Projeto Nacional de Telessaúde: Experiência da Faculdade de Medicina da UFMG

Share Embed


Descrição do Produto

Projeto Nacional de Telessaúde: Experiência da Faculdade de Medicina da UFMG Cláudio de Souza1, Alaneir de Fátima Santos2, Maria do Carmo Barros de Melo3, Humberto José Alves4, Simone Ferreira dos Santos5, Renata Trad Campos6, Gustavo Cancela e Penna7 1

Coordenador do Núcleo de Telessaúde e Professor do Departamento de Cirurgia da UFMG, 2 Doutora, Coordenadora do Núcleo de Telessaúde da Faculdade de Medicina da UFMG, 3 Professora Associada e sub-coordenadora do Núcleo de Telessaúde da UFMG 4 Professor Adjunto e e sub-coordenador do Núcleo de Telessaúde da UFMG 5 Economista em Saúde e membro do Núcleo de Telessaúde da UFMG 6 Tecnóloga e membro do Núcleo de Telessaúde da UFMG 7 Médico da UFMG e membro do Núcleo de Telessaúde da UFMG

Resumo – O Programa Nacional de Telessaúde faz parte das ações do Ministério de Saúde do Brasil e é financiado pela Organização Pan-americana de Saúde (OPAS). Este artigo mostra a experiência da Faculdade de Medicina da UFMG neste programa. O projeto foi implantado em 2007 com a proposta de fornecer educação permanente em cuidados relativos à saúde, promovendo suporte aos profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e contribuindo para a organização e modernização efetiva do sistema de saúde. Um dos principais problemas do Brasil para efetivamente implementar o Sistema Único de Saúde é a pobre distribuição de profissionais médicos. Apesar de não existir evidência da falta de trabalhadores da área de saúde, sua distribuição no território brasileiro é heterogêneo. Muitos profissionais relatam que a principal razão para que eles não trabalhem em regiões mais distantes é a insegurança profissional. A meta é melhorar a qualidade do sistema e a resolubilidade. A Faculdade de Medicina tem realizado videoconferências, teleconsultorias e cursos de educação a distância. Os profissionais de saúde de áreas rurais têm recebido suporte assistencial e a comunidade a melhor atenção à saúde sem deslocamento. Palavras-chave: telemedicina, educação médica, educação permanente Abstract – The National Telehealth Program belongs to Ministry of Health of Brazil and supported by Pan American Health Organization (PAHO). This paper shows the experience of Medicine School of Federal University of Minas Gerais in telehealth program. This project started to be implemented in 2007 with the purpose of fostering permanent health care education, providing support to the Basic Health Units professionals and contributing to an effective public health system organization and modernization. One of Brazil’s main problems to effectively implement the Unified Health System (SUS) is the poor distribution of medical professionals. Although there is no evident shortcoming in the gross number of health workers, their distribution across the entire Brazilian territory is quite heterogeneous. Many professionals report the main reason why they do not accept to work in remote areas is the professionals insecurity. The goal is to improve the quality and resolubility system. The Medicine School has been doing videoconferences, teleconsultation and material for distance education. The health professionals for rural area have received support and the community has had the best attention in health without dislocation. Key-words: Telemedicine, medical education, permanent education.

Introdução Norris (2002) definiu o termo telessaúde como o “Uso das tecnologias de informação e comunicação para transferir informações de cuidados de saúde para prestação de serviços clínicos, administrativos e educacionais” [1]. Esta definição simples envolve um conteúdo rico e diverso de educação, e transmissão do conhecimento clínico levando à eqüidade e diversidade da tecnologia. Na prática vem se tentando melhorar a qualidade da assistência em saúde com baixo custo, aproveitando algumas vezes uma infra-estrutura já disponível [2]. As inovações tecnológicas têm

propiciado mais oportunidades para aplicações em telemedicina [3]. Os projetos de telessaúde vêm aumentando consideravelmente e a perspectiva é de que ocorra gradualmente uma globalização do conhecimento em saúde. Várias iniciativas de países desenvolvidos têm auxiliado os países em desenvolvimento a ter acesso às novas tecnologias levando à eqüidade na difusão do conhecimento. Em situações de calamidade pública, guerras e epidemias, várias instituições estão utilizando desses meios para auxiliar os menos favorecidos, portanto o caminho está traçado e a incorporação da tecnologia está ocorrendo em passos gigantescos [2]. Os benefícios propiciados pela telessaúde são

indiscutíveis, sobretudo a possibilidade de resgate social, eqüidade e universalidade no acesso aos serviços [4]. O Projeto Nacional de Telessaúde surge então como uma alternativa moderna para consolidar o modelo de atenção à saúde no Brasil. Ele foi implantado no Brasil via Ministério da Saúde, com apoio e financiamento da OPAS. Seu objetivo principal é melhorar a qualidade do atendimento da atenção básica no Sistema único de Saúde (SUS) propiciando o uso de tecnologia capaz de promover a tele-educação e a telessaúde. O alvo são as equipes do Programa de Saúde de Família (PSF) em 9 núcleos no Brasil, sendo que cada um está responsável por 100 municípios, com uma abrangência estimada de 2.700 equipes do PSF. Essas ações deverão contribuir com a melhoria na assistência de 11.000.000 de habitantes. O PSF está presente em cerca de 84% dos municípios brasileiros, sendo que os dados do Ministério da Saúde (MS) do Brasil de 2005 registram que cerca de 25.000 equipes já estavam formadas [5]. O presente artigo pretende descrever a implantação e o andamento do projeto relativo às atividades desenvolvidas pela Faculdade de Medicina da UFMG. Metodologia O Núcleo de Minas Gerais do Projeto Nacional de Telessaúde conta na Universidade Federal de Minas Gerais, com a participação do Núcleo de Telessaúde da Faculdade de Medicina, do Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas e do Laboratório de Computação Científica / CENAPAD da UFMG. Participam também do Núcleo de Minas Gerais professores da Faculdade de Medicina, do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Odontologia e da Escola de Enfermagem, além de profissionais das respectivas áreas técnicas e estudantes – Liga Acadêmica de Telessaúde e bolsistas de iniciação científica. A Faculdade de Medicina da UFMG atua no projeto prestando suporte assistencial e educacional, por meio de teleconsultorias (on line e off line) e videconferências, para 50 municípios. A teleconsultoria on line é realizada por meio de uma interação entre o especialista e o médico do PSF, utilizando web conferência, com possibilidade de compartilhamento de imagens diagnósticas. Para realização das teleconsultorias on line é necessário um agendamento prévio com o especialista. Na modalidade de teleconsultoria off line o profissional envia um resumo de caso para o especialista para discussões pontuais. A tendência é que os casos mais simples sejam discutidos off line e para os casos mais complexos utiliza-se a via on line, onde é exigida uma maior interação entre os profissionais. Para

estas teleconsultorias utilizamos o software Sametime. O sigilo, a privacidade e a confidencialidade das informações são garantidos. Para a implantação do projeto, os municípios receberam computadores, webcam, equipamento multimídia, impressora, câmara fotográfica e eletrocardiógrafo digital. Os municípios se responsabilizam pela conexão da internet. Os profissionais da área de saúde e de informática dos municípios receberam treinamento para o uso dos recursos. Foram realizadas visitas técnicas aos municípios para sensibilizar os usuários sobre o uso dos equipamentos e para o esclarecimento de dúvidas. Além disso, a Faculdade de Medicina presta suporte aos acadêmicos da UFMG durante o internado rural de medicina, enfermagem e odontologia. Na área metropolitana é dado também suporte aos alunos durante o estágio em Unidades Básicas de Saúde em Belo Horizonte. Existe uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, a qual iniciou suas práticas em Telessaúde a partir de 2003 com o projeto BHTelessaúde. A faculdade está desenvolvendo cursos de educação a distância utilizando modelagem 3D, vídeos educativos e efeitos de animação, como instrumentos facilitadores do ensino. Resultados As Figuras 1, 2 e 3 são exemplos de imagens produzidas pela equipe e utilizadas para o ensino a distância.

Figura 1 – Imagem utilizada no curso de traumas superficiais

Figura 2 – Imagem de prova do laço para curso de dengue

351 317

321

251

99

Dez./07

Figura 3 – Imagem da página inicial do curso de eletrocardiograma Em 2007, além do treinamento dos profissionais e da compra de equipamentos e do processo de implantação do sistema, foram realizadas 72 teleconsultorias, 01 videoconferência e 270 eletrocardiogramas. Em 2008 já foram realizadas: 330 teleconsultorias, 10.186 eletrocardiogramas, 29 videoconferências com a participação de 1989 profissionais dos municípios. As visitas técnicas foram importantes para sensibilização quanto ao uso dos recursos e para o esclarecimento das dúvidas. As dificuldades percebidas estão sendo importantes para o acompanhamento do processo. Alguns profissionais das equipes de PSF demonstraram certa resistência em utilizar os aparatos e recursos tecnológicos ofertados. Os profissionais relatam em entrevistas realizadas, como projeto piloto de avaliação, que um dos benefícios da telessaúde é a diminuição dos deslocamentos dos pacientes para os grandes centros. A Figura 4 mostra o número de teleconsultorias por áreas. 89 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

68 27 23 16 16 16 14 13 11 10

Figura 4 – Teleconsultorias por especialidade em 2007 e 2008

A figura 5 mostra o número de videoconferências realizadas em 2007 e 2008, de dezembro de 2007 a maio de 2008.

Fev./08

Mar./08 Abril/08

Maio/08

Figura 5 – Videoconferencias em 2007 e 2008 Discussão e Conclusões Melo et al. (2007) registram que em um projeto similar (Projeto BHTelessaúde) realizado no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, a resolutividade das teleconsultorias foi de 78%, evitando-se o deslocamento dos pacientes. Em oficinas realizadas com os profissionais das UBS foi destacado como benefício da telessaúde o intercâmbio de experiências e de conhecimentos na busca das boas práticas clínicas, além do compartilhamento de opiniões para as decisões clínicas [6]. As videoconferências de temas selecionados conforme as necessidades dos profissionais e da população a ser atendida são instrumentos importantes na consolidação do aprendizado e para o repasse de protocolos e de conteúdos. A produção de conteúdo em três dimensões se fez necessária, já que algumas representações com o método estático, ou em duas dimensões, não apresentam o objeto virtual com a clareza. Portanto, foi imperativo a utilização da representação virtual em 3D, e em algumas situações com recursos de visão estereoscópica, para apresentar perspectivas impossíveis de serem apresentadas com o método áudio visual tradicional. De acordo com Doolittle & Spaulding [7], programas desenvolvidos baseando-se apenas no emprego das inovações tecnológicas (tecnocracia), comumente não são tão bem aceitos pela população e nem tampouco pelos profissionais de saúde, correndo-se sérios riscos de insucesso. Portanto, o planejamento por parte dos serviços é uma etapa fundamental, buscando a formação de uma equipe envolvida e participativa de profissionais das áreas de saúde, informática e de gestão local [2]. Conforme citação de Souza & Melo [4], nos Estados Unidos da América do Norte, o Medicaid Reform Commission Report recomenda a expansão do uso da telemedicina nas áreas de dermatologia e psiquiatria. Neste mesmo país, atividades de telemonitoramento cardíaco e fetal, bem como as de telemedicina rural têm sido

reembolsadas nacionalmente. O US General Accounting Office não encontrou evidências em relação a possível aumento de custo com uso da telemedicina. Um estudo realizado na Noruega, envolvendo 375 usuários, mostrou 71% de redução de custo com a teledermatologia, quando comparado com o custo do tratamento no centro especializado mais próximo, de 47% quando comparado com o tratamento no hospital acrescido de visita domiciliar e de 51% quando comparado com o tratamento com um dermatologista empregado [8]. Hjelm, em 2006, relata que a longo tempo a telemedicina poderá reduzir dramaticamente os custos dos serviços de saúde devido ao seu potencial efeito de reestruturar os cuidados recebidos pelos pacientes e de modificar as práticas, reorganizando os serviços [9]. Até o momento, a nossa experiência tem sido gratificante no sentido da capacitação em serviço dos profissionais de saúde e, consequentemente, na melhoria na assistência. A telessaúde no Brasil tem sido considerada como uma proposta de baixo custo e efetiva para prestar suporte aos profissionais de saúde. Agradecimentos Este projeto pôde ser desenvolvido no nosso núcleo graças à participação de toda a equipe, portanto gostaríamos de agradecer ao apoio de todos os colegas e companheiros do NUTEL. Referências [1] Norris AC. Essentials of telemedicine and telecare. Baffins Lane: John Wiley & Sons, Ltd, England; 2002. [2] Melo MCB, Silva SEM. Aspectos Conceituais em Telessaúde. In: Santos AF, Souza C, Alves HJ, Santos SF, organizadores. Telessaúde – Um instrumento de suporte assistencial e educação permanente. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. cap 1 , p. 17-31. [3] Thrall JH, Boland G. Telemedicine in Pratice. Seminars in Nuclear Medicine 1998. 28 (2): 145157.

[4] Souza C, Melo MCB. Aspectos éticos e legais em telemedicina. In: Santos AF, Souza C, Alves HJ, Santos SF, organizadores. Telessaúde – Um instrumento de suporte assistencial e educação permanente. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. cap.2, p. 32-45. [5] Campos FE, Haddad AE, Wen CL, Alkmim MBM. Telessaúde em Apoio à Atenção Primária à Saúde no Brasil. In: Santos AF, Souza C, Alves HJ, Santos SF, organizadores. Telessaúde – Um instrumento de suporte assistencial e educação permanente. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. cap. 1 (parte 2), p. 59-74. [6] Melo MCB, Magalhães Júnior HM, Santos AF, Souza C, Campos RT, Santos SF. Implantación del servicio de telesalud en el sistema público de Salud en Belo Horizonte-Brasil: ¿es posible reproducirlo? Revista eSalud.com 2007. 3 (9): e 1-14. [7] Doolittle GC, Spaulding RJ. Defining the needs of a telemedicine service. In: Wooton R, Craig J, Patterson V. Introduction to Telemedicine 2 ed. London: Royal Society of Medicine Press Ltd: 2006. cap 60, p. 79-92. [8] Bergmo, TS. A cost-minimization analysis of a realtime teledermatology service in northern Norway. Journal of Telemedicine and Telecare, 2000. 6 (5): 273-277. [9] Hjelm NM. Benefits and telemedicine. In: Wooton R, Craig Introduction to telemedicine 2 ed. Society of Medicine Press Ltd: p.135-150.

drawbacks of J, Patterson V. London: Royal 2006. cap.10,

Contato Dra. Maria do Carmo Barros de Melo, Professora do Departamento de Pediatria da UFMG e membro do Núcleo de Telessaúde da Faculdade de Medicina da UFMG. Avenida Alfredo Balena, 190. Faculdade de Medicina da UFMG. Sala 613. Belo Horizonte E-mail: [email protected]

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.