes quanto à quantidade (cf. distinções iterativo/semelfactivo, grosso/fino); (ii) estado de delimitação ou delimitação/não-delimitação (cf. contável/massivo, perfectivo/imperfectivo); (iii) estado de divisibilidade ou internamente discreto (com fronteiras) / compósito (continuidade interna); (iv) grau de extensão ou tamanho da entidade/situação designada; (v) padrão de distribuição ou distribuição de matéria através do espaço e de acção através do tempo; (vi) axialidade, pela qual determinado item está relacionado a um eixo particular e a outros itens com referentes ao longo do mesmo eixo; e (vii) partição da cena ou divisão da cena em partes e participantes. Do lado da Perspectiva, a localização do ponto de perspectiva cobre a dêixis; a distância relativa pode ser distal, medial ou proximal; o modo diz respeito à mobilidade ou estaticidade; a sequencialidade/sinopticidade corresponde à visão sequencial/global; e a direcção de perspectiva estabelece determinada direcção a partir de um ponto de vista. Para além da Estrutura Configuracional e da Perspectiva sobre as entidades descritas dentro dessa Estrutura, a Distribuição da Atenção permite dirigir a atenção para determinada estrutura a partir de determinado ponto de vista. A força da atenção permite pôr em primeiro plano ou em plano de fundo determinada relação. As diferentes forças de atenção estão organizadas em padrões de atenção: (i) foco de atenção ou Figura/Fundo e Centro/Periferia; (ii) janela de atenção, pela qual determinada região de um cena recebe maior atenção do que outra região; e (iii) nível de atenção. Padrões de atenção são mapeados de diversas maneiras no referente que está a ser focalizado.

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O sistema de Dinâmica de Forças compreende as seguintes dimensões: (i) uma oposição de forças entre um Agonista (a entidade que exerce força) e um Antagonista (a entidade que exerce uma contra-força); (ii) uma tendência intrínseca de força do Agonista ora para o movimento ou acção ora para o repouso ou inacção; (iii) as forças relativas das forças em oposição, pelo que uma entidade mais forte será capaz de realizar a sua tendência à custa de uma entidade mais fraca; e (iv) o resultado da interacção de forças, isto é, ora acção ora inacção, somente em relação ao Agonista. Finalmente, o Estado Cognitivo relaciona-se com o acto de fala e tem a ver com o conhecimento do evento descrito pelo locutor e as inferências deste quanto à capacidade de o interlocutor identificar o que está a ser descrito. Intenção, vontade, objectivo, desejo, etc. são exemplos desta categoria.

3.3. Operações ausentes nas classificações de Langacker e de Talmy

Metáfora e metonímia são outras importantíssimas operações de perspectivação conceptual, que estão ausentes nas classificações anteriores, mas que têm sido objecto de amplo estudo dentro da Linguística Cognitiva, designadamente nos trabalhos de Lakoff & Johnson (1980, 1999) e muitos outros (ver em Silva 2003a uma visão de conjunto). 3 Um outro constructo da Linguística Cognitiva que impõe uma conceptualização da experiência são os esquemas imagéticos (“iamge schemas”) ou padrões nãoproposicionais e dinâmicos dos nossos movimentos no espaço, da nossa manipulação dos objectos e de interacções perceptivas (Johnson 1987, Lakoff 1987, Lakoff & Turner 1989, Clausner & Croft 1999, Hampe 2005). Clausner & Croft (1999) sistematizam assim os esquemas imagéticos identificados por Johnson (1987) e Lakoff & Turner (1989): •

Espaço: em cima-em baixo, atrás-à frente, esquerda-direita, perto-longe, centro-periferia, contacto



Escala: percurso



Contentor: contentor, dentro-fora, superfície, cheio-vazio, conteúdo

3

A metonímia está amplamente presente nos trabalhos de Langacker, sendo uma instanciação do que Langacker descreve como o modelo cognitivo do ponto de referência (Langacker 1991, 1993a).

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Força: balança, contra-força, compulsão, restrição, possibilitação, bloqueio, diversão, atracção



Unidade/Multiplicidade: mesclagem, colecção, divisão, iteração, parte-todo, massivo-contável, ligação



Identidade: correspondência, sobreposição



Existência: remoção, espaço delimitado, ciclo, objecto, processo.

3.4. Classificação de Croft e Cruse

Com base numa classificação anterior (Croft & Wood 2000), Croft & Cruse (2004: 40-73) procuram articular as classificações de Langacker e Talmy, integrando as operações anteriores ausentes naquelas classificações (metáfora, metonímia e esquemas imagéticos) e evidenciando que as principais operações de perspectivação conceptual correspondem a capacidades e processos psicológicos que têm sido estabelecidos independentemente por psicólogos e fenomenologistas. A sua proposta de classificação assenta em quatro tipos principais de operações, cada um dos quais corresponde a capacidades cognitivas gerais e é subdividido em várias sub-categorias, correspondentes também a capacidades cognitivas.

1. Atenção/Saliência 1.1.

Selecção 1.1.1. Perfilação 1.1.2. Metonímia

1.2.

Escopo (domínio) 1.2.1. Escopo de predicação 1.2.2. Domínios de busca 1.2.3. Acessibilidade

1.3.

Ajustamento escalar 1.3.1. Quantitativo (abstracção) 1.3.2. Qualitativo (esquematização)

1.4.

Dinâmico 1.4.1. Movimento fictício

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1.4.2. Escaneamento sequencial/sumário 2. Juízo/Comparação (incluindo esquemas imagéticos de identidade) 2.1.

Categorização (enquadramento, “framing”)

2.2.

Metáfora

2.3.

Figura/Fundo

3. Perspectiva/Situacionalidade 3.1.

Ponto de Vista 3.1.1. Ponto de Vantagem 3.1.2. Orientação

3.2.

Dêixis 3.2.1. Espácio-temporal (incluindo esquemas imagéticos espaciais) 3.2.2. Epistémica 3.3.3. Empatia

3.3.

Objectividade/Subjectividade

4. Constituição/Gestalt (incluindo a maior parte dos outros esquemas imagéticos) 4.1.

Esquematização estrutural 4.1.1. Individuação (delimitação, unidade/multiplicidade, etc.) 4.1.2. Esquematização topológica/geométrica (contentor, etc.) 4.1.3. Escala

4.2.

Dinâmica de Forças

4.3.

Relacionalidade (entidade/interconexão)

A categoria da Atenção/Saliência compreende basicamente as operações da categoria da Atenção de Talmy e outras operações diferentemente classificadas, nomeadamente, a Abstracção de Langacker e a Esquematização de Talmy, com os “ajustamentos escalares”, e a Dinamicidade de Langacker. Adicionalmente, inclui a categoria do Escopo, já identificada por Langacker. A categoria do Juízo/Comparação inclui a sub-categoria da Figura/Fundo, que pertence à categoria da Atenção/Proeminência nas classificações de Talmy e Langacker. A inclusão da Metáfora e da Categorização torna a classificação de Croft e Cruse mais compreensiva do que as anteriores. A categoria da Perspectiva é basicamente idêntica à mesma categoria das classificações de Langacker e Talmy. Finalmente, a categoria da Constituição/Gestalt

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agrupa duas distintas categorias da classificação de Talmy, designadamente a Estrutura Configuracional e a Dinâmica de Forças.

4.

A base conceptual das operações de perspectivação conceptual

As classificações das operações de perspectivação conceptual que acabámos de apresentar, por mais exaustivas que sejam, como a de Croft & Cruse (2004), contêm sempre alguma arbitrariedade. Por um lado, a inclusão de determinada operação numa categoria geral e não noutra nem sempre é claramente compreensível. Por exemplo, o Movimento Fictício é agrupado por Croft & Cruse na categoria da Atenção/Saliência, mas pode perfeitamente ser incluído na categoria da Constituição/Gestalt. Por outro lado, fenómenos de mudança linguística mostram que as diferenças entre operações de perspectivação conceptual são menos óbvias do que o que aparentam. Por exemplo, a mudança, observada em várias línguas, dos marcadores de perfectividade para marcadores de tempo passado sugere que a alteração da categoria das operações de estrutura configuracional (aqui delimitação) para a categoria da perspectiva (aqui dêixis) é gradual e que os dois tipos de operações se podem sobrepor. Tudo isto sugere duas ideias importantes sobre a tentativa de classificar as operações de perspectivação conceptual. Por um lado, não se pode esperar que possa haver uma classificação das operações de perspectivação conceptual que seja exaustiva e completa. O próprio Langacker (2007: 452, nota 22) adverte que a sua classificação é a que é por “conveniência de exposição”. Por outro lado, e como argumenta Verhagen (2007) num estudo de síntese sobre este tema, é importante encontrar um “espaço conceptual”

suficientemente

geral

para

a

caracterização

das

operações

de

perspectivação conceptual. Esse espaço encontrar-se-á na categoria da Perspectiva – afinal, a mais consensual entre as classificações existentes. Seguindo a definição de Langacker (1987: 487-488), a relação de perspectivação conceptual (“construal relationship”) é “a relação que se estabelece entre o locutor (ou interlocutor) e a situação que ele conceptualiza e descreve, e essa relação envolve ajustamentos focais e uma imagética convencional”. Trata-se basicamente do que Langacker (1987: 129) designa como arranjo de visão (“viewing arrangement”) que envolve um indivíduo (locutor ou interlocutor), de um lado, e uma situação observada,

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do outro, tal como está representada na Figura 1 (a linha vertical corresponde à relação de perspectivação conceptual).

objecto de conceptualização

V

sujeito de conceptualização

Figura 1. Arranjo de visão

Esta configuração bidimensional mostra já uma distinção fundamental entre tipos de operações de perspectivação conceptual. A nível horizontal, temos as operações que envolvem a imposição de estrutura no objecto de conceptualização: por exemplo, as operações de Atenção/Saliência ou as de Dinâmica de Forças. A nível vertical, temos as operações que envolvem uma relação com a situação de comunicação: por exemplo, as operações de Perspectiva (ponto de vista, dêixis, etc.). Verhagen (2005, 2007) desenvolve o plano inferior da Figura 1 – que Langacker (1987: 126) designa como âncora (“ground”) e define como sendo a situação de comunicação com os seus participantes e as suas circunstâncias –, adicionando a capacidade que temos de ter em conta outras mentes na relação com determinado objecto de conceptualização. 4 A âncora de uma expressão linguística compreende pois dois conceptualizadores – o locutor e o interlocutor –, sendo portanto uma “âncora comum”, em que o primeiro conceptualizador convida o segundo a prestar conjuntamente atenção a um objecto de conceptualização sob determinada perspectiva específica: Por outras palavras, ambos os conceptualizadores estão envolvidos num processo de coordenação cognitiva realizado através da linguagem, iniciado por um desses conceptualizadores em cada instância do discurso. A Figura 2, tomada de Verhagen (2005: 7, 2007: 60), procura representar os elementos básicos de uma configuração de perspectivação conceptual: a linha horizontal inferior indica a relação

4

Segundo Tomasello (1999), esta capacidade de “tomar a perspectiva de outrem” é o factor biologicamente determinado que distingue a cognição humana da de outros primatas.

15

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de coordenação cognitiva entre os dois conceptualizadores e a linha vertical representa a relação de atenção conjunta entre conceptualizadores e seu objecto de conceptualização.

objecto de conceptualização

1

2

sujeito de conceptualização

Figura 2. Os elementos básicos de uma configuração de perspectivação conceptual

Mesmo na ausência de um dos sujeitos de conceptualização – ou o locutor, como num texto antigo, ou o interlocutor, como num diário pessoal – qualquer enunciado pressupõe a configuração representada na Figura 2. Consequentemente, a Figura 2 constitui a base conceptual de todos os fenómenos de perspectivação conceptual. E essa base é bidimensional: envolve a dimensão da construção do objecto de conceptualização (eixo vertical) e a dimensão da coordenação entre os sujeitos de conceptualização (eixo horizontal inferior), apenas implícita na configuração de Langacker, representada na Figura 1. Por outras palavras, a Figura 2 combina a dimensão da relação específica de perspectivação conceptual (eixo vertical) e a dimensão da relação de coordenação intersubjectiva (eixo horizontal inferior). O facto de a estrutura conceptual representada na Figura 2 ser inerente a qualquer enunciado não implica que todos os elementos da respectiva configuração sejam simbolizados, isto é, expressos linguisticamente. Determinadas unidades linguísticas podem explicitamente pôr “em palco” (focalizar) algum modo de construir o objecto de conceptualização (eixo vertical), ao passo que outras unidades linguísticas podem operar inteiramente a nível da coordenação entre os sujeitos de conceptualização (eixo horizontal inferior). O espaço conceptual representado na Figura 2 pode pois ser organizado de diferentes modos. As Figuras 3 e 4 representam casos extremos de perspectivação maximamente objectiva (Figura 3) e maximamente subjectiva (Figura 4).

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2

1

Figura 3. Perspectivação maximamente

2

1

Figura 4. Perspectivação maximamente

objectiva

subjectiva

A configuração da Figura 3 é rara e de certa forma artificial. Mesmo um sintagma nominal, como o livro, ou uma frase, como Ele leu o livro, não são puramente ‘objectivos’, visto que a identidade do referente ou o tempo do evento são acessados através do acto de fala (razão por que o artigo e o marcador de tempo constituem “predicadores de ancoragem”, na terminologia de Langacker). No limite, a Figura 3 poderá actualizar-se em nomes comuns e verbos utilizados isoladamente. São exemplos da Figura 4 as interjeições, os marcadores epistémicos, os adjuntos avaliativos, os marcadores discursivos, etc. O normal é que as expressões linguísticas se situem num contínuo entre estes dois extremos. Além disso, determinada unidade linguística pode convencionalmente desempenhar uma função em ambas as dimensões (vertical e horizontal inferior) e a preponderância de uma delas pode gradualmente mudar ao longo do tempo. Outras variações de perspectivação conceptual estão representadas nas Figuras 5-8, tomadas de Verhagen (2005).

1

2

Figura 5. Dêixis de primeira pessoa

1

2

Figura 6. Dêixis de segunda pessoa

17

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2

1

Figura 7. Minimamente perspectivizado

5.

2

1

Figura 8. Interpretação epistémica

Breves ilustrações gramaticais

5.1. A voz gramatical

A voz é a categoria gramatical que consiste em atribuir diferentes estatutos de Atenção/Proeminência aos argumentos de um verbo através de determinadas construções

semântico-sintácticas

e

pragmáticas.

Nesta

atribuição

de

Atenção/Proeminência, distinguem-se duas estratégias gerais: as chamadas “línguas acusativas” constroem as situações de fora para dentro, isto é, da fonte de energia para a mudança de estado, ao passo que as “línguas ergativas” constroem as situações do centro para fora, ou seja, da mudança de estado para a fonte de energia. Em todas as línguas, porém, há uma voz não-marcada, que geralmente corresponde à voz activa, representada na Figura 9 (seguindo os diagramas de Langacker 1987, 1991). A e P designam Agente e Paciente; S e O indicam Sujeito e Objecto e Tr e M estão pelas designações de Langacker de Trajector e Marco. As restantes categorias de voz no Português resultam essencialmente de operações alternativas de perspectivação conceptual do tipo geral de Atenção/Proeminência. As caracterizações sumárias que apresentamos a seguir para o Português baseiam-se nas descrições de Langacker (1991: capp 8-9) e de Maldonado (1999, 2007).

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A

P

S/Tr

O/M

Figura 9. Voz activa

A voz passiva é a estratégia de tornar proeminente a mudança de estado sofrida por um sujeito-temático (sujeito-Paciente), pondo o Tema-Paciente em foco. A passiva perifrástica, representada na Figura 10 (C representa o conceptualizador), focaliza a mudança imposta ao Tema-Paciente. A passiva de se, representada na Figura 11, é essencialmente uma estratégia de desfocalização do Agente, o qual só pode ser representado de forma esquemática. As duas estratégias alternativas – focalizar o Tema e desfocalizar o Agente – complementam-se, pelo que algumas línguas podem possuir apenas uma destas construções, ao passo que outras línguas, como o Português, possuem ambas.

A

P

A

P

S/Tr

S/Tr

C

C

Figura 10. Passiva perifrástica

Figura 11. Passiva de se

A voz impessoal, representada na Figura 12, é uma estratégia de despromoção ou mesmo supressão do potencial instigador do processo, em que o que é posto em foco é a acção e não o seu resultado. O recorte da construção é activo e o seu potencial instigador é construído como um Trajector genérico. Afonso (2008) identifica e caracteriza em termos de operações de perspectivação conceptual várias construções de impessoalização no Português: não apenas o se impessoal, mas também o se anticausativo, o se passivo, o se potencial, a passiva perifrástica, a nominalização, a construção de haver e estratégias lexicais e pronominais.

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A

P

S/Tr

O/M

Figura 12. Voz impessoal

Finalmente, a voz média, representada na Figura 13, e objecto do excelente estudo de Maldonado (1999) para o Espanhol em termos de operações de Proeminência, focaliza a mudança de estado que afecta somente o sujeito, constituindo-se assim como uma estratégia de focalizar o domínio (físico, emocional, relacional, mental) do sujeito. Vários tipos de situações prestam-se à perspectivação média: interacções com partes do corpo, mudanças de posição corporal, mudança de lugar, mudança emocional, mudança mental, mudança de estado cuja origem não é identificada, evento recíproco, etc.

P S/Tr Figura 13. Voz média

5.2. Complementação infinitiva vs. finita

Verbos causativos e perceptivos admitem a variação entre complementação infinitiva e complementação finita, exemplificada em (1)-(5).

(1)

(2)

(3)

a.

A Maria fez o Zé sair do restaurante.

b.

A Maria fez com que o Zé saísse do restaurante.

a.

Durante a manhã, os sequestradores deixaram sair dois homens.

b.

Durante a manhã, os sequestradores deixaram que dois homens saíssem.

a.

*Ele vê os dois rapazes serem muito amigos.

b.

Ele vê que os dois são rapazes são muito amigos (porque estão sempre a brincar).

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(4)

Os sinais positivos não chegam ao sector da construção, que vê a crise agravarse.

(5)

Toda a gente viu que aquele prédio estava na iminência de ruir.

Esta variação reflecte um contraste conceptual, que se deixa explicar adequadamente em termos da operação de Perspectiva, mais especificamente a subcategoria da Objectividade/Subjectividade (para uma descrição mais desenvolvida do que a que se apresenta a seguir, ver Silva 1999, 2005 e Vesterinen 2007). A construção completiva infinitiva com verbos causativos exprime uma causação directa, ao passo que a construção completiva finita exprime uma causação indirecta e inferida. O exemplo (1a) adequa-se a uma situação em que a Maria usou da força física para que o Zé saísse do restaurante, empurrando-o, por exemplo. O mesmo não sucede em (1b), mais adequado a uma situação em que a Maria usou de força psicológica, mental ou ainda moral para levar o Zé a sair do restaurante. No exemplo (2b), ao contrário do exemplo (2a), evento causador e evento causado não são espácio-temporalmente coextensivos, pelo que a autorização de saída pode ter sido transmitida aos visados, não directamente, mas através de um mediador. Do mesmo modo, a construção completiva infinitiva de verbos perceptivos exprime uma percepção sensorial, naturalmente directa, ao passo que a construção completiva finita denota um processo mental de inferência. A situação descrita em (3b) só pode ser a da inferência e não a da percepção sensorial. Em (4), o objecto de ver é abstracto, não sendo por isso sensorialmente perceptível, mas a construção infinitiva reforça a leitura da evidencialidade. Pelo contrário, em (5) o objecto do mesmo verbo é sensorialmente perceptível, mas a construção completiva finita sugere a leitura de que as pessoas, de algum modo, examinaram as reais condições do prédio. A construção infinitiva constrói a relação causal ou sensorial como objectiva: essa relação é objecto de conceptualização e dela está perfeitamente separado o conceptualizador. Pelo contrário, a construção finita constrói subjectivamente a relação: é o sujeito conceptualizador que estabelece a respectiva inferenciação. A construção completiva finita constitui assim um bom exemplo de subjectificação, que Langacker (1999: cap. 10) caracteriza em termos de ‘atenuação’ da construção objectiva. A Figura 14 representa o processo gradual de subjectificação: a relação objectiva entre Trajector e Marco vai sendo atenuada e, assim, subjectificada.

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construção objectiva TR

M

atenuação TR

M

T

T

- causação directa - percepção sensorial

TR

M

T C

C

subjectificação

C

- causação indirecta, inferida - inferência

Figura 14. Da construção completiva infinitiva à finita, ou da objectividade à subjectividade

5.3. Construção causativa manter/deixar

As construções causativas são um bom exemplo da categoria de Dinâmica de Forças, que o próprio Talmy (1988b) elaborou como uma generalização da noção linguística tradicional de ‘causativo’. Os verbos causativos fazer, manter, deixar e seus sinónimos instanciam diferentes padrões de Dinâmica de Forças: ora o padrão coercivo mutável (fazer) e estável (manter), ora o padrão não impeditivo mutável (deixar ‘largar, soltar’ e ‘permitir’) e estável (deixar ‘não intervir’). O primeiro é o padrão prototípico da causação, sendo o segundo caracterizável em termos de causação negativa. Para uma análise desenvolvida, ver Silva (1999, 2003b, 2004a, b, c, 2005a, b). Vamos aqui considerar o contraste entre manter e deixar, exemplificado em (6).

(6)

a.

O Zé manteve as coisas como estavam.

b.

O Zé deixou as coisas como estavam.

Com ambos os verbos causativos, a oposição de forças é estável: o Antagonista (Zé) não toma nem deixa a sua condição de força oponente mas continua nessa condição – a sua força é continuamente exercida em (6a) e continuamente não exercida em (6b). O resultado da oposição de forças é também o mesmo nas duas frases: a não-alteração do estado do Agonista (coisas), seja o movimento ou o repouso. Isto é, as coisas

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continuam a existir como existiam antes (é assim que as duas frases têm as mesmas condições-de-verdade). Mas há diferenças essenciais entre manter e deixar. O Antagonista de manter exerce uma força (física ou outra) contra a tendência intrínseca do Agonista, ao passo que o Antagonista de deixar se abstém ou deixa de exercer uma força (física ou outra) que se possa opor à tendência do Agonista. Consequentemente, o estado resultante da oposição de forças é diferente para os dois verbos. Com manter, o estado resultante da interacção é diferente da tendência do Agonista: em (6a), o Agonista (coisas) tende para o movimento (deixar de estar como estava), mas, porque o Antagonista age como barreira, o estado resultante é o repouso (as coisas continuam a estar como estavam). Pelo contrário, em deixar o estado resultante é igual ao da tendência do Agonista: em (6b), as coisas tendem para o repouso e assim continuam. Pode pois concluir-se que ‘deixar as coisas como estão’ e ‘manter as coisas como estão’ exprimem perspectivações conceptuais radicalmente diferentes da mesma situação do mundo real (para uma análise desenvolvida, ver Silva 2004c).

6.

Conclusão

Três ideias conclusivas decorrem da exposição feita da literatura da Linguística Cognitiva sobre operações de perspectivação conceptual na linguagem e das breves ilustrações em fenómenos da gramática do Português. Em primeiro lugar, as operações de perspectivação conceptual são centrais na cognição e na linguagem e são, como argumenta Langacker (1993b), seguido também por Croft & Wood (2000: 76), universais, na medida em que envolvem capacidades cognitivas gerais do ser humano; mas, como também conclui Verhagen (2007), parece não ser possível organizá-las num sistema de classificação exaustiva. As classificações de Langacker, Talmy e Croft & Cruse, embora se fundamentem todas em capacidades cognitivas gerais, que à partida garantiriam idênticas classificações, apresentam bastantes diferenças. O facto crucial é o de que as operações de perspectivação conceptual podem variar de tantos modos diferentes que uma tentativa de classificação exaustiva acabará por ser incompleta e conter alguma arbitrariedade. Sintomático é já o facto de os autores condicionarem as suas classificações a propósitos de conveniência expositiva (Langacker 2007) ou alertarem para diferentes aspectos da experiência humana como factor de variação das operações de perspectivação conceptual (Croft & Cruse 2004: 45). 23

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Em segundo lugar, subjacente às diversas operações de perspectivação conceptual está um espaço conceptual bidimensional, constituído pela dimensão da estruturação do ‘objecto’ de conceptualização e pela dimensão da coordenação intersubjectiva entre os ‘sujeitos’ de conceptualização ou participantes do acto de fala. Algumas operações de perspectivação

conceptual

funcionam,

sobretudo,

a

nível

do

objecto

de

conceptualização, ao passo que outras funcionam mais a nível do sujeito de conceptualização. Mas a própria noção de perspectivação, como processo de atenção conjunta de locutor e interlocutor para o objecto de conceptualização, convoca as duas dimensões. A dimensão da coordenação intersubjectiva ou intersubjectividade, pouco visível, pelo menos, nas classificações de Langacker, Talmy e Croft & Cruse, embora implícita na configuração básica de Langacker em termos de “arranjo de visão”, tem sido explorada por Verhagen (2005) e por este aplicada a importantes fenómenos linguísticos, como a negação frásica, a complementação finita e as construções de complementação impessoal, e ainda a conexão frásica e a conexão textual. Encontra-se aqui, nesta linha de investigação, o caminho para a identificação de operações de perspectivação conceptual ao nível do acto de fala. Aquele espaço conceptual bidimensional subjacente permitirá a base unificadora a partir da qual muitos fenómenos linguísticos podem ser explicados em termos de diversos tipos de perspectiva e (inter)subjectividade. Afinal, a conceptualização envolve aspectos que decorrem da estrutura do objecto de conceptualização, mas envolve também e sobretudo aspectos que têm a ver com a perspectiva (inter)subjectiva na estruturação desse objecto. As dimensões e os elementos deste espaço conceptual são universais, mas as distinções efectivas operadas nesse espaço diferem de língua para língua e variam ao longo do tempo. Finalmente, as operações de perspectivação conceptual constituem uma (ou a) componente essencial do conteúdo das expressões linguísticas e, portanto, da sua semântica. Mas, surpreendentemente ou talvez não, elas constituem também uma componente essencial da sintaxe das expressões linguísticas, permitindo defender que os fenómenos sintácticos constituem, tal como os lexicais, também unidades simbólicas, isto é, emparelhamentos de forma (fonológica) e significado (conceptual) – uma hipótese que tem sido explorada por Langacker (1987, 1991) na sua Gramática Cognitiva, mas que não é aceite por outros modelos cognitivos de gramática, como a Gramática de Construções de Goldberg (1995) e a Gramática Radical de Construções de Croft (2001). Independentemente desta divergência, as operações de perspectivação 24

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conceptual são centrais para a descrição e explicação dos fenómenos gramaticais. Procurámos mostrar isto mesmo com as muito breves análises de fenómenos da gramática do Português, que não têm encontrado um tratamento adequado em modelos gramaticais autonomistas e formalistas, particularmente a Gramática Generativa. Evidências bem mais extensas e consistentes são os próprios trabalhos gramaticais de Langacker (1987, 1991, 1999), Talmy (2000a, b), Croft (2001) e Verhagen (2005).

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