Plano de ensino para a disciplina optativa da graduação: \"História, Poética e Retórica\". UFU, 2014.

August 5, 2017 | Autor: Guilherme Luz | Categoria: Rhetoric, Historiography, Poetics, History of Rhetoric
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA COLEGIADO DO CURSO DE HISTÓRIA PLANO DE CURSO

DISCIPLINA: História, Poética e Retórica CÓDIGO: GHI061

CH TEÓRICA: 60h

PERÍODO: 9º (Sala 5S205)

CH PRÁTICA:

CH TOTAL: 60h

OBRIGATÓRIA: ( )

TURMA: Manhã OPTATIVA: ( X )

ANO/SEMESTRE: 2014/1

PROFESSOR: Guilherme Amaral Luz PRÉ-REQUISITO:

CÓ-REQUISITO:

EMENTA DA DISCIPLINA Fundamentos da retórica antiga e da nova retórica. A história como retórica e gêneros poéticos: discussões “clássicas” e contemporâneas. O documento histórico e suas modalizações retóricas e poéticas.

JUSTIFICATIVA A História, como campo do conhecimento e forma de escrita, não prescinde da linguagem e do discurso verbal como campos em que se dá toda e qualquer produção de sentido e, logo, saberes. Ao mesmo tempo, metodologicamente, estrutura-se tendo como objeto de análise, em grande parte, textos, falas e outras formas discursivas que buscam dar sentido ao mundo. Sendo assim, lidando com discursos e constituindo-se também enquanto tal, a historiografia não deve ser refletida sem que, em algum momento, nos perguntemos sobre a poética inerente ao seu saber (Rancière) e a respeito de sua arte de argumentação (Perelman). Tais questões, nas últimas décadas, têm ocupado as mentes de diversos teóricos da História e assumido diversas formas. Para muito além da mera contra ou superposição das narrativas histórica e literária, o debate acerca das dimensões poéticas e retóricas do conhecimento histórico permite aprofundar o entendimento sobre as próprias condições e limites da História como campo epistemológico, articulando o problema da “verdade histórica” à própria historicidade capaz de balizá-la. Esta disciplina busca refletir sobre o caráter discursivo do conhecimento histórico a partir de uma instituição bastante antiga: a Retórica, sobretudo nas suas relações com a Poética e a própria História. Desenvolvida na Antiguidade greco-romana, a arte retórica, tal como prosperou no Ocidente, mantém com os discursos teológicos, filosóficos, científicos e jurídicos uma relação conflituosa desde suas “origens”. Assim também o é com a historiografia que se desenvolve a partir dos séculos XIX e XX, no interior de paradigmas positivistas, cientificistas e historicistas. É

2 relativamente nova a recuperação da retórica como disciplina relevante para a epistemologia histórica. Tal recuperação dá-se, contudo, atrelada a outros campos de saber, como a semiótica e a moderna crítica literária, que pretenderam se afirmar academicamente como herdeiras da retórica, que, na sua constituição “tradicional”, era dada como “morta”, em declínio ou superada. Com efeito, ao mesmo tempo em que a historiografia, nas últimas décadas, recuperou a poética e a retórica como saberes constituintes de uma reflexão teórica, tal caminho não favoreceu a quebra de um sem número de estereótipos e preconceitos relativos aos fundamentos mais profundos dessas instituições, além de ter promovido visões fragmentárias e distorcidas das mesmas. Assim, o foco deste plano estará concentrado no estudo das relações entre Poética, História e Retórica em um de seus momentos de maior vitalidade na Antiguidade, qual seja, no último século antes e os primeiros séculos depois de Cristo, durante o Império Romano, a partir de autoridades fortemente enraizadas na cultura helenística, a saber: a Retórica a Herênio, os escritos de Luciano de Samósata sobre a História e o tratado sobre o Sublime, atribuído a Longino.

OBJETIVOS DA DISCIPLINA Objetivo Geral: Introduzir os estudantes nas principais questões relativas ao discurso da História em suas dimensões poéticas e retóricas. Objetivos Específicos: - Discutir o papel das convenções textuais na escrita do historiador, colocando em evidência conceitos tais como argumentação, persuasão, prova, imitação/criação, interpretação, invenção, disposição, memória e elocução; - Discutir o papel das convenções textuais na documentação escrita e na oralidade com as quais lida o historiador, colocando em evidência o caráter político e “poético” dos discursos das “fontes”; - Analisar a retomada dos campos da poética e da retórica nas preocupações historiográficas contemporâneas, dialogando com as matrizes “clássicas” das preceptivas poéticas e retóricas.

PROGRAMA 25 de abril: Apresentação do Programa. 2 de maio: Aula Expositiva: Os Gregos e a teorização do bem dizer na Antiguidade. 9 de maio: MAGALHÃES, Luiz Otávio de. Tucídides: a inquirição da verdade e a latência do heroico. In: JOLY, Fábio Duarte (ed.). História e Retórica. Ensaios sobre historiografia antiga, São Paulo: Alameda, 2007. pp. 1343. & CHARBEL, Felipe. Uma construção de fatos e palavras: Cícero e a concepção retórica da História. Varia Historia, vol. 24, no. 30: 551-568, 2008. 16 de maio: FARIA, Ana Paula Celestino; SEABRA, Adriana. Introdução. In: Retórica a Herênio, São Paulo: Hedra, 2005. pp. 11-39. 23 de maio: Retórica a Herênio, São Paulo: Hedra, 2005. Livro I: pp. 52-85. (Seminário) 30 de maio: Retórica a Herênio, São Paulo: Hedra, 2005. Livro II: pp. 86-149 (Seminário) 6 de junho: Retórica a Herênio, São Paulo: Hedra, 2005. Livro III: pp. 150-197. (Seminário) 13 de junho: Retórica a Herênio, São Paulo: Hedra, 2005. Livro IV: pp. 198-221. (Seminário) 20 de junho: Retórica a Herênio, São Paulo: Hedra, 2005. Livro IV: pp. 222-313. (Seminário) 27 de junho: EUGÊNIO, João Kennedy. Amigo da verdade: Luciano e o debate sobre a narrativa histórica. In: EUGÊNIO, João Kennedy (ed.). Ficção e História. Encontros com Luciano, Teresina: EDUFPI, 2010. pp. 1336. 4 de julho: SAMOSATA, Luciano. Como se deve escrever a história. In: EUGÊNIO, João Kennedy (ed.). Ficção e História. Encontros com Luciano, Teresina: EDUFPI, 2010. pp. 201-230. 11 de julho: Aula com a participação do Prof. Eduardo Sinkevisque. Leitura subsidiária: SINKEVISQUE,

3 Eduardo. O estilo em “Como se deve escrever a história”, de Luciano. Nuntius Antiquus, 8(2)/9(1): 47-57, 2012-2013. 18 de julho: Primeira autoavaliação. 25 de julho: HIRATA, Filomena. Introdução. In: LONGINO. Do Sublime, São Paulo: Martins Fontes, 1996. pp. 9-39. 1 de agosto: LONGINO. Do Sublime, São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 43-71. (Seminário) 8 de agosto: LONGINO. Do Sublime, São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 71-108. (Seminário) 22 de agosto: Não haverá aula. (Professor estará fora em Congresso da EIHC). Haverá substituição de atividade. 29 de agosto: Encerramento e segunda autoavaliação.

METODOLOGIA A metodologia de ensino estará centrada em leitura e discussão a respeito de três textos de época e comentadores seus da contemporaneidade: “Como se deve escrever a história”, de Luciano de Samósata; “Do Sublime”, atribuído a Dionísio Longino, e “Retórica a Herênio”, anônimo, atribuído por muitos séculos a Cícero. A discussão dos textos de época (exceto o de Luciano de Samósata) está distribuída em seminários. Esses deverão sistematizar alguns dos principais pontos da leitura em foco, subsidiando elementos para discussão em sala, mediada pelo professor. Os textos de comentadores precederão à leitura dos textos de época, de modo a orientar a compreensão dos mesmos. A discussão dos comentadores será conduzida pelo professor da disciplina de maneira dialogada com os discentes. Em relação ao texto de Luciano de Samósata, está prevista a participação, em uma das aulas, do professor Dr. Eduardo Sinkevisque, que visitará a instituição para um conjunto de atividades relacionadas ao NEPHISPO. Por isso, o tratamento em relação a este texto não envolverá seminário, mas preparações para o debate com o professor Sinkevisque. Em relação aos comentadores, deliberadamente optamos pela escolha de estudiosos brasileiros recentes das obras estudadas. Para além do aspecto facilitador da língua, esta escolha visa apresentar novas tendências da academia brasileira a respeito dos temas estudados, reconhecendo-as, valorizando-as e dando evidenciando a viabilidade e a relevância do desenvolvimento dessas reflexões em terras brasileiras.

AVALIAÇÃO Serão utilizados três instrumentos de avaliação: seminários (individuais ou em grupos, dependendo do tamanho da turma), fichamentos de textos para seminário e autoavaliação. A autoavaliação terá um peso bastante considerável na nota final: 40 pontos, no total, dividida em dois momentos (no meio e no final do programa), cada qual no valor de até 20 pontos. O seminário apresentado em sala terá um peso correspondente a 30 pontos. Também no valor máximo de 30 será o fichamento, entregue pelo grupo/aluno responsável pelo seminário, do texto trabalhado por ele. O peso da autoavaliação justifica-se por se tratar de uma disciplina oferecida para os últimos períodos do curso de História, quando se espera dos alunos terem desenvolvido um grau mais elevado de maturidade e autocrítica. Pretendemos, assim, valorizar a autonomia intelectual e a responsabilidade como pressupostos na ética do professor/historiador. Assumimos, assim, cada vez mais enfaticamente, a autoavaliação em sua positividade como instrumento didático-pedagógico e não como mera ficção adulatória. Nela, caberá aos estudantes atribuírem-se notas entre 0 e 20 em cada um dos seus dois momentos de realização, justificando-as conforme critérios discutidos em classe, com o professor e os demais colegas. Os seminários ocorrerão na primeira parte das aulas para as quais estiverem programados. Eles deverão oferecer uma síntese do texto escolhido, organizada de maneira clara e didática. A segunda parte da aula será reservada para considerações e complementações do professor relativas aos conteúdo apresentado e para discussões e esclarecimentos entre os alunos. O fichamento do

4 seminário deverá conter, na forma de texto ou de esquemas (slides), uma sistematização completa do texto analisado.

BIBLIOGRAFIA Bibliografia Básica:

CHARBEL, F. Uma construção de fatos e palavras: Cícero e a concepção retórica da História. In: Varia historia, v. 24, n. 40, 551-568, 2008. EUGÊNIO, João Kennedy (ed.). Ficção e História: encontros com Luciano, Teresina: EDUFPI, 2010. (Obs.: as leituras da tradução portuguesa de “Como se deve escrever a história” e do capítulo introdutório de João Kennedy Eugênio, “Amigo da verdade: Luciano e o debate sobre a narrativa histórica”, são obrigatórios; os demais capítulos são “bibliografia complementar”). JOLY, Fábio (ed.). História e retórica. Ensaios sobre historiografia antiga, São Paulo: Alameda, 2007. (Obs.: a leitura do texto de Luiz Otávio de Magalhães, “Tucídides: a inquirição e a latência do heroico”, é obrigatória, enquanto os demais capítulos são “bibliografia complementar)”. LONGINO, Do Sublime, São Paulo: Martins Fontes, 1996. [PSEUDO CÍCERO]. Retórica à Herênio (c. 82 a.C.), São Paulo: Hedra, 2005. SINKEVISQUE, Eduardo. O estilo em “Como se deve escrever a história”, de Luciano. Nuntius Antiquus, 8(2)/9(1): 47-57, 2012-2013.

Bibliografia Complementar: (Obs.: apenas listadas as obras disponíveis em Português e Espanhol. Bibliografia em outras línguas estrangeiras serão utilizadas na preparação de aulas expositivas e de explanações pontuais ao longo do curso) ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética, São Paulo: Edições de Ouro, 1980. ADVERSE, H. Maquiavel. Política e Retórica, Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009. ARGAN, G. C. Imagem e persuasão. Ensaios sobre o Barroco, São Paulo: Companhia das Letras, 2004. ARISTÒTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. São Paulo: Cultrix, 1997. AUERBACH, E. Mimesis, São Paulo: Perspectiva, 1987. CICERO, M. T. El Orador, Madrid: Alianza Editorial, 2001. CICERO, M. T. La Invención Retórica, Madrid: Editorial Gredos, 1997. FOUCAULT, M. A ordem do discurso, São Paulo: Loyola, 1996. FRY, N. Anatomia da Crítica. Quatro ensaios, São Paulo: Cultrix, 1973. GRUPO MU. Retórica General. Barcelona / Buenos Aires / México: Ediciones Paidós, 1987. GINZBURG, C. Relações de Força: história, retórica e prova. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. GUMBRECHT, H. U. As funções da retórica parlamentar na Revolução Francesa, Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. HANSEN, João Adolfo. Instituição Retórica, Técnica Retórica, Discurso. Matraga, 20 (33): 11-46, 2013.

5 HANSEN, J. A. Alegoria. Construção e interpretação da metáfora, Campinas: Editora da Unicamp, 2006. HARTOG, F. (org.). A história de Homero a Santo Agostinho, Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001. HARTOG, F. A arte da narrativa histórica. In: BOUTIER, J & JULIA, D. (org.). Passados recompostos: campos e canteiros da História, Rio de Janeiro, Editora da UFRJ, 1998. pp. 193-202. KOSELLECK, R. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos, Rio de Janeiro: Contraponto Editora / Editora da PUC-Rio, 2006. LAUSBERG, H. Elementos de Retórica Literária, Lisboa: Fundação Calouste-Gulbenkian, 1982. LEMGRUBER, M. S. Razão, Pluralismo e Argumentação: a contribuição de Chaïm Perelman. In: História, Ciências, Saúde. Vol. 6, n. 1, 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701999000200005. Acesso em: 12/07/2011. LUZ, G. A. A insubordinação da História à Retórica: manifesto transdisciplinar. In: ArtCultura, Uberlândia, n. 9, pp. 102-110, 2005. PERELMAN, C. Retóricas, São Paulo: Martins Fontes, 1999. PERELMAN, C. & OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a Nova Retórica, São Paulo: Martins Fontes, 2000.PERELMAN, C. Retóricas, São Paulo: Martins Fontes, 1999. PIRES, F. M. Mithistória, São Paulo: Humanitas, 1999. PLEBE, A. Breve história da retórica antiga, São Paulo: EDUSP, 1978. RANCIÈRE, J. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005. RANCIÈRE, J. Os nomes da história: ensaio de poética do saber, São Paulo: EDUC / Pontes, 1994. REBOUL, O. Introdução à retórica, São Paulo: Martins Fontes, 1998. RICOEUR, P. A metáfora viva, São Paulo; Loyola, 2000. RICOEUR, P. Tempo e Narrativa, Campinas: Papirus, 1997. SKINNER, Q. Razão e retórica na Filosofia de Hobbes. São Paulo, Cambridge: Editora UNESP, 1999. SPINA, S. Introdução à Poética Clássica. São Paulo: Martins Fontes, 1995. WHITE, H. “Teoria Literária e escrita da História”. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro: FGV, vol. 07, n. 13, 1991. WHITE, H. Metahistória. A imaginação histórica do século XIX, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995. YATES, F. A arte da memória, Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

APROVAÇÃO Aprovado em reunião do Colegiado do Curso de Em ___/____/______

_____________________________________ Coordenador do curso

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