Pontes, H. M., & Griffiths, M. D. (2014). A Dependência à Internet no Contexto Português: Mito, Ficção ou Realidade? [Internet Addiction in the Portuguese Context: Myth, Fiction or Reality?]. doi: 10.13140/2.1.1608.3522

June 15, 2017 | Autor: Halley M Pontes | Categoria: Psychology, Drugs And Addiction, Internet Addiction
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APA 6th Ed. Citation: Pontes, H. M., & Griffiths, M. D. (2014, September). A Dependência à Internet no Contexto Português: Mito, Ficção ou Realidade? [Internet Addiction in the Portuguese Context: Myth, Fiction or Reality?]. Proceedings of the IX Congresso Iberoamericano de Psicologia e 2º Congresso Da Ordem Dos Psicólogos Portugueses. doi: 10.13140/2.1.1608.3522

A Dependência à Internet no Contexto Português: Mito, Ficção ou Realidade? Halley M. Pontes1 & Mark D. Griffiths1 1. International Gaming Research Unit, Psychology Division, Nottingham Trent University, Nottingham, Reino Unido

Resumo Objectivos: A investigação sobre as dependências comportamentais em Portugal, apesar de incipiente, encontra‐se a dar os seus primeiros passos. Mais recentemente, um conjunto de publicações de estudos empíricos sobre a dependência à internet com a utilização de amostras portuguesas, têm vindo a emergir na literatura. Apesar da percepção generalizada inerente à sua relevância prática e clínica, a investigação sobre as dependências comportamentais em Portugal é geralmente escassa e pouco fomentada, ainda que se reconheça a sua pertinência a vários níveis. Neste sentido, o presente estudo pretende dar a conhecer aos profissionais de saúde e investigadores, dados recentemente obtidos com a utilização de amostras Portuguesas publicados em revistas internacionais. Método: O presente estudo irá contar com os dados referentes de dois estudos empíricos realizados no contexto nacional. A partir de um design exploratório e transversal, participaram um total de 724 participantes. O Estudo 1 (N = 593), procurou validar psicometricamente o Internet Addiction Test (IAT), enquanto que o Estudo 2 (N = 131) utilizou o IAT para caracterizar a dependência à internet no meio escolar. Resultados: Os resultados obtidos no Estudo 1 permitiram a validação do IAT na presente amostra. No Estudo 2, foi possível caracterizar a amostra quanto aos indicadores da dependência à Internet. Conclusão: Os dados obtidos sugerem que a existência da dependência à internet no contexto Português é uma realidade, requerendo a atenção dos profissionais de saúde e investigadores. Neste sentido, torna‐se necessário avaliar a taxa de prevalência destas novas dependências a partir de amostras representativas. Palavras‐chave: Dependência comportamental; Dependência à Internet; Internet Addiction Test; Amostras Portuguesas; Solidão. Abstract Objectives: Despite being in its early infancy, research on behavioural addictions in Portugal is still sparse. More recently, a few empirical studies assessing Internet Addiction (IA) with Portuguese samples have emerged in the literature. Notwithstanding the generalised view of its practical and clinical relevance amongst practitioners and scholars, research on behavioural addictions in Portugal has yet to flourish. In light of this, the present study aimed to summarise the latest findings from two recently published empirical studies on IA using Portuguese samples. Methods: A total of 724 participants were recruited in the two studies, while Study 1 (N = 593) sought to validate psychometrically the Internet Addiction Test (IAT), Study 2 (N = 131) used the newly validated measure to characterise IA in the education setting. Results: Findings from Study 1 allowed the researchers to validate the IAT in the sample used. In addition, results from Study 2 helped to characterise IA in the education context. Conclusion: The main findings from both studies support the existence of IA in a minority of Portuguese Internet users, warranting further attention from health‐ related professionals and researchers. Further studies should investigate prevalence rates of these new addictions using nationally representative samples. Keywords: Behavioural addiction; Internet Addiction; Internet Addiction Test; Portuguese Samples; Loneliness.

Introdução Actualmente, o acesso por parte dos cidadãos aos novos meios de tecnologia de informação e comunicação, constituem‐se como condições substanciais para o desenvolvimento da contemporânea sociedade da informação e do conhecimento (Pontes & Patrão, 2014). De facto, a Internet enquanto ferramenta tecnológica veio possibilitar inúmeros benefícios não só ao nível recreacional, como também pedagógico e profissional. Os dados recentemente publicados pela União Europeia (UE) através do projecto intitulado Digital Agenda Scoreboard (DAS), indicaram que em 2013 existiam na UE um total de 30 subscrições de Internet (i.e., banda larga fixa) por cada 100 cidadãos, o que corresponde a uma aceitação desta tecnologia por cerca de 76% dos agregados familiares entre os 28 estados membros (DAS, 2014). Além disso, a adesão aos serviços fixos de Internet continua em ascensão, atingindo um total médio aproximado de 20.000 novas subscrições diárias deste serviço na UE (DAS, 2014). Em relação ao panorama nacional, os dados publicados pelo relatório do Observatório da Comunicação (OberCom) no âmbito do Inquérito Sociedade em Rede de 2013 (OberCom, 2014), através de uma amostra Portuguesa representativa de 1.542 participantes, revelaram que 57.2% dos agregados domésticos em Portugal possuía acesso à Internet, sendo que em 2010 esta percentagem foi de 51.2%, representando assim uma subida de seis pontos percentuais em 2013 face ao ano de 2010. Além disso, nesse mesmo ano, 72.9% dos utilizadores usaram a Internet diariamente, sendo que 13.2% fê‐lo entre três a quatro vezes por semana e 9.6% pelo menos uma ou duas vezes por semana (OberCom, 2014). Curiosamente, em termos da actividade mediática que os Portugueses mais dificilmente deixariam de utilizar, 43.9% reportou ter dificuldades em deixar de ver televisão, 24.1% o telemóvel e 15.3% a Internet (OberCom, 2014). Em termos da caracterização dos internautas Portugueses em 2013, 51% eram do sexo masculino enquanto que 49% do feminino, sendo que em termos da variável idade, a grande maioria dos utilizadores tinham entre 15 a 24 anos (94%), seguido pelo escalão etário dos 25 aos 34 (85.8%), 35 aos 44 (71.6%), 45 aos 54 (58.2%), 55 aos 64 (31%) e 65 e acima (11.8%) anos respectivamente (OberCom, 2014). Por outro lado, o grau de escolaridade também parece ser um indicador importante, uma vez que em 2013, a grande maioria dos utilizadores possuía grau superior completo (92.7%), seguido pelos utilizadores que concluíram o 12º ano (87.2%), 9º ano (63.5%), 6º ano (31.6%) e ensino primário (7.2%). Atendendo ao facto de que uma percentagem elevada da população Portuguesa possui acesso à Internet, e tendo em especial atenção o facto de que a grande maioria dos utilizadores são adolescentes e jovens adultos, torna‐se importante verificar a extensão dos possíveis impactos negativos decorrentes do uso excessivo desta tecnologia ao nível biológico, psicológico e social. Neste sentido, são vários os estudos que desde a década de noventa (e.g., Griffiths, 1995, 1996; Young, 1998b, 1999) têm vindo a apontar ao longo dos anos inúmeros danos causados pelo uso descontrolado e adictivo desta nova tecnologia numa pequena percentagem dos seus utilizadores. A este propósito, os dados provenientes de vários estudos empíricos sobre a dependência à Internet têm vindo a evidenciar associações deste fenómeno com maior incidência de sintomatologia depressiva (Cotten, Ford, Ford & Hale, 2014; Young & Rogers, 1998), stress (Snodgrass et al., 2014), auto‐estima reduzida (Niemz, Griffiths & Banyard, 2005), maiores níveis de ansiedade e autismo (Romano, Truzoli, Osborne & Reed, 2014), problemas do sono (Lam, 2014), pior desempenho académico (Brunborg, Mentzoni & Frøyland, 2014; Wei, Chen, Huang & Bai, 2012), redução do tempo despendido em actividades importantes como o trabalho, escola, hobbies e socialização com o parceiro romântico e família (Griffiths, Davies & Chappell, 2004).

Em termos conceptuais, a dependência à Internet é muitas vezes definida como uma dependência tecnológica (Griffiths, 1995), que é entendida como um tipo de dependência (comportamental) não química, envolvendo interacções excessivas entre homem e máquina (Griffiths, 1995), podendo ser passivas (e.g., televisão) ou activas (e.g., jogos de computador). Por seu turno, as dependências tecnológicas contêm características que induzem e reforçam o comportamento, contribuindo para a promoção de tendências adictivas. Por outro lado, a dependência à Internet é entendida como uma dependência comportamental (Griffiths, 2005), definida como qualquer comportamento que contempla na totalidade e sem excepção, os seguintes seis componentes: (i) saliência, alteração do humor, tolerância, sintomas de abstinência, conflitos e recaída (Griffiths, 2005). Outros autores definem a dependência à Internet como um transtorno do controlo dos impulsos que não envolve o uso de um intoxicante (Young, 1998b). Não obstante, são muitas as controvérsias e inconsistências na literatura quanto às componentes‐chave, percurso etiológico e factores que contribuem para a manutenção da dependência à Internet (King, Delfabbro, Griffiths & Gradisar, 2012). Até o presente momento, são escassos os estudos realizados no contexto nacional que permitam uma maior elucidação quanto ao fenómeno da dependência à Internet tanto ao nível da avaliação psicométrica, como ao nível epidemiológico e descritivo. Neste sentido, o presente estudo tem como objectivo geral apresentar os dados obtidos em dois estudos realizados pelos autores em contexto nacional (e.g., Pontes, Griffiths & Patrão, 2014; Pontes, Patrão & Griffiths, 2014). Em termos dos objectivos específicos, estes tentarão responder às questões de (i) como avaliar objectivamente a dependência à Internet no contexto Português a partir de instrumentação psicométrica válida e fiável, e (ii) quais as características dos sujeitos dependentes à Internet no contexto escolar? Estudo 1: Como Avaliar Objectivamente a Dependência à Internet? Por fim a cumprir com o primeiro objectivo específico, o Estudo 1 (Pontes, Patrão, et al., 2014) procurou validar para o contexto Português, a medida de avaliação da dependência à Internet mais utilizada internacionalmente, o Internet Addiction Test (IAT) (Young, 1998a). Metodologia Design, participantes e procedimentos Através de um design de estudo de validação psicométrica transversal, com recurso a uma amostra não‐probabilística por conveniência, foram recolhidos dados junto de 593 adolescentes e jovens adultos Portugueses de diferentes distritos. Os participantes foram recrutados com recurso ao método snowball (i) presencialmente: a partir de duas escolas secundárias e uma universidade de Lisboa e (ii) não‐presencialmente: através de um questionário online. Instrumentos Foi utilizado um (i) questionário sócio‐demográfico que incluiu questões quanto à nacionalidade, género, estado relacional, idade, ano académico e prática de hobbies; o (ii) IAT (Young, 1998a) que foi traduzido do Inglês‐Português por tradutores independentes ligados à Psicologia, e depois feito uma retroversão do Português‐Inglês para testar a qualidade da versão traduzida e a sua equivalência com o instrumento original. O IAT é composto por 20 items de tipo Likert avaliados numa escala de 6 pontos (0 = ‘Não se Aplica’ a 5 = ‘ Sempre’) que avaliam a extensão do envolvimento com a Internet o nível da dependência. Também foi utilizada a versão Portuguesa da Beck Depression Inventory‐II (BDI‐II) (Beck, Steer & Brown, 1996) validada por Ponciano, Cardoso & Pereira (2005). A BDI‐II é constituída por 21 items através de quatro tipos de repostas e que medem diferentes sintomas depressivos. Em termos da sua cotação, podem

ser obtidos scores para depressão suave (0 a 13), moderada (14‐19) e severa (29‐63). No presente estudo a BDI‐II demonstrou ser fiável (α = .84). Análise estatística Envolveu o uso de (i) análise factorial confirmatória dos 20 items do IAT, (ii) análise da validade concorrente e fiabilidade do IAT. Mais detalhes sobre os procedimentos e análise estatística poderão ser encontrados no artigo original deste estudo. Estudo 1: Resultados Estatística Descritiva Em termos descritivos, 69% (n = 409) da amostra era do género feminino, sendo que as idades variaram dos 19 aos 39 anos, com a média de idades situada nos 19 anos (D.P = 3.61). Além disso, 56% (n = 332) da amostra não praticava nenhum hobbie. Em relação ao ano académico, 14.3% (n = 85) eram alunos do 10º, 9.1% (n = 54) do 11º e 19.7% (n = 117) do 12º ano do ensino secundário. Em termos dos alunos do ensino superior, 18.4% (n = 109) eram do primeiro, 15.7% (n = 93) do segundo, 16.2% (n = 96) do terceiro, 2.7% (n = 16) do quarto e 3.9% (n = 23) do quinto ano respectivamente. Análise Factorial Confirmatória Através do teste de uma solução unifactorial de primeira ordem para o IAT, tal como pressuposto por estudos anteriores de semelhante natureza (e.g.,Hawi, 2013; Khazaal et al., 2008; Panayides & Walker, 2012), os resultados da análise factorial confirmatória suportaram o modelo unifactorial (χ2 (162, N = 593) = 373.6, p < .0001; CFI = .926; TLI = .913; RMSEA = .047 (90%CI:.041–.053), pclose = .785; SRMR .050), embora o ajustamento global tivesse sido sofrível. Além disso, as cargas factoriais dos indicadores tiveram valores dentro do aceitável (excepto para os items 3 (.19) e 7 (.27)). Importa ainda salientar, que o nível de ajustamento global obtido e reportado, foi conseguido através da covariação dos resíduos referentes aos indicadores 8 e 6 e 1 e 2. Validade Concorrente e Fiabilidade O IAT demonstrou satisfatória validade concorrente tal como observado com a correlação entre os scores do IAT e BDI‐II (rs = .82, p
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