RÁDIO UNIVERSITÁRIA WEB - O desenvolvimento do conceito de rádio web

July 14, 2017 | Autor: G. Ribeiro de Souza | Categoria: Webradio, Media Experience, Interactivity, Interatividade, Experimentação, Radio, Podcasting, Web Radio
Share Embed


Descrição do Produto

RÁDIO UNIVERSITÁRIA WEB DA UFPE: O desenvolvimento do conceito de rádio web1 FIGUEIREDO, Carolina (Doutora em Comunicação Social)2 Universidade Federal de Pernambuco / Pernambuco AUGUSTO, Gustavo (Graduando em Rádio, TV e Internet)3 Universidade Federal de Pernambuco / Pernambuco MENDES, Allisson (Graduando em Rádio, TV e Internet)4 Universidade Federal de Pernambuco / Pernambuco SILVEIRA, Tatiana (Graduanda em Rádio, TV e Internet)5 Universidade Federal de Pernambuco / Pernambuco

Resumo: Com a popularização da Internet no início dos anos 90, surgiu a necessidade dos meios de comunicação publicarem informações em conteúdos de mídia interativas, que seriam mais rápidas e eficientes em termos de compartilhamento de dados e de participação do público, já que antes a audiência era passiva à grade de programação dos meios clássicos. Em Pernambuco, a desativação da Rádio Universitária AM proporcionou a oportunidade de criar uma rádio especificamente para a Internet, a Rádio Universitária Web, com o uso e desenvolvimento de uma linguagem própria para esse tipo de mídia. O artigo discute o conceito de rádio web e apresenta o estudo sobre as principais ferramentas e possibilidades, em termos de conteúdo, capazes de proporcionar, para o projeto da Rádio Universitária Web e para outras rádios web, uma proposta de comunicação de ordem pública com experimentação em suas estruturas de programas, com interatividade, participação e inovação.

Palavras-chave: rádio web; experimentalismo; interatividade.

1. Introdução 1 Trabalho apresentado no GT de ___________________, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013. 2 Orientadora do trabalho. Professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Doutora em Comunicação Social e Mestre em Sociologia. Atualmente realiza pesquisas sobre o veículo rádio e sobre mapas narrativos. É uma das coordenadoras da Rádio Universitária Web da UFPE (http://www.radiouniweb.com.br/). [email protected]. 3 Graduando do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente realiza pesquisas sobre o veículo rádio e sua inserção na web. É um dos gestores da Rádio Universitária Web da UFPE (http://www.radiouniweb.com.br/). [email protected]. 4 Graduando do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente realiza pesquisas sobre o veículo rádio e sua inserção na web. É um dos gestores da Rádio Universitária Web da UFPE (http://www.radiouniweb.com.br/). [email protected]. 5 Graduanda do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente realiza pesquisas sobre o veículo rádio e sua inserção na web. É uma dos gestoras da Rádio Universitária Web da UFPE (http://www.radiouniweb.com.br/). [email protected].

A internet absorveu múltiplas camadas de tecnologia, favorecendo o compartilhamento de dados de maneira rápida e eficiente. Com a instrumentalização de seus suportes a níveis econômicos permitiu que a criação de websites se tornasse uma interface de sucesso na cultura pós-moderna, permitindo o público interagir com a mídia e relativamente se sentir no controle da informação. Os meios de comunicação clássicos, como televisão, rádio e jornais, limitavam a participação do espectador, ou seja, ele era passivo à grade de programação. A internet possibilitou uma linguagem não-linear da informação, a audiência pode criar conteúdos e escolher quando recebêlos. Em suma, essa interação significou um desafio para os outros veículos de comunicação, já que a tecnologia oferecia um amplo serviço de informação e entretenimento, era preciso mudar a maneira como eram passadas as informações pelas mídias clássicas. Entretanto, sua inovação mais importante é a distribuição de produtos de voz, vídeos e impressos num canal eletrônico comum, muitas vezes em formatos interativos bidirecionais que dão aos consumidores maior controle sobre os serviços que recebem, sobre quando obtê-los e sob que forma. (JUNIOR, 2000, p.23)

No mesmo contexto tecnológico, a digitalização do rádio surgiu com a necessidade de não somente melhorar a qualidade do áudio para o ouvinte, mas também para atender diversas plataformas de propagação de informação, como celulares, mp3 ou mp4,e outros dispositivos moveis. A criação de podcasts foi uma das primeiras características de digitalização de conteúdos radiofônicos, porque o ouvinte poderia fazer downloads de produtos editoriais e escutá-los em diversos tipos de aparelhos. Considerando a democratização da informação e a necessidade de criação de uma linguagem radiofônica adequada para a Internet, estudantes do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Federal de Pernambuco criaram o projeto da Rádio Universitária Web, que proporciona um caminho para que conteúdos de diferentes fontes sejam inseridos na mídia, além de possibilitar a experimentação, já que o desafio é propor uma nova linguagem, e não somente transpor o que já existe para o modelo web. Isto explica a importância do estudo de novas possibilidades de comunicação diante de um processo de digitalização dos meios de informação. A rádio web representa uma alternativa para a carreira do profissional de comunicação, pois é uma nova mídia que engloba todas as outras, ou seja, dentro de um website é possível ter conteúdos de vídeo, áudio, de texto e de design, o que representa a possibilidade de uma nova linguagem e de interação do público.

Com o conceito de hipermidiatismo, de Vicente Gosciola, e de experimentação, proposto por Bertold Brecht em Teoria do Rádio, é possível criar um conceito para a produção radiofônica no contexto de mídias digitais. As perguntas que podem ser feitas em relação a este contexto são: como criar uma programação que permita a interação do público? Qual a proposta da Rádio Universitária Web? Que linguagem pode ser usada na produção de conteúdos para a internet?

2. A Rádio Web no Brasil No Brasil, a digitalização do rádio está relacionada ao contexto político e social, já que ela abrange a questão da democratização da informação, nem todas as parcelas da sociedade tem participação pública ativa, o que corresponde pequena veiculação de produtos midiáticos feitos por diversas comunidades. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 20116, apenas 36,5% dos domicílios particulares permanentes possuem microcomputador com acesso a internet, um aumento de 9% se comparado a pesquisa feita em 2009 – apesar de ser uma pequena porcentagem de domicílios com acesso, é possível dizer que esse crescimento significa a necessidade da inserção dos meios de informação na internet. Ainda mais se levado em consideração que rádios web podem ser acessadas por dispositivos moveis e não somente por microcomputadores, segundo dados do PNAD, 49,7% dos domicílios particulares permanentes possuem celular. Com a inserção dos meios de comunicação na web, poucos veículos mudaram a maneira de produção. Segundo o artigo publicado “Novas Possibilidades para Rádio AM no Brasil” (2012), a estrutura de programação das rádios AM e FM continuaram as mesmas, a Internet só representa o modo como a informação é transmitida, ou seja, não é considerado “rádio web”, mas sim, “rádios NA web”. Entram nesse conceito, aplicativos para smartphones e tablets como o TuneIN e o Rad.io , estes aplicativos representam um portal de estações de rádio, não possuem uma linguagem própria, eles possibilitam o ouvinte selecionar estações favoritas, sendo nacionais ou internacionais, e proporcionam a transmissão em tempo real de programações radiofônicas. Em contrapartida, ao analisar os sites oficiais desses aplicativos, é possível perceber a

6

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD 2011. 2011. Disponível em:

facilidade de segmentar o público quando se trata de mídias na internet. A web é um espaço de comunicação muito interessante do ponto de vista de aplicação de recursos financeiros, justamente porque se exige pouco investimento comparado as estruturas tradicionais de mídia, já que a digitalização das ondas de rádio AM e FM teria um custo muito alto. No Brasil, os receptores para a digitalização não seriam acessíveis a uma grande parcela da sociedade, estima-se que o preço final de cada receptor seria de R$ 450,007, se levado em consideração o preço de importação e impostos. Além de que no país dois padrões digitais deveriam ser usados, o IBOC (in band on channel – padrão americano) para as rádios AM e FM, e o padrão europeu DRM (Digital Radio Mondiale) para frequências mais curtas, o que aumentaria o preço mais ainda.8 Os sites web que disponibilizam arquivos de áudio podem usar dois suportes básicos de transmissão, o streaming, que significa corrente de imagens ou sonoras que são enviadas em um fluxo diretamente da internet para o computador, este conecta com um servidor que começa a mandar o arquivo, assim ele constrói um buffer que salva as informações, o que possibilita a distribuição de dados em tempo real. E o podcast, que é o arquivo de áudio que pode ser feito o download e salvo no dispositivo móvel ou microcomputador. Contudo, a internet possibilita também o uso de diversas ferramentas de veiculação da informação, o site oficial pode dialogar com as redes sociais como Facebook e Twitter, o que possibilita audiência diversificada, e ao mesmo tempo, a web promove o chamado multitask, ou seja, o público pode realizar outras atividades sem perder a conexão com o site principal. Uma das inovações é a possibilidade que é dada ao usuário de acessar a programação de acordo com o seu interesse e necessidade, e não mais de acordo com o que for estabelecido pela emissora. Outra característica bastante comum nessas emissoras virtuais é o fato de ofereceram ao seu público uma ampla possibilidade de navegação por outros sites, sem a queda de conexão com a página principal e, consequentemente, com a programação radiofônica. (COSTA e COSTA, 2009)

3. Na sombra da Rádio Universitária AM A Rádio Universitária AM foi fundada em 11 de agosto de 1963 pelo professor Paulo Freire agregada ao NTVRU (Núcleo de TV e Rádios Universitárias). A primeira 7 8

SIQUEIRA, Ethevaldo. Para Compreender o Mundo Digital. São Paulo: Ed.Globo, 2008. Id. , 2008.

rádio universitária do Brasil iniciou seus trabalhos operando na frequência de OM (ondas médias) e foi durante algum tempo fundamental para projetos importantes relacionados à educação, sobretudo à alfabetização de populações sem acesso à educação. Pelos estúdios da Rádio, além do próprio fundador, passaram vários profissionais reconhecidos do rádio pernambucano, como: Hugo Martins com o programa Carnaval Brasileiro, José Mário Austregésilo com O Espetáculo Continua, Valteir Silva com o programa Brasil-África, Gilvando Paiva com Uma Saudade a Mais, José Bezerra com o programa Dona da Noite, Lucivânio Jatobá com o Encontro Musical, entre outros ícones da radiodifusão pernambucana. Durante sua longa história a emissora transitou por diversas dificuldades. Em 1964 as aulas pelo rádio do educador Paulo Freire foram pivô de grande polêmica diante da ditadura militar, fazendo com que a rádio saísse do ar por alguns meses. Em 1984, o 2º Comando Aéreo Reginal (COMAR) alegou que o tamanho da torre de transmissão da rádio, de 100 metros, interferia no controle de tráfego aéreo. Desse modo, a emissora foi novamente desativada e só depois de 15 anos a torre de transmissão teve sua altura subtraída à metade, fazendo com que a rádio voltasse a funcionar. Ainda no primeiro semestre de 2011, a Rádio Universitária AM 820 KHz foi desativada. Inúmeros problemas de ordem técnica, como o sucateamento de seu transmissor e dos equipamentos, más condições estruturais que se encontravam a sede e os estúdios, além de uma programação que não era coerente com o perfil de uma rádio pública nem muito menos universitária - já que os estudantes pouco tinham acesso ao canal – foram os principais fatores responsáveis por mais essa desativação. Todos esses problemas apontados só concluem que durante muito tempo de história, a Rádio Universitária AM foi atravessada por muitas gestões incompetentes, com falhas bruscas de organização e planejamento, e falta de respeito ao patrimônio público. Como exemplo claro disso, a pouca (por incompetência), mas importante memória que foi guardada pela rádio ao longo de muito tempo, incluindo os ensinamentos do educador e fundador Paulo Freire foram totalmente destruídos, não restando assim acervo nenhum. Diante desse panorama, o professor Rodrigo Stéfani, do Departamento de Comunicação Social da UFPE assumiu a diretoria da Rádio Universitária AM. Após algumas conversas, os alunos do Curso de Rádio, TV e Internet Allisson Mendes e Gustavo Augusto foram incorporados à emissora, com a missão de reestruturá-la,

levando ao seu funcionamento normal. A Rádio Universitária Web, da UFPE, neste contexto, surge com a proposta de elaborar uma linguagem voltada para a disponibilização de conteúdo não-linear baseado no hipermidiatismo9, que proporciona interação do receptor com o emissor. O site oficial disponibiliza os podcasts, que podem ser escutados em qualquer momento do dia, ele trabalha também com playlists, que são disponibilizadas ao longo da semana. O que facilita o ouvinte montar a sua própria grade de programação. As ferramentas de streaming e podcasting servem, de modo geral, para facilitar a interação do público com o produto que ele deseja ter acesso. Então, infere-se que programas inteiros possam ser disponibilizados para playlists. Isso torna possível, além da quebra da estrutura clássica de grade de programação, a possibilidade do ouvinte-internauta montar a sua própria grade, de acordo com suas preferências e disponibilidades – o que geraria tanto uma maior demanda de produtos quanto de produções radiofônicas. (AUGUSTO; MENDES 2012)

Apesar da linguagem de rádio web ainda não ter características definidas e absolutas, o caminho a ser seguido é usar a internet como plataforma de mídia dinâmica e o streaming como alternativa para transmissão de dados sem comprometer os direitos autorais. A Rádio Universitária Web é um projeto desenvolvido por alunos e professores do Curso de Rádio, TV e Internet da Universidade federal de Pernambuco que também contempla os outros cursos do departamento de Comunicação Social, e visa integrar e canalizar os produtos extraídos de práticas da área da comunicação, dando espaço para as diversas áreas do conhecimento, sobretudo as presentes na UFPE. Há muito tempo sem espaço no Núcleo de TV e Rádios Universitárias por fatores como a falta de estrutura do NTVRU para acomodar as produções do curso oriundo de gestões incompetentes e incoerentes com as produções universitárias, os estudantes se sentiram desestimulados pela produção radiofônica e desacreditados com os veículos públicos de comunicação que abraçassem suas ideias. A Rádio Universitária Web incorpora os grandes desafios enfrentados pelos estudantes de Rádio, TV e Internet da UFPE durante o período descrito acima. Com isso, o projeto visa estabelecer uma proposta experimental de rádio, com liberdade editorial e valorização dos temas mais relevantes para uma comunicação pública eficaz e coerente com a realidade cultural, política e econômica da sociedade pernambucana.

9

GOSCIOLA, Vicente. Roteiro Para As Novas Mídias. São Paulo: Ed.Senac, 2010.

A proposta se enquadra também sob o caráter “laboratorial”, já que estimula e se baseia na experimentação de formatos, gêneros, temáticas e abordagens, atreladas ás práticas acadêmicas desenvolvidas no decorrer da graduação. Além disso, a rádio aparece como um novo canal qualificado que proporciona aos estudantes uma visibilidade substancial de suas produções diante do mercado da comunicação. Em linhas gerais a Rádio Universitária Web se define por um espaço plural e mestiço (portal oficial), concebido para a veiculação de todos os conteúdos produzidos e/ou associados á rádio. Vale lembrar que o canal conta, além dos tradicionais podcasts para as produções radiofônicas, com notícias, colunas e espaço multimídia (onde podem ser publicados músicas, fotos e vídeos). As redes sociais também se fazem presente com muita intensidade no projeto. O perfil da Rádio Universitária Web no Facebook e no Twitter, além do Instagram e do canal de vídeos no YouTube, tornam a proposta mais interativa e mantém o público informado diariamente de tudo o que está acontecendo no site da rádio. A Rádio Universitária Web tem o propósito de servir não só a comunidade acadêmica, mas também ao público, em geral, com uma programação diversificada, ética, comprometida com a universidade pública e a cidadania. A programação buscará a interface com as novas possibilidades de experimentação, que serão distribuídas para a internet - não somente como um mero armazenamento de conteúdo da emissora, mas sim de forma autônoma e adequada aos padrões da internet e aos perfis dos usuários e públicos-alvo de cada programa.

4. Conceito-chave: Dialógica e Experimentação O experimentalismo na comunicação, antigamente, estava associado somente a produções artísticas. Como exemplo, em 1967, o músico Glenn Gould inovou o conceito de documentário radiofônico ao montar suas peças quebrando a linearidade das produções da emissora britânica BBC. Ele usava formas sonoras e não sonoras representadas pelos sistemas expressivos da palavra, da música, de efeitos e do silêncio, não usava narradores e construía a narrativa por meio de depoimentos. A linguagem representa uma das maneiras de experimentalismo. Bertold Brecht, em Teoria do Rádio, propõe que diretores de rádio não se limitem somente a reprodução de conteúdo e a informação, mas que também haja experimentos, e que a arte e o rádio estejam ligados a fins pedagógicos. Atualmente, o conceito de experimentalismo está associado às variações de

formatos radiofônicos, e não somente à arte. Segundo o artigo “Novas Possibilidades para o Rádio AM no Brasil” (2012), não é possível caracterizar este gênero com precisão, mas ele segue os avanços tecnológicos de cada momento histórico. Experimental: responsável pela parcela de inovação que acompanha o desenvolvimento do rádio e oferece as perspectivas de mudanças e variações de formatos numa espécie de vanguarda para o veículo. Não podemos definir as características que compõem os produtos deste gênero, nem classificar os programas resultantes desse processo. Estes produtos estão sempre em processo de mudança e ressignificação e esta dinâmica que caracteriza o gênero, além de ter um papel fundamental no desenvolvimento do rádio enquanto veículo de comunicação aponta para a necessidade de acompanhar os avanços e demandas tecnológicas e as exigências do público. (AUGUSTO; MENDES 2012)

A popularização da Internet e o acesso a dispositivos móveis possibilitou o indivíduo alcançar os meios de produção e a veiculação de conteúdo, com download de softwares de edição de áudio e a o upload de produtos audiovisuais em sites como YouTube ou em blogs. Isso significa a facilidade de inovação e de experimentação, já que a internet proporciona um espaço democrático e de abertura para conteúdos novos, diferentemente de mídias fechadas como televisão e rádio. Segundo Edgar Morin, a interação entre indivíduos, como transmissor de cultura influencia a sociedade, e a partir disto, o ser humano pode quebrar o determinismo imposto socialmente.10 A experimentação na rádio é exatamente a quebra de paradigmas e o incentivo da criatividade. Todo conhecimento, inclusive científico, se faz presente em todos os setores, desde as organizações culturais, ao contexto social, passando por toda a história. Os indivíduos se portam como produtores e reprodutores de conhecimentos e de cultura em todos os setores do meio social, constituindo assim, uma interação recursiva e dialógica na relação indivíduo-sociedade-cultura. Os indivíduos, enquanto portadores e transmissores de cultura, modificam constantemente as relações sociais, que por sua vez, regeneram o ciclo cultural. Sob o ponto de vista de uma empresa de comunicação ou de algo que se propõe a valorizar as organizações culturais existentes, tais afirmações indicam que a comunicação deve ser plural, democrática e atenta aos diversos contextos e setores da sociedade contemporânea. Todos os setores e todos os contextos representam e são 10

RODRIGUES, André. Resenha do Livro: O método 4: habitat, vida, costumes, organização de Edgar Morin. Disponível em: Acesso em: 19 abr 2013

produtoras de produtos culturais e de conhecimento. Em uma sociedade marcada pela globalização e pelo dinamismo nas relações, todos os setores da sociedade merecem a atenção e o espaço por parte dos que fazem a “a mídia”, e devem buscar a interação com os mesmos em busca de uma sociedade cada vez mais democrática e participativa.

4.1. Objetivos da plataforma Ao longo de aproximadamente seis meses (tempo de espera para a resolução dos problemas burocráticos e de reestruturação física), a equipe da Universitária AM, que também contava com técnicos vinculados ao NTVRU, trabalhou na perspectiva da montagem de uma nova programação para a rádio, com a maioria do espaço de programação destinado aos estudantes e com um perfil mais dinâmico e interativo com seu público, trazendo conceitos de transmídia. O esforço desenvolvido rendeu uma nova grade de programação pronta para ir “ao ar”, mas a burocracia mais uma vez atrapalhou o projeto. Os processos de licitação não foram concluídos (até hoje), tornando assim a proposta inviável. Dentro do ócio da espera e com muita vontade de produzir conteúdo, a equipe responsável pela emissora começou a pensar em outras saídas para que a ideia não fosse perdida. Após uma análise do cenário do Rádio AM no Brasil e seus problemas técnicos, levando em conta a possível digitalização da transmissão de rádio, além das possibilidades que a internet proporciona para produção e recepção de conteúdos e por fim, da viabilidade de produção e veiculação de conteúdos, o corpo gestor da rádio começou a se estruturar em prol de um projeto mais viável, porém não menos importante e desafiador: a Rádio Universitária Web. Por cerca de seis meses, com a coordenação da professora do Departamento de Comunicação, Carolina Dantas, a equipe componente do projeto Rádio Universitária Web trabalhou no intuito de lançar uma proposta de rádio experimental livre, coerente com o perfil de uma rádio pública e que contemplasse melhor os estudantes de comunicação e seus respectivos projetos. Ao fim desse período, se pode constatar a construção de uma programação, já fora do conceito tradicional de grade, prometendo experimentação com qualidade nas produções dentro dos padrões de uma rádio pública, plural e universitária.

4.2. Programação Inicial da Rádio Universitária Web Para tal proposta de programação web é válido considerar que a Rádio

Universitária Web não possui condições técnicas de reproduzir conteúdo ao vivo, sendo todos os conteúdos previamente gravados e editados. No que diz respeito aos programas que utilizam a informação como matéria prima, estes devem prezar por informações menos factuais e atemporais. Desse modo, é fato que a rádio deve oferecer informação que não dependa do contato cotidiano e ao vivo. Outro ponto importante para essa proposta de programação é a maior possibilidade de se experimentar novos tipos de conteúdo radiofônico (gêneros, formatos, linguagens), que tradicionalmente não sofrem grandes modificações, mesmo na web. Desse modo, haverá certa liberdade editorial para que as produções busquem inovações em seus conteúdos, atendendo assim, mais do que uma vontade da gestão da rádio, mas uma necessidade que se faz presente na web. A estreia do projeto se deu no dia 14 de março de 2013, durante a Semana de Comunicação Pública da UFPE, realizada pelo NTVRU. Para a primeira fase de programação, a Rádio Universitária Web conta com 5 programas fixos ao longo da semana, além de programas especiais, playlists enviadas pelo público através de campanhas nas redes sociais, notícias diárias e quatro colunas semanais (escritas por estudantes e professores que colaboram com o projeto). Vale lembrar que é constante a análise da programação do veículo e é constante a demanda de projetos destinados ao mesmo. Por isso, a programação a cada dia contempla mais programas fixos, mais programas especiais e conteúdos de texto11. 11

Releases dos programas da fase inicial da Rádio Universitária Web (disponíveis no site: www.radiouniweb.com.br):  Segunda-feira Discutindo a Relação: Fruto de uma sociedade repressora, a temática sexual, mesmo com alguns notáveis avanços, ainda é vista como tabu. Muitas pessoas ainda não se sentem totalmente confortáveis quando o assunto é sexo. Dessa maneira nasceu o programa “Discutindo a Relação”, o qual o sexo é tratado de uma maneira bastante leve e informal, com o objetivo de atingir pessoas de diversas classes sociais e idades, o que facilita o entendimento do debate e acarreta a reflexão do assunto – Cuja informalidade faz com que o ouvinte não se sinta constrangido com tema.  Terça-feira e Quinta-feira Universitária em Cena – Radionovela “Cicatrizes da Paixão”: Focando o resgate do gênero ficcional em meio radiofônico, o “Universitária em Cena: Radionovela e Cidadania”, projeto extensionista da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), remonta em sua identidade de produção um segmento de grande sucesso na Era de Ouro do rádio brasileiro e pouco representado na contemporaneidade, a radionovela como imagem da realidade. Conflitos, intrigas, paixões, romances e segredos ao longo de 25 capítulos, aqui, na Rádio Universitária Web.  Quarta-feira Lead Musical: No Lead Musical, você ouvirá seleções musicais mais específicas, desde o rock mais antigo ao heavy metal – seja com grupos mais clássicos, ou com bandas que não fazem parte do “mainstream”. Não deixe de conferir a nossa temporada-piloto, assim como dar a sua opinião, sugestões e críticas para aprimorarmos as nossas futuras edições. As portas estão abertas e o volume sempre estará alto!  Sexta-feira

5. Considerações finais Ao fim de toda a análise desenvolvida, é importante destacar primeiramente que a comunicação pública que se propõe a transmitir um conteúdo democrático e plural e interagir com abordagens semelhantes, deve se basear e buscar novas possibilidades em ferramentas que facilitem este tipo de ação. Mas, além disso, devem se fortalecer e buscar alternativas contra o determinismo a partir de produtos experimentais, que atendam aos preceitos de uma comunicação pública eficaz, e de ferramentas tecnológicas que se adéquam a essa proposta. A internet, em ascendência nos setores da população brasileira, representa não uma solução para a produção de conteúdos públicos de qualidade, mas uma ferramenta de boa versatilidade, dinâmica e capaz de atender aos quesitos necessários para uma boa interação com a sociedade. Além disso e sobretudo, é preciso o compromisso com a democracia e com a pluralidade de temáticas e de opiniões através de conteúdos experimentais, que sejam capazes de manter diálogo constante e trazer/compartilhar conhecimentos extraídos dos diversos setores da sociedade. A Rádio Universitária Web, mesmo com suas dificuldades de fase inicial, demonstra em certos aspectos seu interesse e atenção por conteúdos experimentais como atributo fundamental para a construção de um novo cenário de comunicação. Esse interesse pode ser verificado através da proposta de um site interligado às redes sociais, produzindo conteúdos de todos os tipos (áudio, vídeo, foto, texto) com espaço aberto para as discussões mais relevantes na atualidade e com produtos que correspondem a essa proposta dentro de formatos e perspectivas experimentais. Os programas radiofônicos da Rádio Universitária Web possuem duração média de 15 minutos e experimentam linguagens de acordo com a característica da proposta e com as possibilidades oferecidas pela internet. Os conteúdos ainda são exibidos através de podcasts sem nenhuma ferramenta técnica que facilite a criação de uma lista de faixas selecionadas pelo usuário. O espaço destinado às músicas no espaço multimídia precisa de uma ferramenta que torne a busca e a reprodução mais usuais, assim como há outros pontos no site e avanços nas redes sociais que devem ser feitos de modo a tornar tudo mais funcional e mais próximo do público. Desse modo, a Rádio Universitária Web, mesmo nesse cenário recente e desconhecido de rádio web, vem se estruturando a Além da Leitura: Voltado ao desenvolvimento de temas literários que ultrapassam a leitura e que a refletem no cotidiano. O objetivo não é tornar o ouvinte um literato, acadêmico ou tecnicista, não pretendemos formar poetas ou escritores. O intuito é demonstrar que o prazer de um livro não acaba quando se termina de ler a última página.

cada dia a partir de novos estudos que aparecem, mas, sobretudo das diversas experiências que acontecem e que trazem boas conclusões a respeito.

Referências bibliográficas AUGUSTO, Gustavo; MENDES, Allisson: Estudo de Programação para a Rádio Universitária Web. Recife. Curso de Rádio, TV e Internet. Relatório de Pesquisa desenvolvida nas disciplinas Método de Pesquisa em Comunicação I e II. 2012. 76p.

______________________________________. NOVAS POSSIBILIDADES PARA O RÁDIO AM NO BRASIL: Uma análise sobre a inserção do modelo AM na internet. Artigo publicado no XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Fortaleza, 2012. BRECHT, Bertold. Teoria do rádio (1927-1932). In: Teorias do Rádio – Textos e contextos. / Eduardo Meditsch (org). Insular, 2005.

COSTA, Luciana Miranda; COSTA, Paula Catarina de Almeida. In: KLOCKNER, Luciano; PRATA, Nair (Org.) História da Mídia Sonora: experiências, memórias e afetos de Norte a Sul do Brasil. Porto Alegre: ediPUCRS, 2009. p.499 – 465.

FRIEDRICH, Otto. Glenn Gould: uma vida e variações. Tradução: Ana Lagôa, Helena Londres. Rio de Janeiro: Record,2000. p. 181

GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as Novas Mídias: Do cinema as mídias interativas. SENAC: São Paulo, 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por

Amostra

de

Domicílios



PNAD

2011.

2011.

Disponível

em:

Acesso em: 30 mar 2013.

JÚNIOR, Wilson Dizard. A Nova Mídia – A comunicação de Massa na Era da Informação. Tradução: Antõnio Queiroga, Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. LORANGER, Hoa; NIELSEN, Jakob. Usabilidade na Web – Projetando Websites Com Qualidade. Tradução: Edson Furmankiewicz e Carlos Schanfranski. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

MATSUKI, Edgard. Conheça cinco aplicativos gratuitos para ouvir rádio no celular. Portal EBC – Empresa Brasil de Comunicação, 2012. Disponível em: Acesso em: 31 mar 2013.

MOREIRA, Sônia Virgínia. In: MAGNONI, Antônio Francisco; CARVALHO, Juliano Maurício de. (Org.) O Novo Rádio - Cenários da Radiodifusão na Era Digital. São Paulo: Senac,2010. MUSBURGER, Robert B. Roteiro para mídias eletrônicas – TV, Rádio, Animação e Treinamento Corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 326p. PRATA, Nair. Panorama do Rádio no Brasil. V.1. / Nair Prata (org.) – Florianópolis: Insular, 2011.

RODRIGUES, André. Resenha do Livro: O método 4: habitat, vida, costumes. Organização

de

Edgar

Morin.

Disponível

em:

Acesso em: 19 abr 2013

SABBATINI, Marcelo. Publicações Eletrônicas na Internet. São Caetano do Sul: Yendis Editora, 2005

SIQUEIRA, Ethevaldo. Para Compreender o Mundo Digital. São Paulo: Globo, 2008.

SOUZA,

Gilberto.

A

Extinção

do

Rádio

AM.

Disponível

em

. Acesso em 02 nov. 2011.

TAVARES, Reynaldo C. Histórias que o rádio não contou. 2. ed. São Paulo: Harbra, 1999.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.