[projeto] Super-Herói cearense: a hibridização cultural e o regionalismo no personagem Capitão Rapadura

August 12, 2017 | Autor: Lucas Reis | Categoria: Comics Studies, Regionalismo, Hibridismo
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Lucas Bernardo Reis




SUPER HERÓI CEARENSE: A HIBRIDIZAÇÃO CULTURAL E O REGIONALISMO NO PERSONAGEM CAPITÃO RAPADURA





Pré-projeto de pesquisa apresentado na Disciplina de Epistemologia e Metodologia Científica no curso de Comunicação Social – Jornalismo no Departamento de Comunicação Social do Campus do Benfica da Universidade Federal do Ceará




Fortaleza-CE
2010

1 – IDENTIFICAÇÃO
- Tema
Hibridação Cultural

– Delimitação do Tema
Estudo sobre as características culturais híbridas e regionais do Capitão Rapadura através das tirinhas do blog do personagem na internet.

2- PROBLEMA: QUESTÕES E OBJETIVOS
2.1 – Questões da pesquisa
- As características estéticas e de linguagem presentes nas tirinhas do blog podem ser táticas empregadas pelos grupos para domesticar o estrangeiro e, dessa forma, colocam o personagem Capitão Rapadura como um objeto cultural híbrido?
- Como é possível que o uso de palavras, frases e situações comuns ao povo nordestino resgate e valorize a cultura local, podendo identificar culturalmente o cearense?
- As representações inseridas nas tirinhas do personagem Capitão Rapadura apontem para estereótipos do nordestino, como discriminados ou marginalizados?
2.2 – Objetivo Geral
- Discutir sobre a hibridização cultural a partir das tirinhas do personagem Capitão Rapadura presentes em seu blog, fazendo uso das teorias dos Estudos Culturais e globalização.
2.3 – Objetivos Específicos
- Discutir sobre como os processos culturais híbridos transcrevem características mundiais em objetos regionais;
- Analisar características transcritas a partir de características mundializadas nas tirinhas;
- Caracterizar os principais meios de encontrar tais características nas tirinhas do blog.


– JUSTIFICATIVA
As discussões sobre identidade, atualmente, estão entre as principais demandas dos estudos culturais e midiáticos. Na contemporaneidade, o acesso constante aos processos culturais, entre eles, os meios de comunicação, conflita as fronteiras territoriais locais e as identidades presentes nesses lugares. Como afirma Dias (2008, p.1) esses "sentimentos de perda de identidade são compensados pela procura ou criação de novos contextos para práticas culturais e discursos identitários".
Através de leituras realizadas para o desenvolvimento deste projeto, verificamos que esses contextos ganhem novos contornos através da tradução cultural, descrita por Burke (2003, p.55) como "o mecanismo por meio do qual encontros culturais produzem formas novas e híbridas". Para o mesmo autor "as culturas não são ilhas" e, dessa forma, dos encontros que realizam no decorrer da história chegasse a adaptar culturalmente o objeto, recontextualizando o descontextualizado em seu novo ambiente (2013).
Nesse contexto se encontram as Histórias em Quadrinhos, que, ao mesmo tempo unificam nacionalmente um território através de seus símbolos (ORTIZ, 2006), também apresenta o contrário, regionalizando personagens, acrescentando características referencias socialmente como o linguajar, porém, mantendo traços de uma estética mundial.
Temos então, o personagem Capitão Rapadura, criado pelo artista e cartunista cearense Mino em 1973. O foco no personagem se deve ao fato da representatividade do Capitão com uma cultura nordestina, por conseguinte, uma cultura cearense, por exemplo na rapadura, porém, o personagem apresenta características mundializadas de super-herói, uma "memória internacional-popular" (2006) que guarda, por exemplo a capa, a capacidade de voar, o uniforme, dentre outros, para uso a qualquer momento.
Nesse sentindo, nossa análise se justifica porque o Capitão Rapadura nos traz a familiaridade de um super-herói americano, tornando-o um exemplo de híbrido cultural pois, traduz culturalmente tanto características regionais quanto internacionais, reflexo da globalização tão presente em nossa pós-modernidade.


Para o alcance do objetivo de nossa análise, o projeto desenvolverá inicialmente características dos híbridos culturais, após, apresentar como tais influenciam nas culturais regionais e, por fim, como o personagem Capitão Rapadura é envolvido por todas essas nuances, caracterizando como um objeto tanto regional, quanto mundial.
4 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 – Hibridismo cultural
As questões de hibridação cultural que ultrapassam e derrubam as fronteiras regionais e nacionais, tornaram-se um fenômeno moderno. Produção excessiva de bens, informações cada vez mais rápidas, homogeneízam territórios signos antes incomparáveis, fazendo com que "costumes, tradições, gestos e comportamentos de outros povos, próximos ou distantes, circulam amplamente na aldeia global" (MELO, 2008, p.41).
Essa interpretação surge de um novo mundo globalizado, no qual, o avanço tecnológico e a modernidade capitalistas são os propulsores do avanço e onde as culturas se hibridizam mas da hibridação, consequentemente, produzindo novas modalidades culturais.
É o que apresenta Burke (2003, p.31) que considera as formas híbridas "como o resultado de encontros múltiplos e não como resultado de um único encontro, quer encontros sucessivos adicionem novos elementos à mistura quer reforcem os antigos elementos".
Hall (1999) discorre sobre as identidades culturais a partir das culturas nacionais. Para ele, a nação é composta de representações e símbolos que fundamentam a constituição de uma dada identidade nacional. As culturas são produtoras de sentidos com os quais nos identificamos e constroem, assim, suas identidades. Estes sentidos estão contidos nas narrativas, memórias e imagens que servem de referências para a constituição da identidade da nação.
Como a modernidade passou a fragmentar a identidade, as paisagens culturais de uma sociedade, como nacionalidade, gênero e demais não mais fornecem localizações para os indivíduos. Vislumbramos agora fenômenos como a descentralização, deslocamentos múltiplos e a ausência de referentes fixos ou sólidos para as identidades.

Outro teórico dos estudos culturais trata-se de García Canclini (2007, p. 41). O autor compreende que uma das consequências do presente, aparentemente, por uma fragmentação do real, é o deslocamento no sobre processos identitários, que não mais privilegia a uniformidade dos sistemas culturais, mas sim, uma hibridização destes.
O cultural facilita falar da cultura como uma dimensão que refere diferenças, contrastes e comparações, permite pensá-la menos como uma propriedade dos indivíduos e dos grupos e mais como um recurso heurístico que podemos usar para falar da diferença.

Para Bauman (2007), a "hibridização refere-se à mistura", na medida em "a função que a torna louvável e cobiçada no mundo é a separação" (p.42). Para o autor, a prática marca autonomia e não independência em relação a modernização imposta. Segundo ele, uma cultura híbrida busca sua identidade na não-pertença.
Nessa introdução, percebemos que nos contextos culturais híbridos o indivíduo passaria constantemente em conflitos a mundialização e a participação na coletividade nacional ou regional. Dessa forma, a identidade é uma reivindicação pela diferença, sendo essa apontada pela cada vez maior regionalização de processos, dentro dos quais está a cultura regional.
4.2 – Cultura regional
A cultura regional, em seu sentido amplo, abrange todos as manifestações de uma determinada região que caracterizem sua realidade sociocultural, vão das manifestações incluem do erudito ao massivo como afirmava Martin-Barbero (1987).
Para a pesquisadora Maria Eunice Moreira (1982, p. 9) as obras regionais concentrariam um vasto escopo de atuação e seriam caracterizadas dessa forma "quando uma realidade particular ali estivesse representada", e também "mais especificamente, porém, uma obra de arte, para ser regionalista, além de ser localizada numa região particular, deve refletir também os elementos ideológicos dessa realidade regional".
As culturas regionais, acreditamos, possuem elementos inovadores e tradicionais, o que constitui a dinâmica cultural, que é tão móvel e ambígua quanto a sociedade em que está.


A cultura é uma totalidade complexa feita de normas, de hábitos, repertórios de ação e de representação, adquirida pelo homem enquanto membro da sociedade. Toda cultura é singular, geograficamente ou socialmente localizada, objeto de expressão discursiva em uma língua dada, fator de identificação dos grupos e dos indivíduos e de diferenciação diante dos outros, bem como fator de orientação dos atores, uns em relação aos outros e em relação ao seu meio. Toda cultura é transmitida por tradições reformuladas em função do contexto histórico.
No contexto nacional, a cultura regional nordestina faz parte de um grupo de fortes representantes que compõem a identidade nacional, acreditando ser esta constituída de uma diversidade cultural vinda das muitas identidades regionais.
Na análise realizada por Renato Ortiz (1985), no qual problematiza o nacional versus o popular na formação da identidade percebemos que a figura do Estado como agente promotor, através da apropriação da memória coletiva para torná-la "memória nacional", onde, tanto a cultura regional quanto a cultura popular ocupam o mesmo espaço e têm a mesma significação, quando não são tomadas uma pela outra.
Assim, a discussão para a problemática da construção da identidade nacional, evidencia socialização da cultura, que se concretiza na vivência cotidiana, ou seja, muito mais próxima do espaço da região. Acreditamos que a importância da cultura regional, vista sob a ótica da dinâmica cultural, não é uma manifestação estática, apenas traduzida por padrões tradicionais, mas sim, sofre transformações para sobreviver diante das mudanças econômicas e sociais, só mantendo o que possibilita relações de significações com a concretude da realidade.
Da socialização da cultura e a crescente participação dos cidadãos, sucede a atual revolução tecnológica. Essa participação faz com a mídia digital, em foco a Internet, se destaque como veículo de difusão da cultura popular. E, entre os fatores que contribuem para isso, destacando o baixo custo da disponibilização de conteúdo para quem já tem a acesso, além da maior interatividade, característica que estudiosos pontuam como nova mídia.



4.3 – Capitão Rapadura: personagem híbrido na internet
O Capitão Rapadura é um personagem de histórias em quadrinhos criado pelo cartunista cearense Hermínio Macedo Castelo Branco, popularmente conhecido como Mino. Estando na lista dos super-heróis genuinamente brasileiros, Capitão Rapadura é, de fato, o primeiro super-herói cearense.
O nome tem inspiração na fase de ouro das HQs norte-americanas – a exemplo do Capitão América, Capitão Marvel –. Em entrevista para o jornal cearense Diário do Nordeste, o autor explica que a Rapadura foi utilizada como um elemento de forte identificação cultural do cearense e que, pode-se corresponder ao tonificante espinafre do marinheiro Popeye, sendo a principal fonte dos poderes do personagem cearense.
Além dessas características, o chapéu de couro, o símbolo CR no peito do uniforme, representando seus superpoderes, o personagem ainda conta com a devoção ao Padre Cícero – figura religiosa da região do Cariri cearense – e ao humor do cearense, segundo palavras do próprio cartunista.
A primeira história do personagem publicada foi lançada em 1973 com o título de Capitão Rapadura contra a Peba da Aldeota, sátira que narrava a quantidade de buracos presente no bairro de Fortaleza, capital do Ceará.
Ademais, a primeira história, com data incerta, é uma exemplar representação de como os princípios mundializados são hibridizados aos regionais. Na história do nascimento do personagem há uma clara alusão ao nascimento de outro personagem, Superman criado em 1938 pelos artistas Jerry Siegel e Joe Shuster e expoente do Comics americano.





O contexto nacional das histórias em quadrinhos torna-se um dos empecilhos para a não periodicidade de suas tirinhas. Segundo Mino
Tínhamos duas grandes referências: o ´Pererê´, do Ziraldo, e a ´Turma da Mônica´, do Mauricio de Sousa. Dizia-se que HQ nacional era impossível. Perguntaram ao Maurício como ele fez, já que era ´impossível´, e ele disse que só fez porque não sabia disso (DIÁRIO DO NORDESTE, 2013).

Após 20 anos aguardando alguma publicação, o herói retornou as tirinhas em 1996, mas não apenas com os traços de Mino, porém, daqueles entusiasmados pelas histórias do personagem. Nomes como J.J. Marreiro, Geraldo Borges, Daniel Brandão e Valdijunio Rodrigues, publicaram mais 15 edições da revista do Capitão Rapadura, seguindo até 1998.
Diante do apanhado breve da história do personagem percebemos a influência do externo e do regionalismo, notadamente cearense. A junção das duas vertentes vai de encontro da abordagem proposta pelo trabalho, em analisar as características de hibridação do personagem, tornando-se uma representação do regionalismo.
5 – METODOLOGIA
5.1 – Procedimento Geral
Este trabalho de pesquisa está organizado a partir do levantamento das tirinhas do blog Capitão Rapadura. A escolha da análise de conteúdo e das teorias de Estudos Culturais e globalização deu-se devido a ainda necessidade de aprofundamento nas questões regionais da temática, além da popularidade regional do personagem, principalmente, no Ceará, através da Internet.
Trata-se, portanto, de uma investigação quanti-qualitativo, com um enfoque quantitativo graças ao levantamento das publicações da página de janeiro de 2012 a dezembro de 2012, pelo maio número de postagens, 89 ao todo; e qualitativo pelo processo que envolveu a análise e descrição das representações híbridas e regionais do personagem através das tirinhas.





6 – BIBLIOGRAFIA

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.


BURKE, Peter. Hibridismo cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.


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DIÁRIO DO NORDESTE [Internet]. Fábio Marques: Caderno 3; 2013 - [citado em 2014 Nov 16]. Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/capitao-rapadura-humor-bom-aos-40-1.797901


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SOUZA, Rafael Britto de. Identidade e Epistemologia Narrativa. 2008. 105 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidade, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Fortaleza-CE, 2008.

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