Práticas de lazer e sociabilidade dos trabalhadores do bairro paulistano da Mooca entre 1900 e 1920: notas de uma pesquisa.

July 15, 2017 | Autor: Bruno Caccavelli | Categoria: Lazer, Sociabilidade, Associativismo, São Paulo Cidade, Trabalhadores, Mooca, ANPUH-São Paulo, Mooca, ANPUH-São Paulo
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Práticas de lazer e sociabilidade dos trabalhadores do bairro paulistano da Mooca entre 1900 e 1920: notas de uma pesquisa. BRUNO CACCAVELLI* Disse certa vez um conhecido historiador que enfatizar um passado institucional e casto do movimento operário significa muitas vezes soterrar os seus traços mais pujantes e desordeiros.Contra isso, (...) deveríamos olhar as evidências, não com os olhos moralizadores (nem sempre os ‘pobres de Cristo’ eram agradáveis), mas com olhos para os valores brechtianos – o fatalismo, a ironia em face das homilias, do establishment, a tenacidade da autopreservação. E devemos também lembrar o submundo do cantor de baladas e das feiras, que transmitiu tradições [...], pois dessa forma os ‘sem linguagem articulada’ conservam certos valores – espontaneidade, capacidade para diversão e lealdade mútua (THOMPSON, 1987a: 61-62).

Nas experiências vividas durante o lazer também se encontramcostumes e ritosem que podemos perceber entre os trabalhadores uma multiplicidade de vínculos identitários e de valores compartilhados. Entre os anos de 1900 e 1920, no bairro paulistano da Mooca, amplamente formado por imigrantes (CANOVAS, 2009, e DUARTE, 2002), a marca era a de uma pluralidade de etnias, que se combinavam em diversos elementos culturais, como idiomas, comidas, músicas e danças. Ali conviviam operários empregados em ofícios que requeriam menor especialização, ao lado de trabalhadores mais especializados,que ocupavam posições mais elevadas nas fábricas cujos processos produtivos requeriam maior qualificação, como os cervejeiros, ou que trabalhavam em âmbito domiciliar ou em pequenas oficinas. Todavia, todos partilhavam da experiência de viver em um bairro em que “As casas são infectas, as ruas, na quase totalidade, não são calçadas, há falta de água para os mais necessários misteres, escassez de luz e de esgotos” (BANDEIRA JÚNIOR, 1901:XIV). Essa escassez cotidiana, como sugeriu E. P. Thompson (1987b:298), “(...) era quebrada pelas festas e outros acontecimentos circunstanciais”, quando as pessoas podiam reunir-se para conversar, cortejar, dançar e cantar, jogar e brincar, econseguir um bocado a mais de pão.Assim como ocorria em outros bairros da capital, lazer e sociabilidade eram experimentados nas ruas,

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Mestrando do programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo. Trabalho desenvolvido sob a orientação do Prof. Dr. Luigi Biondi e com o apoio financeiro da FAPESP.

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festas e folguedos, piqueniques, reuniões, papos e jogatinas nos botecos ou no interior das pequenas casas. O futebol era jogado pelas ruas do bairro e entre os trabalhadores, como o pedreiro de 15 anos de idade José Bartoletti, que no domingo 18 de agosto de 1913,logo após o almoço, encontrou-se com diversos companheiros na rua onde morava - a Júlio de Castilho - para divertirem-se. Durante a partida, o rapaz caiu “(...) desastradamente”, fraturando o braço esquerdo (Correio Paulistano, 18.8.1913). Ainda assim, mesmo com os riscos de fraturas, foi destes jogos de rua que se lembrou o guarda-meta do Syrio, clube da Primeira Divisão da APEA1 à época, quando contou sua trajetória a um jornal. O goleiro, chamado José Carvalho, “(...) mais conhecido nas rodas futebolísticas como Zéca”, disse na ocasião que “(...) minha alvorada no futebol, foi com uma dessas bolas comuns de pano, pelas várzeas da Mooca. Depois fui progredindo, passando por todas as escalas de um futebolista” (Diário Nacional, 15.5.1932). A facilidade em se conseguir alguns companheiros para chutar pelas ruas uma bola improvisada, feita com pano de baixo valor ou mesmo com trapos, tornava este esporte uma opção bastante viável para o lazer. Além do futebol, as festas cívicas, como as paradas militares em comemoração ao 15 de Novembro que ocorriam no prado da Mooca, também eram uma opção em que não se precisava gastar os parcos recursos, o que fazia com que fosse notada durante os desfiles a presença de grande público. Em 1909, um jornal comentou que nas várias tribunas montadas para o evento estavam “(...) as mais distintas famílias de São Paulo”, das quais as senhoras e senhoritas exibiam suas “(...) elegantes toilettes”. Ali se faziam notar também os representantes do poder público. Entretanto, o reduzido número de palavras dedicadas às pessoas “(...) de todas as classes sociais”, apesar de indicar certa presença de trabalhadores, sugere que sua participação se limitava ao papel de observadores (Fanfulla, 16.11.1909).Nos desfiles carnavalescos, entretanto, as pessoas tomavam as ruas para acompanhar as diversas trupes que “(...)se apresentaram com grande luxo de indumentária e lindíssimos carros alegóricos”, mas também para brincar e dançar (Diário Espanhol, 21.2.1912). As festas religiosas realizadas pelas paróquias eram bastante populares. A Capela de Santa Cruz da Mooca realizou, durante todo o sábado, dia 19 de junho, a festa de Santa Cruz, em que, além de “(...) missa solene às 10 horas e à tarde procissão, haverá leilão de prendas, corridas em sacos e a pé, pau de sebo, iluminação, música e outros divertimentos”. No 1

Associação Paulista de Esportes Atléticos.

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encerramento da festa, às 9 horas da noite, “o conhecido pirotécnico sr. Biaggio Chioffi (...)”, deu início à queima dos fogos de artifício (Correio Paulistano, 18.6.1904). Em 1907, a festa em louvor da Santa Cruz contava ainda com as mesmas atividades: “leilão de prendas, pau de sebo, fogos de artifício e outros divertimentos, tocando uma banda de música” (Correio Paulistano, 12.6.1907). Na paróquia de San Gennaro, na rua da Mooca, uma das principais festas era realizada em comemoração ao santo padroeiro. Em 1915, os festejos, acompanhados durante todo o dia pela Banda Musical Bersaglieri, do Bom Retiro, seguiram o seguinte programa: Ás 5 horas, alvorada; ás 7 horas, missa com cânticos e comunhão geral; ás 9 horas, missa solene cantada; ás 15 horas, grande leilão de prenda; ás 19 horas, terço, ladainha, pratica, 'Tantum Ergo', benção solene; ás 20 horas, leilão; ás 22 horas, extração da tombola (Correio Paulistano, 19.9.1915).

As festas do “mês de Maria” mantinham, de maneira geral, a mesma programação, composta de celebrações religiosas e “leilão de beneficência, durante o qual serão vendidos numerosos objetos doados por pessoas caridosas” (Fanfulla, 31.5.1918). Ao misturar práticas religiosas com atividades mais populares, essas capelas visavam a maior presença da população do bairro. Os trabalhadores certamente participavam das festividades, mas não eram unânimes quanto ao gosto dos vigários e das senhoras beatas para a montagem das festas. Os redatores de um jornal que tinha por costume expor a vida dos leitores - a pedido de outros leitores -, revelaram o que se pensava a respeito das veladas paroquiais, ao incluírem na seção “Na Corda Bamba”um certo Alcindo “(...) pela recordação tétrica da festa da Santa Cruz da Mooca. Realmente, naquela festa — se é que se pôde chamar festa uma reunião obrigada a perobas — o pau roncou que não foi vida” (A Gargalhada, 28.4.1909). As impressões gravadas pelos articulistas indicam queestas festas aconteciam, em alguma medida, de maneira mais regrada, provavelmente sob os olhares atentos do vigário e dos carolas. Também sob olhares moralizadores dos paroquianos edos guardas cívicos presentes, realizou-se no bairro, em junho de 1917 - já em meio às jornadas de greve iniciadas no Cotonifício Crespi (ver BIONDI, 2009) -, “(...) um leilão de prendas de uma festa religiosa”. Entediado pelo andamento moroso do folguedo, o cozinheiro João Bendoni, de 50 anos de idade, “(...) promoveu grande desordem” por estar, segundo o jornal Correio Paulistano,

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“alcoolizado”. O teor exato da confusão não é comentado pelo autor da notícia, mas, seguindo com o relato, é possível perceber as tensões vividas naquele período: Recebendo voz de prisão, Bendoni resistiu espalhafatosamente, causando grande escândalo. Inúmeros populares, julgando-se com o direito de intervir no caso, tentaram opor-se à prisão, originando-se, por isso, um conflito, durante o qual foi disparado um tiro de revólver, ao que se diz, por um policial.

Por fim, o cozinheiro foi levado à repartição central de polícia, após ser “(...) espancado a espadim” (Correio Paulistano, 17.6.1917). O conflito estabelecido entre os “numerosos populares”, ao irem em socorro do cozinheiro embriagado, dão indícios de que nem a sua desordem nem a sua resistência à prisão representavam ofensa aos costumes daquelas pessoas. Ao contrário, em uma época de grandes tensões a atitude popular frente à “grande desordem” de Bendoni, considerando como justo o seu alívioembriagado, constituía quase um “código não-escrito” (THOMPSON, 1987a:62), contrário à imposição da lei oficial, concretizada na atitude enérgica e moralizadora dos policiais. Contudo, nem sempre os ébrios podiam contar com o apoio popular. Em um domingode maio de 1904, já passavam das dez horas da noite quando Eugenio Porfirio de Assis, “(...) pardo, de forte musculatura”, irrompeu a passos bêbados pela rua da Mooca, surpreendendo aos gritos Francisco Alves Martins, que conversava com o amigoVasconcellos em frente à casa deste, no número um daquela rua. Eugênio, que não os conhecia, passou a agredir “(...) com brutalidade” Vasconcellos, que só conseguiu correr para dentro da casa quando interveio “(...) um cabo da guarda cívica”. O bêbado,porém, conseguiu se desvencilhar do policial e entrou na residência, onde, “(...) enchendo de terror seus moradores, não contente, cometeu vários desatinos”. Neste momento, “(...) apareceram vários soldados e populares”, que somente após uma grande luta prenderam o ébrio (Correio Paulistano, 23.5.1904). A desordem embriagada de Eugênio não foi perdoada pela população, que, ao contrário, uniu-se aos policiais para contê-lo. Neste caso, os “códigos não escritos” encontravam-se em comum acordo com os códigos legais. Em outros casos, porém, as leis oficiais eram simplesmente desprezadas em nome da diversão. O local mais procurado para passar o tempo livre eram os armazéns, “(...) principal opção de lazer dos pobres urbanos do sexo masculino”, onde a conversa informal, “(...) ao redor de uma mesa ou encostados no balcão”, acompanhada de vinhos baratos, cerveja ou

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cachaça, davam a tônica do ambiente (CHALHOUB, 2012:256-257).Em seu armazém na rua da Mooca, n.º 126, o italiano João Romão já havia sido proibido pela polícia de consentir que jogos como o “toco” e o “jogo do bicho”, fossem praticados. Mas em certa ocasião, os frequentadores, conhecidosseus, “(...) em animada palestra, esgotando sucessivas garrafas de vinho tinto, lhe tinham pedido para jogar”. Sabendo da vigilância da polícia, Romão “(...) franqueou a sala de seu armazém a diversos indivíduos”. Na discreta saleta, o jogo correu de maneira acalorada até que uma discussão entre os jogadores levou a uma violenta briga, que terminou com o italiano Mario Grecco ferido no braço e com o cocheiro Carmino Carnevale, também italiano, ferido fatalmente na região abdominal. Soldados do posto policial da Imigração acorreram ao local prendendo os outros jogadores, os italianos Antonio, Domingos e Giuseppe Fazzolari, pai e filhos, e o português Joaquim Gomes. Carmine Carnevale morava no andar de cima daquele armazém e os três de sobrenome Fazzolari eram vizinhos de Mario Grecco na rua Borges de Figueiredo, sendo Joaquim provavelmente introduzido no grupo por intermédio de seu companheiro de ofício, Domingos, ambos soldados da guarda cívica (Correio Paulistano, 18.4.1904). O fato de haver dois policiais entre os companheiros de copo e de jogo revela que a proibição do jogo não lhes fazia tanto sentido quanto desejavam os poderes públicos. Além disso, ao se reunirem em uma saleta e praticar a jogatinade forma oculta, os jogadores, e também o dono do armazém, tinham consciência de estarem burlando a proibição legal a este tipo de divertimento. Entretanto, algumas proibições recaíam justamente sobre as atividades que as camadas mais simples da população tinham como opção para tornar a vida cotidiana mais tolerável, e, nestes casos, as leis tendiam a ser ignoradas – ainda que não se ignorassem as consequências em fazê-lo.Umaestratégia para arranjar alguma diversão ao gosto do álcool, das conversas e dos jogos era reunir-se nas pequenas casas ou casebres. Uma dessas reuniões ocorreu na casa de número 274 da rua da Mooca, onde Deolinda Maria de Jesus, seu amante Giovanni Gennaro, e seu amigo Enrico Marchesi conversavam alegremente. Quando o primeiro ausentou-se por alguns momentos, “o imponderado Enrico se aproximou de Deolinda e lhe estalou um beijo na boca” por estar embriagado. Deolinda gritou por Gennaro, e, neste momento, instalou-se a briga: “Marchesi, que tinha todos os erros, achou melhor se fazer de valentão e feriu a pancadas o amante oficial da mulher, que foi forçado, para defender-se, a quebrar uma garrafa na sua cabeça” (Fanfulla, 13.2.1908). Existiam no bairro ainda outras atividades populares às quais se podia recorrer para a diversão. Em 1910, Luiz Pizzoti, dono de diversos imóveis na Mooca, transformou um

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barracão de 250 metros quadrados que lhe servia de depósito de materiais, no número 307 da rua da Mooca, em um cinematógrafo, cujo período de funcionamento foi bastante curto. Em seguida, o mesmo endereço passa às mãos de Clotaro Ramos Brandão, que abre ali um circo e, em dezembro de 1910, o transforma em um cinema, sob o nome Pavilhão da Mooca, que funciona até janeiro de 1911. Outro cinema, o Cinema Mooca, que recebia filmes da Cia. Internacional Cinematográfica, e estava instalado no número 438 da rua da Mooca, funcionou entre 1911 e 1912. No número 95 da rua Piratininga, funcionou o Cinema Piratiningaentre outubro de 1912 e janeiro de 1913, quando passou a ser o Teatro Eros. O Cine São João abriu suas portas no número 380 da rua da Mooca. Por ser o local muito pequeno para abrigar um cinematógrafo, e por decorrentes problemas junto à administração municipal, logo muda-se para o número 436 da mesma rua. Em 1913, ao mudar de proprietários, passou a se chamar Cine Bijou Mooca e, em 1914, Internacional Cinema, que funcionou até 1916. Além de possuir em seu espaço um bar, o local também recebia reuniões de grupos libertários, como a Associação Universidade Popular, que realizou ali uma “festa educativa” (Fanfulla, 29.1.1915), e comícios, como o promovido pela Liga Popular Contra a Carestia de Vida, em 1912 (A Lanterna, 9.69.1912). O mais longevo dos cinemas na Mooca foi o Cinema Moderno, que funcionou entre 1916 e 19662. Todavia, as associações com objetivos diversos - tanto políticas quanto as voltadas para a recreação- compunham também parte significativa das experiências na Mooca, desempenhando importante papel no lazer dos trabalhadores ao proporcionar espaços para uma convivência mais coletiva (GUZZO, 1987). A variedade de associações possibilitava atividades

bastante

diversificadas-

recreativas,

musicais,

esportivas,

dançantes

e

culturais.Localizamos no bairro 62 sociedades3 ao todo, das quais 20 eram recreativas4, 15 esportivas, 6 musicais,5 educativas e4 teatrais, além de 5 sociedades de mútuo socorro, 3 políticas5, 3 sindicais e 1 religiosa. No total, 81% das associações surgidas no local entre os 2

As informações sobre os cinemas existentes na Mooca foram encontradas na Base de Dados levantada por Jose Inácio de Melo Souza, Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica: Salas de cinema na cidade de São Paulo: 1895-1929. Disponível em , acesso em 15/06/2014. 3 Essas associações – com exceção de algumas esportivas - tendiam a se concentrar na região mais central do bairro, composta pelas ruas da Mooca e Visconde de Parnaíba, logradouros de maior concentração de fábricas, comércios e residências. 4 As sociedades que chamamos recreativas realizavam atividades bastante diversificadas, não se focando apenas em uma modalidade. 5 Classificamos entre as “Políticas” os grupos anarquistas pelo tipo de ação que desenvolviam. Terminologia parecida foi utilizada por Siqueira para classificar “associações partidárias” e “grupos

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anos de 1900 e 1920 tinham como objetivo principal o lazer, o que indica a sua grande importância entre os trabalhadores. A primeira agremiação esportiva do bairrosurgiu em 19046, com o nome de Sport Club Athletico Mooca7 (Correio Paulistano, 30.8.1904), que rapidamente organizou-se para disputar campeonatos de futebol. Diversos clubes chamados esportivos surgiriam para a prática (quase exclusiva) do futebol, inscrevendo-se para a disputa dos pequenos campeonatos ou realizando partidas amistosas. Em 1905, o Sport Club Mocidade da Mooca formou-se para disputar os campeonatos de várzea (Correio Paulistano, 28.06.1905). Já em 1914, um grupo de trabalhadores, provavelmente tipógrafos, montaram o Guttemberg Foot-Ball Club e estabeleceram um campo no fim da rua da Mooca, onde realizavam principalmente partidas entre os sócios, mas também, em menor proporção, contra outras agremiações (Correio Paulistano, 5.7.1914). As outras associações esportivas, entretanto, realizavam seus jogos e “trainings” no campo “(...) situado ao lado da Fábrica de Tecidos Penteado, na Mooca” (Correio Paulistano, 1.8.1914) ou no prado da Mooca, “(...) na vasta área de terreno situada ao lado do Hipódromo da Mooca” (Correio Paulistano, 22.4.1912). Apesar de promovidas por associações com critérios associativos e cobrança de mensalidades, as disputas esportivas eram realizadas em locais abertos, possibilitando aos habitantes do bairro assistir livremente às partidas, o que podia proporcionar alguma ligação entre os clubes do bairro e os espectadores. Como exceção desta ligação, havia o Club Recreativo FootBall, mantido pelo Cotonifício Crespi, situado na Mooca, mas que conservava até então um terreno para festas e esportes no bairro do Ipiranga, para onde iam os operários da fábrica a fim de disputar partidas de futebol entre times de cada seção onde trabalhavam (Fanfulla, 8.6.1909). De qualquer forma, se a prática principal destas sociedades esportivas era o futebol, observado principalmente nas tardes de domingo, outras atividades eram realizadas fora dos gramados. O União Fluminense Foot Ball Club, cuja sede estava na rua João Antônio de Oliveira, n.º 40, promovia bailes nas noites de sábado (Fanfulla, 12.7.1919). Também em uma noite de sábado, o União Marcial Foot Ball Club, com sede no n.º 353 da rua da Mooca, anarquistas”, entre outros, ainda que no caso do bairro do Bom Retiro, como aponta o autor, estivessem ausentes tais tipos de associações (SIQUEIRA, 2002:51). 6 O Jockey Clubnão está entre as associações esportivas do bairro, ainda que seu hipódromo estivesse na Mooca, por ter sede na região central da cidade, à rua XV de Novembro. Além disso, sua existência se deveu a um processo de alargamento do lazer e sociabilidade das elites paulistanas, tonando-se assim um espaço composto quase que exclusivamente por essa camada social (Ver, a este respeito, RAGO, 2004), parecendo-nos excludente daquelas camadas sobre as quais desejamos manter nossa atenção neste estudo. 7 Também chamado, por vezes, de Sport Club Mooca.

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realizou um baile em que “(...) percebemos um grande público. O amplo salão estava lotado (...)” (Fanfulla, 15.9.1920). Na verdade, as festas eram bastante comuns entre todos os tipos de sociedades e eram realizadas pelos mais diversosmotivos, como comemorações cívicas e datas relevantes para a identidade da associação (o XX de Setembro, para aquelas sociedades de marca étnica italiana, ou o 13 de Outubro, data lembrada principalmente por grupos libertários e que marca a morte por fuzilamento de Francisco Ferrer, em 1909). Mesmo os rituais mais solenes podiam ser realizados em forma festiva, como fizeram os trabalhadores associados à Societá Operaia di Mutuo Scorso “Unione Mooca”, que, em 9 de dezembro de 1900, à uma hora da tarde, reuniram-se no prédio número 141 da rua da Mooca, sede da sociedade, para festejar o batismo de sua bandeira. “A bandeira da sociedade é a tricolor italiana, tendo no centro representadas, duas mãos que se apertam”, afirmaram no estatuto8, indicando o cruzamento de identidades étnica e de classe, já que o simbolismo das mãos em cumprimento remete, como já se notou em outros estudos, a associações operárias (BATALHA, 2004). Aproximadamente um ano depois, em 1º de novembro de 1901, ainda no mesmo endereço, diversos sócios e convidados compareceram à festa de aniversário da associação, onde assistiram aos discursos do presidenteGiovanni Agostini, do presidente honorário Ernesto Moura e do professor Pasquale Brand, seguindo-se o brinde de “champagne” e um “lunch”, tudo devidamente acompanhado pela banda musical Giuseppe Verdi, que executou os hinos brasileiro e italiano. Além das comemorações no interior das sedes, havia ainda festas campestres, como “(...) um festival de propaganda, cujo programa constará de recitativos de poesias escolhidas, conferência, quermesse e baile familiar ao ar livre”, que se realizou em um sábado na região da Cantareira (A Lanterna, 3.5.1914), e que foi promovida pelo Centro Feminino Jovens Idealistas9, associação cujo objetivo principal era, conforme escreveu sua secretária Maria Soaresaos editores de um jornal, “(...) tratar por todos os meios da propaganda em favor da emancipação da mulher” através da cultura e educação (A Lanterna, 10.7.1915). As festas de propaganda eram muito comuns entre os grupos de cunho abertamente político, como as associações sindicais, as ligas de ofício e os grupos libertários. O mesmo Jovens Idealistaspromoveu, em julho de 1915, uma destas festas no salão mantido pela sociedade Leale Oberdan, no vizinho bairro do Brás. Na ocasião, realizaram uma conferência “(...) sobre 8

Todos os estatutos mencionados neste texto foram encontrados no Arquivo Estado de São Paulo (APESP) – Coleção Título: Primeiro Cartório de Registros de Imóveis da Capital. Subtítulo: Sociedades Civis. 9 Doravante apenas Jovens Idealistas.

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a questão social” e um “diálogo adequado”, mas também houve a “representação do emocionante drama em 4 atos, de R. Bracco, Maternitá”, e a velada foi encerrada por um grande “baile familiar” (A Lanterna, 10.7.1915). Também a União Geral dos Trabalhadores, sediada no número 292-A da rua da Mooca, realizou uma festa de propaganda “(...) em benefício da associação”, anunciada como uma “festa dramática com quermesse”, em que “(...) será executado um atraente programa e, portanto, temos certeza, a concorrência será numerosa. Se iniciará a noite com músicas selecionadas que serão executadas pela orquestra” (Fanfulla, 15.4.1916). Festas em benefício de vítimas dos poderes públicos ou de perseguições políticas também eram realizadas, como a que ocorreu em na noite de 14 de novembro de 1917, na sede da Liga Operária da Mooca, organizada pelo Grupo Os Semeadores, “em benefício das famílias deportadas”, e cujo programa oferecia orquestra sinfônica, apresentações teatrais e uma conferência (Fanfulla, 4.11.1917). As associações cujo objetivo principal erao da recreaçãotinham seus festejos compostos por atividades bastante diversificadas. Eram festas dançantes, dramáticas ou dramático-dançantes, festas teatrais e musicais, enfim, os termos recorrentes nas chamadas dos jornais eram bastante variados. O Círculo Filodramático Tina di Lorenzo, dedicado principalmente a práticas teatrais, realizou em fevereiro de 1909 uma festa “dramáticodançante” cujo programa era composto por representações dramáticas e finalizado por um “grande baile” (Fanfulla, 12.2.1909). Em agosto de 1911 a Associação RecreativaAthletica da Mooca10 realizou sua “Festa Dramático-Dançante”, em que, “apesar do tempo frio e da garoa gelada que caiu ontem à noite, muitas famílias e muitos convidados lotaram o Salão 'Almeida Garret'”, afim de participar do baile, que foi antecedido por apresentações teatrais(Fanfulla, 6.8.1911). O termo festa, amplamente anunciado em jornais diversos, abarcava em seu conteúdo programático, além dos bailes e das apresentações teatrais, os entretenimentos musicais, ondea orquestras, bandas e cantores figuravam entre as principais atrações. A mesma A. R. A. da Mooca realizouno “Salão do Conservatório Musical”, em janeiro de 1912, uma “festa dramático-musical”, composta, como indicava o anúncio, por apresentações teatrais e um “programa musical”, sendo encerrado por “(...) um animado baile, que foi até a madrugada” (Fanfulla, 29.1.1912). As festas das associações, tanto as daquelas abertamente recreativas quanto a daquelas que não eram voltadas diretamente à recreação, proporcionavam

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Doravante A. R. A. da Mooca.

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na sua composição um padrão aparentemente simétrico: eram finalizadas com um baile familiar, antecedido por representações teatrais e musicais. Asbandas musicais representavam parte importante dos processos culturais de formação de uma classe operária na cidade de São Paulo. Estes grupos ocupavam um lugar privilegiado nas atividades das associações de trabalhadores. Não são uma pura tradição operária, mas, como notou Francisco Foot Hardman, (2002a: 368) "(...) a presença musical das bandas - incluindo-se aí as bandas operárias - refundiu-se, na verdade, numa tradição cultural muito mais ampla e diversificada (...)", onde se cruzavam, mesclavam e transformavam "as oposições rural/urbano, europeu/nacional, erudito/popular, etc.". Certamente, a música esteve sempre presente no movimento operário, não apenas como artifício decorativo, mas como elemento tanto intrínseco à própria experiência operária quanto "constitutivo do ritmo das manifestações, desenhando formalmente os contornos do ritual político (...)". Claramente, os hinos eram parte importante dos rituais, porém outros sons e cadências, como "marchas, dobrados, ranchos, sambas (...)"(HARDMAN, 2002a:368), também se faziam ouvir entre os trabalhadores. Os fragmentos deixados por estas músicas podem nos revelar,como mostrou Hardman (2002:369), importantessinais de uma confluência entre a música e o movimento operário nas práticas daqueles trabalhadores. As bandas musicais de associações recreativas estavam presentes em comemorações, como a do Primeiro de Maio, ou em comícios, nos quais tomavam a frente do préstito, ao mesmo tempo anunciando e alinhando os trabalhadores que a seguiam. Para as comemorações do Primeiro de Maio de 1912, o grupo libertário Círculo de Estudos Sociais Francisco Ferrer11utilizou sua sede, no número 132 da rua da Mooca, como ponto de concentração de onde “(...) partiu o operariado do bairro da Mooca, precedido das bandeiras [dos grupos libertários] e de uma banda de música, para o largo da Concordia, onde teve lugar o comício promovido por essas agremiações” (A Lanterna, 6.5.1912). A Banda internacional da Sociedade Recreativa da Mooca, que em seu estatutopublicado em 3 de janeiro de 1920 afirmava o objetivo de “(...) organizar festas e bailes familiares uma vez por mês”, dispôs-se, em outubro de 1919, a compor o programa organizado pela Escola Moderna n.º 1 - grupo educacional de cunho libertário sediado no bairro do Brás - para as comemorações do “(...) 10º aniversário do fuzilamento de Francisco Ferrer y Guardia”, em que também houve “(...) uma pequena exposição de trabalhosescolares, exercícios ao quadro negro pelos alunos, 11

Doravante C. E. S Francisco Ferrer.

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cantos de hinos, recitativos (...)”, além de uma conferência sobre a data (O Combate, 11.10.1919). Tal confluência, entretanto, não estava restrita às manifestações e comemorações de cunho político. Era antes "(...) um aspecto geral e inerente à formação da Classe", uma vez que a música era uma atividade que aglutinava os trabalhadores por diversos laços identitários - por bairro, fábrica, profissão, etnia, etc. -, e diretamente ligada, "(...) sem dúvida, ao próprio lazer operário"(HARDMAN, 2002a: 369). Na noite de sábado, dia 28 de setembro de 1918, sob a regência de Ezio Dall’Ovo, também diretor da sociedade, apresentou-se em uma festa a orquestra da Sociedade Recreativa Musical União da Mooca. O programa, exibido em um jornal, anunciava também o baile ao encerramento da festa, “(...) que durou até o amanhecer do dia seguinte”, animado “(...) ao som de um quinteto de sócios da associação”.O teor da apresentação musical nos chama a atenção: “A festa começou com o seguinte programa musical: 'Festa in città' Sinfonia: Cavatina dell 'Ernani': 'Garibaldi a Caprera' - Sinfonia: 'Mignonette' – Sinfonia” (Fanfulla, 1.10.1918). Ainda que não tenhamos uma lista dos presentes da festa, a nomenclatura e a origem das sinfonias sugerem uma maioria de imigrantes italianos. A escolha destas músicas revela mais que uma simples busca por diversão. A Cavatinamencionada é parte da ópera Ernani de Giuseppe Verdi, compositor italiano cujas obras, bastante populares, destacavam um ideal de pátria, em meio à unificação italiana (HOBSBAWM, 1996:394 e 396), e a passagem escolhida tratava do último repouso do republicano e revolucionário Giuseppe Garibaldi. Com isto, o exemplo carrega-se de significados múltiplos: a apropriação desses importantes personagens italianos sugere uma afirmação da identidade étnica italiana tanto quanto uma identidade dos valores de classe, ou, como bem descreveu Luigi Biondi (2012:97-98), uma “(...) afirmação do triunfo da monarquia de Savoia como guia da unificação do país mas era também a afirmação do mais profundo anticlericalismo libertário e socialista”. As apresentações teatrais também compunham as experiências de lazer da população do bairro da Mooca e estavam presentes, assim como a música, em grande parte das festas campestres, artísticas, dançantes, comemorativas e educativas, assim como em aulas públicas. Em suma, era uma das opções prediletas de lazer à qual os trabalhadores recorriam em largo número no seu escasso tempo livre. Angelo Trento (2010:240) notou que o gosto desses trabalhadores pelo teatro derivava da experiência adquirida na Itália – país de origem da maioria dos trabalhadores da cidade de São Paulo e do bairro da Mooca –, mas não estava

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restrito aos habitantes italianos do local, sendo igualmente popular entre as pessoas de outras nacionalidades. Uma vez no Brasil, o gosto dos imigrantes pelo teatro encontrou-se com o costume arraigado entre os brasileiros de assistir aos espetáculos teatrais de companhias italianas, o que conferia a esta modalidade maior familiaridade entre os trabalhadores italianos, por causa da língua em que eram apresentadas, mas também, e principalmente, no caso das companhias amadoras ou dos teatrinhos improvisados, por uma questão de custo (TRENTO, 2010:242). Para as associações políticas, como anarquistas, socialistas, sindicalistas, cujas necessidades passavam pela organização do tempo livre e pela difusão da cultura entre os trabalhadores, o teatro apresentava-se como “(...) o instrumento mais importante de difusão em chave ideológica” (TRENTO, 2010:240). O C. E. S. Francisco Ferrer promoveu no dia 15 de novembro de 1913, um sábado, “(...) uma interessante velada de propaganda” no salão Celso Garcia. O programa anunciado continha 1º - Gente onesta, importante drama em 3 atos, de Pedro Gori; 2º - Conferência sobre o tema La famiglia; 3º - Uma engraçada comédia; 4º - Quermesse e baile familiar.

As atividades cujo título estava em língua italiana indicam que entre os presentes a maioria era formada por italianos. A data escolhida – o 15 de Novembro - não era casual: a República já havia sido objeto da crítica dos libertários em outros anos12 (A Lanterna, 8.11.1913). A obra escolhida para a apresentação teatral, de autoria do italiano Pietro Gori, autor de grande importância nas atividades culturais anarquistas (HARDMAN, 2002b:49), reforça o teor dos valores ligados à uma classe, e a conferência indica a preocupação do grupo em torno da questão familiar, tema bastante caro aos anarquistas que a entendiam não como base da moral e da propriedade privada, mas como um ambiente privilegiado da educação libertária (CABRAL, 2008:61). Assim, não era raro que grupos libertários pensassem as atividades de lazer de forma que englobassem ou partissem da família operária.

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Enquanto a Proclamação da República era festejada com desfile das forças públicas no prado da Mooca, aAssociação do Livre Pensamentorealizou uma sessão solene, em sua sede no centro da cidade, em que discursou Oreste Ristori, “(...) que em veemente oração atacou a República” e as atitudes de seus dirigentes, como a expulsão de Edmondo Rossoni (A Lanterna, 20.11.1909).

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As atividades organizadas pelos grupos de cunho político, principalmente os libertários,tinham como objetivo central a emancipação e a promoção da elevação intelectual e moral dos indivíduos (SIQUEIRA, 2009:275). Todavia, é curioso notar que entre as modalidades contidas no programa do C. E. S. Francisco Ferrer figurassem práticas mais voltadas ao prazer, como o baile. Edilene Toledo (2004:183-184)observou que tais práticas eram frequentes nas festas de grupos socialistas, que não o viam como imorais. Entre os grupos anarquistas, porém, o lazer era considerado como “(...) perda de energias” ou “(...) útil somente como forma de propaganda”, o que parece excluir as modalidades de aspecto alienante – aos olhos anarquistas -, voltadas sobretudo para a diversão, como as danças. A existência dos bailes em seus eventos era motivo de grandes divergências entre anarquistas, negando assim qualquer apontamento na direção de um caráter homogêneo de seus grupos. Entretanto, a predileção e a procura dos trabalhadores pelos bailes faziam com que os grupos anarquistas disputassem espaço com outras associações políticas – como a dos socialistas – ou recreativas. Tal querela, como já notou Michelle Nascimento Cabral (2008:73), fez com que os projetos de propaganda anarquistas fossem reelaborados, adotando, finalmente, o baile (e também o futebol). Embora seja inegável a importância das sociedades de cunho político na organização dos trabalhadores, associações mutualistas, sindicais, ligas de ofício, grupos socialistas e anarquistas e partidos políticosnão podem ser consideradas como os únicos lugares possíveis de se observar os processos de formação de uma classe trabalhadora (SIQUEIRA, 2009:272). Os sinais encontrados no tempo livre gasto nas atividades de lazer praticadas naquelas agremiações voltadas diretamente à recreação podem indicar a existência elementos e valores de uma cultura e identidade de classe em formação. As apresentações teatrais da A. R. A.da Mooca, eram compostas por comédias e dramas. Do primeiro gênero, encontramos os títulos “Maneco Pangarra”, “Dois mineiros na corte” e “O Tio Padre”(Fanfulla, 29.1.1912, 22.8.1918 e 12.10.1920, respectivamente). Os dramastinham como temas centrais, na maioria das vezes, a moral ou os amores impossíveis, peças com conteúdo carregado pela emoção “Os ladrões de honra”, “O Adultério” ou “A filha do marinheiro”, (Fanfulla, 29.1.1912, 13.3.1920 e 12.10.1020) -, cujo sentido vai ao encontro do “(...) objetivo explícito de inibir comportamentos socialmente desaprovados”, culminando na punição exemplar de personagens transgressores ou na concretização dos desejos amorosos (COLLAÇO, 2008:6). Ainda assim, as principais festas da associação, como comemoração ao seu aniversário,

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tinham como principal atração a representação de obras cujos títulos dão indícios de certa consciência da realidade social dos atores amadores, sócios e espectadores. A festa dramáticodançante realizada em um sábado de agosto de 1911, teve como atração principal “(...) o drama em três atos 'Scena da miseria'” (Fanfulla, 5.8.1911). Para comemorar o 4.º aniversário, os atores amadores da sociedade escolheram representar o drama “La presa della Bastiglia [A tomada da Bastilha13]”(Fanfulla, 11.10.1912). No ano seguinte, para o 5º aniversário da agremiação, foi representado o “drama em quatro atos ‘Os vampiros sociais’” (Fanfulla, 11.10.1913), conhecida obra de A. J. de Araújo Pinheiro.A escolha de tal temática em suas apresentações ultrapassa a simples busca pelo lazer, alcançando um sentido questionador das condições materiais de vida que as camadas populares habitantes do bairro experimentavam, e da própria ordem vigente.Desta forma, mesmo intercalados com aquelas atividades cujo mote voltava-se para o divertimento, a presença destes temas insere as sociedades recreativas no “(...) tecido operário paulista” (FRANZINA, 2010:220). Ao observar o cotidiano dessas pessoase suas formas de lazer e sociabilidade, buscamos entender a importância destas práticas de lazer no processo de formação de uma identidade de classe. A diversidade de associações encontradas no bairro, aliadas a uma atmosfera em que se cruzavam diferenças e disputas cotidianas com afinidades de ofício e étnicas, demonstram a heterogeneidade e a complexidade da experiência no bairro paulistano da Mooca. A pluralidade e a mistura de atividades davam ao trabalhador uma série de alternativas para a utilização de seu tempo livre.A busca por locais onde se pudesse desligar das pressões de sobrevivência cotidiana e do trabalho, assistindo a uma representação teatral, por exemplo, associava-se à procura por atividades mais ligadas a elementos e valores que apontam para uma cultura e identidade de classe em formação.

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