Phantom Schlatter e a trajetória de um instrumento médico, obstétrico e pedagógico no interior do Rio Grande do Sul (Brasil).

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PHANTOM SCHLATTER: A TRAJETÓRIA DE UM INSTRUMENTO MÉDICO, OBSTÉTRICO E PEDAGÓGICO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL Juarez Fraga Junior1 Resumo O acervo do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM) é composto por documentos, objetos e depoimentos que auxiliam na recuperação das atividades que envolvem as práticas de saúde na história do estado gaúcho. Dentre os objetos presentes no acervo tridimensional, poderemos encontrar um protótipo dos denominados “Phantom”: manequins confeccionados para auxiliar no exercício pedagógico dos Cursos de Parto. Nesse artigo, consideraremos um desses objetos, construído e empregado no estado, como fonte de cultura material representante das práticas de saúde aplicadas no interior do Rio Grande do Sul entre 1895 e 1910, analisando-o de duas formas: o Phantom enquanto sujeito histórico e, posteriormente, como objeto museológico. Palavras-chave: Phantom. Gabriel Schlatter. Obstetrícia. História da Medicina. Rio Grande do Sul.

1 INTRODUÇÃO O acervo do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM) é composto por documentos, objetos e depoimentos que auxiliam na recuperação das atividades que envolvem as práticas de saúde na história do estado gaúcho. Dentre os objetos presentes no acervo tridimensional, poderemos encontrar um protótipo dos denominados “Phantom”: manequins confeccionados para auxiliar no exercício pedagógico dos Cursos de Parto. Estes objetos foram inspirados na invenção de uma parteira francesa do século XVIII e, enquanto instrumento de pesquisa, permitem uma série de reflexões a cerca das práticas de saúde realizadas no contexto em que eles foram inseridos. O Phantom que pertence ao acervo do MUHM será o protagonista das discussões deste artigo. A partir das análises, buscaremos evidenciar diversas particularidades que

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Graduando do Curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mediador do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM). E-mail: [email protected]. Orientado pela historiadora e coordenadora do Setor Educativo do MUHM Gláucia Lixinski de Lima Kulser. E-mail: [email protected].

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cercaram a vida útil do instrumento entre 1895 e 1910. Dentre estas análises serão referenciados algumas práticas de saúde e de cura presentes no interior do Rio Grande do Sul durante a passagem do século XIX para o XX. Para tanto, iniciaremos abordando a vida do médico naturalista Gabriel Schlatter, construtor do referenciado Phantom que analisaremos neste trabalho. Por seguinte, aprofundaremos a análise sobre as questões de saúde em que Schlatter agiu, visando compreender a relevância histórica da aplicação do Phantom no contexto específico, enquanto participante direto do ensino teórico e prático obstétrico. Por fim, analisaremos o objeto enquanto fonte de cultura material, analisando-o de duas formas: o objeto enquanto sujeito histórico e, posteriormente, como objeto museológico. 2 PRÁTICAS DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO SUL DE 1900 No Rio Grande do Sul, as artes da cura tinham o protagonismo de parteiras e outros práticos. Engana-se quem crê no fim dessas práticas quando da fundação, em 1806, do primeiro hospital civil do Rio Grande do Sul – Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre – e na abertura de sua primeira enfermaria, em 1826. Na capital da passagem do século XIX para o XX, profissionais, médicos e instituições de saúde se relacionavam e praticavam as artes populares de cura2, onde a religiosidade influenciava diretamente na atitude não apenas dos práticos, mas também dos médicos. A categoria médica, nesse contexto, apresentava-se em uma área destituída de consensos no que se referia a tratamentos. Segundo a historiadora Beatriz Weber (1999, p. 84) “esses médicos experimentavam objetivamente imensas dificuldades em diagnosticar e criar doenças, ou atuar nas frequentes epidemias – o que ajuda a compreender suas dificuldades em manter coesão profissional ou adotar uma ética corporativa e autodefensiva”. O hospital, aqui exemplificado pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre que, segundo Beatriz Weber (1999), “era o lugar por excelência” das atividades médicas, por onde as “escolas de Medicina a usavam para seus exercícios, observações e para praticar suas 2

Sobre o assunto, ver WITTER, Nikelen Acosta. Dizem que foi Feitiço. Curadores e práticas de cura no sul do Brasil. (Santa Maria – RS, 1845 a 1880). Porto Alegre: PUC-RS, 1999. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Pontifícia Universidade Católica, 1999.

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diversas especialidades”3. No entanto era visto pela população como último recurso. Os casos de enfermidade e sua recuperação, realização de partos e as últimas horas do moribundo eram tidas como momentos culturalmente típicos para serem vividos em seus leitos. E, mais próxima que os auxílios dos médicos que iam clinicar na casa de seus pacientes, estavam os “curandeiros”. Das dificuldades de atuação dos médicos no Estado, fora as questões políticas, se destacava a luta pela conquista da confiança da população, que a depositava nas superstições, nos medicamentos naturais e nos práticos e parteiras, mais culturalmente inseridos em seu cotidiano. No interior do Rio Grande do Sul, onde o número de médicos diplomados era mais escasso do que em Porto Alegre, o quadro não mudou muito quando da chegada dos imigrantes. Alguns médicos formados na Europa validaram seus diplomas no Brasil e passaram a clinicar nas regiões de colonização, mais conhecidamente nas colônias alemãs4, mas o número de profissionais permanecia pouco insuficiente diante do intenso crescimento demográfico. Embora poucos, foram de importância-chave na construção de um sistema de saúde no interior, onde “não há dúvida de que houve significativa influência de médicos alemães sobre a situação da saúde no Rio Grande do Sul e a consequente contribuição alemã para o Brasil”5. Um dos maiores desafios dos médicos no interior do Estado, além das questões políticas6 que permitiam a atuação de pessoas não habilitadas às práticas de saúde e as péssimas condições de trabalho, era certamente o fator linguístico. Daí então surgiria o relevante papel dos médicos estrangeiros. Pois, conforme dirá GERTZ (2013, p. 147):

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WEBER, Beatriz Teixeira. As artes de curar: Medicina, Religião, Magia e Positivismo na República RioGrandense (1889-1928). Santa Maria: UFSM/EDUSC, 1999. p. 117. 4 Sobre o assunto, ver GERTZ, René E. Médicos alemães no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XX: integração e conflito. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.1, jan.-mar. 2013, p.141-157. 5 GERTZ, René E. Médicos alemães no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XX: integração e conflito. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.1, jan.-mar. 2013. p. 149. 6 Devido a forte influência do positivismo no estado, que previa a liberdade profissional. Conforme constará na Constituição Estadual de 1891: “Não são admitidos no serviço do Estado os privilégios de diplomas escolásticos ou acadêmicos, sendo livre em seu território o exercício de todas as profissões de ordem moral, intelectual e industrial”. (MENDONÇA, 2010, p. 35). Sobre o assunto, ver WEBER, Beatriz Teixeira. As artes de curar: Medicina, Religião, Magia e Positivismo na República Rio-Grandense (1889-1928). Santa Maria: UFSM/EDUSC, 1999.

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Os médicos que vinham do exterior não sabiam falar português; por outro lado, muitos clientes potenciais também não dominavam – ou dominavam mal – essa língua, preferindo, por isso, um médico ‘alemão’ – a par, naturalmente, de afinidades culturais e religiosas.

Será dentro desse contexto que surgirá a figura de Gabriel Schlatter, construtor do Phantom. 3 GABRIEL SCHLATTER De origem austríaca, Gabriel Schlatter (1865-1947) foi pastor de ovelhas, aprendiz de sapateiro e de marceneiro, conhecimentos que o auxiliariam no futuro na constituição de seus objetos de estudo e ensino. Segundo MENDONÇA (2002), foi em contato com livros de Medicina, especialmente de Anatomia, que sua motivação de vida parece ter surgido. Autodidata, estudou por anos trocando favores com médicos e pessoas com conhecimentos em Botânica. Em 1896, Schlatter formou-se como médico naturalista7 em Viena. Vindo para o Brasil, transitou pelas cidades de Porto Alegre, Caí, Lajeado, Estrela, até constituir família e radicar-se em Feliz. Seu diploma de médico naturalista, serviu-lhe para adquirir a licença para clinicar no Rio Grande do Sul. Neste período, a política positivista do Estado, permitia a atuação de médicos estrangeiros, assim como, autodidatas e com pouca formação. No Vale do Caí, o médico austríaco comprou o edifício de um armazém em Feliz, onde constituiu um hospital que, três gerações de médicos na família e décadas mais tarde, adotaria o Schlatter como nome. 3.1 Schlatter e o combate à febre puerperal Em fins do século XIX e início do XX, o índice de mortalidade de mulheres e crianças recém-nascidas se mantinha demasiado alto. Dentre as principais causas das mortes estava a febre puerperal: infecção sobrevinda após o parto, cujos sintomas estão febre, calafrios, falta

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Clínico com formação direcionada para atendimento a imigrantes alemães em terras ultramarinas (MENDONÇA, 2002, p. 28).

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de apetite, dores de cabeça e, em grande parte dos casos, o óbito. A infecção era causada por germes, dentre eles o estreptococco, que era transmitido pela ausência de assepsia ou higiene durante a prática do parto. A transmissão, facilitada pelo desprendimento da placenta e pelo ferimento do útero comum no momento do parto, poderia ocorrer tanto pelos materiais e instrumentos empregados, quando pelas mãos da parteira ou médico atuante8. Os partos mais difíceis, que demandavam mais tempo tornavam a saúde da parturiente mais frágil e mais suscetível às infecções. Logo, a competência técnica e experiência prática eram fundamentais para evitar qualquer risco de saúde à parturiente e à criança. O conhecimento sobre os germes e a importância da assepsia nas práticas obstétricas, embora já tivesse sido amplamente estudado pelo médico húngaro Ignaz Semmelweis (18181865), ainda estava em processo de difusão. Observando este fato, Gabriel Schlatter resolveu ensinar a arte obstétrica às parteiras do Estado gaúcho. Dentre os conteúdos estavam: quais instrumentos deveriam ser utilizados nos partos; como higienizar o ambiente, os instrumentos e as mãos antes da prática, evitando assim criar um ambiente propício à infecção; bem como ensinar a realizar diversos tipos de partos difíceis. Em convite para palestra sobre partos com o médico austríaco, é possível observar o intento de conscientizar a população sobre a importância de realizar um parto de forma segura e com pessoas adequadamente instruídas: O Sr. Dr. G. SCHLATTER Fará uma palestra sobre as tristes consequencias da falta de assistência ao parto, que na nossa região ainda é tão precária, e dará diretrizes de como melhorar essa situação. Nenhum pai de família, nenhuma mãe, que valorize o bem estar, a saúde e a felicidade dos filhos e netos, deixe de comparecer a esta importante palestra. Cada pai de família que ame sua mulher e filhos terá certamente o maior desejo de querer o bem estar de todos. Por isso, nenhum pai poderá ficar indiferente a que suas filhas e netas casadas tenham uma boa assistência nas horas difíceis do parto, pois, devido à falta de parteiras e médicos competentes na nossa colônia, as grávidas com a falta ou péssima assistência, podem vir a falecer de uma trágica maneira ou ficar com doenças e sequelas para a vida inteira. Portanto, deverão comparecer a esta importante conferência. 9

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MARTINS, Roberto de Andrade; MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira; FERREIRA, Renata Rivera; TOLEDO, Maria Cristina Ferraz de. Contágio: história da prevenção das doenças transmissíveis. São Paulo: Moderna, 1997. p. 166. 9 TRANSCRIÇÃO com convite para palestra com doutor sobre partos. Mapoteca do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul. Caixa 019, Coleção 060 - Dr. Gabriel Schlatter, 1433.3.

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Deste modo, então, se iniciou a formação das primeiras turmas do Curso de Partos ministradas pelo médico austríaco.

Figura 1- Fotografia de Gabriel Schlatter com alunas parteiras, circa 1905. (Acervo MUHM)

4 O CURSO DE PARTOS E O PHANTOM Schlatter aplicou em suas aulas a solução empregada em outros Cursos de Parto10 para aplicar a questão prática de ensino: o simulador obstétrico Phantom. Embora já fossem produzidos alguns simuladores obstétricos em escala fabril11, o produto importado custava

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Como, por exemplo, o Curso de Partos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, criado em 1897. É o caso do Phantom Budin-Pinard, um dos Phantoms mais conceituados e utilizados nas universidades europeias e estadunidense, adquirido pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre para seu Curso de Parto. O simulador encontra-se hoje exposto no Centro Histórico-Cultural Santa Casa, em Porto Alegre. Sobre o Phantom Budin-Pinard, ver OWEN, Harry. PELOSI, Marco. A Historical Examination of the Budin-Pinard 11

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alto demais para o caixa do hospital de Feliz. A alternativa vista por Schlatter foi a de construir o seu próprio Phantom. Possuindo 63cm de largura, 30cm de altura e 45cm de comprimento, o Phantom do médico austríaco foi construído em madeira, couro e metal. Representando uma pelve feminina, tem na região onde se localiza o ventre um grande espaço oco. Acompanhando o objeto, um boneco de pano e madeira, onde, na região do ventre, possui uma forte corda de tecido, representando o cordão umbilical.

Figura 2 - O Phantom construído por Gabriel Schlatter. (Acervo MUHM. Foto de Maria Teresa Chong)

Segundo Renato Mendonça (2002, p. 66), Schlatter colocava o boneco dentro do Phantom (na região oca do ventre), fechava a parte superior de forma que as parteiras não pudessem ver a posição em que se encontrava o bebê - aqui representado pelo boneco -, e buscassem colocá-lo “no lugar”, ou seja, buscando o parto menos danoso à parturiente e à criança. 4.1 O Phantom enquanto instrumento pedagógico Phantom: what Can Contemporary Obstetrics Education Learn From Simulators of the Past? In: Academic Medicine, v. 88, nº 05, p. 652-656, maio, 2013.

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É interessante observar as semelhanças em que os Phantom’s foram empregados desde sua criação no século XVIII. Quando foi criado pela parteira francesa Angélique Marguerite Le Boursier du Coudray (1712-1794), ele foi empregado no interior da França, visando ensinar parteiras de diversas províncias a realizar de forma correta diversos tipos de parto12. O objetivo era combater o alto índice de mortalidade de mulheres e crianças francesas durante o período conhecido puerpério - de seis a oito semanas após o parto, daí vindo o nome febre puerperal. Naquele momento, acreditava-se que as mortes eram causadas pela má conduta da parteira atuante. Embora várias políticas tivessem sido empregadas – como, por exemplo, a parteira ter o dever de chamar um médico em partos difíceis – o alto índice permanecia. Após as viagens de Du Coudray por mais de 70 cidades e vilarejos da França, ensinando cerca de 10 mil parteiras utilizando-se de seu manequim conhecido como “machines”, os índices baixaram relativamente após poucos anos, conforme consta nos relatórios apresentados pelo rei Luís XV e pelos governantes das províncias onde Du Coudray lecionou.13 Posteriormente, foram sendo construídos outros protótipos do simulador obstétrico, com materiais e estética diferenciados, empregando novas técnicas que simulassem as contrações do parto. No entanto, o intento do simulador permanecia o mesmo, independente do local em que estivesse inserido: a) Forma lúcida de ensinar anatomia às parteiras - visto que o conhecimento de Anatomia era recluso às Academias; b) Demonstrar diversos aspectos do trabalho de parto e as consequências geradas em diversas circunstâncias, derivadas da forma como pode se apresentar o bebê no momento do parto;

12 Sobre o assunto, ver GELBART, Nina Rattner. The King's Midwife: A History and Mystery of Madame du Coudray. California: California Press, 1999. 13 A trajetória de suas práticas, seu manual de partos, bem como as aprovações e relatos das províncias por onde Du Coudray passou estão disponíveis em seu livro Abrégé de L’art dês Accouchements (1777). Disponível em . Acesso em 10 jan. 2015.

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c) Simular partos reais, atendendo todas as práticas comuns e até mesmo os casos mais raros; d) Elucidar possíveis dúvidas ainda durante as aulas, visando atender as parteiras que, em sua grande maioria, eram analfabetas. Esse fato as limitaria de, posteriormente, consultar manuais ou tratados obstétricos. Dessa forma, os Phantom’s se apresentam como a melhor ferramenta de ensino, principalmente por se tratar de um instrumento que requer nada mais do que o conhecimento de quem o leciona. Independente do contexto em que ele se encontra, é possível verificar a permanência de seu potencial pedagógico. Gabriel Schlatter, certamente sabendo da existência dessa ferramenta, tratou de construí-la e empregá-la em suas aulas no interior do Rio Grande do Sul.

Figura 3 - Fotografia do doutor com alunas parteiras. Em primeiro plano, o Phantom em destaque. Circa 1909. (Acervo MUHM)

4.2 O Phantom enquanto objeto museológico

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Em 2007, a viúva do neto de Gabriel Schlatter, Olga Nedel Schlatter, doou para o Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul o Phantom. Desde o citado ano, demonstrou ser um objeto capaz de representar diversas demandas e ser visto por inúmeros enfoques. Empregado na exposição permanente do museu intitulada Desafios: a medicina e a luta pela vida, o Phantom não representa apenas a especialidade obstétrica. Como representante da saúde feminina, ele elucida o combate de séculos contra uma enfermidade causada por uma prática aplicada sobre o ato do nascer, capaz de matar mãe e criança em poucos dias. Além deste fato, a engenhosidade aplicada sobre os Phantom’s ao longo do avanço científico e industrial possibilita traçar esse desenvolvimento através do realismo de sua simulação. O viés artístico também é muito prestigiado no objeto: em 2013, o Phantom Schlatter foi utilizado na exposição De Humanis Corporis Fabrica, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. A exposição tinha como objetivo relacionar arte e medicina, usando como eixo motriz a famosa obra sobre a anatomia humana de Andreas Vesalius (1514-1564).

Figura 4 - Na exposição De Humanis Corporis Fabrica, o curador José Francisco Alves aliou o Phantom Schlatter com pinturas, peças e outras obras-de-arte que representavam o nascimento. (Foto de Letícia Castro, 2013. Com permissão).

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5 CONCLUSÃO O Phantom construído por Gabriel Schlatter no início do século XX não representa apenas um objeto criado durante um determinado contexto histórico; esse simulador obstétrico também atuou como sujeito-histórico durante sua vida útil. Através dele, dezenas de parteiras aprenderam a realizar os mais diversos tipos de parto e a solucionar suas mais diversas problemáticas. Somada às questões de assepsia aprendidas pelo lecionar de Gabriel Schlatter, muitas vidas foram salvas e descendências foram possíveis graças à ação do médico austríaco ao colocar o Phantom como uma ferramenta de destaque em suas aulas. Enquanto objeto museológico, ele possui potencial para trazer inúmeras reflexões sobre as mais diversas práticas de saúde feminina e da visão sobre seu corpo. Independente do ponto de vista avaliativo – estético ou por sua capacidade de simulação -, o Phantom Schlatter não deve ser visto apenas como um objeto merecedor de destaque em exposições museais, mas como um sujeito-chave no desenvolvimento das práticas de saúde no interior do Estado do Rio Grande do Sul. PHANTOM SCHLATTER: A JOURNEY OF A MEDICAL INSTRUMENT, OBSTETRIC AND PEDAGOGICAL IN THE RURAL AREA OF RIO GRANDE DO SUL Abstract The collection of History Museum of Medicine of Rio Grande do Sul (MUHM) consists of documents , objects and Testimonials about the activities assist in the recovery What involve as health practices in the history of Rio Grande do Sul State. Among this objects, in the threedimensional collection, we can find an prototype of so-called "Ghost": mannequins made to assist the pedagogical exercise of childbirth courses. In this article, we will consider an these objects, built and employee stateless, as a source of material culture, representative health practices applied in the rural area of Rio Grande do Sul between 1895 and 1910, analyzing this object through two ways: the Phantom as a historical subject and subsequently museum artefact. Key-words: Phantom. Gabriel Schlatter. Obstetrics. History of Medicine. Rio Grande do Sul.

REFERÊNCIAS DU COUDRAY, Angélique B. Abrégé de L’art dês Accouchements, 1777. Disponível em . Acesso em 10 jan. 2015.

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FOTOGRAFIAS DO DOUTOR COM ALUNAS PARTEIRAS, 1905 e 1909. Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul. Caixa 019- Mapoteca. Col. 060 – DR. GABRIEL SCHLATTER. Nº inventário 1433.3. GELBART, Nina Rattner. The King's Midwife: A History and Mystery of Madame du Coudray. California: California Press, 1999. GERTZ, René E. Médicos alemães no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XX: integração e conflito. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.1, p. 149. jan.-mar. 2013. MARTINS, Roberto de Andrade; MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira; FERREIRA, Renata Rivera; TOLEDO, Maria Cristina Ferraz de. Contágio: história da prevenção das doenças transmissíveis. São Paulo: Moderna, 1997. MENDONÇA, Renato. O Homem que Enganou o Tempo: a vida do doutor Gabriel Schlatter. Porto Alegre: Trindade, 2002. OWEN, Harry. PELOSI, Marco. A Historical Examination of the Budin-Pinard Phantom: what Can Contemporary Obstetrics Education Learn From Simulators of the Past? In: Academic Medicine, v. 88, nº 05, p. 652-656, maio, 2013. PHANTOM. Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul. Fundo SCHLATTER, Gabriel. Col. IV – Obstetrícia. Nº de ordem MUHM 030/070 E13, P.1. TRANSCRIÇÃO COM CONVITE PARA PALESTRA COM DOUTOR SOBRE PARTOS. Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul. Caixa 019- Mapoteca. Col. 060 – DR. GABRIEL SCHLATTER. Nº inventário 1433.3. WEBER, Beatriz Teixeira. As artes de curar: Medicina, Religião, Magia e Positivismo na República Rio-Grandense (1889-1928). Santa Maria: UFSM/EDUSC, 1999 WITTER, Nikelen Acosta. Dizem que foi Feitiço. Curadores e práticas de cura no sul do Brasil. (Santa Maria – RS, 1845 a 1880). Porto Alegre: PUC-RS, 1999. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Pontifícia Universidade Católica, 1999.

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