Prêmio Valdeck Almeida de Jesus - Homenagem a Jean Wyllys

August 9, 2017 | Autor: Valdeck de Jesus | Categoria: Gay And Lesbian Studies, LGBT Issues, LGBT Literature
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Todos os direitos reservados ao autor. Publicado por Giz Editorial e Livraria Ltda. Rua Álvaro de Abreu, 203 – Jd. São Paulo São Paulo – SP – CEP: 02039-000 Website: www.gizeditorial.com.br E-mail: [email protected] Tel/Fax: (11) 3333-3059

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Valdeck Almeida de Jesus (organizador)

Prêmio Valdeck Almeida de Jesus de Contos LGBT’s 2009 homenagem a Jean Wyllys

São Paulo, 2010

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© 2010 de Valdeck Almeida de Jesus (organizador) Título Original em Português: Prêmio Valdeck Almeida de Jesus de Contos LGBT’s 2009 – homenagem a Jean Wyllys

Coordenação Editorial: Simone Mateus Assistente Editorial: Taciani Ody Revisão: Valdeck Almeida de Jesus e autores. Editoração Eletrônica: Equipe Giz Editorial Imagem da capa: Ed Ribeiro (http://www.edribeiro.com.br/blog/) Impressão: Prol Gráfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Prêmio Valdeck Almeida de Jesus de contos LGBT’s 2009 : homenagem a Jean Wyllys / Valdeck Almeida de Jesus, (organizador). -- São Paulo : Giz Editorial, 2010. Vários autores. ISBN 978-85-7855-078-3 1. Contos brasileiros - Coletâneas 2. Wyllys, Jean I. Jesus, Valdeck Almeida de. 10-04521

CDD-869.93

Índice para Catálogo Sistemático 1. Contos gays : Antologia : Literatura brasileira

869.93

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como traduzida, sem a permissão, por escrito do autor. Os infratores serão punidos pela Lei nº 9.610/98 Impresso no Brasil / Printed in Brazil

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Agradecimentos À equipe que leu, releu, deu notas, escolheu e classificou os contos deste concurso: Carlos Vilarinho, professor e escritor Leandro de Assis, poeta e escritor Léo Dragone, poeta, escritor, modelo e ator Márcia Mera Luz, professora de português Ivonete Almeida, pedagoga e especialista em literatura Vagner Paixão, professor e relações públicas

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Sumário As cidades....................................................13 de Thiago Thomazini

Mudar de vida.............................................17 de João Manuel da Silva Rogaciano

O anjo de Sorocaba .................................. 21 de Maria da Guia

Quaresmeira.............................................. 27 de Benedito Costa Neto

Monsieur Yeux Bleus................................ 33 de Priscylla Piucco

Os dois rapazes.......................................... 37 de Reinaldo Fernandes

Ordens são ordens................................... 41 de Floriano Lott

Olhos Negros............................................ 45 de Nathalie Gaudêncio

Um Equívoco da Natureza........................51 de Lucêmio Lopes da Anunciação

Adelaide que amava Márcia que amava o mar............................................................... 55 de Nilton Silveira

O templo das mãos....................................59 de Felipe Freitag

Espera de uma vida ...................................63 de José Ricardo Oliveira

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Apresentação

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intenção inicial deste prêmio literário é fomentar a cultura e, ao mesmo tempo, homenagear o jornalista e escritor Jean Wyllys. Ao observar que não havia no mercado editorial brasileiro muitos concursos literários voltados à categoria ‘contos’, muito menos que premiassem a temática gay, aproveitei a lacuna e criei a versão GLS de uma premiação nesta área, que eu já venho realizando, desde 2005, ao público em geral. A escolha do nome de Jean Wyllys para o evento deve-se à inegável contribuição que este baiano de Alagoinhas presta à comunidade LGBT brasileira. A atuação sistemática do professor Wyllys em defesa dos direitos humanos e da dignidade das minorias precisa e deve ser registrada. E nada melhor do que fazê-lo através de um livro que condense textos destinados especificamente a Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Transgêneros. Valdeck Almeida de Jesus Escritor, Poeta e Jornalista www.galinhapulando.com

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As cidades de Thiago Thomazini

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lharam-se profundamente antes de se entregarem, com sofreguidão, àquele beijo que, devido à ânsia e à longa espera, se fez violento, trêmulo e – por que não? – apaixonado. Seus lábios eram perfeitos encaixes, tradução nova e, ao mesmo tempo, tão ultrapassada daquele amor que não ousava dizer o nome. Mas ali, juntos, gritavam esse amor e berravam-lhe também um sobrenome, mesmo sentindo-se isolados num palco cuja plateia fosse surda. As mãos, ágeis e tensas, tateavam em busca de respostas. Os cheiros emaranhavam-se à intenção desesperada de dar origem a um perfume nunca antes inalado, odor proibido, viciante. Necessário. De repente, o Homem olha o Jovem. De novo, o olhar: como pausa, como beliscão para fazer verdade a realidade. E sabem assim que devem aproveitar aquele instante único e talvez... último! Muito tempo se passara desde o primeiro encontro, desde a primeira fagulha que os unira numa espécie de casamento cósmico, fundindo-os, transfigurando-os, num inevitável cometa, tamanha a luminosidade que irradiavam juntos.

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Haviam se conhecido num desses inferninhos, reduto de desgarrados sociais e solitários errantes, sedentos por qualquer forma de amor. Na mútua atração, não couberam palavras: eram línguas as suas vírgulas; eram mãos, braços e pernas as suas pontuações. O verbo consumou-se num canto escuro. Êxtase e entrega. O Homem nunca sentira aquilo, o Jovem tampouco. E a despedida... Ah, a despedida! Mal se conheciam direito e, temerosos mas felizes, sentiam-se profundamente ligados. O medo de nunca mais... – Sou casado! – disse, cabisbaixo, o Homem. – Mentira! – o Jovem tentou sorrir, não querendo, não podendo acreditar naquilo. – Sou. É sério! Tenho uma mulher. E sou pai. “Afasta de mim este cálice!”, pensou o Jovem. – Por quê? – as palavras perdiam a força, o sentido. E o beijo posterior àquela confissão teve gosto de pecado. O Jovem quis saber detalhes, sentindo já na pele a dor e a delícia da situação com que o acaso lhe presenteara. O Homem pediu-lhe para não tocar no assunto, aquilo não o agradava. Mas o Jovem insistia em saber e, de tanto querer saber, achou melhor não mais perguntar. Naquele ínterim, o Homem, que era tão homem, pareceu muito jovem, e o Jovem, que se achava tão imaculadamente jovem, tornouse tão homem. E, na sua ânsia de amar, considerou como empecilho apenas a distância inevitável que os separava: as cidades. Viu o Homem partir com a promessa de voltar. Mas o Jovem, já tão homem, não acreditou e começou, ali mesmo, a esquecê-lo. “Foi carência, foi tesão, casinho de uma noite só, um sarro e nada mais! Ah, essa mania minha de achar que toda pessoa... Pô, nem o telefone ele me passou. Será que tem medo que eu fique ligando, atazanando sua vida?”

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– Dá o seu que EU te ligo! – pediu o Homem. O Jovem passou-lhe o número, sem disfarçar um certo desdém. Mas qual não foi a sua surpresa quando, no dia seguinte, ainda antes mesmo que acordasse, o telefone tocou. E era Ele! Conversaram por um longo tempo, já que na noite anterior não o haviam tido. Deleitavam-se embriagados com as respectivas vozes, envoltos numa irremediável tensão erótica. “Quando de novo?” Meses se passaram, e o Homem sempre a lhe surpreender com ligações inesperadas, porém sem dizer ao certo quando voltaria para vê-lo. A espera prolongada esmagava-lhe o peito e até tentava procurar em outras bocas, outros becos, aquele Homem que partira. Mas não! Ninguém era capaz de substituí-lo. E eis que, numa bela noite, o Homem liga novamente: – Estou chegando aí e quero te ver. Agora! E lá estavam, mais uma vez. As roupas, espalhadas pelo chão do quarto, já não eram um entrave para o desesperado linguajar de suas peles quentes. Afoitos que estavam, pareciam encontrar-se à beira de um abismo. A luz acesa só estava para confirmar uma verdade que lhes parecia inacreditável. E o gozo iminente era constantemente reprimido para não findar um momento tão glorioso. Naquela noite, não conversaram. Tinham coisas mais importantes a fazer. O rádio, ligado propositalmente numa FM qualquer (que até tocava umas músicas boas de vez em quando), tentava abafar aqueles ais incontidos e os pedidos improváveis (até que ponto?) daquele amor que ainda não o era, embora demasiado o fosse. Amaram-se à exaustão, já com gosto de perda... Algo lhes faltava. Faltaria.

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Na rua, a despedida fria em apertos de mão e abraços formais. O Homem não ousou beijá-lo, mesmo na madrugada deserta e silenciosa de um espaço público. Tornaram-se, de repente, tímidos, vagos. Antes que o carro partisse, o Jovem fechou o portão. Ouviu o arranque, o barulho dos pneus soando-lhe como uma bofetada. De volta ao seu quarto, olhando para a cama vazia, só teve a certeza que não fora um sonho por causa dos respingos de prazer que secavam no lençol envelhecido. Acendeu um cigarro. Um nó na garganta. E o Jovem, que já se achava tão homem, viu-se menino.

Thiago Thomazini é escritor há algum tempo mas nunca publicou nada. Escreve contos, romances, peças e roteiros para cinema, além de algumas poesias. É estudante de audiovisual, já tem dois roteiros filmados de curta-metragem. É ator.

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Mudar de vida de João Manuel da Silva Rogaciano

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ra um gestor de sucesso, um self made man. Todavia, toda a sua vida se dera dentro de uma mentira. Desde cedo, compreendera que não se pode ser sincero neste mundo preconceituoso. Aprendera a disfarçar os seus desejos. A dissimular os seus mais básicos sentimentos, as suas emoções. A simular o que sentia o que não sentia. Que desejava o que não desejava. Criou barreiras para se proteger. Optou por ficar “fechado no armário”, sem se atrever a sair. Os anos foram passando, e ele fechado em sua concha. Isolado, só. Vizinhos, colegas e amigos não conheciam os seus sentimentos reais. Estavam longe de imaginar que ele se sentia atraído por outros homens, que era gay. Seu bem-estar na sociedade, a garantia de permanência no emprego, os amigos, tudo dependia de sua capacidade para simular uma heterossexualidade que sabia nele não existir. Há muito que aprendera a olhar para uma mulher, simulando sentir-se atraído por sua beleza, sem, todavia, nada sentir. Certo dia, cansado de tanta hipocrisia em sua vida, decidiu mudar. Sair do armário, mudar de emprego, de cidade, de amigos. Nem pensou duas vezes: trocou de endereço, pediu demissão no emprego, despediu-se dos amigos e partiu

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para uma cidade afastada. Fez novos amigos e conhecidos, que aceitavam a sua inclinação sexual. Começou a procurar emprego nos anúncios dos jornais e na internet. A oferta era escassa. Estava difícil encontrar um novo emprego, encarar um recomeço profissional. Distribuiu centenas de currículos, mas obteve pouquíssimas respostas, tantas quanto os dedos de uma mão. Fez testes psicotécnicos, entrevistas com psicólogos, entrevistas com os CEOs. Em vão. Sempre que se referia à sua inclinação sexual, a reação era a mesma: “Não temos vaga para você!” Passaram-se dias, semanas e meses. O dinheiro escasseava. A poupança chegava ao fim. Vendeu seu dispendioso Audi e comprou um Ford de segunda mão. Empenhou o seu Rolex. Começava a se desesperar. Até que um dia recebeu carta de uma das empresas para onde havia enviado currículo. Era uma oferta de emprego. Cargo: gestor de recursos humanos. Sem pensar duas vezes, respondeu à carta, aceitando a entrevista proposta. No dia e hora marcados, vestindo a sua melhor roupa, estava ele no gabinete do diretor da empresa, sendo submetido à entrevista. – Sr. Gabriel Fonseca, vejo que tem um perfil acadêmico impressionante e um currículo profissional muito interessante – referiu o CEO, elogiando o candidato. – Muito obrigado, senhor diretor. – foi a resposta do ansioso Gabriel – E, se me contratar, vai ver que sou o homem certo para o cargo! O CEO analisou mais uma vez os papéis que tinha sobre a mesa. – Solteiro, mora a cinco quilômetros da empresa, hum hum..., hum hum… Fez uma pausa, tamborilando com os dedos da sua mão direita no tampo da mesa. E Gabriel cada vez mais nervoso.

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O CEO levantou os olhos dos papéis, parou com aquele insuportável movimento cadenciado de dedos, e, olhando para Gabriel, questionou: – Antes que eu anuncie a minha decisão, gostaria de acrescentar algo? Gabriel sentiu o estômago contrair-se, como se tivesse sido violentamente esmurrado no baixo-ventre. Foi acometido por uma tremenda azia. Precisava conseguir aquele emprego, se quisesse dar continuidade à mudança radical que iniciara. Mas, se por um lado, mudar de vida era um ato de coragem, por outro, também significava mudar de atitude. Significava deitar o muro abaixo, baixar as barreiras e assumir a sua condição. Porém, sabia que, se o fizesse, perderia o emprego. Sentia-se entre a cruz e a espada. Decidiu-se: – Senhor diretor, tenho algo a informar. – fez uma pequena pausa e respirou fundo – Sou homossexual. Gay! Pronto, já havia dito. Agora, sentia-se aliviado, apesar da certeza de que ficaria sem o tão almejado emprego. Preparouse para ouvir a recusa do outro. – Senhor Fonseca, lamento muito – começou o CEO por dizer, escolhendo as palavras com cuidado –, mas esta empresa não admite homo... Gabriel levantou-se. Já sabia o que viria a seguir. Não fora contratado. – Oh, homem!… Sente-se! – disse o CEO irritado – O que foi que lhe deu? – Desculpe-me, mas já sei o que vai dizer. Estava apenas a lhe poupar o trabalho de… – Gabriel sentou-se, desanimado. – Como pode saber, se não me deixa terminar? – o zangado CEO mudou de expressão e continuou: – Dizia eu que esta empresa não admite homossexuais, nem heterossexuais, nem bissexuais. Esta empresa admite colaboradores. Pessoas.

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Esta entrevista tem por fim recrutar um Gestor de Recursos Humanos, e um Gestor competente para o cargo que vou contratar, independentemente de sua orientação sexual. Gabriel, pasmo e agora cheio de expectativas, era todo ouvidos. O CEO levantou-se, estendeu a mão a Gabriel e concluiu, com um rasgado sorriso: – Portanto, está contratado! Bem-vindo a bordo da nossa empresa! Aliviado, com lágrimas nos olhos, Gabriel sorriu e aceitou a mão do CEO e o emprego.

João Manuel da Silva Rogaciano é português e engenheiro eletrotécnico. Gosta de ler e escrever. Obteve, em 2009, o 1.º lugar (prosa) no Prêmio Literário Irene Lisboa, o 1.º lugar nos Jogos Florais de Penamacor e o 3.º lugar no Prêmio Dr. Hernâni Cidade. Tem um conto publicado na “Antologia de Talentos Fantásticos 2009”, além de um conto selecionado para integrar a coletânea “Histórias de Trabalho 2009” (Prefeitura Municipal de Porto Alegre – Brasil).

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O anjo de Sorocaba de Maria da Guia “Neste mundo só há duas tragédias. Uma é não ter o que se deseja, a outra é consegui-lo!” [Oscar Wilde]

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Professor Edgard, um homem de 52 anos, de aparência agradável e jovial, tinha planejado iniciar suas aulas de literatura universal com o grandioso e instigante Oscar Wilde, poeta cuja obra admirava, em especial. No primeiro dia de aula, Gabriel entrou apressado e sentou-se na última cadeira, apartado, no fundo da sala. Gabriel era um jovem de beleza deslumbrante e fascinantes olhos verdes. Ao vê-lo, em um átimo de segundo, o professor foi acometido por uma estranha sensação; mas jamais suporia que, dali em diante, aquele belo rapaz viria a abalar o seu mundo. Com o passar do tempo, o sensível professor começou a perceber que algo de muito forte os atraía. Mas continha-se ao admitir que tal fato significava um grande contratempo, pois era sabido que, na Universidade, não era permitido qualquer tipo de relacionamento íntimo entre professores e alunos. Ademais, pensava, estava, naquele momento, no ápice de sua carreira, e logo viria a eleição para a Reitoria, sonho que ele, Edgard, ambicionava desde que concluíra o doutorado na França. E tinha também a obcecada Carmela, uma colega que nutria por ele uma paixão desenfreada, e não o deixaria em paz, se soubesse. Era preciso ter cautela.

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Mas de nada adiantou estar de sobreaviso. Em uma sexta-feira, quando todos tinham se retirado, Edgard foi agarrado e dominado no banheiro da faculdade, e, antes que pudesse reagir, Gabriel tapou-lhe a boca com vontade e murmurou baixinho, em tom irresistivelmente carinhoso, bem dentro de seus ouvidos, que não aguentava mais, que estava enlouquecendo de paixão, e que, se não fizesse aquilo, seria capaz de um ato grave e doloroso. Seu beijo se alastrou como uma labareda de fogo sutil, que alcançou as veias, os nervos e os corpos daqueles dois homens, incendiando-lhes o coração e queimando suas almas na mais voraz e enlouquecida paixão. Na república livre do apartamento de Edgard, o amor se instalou liberto das amarras hipócritas das convenções. Perfeito, sem preconceito, livre, feliz e verdadeiro dentro daqueles corações que, ali, se entregavam por inteiro. E o amor soberano cantou vitórias, indiferente ao nome que pudessem lhe dar. Era a glória do amor, o amor complexo que não tem cara, cor, credo ou sexo. Carmela comentava sobre a amizade dos dois com outros colegas. Certa feita, disse, com despeito, que achava Gabriel um esnobe abonado, filhinho de um fazendeiro de Sorocaba muito rico, mimado, e que a ninguém, por ali, ele dava trela. Com exceção, claro, do professor Edgard! Eram vistos sempre juntos na biblioteca, almoçando sorridentes no bandejão, visitando felizes a pinacoteca. Carmela tinha obsessão por Edgard. No passado, havia declarado a ele sua paixão, mas fora repelida. Guardava consigo esta mágoa, que nunca haveria de esquecer. No fim do ano letivo, Gabriel foi passar o Natal com os pais em Sorocaba, e Edgard, solitário e depressivo, resolveu dar uma esticada na boate Flor-de-Lys. Lá, conheceu Elvis, um cafajeste de olhos verdes convidativos que muito o im-

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pressionou. Elvis convidou-o para beberem no bar, e lá o engabelou. Dois dias depois, o professor foi encontrado em seu apartamento, por Gabriel, caído no chão, nu e desacordado. O quarto estava todo revirado. Edgar repetia incessantemente: “Eu não me lembro de nada, meu amor; verdadeiramente, só sei que chegamos à boate, fomos até o bar e pedimos uma bebida. Depois, não sei de mais nada.” Gabriel, em desvantagem, fuzilava-o com os olhos transbordando de ódio enquanto preparava sua mochila de viagem. Edgar implorava seu perdão. Gabriel, transtornado, berrava: “Falso! Jurou amor eterno, acreditei em você. E você fez de mim um palhaço.” “Não!” – gritava Edgar, segurando seu braço – “Eu te amo. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Acredite em mim, por favor. Não saí por mais uma transa, eu saí porque era noite de Natal, você estava longe e eu não podia tê-lo perto de mim. Não fiz por mal.” Gabriel não se enterneceu, vomitava palavras de ciúmes. Finalmente, bateu a porta e saiu da vida de Edgard. “Perdi.” – dizia o professor entre lágrimas e desesperança – “Perdi o anjo de minha vida, perdi minha criança...” No ano seguinte, para infelicidade de Edgard, Gabriel não se inscreveu na Universidade. Era uma tarde amena de agosto, quando Edgard, com o pensamento longe e amargando seu desgosto, surpreendeuse com a entrada de Carmela em seu gabinete. Ele mal teve tempo de jogar a foto de Gabriel pra debaixo do tapete. Carmela, sem compaixão, pôs-se a atacar sua vida e a fustigar sua solidão, sem nenhuma ética. Alheia a tudo, implorava por seu amor. Sem demora, abriu a blusa e exibiu-lhe os seios. “Eu te amo, veja... Eu te amo!” Edgar firmemente a rechaçou, empurrando-a para fora da sala, e censurando-a por aquela cena patética. Vermelha de vergonha e ódio, ela cuspia: “Por que me

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despreza assim? Já sei... Está sentindo falta de um certo aluno de olhos verdes.” “Saia daqui!” – Edgard a repelia – “Saia imediatamente, sua praga, antes que eu perca a cabeça.” E, antes que a porta se fechasse, ela ainda teve tempo de ameaçá-lo: “Você me paga!” Ninguém, além daquelas paredes, viu o ódio estampado na face de Carmela enquanto ela corria para o alojamento, em total desalento. Edgard ainda se recuperava do inconveniente assédio de Carmela, quando Gabriel entrou. Uma visão gloriosa e reconfortante. Gabriel, cativante, trazia-lhe uma proposta delirante: “Vim pedir que venha comigo para onde eu for. Abandone tudo isto, meu amor!” Edgard respondeu hesitante: “Mas... Eu não posso, não posso, Gabriel!” O jovem, ofegante, insistia: “Por que não pode? Todos esses livros, toda a sabedoria que o aprisiona aqui não lhe dizem que devemos buscar a felicidade? Que, de Sócrates aos contemporâneos, todos os autores não falam da essencialidade do amor? Por que não se render, então, à felicidade? Aqui estou, eu sou o amor, eu sou a materialização da sua felicidade, eu sou o prazer.” Pálido, febril, sem ar, Edgard verbalizava pensamentos confusos: “Não, espere... Não é bem assim, minha criança.” – dizia Edgard em parafuso – “A vida não está lá na ficção. Ela está aqui, e é esta minha realidade. Aqui fiz minha carreira, meu coração; recomeçar a vida aos cinquenta em terras estrangeiras? E se você se cansar? Dependerei de sua caridade? Não, não! Podemos nos magoar. Como viver sem asas para voar?” “Eu tremo só em pensar em te perder.” – disse o jovem, colando seu corpo ao dele – “Não aguentei a saudade.” As lágrimas iluminavam os belos olhos de jade. Edgard, não resistindo à dor profunda que os unia naquele instante, sucumbe ao sentimento represado. E um beijo apaixonado cala o doce lamento. Ouviram cânticos de Aleluia, nesse momento.

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Os dois amantes, inebriados de paixão, foram incapazes de perceber que alguém abria a porta da sala como um raio. O estampido dos tiros ecoou pelos corredores do prédio, como um último suspiro. No gabinete do Reitor, pessoas se aglomeravam estupefatas diante da cena dolorosa: de um lado, Carmela, com a arma na mão, gritando furiosa, para quem quisesse ouvir: “Veados, veados!” Do outro, Gabriel e Edgard, amantes sem sorte, ambos com um tiro no abdômen, dormiam abraçados, abençoados na morte, em um leito de sangue, da cor do amor, do amor “que não ousou dizer seu nome”.

Maria da Guia é dramaturga, contista, roteirista. Premiada no Japão, no IX Festival de Vídeo de Tókio, em 98; premiada pela UEB/RJ com o conto infantil “A Estória do Jacaré Zezé com a Tartaruga Calunga”. Formada em Direito e Letras pela Universidade Federal da Bahia, autora de peças encenadas no RJ. Premiada na Bienal do Livro 2009 do Rio de Janeiro com o conto “O Bicho de Bandeira”.

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le viajou muito, estudou em Londres, e voltou com piercing, palavras estranhas e um namorado. Quando chegou, não entendi muito bem a figura presente do amigo. Um rapaz de ombros largos, ex-praticante de remo, arquiteto. Eu nada disse, e fingia não entender minha mulher: “Você não vê o óbvio, não enxerga um palmo à frente do seu nariz; você só vê o que lhe convém.” Mas este era um discurso comum, que ela sempre proferia, fosse qual fosse o assunto. Era algo que se perdia num lodaçal de palavras ditas, um mantra que, ao longo do casamento, acaba perdendo o sentido. Esperava que um dia meu filho aparecesse em casa com uma menina, linda, e eu, sorrindo, dissesse algo do tipo “Vou trocar sua mãe por sua namorada, você que arrume outra!”, e essas coisas de que todos gargalhariam, e eu levaria um beliscão. Afinal, não criei meu filho de outra forma. Em meu pensamento, imaginava que, um dia, o garoto iria se enrabichar por uma bela moça, que viria à minha casa e me chamaria ‘sogrinho’ ou algo assim. Mas aqui ouço a voz de Rodrigo, um amigo de anos: “O mundo mudou e todos estão pirados.” O rapaz apertou minha mão com tanta força e por tanto tempo – mostrando um interesse tão vívido pelo pai do

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amigo – que tive de pedir minha mão de volta. Falava de seu orgulho por estar ali, na casa de um nadador que fora a Los Angeles, e que a casa era realmente mais bonita do que imaginava, que meu filho tinha sido modesto. Embora não conseguisse vê-las, sabia que as mulheres estavam rindo. Minha filha abraçou efusivamente o moço e depois deu um tapinha nas costas do irmão, dizendo: “Aí, rapaz!” De fato, o mundo mudara e as pessoas pareciam enlouquecidas. Os dias foram passando e a presença do jovem foi ficando cada vez mais frequente e intensa. Aniversários, jantares, troca de receitas, conversas amenas, longas apresentações de fotos. A cada dia convivíamos mais e mais com o poder esmagador de seu sorriso. Chegou também o dia em que as famílias se conheceriam. O rapaz forte, sem pai, trouxe a mãe e uma irmã tímida. Eram pessoas muito distintas; encantou-me o modo com que a mãe contou como criara os filhos sozinha, principalmente ao falar de sua alegria em ver o filho na equipe de remo: “Pena que não foram a Atenas!” Falava do filho como se ele fosse um herói! Era bonita, apesar da vida dura que enfrentara, jamais se casara de novo, e, com tudo isso, mantinha uma classe natural, que não se compra em antiquários. Jantar finalizado, conversa na sala. Horas após sua chegada na casa, depois de tanta conversa alegre, estava aquela mãe chorando, do nada. Chorava sem parar e com ritmo, por todas as coisas – como diria Guimarães Rosa, pelas coisas vividas e pelas que viriam. Não sei, mas acho que entendia seu choro, assim como entendi o abraço carinhoso que ela recebeu de minha esposa: naquele momento, ambas estavam em consonância. O filho estendeu-lhe um lenço de papel e disse: “É assim mesmo, é uma manteiga derretida.” E partiram. Meu filho foi junto, e, como nunca havia sentido antes – nem em sua despedida para a Inglaterra, nem quando, aos quatorze anos, adentrou o hospital quase morto pela queda de um cavalo -, jamais sentira tão forte uma perda.

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Esperei que as mulheres saíssem para acompanhar as visitas até o carro, e caí no sofá esperando o sinal da imensa plateia que assistira à minha derrota. No clube, comentei com os amigos mais próximos que, em Guimarães Rosa, isso tudo seria impossível, ao que fui, mais uma vez, abertamente recriminado: eu só via o que queria ver. “Mas Diadorim era mulher.” – argumentei – “Uma donzela guerreira!” Encerrei a conversa dizendo que isso jamais haveria em Machado, ao que fui contestado de novo: “Vai que Bentinho fosse apaixonado por Escobar! E o que dizer de Proust?” Na verdade, queriam me chatear, mas a zombaria dos amigos é um bom vinho: só não mata a sede. O pior mesmo eram as piadinhas sobre quem ficava por cima. Evidentemente, sempre defendi meu filho. Mas quando, no clube, veem os ombros intermináveis de remador do outro... Fui a Londres, dia desses, para uma reunião anual. Foram dias aborrecidos e solitários. Saí a pé, olhando os prédios, as ruas, o que mudara em tantos anos – conheci a cidade nos anos 80 –, e procurei pelo que poderia ter mudado a vida de meu filho. “Foi boa a viagem?” – perguntou minha mulher. Ao que respondi: “Não muito. Londres está tão diferente!” Encontrei os dois no supermercado, meu carrinho cheio, o deles também. Dois casais a tentar encher uma despensa, dois casais a tentar uma vida em comum. Enquanto a mãe conversava com o filho, passei a observar ambas as compras. Massas, congelados, azeite, verduras, tudo muito parecido, coisas de comer. “Gosta disso?” – perguntou o outro. – “É um tempero oriental, mas um pouco forte” – explicou. “Se quiser experimentar, fazemos um prato pra você, que aprendemos em Amsterdã. Amsterdã; não Londres.” Ao que respondi gentilmente: “Não, obrigado, eu não gosto muito dessas coisas... modernas.” E ele argumentou: “Pai, não tem nada de moderno em algo que usam na Indonésia há séculos!”

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Por insistência da mãe, foi marcado um jantar, o primeiro jantar na casa do meu filho, casado. De novo no clube – do qual a família do rapaz era sócia desde a fundação –, pela primeira senti-me envergonhado na frente de meu filho. Quando criança, ensinei-o a nadar, mantive-me sempre ao lado dele, observando-o o tempo todo. Creio que dei muitas vidas a meu filho, como se, à medida que fosse envelhecendo, passasse para ele a vida que se esvaía de mim. Nunca tive receio de ficar nu diante dele, talvez como uma forma fazê-lo conhecer o universo masculino, os tesouros e segredos da vida íntima de um homem, esse poder que se apresenta, indiferentemente à nossa vontade, quando menos queremos, poder de jagunços e gladiadores, de reis e militares, de astronautas, de atletas e de... Mas agora me via envergonhado. Sentia-me velho e pequeno diante dos corpos jovens e brancos, depilados. Pela primeira vez, usei o banheiro fechado. Mas o rapaz era meio assim, um guerreiro, e passei a lastimar o fracasso de Atenas. Voltamos sem medalhas de Los Angeles, mas fomos. O rapaz trabalhava loucamente, amava o que fazia, cuidava da mãe chorona, retribuía com um sorriso a carranca da vida. Na casa deles, pedi para fumar um cigarro lá fora. “Quer companhia?” Tinham sido bem criados esses meninos. Disse que não e que ficassem à vontade para tirar a mesa. Foram lá os três cuidar da arrumação. Andei pelo jardim com detalhes orientais. Uma raia comprida ao longo do muro, uma bica nada singela, horizontal, com água perene, ao fundo, luzes estratégicas. Havia uma quaresmeira no fim do terreno, alta e linda, bem mais antiga que a casa, preservada com todo o cuidado. Estava florida. De repente, o cigarro me pareceu inadequado: profanava um templo. “Gosta?” – ouvi. Era a voz de meu filho. – “Fiz questão de preservar, ela me lembra muito a infância e morro de sau-

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dade da casa da vovó, das aulas de equitação. Esta árvore é sua presença na minha casa, pai...” Engoli em seco e perguntei: “E cadê sua mãe?” Ele respondeu: “Não conte pra ela. Acho que a presença dela está na desarrumação da cozinha! Um jardim tão cuidado e uma cozinha bagunçada, não é estranho? Há tantas coisas estranhas. O jardim foi todo projetado, mas em função da quaresmeira. Foi ela que deu vida a ele.” Contemplei a árvore, e, em seguida, voltei os olhos para ele. Mas eu estava sozinho. Retornei à sala, sentei-me no sofá assinado e entendi, por fim, a razão de terem me presenteado com um livro cujo título era O Sentido da Beleza.

Benedito Costa Neto é paranaense de nascimento, mora em Curitiba desde 1993. É professor de Línguas e Literatura, escritor, crítico de arte. Em 2008, obteve menção honrosa no Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio, e, em 2009, foi um dos dois ganhadores da região Sul da Bolsa de Criação Literária (romance) da Funarte. Tem doutorado em Literatura.

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Monsieur Yeux Bleus de Priscylla Piucco

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pracinha era muito frequentada em dias de sol. Mas não era aquele um desses dias. Ainda assim, crianças corriam, divertindo-se, pela camada de neve acumulada por toda a madrugada de um estranho inverno. Não era costume nevar naquela região, apesar do intenso frio. Por isso, as pessoas estavam nas ruas, admirando o milagre. Milagre ou efeito do caos climático da Terra, tanto fazia. Fernando observava as pessoas através da lente de sua câmera. Dizia que por ali podia filtrar a visão do mundo, transformando tudo e todos em arte. Girou um pouco para a esquerda, tentando captar outra cena, quando um par de olhos azuis cintilou na direção da câmera. Parou e ajustou o foco. O dono dos olhos não prestava atenção ao fato de que estava sendo mirado, apenas olhava para o prédio atrás de Fernando. Uma criança esbarrou na perna do dono dos olhos azuis, fazendo-o, enfim, desviar o olhar. Ele sorriu para a menina ruiva, que mal conseguia andar por causa da pesada jaqueta. Prontamente, ajudou-a a se levantar. Ao levantar a cabeça, notou o rapaz com a câmera em sua direção. Franziu o cenho levemente, sem parecer ofendido, e sorriu fraco.

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“Tá fazendo o que?” – perguntou em tom educado, achando divertido ser alvo de um fotógrafo que ele nem conhecia. “Fotografando” – Fernando respondeu, ironicamente, mas sem soar grosseiro. O dono dos olhos azuis, os mais claros que ele já havia visto, sorriu. E Fernando abaixou a câmera, retribuindo-lhe o sorriso. O Monsieur Yeux Bleus – como Fernando acabara de apelidá-lo, pelo simples fato de odiar não saber qualquer coisa, e isso incluía o nome de algumas pessoas – aproximou-se e estendeu a mão, ainda com um discreto sorriso. “Henrique Vanbilt” – apresentou-se. Ao que Fernando apertou sua mão, ainda que não tivesse correspondido à apresentação, deixando Henrique no vácuo. “E tem muita coisa bonita pra você fotografar” – soltou a mão e apontou na direção de um grupo de crianças. Fernando assentiu, levemente envergonhado. “Já tirei várias fotos delas. Eu estava procurando um...” – pausou, pensando no que exatamente estava procurando. Não lembrou. – “... ângulo diferente.” – completou com a primeira coisa que lhe ocorreu. Henrique sorriu um pouco mais. “Já fui chamado de muitas coisas. ‘Ângulo diferente’ é a primeira vez.” Embora a colocação não fosse pretensiosa, coisa que Henrique não era, Fernando se ofendeu. Não era como se fosse um stalker, ou coisa do tipo, e estivesse procurando Henrique. Girou os olhos para o outro. “Eu não estava procurando por um par de olhos azuis, uh. Você foi que surgiu do nada na minha lente.” Não era isso que ele pretendia dizer. Era algo como ‘como você se acha, cara’, mas ficou no pensamento, porque soaria um tanto desconcertante argumentar enquanto o outro sorria daquele jeito. “Par de olhos azuis já me chamaram.” – comentou, fingindo uma expressão pensativa. Fernando, contra a própria

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vontade, riu baixo. “Você não tem um nome? Ou só não quis me dizer?” – Henrique perguntou, apagando o riso de seu interlocutor. “Desculpe.” Estendeu a mão, para cumprimentar Henrique pela segunda vez. Talvez não precisasse fazer isso. Bem, ele queria fazer e isso é o que basta para Fernando tomar suas atitudes: querer. “Fernando de Fáveri.” Henrique olhou-o fixamente, sem imaginar o que seus olhos poderiam causar em alguém, e semicerrou-os, piorando a situação para Fernando, que apenas devolvia o olhar, porém com os olhos minimamente mais abertos. Então Henrique tocou sua mão, apertando-a com firmeza. Como se saísse de um transe, Fernando piscou e, enfim, soltou a mão de Henrique. “Prazer!” – Henrique disse, sorrindo e dando um passo para trás. – “Preciso ir, Fernando. Qualquer dia nos vemos, espero.” Passaram-se três segundos até Fernando assentir, sorrindo discretamente, ao entender o que o rapaz deixara em sua mão direita. “Nos veremos.” E virou-se, para andar na direção contrária, a caminho de seu apartamento. Ambos caminharam em direções contrárias, afastandose paulatinamente. Fernando olhou para trás, exatamente no momento em que Henrique decidira fazer o mesmo. Trocaram mais um sorriso e tomaram seus devidos rumos. Fernando guardou o pequeno cartão com o número do telefone do “professor de piano”, conforme dizia o papel, no bolso da jaqueta. E, caminhando na neve, voltou para casa, dando por encerrada sua jornada fotográfica do dia. Sentia que aquele seria, realmente, um inverno interessante. Um inverno em que, talvez, Fernando tenha encontrado o seu ângulo diferente.

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Priscylla Piucco é acadêmica de Letras, tem 20 anos e escreve desde os 17, por puro prazer. Participou de uma coletânea, onde contribuiu com três contos infantis em 2009 (livro com lançamento previsto para 2010). Escreve histórias capituladas com temática gay desde que iniciou seu caminho na escrita – ainda que não profissional.

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Os dois rapazes de Reinaldo Fernandes

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s dois rapazes caminham lado a lado pela calçada repleta de transeuntes. Parecem estar à vontade no meio da multidão. Nem se dão conta das muitas pessoas que, em seu infindável vai-e-vem, quase esbarram neles. No íntimo, porém, há alguma preocupação naquela caminhada, onde se veem cercados por tanta gente estranha, das mais variadas idades, homens e mulheres. Resolvem atravessar a avenida. Gostariam de poder fazer isso, com a atenção voltada apenas para os veículos vindo de encontro a eles, e não para seus respectivos motoristas e passageiros. Mas era quase impossível ignorá-los. Conversam, aparentemente descontraídos, sobre algum assunto que só eles conhecem, e só ao par interessa. Quem passava rapidamente por eles ouvia apenas palavras desconexas ou meias sentenças. Da mesma forma, os dois jovens desconhecem as conversas alheias, vindas do lado direito, do esquerdo, da frente, de trás, de todos os cantos. Entretanto, tentam adivinhar quais seriam. Aqueles ilustres desconhecidos falariam apenas sobre trabalho, escola, música, filmes, esportes? Estariam se referindo a políticos, parentes, amigos ou a celebridades do mundo artístico?

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Às vezes sorriem os dois, sorrisos relativamente alegres. Contudo, os lábios não se alargam em plenitude; algo invisível, muito resistente, talvez um fio de tristeza, parece contê-los, não lhes permitindo chegar ao máximo. Vários outros sorrisos podem ser vistos: discretos, largos, estreitos, de dentes aparentes, de bocas muito abertas, amarelos. Seriam de diversão, demonstração de simpatia, contentamento, felicidade ou deboche? E é justamente por desconhecerem o motivo dos sorrisos alheios que os deles não se abrem plenamente. Contemplam as vitrinas, aos olhos deles bem mais interessantes. Poderiam se ater apenas à apreciação do que era exposto através dos vidros, mas também relanceiam ao redor. Tentam decifrar para onde ou a quem se dirigem as vistas daqueles que parecem também estar tendo a atenção atraída. Será que observavam somente as roupas que vestiam os estáticos manequins, alguns com meia cabeça, outros que eram apenas um tronco, ou os inteiros, magérrimos? A atração viria dos mais variados aparelhos eletrônicos, reproduzindo uma infinidade de sons e as mais coloridas imagens; dos eletrodomésticos enfileirados ao longo de claras paredes; de doces e sanduíches a exalar diferentes aromas nos carrinhos dos ambulantes e nas lanchonetes; dos homens e mulheres cuja aparência era capaz de encantar alguém? Difícil saber. Por isso, os olhos deles, distraídos, não conseguem se manter somente naquilo que realmente desejavam ver. O que mais poderia lhes ser apresentado ali? No estado em que se encontravam, com o espírito em alerta, com alguns poucos minutos de caminhada, observaram as mais variadas cenas do cotidiano, ao longo das avenidas. Coisas que talvez não fossem percebidas sequer pelas pessoas envolvidas. Talvez, em outra ocasião, em outra situação, também eles não se dessem conta delas.

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O passeio continua. Então, a certa altura, ouvem pessoas proferindo insultos contra alguém que os dois não conseguem identificar no meio daquela agitação. Quem seria o insultado? Estaria ainda ali entre eles, teria se ocultado em algum canto próximo, ou havia se afastado dali, talvez fugindo em disparada? Por qual motivo estaria sendo molestado? Aquelas duras palavras seriam justas? Não sabiam nada a respeito do ocorrido; no entanto, se preocupavam. Se as cenas anteriores haviam passado despercebidas no meio da multidão, aquela, decididamente, não era uma cena ignorada, ao menos por significativa parte dos transeuntes. Se fosse no dia anterior, aquela massa teria presenciado também um outro espetáculo impossível de não ser notado: o espancamento de um rapaz, conforme havia sido informado aos dois jovens pela manhã. Eles nada sabem do infeliz agredido e sequer imaginam o motivo da agressão. Contudo, temem. No começo de tarde, pais ou mães seguram as mãos de seus filhos, namorados de namoradas, maridos de esposas. Duas garotinhas, como que para adquirirem segurança, também entrelaçam os dedinhos antes de caminharem em direção ao colorido palhaço fazendo graça e distribuindo balas diante da loja que o contratara para atrair clientes. Ao contrário da grande maioria dos passantes, que segura pacotes, bolsas ou outros objetos, a dupla não carrega nada, e também não está de mãos dadas. No balançar dos braços pendentes, a acompanhar o ritmo da marcha, no entanto, frequentemente as costas dos dedos de um roçam os do outro. Seriam mais felizes se pudessem comprimir palma contra palma e mostrar a todos o carinho entre os dois. Porém, pelo fato de poderem estar no pensamento daqueles próximos a eles, de talvez serem o motivo das conversas e dos risos alheios, alvo de olhares, insultos ou agressão, se veem impedidos de demonstrar o que realmente são.

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Decidem sair dali o mais rápido possível e ir para algum lugar mais seguro, onde estarão livres de tudo aquilo que os aflige no meio daquele exército de desconhecidos, que circulam por aquele local de onde lhes parece emanar toda a intolerância. Mais tarde, já no isolamento do pequeno apartamento alugado, finalmente se libertam para exteriorizar o amor. É um lar, onde tentam ser plenamente felizes, longe do tribunal das multidões, longe da casa paterna, de onde não há muito foram enxotados, humilhados.

Reinaldo Fernandes já produziu romances, novelas e contos. Tem trabalhos premiados no IV Prêmio Brito Broca de Literatura de Guaratinguetá 2004; no 8º Concurso de Literatura 2006 da Fundação Cultural de Canoas; no Concurso Mapa Cultural Paulista 2007/2008, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado; no VII Concurso Literário “Cleber Onias Guimarães” 2007, promovido pelo Conselho Comunitário da Cidade de São Paulo; e no Prêmio Literário Livraria Asabeça 2007.

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Ordens são ordens de Floriano Lott

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m uma noite daquelas, de uma chuvarada interminável, dona Cacilda queimou o último fio de palha benta na missa de Domingo de Ramos, clamando aos Céus que pelo menos os trovões e os relâmpagos cessassem. Não obstante, a coisa piorava minuto a minuto. Foi quando dona Cacilda teve uma ideia tão luminosa quanto os relâmpagos lá de fora: uma promessa. Prometeu que, se aquele inferno terminasse, Cissinho, seu filho único, se tornaria padre. É claro que qualquer tormenta uma hora cessa, mas dona Cacilda era carola de carteirinha. Em solteira, fora uma senhorita de sacristia; e, depois de casada, passou a uma carmelita descalça. Quando Cissinho terminou o primário – que hoje tem outro nome e outra eficácia -, a mãe já queria interná-lo num monastério. Porém, o pirralho já olhava as priminhas e afins com aquele olhar de que quanto mais parente mais quente, e meteu aquela conversa fiada de que bem poderia terminar o ensino fundamental no Mosteiro de São Bento. Ganhou a parada. Aos catorze, quando estava prestes a encarar o segundo grau, a mãe, dona Cacilda, não abriu mão do monastério e da promessa. Cissinho, que, àquela altura, já era chamado pela

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turma de Cissão, apelou para aquele argumento chove-nãomolha de que, ao invés de frequentar um seminário regular presencial, poderia muito bem se formar, e ser Bacharel em Teologia, utilizando o método de educação à distância. Mas dona Cacilda era de opinião que, para conhecer melhor a palavra de Deus e para exercer o ministério cristão, o seminário teria que ser convencional, ao vivo e a cores. E assim foi feito. No primeiro dia de clausura, o Superior chegou para o ex-Cissinho, ex-Cissão e ora irmão Cícero, e pagou a missão: – Filho, como primeiro ato de humildade, você vai circular pela cidade e angariar a maior quantidade de óbolos possível. Eufemismo para dizer que o seminarista deveria pedir esmola no centro da cidade de São Paulo. – Mas padre, eu não conheço as ruas desta cidade... – É verdade. Por isso, já mandei o jardineiro ir até o shopping e adquirir um GPS de São Paulo. Quando ele voltar, irá procurá-lo para entregar o equipamento diretamente. O roteiro você traça como bem entender. O problema é seu; e o tempo gasto também. O jardineiro voltou, o irmão Cícero ganhou a estrada e não voltou naquele dia. Nem no outro, nem nunca mais. Nunca mais, até a Polícia ser acionada e capturá-lo em um animado luau no Guarujá; bermuda florida, peito nu, coberto de tatuagens, pescoço enleado de correntes douradas, sandálias havaianas, uma gravata amarrada na cabeça fazendo as vezes de tiara, uma lésbica de um lado e um gay de outro. Reunidos no seminário, seu Doca, o pai, dona Cacilda, a mãe promesseira, o Prior do Seminário, o Padre Comissário Provincial, o Bispo Diocesano e o diabo a quatro. A mãe atestava, com veemência, que o filho era apenas uma vítima. Os religiosos não sabiam o que decidir, e seu Doca fazia força para não rir daquela inusitada situação.

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No final, venceu o bom senso: o bom irmão Cícero voltou para casa e tornou-se novamente o Cissinho das primas e afins, e o Cissão da patota; o jardineiro foi despedido por justa causa. Bronco e semianalfabeto, o jardineiro foi ao shopping e, ao invés de pedir um GPS da cidade de São Paulo, trocou as bolas e adquiriu um “Guia GLS São Paulo”, que de gay para gay, descreve sem pudores nem rodeios, analisa e comenta os melhores roteiros de diversão, entretenimento, cultura, flerte e sexo para gays, lésbicas e simpatizantes, na cidade de São Paulo. O irmão Cícero – hoje capitão da PM – só cumprira as ordens superiores.

Floriano Lott tem uma coluna sua de crônicas na Revista Única de Feira de Santana.

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Olhos Negros de Nathalie Gaudêncio

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stava praticamente violando um código pessoal de honra. Apesar de séculos tomados pela Besta, não conseguia conter aquele sentimento simplório e humano que duelava com Ela. Um duelo oculto pela escuridão da eternidade que o envolvia. Eram raros os momentos em que não gostava de sua beleza exótica, sua inteligência e do prazer que sentia em apreciar a não vida que tinha. Podia agora, se prestasse atenção, escutar o doce pulsar do sangue correndo atrás da vida pelas veias, contemplar o rosto sereno do garoto adormecido, a impertinente mecha de cabelo escuro que lhe caía sutilmente sobre a testa, num contraste atraente com sua pele branca, quase translúcida, e novamente o sangue. Aquele líquido vermelho e espesso o perseguia. Sentiria ele pena de um humano? Não sabia. Então deixou, simplesmente, seus lábios resvalarem por aquela pele cálida, sentindo o sabor daquele humano encantador, que apenas moveu-se em seu sono. Sua língua deslizou úmida e suavemente pelo pescoço do outro. Christian, por não saber ao certo a quem estava tentando, então se deixou levar. Deu uma leve mordida no pescoço de sua

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presa, arrancando-lhe um suspiro deleitoso. Sorriu involuntariamente. – Christian? – a voz soou sonolenta e prazerosa. – O que foi, Die? – questionou, beijando a maçã do rosto do menor, que sorriu abertamente fitando o príncipe a lhe beijar. Via em Christian a imagem da perfeição, com seus cabelos curtos aloirados, os olhos verdes a imitar a mais pura das esmeraldas, o sorriso confortante de dentes brancos e pequenos, que o fazia suspirar. – Nada – constatou sorrindo. Enlaçou o pescoço do seu príncipe, deixando os lábios se encontrarem em um beijo tépido. As línguas deslizavam juntas, em movimentos ritmados e molhados; as mãos exploravam reciprocamente seus corpos ainda nus. Uma sensação estranha se apoderou de Christian, que se afastou abruptamente. Die lançou-lhe um olhar confuso e magoado. Seria uma sensação de perda? Era como se tivesse a certeza de que iria destruir seu objeto de amor. Um enorme abismo preenchido de angústia, no qual se via prestes a se lançar, não havia alternativas. Algum dia houve? Acreditava que não. Fitou a face do jovem moreno, que olhava para ele com desconfiança, beijou-lhe o topo da cabeça e deslizou a mão pelos quadris de Die, deitado embaixo de seu corpo. Mordeu o próprio lábio de forma desesperada sentiu o gosto do próprio sangue. Fitou os olhos escuros do moreno e sorriu com amargura. – Não posso perder-te – disse em tom imperativo, confundindo ainda mais a cabeça desnorteada de Die. – Você não vai me perder – respondeu o ingênuo rapaz, beijando-lhe rapidamente a face. – És tão belo... – deslizou os dedos esguios pela face do jovem, apreciando seu rosto tão feminino. Observou-o corar

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tentadoramente. – Possuí olhos tão escuros... – deixou seus lábios novamente resvalarem por aquela pele. – Lábios tão atraentes, são como imãs para mim... Deitou-se completamente sobre Die, beijando-lhe lascivamente os lábios e descendo a boca ávida até o pescoço. Sua decisão já estava tomada. Mordeu, da forma mais gentil que pôde, aquela pele, dilacerando-a, sentindo o sabor do néctar que tanto desejava novamente. Sentia o sangue se espalhar prazerosamente ao longo daquele tenro corpo. Sugava-o com mais e mais vontade. Então beijou os lábios desfalecidos, dando-lhe vida – ou melhor, a não vida. Dividindo seu sangue com Die, viu o corpo se contorcer antes de morrer e renascer, em seguida, para a eternidade repleta de luxúria. Os lábios, antes inanimados, tomaram-no em um beijo animador, que apenas buscava sangue. Rapidamente se separaram. Suspirou desnecessariamente ao fitar os olhos desesperados e repletos de medo. Definitivamente, não era aquela a sua primeira vítima, mas era a primeira vez que agia com amor, um amor medíocre – a arte sempre sobre o doce comando da Besta. Um amor que nunca sentira em seus anos de vida, e muito menos depois. Era um amaldiçoado. Tão vítima quanto aquele que acabara de transformar. Os olhos de Die estavam mais negros do que nunca. Transmitiam a angústia que sentia e o tremor da dúvida. O que estava acontecendo? – Posso explicar-te – começou Christian, com toda a boa vontade que tinha, buscando as palavras mais amenas para tão dura revelação. – Apenas... Christian sequer chegou a ter a oportunidade de explicar. Possesso, Die avançou sobre o príncipe, de maneira animalesca. Suas unhas curtas e bem cortadas direcionaramse ao pescoço alvo daquele ser. Enfurecido, tentava arranhar

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e socar aquele rosto. Não sabia bem o porquê, só sabia que deveria matá-lo. A cólera tomara conta de todos os seus pensamentos, deixando-o ainda mais perdido. O príncipe não se moveu, permaneceu inerte, aumentando a ira daquele que o atacava. Depois de longos minutos, a criança da noite cansou. E Christian pôde, enfim, concluir: – Apenas lhe dei existência eterna – ponderou e achou que a palavra ‘existência’ encaixava-se melhor do que ‘vida’, naquele contexto. – Juventude, sabedoria... Terás tudo que os mortais desejam desde o início da humanidade. – sorriu de maneira suave. – O que você quer dizer com isso? – questionou o rapaz, irritado. – Diga-me? Uma maldição? Seitas? Demônios? – Você agora é como eu, um vampiro. Um eterno e amaldiçoado vampiro. Então, de maneira única e provocante, valendo-se do dom que só os representantes da realeza possuem, mordeu novamente aqueles lábios bem desenhados, deixando o sangue escorrer por eles e atiçando o ímpeto de Die, que sentia agora uma necessidade sobrenatural de experimentar novamente o sabor inebriante daquele sangue. Em um único impulso, jogou-se contra aquele corpo maior, beijando seus lábios com voracidade. Chupava e sugava os lábios de Christian. Havia sensualidade e sangue. Elementos extremamente perigosos. Quando tiramos a vida aos homens, não sabemos nem o que lhes tiramos, nem o que lhes damos. (Lord Byron)

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Nathalie Gaudêncio começou a ler e escrever histórias homoeróticas há aproximadamente oito meses. A primeira história desse gênero foi lida, descompromissadamente, em uma comunidade do Orkut. Até então não conhecia nada sobre o assunto. Mas simplesmente se apaixonou por contos homossexuais. Diz-se não se enquadrar em nenhuma classificação estereotipada. Apenas aprecia boas histórias, com conteúdo.

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Um Equívoco da Natureza de Lucêmio Lopes da Anunciação

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maca se movia pelos corredores brancos do hospital enquanto Patrícia olhava as luzes do teto a passarem por ela. Sua mãe, como sempre ao seu lado, tentava encorajála em tão difícil momento. O namorado, Eduardo, também estava ali. Ele era peça fundamental nessa história toda. Afinal, aquela cirurgia só fora marcada devido aos seus insistentes pedidos. Agora Patrícia procurava forças para enfrentar o medo; parecia que o coração não lhe cabia no peito. Minutos atrás ela se despia. Primeiro, desfez-se das roupas, depois das joias, que foram retiradas uma a uma, num ritual com ares de despedida. Afinal, havia sempre o risco de problemas com a anestesia, e, se nunca mais acordasse, não precisaria de mais nada daquilo. Com o olhar grave, entregou a Eduardo o crucifixo, a pulseira, os brincos de ouro, despojando-se totalmente dos bens materiais. Naquele momento, começou a refletir sobre valores que antes se mostravam tão significativos e agora perdiam completamente a importância. A bata verde era a única peça que usava quando se deitou na maca, pouco antes de ser levada para a sala de cirurgia. Não deveria pensar em coisas ruins. Mas pensava. O risco de não sobreviver mexia demais com a sua cabeça. Es-

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forçava-se para manter o autocontrole, a caminho do centro cirúrgico. Em alguns momentos, chegava a se apavorar com a ideia de perder a consciência e ficar à mercê dos médicos. Tentava, de todas as formas, focar o pensamento nos aspectos positivos daquela intervenção que lhe traria a chance de viver uma nova vida dali em diante. O sonífero começava a fazer efeito. Quando acordasse, estaria tudo resolvido. Já nos últimos instantes, antes de adormecer, relembrou o tratamento alternativo que fizera no mês anterior. Tratamento esse que foi decisivo para que ela concordasse com o namorado a respeito da cirurgia. Durante uma série de sessões de regressão, Patrícia descobriu muita coisa a respeito de si mesma. Na primeira sessão, ela voltou à adolescência, pouco tempo antes da separação da família. Lembrou-se do olhar intolerante do pai, sempre a repreendê-la em público; por várias vezes, chegou a surrá-la. Quase que diariamente, ela ficava de castigo por usar as roupas da mãe. Num dado momento da regressão, viu os pais discutindo por causa dela. Era manhã de domingo, e todos se preparavam para ir à praia. Quando Patrícia vestiu a saída de banho transparente, o pai arrancoua com violência e a fez em pedaços. A mãe, em vão, ainda tentou defendê-la. Nessa ocasião, as duas foram moralmente ofendidas durante todo o dia. O momento mais cruel, no entanto, foi quando, aos doze anos de idade, Patrícia chegou em casa com um namorado bem mais velho que ela. O pai achou aquilo uma afronta aos seus princípios morais. Vociferou ferozmente e quebrou vários objetos, antes de sair de casa, para nunca mais retornar. Aos prantos e ofegante, Patrícia voltou a si extenuada. A carga emocional de reviver os traumas do passado tinha sido muito intensa. Durante a segunda sessão, regrediu até os dois meses de vida. Patrícia conseguiu perceber muita felicidade ao redor

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de si, sentia-se querida pela família. Havia harmonia no lar, todos queriam segurar aquela criança tão linda, de face corada, que mais parecia uma boneca de louça. Algumas vezes, na rua, chegavam a pensar que aquela criança era mesmo uma boneca, tal era a sua beleza. Nessa época, ainda não havia qualquer indício das mudanças que aconteceriam em sua vida. Seus problemas estavam todos latentes, e só explodiriam mais tarde. Novamente, a regressão tinha sido extraordinária para ela. Dessa vez, havia descoberto o quanto havia sido amada um dia. Mas foi na terceira sessão que ela chegou ao nascedouro do grande problema, no quinto mês de sua gestação. E o terapeuta que conduzia a regressão iniciou o diálogo: – Conte, Patrícia, o que você está vendo agora? – Aqui dentro está maravilhoso, me sinto segura e confortável... – Descreva o local onde você se encontra. – Estou na barriga da minha mãe, cercada de fluidos por todos os lados. Vejo uma mão acariciando a barriga que me abriga, tentando me fazer um afago. Isso faz bem à minha alma... De repente, ela solta um grito de pavor. – O que está acontecendo, Patrícia? – pergunta o terapeuta. – É algo terrível! Estou sendo gerada de maneira errada, e não consigo fazer nada para evitar isso. Maldita Natureza, que não tem respeito por mim! Essa foi a última lembrança de Patrícia, antes de perder os sentidos no hospital. Dentro de pouco tempo, o bisturi do cirurgião iria transformar Patrício em Patrícia, como, aliás, já era conhecida por todos.

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Lucêmio Lopes da Anunciação é natural de Recife-PE, mas mora em Natal-RN desde 1995. Já publicou dois livros: “Paisagens da Vida” e “Paisagens da Vida II”, ambos contendo poemas, crônicas e frases. Em seu site (www.lucemio.com), divulga sua obra literária. Já obteve seis premiações literárias a nível nacional.

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Adelaide que amava Márcia que amava o mar de Nilton Silveira

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ramos duas clientes assíduas do quiosque mais próximo do mar, no Leblon. Para ela, o mar era o que havia de mais belo. Para mim era apenas o mar. Muitos amigos diziam que Márcia — sim, Márcia era o nome dela — tinha cara de ratazana e que não sabiam o que eu via de tão maravilhoso naquela mulher gorda e desmazelada. Sempre procurei — e procuro — ignorar as pessoas que fazem comentários maldosos a respeito de Márcia. De mais a mais, também sou alvo de muitas intrigas. Uma delas é que sou uma prima-dona que não deu certo! Mas nem por isso deixo de usar um make-up digno dos palcos. Márcia foi sempre tão importante para mim, nunca consegui ficar indiferente aos seus peculiares encantos. Em todos os verões — e em muitos invernos —, ao aroma característico que exala a vasa do mar, éramos vistas desvendando cervejas, refrigerantes e outros enigmas acumpliciados com garrafas, copos, cálices e malgas. Hoje, por exemplo, faz esse frio danado, que regela até meus ossos, e a noite já chega para acordar meus medos, mas estou aqui.

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Ah, como me lembro de Márcia! Recordo seu jeitão desataviado, e volto ao passado. Mais especificamente ao dia em que ela reagiu à grosseria de uma estranha que, embriagada, diante da negativa de um gole de sua bebida, tentou atingi-la com a própria amargura: “Você não passa de uma mulherzinha nojenta. É! Mu-lher-zi-nha! Sabe por quê? Porque uma mulherzinha como você jamais conseguirá ter a aparência elegante de uma dama como eu! E, convenhamos, não é qualquer uma como você que vai usar os maiôs de grife que uso e comer as lagostas com que me farto. Não é, baleia? A não ser, é claro, que você se valha das sobras da corja de babacas que vivem neste seu mundinho podre!” Perante tamanha afronta, o que fez Márcia? Absolutamente nada! Ai, que raiva! Eu, ao contrário, teria ficado logo furiosa, armaria o maior barraco e partido para a briga. Mas Márcia não. Era um exemplo de isenção. Não se via nela um laivo sequer de vontade de revidar. E, quando questionada sobre tais eventos — principalmente por mim —, ela repetia: “Não me atingem aqueles que tentam me ofender, dizendo coisas que não sou. E, quando apontam meus verdadeiros erros ou vícios, eu apenas reflito se vale a pena alguma reformulação. E ajo sem culpa, mas com a responsabilidade à qual, como maior interessada no meu próprio progresso, sou chamada.” Nunca consegui seguir os bons exemplos de Márcia, que também reservava a si própria o direito de ser ambivalente. Mormente, quando os dias e as noites eram de tempestade e frio no Leblon. Nesses dias plúmbeos, lá estava ela, em plena praia, com seu puído abrigo de pele tingida em magenta, indiferente aos açoites do mau tempo, sentada diante de algo fumegante cujo conteúdo era sorvido com a polidez exercida nas cortes. E ela, que muitos consideravam um paradigma de simplicidade, naqueles momentos, parecia ser a personifi-

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cação da soberba, o que, para mim, nunca deixou de ser um grande enigma. Não me canso de pensar nessa mulher, a única pessoa que me lisonjeava permanentemente: “Você é tão linda, minha querida Adelaide...” — dizia — “Acho que é por isso que você sempre acaba atingindo o seu objetivo maior: fazer-se notável.” Na verdade, Márcia tinha razão. Sempre agradou-me a ideia de dar entrevistas. Mas permanecer exposta, nas praias e nas calçadas dos bares, representava viver a glória dos artistas que atuam nos palcos da arte, com a vantagem de ter ampliado os meus horizontes ao exercer meus direitos nos palcos da vida. Evidentemente, sempre com muita maquilagem em torno das minhas indefectíveis sobrancelhas tatuadas. Contudo, nunca consegui alcançar felicidade plena. O fato de ser alvo dos comentários de linguareiros, ainda que eu tentasse ignorar, sempre acabava me ferindo: “Como é possível uma mulher tão bela e bem-sucedida nunca ter apresentado um namorado, noivo, marido... um amante?” Os desgraçados folgavam, riam e tripudiavam! Isso é uma droga, pô! Por que tenho eu que ser exatamente como eles querem? Mas todo esse falatório passou, desde que cedi à cantada de um salva-vidas e me afastei de Márcia. Não cheguei a dar a ela explicação alguma, apenas fui com o cara para Copacabana e tentei me lançar a outro tipo de vida. Só que a aventura nada mais foi do que uma ilusão entremeada com pouco prazer e muita amargura. Acabei fugindo do dito cujo, e ainda me culpo por ter passado cinco meses manifestando minhas fingidas virtudes femininas, contrapondo-me, certamente, às constantes demonstrações de lealdade daquele homem que via em mim a mulher ideal. De volta ao Leblon, estou no mesmo ponto onde um dia eu disse à Márcia: “Muito prazer! Meu nome é Adelaide.

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E o seu?...” Entretanto, pouco consegui saber sobre ela. Por ironia do destino, fui informada apenas que Márcia estivera ali no dia anterior e fora salva de um afogamento. Disseram alguns, porém, que, em seguida ao resgate, ela voltou a entrar no mar e, após receber o abraço de uma onda gigantesca, deu uma estrídula gargalhada e não mais foi vista. Estou arrasada. Cheguei tarde. Sinto-me dispersiva e triste. Não tenho a mínima vontade de vestir as roupas e os adereços que até hoje tive como tesouros. Será que tenho um lenço para retirar esta maquilagem ridícula que me mascara ainda mais? Ó, céus! Nada me dá tesão! Sinto apenas uma dor em minha alma apunhalada pela impotência. Não passo de uma mulher solitária, sentada ao lado de uma cadeira vazia. Olho para o mar umbroso e sinto-o como uma ameaça a solicitar, com instância, que eu me precipite em suas entranhas. Ai, que frio! E o que faço nesta praia quase deserta, meu Deus? É inútil, não consigo relutar por mais tempo. Agora eu ouço claramente: o mar me chama.

Nilton Silveira é poeta, contista e cronista, com publicações em antologias, revistas e jornais. Além de poema em CD de Ruth Telles – a mais importante declamadora do RS, tem várias classificações em concursos nacionais de Literatura, sendo que as três últimas – assim como outras – obtiveram o 1º lugar.

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O templo das mãos de Felipe Freitag “Se estas paredes falassem Se contassem cada vez que sonhei viver Em outro lugar Onde Marte ama Marte, e Vênus pode passear De mãos dadas com Vênus” [Dance of days]

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nquanto esperava o ônibus naquela parada suja e cheirando a urina, um casamento se desenrolava na igreja em frente. Com o olhar sombrio, de quem estava desligado do tempo e do espaço, olhava; e apenas olhava. Via o carro branco com chofer na porta da igreja, os flashes dos fotógrafos, e sentia, de longe, o aroma das flores. De repente, como que num instantâneo, uma lágrima verteu de seus olhos e escorreu pela face. Sentiu-a azeda e amarga na boca. Tinha dentro de si o fel. Seu rosto enevoouse, e ele quis aplaudir a noiva, quis correr pela rua e gritar, um daqueles berros de alucinação, ou talvez vários berros. Caiu e chorou convulsivamente. Deu-se conta de que nunca se casaria, nunca teria filhos. Podia até juntar seus trapinhos, mas sem bênçãos, sem as aleluias e a Ave Maria de Schubert. Por que a sociedade lhe impunha todas as desgraças da terra? Ele queria apenas ser feliz. Era feliz nas madrugadas de lua, era feliz nas manhãs em que o sol raiava em seu rosto e ele podia ver sobre a cama o corpo de seu garoto.

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Ao pensar na sua alma como um deslocamento imoral, abraça o poste ao lado da parada de ônibus e geme, e treme. Queria fugir da realidade que o atormentava, acabar com o suplício que os céus descarregavam sobre ele. Como um menino sem rumo, vagou o restante da noite pela cidade agitada. Com um lenço dourado em torno do pescoço, carregava nas mãos um maço de cigarros e um isqueiro. Ouviu da janela de algum prédio uma voz de chacota: viadinho! viadinho! Aquilo já era demais. Voltou à parada, tomou fôlego, enfiou-se por entre os carros que circulavam no asfalto, e, entre buzinas e luzes, continuou. Entrou na igreja e sentouse no último banco. E ali permaneceu, a escutar as juras de amor entre os noivos: “prometo amar-te, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, amém.” O corpo suava, apesar da noite fria e da garoa do lado de fora, que aos poucos ia criando poças. O rosto vermelho, cabelos desgrenhados, a alma em chamas e a boca ardente de verdades. Após escutar o “Sim”, levantou-se, aprumou-se, ajeitou o lenço, abotoou a camisa de linho e subiu no banco. Os olhos rudes, como o de um animal ferido, e a alma cortante, como a de um ser esfacelado. Sentia uma navalha cravada no coração. Aos poucos, as pessoas foram se surpreendendo com aquela cena: ele de pé no banco. Os olhares desviaram-se dos noivos para o fim da igreja. Ele embebia-se de raiva. Munido de uma súbita coragem, começou a gritar. Todos os olhares se voltavam, espantados, para aquele indivíduo bem vestido, de lábios muito vermelhos, aos berros em plena cerimônia. Os noivos, muito nervosos e desconcertados com aquilo tudo, paralisaram. As pessoas pareciam sentir vergonha pelo rapaz. Foi quando uma voz seca, disfarçada, destoante e enegrecida se fez ouvir, de início em tom mais leve e depois com

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mais vigor: EU TAMBÉM POSSO AMAR! EU TAMBÉM POSSO AMAR! Vagarosamente saiu da igreja, com as costas menos pesadas, com o orgulho estufado no peito, sem algemas nem amarras. Na parada, um sorriso, alguns bocejos, um cigarro aceso. Pegou o ônibus, e, no ponto de chegada, foi recebido pelo jovem de olhar de estrelas com um beijo prazeroso e sublime. Eles se amaram, eles se provaram, eles se consumiram. Nada de sexo, nada de malícias. O amor mais sensível, na madrugada mais linda, molhada de fina chuva e acariciada pelo vento norte, a cortar o silêncio. Na manhã seguinte, decidiram: dali em diante, haveriam passar por aquela igreja de mãos enlaçadas.

Felipe Freitag, 21 anos, estudante do curso de Letras da Universidade Federal de Santa Maria, poeta, um dos 13 vencedores do Prêmio Lila Ripoll de poesia 2007, promovido pela Assembleia Legislativa do RS. Diz-se um obsessivo em ver na arte a elucubração de toda ação e alma humana; procura descrever no que escreve as peripécias de uma vida que nos persegue com suas dores. Escreve desde os 18 anos, séria e exaustivamente. Tem mais de 300 poemas escritos, além de vários contos e crônicas.

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Espera de uma vida de José Ricardo Oliveira

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arlinhos estava decidido. Aquele seria seu último dia de vida. Nada mais fazia sentido, para ele. O mundo era cruel e as pessoas aproveitadoras. Mesmo convivendo com uma encantadora família que aceitava sua homossexualidade e apoiava cada um de seus empreendimentos, e tendo um dos empregos mais bem remunerados de sua cidade, não conseguia conviver com o sentimento de solidão que dele se apoderara desde que Roberto o abandonou, há cinco anos atrás. Como cenário de seu suicídio, havia escolhido uma praia pouco frequentada de Salvador, cidade em que vivia. Subiria ao ponto mais alto da praia e, lá de cima, se lançaria em direção às pedras pontiagudas, contra as quais seu corpo se chocaria com toda força, e ele conseguiria, por fim, repousar definitivamente o seu espírito. Esperou uma manhã escura do mês corrente, agosto. Fez-se, enfim, uma manhã nublada e de grande ventania, no mês mais desgostoso do ano, tal qual havia desejado. Conhecera aquele local ocasionalmente, em um passeio com amigos, onde foram contemplar o pôr-do-sol.

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Caminhou até a mais alta das pedras. E, chegando ao exato local de onde saltaria, surpreendeu-se com um rapaz de cabelos negros e cacheados, ali sentado, como se aguardasse por algo ou alguém. – O que faz aqui? – pergunta Carlinhos, demonstrando-se ofendido com a presença do (belo) rapaz no local, a atrapalhar seus planos. – Aguardo por alguém – respondeu, sem sequer olhar para o rosto de Carlinhos. Os olhos do belo rapaz perdiam-se no horizonte. Em seu peito, expectativa e esperança se misturavam. – Vai demorar? – Não sei ainda. Por quê? – Gostaria de fazer algo, mas sua presença me atrapalha… Fitando agora Carlinhos, o rapaz questiona: – Tem mesmo que ser aqui? Esta praia é tão grande. – Vim me suicidar! – grita Carlinhos. Sem demonstrar muita surpresa, o rapaz responde: – Então volte amanhã. Estou esperando alguém, e só sairei daqui mais tarde. “Como é que alguém pode ser assim tão frio, o ponto de não se importar com uma pessoa acaba de lhe dizer que vai se suicidar?”, questiona Carlinhos. E, mesmo achando que ninguém respeitava a sua vida, resolveu respeitar o espaço do rapaz de cachos negros. Afinal, ele havia chegado antes às pedras. – Tudo bem. Voltarei amanhã mais cedo, pra terminar logo com isso. Carlinhos então retornou para sua casa. No dia seguinte, não foi ao trabalho. Saiu bem cedo rumo às pedras na praia. Antes de dar continuidade ao seu plano, contemplou a beleza do mar misturando-se ao azul

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cinzento que encobre o céu. Quando estava pronto para pular, assustou-se com a voz grave que vinha do seu lado esquerdo: – Chegou cedo, hein rapaz? Está mesmo disposto a dar cabo da própria vida, não é? – Que susto… Você aqui novamente? – Continuo à espera de alguém… O encontro não aconteceu ontem, por isso estou aqui novamente. – Não aguento mais tanta solidão… – queixou-se Carlinhos ao rapaz. – Quer se matar por se sentir solitário? – Sim. Também… – Se não quiser, não precisa falar sobre o seu problema. A propósito, meu nome é Eduardo. – O meu é Carlos, prazer… Uma pena nos conhecermos nestas circunstâncias… Alguns barcos se aproximaram das pedras lá em baixo e, ao percebê-los, Eduardo sorriu sarcasticamente. – Por que está sorrindo deste jeito? – Vejo que, mais uma vez, você terá de adiar seu suicídio para amanhã. Os barcos de turistas lá embaixo só sairão ao final da tarde. – Como sabe? – Venho aqui já há algum tempo… Você é engraçado, no bom sentido. Mas é uma pena... Seu objetivo terá de ser adiado mesmo por mais um dia… – Tudo bem, já que não tem outro jeito… Decidi que seria aqui minha despedida desta vida, e aqui será! Voltarei amanhã. E, para conseguir segurar a ansiedade, apelarei para alguns chocolates. Amanhã estarei novamente aqui, bem cedo, para concluir meu ato, sem falta. – decidiu Carlinhos. Eduardo o acompanhou com o olhar, até vê-lo se misturar ao horizonte. Em seguida, sorrindo, voltou novamente

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os olhos para o oceano. Desta vez, porém, havia algo novo, que nem mesmo ele sabia do que se tratava. Já Carlinhos caminhava de volta para casa, intrigado com a ‘petulância’ de Eduardo, que há dois dias atrapalhava seus planos. A manhã daquele dia já não era mais nebulosa. O sol começava a despontar do outro lado da praia, por trás de Carlinhos, que se postava ali parado, contemplando a infinidade do mar à sua frente. Olhou para os lados à procura de Eduardo. Deveria se sentir alegre, sabendo que não mais seria interrompido, mas o desconforto tomou conta de sua alma. Passou a noite inteira pensando em chegar às pedras. Pressentia, no entanto, que algo o impediria de suicidar-se novamente. O que seria desta vez? O que Eduardo poderia dizer-lhe naquela manhã? Pensava em Eduardo. Lembrou-se da imagem do rapaz sentado ali nas pedras aguardando pacientemente por algo que poderia nunca chegar. Afinal, quem ele aguardava tão esperançoso? Ele acreditava em algo, mesmo sem saber exatamente em quê. Olhou para trás e percebeu o dourado do sol a se expandir pelo céu e envolver a areia, as pedras, o mar. O cenário agora era outro. Pensava consigo mesmo, não tinha mais a manhã fria e escura, mas também não tinha mais a coragem necessária para concluir seu objetivo. Por alguns segundos, chegou a sentir falta de Eduardo. Aliás, era para vê-lo que iria às pedras naquela manhã. Saiu de casa pensando: “O que ele me dirá hoje?” Baixou a cabeça e falou em voz alta, como se questionasse a si próprio: “Será que ele encontrou o que tanto esperava?” Uma voz grave, já conhecida, surge por trás de Carlinhos e lhe responde: – Sim encontrei. – Desculpe, não o tinha visto aí.

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– Estava lhe observando de longe. – Mas me fale de sua conquista, do que encontrou... – Pois é. Encontrei quem eu tanto esperava, e estou feliz por isso. – Que bom. No meu caso, acho que perdi um pouco da coragem que tinha. Apesar de ter mais um motivo agora. – Pensei que já tivesse desistido. – Por que pensou isso? – Você disse que se sentia solitário… – Ainda me sinto… – Mas não está… Não mais. – Eduardo toca o ombro de Carlinhos e, olhando dentro de seus olhos, conclui: – Já pensei em muitas bobagens, e percebi que nada daquilo resolveria efetivamente a minha vida. Um dia, assim como você, decidi pular destas pedras e enterrar de vez os problemas de toda a minha existência. Após refletir, resolvi dar um tempo em minhas amarguras e permitir que as pessoas se aproximassem de mim. Quando vi você chegando às pedras, percebi sua beleza natural, apesar do desespero em seus olhos. No segundo dia, vi que sua determinação tentava lhe abandonar. Por isso agi assim. Hoje percebo a esperança acenando para você, implorando-lhe que dê a si próprio mais uma oportunidade. Fique comigo, você é a pessoa que eu tanto esperei. Carlinhos surpreende-se com aquela declaração de Eduardo. O sol dourado de uma bela manhã espalha-se por todo o horizonte, assim como a luz que emana dos olhos de ambos. O mar sorri feliz, assim como é o sorriso que se abre nos lábios dos dois rapazes. Um abraço forte é uma promessa de que ambos iriam tentar a felicidade. Um beijo apaixonado sela o pacto de vida nascido ali.  

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José Ricardo Oliveira é estudante de jornalismo e artista plástico. Em suas exposições, para cada tela, o artista escreve um texto (poema ou poesia) que é exposto paralelamente. Mesmo tendo realizado somente três exposições dentro do estado da Bahia, José Ricardo já tem seu trabalho divulgado no Rio de Janeiro, São Paulo e Dinamarca. Como jornalista, é responsável pelo blog Aramis, Todo Dia – www.aramistododia. blogspot.com. Colabora também com impressos de ONG’s que abrangem todo o território nacional e jornais internos de empresas de Salvador.

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Sobre o Organizador

VALDECK ALMEIDA DE JESUS é jornalista, escritor, poeta e funcionário público federal. Nasceu a 15 de fevereiro de 1966 em Jequié/BA, onde viveu até aos seis anos de idade, quando foi residir na Fazenda Turmalina (região de Itagibá/ BA), onde continuou a estudar em escola pública até os 12 anos de idade. Aluno exemplar retornou a Jequié/Ba para se matricular na 5ª série do primeiro grau, em escola pública. Ingressou nas Faculdades de Enfermagem e de Letras, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em 1990; na Faculdade de Turismo, na Faculdade São Salvador, não concluindo os cursos. Reside em Salvador, desde fevereiro de 1993. Atualmente faz o curso de Jornalismo na Faculdade Social da Bahia. Na capital, fez cursos de informática, teatro, relações humanas e fotografia. Fez, ainda, curso de espanhol durante dois meses em Madri (Espanha), Santa Elena de Uairen (Venezuela), Puerto Iguazu (Argentina), Ciudad del Este (Paraguay) e La Habana (Cuba) e de inglês por três anos em Salvador, complementado por curso intensivo de três meses em Nova York, Estados Unidos.

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Prêmios Literários: Menção Honrosa em 1989 no 1° Concurso Nacional de Poesia, promovido pelo Instituto Internacional da Poesia, de Porto Alegre/RS Menção Honrosa no Concurso Literário Oswald de Andrade, promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em 1990, na cidade de Jequié/BA Classificação no concurso literário Bahia de Todas as Letras, promovido pela Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus/Ba, no ano de 2007, com o conto “Eu e o Word”, com nota 7 (sete) Classificação no concurso literário realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal da Bahia, com a crônica “Alice”, no ano de 2007, em Salvador/BA Destaque no XII Concurso de Poesias, Contos e Crônicas realizado em 2007 pela ALPAS XXI, em Cruz Alta/RS com o texto “Minha paixão por livros”. Prêmio Luiz Mott de Cidadania 2008, pelo conjunto da obra, pela defesa dos direitos humanos e dos homossexuais, em indicação feita pelo Glich – Grupo Liberdade, Igualdade e Cidadania Homossexual, de Feira de Santana/BA. Medalha de agradecimento e homenagem por incentivar a leitura. Outorgante: Biblioteca Comunitária do Calabar e Avante – Educação e Mobilização Social. Premiação: agosto de 2009. Medalha Hermano Gouveia Neto, por incentivo a leitura, no projeto Resgatando a Seliba 2009. Outorgante: Colégio Cecília, de Simões Filho-Ba.

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Participa das antologias: “Poetas Brasileiros de Hoje –1984”, Shogun Arte, Rio de Janeiro, 1984; “Transcendental”, publicado em Salvador em 1996, pela Editora Gráfica da Bahia; “II Antologia Cultural: 500 Anos de Língua Portuguesa no Brasil”, Clube de Letras, Barra Bonita/SP, 2005; “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 14º volume”, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2005; “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 15º volume”, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2005; “Letras Libertas – Contos, Crônicas e Poesias – Vol 2”, Ilha das Letras, Santa Catarina, 2005; “XV Concurso Internacional Literário de Verão”, Agiraldo, São Paulo, 2005; “Palavras que Falam”, Scortecci, São Paulo, 2005; “Todas as Formas de Amar”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2005; “O Amor na Literatura”, São Paulo, Casa do Novo Autor, 2005; “Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea”, Câmara Brasileira do Jovem Escritor, Rio de Janeiro, 2005; “VII Antologia Nau Literária”, Komedi, São Paulo, 2005;

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“Ensaios Poéticos”, Academia Virtual Brasileira de Letras, 2005; “Poetry Vibes”, Poetry Vibes, Ohio, USA, 2005; “Ação e Reação. Pequenos Contos”, AVBL, São Paulo, 2005 (livro eletrônico); “Ensaio Poético. Natureza. Vida”, AVBL, São Paulo, 2005 (livro eletrônico); “Meu País é Este”, AVBL, São Paulo, 2005 (livro eletrônico); “20 Anos de Poesia – Caderno 32”, Oficina, Rio de Janeiro, 2005; “Pérgula Literária – VII”, EVSA, Rio de Janeiro, 2005; “Sangue, Suor e Lágrimas”, Arnaldo Giraldo, São Paulo, 2006; “Palavras Libertas”, Roma, Uberlândia/MG, 2007; “Amor, Sublime Amor”, Litteris, Rio de Janeiro, 2006; “XI Coletânea Komedi”, Komedi, Campinas, 2007; “Letras Intimistas”, aBrace, Montevidéu (Uruguay), 2007; “Primavera de 2006 – Inverno de 2007”, Via Litterarum e Editus (UESC), Itabuna/Ilhéus, 2007; “Retratos Urbanos”, Andross, São Paulo, 2008. “Poemas e Outros Encantos: nova coletânea”, Edir Barbosa Editor, Teixeiras/MG, 2008. “Elo de Palavras”, Scortecci, São Paulo, 2008. “Poesia do Brasil – volume 8”, Proyecto Cultural Sur – Brasil. Grafite, Porto Alegre, 2008.

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“Coletânea dos 44 melhores poemas de 2008”, 2º Concurso de poesia ABRACI. IMOS, Rio de Janeiro, 2008. “Antologia Del Secchi – volume XVIII”. Org. Roberto de Castro Del’Secchi. DELSECCHI Editora, Rio de Janeiro, 2008. “Livro de Todos: o mistério do texto roubado”, coordenação Imprensa Oficial, São Paulo, 2008. “Salvador: 460 anos de poesia”. Organizador Roberto Leal – Omnira, Salvador/BA, 2008. “Poetas Del Mundo em Poesias”, Volume I, Gibim, Campo Grande (MS), 2008. “Universo Paulistano. Contos, Crônicas e Poemas de Uma Cidade que Nunca Dorme”, Organizadores Edson Rossato e Carlos Francisco de Morais, Andross, São Paulo, 2009. “XIII Coletânea Komedi”. Komedi, Campinas-SP, 2009. “Contos e Crônicas para Viagem”, Bruno Resende e Edir Barbosa (orgs.), Viçosa, Edir Editora, Minas Gerais, 2009. “O que é que a Bahia tem”, Litteris, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. “Comendadores da Ordem do Dragão Dourado – Antologia Poética”, Real Academia de Letras, Porto Alegre, 2009. “Ecos Machadianos”, Bureau Gráfica e Editora, Salvador, 2009. “Latinidade poética”, All Print Editora, São Paulo, 2009. “IV Coletânea – Poesia, Crônica e Conto 2009”, Tecnicópias, Canoas (RS), 2009.

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“Vozes de Aço – IV Antologia Poética de Diversos Autores”, Volta Redonda (RJ), PoeArt Editora, 2009. “Antologia Alma Brasileira”, Folha da Baixada, Praia GrandeSP, 2009. “Contos, Crônicas e Artigos”, Fundação Omnira, SalvadorBa, 2009. “Antologia Cidade Literária”, L&A Editores, Belém-PA, 2009. “Projeto Literário Delicata IV – Poesias, Contos, Crônicas”, Scortecci, São Paulo, 2009.

Livros publicados de forma independente: “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”, iUniverse, New York, USA, 2004; Este livro reúne poesias de desabafo, muitas delas dedicadas a mulheres, quando na verdade o escritor falava de seus amores secretos, namorados homens. “Feitiço Contra o Feiticeiro”, Scortecci, São Paulo, 2005; Livro de poesias. “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, Scortecci, São Paulo, 2005; Conta a história da família do escritor Valdeck Almeida de Jesus, que enfrentou a fome e a miséria por mais de vinte anos e venceu. 100% da renda do livro foi doada às Obras Sociais Irmã Dulce. “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, Giz, São Paulo, 2007; 20% da renda do livro foi doada às Obras Sociais Irmã Dulce.

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Editor da “1ª Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2006; “Jamais Esquecerei do Brother Jean Wyllys”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2005; “Poemas Que Falam”, Casa no Novo Autor, São Paulo, 2007. “Valdeck é Prosa, Vanise é Poesia”, Câmara Brasileira do Jovem Escritor, Rio de Janeiro, 2007. Editor da “2ª Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2007; “30 Anos de Poesia”, Câmara Brasileira do Jovem Escritor, Rio de Janeiro, 2008; Editor da “3ª Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus”, Giz Editorial, São Paulo, 2008. “Memories from Brazilian Hell: The Saga of Almeida Family in the Garden of Éden”, iUniverse, Nova York (USA), 2008. “Poemas de amor e outros temas”, Blurb, Nova York (USA), 2009. “Armadilha – a verdadeira poesia brasileira”, Clube de Autores, São Paulo, 2009. “30 Anos de Poesia”, Virtual Books, Pará de Minas-MG, 2009; “Minha alma nua” (Série Notáveis Poetas Brasileiros), Real Academia de Letras, Porto Alegre-RS, 2009. Editor da “4ª Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus”, Giz Editorial, São Paulo, 2009.

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Editor do “Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Contos LGBTs”, em 2010. Editor do livro “Abre a Boca Calabar”, resultado de um concurso de poesias com crianças da comunidade Calabar, exquilombo, em Salvador-BA, em janeiro de 2010. Editor da “Antologia do Amor”, que reúne poetas do Brasil, Estados Unidos e China, em janeiro de 2010.

Trabalhos Diversos Expositor, como escritor independente, na Bienal do Livro da Bahia, em 2005, 2007 e 2009. Expositor no III Corredor Literário da Paulista, de 09 a 14 de outubro de 2007, em São Paulo/SP Participação no V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre/ RS, de 26 a 31 de janeiro de 2005; Palestrante, expositor e promotor de mesas de debate sobre literatura baiana, leitura e mercado editorial durante o Forum Social Mundial Temático da Bahia, de 28 a 31 de janeiro de 2010. Participação, como organizador da Mostra de Arte e Cultura, no II Congresso Estadual do Sindjufe-BA, de 01 a 03.06.2007, no Hotel Sol Bahia Atlântico, em Salvador/BA Tem poemas publicados nos jornais de grande circulação da capital e do interior do estado da Bahia, além de jornais de Brasília/DF; Colaborador, desde 1985, do jornal A PROSA, de Brasília/DF. Colaborador da revista cultural Art’Poesia, de Salvador, editada por Carlos Alberto Barreto, que publica poemas de autores do mundo inteiro. • 76 •

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Palestra na ONG Vento em Popa, no bairro Jardim Gaivotas, em São Paulo, em 2007, com o tema “Motivação através da leitura”. Colunista dos sites www.zonamix.com.br, www.radarmix.com e www.portalvilas.com.br, desde março de 2006. Nestes e em outros sites, o escritor colabora sempre com matérias ligadas a cultura, literatura, arte, preconceito, discriminação e assuntos relacionados aos LGBT’s. Verbete do “Dicionário de Escritores Baianos”, Secretaria de Cultura e Turismo, Salvador, 2006. Membro da Federação Canadense de Poetas desde 2004. Membro da Associação Artes e Letras (França) desde 2005. Membro da União Brasileira de Escritores – UBE, desde março de 2006. Em 1987 participou da Diretoria Regional do Partido Comunista do Brasil e da União da Juventude Socialista – UJS, em Jequié/BA. Eleito o primeiro diretor de imprensa do Grêmio Estudantil Dinaelza Coqueiro, do Instituto de Educação Régis Pacheco, fundou o jornal Jornada Estudantil. Fundador do fã-clube do Jean Wyllys (www.jeanwyllys.com). Seu site profissional é www.galinhapulando.com O site Galinha Pulando apóia todos os eventos e movimentos de afirmação da cidadania, contra o racismo e, principalmente, contra a homofobia. Colaborador do Café Literário de Camaçari/BA, evento realizado pela coordenação do PROLER – vários anos. Participação na Feira do Livro Internacional de Paraty (FLIP), 2008.

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Lançamento de três livros na Bienal Internacional de São Paulo, 2008. Verbete no “Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2009. Membro Correspondente da Academia de Letras de Jequié. Participante da “Mostra Poética: Cores das Letras no Brasil”, realizado como atividade paralela do 4° Encontro Açoriano da Lusofonia, um dos mais expressivos eventos internacionais de fortalecimento da língua portuguesa no mundo, promovido pela Sociedade dos Poetas Advogados de Santa Catarina – SPA/SC, de 31 de março a 04 de abril de 2009, na Biblioteca da Escola Secundária de Lagoa, Açores, Portugal. Palestra e oficina de poesias na Biblioteca Comunitária do Calabar, bairro remanescente de quilombo, em Salvador/BA Cônsul Honorífico da Real Academia de Letras, Ordem da Confraria dos Poetas. Prefaciou os livros “Eu sou todo poema”, de Leandro de Assis; “Sonhos”, de Antonio Fagundes; “O homem que virou cerveja”, de Silas Correa; “Diário de Rafinha: as duas faces de um amor”, de Léo Dragone; apresentou o livro “Brincando de poesia”, de Adalberto Caldas Marques. Participa do projeto “Fala Escritor”, idealizado pelo poeta Leandro de Assis, apresentado todo segundo sábado de cada mês no espaço Castro Alves, em um shopping de Salvador.

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Esta obra foi composta em fonte Electra LT Std 11,5/14,4 e impressa em papel Cartão Supremo 250 g/m2 [capa] e em papel Alta Alvura 75 g/m2 [miolo].

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