Proposta de Verbete e Artigo-Resumo da Obra: “DINÂMICA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS: OS PÓLOS DA PRÁTICA METODOLÓGICA”

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RAFAEL DA SILVA FERNANDES

DOSSIÊ TMCI: PROPOSTA DE VERBETE E ARTIGO-RESUMO DA OBRA: “DINÂMICA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS: OS PÓLOS DA PRÁTICA METODOLÓGICA: OS PÓLOS DA PRÁTICA METODOLÓGICA”

PORTO Janeiro de 2013

Rafael da Silva Fernandes Aluno do segundo ano do curso de Ciência da Informação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto

DOSSIÊ TMCI: Proposta de Verbete e Artigo-resumo da Obra: “Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais: Os Pólos da Prática Metodológica”

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Teoria e Metodologia da Ciência da Informação, orientada pelo Professor Armando Manuel Barreiros Malheiro da Silva.

Faculdade de Letras da Universidade do Porto Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal

Janeiro de 2013

DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. Tradução Ruth Joffly. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977.

Resumo

Cada vez mais a internet é a principal e mais acessível fonte de Informação de toda a gente, e por isso o Dicionário Electrónico de Terminologia em Ciência da Informação se revela uma ferramenta eficaz na transmissão do significado de cada conceito. O conceito de Artigo Científico é a minha proposta para a adição a esta plataforma, pois estes artigos são o culminar das pesquisas feitas em diversas áreas (incluindo a Ciência da Informação). A Ciência da Informação sempre esteve ligada com a produção de conhecimento, e esta metodologia abrange diversos pontos, entre eles, os mecanismos de pesquisa e formas de colectar os dados. O livro: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, mostra também, como é a formação, construção e estruturação dos objectos de pesquisa, em quatro pólos diferentes: o pólo epistemológico, teórico, morfológico e técnico.

Palavras-chave: Ciência da Informação. Pesquisa científica. Artigo Científico. Informação. Conhecimento.

DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. Tradução Ruth Joffly. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977.

Abstract

Increasingly the internet is the main and most accessible source of information for everyone, so the Dicionário Electrónico de Terminologia em Ciência da Informação has proved to be an effective tool in conveying the meaning of each concept. The concept of a scientific article is my proposal to this platform, because these articles are the culmination of research done in various fields (including Information Science). The Information Science has always been connected with the production of knowledge, and this methodology covers various points, including search methods and ways to collect data. The book: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica also shows how the formation, construction and structuring of research articles is, in four different areas: the epistemological, theoretical, technical and morphological pole.

Keywords: Information Science. Scientific research. Scientific Article. Information. Knowledge.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5 1 – VERBETE ............................................................................................................. 6 2 – RESUMO DA OBRA: “DINÂMICA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS: OS PÓLOS DA PRÁTICA METODOLÓGICA” ................................................................ 7 2.1 – O polo epistemológico ........................................................................................ 8 2.2 – Os processos discursivos ................................................................................. 10 2.2.1 – A dialética ...................................................................................................... 10 2.2.2 – Fenomenologia .............................................................................................. 11 2.2.3 – A quantificação .............................................................................................. 12 2.2.4 – O método hipotético-dedutivo ........................................................................ 13 2.3 – O polo teórico ................................................................................................... 14 2.3.1 – Método e teorização ...................................................................................... 14 2.3.2 – Formulação teórica ........................................................................................ 15 2.4 – Os quadros de referência ................................................................................. 17 2.5 – O polo morfológico ........................................................................................... 18 2.6 – Os quadros de análise...................................................................................... 20 2.7 – O polo técnico .................................................................................................. 22 2.8 – Os modos de investigação ............................................................................... 27 2.8.1 – Os estudos de caso ....................................................................................... 27 2.8.2 – Os estudos comparativos .............................................................................. 28 2.8.3 – As experimentações ...................................................................................... 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 31

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INTRODUÇÃO

Para a realização deste trabalho foi-nos proposta a elaboração de um novo verbete a ser adicionado no Dicionário Eletrónico de metodologia em Ciência da Informação, e também a composição de um artigo-resumo da obra: DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica. Tradução Ruth Joffly. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977. Estas duas partes do trabalho estão ligadas com o programa da unidade curricular de Teoria e Metodologia da Ciência da Informação. O Dicionário Eletrónico de metodologia em Ciência da Informação é agora uma fonte bastante importante, pois cada vez mais as pessoas deixam de ir às bibliotecas em busca de informação, como era habitual em outros tempos, e passam mais tempo em frente ao computador, na internet, onde conseguem ter um mais rápido e fácil acesso a todo o tipo de pesquisas. Por isso eu irei propor um verbete para tornar este Dicionário mais rico e assim poder contribuir para o seu crescimento. O artigo-resumo do livro Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica é a segunda parte do meu trabalho, onde irei apresentar as matérias mais importantes abordadas nesta obra de valor elevado para quem se dedica à pesquisa da Informação, pois explica todos os processos desta pesquisa, tendo em conta os quatro polos da construção e elaboração de objetos de pesquisa científica: epistemológico, teórico, morfológico e técnico.

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1 – VERBETE

Para esta proposta resolvi escolher o conceito de “Artigo Científico”: Artigo Científico: É um trabalho técnico-científico resultante de uma investigação/pesquisa por parte de uma ou mais pessoas, de acordo com o método científico aceite por uma comunidade de investigadores. É um estudo importante usado em todas as ciências, incluindo a Ciência da Informação. É uma apresentação completa dos resultados de um certo estudo, de interesse a um determinado público, que pode resultar de investigações experimentais originais; de defesa da opinião pessoal relativamente a um determinado assunto, opinião apoiada em estudos de autores conceituados, dos quais se concordo ou não; de trabalhos de revisão bibliográfica; ou de atualizações a partir de novas descobertas. O seu objetivo é esclarecer ideias ou assuntos, provar teorias ou hipóteses, entre outros. Para isso o artigo tem de estar bem estruturado, é fundamental saber o assunto que se quer tratar, a quem se quer comunicar esse assunto, e a sua finalidade. Deve ser estruturado de forma coerente, obedecendo a certas regras para a sua elaboração/estruturação. Deve ter: o Título; o Resumo na língua vernácula e por vezes em língua estrangeira (normalmente o inglês, com o nome de Abstract); o Texto, desenvolvimento do trabalho (com Introdução, corpo e conclusão) e as Referências Bibliográficas. Quando estes artigos são apresentados academicamente são divididos em três grandes partes, os Elementos pré-textuais, os Elementos textuais e os Elementos pós-textuais. Dos Elementos pré-textuais fazem parte: a capa, a folha de título, a errata, a folha do júri, a dedicatória, os agradecimentos, a epígrafe, o resumo (na língua vernácula e na língua estrangeira), o sumário, as listas e o glossário. Dos Elementos textuais fazem parte o texto (o desenvolvimento propriamente dito) e as referências bibliográficas. Dos Elementos pós-textuais fazem parte os anexos e o índice. Grande parte dos Elementos prétextuais e todos os Elementos pós-textuais são facultativos.

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2 – RESUMO DA OBRA: “DINÂMICA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS: OS PÓLOS DA PRÁTICA METODOLÓGICA”

Como o nome da obra indica, são nela aprofundados métodos de pesquisa dentro das ciências sociais, ciências humanas, com a intervenção do Homem, não naturais. Estas ciências são pluridisciplinares, pois tem um campo de ação muito vasto (psicologia, sociologia, etc.), são também ciências abertas, ou seja, estão sempre em busca de novos métodos e conceitos. São divididas em quatro grupos: ciências sociais históricas (determinam concretamente os objetos de pesquisa), nomotéticas (estabelecem leis), jurídicas (carácter normativo) e filosóficas (universalista). O conhecimento científico resultante, rege-se pelas leis da metodologia científica, em que o objetivo é “esclarecer uma unidade subjacente a uma multiplicidade de procedimentos científicos particulares, ajudando a esclarecer os obstáculos

que

encontra”.

(DE

BRUYNE,

Paul;

HERMAN,

Jacques;

DE

SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 27) O campo de pesquisa é o lugar prático da elaboração dos objetos. Essa pesquisa tem de ser autónoma, sem intervenção externa nos investigadores. A pesquisa científica está inserida num ambiente social vasto, com variados campos constituintes e que têm repercussões no objeto final, são eles o campo: da demanda social (tem em conta o investigador como membro de um sociedade); axiológico (valores sociais e individuais do investigador); doxológico (campo do saber); e o epistémico (campo do conhecimento científico). A metodologia das ciências sociais é também uma lógica, pois tem uma certa reflexão sobre os procedimentos lógicos e critérios das práticas científicas. Esta metodologia é quadripolar, pois são distinguidos quatro polos: epistemológico, teórico, morfológico e técnico. E é a junção desses polos que resulta na prática metodológica.

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Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 36 Ilustração 1 - Prática metodológica

2.1 – O polo epistemológico

A epistemologia é uma metaciência no que que diz respeito às ciências, pois reflete sobre os princípios da ciência, e tem também um carácter intracientífico pois é intrínseco à pesquisa científica realizada. Tem

como função estabelecer as condições de objetividade

dos

conhecimentos científicos, modos de observação e experimentação entre as teorias e os fatos. A reflexão epistemológica existe, e é a reflexão dos pesquisadores sobre os instrumentos de conhecimento, esta é feita com o objetivo de superar as crises e legitimar os pontos de vista. A epistemologia tem dois métodos, o histórico crítico, onde há uma apreciação dos factos, os procedimentos lógicos, onde são apreciadas as regras, ou seja, a epistemologia situa-se numa lógica de descobrimentos e ao mesmo tempo de prova, apoiando-se em considerações lógicas e considerações concretas. Ela é dividida em epistemologias internas e geral. As internas estão relacionadas com a história das suas práticas no domínio científico, e a geral está ligada à história do conjunto de todas as disciplinas científicas.

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O grande objetivo da epistemologia é fornecer regras às ciências sociais, para que esta aprenda instrumentos uteis para as tarefas problemáticas, na criação e consolidação de conhecimentos científicos. A epistemologia geral é dividida em vários princípios, são eles: O princípio da causalidade: caracteriza o aspeto nomotético das ciências. Supõe que toda a coisa e todos os acontecimentos emergem nas condições prévias e que toda a propriedade está legalmente conjugada a outras propriedades; O princípio da finalidade: é o que resulta da causalidade, da causa resulta um fim. É o objetivo dos indivíduos/grupos; O princípio da conservação: convida a procurar o traço dos fenómenos que não se manifestam, supondo também a sua transformação; O princípio da negligenciabilidade: distingue o essencial do não essencial. É indispensável para selecionar as teorias, hipóteses, o material das informação empíricas; O princípio da concentração: afirma que certos níveis de análise têm mais informações para a investigação do que outros, são mais significativos que outros; O princípio da economia: obriga a um rigor sistemático, para deste modo prevenir os erros e reduzir a complexidade do sistema explicativo; O princípio da identificação: determina fenómenos diferentes do comum, não tão facilmente identificáveis; O princípio da validade transitória até novas informações: à base de ciências empíricas modernas, as quais são verdadeiras enquanto não há nada que as prove falsas. No entanto todas as teorias podem ser falsificadas e abandonadas caso já não respondam à problemática que as suscitou. Também a epistemologia interna é dividida em alguns princípios: Objeto e problemática científica: os objetos evoluem à medida que evoluem os métodos e a sua problemática. Cada ciência à medida que progride tende a adaptar o objeto aos meios de conceção. O objeto é o culminar da investigação, e quanto melhor se define a problemática, melhor se define o objeto; Objeto real, percebido, construído: todo o objeto é muitas vezes substituído por um mais recente, chama-se a isto rutura epistemológica. O objeto percebido é o que se dá aos sentidos sob a forma de imagens, súbito, e o objeto construído é o que passa por um processo (objetivação, conceitualização, formalização e estruturação) até ser finalizado;

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Génese da teorização: As fontes das formulações teóricas devem ter origem epistemologicamente: a) Indução: não se pode apoiar em procedimentos que podem ser decididos, deve ser espontânea; b) O acaso: a criação de uma nova teoria pode ser potencializada por uma descoberta. Como são inesperados, atraem a atenção do investigador; c) Crítica:

desenvolve-se

em

oposição

a

teorias

estabelecidas

e

experiências já conhecidas. Há a demolição de conceitos estabelecidos e novas propostas de soluções teóricas; d) Análise comparativa: há a comparação entre teorias, das quais podem surgir novas hipóteses; e) Análise controlada: é o princípio unificador dos objetos submetidos à definição de sistemas teóricos. f) Intuição: critica os falsos problemas e inventa os verdadeiros, luta contra a ilusão e propõe a resolução dos problemas em função do tempo. g) A problemática: fonte direta das teorias e das hipóteses, resulta da insistência dos problemas concretos.

Posto tudo isto, a epistemologia pode ser vista como o motor de pesquisa do investigador. É com isto que o objeto científico é criado e a problemática da investigação é delimitada.

2.2 – Os processos discursivos 2.2.1 – A dialética

A dialética pode ter três aspetos: o movimento concreto, natural e sociohistórico, é a análise e a síntese, bem como a negação das leis da lógica, mostrando que elementos do mesmo grupo de podem relacionar entre si; a lógica de pensamento que se quer tornar conhecimento; e a relação entre o objeto construído pela ciência, o método empregado e o objeto real.

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A dialética é a tentativa de conceber a análise de um processo social, essencial. Situa-se ao nível pré-teórico dos problemas fundamentais da teoria. Basicamente é a articulação entre o epistemológico e o conceitual da teoria. Engloba vários procedimentos críticos, como a complementaridade que destaca as relações mutuas entre elementos já estudados; a implicação dialética mutua que encontra em setores elementos comuns; a ambiguidade dialética que insiste na ambivalência de certos fenómenos (são X e são não-X); a polarização dialética que mostra as diferenças entre elementos aparentemente idênticos; e a colocação da reciprocidade das perspetivas que faz sobressair o seu paralelismo (elementos aparentemente sem identificação). Estes elementos são normalmente utilizados na criação de objetos científicos. A dialética coloca questões sem dar respostas e recusa as abstrações da logica formal e transcendal.

2.2.2 – Fenomenologia

A fenomenologia pode ser uma prática científica, uma metodologia de compreensão, uma filosofia ou até uma crítica às ciências. Tem ambições epistemológicas radicais, no entanto está consciente dos limites da sua própria abordagem. O interesse para a pesquisa encontra-se na elaboração conceitual do objeto. Segundo Hussal a fenomenologia seria uma forma de “voltar às próprias coisas”, porque era necessário ir da realidade concreta à sua essência. O primeiro movimento deste método é a redução fenomenológica, uma rutura, fazer uma abstração de tudo o que a ciência sabe sobre o objeto em estudo. O fenómeno não é algo que aparece, é algo que é vivido, uma espécie de intuição captada sobre uma reflexão. O importante é perceber a essência do fenómeno, perceber o conjunto das condições para a existência desse. A reflexão fenomenológica exige um esforço para a compreensão do real do objeto do investigador. Ela guiará o pesquisador quando se tratar de colocar problemas e hipóteses. A fenomenologia fornece uma descrição sistemática dos objetos estudados, e assim ela é uma espécie de análise exploratória, a partir da qual se elaborará o

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aparelho metodológico total. Ela constitui um processo epistemológico com o qual as ciências sociais devem estabelecer as suas problemáticas, no entanto com ambições estritamente científicas.

2.2.3 – A quantificação

A quantificação intervém por vezes na pesquisa científica para consolidar uma argumentação, conferindo-lhe precisão e um peso suplementar. Ela também constitui uma ligação entre a operacionalização das hipóteses e a recolha de informações. Ela consiste na atribuição a dimensões, propriedades ou qualidade de certos conceitos, de uma ordem de natureza classificatória, serial, quase-serial ou métrica. Existem quatro modos de quantificação, registados na Ilustração 2.

Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 81 Ilustração 2 - Modos de quantificação

“As diversas ordens que intervêm na quantificação dão lugar a operações distintas que permitem a construção de escalas que produzem tipos de variáveis.” (DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 81) Na maior parte das vezes as ciências sociais utilizam a ordem quase serial, uma espécie de combinação entre a ordem classificatória e a serial, em que cada par de elementos é definido. Como se pode ver na ilustração, a ordem quase-serial depois de passar pelo processo resultará numa variável ordenada. Mas antes passa na escala ordinal, onde os números atribuídos aos indicadores revelam o nível a qual eles pertencem.

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A fidelidade é função da reprodutibilidade dos resultados. E é uma função necessária para que exista validade.

2.2.4 – O método hipotético-dedutivo “Uma ideia entre dois fatos: a partir das observações, uma hipótese, depois, a partir daí, uma dedução que reconduz a experiência para controlar a hipótese, este é o método hipotético-dedutivo”. (DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 87) O método hipotético-dedutivo está ligado ao método experimental e é um modo de investigação bastante limitado. Usa-se este método: no conjunto dos processos discursivos, para penetrar nos setores de pesquisa; como processo adaptado ao polo teórico; para caracterizar a abordagem experimental; e no polo morfológico, pois aflui na coerência lógica. O processo científico efetua-se por saltos, com ruturas consecutivas, reestruturando a teoria. Isto pode ser explicado pela seguinte ilustração:

Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 89 Ilustração 3 - O método hipotético-dedutivo

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Coloca-se uma hipótese na presença de fenómenos e presume-se que eles serão consequências (hipótese), depois, outras consequências surgirão dessa hipótese, e serão confrontadas com os fatos disponíveis (dedução).

2.3 – O polo teórico

Para um pesquisador das ciências sociais, a teoria é uma necessidade, é todo o fundamento da ciência. Se se quer chegar a conclusões pertinentes, não se pode negligenciar o polo teórico, inerente à pesquisa científica. A sua verdadeira função é a de ser o instrumento mais poderoso da rutura epistemológica face ao senso comum. As teorias são então fundamentais, para capturar as experiencias e explica-las. A teoria é então o resultado de uma generalização a partir de fatos conhecidos. Mas a teoria é progressivamente atualizada, com a integração de novos dados, que põem à prova os anteriores. Pelo teste empírico, a pesquisa pode com mais liberdade e facilidade reproduzir a si mesma sem nada produzir, segunda a lógica, a teoria concebida não exerce nenhum controlo sobre os resultados que não se precisam de justificar e se refugiam apenas por detrás de fatos hipotéticos. A teoria é prática metodológica, o que implica uma formulação estrita dos objetos de investigação assim como a sua constante explicitação no campo teórico.

2.3.1 – Método e teorização “A teorização inicia-se no momento em que começa a pesquisa e a marcação constante e explícita do nível de teorização torna-se primordial; a posição dos objetos de investigação comanda a pertinência, a coerência e a verificabilidade das teorias.” (DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 108) A teorização deve realizar a ligação entre os contextos da prova e da descoberta. O contexto da prova sendo aquele no qual se levanta a questão da aceitação ou não das hipóteses e teorias, e o contexto da descoberta aquele no qual

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nos questionamos como construir essas hipóteses e teorias, é um contexto de reflexão metodológica. No entanto as teorias são frequentemente escolhidas ou rejeitadas por razões estranhas à lógica da prova, resultando em paradigmas. Os objetivos da teorização são variados, desde explicação de fatos, predição por derivações de consequências testáveis de um corpo de hipóteses, etc. Mas também pode acontecer ser necessário que a teoria, acabada ou não, seja analisada.

2.3.2 – Formulação teórica

Todas as teorias são artefactos dos pesquisadores, são formuladas numa linguagem construída para ter uma linguagem simbólica, e assim, contem conceitos semânticos que se referem a fenómenos, e conceitos sintáticos, cujo papel é articular outros conceitos. Estes níveis semânticos e analíticos, tomam a forma de corpos de hipóteses. O sistema teórico é formado por proposições: a proposição sintética, que é a forma da lógica que a hipótese assume quando se submete ao teste empírico, tratase da realidade; e a proposição analítica, que é apenas uma tautologia, tem uma função meramente operatória, a função de ligar proposições sintéticas, por exemplo. São então distinguidos dois aspetos fundamentais da teoria: o conceitual (da explicitação do sentido) e o proposicional (da formulação lógica). A formulação obedece ao princípio da redução, que permite a manipulação de um objeto teórico, e a explicitação obedece ao princípio da compreensão, dando uma pertinência mais ampla às hipóteses. A teoria deve ser um sistema integrado de proposições com relações lógicas entre elas. As teorias são compostas por conceitos que originam outros, e estes dividem-se em duas classes: os conceitos particulares, que têm nomes próprios, e só dessa maneira são conceitos; os conceitos universais, que são gerais, englobam todos os casos particulares possíveis; os conceitos genéricos, que são generalizações empíricas, classes de acontecimentos singulares, com o poder que caracterizar abstratamente os dados; os conceitos analíticos, que não têm referentes empíricos, são valores particulares em casos singulares; os conceitos puros, que

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são ficções que transcendem os casos particulares; e as variáveis, que existem em relação com um conjunto de elementos com relações expressas quantitativamente. “A dinâmica da teoria, metodologicamente, é o resultado da interação dos polos da pesquisa. A teoria presenta-se assim de três maneiras complementares, conforme seja abordada a partir de cada um dos três outros polos metodológicos. Face ao polo epistemológico, a teoria é um conjunto significativo pertinente a uma problemática da qual ele apresenta uma solução válida; face ao polo morfológico, a teoria é um conjunto coerente de proposições que fornecem um quadro explicativo e compreensivo; face ao polo técnico, a teoria é um conjunto de hipóteses falsificável, testável.”(DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 114). Portanto, podemos muito bem concluir que o polo teórico é um lugar de junção dos outros polos. Isto pode ser resumido na ilustração seguinte:

Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 115 Ilustração 4 - Confluência do polo teórico com todos os outros

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A teoria fornece premissas a partir das quais podem ser derivados enunciados descritivos. E como os sistemas teóricos estão em evolução constante, transformações podem ocorrer, e por isso é importante “fechar” as teorias. Uma teoria não é então um conjunto de leis, mas sim “uma rede sistemática cujas malhas seriam formadas pelas proposições-leis.” Posto tudo isto, podemos concluir basicamente que o polo teórico corresponde à instância metodológica em que as hipóteses se organizam e em que os conceitos se definem.

2.4 – Os quadros de referência

Os quadros de referência constituem uma matriz disciplinar que agrupa um conjunto de paradigmas, um conjunto de conhecimentos científicos. Os paradigmas têm a função de clarificar e orientar as teorias, o que permite colocar mais facilmente uma quantidade de hipóteses de trabalho particulares mais rigorosas. Permite uma intersubjetividade maior, uma compreensão mais fácil. Estes quadros propõem-se então a agrupar em quatro matrizes disciplinares os principais paradigmas. Essas matrizes são: - O positivismo: a teoria enquanto tal é inacessível, trata-se de uma conceituação abstrata. “A característica própria do quadro positivista é a pesquisa através da observação de dados da experiência, das leis gerais que regem os fenómenos sociais. A constância ou regularidade dos fenómenos contatados leva a generalizar a partir deles, isto é, a formular leis positivas” (DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 136); - A compreensão, a teoria contínua inacessível, não podem ser aplicadas as ciências sociais, pois estas necessitam de uma conceituação concreta. Esta abordagem “visa apreender e explicitar o sentido da atividade social individual e coletiva enquanto realização de numa intenção. Ela justifica-se na medida em que a ação humana é essencialmente a expressão de uma consciência, o produto de valores, a resultante de motivações” (DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 139); - O estruturo-funcionalismo, uma recuperação sob a forma de teoria geral que permite ligar o conjunto de fenómenos sociais, e explicá-los. Este quadro

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funcionalista aborda “desde o início uma conceção totalizante, e mesmo sistémica, diante dos fatos sociais, pela qual cada um deles é englobado num conjunto integrado de natureza teleológica. Cada elemento, ou uma de suas características, determina um certo estado da totalidade-sistema, a qual, por sua vez, condiciona seu funcionamento de conjunto” (DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 143); - O estruturalismo, axiomatizar as teorias para encontrar os fatos sociais. “Só tem valor de interessa na medida em que se define como método, em que tende explicitamente a colocar no início os problemas da pesquisa sob o ângulo do método e a pensar a si mesmo como uma “atividade”. As atividades estruturalistas são múltiplas.” (DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc, 1977, pág. 146); Para cada destes quadros de referência encontra-se uma série de paradigmas: generalizações simbólicas, que são paradigmas formais, não funcionam como leis, mas como definições, e são incorrigiveis, pois são analíticas; crenças ontológicas, metáforas e analogias; valores que dizem respeito à escolha das teorias; e pesquisas famosas, experiencias cruciais, etc., que advêm de várias teorias como paradigmas no sentido restrito. Os paradigmas são então importantes no processo de pesquisa, e é preciso utiliza-los sem se deixar enganar por eles.

2.5 – O polo morfológico

Este polo representa o plano de organização dos fenómenos, e funciona como quadro operatório prático da estruturação dos objetos científicos. Três caracteres fundamentais demonstram a função do polo morfológico na economia geral da pesquisa: a exposição, a causação e a objetivação, todos indissociáveis. A exposição metódica é a função com maior evidência. Neste caso o polo morfológico é visto como um aglomerado de conceitos/proposições, fatos/leis, etc. É onde se estruturam as teorias e as problemáticas úteis à pesquisa. Distinguem-se seis diferentes estilos de modos de expressão metodológicos:

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a) O estilo literário, menos afastado do saber científico, e menos rigoroso na sua exposição; b) O estilo académico, tem uma rutura com o senso comum, com uma linguagem esotérica; c) O estilo simbólico, recorre à abstração lógico-matemática ou à quantificação, com uma formulação mais restrita; d) O estilo erístico, concebido para o desenvolvimento rigoroso de um argumento; e) O estilo postulativo, correspondente à lógica hipotético-dedutiva, com o objetivo de dar provas rigorosas, com um sistema de axiomas; f) O estilo formal, o que realiza a abstração completa, não se preocupa com problemas substanciais.

Cada

um

destes

estilos

é

a

estruturação

da

teoria,

conceitos,

desenvolvimentos e resultados da pesquisa. Articulam-se todos de maneira diferente com os elementos da pesquisa, e cada um tem um valor particular, individual. Ao polo morfológico compete a função metodológica de fornecer uma estrutura, uma configuração. A causação é a operação que permite que um acontecimento/efeito aconteça sob determinadas condições teóricas. É a posição de uma coerência lógica que junta e articula os fatos científicos numa certa configuração. Pode ser expressiva ou compreensiva num tipo ideal, e positiva num sistema empírico e estrutural. Pode também ser vista como resultante da classificação de um conjunto de determinações. Nesta operação atuam raciocínios que pretendem levar à explicação de certo acontecimento, e do estabelecimento de influências entre acontecimentos. A rede morfológica contém, frequentemente, conexões diferentes: a proximidade espacial ou temporal, que apenas permite saber da existência de agregados sem coesão; a ligação causal indireta, designa semi-agregados; a ligação causal simples, que designa sistemas causais, pode ser observada entre fenómenos sociais; a ligação significativa, que é própria dos sistemas significativos, mostra uma causalidade compreensiva; a ligação causal e significativa, que se apoia em sistemas causais e significativos, integra a explicação e compreensão da causalidade.

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A objetivação tem a função crucial de construir um espaço de causação e significado, ela implica uma analogia e o polo morfológico ajuda a destacar um campo de objetividade. Existem dois modos de objetivação: cópia, representação do objeto de pesquisa como uma transcrição fiel e expressão adequada do objetivo, e o simulacro, que é a autoconstrução, do objeto científico que se inventa a si mesmo. No entanto, por vezes, estes dois modos geram formas enfraquecidas ou ilegítimas; cópias esquemáticas e artefactos. A cópia esquemática constitui o objeto num modelo reduzido e com alguns traços essenciais, no entanto é demasiado simples, resultando numa cópia enfraquecida. O artefacto é uma cópia de uma cópia, uma tradução simples numa outra linguagem qualquer, o que o torna inútil, apenas serve para tornar ainda mais obscura a problemática. O polo morfológico é um polo autónomo da pesquisa, que apenas tem sentido nas relações concretas das abordagens metodológicas: epistemologia, teórica e técnica. É então um capo de determinabilidade, um espaço de causação, e de combinatória, onde se destacam progressivamente os objetos científicos. As funções do polo morfológico são representadas, pelas ciências sociais, por quatro quadros de análise.

2.6 – Os quadros de análise

Os quadros de análise, representativos das funções do polo morfológico são: as Tipologias, o Tipo Ideal, os Sistemas e os Modelos e as estruturas. As Tipologias têm afinidade com o quadro de referência empirística analítico e correspondem a um estado embrionário de uma disciplina científica. Elas contribuem para a consolidação de um quadro conceitual descritivo. Nesse quadro, o seu objetivo é a composição de conceitos, visando a maior precisão destes. As suas condições de construção são as seguintes: 1. Necessidade de um conceito que defina o objeto da tipologia; 2. Relações que determinem uma ordem entre os elementos da tipologia; 3. Proposições que impliquem determinadas características a respeito dessas relações; Por fim, um conjunto de conceitos que designem elementos específicos dos tipos que estão nas extremidades da tipologia.

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O

Tipo

Ideal

é

uma

eidética

descritiva

e

uma

eidética

formal

esquematizadora, pois esforça-se por descrever os fenómenos coerentemente e captar a sua estrutura e lei. O seu objetivo é o de estabelecer conexões constantes entre vários fatores, conexões estas que causais-significativas que explicam um determinado fenómeno social. O seu interesse é sempre o acontecimento individual, elaborando um conceito específico para cada fenómeno singular, chamado um conceito individual. O tipo ideal é inobservável, pois o seu objetivo é levar ao extremo cada um dos traços da situação concreta visando produzir um conceito hiperconcreto. Ele serve de ponto de referência para a comparação de conteúdos significativos empíricos. Os Sistemas comportam pelo menos: uma identificação dos elementos que o compõem, uma especificação das características dos elementos, e uma especificação das regras/leis que regem as interações dos elementos ou das suas propriedades. Desde que haja uma ordem entre os elementos constituintes de um sistema, estes podem ser quaisquer uns. Os sistemas são então unidades que se limitam a descrever e a classificar os elementos de um objeto. Se o sistema for aceite, é possível então ordenar e catalogar o conhecimento adquirido. É uma articulação das teorias de um todo. Favorece o pluralismo metodológico, estabelecendo ligações de analogia entre diferentes níveis de explicação, sem privilegiar nenhum deles. Os Modelos e as estruturas tratam de caracterizar a contribuição estruturalista pelo uso morfológico das noções centrais de estrutura, modelo e forma axiomática. A estrutura tem de satisfazer quatro condições: consistir em elementos tais que a modificação de um acarreta a dos outros; pertencer a um grupo de transformações, sendo esse um grupo de modelos; oferecer a possibilidade de prever de que modo o modelo reagirá em caso de modificação de um dos seus elementos; explicar todos os fatos observados. A estrutura é um simulacro, pode-se definir como possibilidade prática de transformação de sentido. Assume uma variedade de modelos que explica como sendo paradigmas concretos. É uma forma que subsume modelos-paradigmas. Enquanto axiomática, a estrutura é um sistema operatório que fixa o código das convenções metodológicas.

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Cada modelo encontra-se numa relação de oposição dialética com os outros que pertencem à mesma família.

2.7 – O polo técnico

O polo técnico trata de procedimentos da recolha de informações, e transformações destas em dados importantes para a problemática geral. A sua função é descrever os fatos em sistemas significantes, por protocolos de evidenciação experimental desses dados empíricos. Os dados podem ser de variadas naturezas, como vemos na seguinte ilustração:

Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 202 Ilustração 5 - Natureza dos dados

As informações que interessam às ciências sociais, são significantes antes de qualquer pesquisa científica, e tornam-se dados pela própria aplicação das técnicas de recolha. Esta conserva a significação das práticas sociais efetivas, e o dado deve apreender essa informação e transforma-la em algo pertinente para a investigação científica. Os dados, são algo apreendido, uma apreensão do real que a investigação quer assegurar no polo técnico. Para chegar à categoria de fato, os dados devem ser importantes e necessários às hipóteses teóricas precisas, dever confirmar essa hipótese e verificar os sistemas teóricos nos quais essas hipóteses se inserem. Os fatos são então

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conquistados e construídos pelas técnicas que os recolheram, e tornaram-se significativos pelo sistema que os produziu. Isto pode induzir no erro de achar que um fato é a mesma coisa que uma teoria, no entanto, a verdade é que não pode haver um fato dito puro, separado de qualquer ideia, tal como acontece nas teorias. O polo técnico é o momento de observação dos fatos enquanto o polo teórico é o momento da interpretação e explicação desses mesmos. A recolha de dados apresenta-se com várias partições:

a) Problemáticas, que dão lugar às hipóteses de pesquisa, orientando a recolha de dados sob a forma de questões; b) Domínio dos paradigmas, de natureza teórica e epistemológica; c) Elementos teoréticos não verificáveis, como conceitos puros, universais, etc.; d) Dados, sob a forma de fatos, recolhidos a partir de hipóteses e questões particulares; e) Fatos significativos, originados das hipóteses teóricas, cujo teste se mostrou realizável; f) Consequências fatuais, inesperadas e produzidas pela teoria; g) Domínio das informações-acontecimentos que não respondem aos objetivos da pesquisa.

Tendo em conta os vários quadros de referência escolhidos, a estrutura dos fatos será bastante diferente: a abordagem positivista considerará fatos atómicos e irá reagrupa-los como conceitos genéricos, classe da qual cada fato será um elemento

particular;

a

abordagem

compreensiva

potencializará

o

carácter

essencialmente significativo dos fatos sociais, e a sua natureza fenoménica; a abordagem estruturo-funcionalista marcará a dependência dos fatos relativamente aos sistemas nos quais estão integrados, destacando a sua natureza causalsignificante; e a corrente estruturalista insistirá na produção dos fatos pela transformação dos sistemas que os explicam, dando-lhes independência. As operações técnicas de recolha efetuam várias transformações a cada objeto de conhecimento. Estas operações são acompanhadas por graus de rutura

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que vão desde a observação das informações até à interpretação teórica, como se pode verificar na ilustração seguinte:

Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 207 Ilustração 6 - Transformações técnicas

A descrição pretende-se rigorosa e tomará do método fenomenológico a intuição dos fenómenos e a construção das essências e tipos. A codificação é realizada por determinadas pesquisas estruturalistas, que decompõem o objeto em unidades discriminantes não significativas, para destacar conjuntos significativos, chamados sistemas-signos. Os dados quantificados apresentam-se sob a forma de indicadores que fornecer índices globais. Esses indicadores podem ser agregados ou globais. As informações agregadas são baseadas na informação recolhida junto a membros singulares da classe estudada. Estes têm tendência a contentar-se com apenas uma informação, não suficiente para o aprofundamento da pesquisa. Os indicadores globais são baseados em observações guiadas pelas propriedades da teoria como tal. Nas ciências sociais quando é constituída uma teoria parcialmente coerente, é difícil constituir uma definição operacional que cubra todas as ramificações de um conceito. Por isso a estratégia mais apropriada é a que liga os dois indicadores, com as qualidades do primeiro e os defeitos contrários do segundo. As técnicas de recolha de dados são também bastante importantes, e têm que satisfazer as suas próprias regras. Têm que obedecer a certas regras de fidelidade e validade, além de critérios de qualidade e de eficiência. Existem três modos de recolha de dados, que estão sucintamente descritos nas seguintes ilustrações:

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Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 211 Ilustração 7 - Técnicas de coleta de dados 1

Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 212 Ilustração 8 - Técnicas de recolha de dados 2

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Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 213 Ilustração 9 - Técnicas de recolha de dados 3

Fonte: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica, pág. 214 Ilustração 10 - Técnicas de recolha de dados 4

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Nas

várias

técnicas

de

recolha

de

informação,

esta

limita-se,

frequentemente, às amostras da população estudada. A população tem certas características e as amostras também, com o nome de parâmetros e estatísticas, respetivamente. Existem duas possibilidades de amostragem. Na primeira, o pesquisador sabe a probabilidade que tem cada individuo da população de entrar na amostra, podendo precisar a representatividade da amostra. Os principais tipos de amostras probabilistas são: amostra aleatória; amostra sistemática; amostra estratificada; e amostra por conglomerados. Na segunda o pesquisador não conhece a probabilidade que cada individuo tem de ser selecionado para fazer parte da amostra. Neste caso a interferência estatística não pode ser legítima.

2.8 – Os modos de investigação

Os métodos de investigação são os meios de abordagem do real, fixam o quadro instrumental da apreensão dos dados e devem concordar com as técnicas da sua recolha. Existem vários modos de investigação, que se podem combinar e assim reforçar-se mutuamente. Nas ciências sociais a centralização é feita à volta das organizações. Onde são empregues cinco modos principais: o estudo de caso, a análise comparativa, a experimentação em laboratório ou de campo e a simulação em computador. Os vários modos de investigação têm diferenças, o que fazem deles estratégias de pesquisa de valor desigual no plano metodológico. No entanto estes modos também se podem complementar, e usar no mesmo programa de pesquisa.

2.8.1 – Os estudos de caso

O estudo de caso reúne informações tão numerosas e detalhadas quanto possível, com o objetivo de apreender a totalidade da uma situação. Para isso recorre a técnicas de recolha das informações igualmente variadas, como a observação participante, a sociometria aplicada à organização e a pesquisa de tipo

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etnográfico. Este estudo só pode aspirar à cientificidade integrado num processo de pesquisa global. Normalmente é mais importante a natureza qualitativa na recolha de informação, mas também é possível recorrer a métodos quantitativos. Os estudos de caso baseados num método indutivo concentram-se em motivos concretos encontrados no funcionamento das organizações. Dizem respeito a problemas definidos e elaborados pelos variados responsáveis da organização. Os problemas são abordados como se tivessem uma pertinência científica própria, à vontade do pesquisador. Os estudos de caso rigorosos devem apoiar-se em conceitos e hipóteses, guiados por um esquema teórico que serve de princípio diretor para a recolha de dados. Os estudos de caso baseados numa teoria e referentes a um objeto de conhecimento, tendem a testar a validade empírica de um sistema de hipóteses, construídas experimentalmente.

2.8.2 – Os estudos comparativos

O seu interesse reside na ultrapassagem e na evidenciação de regularidades/constantes entre várias organizações, em que as semelhanças e diferenças são analisadas. Permitem estudar as relações entre um grande número de variáveis no contexto de uma amostra de organizações. Este tipo de estudo assume formas muito variadas, segundo o número de organizações, a natureza e o tratamento dos dados. A comparação de um pequeno número de casos similares permite teorizar melhor a respeito de uma organização. Esta abordagem, maioritariamente qualitativa, contribui para a criação de tipologias ligadas aos resultados da experiência. No entanto, quando o estudo comparativo se baseia numa amostra grande de unidades, a abordagem implica o exame sistemático dos atributos específicos da organização. O quadro que me melhor se adapta ao estudo comparativo é o de uma análise sistémica. Assim, podem abordar diversos níveis de análise, com a finalidade de estabelecer relações entre as características das estruturas internas,

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processos e ambiente da organização. Para isso recorrem a múltiplas fontes de informação, como estudos de caso, surveys, etc.

2.8.3 – As experimentações Nas ciências sociais, e suas pesquisas, existem várias estratégias de experimentação possíveis, desde as de laboratório às de campo. A experimentação de laboratório é realizada numa situação da vista da experiência, com uma grande possibilidade de manipulação de variáveis. Tem três critérios mínimos: deve chegar a quantificar as variáveis; deve definir e medir uma mudança na estrutura; e deve verificar as relações de causa a efeito. Esta experimentação oferece a vantagem de estabelecer com maior segurança o sentido das relações estudadas, graças ao tal controlo das variáveis, podendo ser manipuladas da forma mais conveniente à experiência. Dá ao pesquisador um controlo completo sobre as condições de sua observação. Permite também uma flexibilidade de experimentação e precisão de acordo com as necessidades de cada pesquisa, e administração dos procedimentos mais adequados. No entanto, este tipo de pesquisa é também limitado pelo artificialismo das situações, isolando sempre as variáveis. A experimentação de campo, embora também vise manipular variáveis, constitui um modo de investigação diferente da de laboratório. Transforma o ambiente da experiência, desta vez natural, e transforma os papéis do investigador e dos sujeitos que participam na experiência. Esta assume formas mais adaptadas ao campo, ditas naturais, e por isso pode ser considerada uma pesquisa de ação. O objeto deste tipo de pesquisa não está especificado no início, e não permanece o mesmo até ao fim, a pesquisa descobre progressivamente as questões que a orientam, por isso se diz natural. Um problema é definido no início, de acordo com o investigador e os membros da organização, e esse vai mudando e adaptando progressivamente ao decorrer da investigação, com intervenção igualmente quantitativa das duas partes.

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Surge então uma necessidade de avaliar os efeitos dessa mudança, com o objetivo de validar a experiencia no plano científico. E com isso pode sempre surgir um resultado inesperado, que pode ser negativo. A simulação como modo de investigação e pesquisa, refere-se à construção e manipulação de um modelo operatório representando todo, ou parte de, um sistema de processos que o caracterizam. O seu objetivo é o de explorar as consequências de proposições tóricas concernentes aos comportamentos organizacionais, e o de programar em computador certos processos teóricos e observar que género de comportamento eles geram, para comparar com resultados obtidos empiricamente. Isto é bastante útil às organizações pois estas podem aplicar uma teoria já aceite e saber as repercussões que isso terá no seu funcionamento interno. Neste caso está a funcionar como instrumento de pesquisa e descoberta especulativa de certos processos. Uma vez estabelecido, o modelo deve ser avaliado com a finalidade de poder ser modificado, previamente à simulação propriamente dita, para representar melhor o fenómeno a ser estudado. Este tipo de experimentação permite estender ou encurtar o tempo real de um processo ou de uma mudança a fim de melhora analisa-lo. Também tem as suas desvantagens, pois a simulação está exposta a perigos e a limites. É tributária do modelo construído e, por conseguinte, das escolhas operadas pelo pesquisador. Convém também ter cuidado para não confundir os resultados da simulação com os de uma experiencia empírica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORNELSEN, Julce Mary – Escrever… Com normas: guia prático para elaboração de trabalhos técnico-científicos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. ISBN 978-989-26-0108-3. artigo científico e técnico. In: Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 09 jan. 2013]. Disponível na www: . Artigo científico. In: Wikipédia [Em linha]. [Consult. 09 jan. 2013]. Disponível na www: . DE BRUYNE, Paul; HERMAN, Jacques; DE SCHOUTHEETE. Marc. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica. Tradução Ruth Joffly. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977.

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