@Pontifex, @Franciscus e a \"diaconia da cultura digital\"

Share Embed


Descrição do Produto

IGREJA & COMUNICAÇÃO Papa Francisco, Twitter

descrição pessoal, em inglês: “Eu quero caminhar com vocês pelo caminho da misericórdia e da ternura de Deus” [“I want to walk with you along the way of God’s mercy and tenderness”]. Seguindo as pegadas comunicacionais de seus antecessores, o papa Francisco dá mais um passo, em um movimento que vem se desdobrando ao longo dos anos por parte da Igreja, em termos de aproximação e de inculturação digital. Tal processo pode ser inserido naquilo que a teóloga estadunidense Elizabeth Drescher chama de “Reforma digital”. Segundo a auO que o papa tora, em seu livro Tweet Francisco faz, hoje, If You ♥ Jesus: Pracé somar-se a esse ticing Church in the processo Digital Reformation (Morehouse, 2011), “ao sociocomunicacional contrário das reformas em que passam a eclesiais anteriores, emergir, segundo soal, ele postou uma a Reforma Digital é Drescher, “práticas foto desse primeiro movida não tanto por encontro com o papa teologias, dogmas e de acesso, conexão, Francisco, afirmando política – embora estes participação, que havia falado com certamente estejam criatividade e o pontífice “sobre o posujeitos a um questiocolaboração [de der das imagens para namento renovado – unir as pessoas nas mas sim pelas práticas pessoas comuns], diferentes culturas e espirituais digitalmenencorajadas pelo línguas”. Celebrou-se, te intensificadas de uso disseminado de assim, um “comparticrentes comuns com novas mídias sociais acesso global entre lhamento” de intensi e a todas as formas ções comunicacionais digitais em todos os de conhecimento re(“unir as pessoas”) enaspectos da vida tre a empresa e a Igreja. ligioso previamente diária, incluindo a No dia da inaugudisponíveis apenas ao vida de fé” clero, aos estudiosos e ração da conta papal a outros especialistas no Instagram, Systrom religiosos. Isso coloca esteve novamente no praticamente tudo em jogo – nossas Vaticano, onde acompanhou a postatradições, nossas histórias, nossa comgem da primeira imagem pontifícia no Instagram. Ele voltou a postar uma preensão do sagrado, até mesmo a estrufoto com o pontífice, escrevendo: “Astura e o significado dos textos sagrados que nós pensávamos que haviam sido sistir ao papa Francisco postar a sua assegurados em um cânone duradouro primeira foto no Instagram hoje foi um há muito tempo, no quarto século”.3 momento incrível. @franciscus, bemvindo à comunidade Instagram! As suas O que o papa Francisco faz, hoje, é somensagens de humildade, compaixão mar-se a esse processo sociocomunicae misericórdia vão deixar uma marca cional em que passam a emergir, segunduradoura”. E é praticamente com as do Drescher, “práticas de acesso, conemesmas palavras que o pontífice se xão, participação, criatividade e colabodefine na própria plataforma, em sua ração [de pessoas comuns], encorajadas

@Pontifex, @Franciscus e a “diaconia da cultura digital” O

ano de 2016 entrou para a história da comunicação da Igreja Católica. Depois das primeiras imagens filmadas de um papa, com Leão XIII (1810-1903), em 1896; da primeira emissão radiofônica papal com Pio XI (18571939), em 1931; do primeiro pontífice a falar na televisão, com Pio XII (1876-1958), em 1949; do primeiro

O Mensageiro de Santo Antônio

62

Outubro de 2016

e-mail enviado por São João Paulo II (1920-2005), em 1995; e do primeiro tuíte enviado por um papa, com Bento XVI (1927-), em 2012, em sua conta @Pontifex, chegou a vez da primeira postagem de um pontífice na plataforma sociodigital de fotos Instagram. Foi o que aconteceu em 19 de março, quando o papa Francisco (1936-) inaugurou sua conta @Franciscus.

A primeira imagem a ser postada na conta papal2 mostra o papa ajoelhado, rezando, com a legenda “Rezem por mim”, escrita em nove idiomas, do árabe ao latim, incluindo o português, tendo sido “curtida” até hoje mais de 328 mil vezes e recebido mais de 35 mil comentários, de usuários de diversos países, em vários idiomas. Em sua conta oficial no Twitter, ele também havia anunciado a nova presença com um tuíte: “Inicio um novo caminho, no Instagram, para percorrer com vocês a estrada da misericórdia e da ternura de Deus”. Até setembro, a conta pontifícia no Instagram contava com mais de 3,1 milhão de seguidores, tendo postado mais de 170 fotos e vídeos, quase uma publicação por dia. Em seu site, o Instagram define-se como “uma maneira divertida e peculiar para compartilhar a sua vida com os amigos por meio de uma série de imagens”. A empresa, que foi adquirida pelo Facebook em 2012, explica que é uma forma de construir “um mundo mais conectado através das fotos”. Essa missão, portanto, passa a ser assumida pelo pontífice. Seu ingresso na plataforma, não por acaso, ocorreu depois de receber a visita de Kevin Systrom, presidente-executivo e cofundador do Instagram, em 26 de fevereiro, no Vaticano. Em sua conta pes-

O Mensageiro de Santo Antônio Outubro de 2016

63

F ogão de s anto antônio

te, aprendendo a aprender e a pensar de uma nova forma no contexto digital. Diante da “Reforma digital”, portanto, a instituição eclesial posicionava-se reagindo com o apelo a uma espécie de “Contrarreforma digital” por parte da Igreja como um todo. Tal “Contrarreforma” buscou convocar toda a Igreja a se apropriar da cultura digital em sua reflexão e em sua prática, que se explicitaram, com o passar dos anos, em inúmeras iniciativas de aproximação às plataformas sociodigitais. Nessa convocação, primeiramente, o papa emérito Bento XVI exortou os jovens católicos “a levarem para o mundo digital o testemunho da sua fé”, pedindolhes para se sentirem “comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais assenta a vida de vocês” (2009). Depois, ele se dirigiu especificamente ao clero católico mundial, afirmando que quanto “mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais o sacerdote será chamado a se ocupar disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra” (2010). Além disso, o chamado do então papa à “Contrarreforma digital” voltou-se a toda a cristandade: “Quero convidar os cristãos a unirem-se confiadamente e com

• Suco de um limão • Sal e pimenta a gosto • Azeite Ingredientes – purê de batata • 300 g de batatas • 30 g de manteiga • 50 ml de leite MODO DE PREPARO - TRUTA Grelhe a truta, ou passe-a rapidamente por uma frigideira com um fio de azeite. Reserve. Em outra panela, em fogo médio, misture a manteiga, a salsinha, os dentes de alho, o conhaque, o vinho branco, o suco de limão, o sal e a pimenta. Mexa por 3 minutos e desligue.

Truta grelhada na manteiga de limão

Modo de preparo – purê de batata Cozinhe as batatas em água abundante. Quando estiverem macias, desligue o fogo e espere amornar. Descasque-as e passe -as no amassador. Misture a manteiga, o leite e o sal e mexa tudo, até incorporar. Sirva em um prato, colocando a manteiga por cima da truta e o purê ao lado.

o açúcar, as gemas, a baunilha e a manteiga, até ficar cremoso. Diminua a velocidade para a mínima e adicione, aos poucos, a farinha e o leite de coco, intercalando-os. Retire o bowl da batedeira, adicione o fermento e, com a ajuda de uma espátula, adicione aos

poucos as claras em neve à massa. Distribua tudo em três assadeiras iguais de 15 centímetros de diâmetro e asse em forno baixo preaquecido por aproximadamente 20 minutos. Recheie e cubra as camadas com o doce de abóbora. Finalize colocando as fitas de coco por cima do bolo.

Bolo de coco com doce de abóbora

NOTAS

Ingredientes • 100 g de manteiga sem sal • 2 ovos • 1 xícara de açúcar refinado • 1½ xícara de farinha de trigo • 1/2 xícara de leite de coco light • 1 colher (café) de baunilha • ½ colher (sopa) de fermento • Doce de abóbora a gosto • Fitas de coco a gosto

Disponível em: https://www.instagram. com/franciscus/. 2 Disponível em: https://www.instagram. com /p/ BDIgGXqAQsq/?takenby=franciscus. 3 p. 2, tradução nossa (N.A.). 4 p. 4, tradução nossa (N.A.). 1

Moisés Sbardelotto Jornalista, leigo casado, doutor em Ciências da Comunicação e autor do livro “E o Verbo se fez bit: a comunicação e a experiência religiosas na internet” (Santuário, 2012)

Ingredientes - truta • 4 filés de truta • 100 g de manteiga em temperatura ambiente • 2 dentes de alho picados • 1 colher (chá) de salsinha picada • 30 ml de conhaque • 30 ml de vinho branco

Colaboração: Cleonice Maria, Guaíra (PR)

pelo uso disseminado de novas mídias sociais digitais em todos os aspectos da vida diária, incluindo a vida de fé”.4 Nesse sentido, a inovação do pontífice é principalmente intraeclesial, pois, em termos comunicacionais mais amplos, ele apenas adere, inculturando-se, a um movimento sociocultural crescente, diante do qual a Igreja não pode ficar alheia. Se, historicamente, a Reforma Protestante foi uma revolução religiosa que desencadeou uma revolução sociocultural, como afirma o teólogo Leonardo Boff (1938-), podemos dizer que a “Reforma digital” se manifesta como uma revolução sociocultural que está desencadeando uma revolução religiosa. Em seus documentos e reflexões, o  papa emérito Bento XVI  já buscava despertar a Igreja ao que acontecia no âmbito da comunicação, tendo sido o pontífice que mais refletiu sobre aquilo que podemos chamar de midiatização digital. Das oito mensagens ao Dia Mundial das Comunicações Sociais, quatro delas abordam especificamente a realidade do mundo digital. Segundo Ratzinger, é possível afirmar que a chamada “Reforma digital” guia “o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais”, dando origem a “uma nova maneira de aprender e pensar” (2011). E a Igreja Católica buscou assumi-la conscientemen-

criatividade consciente e responsável na rede de relações que a era digital tornou possível” (2013). Portanto, em todos os níveis, o papa emérito solicitava que a Igreja exercesse “uma ‘diaconia da cultura’ no atual ‘continente digital’” (2013). Nesse contexto, a instituição Igreja busca fortalecer sua presença oficial nos ambientes digitais, começando pelo próprio pontífice, seja no Twitter, seja no Instagram. Mas essa ressignificação digital do catolicismo não é neutra, nem automática. Para sua ocorrência, a Igreja precisa atualizar seus processos comunicacionais internos e externos para dar conta de uma nova complexidade sociossimbólica que emerge a partir dos desdobramentos das práticas comunicacionais digitais – como o fato de “traduzir a tradição” ao “traduzir o papa” em mensagens com menos de 140 caracteres (como no caso do Twitter) ou em fotos e vídeos de menos de sessenta segundos (como agora no caso do Instagram). No caldo cultural da midiatização da religião, o catolicismo em geral passa a se embeber de processos midiáticos, também na internet. Nas presenças institucionais oficiais em plataformas sociodigitais, comunicam-se as versões autorizadas da tradição e da doutrina católicas, mas esse processo é feito em modalidades inovadoras, por parte de um papa “instagrammer” e de uma Igreja que busca “instagramear” um pontífice romano. A “tradição” que começa hoje passa por essa grande inovação comunicacional, ainda sem horizontes claros.

Arquivo pessoal

A instituição Igreja busca fortalecer sua presença oficial nos ambientes digitais, começando pelo próprio pontífice, seja no Twitter, seja no Instagram

Papa Francisco publicou sua primeira foto no Instagram: de joelhos rezando, L’osservatore Romano

I G RE J A & COMUNICAÇÃO

modo de preparo Bata as claras em neve. Reserve. Na batedeira, em velocidade máxima, bata Colaboração: Cleonice Maria, Guaíra (PR)

O Mensageiro de Santo Antônio

64

Outubro de 2016

O M e n s aa gg ee iirroo ddee SSaannttoo AAnnttôônni oi o Outubro de d e 2016 2016

65

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.