Plano de ensino da disciplina optativa: \"Estudos Alternativos em Política e Imaginário\". Tema: O sublime, o patético e a ilustração: Longino, Rousseau e Burke. PPGHI-UFU, 2012.

Share Embed


Descrição do Produto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Plano de Ensino

DISCIPLINA: Estudos Alternativos em Política e Imaginário. O sublime, o patético e a ilustração: Longino, Rousseau e Burke.

CH: 60 horas

Créditos: 04

Optativa

Mestrado e Doutorado

Linha: Política e Imaginário

JUSTIFICATIVA

Entre meados do século XVII e ao longo do século XVIII, costuma-se localizar, historiograficamente, uma grande “crise da consciência europeia” (HAZARD, 1935). Nesse contexto, a dita “racionalidade moderna” (secularizada, logocêntrica, pragmática...) irá construir-se historicamente em tensão com as formas tradicionais de visão de mundo e de organização das vidas social e política, inseparáveis de concepções religiosas (ou teológicas). Nasceram, neste momento, as duas grandes vias do “racionalismo moderno” (PERELMAN, 1999): de um lado, tendo como modelo as ciências matemáticas, desenvolveu-se a lógica de matriz cartesiana, como aquela dos jansenistas de PortRoyal; de outro, tendo como modelo as ciências físicas, surge, como paradigmático, o empirismo inglês, de autores como John Locke. No âmbito da retórica, os novos paradigmas filosóficos e “científicos” daquele momento não passaram sem efeitos. Um desses efeitos foi a desconfiança em relação aos métodos tradicionais de demonstração da “verdade” ou da “verossimilhança” pela dialética e pela retórica. Para isso, as práticas indutivas da empiria e dedutivas da lógica pareciam responder bem melhor aos anseios de quem buscava conhecimentos seguros sobre as “coisas”, mesmo sobre aquelas matérias em relação as quais seria de se supor a consideração de aspectos não racionais, como o direito, a política ou a religião. Assim, um dos efeitos dos novos paradigmas filosóficos e científicos da modernidade foi uma reatualização da “anti-retórica”, a partir de modelos como Platão e Santo Agostinho, por exemplo (KENNEDY, 1999). Outro efeito foi, ao contrário, uma renovação do interesse pela retórica e pela poética helenísticas para além dos cânones tradicionais advindos de Aristóteles e das retóricas latinas de Cícero, da Retórica a

Herênio ou de Quintiliano, por exemplo. Em relação/contraposição ao artificialismo atribuído às técnicas derivadas desses cânones, a “retórica neoclássica” recuperará autoridades como as de Platão, Demóstenes e, especialmente, Pseudo Dionísio Longino, cujos elementos, que mais tarde fundamentariam uma “teoria do gênio”, não teriam pouco impacto sobre o beletrismo academicista do século XVIII e seus desenvolvimentos nas poéticas românticas vindouras. O tratado Do Sublime (séc. I d.C.), traduzido do Grego para o Francês em 1674 e comentado novamente, vinte anos depois, pelo seu tradutor, Nicolas Boileau-Despréaux, lançou uma importante obra da segunda sofística para o centro da renovação das artes e da literatura numa época de efervescente crença na razão (idem). A proposta desta disciplina é compreender uma das vertentes do “pensamento ilustrado”, que debruçou-se, positivamente, a refletir sobre os aspectos emotivos e sublimes da e na comunicação humana. Partindo da leitura de Do Sublime (séc. I d.C.), do Pseudo Dionísio Longino, buscaremos revisitar obras de dois autores importantes do século XVIII no que diz respeito à temática proposta: Edmund Burke, em Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo (2ª. ed.: 1759), e Jean-Jacques Rousseau, em seu Ensaio sobre a origem das línguas (1772). Com isso, esperamos colaborar para a compreensão mais aprofundada dos lugares reservados aos aspectos “sedutores” e “psicagógicos” da linguagem nas práticas discursivas da modernidade.

OBJETIVOS E AVALIAÇÃO

Objetivo Geral: Compreender os lugares reservados aos aspectos “sedutores” e “psicagógicos” da linguagem nas práticas discursivas da modernidade, a partir da consideração das paixões e do sublime, conforme as reflexões de uma vertente do “pensamento ilustrado” sobre a comunicação humana.

Objetivos específicos:  Analisar o impacto e a apropriação da noção helenística de “sublime” na retórica neoclássica e na reflexão iluminista sobre a linguagem;  Dimensionar os aspectos emotivos e sublimes da linguagem e da comunicação humana nas reflexões de Jean-Jacques Rousseau e de Edmund Burke.

Avaliação: Seminário – 30 pontos. Trabalho Final – 70 pontos.

PROGRAMAÇÃO

Semana 1 – Apresentação do programa e da proposta da disciplina. Semana 2 – KENNEDY, G. A. Sophistic Rhetoric; Literary Rhetoric. In: Classical Rhetoric & its Christian and Secular Tradition from Ancient to Modern Times, Chapel Hill and London: UNC Press, 1999. pp. 29-52; pp. 127-136. Semana 3 – [PSEUDO] LONGINO. Do Sublime (I-XV), São Paulo: Martins fontes, 1996. pp. 43-71. Semana 4 – [PSEUDO] LONGINO. Do Sublime (XVI-XLIV) … pp. 71-108. Semana 5 – KENNEDY, G. A. Neoclassical Rhetoric. In: Classical Rhetoric & its Christian and Secular Tradition from Ancient to Modern Times... pp. 259-289. Semana 6 – BARBAS, H. O Sublime e o Belo – de Longino a Edmund Burke. 2002. Disponível em: http://helenabarbas.net/papers/2002_Sublime_H_Barbas.pdf. Acesso em 16/11/2011. Semana 7 – BURKE, E. Apresentação; Prefácio à Primeira Edição; Prefácio à Segunda Edição; Introdução: Sobre o Gosto. In: Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo, Campinas: Papirus / Editora da Unicamp, 1993.pp. I-36. Semana 8 – BURKE, E. Parte I. In: Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo... pp. 37-62. Semana 9 – BURKE, E. Parte II. In: Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo... pp. 63-96. Semana 10 – BURKE, E. Parte III. In: Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo... pp. 97-132. Semana 11 – BURKE, E. Parte IV. In: Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo... pp. 133-166. Semana 12 – BURKE, E. Parte V. In: Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo... pp. 167-181. Semana 13 – ROUSSEAU, J-J. Ensaio sobre a origem das línguas (I-VI), Campinas: Editora da Unicamp, 2003. pp. 97-120.

Semana 14 – ROUSSEAU, J-J. Ensaio sobre a origem das línguas (VII-XI)... pp. 121-146. Semana 15 – ROUSSEAU, J-J. Ensaio sobre a origem das línguas (XII-XX)... pp. 147-178. Semana 16 – Encerramento da disciplina

BIBLIOGRAFIA ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética, São Paulo: Edições de Ouro, 1980. AUERBACH, E. Figura, São Paulo: Ática, 1997. AUERBACH, E. Mimesis, São Paulo: Perspectiva, 1987. BARBAS,

H.

O

Sublime

e

o

Belo



de

Longino

a

Edmund

Burke.

2002.

Disponível

em:

http://helenabarbas.net/papers/2002_Sublime_H_Barbas.pdf . Acesso em 16/11/2011. BARNES, J. “Rhetoric and Poetics”. In: BARNES, J. The Cambridge Companion to Aristotle, Cambridge: Cambridge University Press, 1996. pp. 259-285. BURKE, E. Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo, Campinas: Papirus / Editora da Unicamp, 1993. BURKE, K. A Rhetoric of Motives, Berkeley: University of California Press, 1950. CICERO, M. T. De inventione: de optimo genere oratorum; Tópica, Cambridge-MA: Harvard University Press, 1960. CÍCERO, Marco Túlio. Obras Escogidas, Buenos Aires: El Ateneo, s/d. DESCARTES, R. As paixões da alma. In: Os Pensadores, São Paulo: Editora Abril, 1979. pp. 225-304. DOBRÁNSZKY, E. A. Origem das línguas em Vico, Herder e Rousseau. In: Polifonia, n. 01, 116-123, 1994. FUMAROLI, M. (org.). Histoire de la Rhétorique das l’Europe Moderne (1450-1950). Paris: P.U.F., 1999. FUMAROLI, M. L’age de l’eloquence. Rhétorique e ‘res literaria’ de la renaissance au seuil de l’ époque classique. Paris: Droz, 1980. GROSS, D. The secret history of emotion: from Aristotle's Rhetoric to Modern Brain Science, Chicago: University of Chicago Press, 2006. HAZARD, P. La crise de la conscience européene, Paris: Editions Contemporaines, 1935. KANT, I. Crítica da faculdade do juízo, Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1997. KENNEDY, G. A. Classical Rhetoric & its Christian and Secular Tradition. From Ancient to Modern Times, Chapel Hill, The University of North Carolina Press, 1999. LAUSBERG, H. Elementos de retórica literária. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. [PSEUDO] LONGINO. Do Sublime, São Paulo: Martins Fontes, 1996. PERELMAN, C. & OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a Nova Retórica, São Paulo: Martins Fontes, 2000. PERELMAN, C. Retóricas, São Paulo: Martins Fontes, 1999. PLEBE, A. Breve História da Retórica Antiga. São Paulo: EPU, 1978. [PSEUDO CÍCERO]. Retórica à Herênio (c. 82 a.C.), São Paulo: Hedra, 2005. QUINTILIANO, M. F. The institutio oratoria of Quintilian, Cambridge-MA: Harvard University Press, 1943.

REBOUL, O. Introdução à retórica, São Paulo: Martins Fontes, 1998. ROSSI, Paolo. Naufrágios Sem Espectador. A ideia de Progresso. São Paulo: Editora UNESP, 2000. ROUSSEAU, J-J. Ensaio sobre a origem das línguas, Campinas: Editora da Unicamp, 2003. ROUSSEAU, J-J. Discurso sobre as ciências e as artes; Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. In: Obras, vol. 1, Rio de Janeiro: Editora Globo, 1958. pp. 1-271. VICKERS, B. In Defense of Rhetoric. Cambridge: Clarendon Press, 1988.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.