Programa Circuito: Uma proposta de convergência midiática em jornalismo cultural no centro histórico de Belém do Pará

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXII Prêmio Expocom 2015 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

Programa Circuito: Uma proposta de convergência midiática em jornalismo cultural no centro histórico de Belém do Pará1 George Luiz Miranda da SILVA2 Alice Martins MORAIS, Ana Lídia da Conceição Ramos MARACAHIPE, Arthur Medeiros de OLIVEIRA, Beatriz dos Santos PASTANA, Daiana Viviane de OLIVEIRA, Denise Cristina Salomão CORREA, Emanuele Corrêa FERREIRA, Erica Marques DIAS, Fábia Maria Sepêda BRABO, Felipe Matheus Soares Ferreira NOBRE, Jobson Murilo Barbosa MARINHO, Juliana Theodoro da SILVA, Maria Jessica Rodrigues de LIMA, Michelle dos Santos FERNANDES, Sérgio do Espírito Santo FERREIRA JÚNIOR, Tarcízio Pereira MACÊDO3 Célia Regina Trindade Chagas AMORIM4 Universidade Federal do Pará, Belém, PA

RESUMO Com o objetivo de experimentar a convergência midiática com ênfase no jornalismo cultural amazônico, os estudantes de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará (Facom/UFPA) produziram o Programa Circuito, que ativa a cultura e a memória de dois importantes bairros do Centro Histórico de Belém do Pará, Campina e Cidade Velha. A metodologia se dividiu em duas fases: aulas teóricas que possibilitaram a reflexão sobre o projeto; e a prática, que contou com as etapas de préprodução em TV, produção de pauta, reportagem, edição e criação de identidade visual. A proposta do Circuito é direcionada para a TV, mas também pode participar do mundo da web. No formato para a televisão, o programa tem a duração de 30 minutos; na web, se estrutura por seis reportagens que podem ser assistidas de forma independentes e que, juntas, formam um mapa cultural dos dois bairros.

PALAVRAS-CHAVE: Belém do Pará; Centro Histórico; Convergência Midiática; Jornalismo Cultural; Programa de TV e Web.

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Trabalho submetido ao XXII Prêmio Expocom 2015, na Categoria Rádio, TV e Internet, modalidade Programa Laboratorial de TV. 2 Aluno líder do grupo e estudante do 7º Semestre do Curso Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do Pará, e-mail: [email protected]. 3 Co-autores e estudantes do 7º semestre do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pará. Emails, respectivamente: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected], [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]. 4 Orientadora do trabalho. Professora Dra do Curso de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazonia (PPGCOM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Coordenadora do Projeto Mídias Alternativas na Amazônia. CNPq-UFPa. Email: [email protected].

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INTRODUÇÃO “Boas histórias estão sempre por aí, pelo ar”. (MACHADO, 2011, p. 164) Com a proposta de pautar, por meio da convergência midiática, dois bairros históricos de Belém do Pará, na Amazônia Brasileira, surgiu um desafio: Qual seria a linha editorial adotada para o Programa Circuito? Pois a abordagem do tema teria de respeitar a cultura local e não poderia ser uma mera agenda midiática. Corriqueiramente, a Região Amazônica é apresentada na mídia de forma “padronizada”, exaltando a exuberância e exotismo do “pulmão do mundo” e “maior patrimônio da humanidade”. Tais produções, no entanto, tendem a “reeditar estereótipos historicamente fabricados, reintroduzidos sob formas sedutoras de falas e imagens que reportam antigas visões, especialmente aquelas que retratam a Amazônia como um lugar paradisíaco”. (DUTRA, 2005, p.74). Neste contexto, ir além do discurso colonizador e conhecer as outras Amazônias é mais do que necessário, é fundamental para lançar novos olhares sobre a própria região e encará-la como ela é realmente: heterogênea, plural, diversificada, multifacetada, complexa. Foi a partir desta reflexão que surgiu o Programa Circuito: para experimentar, para ousar e para falar sobre um local tão miscigenado, que de forma alguma pode ser encarado sempre da mesma maneira. Dois bairros, certamente, formam um pequeno recorte das Amazônias, mas o desafio de se distanciar do senso comum e levantar boas discussões sobre a região foi o grande impulsionador para os estudantes fazerem o programa. Além disso, havia também o desafio de construir, por meio de seis reportagens que mostram diferentes circuitos, um mapa cultural dos dois bairros para documentar um pouco da história da Cidade Velha e Campina, dos seus moradores mais antigos e dos mais jovens. O Programa Circuito é uma revista eletrônica experimental dos estudantes de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal do Pará (UFPA). O projeto do programa foi criado entre os meses de agosto e dezembro de 2013 e a execução se deu entre março e julho de 2014, durante o Laboratório de Telejornalismo ministrado pela professora Drª Célia Trindade Amorim. Esta produção acadêmica mostrará as etapas da construção da revista (desde a pré-produção até a finalização do produto) e se assenta na proposta da convergência midiática à luz de Henry Jenkins. De acordo com este autor, a convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica:

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A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam as notícias e o entretenimento. (...) Graças à proliferação de canais e à probabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando em uma era em que haverá mídias em todos os lugares. (2008, p.43).

Com base nos argumentos de Jenkins, o Circuito foi pensado para ser de TV e também de web. Ou seja, foi pensado para ser um programa que tivesse a flexibilidade para ser veiculado na televisão, mas que possibilitasse também ser divulgado em outras mídias. Assim, os estudantes utilizaram o blog Os apocalípticos, da própria turma, para divulgar as seis reportagens que fazem parte do Circuito e possibilitar a convergência das mídias. Todas

as

matérias

do

programa

estão

hospedadas

no

endereço

eletrônico

www.osapocalipticos.com e até agora já tiveram mais de 100 mil acessos.

OBJETIVO Ao apresentar, de forma coerente e contextualizada, assuntos que envolvem a história e a cultura de dois importantes bairros de Belém, Cidade Velha e Campina, o Programa Circuito se distancia dos chamados “assuntos-ônibus”, que são assuntos superficiais e líderes de audiência (Bourdieu, 1997). Nesta perspectiva, os objetivos do Circuito são: a) Circular pela cultura e pelas principais tradições dos dois bairros pertencentes à Amazônia Paraense; b) Divulgar a importância da Cidade Velha e Campina na construção da Belém passada, presente e futura; c) Documentar o olhar dos moradores mais antigos, dos mais recentes e das pessoas que apenas transitam pelos dois bairros; d) Ressaltar que os bairros pautados no programa são muito mais pluralizados do que a mídia hegemônica mostra recorrentemente nos programas de maior audiência; e) Ser um produto experimental e multimídia, que é direcionado para a TV, mas que também pode ser usado na web; f) E reforçar as características do jornalismo com entrevistas, visão crítica e modelo textual sobre as pluralidades e especificidades de dois importantes bairros que fazem parte da construção e da história de Belém.

JUSTIFICATIVA Os dois bairros pautados no Programa Circuito, ao mesmo tempo em que são históricos e urbanos, são pertencentes à Região Amazônica. Não muito raramente, Cidade Velha e Campina são retratados na mídia local e até nacional como lugares exóticos, com casarões luxuosos e históricos que dialogam com a natureza e com a vida que fervilha nas

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esquinas com heranças portuguesas, nas construções do período Áureo da Borracha na Amazônia (final do século XIX e início do século XX) e dos resquícios da colonização portuguesa. No entanto, a Campina é muito mais do que a sede do Theatro da Paz; a Cidade Velha tem muito mais a oferecer do que somente o Complexo Feliz Lusitânia. Nesses bairros, tradição e modernidade vivem lado a lado; passado e presente dialogam sobre o futuro; velhice e juventude trocam ideias; etc. Assim, faz-se de extrema relevância a produção de um programa que apresente, de forma séria e responsável, a complexidade dos dois bairros belenenses, indo além do que a mídia hegemônica consegue e se propõe a pautar nas produções sobre pontos da Amazônia. Vale ressaltar que o tema não foi esgotado, porque os dois bairros são mais complexos do que 30 minutos de duração do programa. Mas o pontapé inicial já foi dado e novas discussões devem ser puxadas daqui para frente. As novas discussões, inclusive, são necessárias para enriquecer os olhares e os discursos sobre os bairros em questão, pertencentes à Região Amazônica, que chama a atenção do mundo inteiro.

MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A concepção do Circuito começou na disciplina Introdução ao Laboratório de Telejornalismo, de agosto a dezembro de 2013. Logo no início das discussões, a turma pensou em um programa que falasse da cultura de dois bairros históricos de Belém de maneira leve e direta e, ao mesmo tempo, que transmitisse a ideia de mobilidade, de inquietação e de mudança constante. Para os estudantes, seria a melhor forma de retratar o tema nos bairros da Cidade Velha e Campina, porque a cultura vive em constante andança, alcançando gente, conquistando pessoas, ganhando adeptos, estabelecendo fusões. E não para nunca, vai de um ponto a outro sem pausa para descansar. Já no 1º semestre de 2014, na disciplina Laboratório de Telejornalismo, executada de março a julho, o Circuito começou a sair do papel para ser produzido de acordo com um rigoroso planejamento, dividido em duas etapas entrelaçadas: discussões teóricas aliadas à prática da produção audiovisual no campo do jornalismo para TV. Na primeira etapa do Laboratório de Telejornalismo, a professora Drª Célia Trindade Amorim levantou e desenvolveu discussões teóricas com os estudantes, sempre buscando formas de associar os textos teóricos com o produto que a turma estava planejando e executaria mais adiante. As leituras sugeridas foram 'Jornalismo Cultural', do jornalista, artista plástico e escritor Daniel Piza (2003), e 'Sobre a Televisão', do sociólogo francês Pierre Boudieu (1997), além de

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artigos complementares. Na segunda etapa e a partir das discussões dos textos, a sala de aula se transformou em uma redação de TV, dividida por cargos e editorias. Os alunos foram escalados para as funções de produtores, repórteres, chefe de produção e reportagem e editor-chefe. Apesar da divisão de tarefas, o planejamento seguiu com cada equipe socializando a apuração, a investigação, a abordagem utilizada, os locais de filmagem, os personagens envolvidos e as dificuldades encontradas no meio das tarefas. Mesmo que todos tivessem recebido uma função, escolhida no processo de préprodução do programa, os estudantes tiveram a oportunidade de acompanhar e participar de todas as fases do Circuito, como pré-produção, produção, edição, gravações, criação de vinheta, entrevista, arte, escrituras de off5 e a passagem de vídeo6. Diferente da realidade encontrada nas principais redações de TV de Belém e até mesmo do Brasil, a turma inteira e a orientadora tiveram total autonomia para discutir e opinar sobre todas as pautas, refutando ideias, apresentando novas ideias e soluções frente aos problemas e construindo, coletivamente, o Programa Circuito. Depois de muitas reuniões e discussões, as pautas escolhidas para compor o programa foram: o circuito dos estudantes ribeirinhos que atravessam a baía do Guajará e desembarcam, diariamente, nos portos da Cidade Velha para estudar e trabalhar em Belém; o circuito do açaí, desde a sua chegada à feira do Ver-O-Peso até a comercialização e distribuição na cidade; o circuito da memória dos bairros e dos moradores da Cidade Velha e Campina; o circuito feito pelo atual movimento hippie em Belém, e uma matéria sobre a primeira Igreja da cidade, a imponente Catedral da Sé, de onde sai o Círio de Nazaré, que é a maior manifestação católica do mundo. Com as pautas definidas e prontas, os estudantes entraram em ação com as atividades externas7 do Laboratório. Por se tratar de um trabalho experimental, uma parte considerável da produção do programa foi executada com equipamentos audiovisuais dos próprios estudantes, como microfone e câmera fotográfica semi-profissional, tablets, notebooks e smartphones – aparelhos que se tornaram fundamentais para facilitar a locomoção e circulação de conteúdo das equipes de reportagem de acordo com o cronograma pré-estabelecido. Além disso, com a utilização de aparelhos pessoais, estimulase a autonomia e a criatividade dos alunos, porque em nenhum momento há restrição de dia,

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Texto gravado pelo repórter que acompanha as imagens e compõe uma reportagem. Momento em que o repórter aparece na matéria para relatar um fato ou apresentar dados importantes. 7 Momento em que as equipes de reportagens partiram para a rua em busca dos fatos que iriam virar notícia a ser divulgada para o telespectador e/ou internauta. 6

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horário e lugar para a execução das pautas e produção das reportagens. A outra metade do programa foi executada com o apoio dos profissionais e equipamentos da Academia Amazônia, que é um projeto de extensão que trabalha com produção audiovisual e divulgação do conhecimento científico na Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Após a execução das pautas, cada reportagem era apresentada à turma para novas contribuições e possíveis ajustes, que eram feitos logo em seguida. Este processo pedagógico é uma das marcas do laboratório ministrado pela orientadora Célia Trindade Amorim, pois permite que os estudantes reflitam sobre a qualidade e a intenção das reportagens produzidas durante o semestre. Todo o processo era aberto à participação de alunos de outros anos, que já haviam passado ou que ainda estavam na expectativa de passar pelo mesmo laboratório que a turma. Com a conclusão das seis reportagens, chegou o momento da gravação da abertura, escalada e encerramento do programa. O script - nome dado à lauda, eletrônica ou de papel, utilizada na produção audiovisual, em especial no telejornalismo (Pasternostro, 1999) - foi escrito pelo editor chefe do Circuito, o aluno Sérgio Ferreira Júnior. O local para a gravação foi o Complexo Feliz Lusitânea, na Cidade Velha, um dos principais pontos turísticos, históricos e culturais de Belém do Pará.

Figura 2: Complexo Feliz Lusitânea Fonte: imagem pertencente ao fotógrafo Jean Barbosa

No Complexo, há o Forte do Castelo. Erguido pelos Portugueses no século XVII, é a primeira construção de Belém e guarda a memória dos povos que lutaram na Cabanagem (1835-1840). Portanto, o Forte do Castelo é o primeiro cenário de abertura do Circuito, começando o programa exatamente do ponto onde Belém do Pará foi fundada. O local foi escolhido também por abrigar cenários que dialogam com as pautas do programa e por permitir alternância de paisagens em um mesmo ambiente. Da Catedral da Sé, construída 6

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entre os anos de 1748 e 1782 e que dá o pontapé inicial da maior romaria religiosa do Brasil, o Círio de Nazaré, anuncia-se a importância desta majestosa igreja; com o rio ao fundo, o programa chama a matéria dos estudantes ribeirinhos; mostrando o Ver-O-Peso, maior feira a céu aberto da América Latina, entra matéria do circuito do açaí, fruto regional que é a base alimentar da maioria dos paraenses; na frente de casarões históricos, chama-se a reportagem sobre a importância da preservação da memória e dos patrimônios, etc.

Figuras 3 e 4: Foto de parte da gravação sob orientação da professora Célia Trindade Amorim e da turma reunida assim que as gravações chegaram ao fim, respectivamente. Fonte: Imagem pertencente ao banco de arquivos da turma de jornalismo, 2015.

Depois da gravação, a turma foi para a ilha de edição montar o programa. Antes de ser apresentado à sociedade, exibimos o produto laboratorial em sala de aula. Após o cumprimento de todas as etapas do processo de produção e por ser a UFPA uma Universidade pública, a turma decidiu, em conjunto com a orientadora, que o resultado final do laboratório deveria chegar à sociedade. Assim, o produto foi disponibilizado no site do projeto de extensão Academia Amazônia, no espaço CRIATV. Neste espaço, o produto está integral, com 30 minutos de duração. Já no blog Os Apocalípticos, pertencente aos próprios estudantes, o programa foi divido em uma série de seis reportagens. A decisão se deu porque Os Apocalípticos é um blog consolidado, com grande alcance nas redes sociais e que certamente garantiria a visilidade necessária ao Circuito. Além disso, ao divulgar o programa em seis reportagens, os estudantes alcançariam um dos objetivos da produção: ser um programa voltado para a TV (produção integral), mas que também pudesse ser facilmente utilizado na web (produção fragmentada).

DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O título do programa foi definido depois de várias discussões e propostas lançadas pelos estudantes. Entre os muitos significados da palavra Circuito, estão Volta e Giro, que

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transmitem muito bem a ideia do programa, de dar uma volta pelas ruas e apresentar um giro cultural dos dois bairros. A representação do título na identidade visual do Circuito ficou por conta das vias urbanas, como ruas, travessas e avenidas. Animadas na vinheta de abertura e de transição das reportagens, as vias urbanas da capital paraense mostram os diferentes caminhos culturais dos bairros da Cidade Velha e Campina. Na UFPA, o Curso de Comunicação Social oferece duas habilitações: Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Para estimular a transdisciplinaridade, o Circuito contou com a colaboração do estudante do 7º semestre de Publicidade e propaganda da UFPA, Leonidas Dias, que produziu a identidade visual do programa. A turma apresentou ao estudante a concepção do projeto gráfico e Dias colocou em prática, juntamente com a estudante de Jornalismo, Fábia Sepeda, da turma do laboratótio. A construção da identidade visual do Circuito demorou cerca de quatro semanas para ser finalizada, incluindo brainstorm8, primeira versão, considerações da turma, segunda versão, novas considerações da turma e última versão. Parte do resultado pode ser conferida abaixo:

Figura 1: Logotipo do Programa Circuito. Fonte: Imagem pertencente ao arquivo da turma de jornalismo, 2015. Leonidas DIAS e Fábia SEPÊDA, 2014.

O Circuito é dividido em seis reportagens, uma chamando a outra, sem sequência e sem apresentadores fixos, pois a rapidez e dinamismo de cada reportagem faz com que todos os estudantes sejam apresentadores e repórteres ao mesmo tempo. A primeira reportagem apresenta o trajeto de estudantes que precisam atravessar os rios da Amazônia até a cidade de Belém, mostrando as dificuldades e vantagens de utilizar os rios como principal via de deslocamento. Em seguida, vem o circuito do açaí, que é vendido em feiras e estabelecimentos nos bairros da capital paraense e consumido de diferentes maneiras,

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O brainstorming é uma dinâmica de grupo que é usada em várias empresas como uma técnica para resolver problemas específicos, para desenvolver novas ideias ou projetos, para juntar informação e para estimular o pensamento criativo.

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todas igualmente válidas. Na terceira reportagem do programa, entra o circuito de moradores dos bairros da Cidade Velha e Campina. A quarta reportagem apresenta informações sobre a preservação do patrimônio histórico e faz um resgate da memória que os moradores mais antigos têm desses dois importantes bairros da capital paraense. Já a quinta reportagem do Circuito é sobre o circuito atual feito pelo Movimento Hippie na Praça da República, no bairro da Campina, que começa contextualizando o Movimento Hippie e depois mostra exemplo de pessoas que fazem parte do movimento em Belém. Por fim, o programa mostra importância da Catedral da Sé, de onde sai o traslado do Círio de Nazaré, e a relação que os moradores têm com essa importante construção da cidade. Além disso, o programa conta com vinheta de abertura, escalada e vinheta de encerramento feita pelos próprios estudantes do laboratório. Desde o início das discussões, um objetivo do programa ficou muito claro para todos os envolvidos na produção laboratorial: o Circuito deveria ser multimídia. E foi justamente essa iniciativa que facilitou todo o processo de divulgação do produto, pois a proposta do Circuito é direcionada para a TV, mas também pode participar do mundo da web. No formato para a televisão, o programa, que se apropria de uma linguagem rápida e objetiva, tem a duração de 30 minutos. Na web, o Circuito se estrutura por seis reportagens, permitindo ao internauta a liberdade de escolher a matéria que deseja assistir. No resultado, as seis matérias, juntas, formam um mapa, mostrando o circuito cultural da Cidade Velha e Campina. A produção dos alunos está disponível no canal do YouTube e no blog de Os Apocalípticos e no site do projeto de extensão Acadêmia Amazônia.

CONSIDERAÇÕES Fazer jornalismo na Amazônia não é uma das tarefas mais fáceis. No dia a dia das redações de impresso, de rádio, de TV ou de internet, os jornalistas esbarram em dificuldades de comunicação, de distancia, de segurança e, sobretudo, de transporte. A redação do Circuito, mesmo durando apenas alguns meses, enfrentou um pouco de cada uma destas limitações, que foram superadas em nome do experimentalismo, da ciência e da vontade de fazer, que era maior do que qualquer dificuldade encontrada no nosso caminho. No circuito dos estudantes ribeirinhos, por exemplo, os universitários Beatriz Pastana, Fábia Sepêda e George Miranda atravessaram a Baía do Guajará, em Belém, de madrugada, para encontrar a personagem Luciana Campos do outro lado do rio, no município de Barcarena, e realizar a travessia que ela enfrenta todos os dias, até o porto do

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Arapari, na Cidade Velha. Foi um esforço necessário para mostrar a vida de dezenas de estudantes que atravessam os rios da Amazônia em busca de um futuro melhor. Essa reportagem foi produzida de forma independente, com equipamentos dos próprios alunos. Agora, ao olhar para trás e constatar quantos obstáculos foram superados para que o Circuito fosse concluído, os estudantes são tomados pela sensação de dever cumprido com êxito. Seja porque mostraram um olhar diferenciado sobre os bairros, seja porque o Circuito conseguiu se tornar um produto multimídia, seja porque a produção do programa aprimorou a criatividade, a agilidade no fazer telejornalismo e renovou o entusiasmo de se trabalhar em equipe entre os próprios estudantes. Além disso, quando o Circuito foi apresentado à sociedade, o retorno ocorreu quase instantaneamente. No Blog Os Apocalípticos, onde toda produção foi divulgada, foram mais de 100 mil acessos e dezenas de comentários parabenizando a iniciativa dos estudantes de comunicação. Como forma de retribuir a colaboração de todos os entrevistados que se dispuseram a contar suas histórias e somar ao programa, a turma arquivou uma cópia do Circuito em um DVD e entregou de presente para cada um deles ter de recordação em casa. Espera-se, a partir desta iniciativa, que outros olhares sobre Belém (que completa 400 anos no início de 2016) sejam lançados e novas discussões possam ser feitas e aprimoradas. Até porque as produções acadêmicas não podem e não devem ficar restritas aos muros das universidades. Os estudantes da UFPA tocaram a bola e agora a missão é de todos os jogadores, de todas as universidades, da mídia e também da sociedade. Discutir e lançar olhares é preciso. Uma parte significativa já foi feita, mas continuar é mais do que preciso, é uma obrigação em nome do desenvolvimento histórico, humano e científico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Oeiras. Celta Editora, 1997. DUTRA, Manuel Sena. A natureza da mídia: os discursos da TV sobre a Amazônia, a biodiversidade, os povos da floresta. São Paulo: Annablume, 2009. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008 (Edição em português). MACHADO, Ismael. Sujando os Sapatos: o caminho diário da reportagem. Belém. Instituto de Artes do Pará (IAP). 2011. PATERNOSTRO, Vera Íris (1999). O texto na TV: manual de telejornalismo. 16ł. Reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier. 10

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