QUESTÃO DE GÊNERO OU QUESTÕES DE GENEROS? Diferentes visões das expressões das questões sociais femininas

October 3, 2017 | Autor: T. José Ferreira | Categoria: Género, Violencia De Género, Violência, Trabalho e Questão Social
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Grupo de trabalho: GTII Título do trabalho: QUESTÃO DE GÊNERO OU QUESTÕES DE GENEROS? Diferentes visões das expressões das questões sociais femininas Gerson Martins de Souza - Mestre em Ciência Política e Direitos Humanos com ênfase em Violência, pelo Centro Universitário Euro Americano - UNIEURO – DF. Professor do Departamento de Serviço Social na Faculdade Projeção, Brasília – DF. ([email protected]) Tarcísio José Ferreira - Mestrando em Serviço Social, pela PUC-Goiás, Professor do Departamento de Serviço Social, pela Faculdade Projeção, Brasília ([email protected]) RESUMO Este artigo tem como objetivo trazer uma reflexão sobre as questões de gênero, sobre diferentes prismas das expressões das questões sociais que assolam, sobretudo, o gênero feminino, a partir da revisão da literatura. Assim, este apresenta uma discussão sobre o gênero e até que ponto pode-se classificar quem ou o que é feminino ou não, ponderando os feminismos e as lutas feministas, além das questões sociais que estes abarcam dentro da temática de gênero, sobretudo, o gênero feminino. Concluindo assim, que as lutas feministas tiveram e tem um papel importante para erradicar o machismo, ainda pungente na sociedade e para a ascensão das mulheres e dos grupos marginais que se vislumbram e/ou transitam neste gênero. ABSTRACT This article aims to bring a reflection on gender issues, different perspectives on the expressions of the social issues that plague especially the females, from the literature review. Thus, this presents a discussion of the genre and to what extent can classify who or what is feminine or not, pondering feminism and feminist struggles, as well as social issues they cover within the gender issues, especially the females. Thus concluding that feminist struggles and has had an important to eradicate sexism, yet poignant in society and the rise of women and marginal groups who envision and / or pass this gender role.

QUESTÃO DE GÊNERO OU QUESTÕES DE GENEROS? Diferentes visões das expressões das questões sociais femininas

RESUMO Este artigo tem como objetivo trazer uma reflexão sobre as questões de gênero, sobre diferentes prismas das expressões das questões sociais que assolam, sobretudo, o gênero feminino, a partir da revisão da literatura. Assim, este apresenta uma discussão sobre o gênero e até que ponto pode-se classificar quem ou o que é feminino ou não, ponderando os feminismos e as lutas feministas, além das questões sociais que estes abarcam dentro da temática de gênero, sobretudo, o gênero feminino. Concluindo assim, que as lutas feministas tiveram e tem um papel importante para erradicar o machismo, ainda pungente na sociedade e para a ascensão das mulheres e dos grupos marginais que se vislumbram e/ou transitam neste gênero. Palavras-chave: Gênero, Questões Sociais, Feminina ABSTRACT This article aims to bring a reflection on gender issues, different perspectives on the expressions of the social issues that plague especially the females, from the literature review. Thus, this presents a discussion of the genre and to what extent can classify who or what is feminine or not, pondering feminism and feminist struggles, as well as social issues they cover within the gender issues, especially the females. Thus concluding that feminist struggles and has had an important to eradicate sexism, yet poignant in society and the rise of women and marginal groups who envision and / or pass this gender role. Keywords: Gender, Social Issues, Women INTRODUÇÃO Como é bem sabido, as questões que envolvem o gênero é tão complexa e ao mesmo tempo muito discutida nos diferentes espaços, contudo, essa mesma temática tão camaleônica tende de acordo com a suas processualidades e suas historicidades transformam-se, moldam-se e/ou se adéquam-se as necessidade vivenciadas em cada uma das suas especificidades. As mulheres, por muito tempo foram rotuladas, estigmatizadas e abancadas em uma postura que não pertencia a elas (ou a quase todas elas), mais vale lembrar

que por um período de tempo a uma classe específica, (branca, dominante), alguns desses rótulos foram-lhe favoráveis. Então desenvolver a temática de gênero e especificamente para o público feminino requer uma visão ampla, profunda e de diferentes prismas para poder arquitetar uma possível compreensão das dimensões das questões sociais que assolam o gênero feminino. Lembrando sempre que ser feminino não quer dizer especificamente ser mulher ou dotar do órgão sexual feminino. O “feminino” que será abordado aqui vai muito alem do ter uma genitália de mulher, mais sim no sentido de pertencimento a esse mundo e suas diferentes formas e contextos, onde trazer essa temática referentes a diversas visões, pode abarcar outro universo e que também poderá agregar valores e ganhos engrossando o caldo das lutas dos movimentos sociais feministas e femininas. 1. QUESTÃO DE GÊNERO OU QUESTÃO DE GÊNEROS? Antes de adentrar no universo das questões de gênero, vale ressaltar a definição do que seja gênero e em qual contexto esse se encaixa, uma vez que, tal temática é ampla e requer uma discussão mais profunda para um entendimento composto sobre o assunto. Segundo Souza (2010), o surgimento da questão e da categoria de gênero deve ser entendida e relacionada, a um panorama de ideias e experiência motivadas pela aproximação da reflexão acadêmica com a prática política e produção intelectual feminista, no decorrer e pós a década de setenta do século passado. Souza (2010), destaca também que no Brasil, o feminismo se manifestou por meio da ação de intelectuais que passaram a rediscutir os papéis femininos na sociedade e, ao mesmo tempo, se engajaram em ações de resistência contra o regime militar instaurado a partir de 1964. Bourdieu (1999), explica a representação dos gêneros e a persistência das relações de dominação de gênero a partir do conceito de habitus1, ou matriz de percepções e princípios, socialmente constituídos. 1

O conceito de habitus, nesta dissertação é usado com base nas formulações de Bourdieu, ou seja, como estruturas predisposta a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, princípios geradores de práticas e representações. in Le Sens Pratique, Paris: Minuit, apud Lima, 1993. P. 29.

Assim sendo, Bourdieu (1999, p. 23), destaca que o gênero é um conceito relacional e uma estrutura de dominação simbólica. Os gêneros são constituídos por meio de binarismos opostos que compõem e supõem uma relação. As relações de gênero são analogias de poder em que o princípio masculino é tomado como medida de todas as coisas. Portanto, para Lima (1993), a construção do gênero como categoria e recurso analítico,

instaurador de

pungentes

polêmicas

de

implicações

teóricas

e

metodológicas. Neste contexto, surge no eixo das inquietações e impasses originários de um universo intelectual complexo e singular, permeado pelo encontro da cultura, da reflexão acadêmica e da prática política. Souza (2010), afirma que, desde então, diversas advertências foram feitas contra o perigo de um gueto teórico, caso se elegesse a mulher como objeto exclusivo de um campo de estudo. Bandeira e Oliveira (1990), afirmam que a categoria de gênero veio admitir a edificação da problemática do masculino e do feminino em uma visão relacional tonificante,

onde

a

análise

da

condição

feminina

passa

a

se

articular

necessariamente à condição masculina, visto que ambas estão mescladas numa rede de relações sociais contextualizadas historicamente e culturalmente. Segundo Matos (2008), o conceito de gênero foi estabelecido desde meados dos anos 70 foi disseminado nas ciências a partir dos anos 80. Essa mesma reformulação nasceu para distinguir a categorizar os sexos, sendo essa categorização meramente biológica. Portanto, Souza (2010), relata que as identidades de gênero constroem-se, histórica e culturalmente e transpassam a trama social, as instituições e mentalidades de forma relacional. Resultante da tradução cultural de diferenças aportadas no fato biológico, à feminilidade e a masculinidade situam-se, principalmente no campo simbólico e de acordo com o significado que adquirem em cada cultura. No entanto, o gênero, que engloba os significados atribuídos ao masculino e ao feminino, ressurge em outras dimensões da sociedade, corroborando com as posições assimétricas na repartição de poder entre os sexos.

Scott (1988), salienta, o fato da questão do gênero ter emergido em um momento de grande ebulição epistemológica que os pesquisadores das ciências sociais vivenciavam, apontando para uma evolução dos modelos científicos rumo a modelos literários, da ênfase na causalidade para a ênfase no sentido, ou expressava-se nos debates entre os que afirmavam a transparência dos fatos e os que defendiam a ideia de que toda a realidade é construída ou interpretada. No espaço aberto por esse debate, as feministas puderam encontrar, além de uma linguagem teórica própria, aliados científicos e políticos. Por conseguinte Scott, afirma que é a partir desse contexto que se deve tentar compreender as mais variadas abordagens feministas sobre a condição feminina e suas respectivas tentativas de teorizar o gênero. Igualmente, neste momento de grande ebulição epistemológica e de renovação teórica vivenciado pelas ciências sociais Lobo (1989) apud Lima (1993), as reflexões aportadas no gênero, vão contribuir para a reformulação de paradigmas científicos, utilizando métodos analíticos que buscam focalizar aspectos e relações inatingíveis por outros meios. Lima ressalta que ressurgem as historias de vida. Através delas, torna-se possível a relativização de dicotomias (público x privado, singular x universal, objetividade x subjetividade). Lima observa ainda, que abrem-se espaços para que se perceba de que modo as relações se articulam dialeticamente, criando novas combinações que possibilitem uma nova leitura das experiências de gênero. Dentro das novas leituras de gênero, surge no cenário internacional, Judith Butler, que tem como perspectiva desconstruir o conceito de gênero no qual está baseada toda a teoria feminista. A divisão sexo/gênero trabalha como uma espécie de pilar fundacional da política feminista que parte da premissa de que o sexo é natural e o gênero é socialmente construído, sendo essa a ideia principal que Butler problematiza. Como ressalta Rodrigues (2005), o dualismo sexo/gênero foi um dos pontos de partida fundamentais da política feminista. Assim como Derrida (2004), dividiu a estrutura binária significância/significado e a unidade do signo, propondo assim uma crítica à metafísica e às filosofias do sujeito.

Butler (2003), desmontou a dualidade sexo/gênero e fez uma crítica ao feminismo como categoria que só poderia funcionar dentro do humanismo2. Segundo Rodrigues (2005), Butler afirma que para poder refletir sobre os efeitos dessa desconstrução, é fundamental entender a desconstrução, não como desmonte ou destruição, mas repensar teoricamente a identidade definida das mulheres como categoria, amparada e emancipada pelo movimento feminista que foi uma das principais tarefas de Butler. Embora existem homossexuais masculinos que, se perguntado como se identificam, certamente responderão ‘feminina’. Com isso pode-se dizer que o fato de se auto identificarem como pertencentes à outra categoria de gênero não quer dizer que ele não seja, ou não pertença a tal categoria. Para Butler os conceitos de gênero como culturalmente construído e sexo, como naturalmente adquirido, formaram o par sobre o qual as teorias feministas inicialmente tomaram por base para defender perspectivas desnaturalizadoras sob as quais, justificava-se, a associação do feminismo à fragilidade ou submissão, o que ainda hoje convêm para justificar preconceitos e materializar discriminações. Segundo Rodrigues (2005), o embate fundamental proposto por Butler se dá a partir da premissa na qual se origina a distinção sexo/gênero: sexo é natural e gênero é construído. Butler afirma que, nesse caso, não a biologia, mas a cultura se torna o destino. Para a contestação dessas características, tidas como naturalmente femininas, o par sexo/gênero serviu às teorias feministas até meados da década de 1980, quando se inicia esse questionamento. Com base na discussão de gênero vale ressaltar que tratar a questão de gênero como algo unilateral pode minar outras possibilidades e muitas categorias de adentrarem nas lutas por direitos e reconhecimento, fazendo com que muitos não se sintam no pertencimento a tal grupo. 2

Segundo Gabriel (2009) Young conecta o humanismo ao que chama de cegueira de gênero, por que é um ponto de vista centrado na ideia de igualdade, na ideia de medir diferentes pessoas, neste caso especifico o autor refere-se a mulheres e homens, sob o mesmo critério. É uma posição humanista porque remete à ideia de que exista uma humanidade anterior em algum sentido à diferença sexual. Dentro dessa perspectiva, fazer política feminista é incluir: Gabriel ressalta que não deveríamos falar mais em homens e mulheres, mas sim em seres humanos que são potencialmente iguais. Young segundo a autora chama isso de assimilacionismo: trata-se da tentativa de ascender à posição de sujeito universal, ou conseguir direitos do homem –branco – heterossexual sem questionar o próprio sistema que garante esses direitos. Segundo ainda Gabriel, superar a opressão por assimilação ou enquadramento num sistema que funciona por exclusão.

2. FEMININO/FEMININOS A questão do ser feminino vai muito alem do biológico, uma vez que, os expoentes externos podem influenciar, assim como o contexto. Também, há a auto identificação, ou seja, o sentido de pertencimento, ao grupo feminino, aqueles que transferem-se e/ou transitam entre as questões de gênero, dentre tantas outras questões. Por esse motivo, não será fechado à concepção de feminino apenas para aquelas que possuem um gênero biológico, ou seja, a genitária feminina. Contudo, os termos feminino e feminismo muitas vezes são confundidos e utilizados como sinônimos, porém ambos tem significados bem diferentes. O termo feminismo segundo Lisboa (2010), é definido como um movimento sociocultural que busca a equidade entre homens e mulheres, principalmente, na luta por garantia de direitos. Segunda Rocha (2002), o feminismo por si só divide-se em várias correntes e dessas correntes se subdividem em outras tantas, por isso não se pode afirmar que há apenas um feminismo e sim vários feminismos, assim como várias teorias feministas que embasam e calçam tal segmento. Nos dicionários convencionais, o termo feminino aprece como relacionado à mulher, como biológico, sexual, referente principalmente ao ovário, a genitária feminina. Contudo, levar em conta somente as questões biológicas para tratar do feminino, põe em cheque todo o arcabouço do universo referente ao feminino. Tiburi (2013), acrescenta O que eu chamo de feminino? A construção dos ideias da masculinidade que pesam sobre as mulheres: maternidade, sensualidade, formas corporais, gênero, gestos, papéis. Eu penso a teoria feminista como um gesto feminista de desconstrução que tem que passar pela desconstrução do feminino. A liberdade real das mulheres – travestis, transhomens e todo mundo – surge desse processo.

Com tal afirmação pode-se pensar não somente nas teorias mais nos corpos sexuados que trazem traços femininos no masculino, como também do masculino no feminino. Dizer que o feminino é, somente, uma construção de dominação masculina historicamente disseminada pode ser muito radical. Souza (2010), nos traz que a princípio, vale lembrar que, a partir da década de 1960, diferentes modificações desencadeadas no domínio das relações familiares

e da vida cotidiana certamente vieram gerar novos habitus, os quais apoiaram para a revisão dos parâmetros e dos modelos que orientavam a construção social das relações entre os sexos. Deste modo, num momento de novas relações entre vida pública e vida privada, constitui-se, a imagem das mulheres como personagens nos espaços públicos. Para Lima (1993), a primeira novidade está justamente ai, isto é, no fato de as mulheres, por suas atuações e reivindicações publicamente colocadas, terem permitido e propiciado o questionamento da ordem dos gêneros vigente nos espaços da sociedade. Ordem material e simbólica como afirma Lobo (1989, apud LIMA 1993; p. 30): (...) distribui, através da história, lugares para homens e mulheres, que atribui qualidades e aptidões, estabelece hierarquias enraizadas nessas mesmas qualidades, sejam elas consideradas naturais ou admitidas como construção sociais, sem serem, no entanto questionadas.

Souza (2010) apud Lima (1993), afirma que apesar da heterogeneidade que distinguiu os grupos de mulheres formados politicamente e aglutinados em torno de uma bandeira tipicamente feministas, ressurgiram, no âmbito das utopias do final da década de sessenta, nos países de capitalismo avançado, mobilizações de mulheres assinaladas por um denominador comum: o questionamento da divisão tradicional dos papéis entre homens e mulheres e a produção de um novo discurso que, embora variado e cheio de matizes, agregava a luta feminina em torno da reivindicação pela igualdade3 de direitos. Lima (1993) nos traz que, curioso seria se o campo acadêmico permanecesse apático aos debates vigorosamente revigorados naquele momento pelo feminismo enquanto prática, movimento e teoria, cujos reflexos se fizeram sentir, nos diversos cenários da vida política, social e econômica das modernas sociedades urbanas. Tudo que fora produzido até então e que não cessava de emergir como resultado de intensa mobilização feminista, que se internacionalizava através de um polêmico intercâmbio de formulações teóricas e prática militante, passaria a ser incorporado e se consolidaria no espaço acadêmico.

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Hoje trazemos a palavra equidade.

Souza (2010) destaca que de fato, a incidência das reflexões feministas sobre as acadêmicas adquiriu, destarte, contornos diversos, diante das variadas linhas teóricas disciplinares e influências filosóficas do campo e o traço marcadamente político que caracterizou o debate. Destacam-se as contribuições da psicanálise, do existencialismo, do marxismo, das pesquisas estruturais sobre o parentesco, etc. Ao lado das tentativas de mediação e de diálogo entre distintos enfoques e prismas analíticos, brotaram inúmeros trabalhos de avaliação crítica, provocando revisões teóricas e bibliográficas, novas interrogações e dúvidas. As discussões, a princípio Scott (1988), Lobo, (1989), Lima (1993) foram orientadas no âmbito das seguintes perspectivas teóricas: uma totalmente feminista relacionada às origens do patriarcado4, outra ligada à tradição marxista5 e uma terceira fundamentalmente dividida entre o pós-estruturalismo Francês6 e as teorias psicanalíticas que tentam explicar a produção da identidade de gênero a partir da noção de sujeito. Lima (1993) apoiando-se em Castro e Lavinas (1992), afirma que não há, entre as formulações feministas, concordância quanto ao uso do conceito de patriarcado, a não ser, na identificação de poder, de dominação masculina, também enfatizado por Bourdieu (1999). Para alguns,essa dominação

se dá no âmbito

familiar, para outros, ele se dá na relação com o Estado. Contudo segundo os

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Na teoria do patriarcado, ainda segundo (Scott apud Lima), permanecem as interrogações acerca das origens da opressão, para as quais as interpretações se amparam inevitavelmente em argumentos biológicos. Contudo, aqui não se demonstra como as relações sociais entre homens e mulheres afetam outros domínios da vida e as variadas formas como as sociedades elaboram, em ‘dimensão sócio-cultural a dimensão biológica’. Apoiando-se basicamente sobre variáveis da diferença física, a teoria pressupõe um sentido permanente do corpo (aspecto que “perpetua” as diferenças) colocando-o fora de uma construção social e cultural e retirando o sentido de ‘historicidade’ do gênero. 5 As feministas marxistas, por sua vez, embora aportadas em uma perspectiva histórica, diante da cobrança de encontrar uma elucidação material e de priorizar a causalidade econômica na determinação do gênero, terminaram criando limites para o desenvolvimento de novas perspectivas de analise no âmbito próprio do marxismo. Sendo assim, a discussão, em geral, se baseia essencialmente no argumento de que a subordinação feminina se ocasiona na divisão sexual do trabalho e na desvalorização do trabalho domestico, no espaço da sociedade de classe. Assim sendo, deve-se considerar as tentativas que vêm sendo realizadas no sentido de demonstrar como os sistemas econômicos e os sistemas de gênero agem mutuamente uns sobre os outros para produzirem experiências sociais e históricas. 6 Na arena da analise histórica, Perrot (1984, apud; Lima, 1993) afirma a sua apreensão com o isolamento da questão feminista, caso fosse possível “o que certamente não é” cerrada em si mesma e interessada apenas em averiguar as dimensões especificamente femininas dos fatos. Em sua abordagem, as autoras demonstram a impossibilidade de um tratamento isolado de uma categoria de sexo, apontando todas as limitações das perspectivas centradas na historia dos corpos femininos, da especificidade ou da natureza da mulher, e enfatizado a necessidade da construção de um “objeto” a partir de uma nova “visão” histórica. Ainda para Perrot e Lima, o importante é a questão das relações entre os sexos, em seus conflitos e contradições, e não a partir de dicotomias redutoras. Ressaltando assim a necessidade de investigar as ambivalências, por meio de um “passo” metodológico que, no lugar de isolar, possibilite associar os diversos níveis sociais.

autores, existe um terceiro nível que não deve ser relegado, e que se refere ao uso do conceito de patriarcado no plano do imaginário social7. Carvalho (2004), afirma que, na luta contra a exclusão social, as mulheres se dirigiam da esfera privada ao espaço público para nele atuarem como sujeitos e agentes das transformações econômicas, políticas e socioculturais. Ainda segundo Carvalho (idem), tais avanços, contudo, ainda são contidos por várias formas de discriminações que dificultam a promoção da igualdade entre os gêneros e o fortalecimento da cidadania feminina. 3. AS EXPRESSÕES DAS QUESTÕES SOCIAIS FEMININAS De acordo com Netto (2001) apud Cisne (2012), a expressão da questão social surge para dar conta da pauperização emergidos da primeira onda da industrialização inglesa do século XVIII. Iamamoto (1999) apud Cisne (2012), acrescenta que a questão social sendo desigualdade também é rebeldia, pois expõe o indivíduo que vivencia, resiste e opõe-se a tais desigualdade. Dentro de um contexto mais amplo pode-se dizer que existem várias expressões das questões sociais referente à mulher, contudo, quando posto a palavra feminina não refere-se somente a epistemiologia da palavra, e sim a que ela representa de fato e como os indivíduos se vêem nesse processo. As violações dos direitos das pessoas que se declaram femininas parece algo normal. Porém, tratar a violência como algo natural configura como a banalização do indivíduo e a naturalização da individualidade dentro de uma sociedade, retroagindo ao obscurantismo e tornando frágeis os aspectos da vida em sociedade. Conforme Teles e Melo (2002 p.2), 7 Segundo Moura (2008) no contexto da cultura ocidental, durante um longo período a mulher se resumia em objeto de manipulação e dominação, projetada em papéis sociais e estereótipos estabelecidos pelo patriarcado, não podendo conservar seu nome nem possuir uma identidade nem sequer uma história, ou seja, o espaço feminino, tanto o social, o imaginário ou o real, foi praticamente estabelecido pelos homens, de acordo com seus interesses, leis e valores que definiam as mulheres em seus únicos e possíveis papéis: de mãe, esposa e filha. Desse modo, as mulheres praticamente ficaram à margem da sociedade, sem identidade específica, marginalizadas e, por muito tempo, analfabetas. Para o sistema patriarcal não existia um sujeito feminino que se pudesse revelar, mas apenas experiências femininas culturalmente determinadas, enquanto os homens eram cercados de possibilidades de realização pessoal, profissional e social. Mediante a desvalorização prática e simbólica da mulher, o prestígio masculino e sua identidade eram reconhecidos e cada vez mais valorizados. Margareth Mead (ROSALDO e LAMPHERE, apud, MOURA 2008; 2) chama atenção para o fato de que “qualquer que seja a organização relacionada à origem ou à posse da propriedade e mesmo se essas organizações aparentemente formais sejam reflexos das relações conflituosas entre os sexos, os valores de prestígio estão sempre ligados às atividades do homem”.

a relação afetivo-conjugal, a proximidade entre vítima e agressor (relação doméstica, familiar ou íntima de afeto) e a habitualidade das situações de violência tornam as mulheres ainda mais vulneráveis dentro do sistema de desigualdades de gênero, quando comparado a outros sistemas de desigualdade (classe, geração, etnia).

Percebe-se que a palavra “mulher” é quase que um estigma de escravidão e sofrimento, e que todos aqueles que, de alguma forma, se enquadram nessa nomenclatura, ou que se identificam com ela, sejam homens, mulheres, transexuais, transgêneros, gays, etc., recebem como se fosse um ‘castigo divino’ ao se reportar a tais maneiras. Cisne e Gurgel (2008, p. 93), afirma que: Na atualidade, reivindicar políticas públicas que correspondam à demanda latente por melhoria das condições de vida das mulheres é uma exigencia para o movimento feminista, que, para realizá-la, necessita de potencial crítico, ação criativa e autonomia organizativa no seu confronto com o Estado.

Segundo Ferreira (2013), a justiça social é a que precisa de um olha crítico e minucioso em relação à população e as diferentes classes. A participação social juntamente com o reconhecimento que trará a justiça social. Com o nascimento dessa necessidade criam-se algumas políticas focalizadoras como as políticas para o público LGBT, para as mulheres e as políticas afirmativas são algumas dessas políticas para públicos específicos, afim de, garantir os direitos dessa população vulnerável. CONCLUSÃO Dentro do contexto analisado e pesquisado, podemos inferir que as políticas públicas voltadas para a população que se entendo como feminina ainda tem muito que caminhar, parafraseando Simone de Beauvoir e sua frase, não se nasce mulher torna-se, nesta frase, por mais que Butler afirme que Beauvois não explique muita coisa, podemos sim verificar o quanto profundo e modificador na década de quarenta/cinquenta, isso significou para a população feminina que culturalmente só tinha como parâmetro a visão machista da mulher nascendo mulher e não se construindo um ser feminino. As políticas afirmativas, mais de setenta anos depois desta frase, vêm para tentar modificar e trazer uma nova forma de discutirmos os seres femininos que não nasceram com suas genitálias femininas, mas sim a construíram e readequaram ao

seu contexto social, e ainda sofrem a mesmo preconceito que as mulheres que nasceram com sua genitália feminina e não precisou readequar. Contudo, com o evoluir das sociedades, as expressões das questões sociais para aquele que,de alguma forma, se visualizam pertencentes aos grupo feminino vem sofrendo também suas modificações e moldando as conjunturas de cada sociedade, trazendo consigo uma maré de violações de direitos de forma brutal e somática, uma vez que pertencer a um grupo social por si só, não te acolhe como um todo. As lutas feministas, por sua vez, trazem no seu escopo toda uma trajetória de estigmas e conquistas que foram galgadas por homens, mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, transgêneros, e muitos outros grupos marginalizados ao longo do processo histórico da formação da sociedade. Essas lutas, que muitos vêem como modismo ou como “pessoas desocupadas”, foi o que de fato garantiu a sobrevivência de muitas mulheres, homens e de outros grupos marginais as sociedade machista e preconceituosa em que se vive. Por fim, traz-se a importância das políticas públicas para a população feminina, pois, por muito o Estado esteve inerte às questões referente ao feminino, e hoje, graças as lutas feministas, se tem uma visibilidade maior do gênero, e ainda sim precisa-se de um aparto legislativo/judicial do Estado para a garantia dos direitos daqueles que ficaram as margens da sociedade por muito tempo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDEIRA, L. & OLIVEIRA, E. Trajetória da produção acadêmica sobre as relações de gênero nas ciências sociais. Caxambú: XIV Reunião anual da ANPOCS. (mimeo). 1990. BOURDIEU, P. 1998. O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil. ________. A Dominação Masculina. 1999. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. BUTLER, J. P. Problema de gênero: Feminismo e subversão da identidade; tradução, Renato Aguiar, - 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. ________. Problema de Gênero, Civilização Brasileira. 2003.

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A diferença

entre

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Disponível

em:

http://revistacult.uol.com.br/home/2013/10/a-diferenca-entre-feminismo-e-feminino/ acessado em

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