Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de Acidente Vascular Cerebral: Revisão da Literatura

May 26, 2017 | Autor: Kyria Spyrides | Categoria: Radiography
Share Embed


Descrição do Produto

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: 1519-0501 [email protected] Universidade Federal da Paraíba Brasil

Queiroz ABREU, Thalita; Barreto de BRITO FILHO, Sebastião; Felice de SALES, Kelston Paulo; Spyro SPYRIDES, Kyria; Figueiredo de OLIVEIRA, Ana Emília Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de Acidente Vascular Cerebral: Revisão da Literatura Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, vol. 11, núm. 4, octubre-diciembre, 2011, pp. 607-613 Universidade Federal da Paraíba Paraíba, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63722200023

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ISSN - 1519-0501

DOI: 10.4034/PBOCI.2011.114.23

Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de Acidente Vascular Cerebral: Revisão da Literatura Panoramic Radiography as Possible Diagnostic Method for Patients with Stroke Risk: A Literature Review 1

2

3

Thalita Queiroz ABREU , Sebastião Barreto de BRITO FILHO , Kelston Paulo Felice de SALES , 4 5 Kyria Spyro SPYRIDES , Ana Emília Figueiredo de OLIVEIRA

1

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís/MA, Brasil.

2

Professor Mestre do Departamento de Medicina II da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís/MA, Brasil.

3

Mestrando em Medicina - Cirurgia Vascular pela Universidade Federal de São Paulo (USP), São Paulo/SP, Brasil.

4

Professora Doutora da Universidade Gama Filho (UGF), Rio de Janeiro/RJ, Brasil.

5

Professora Doutora do Departamento de Odontologia I da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís/MA, Brasil.

RESUMO Introdução: A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica que pode ser causa de morte e incapacitação física/mental, representando um sério problema de saúde pública devido aos altos custos desprendidos com a reabilitação dos pacientes. Dentre os diferentes métodos para diagnosticar doenças ateroscleróticas, a angiografia é considerada o “padrão-ouro”. No entanto, outros métodos de diagnóstico de imagem têm sido citados na literatura. Desde 1981, a presença de determinadas imagens radiopacas em radiografias panorâmicas tem sido descrita como sinal da presença de placas de ateroma carotídeas calcificadas. Apesar do benefício social que a radiografia panorâmica traria como novo método de diagnóstico para esse tipo de doença aterosclerótica, diminuindo assim o risco de acidente vascular cerebral, ainda existem controvérsias na literatura sobre seu uso como método confiável para esse fim. Objetivo: Nessa revisão vamos expor algumas das obras mais relevantes publicadas sobre esse assunto desde o primeiro estudo, em 1981, analisando a possibilidade do uso da radiografia panorâmica como exame de triagem para pacientes suscetíveis a acidente vascular cerebral. Métodos: No período de setembro de 2010 a março de 2011 foram utilizados os bancos de dados eletrônico do Medline e Lilacs para a seleção dos estudos. Foram incluídos aqueles que relacionavam o exame radiográfico panorâmico e a doença aterosclerótica. Conclusão: Existem divergências na literatura estudada, no que se refere à confiabilidade da radiografia panorâmica como método de diagnóstico de pacientes com risco de Acidente Vascular Cerebral. Novos estudos devem ser realizados a fim de determinar a sensibilidade e especificidade, bem como os valores preditivos, positivo e negativo, desse exame na identificação de placa de ateroma carotídea calcificada. Além disso, a generalização do conhecimento sobre o referido tema, bem como a capacitação de cirurgiões dentistas gerais na identificação do problema deve ser instituída.

DESCRITORES Acidente cerebral vascular; Doenças das artérias carótidas;

ABSTRACT Introduction: Atherosclerosis is a chronic inflammatory disease that can cause death and physical/mental disability, representing a serious public health problem due to cost related to the rehabilitation of the patients. Among the different methods to diagnose atherosclerotic disease, angiography is considered the "gold standard". However, other methods of diagnostic imaging have been cited in the literature. Since 1981, the presence of certain radiopaque images in panoramic radiographs has been described as a sign of the presence of calcified carotid atheromatous plaques. Despite the social benefit that panoramic radiography would provide as a new diagnostic method for this type of atherosclerotic disease, thereby reducing the risk of stroke, there is still controversy in literature about its use as a reliable method for this purpose. Objective: This review will expose some of the most relevant works published on this subject since the first study in 1981 examining the possibility of the use of panoramic radiography as a screening test for patients susceptible to stroke. Methods: From September 2010 to March 2011 was used the electronic databases Medline and Lilacs for the selection of studies. Was included those that related the panoramic radiographs and atherosclerotic disease. Conclusion: There are differences in the literature studied in relation to the reliability of panoramic radiography as a method to diagnose patients at risk for stroke. Further studies should be conducted to determine the sensitivity and specificity as well as predictive values, positive and negative, in this radiography for the identification of calcified carotid atheroma. Moreover, the generalization of knowledge on that topic as well as training of general dentists in identifying the problem should be instituted.

KEY-WORDS Stroke; Carotid artery diseases; Radiography, panoramic.

Abreu et al. – Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de AVC

INTRODUÇÃO A aterosclerose é a causa primária das doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais (AVC) nos países desenvolvidos, sendo responsável por 50% 1,2 das mortes . Na Espanha, quase metade das mortes ocorridas por ano são decorrentes da aterosclerose e a população maior que 55 anos é a que apresenta maior 3 risco . A formação de placas de ateroma na artéria carótida não é uma simples e inevitável consequência degenerativa que ocorre com o avanço da idade, mas sim uma doença inflamatória crônica que pode originar uma condição clínica aguda devido à ruptura da placa, tornando o indivíduo susceptível à doença 1,2 tromboembólica ou o AVC . O AVC é a terceira maior causa de morte nos Estados Unidos, sendo responsável por mais de 150.000 mortes por ano, ficando atrás somente das doenças 2,4-6 cardiovasculares e câncer . Não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, o AVC pode ser causa de morte e incapacitação física/mental, representando um sério problema de saúde pública devido aos altos custos desprendidos com a reabilitação dos pacientes. No Brasil, o AVC é a principal causa de morte e sequelas em adultos, sendo responsável por mais de 80.000 óbitos por ano, 16,2% do orçamento da saúde e 10,7 milhões de 7 dias de internação no país . Estima-se que nos Estados Unidos, em 2008, os custos diretos e indiretos relacionados com essa doença tenham sido de 65,5 8 bilhões de dólares . Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença são classificados em não modificáveis e modificáveis. Os primeiros são idade, sexo, etnia e hereditariedade, e os últimos são hipertensão, diabetes mellitus, dislipidemia, obesidade, tabagismo e doença aterosclerótica. As diferenças na prevalência de AVC no mundo podem variar devido à idade, sexo, etnia e estilo 9 de vida . Para a redução da prevalência dessa grave doença, medidas destinadas a prevenção e ao diagnóstico precoce dos indivíduos com risco de sofrerem AVC devem ser tomadas. No entanto, um método barato e confiável para a detecção precoce desses pacientes ainda é deficiente. Dentre os diferentes métodos para diagnosticar doenças ateroscleróticas, a angiografia é considerada o “padrão-ouro”. No entanto, por tratar-se de um método invasivo, complicações podem ocorrer. Por isso, o Doppler colorido, também chamado Fluxometria Laser Doppler ou Duplex Scan, tem sido cada vez mais usado para diagnosticar ateroma, por ser um método rápido, preciso e indolor. O Doppler colorido também pode ser considerado “padrão-ouro”, pois os resultados obtidos com este método de imagem são semelhantes aos obtidos com a angiografia, com a vantagem de ser um 10

calcificadas, elas podem ser observadas em radiografias 5,11 panorâmicas . A imagem da calcificação observada nesse exame é descrita como uma massa nodular radiopaca, podendo ser observada uma ou mais áreas radiopacas de forma alongada ou triangular e de vários tamanhos. Essas radiopacidades medem cerca de 1,5 a 4,0 cm e podem ser observadas abaixo e posteriormente ao ângulo da mandíbula, adjacentes aos espaços 3,9,10 intervertebrais C2, C3, C4 (Fig. 01). Essa é a região em que a artéria carótida se divide em artéria carótida interna e externa, representando uma área crítica para a 8,12 formação de ateromas .

Figura 01: Radiografia Panorâmica com imagem sugestiva de PACC

Desde 1981, a presença dessas imagens radiopacas em radiografias panorâmicas tem sido descrita como sinal da presença de placas de ateroma 8,13-15 carotídeas calcificadas (PACC) , o que contribuiria para o diagnóstico precoce do risco de AVC. Uma vez que 85% dos AVCs são isquêmicos e 2/3 são causados por embolia do trombo, que tem origem na região de bifurcação da artéria carótida, alguns autores relatam a utilização desse tipo de exame para a identificação de 2 PACC nessa região . Apesar do benefício social que a radiografia panorâmica traria como um novo método de diagnóstico para esse tipo de doença aterosclerótica, diminuindo assim o risco de AVC, ainda existem controvérsias na literatura sobre seu uso como método confiável para esse fim. Considerando ainda que o referido tema não seja abordado nas disciplinas de radiologia e/ou semiologia odontológica, dificultando o diagnóstico da doença pelo cirurgião-dentista, justifica-se a publicação do artigo em revista de odontologia, visando contribuir com a transformação do comportamento desses profissionais durante a análise das radiografias panorâmicas. Por isso, nessa revisão vamos expor algumas das obras mais relevantes publicadas sobre esse assunto desde o primeiro estudo, em 1981, analisando a possibilidade do uso da radiografia panorâmica como exame de triagem para pacientes suscetíveis ao AVC.

METODOLOGIA

Abreu et al. – Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de AVC

2011 o banco de dados eletrônico do Medline foi usado para identificar os estudos. As palavras-chave utilizadas para a busca foram: acidente vascular cerebral (stroke), doenças das artérias carótidas (carotid artery diseases) e radiografia panorâmica (radiography, panoramic). Uma busca adicional dos estudos foi feita no banco de dados eletrônicos do Lilacs. As referências bibliográficas dos artigos selecionados também foram verificadas para identificar os estudos adicionais. Seleção dos artigos Foram examinados o título, o resumo e as palavras-chave dos artigos identificados nos bancos de dados eletrônicos para selecionar os estudos potencialmente relevantes com vistas a uma leitura mais detalhada do texto completo. Depois da leitura do texto completo, foi decidida a inclusão do estudo para esta revisão. Os estudos foram incluídos quando relacionavam o exame radiográfico panorâmico e a doença aterosclerótica.

REVISÃO DA LITERATURA Em 1981, pela primeira vez, a radiografia panorâmica foi descrita como meio auxiliar na 15 identificação de pacientes com risco de AVC . Os autores desse estudo avaliaram 1000 radiografias panorâmicas de homens entre 50 e 75 anos e identificaram, em 2% dos casos, calcificações na região da bifurcação da artéria carótida. Dessas imagens constatou-se que 88% eram verdadeiramente calcificações na artéria carótida, enquanto que os 12% restantes eram linfonodos 15 calcificados ou cálculos salivares . Em um estudo realizado em 1994, com uma população de 295 indivíduos com idade mínima de 55 anos, assintomáticos e sem história de AVC, foram observados, em radiografias panorâmicas, calcificações na artéria carótida em aproximadamente 3% da 16 amostra . Mais tarde o mesmo autor publicou uma nova pesquisa em que foram examinados 19 homens com idade entre 57 e 76 anos que tinham história prévia de AVC originados na artéria carótida interna. Nesse estudo em 37% da população analisada foi observada PACC em 17 radiografias panorâmicas . Em 1997, em um estudo retrospectivo com 1175 pacientes com idade média de 40,1 anos, onde 45,7% eram homens e 54,3% eram mulheres, foi possível detectar que em 3,6% (42 pacientes) das radiografias panorâmicas exibiam calcificações na artéria carótida. Nessa pesquisa, somente a obesidade teve relação estatisticamente significante com a presença de calcificações na artéria carótida observadas nas 18 radiografias panorâmicas . Em 1999, foi publicada uma pesquisa que correlacionava a presença de calcificações na carótida com a imagem da coluna cervical, para isso foram

Panelise II (Gendex). As calcificações foram identificadas com mais facilidade nas radiografias que foram realizadas pelo aparelho Orthophos, sendo esse achado radiográfico identificado em 5% dos pacientes com mais 7 de 55 anos . Em 2002, foram avaliadas 49 radiografias panorâmicas de homens com diabetes tipo 2 e 49 não diabéticos, com idade média de 66,2 anos. Observou-se que a presença de imagens sugestivas de PACC era de 20,4% nos pacientes diabéticos e de 4% nos pacientes não diabéticos. Os autores concluíram que, em pacientes com diabetes tipo 2 existe maior prevalência de imagens 19 sugestivas de ateroma . Após análise de uma amostra aleatória de 2000 exames radiográficos panorâmicos de rotina obtidos entre 1986 e 2000, de pacientes do sexo masculino com mais de 55 anos, foi possível concluir que as calcificações carotídeas identificadas em radiografias panorâmicas podem ser fortes indicadores para posteriores doenças vasculares. Sugerindo ainda que os pacientes com imagem de calcificação da carótida encontradas em radiografias panorâmicas devem ser encaminhados para avaliação cardiovascular e para tratamento dos fatores 20 de risco . Em 2003, no Japão, foram avaliadas 659 radiografias panorâmicas de 262 homens e 397 mulheres, com idade de 80 anos e foram encontradas PACC em 5% da amostra, 8 homens e 25 mulheres, mostrando diferença entre os sexos. Para esses autores, as radiografias panorâmicas não devem ser utilizadas somente para avaliação dos dentes e dos maxilares, mas 21 também para a região de tecido mole do pescoço . Dando continuidade ao estudo anteriormente citado, a causa de morte foi investigada em 108 indivíduos que morreram até 5 anos após o primeiro estudo. Os resultados mostraram que houve diferença significativa na história passada de doenças vasculares entre indivíduos com e sem calcificações na artéria carótida, no entanto nenhuma diferença significativa na ocorrência de doenças vasculares subsequentes foi encontrada entre eles, além disso, não houve diferença significativa na incidência de morte relacionada à doença vascular no prazo de cinco anos após o exame inicial em 22 indivíduos com ou sem calcificação na artéria carótida . Em 2005, foram analisadas 1548 radiografias panorâmicas de pacientes neurologicamente assintomáticos que tinham 50 anos ou mais. Aqueles que tiveram diagnóstico positivo de ateroma foram submetidos ao exame Doppler para confirmação do diagnóstico e determinação do grau de estenose. Foi concluído que 15 (23%) dos 65 pacientes com ateroma não diagnosticado previamente e descoberto em radiografia panorâmica tiveram significativos níveis de 23 estenose (≥ 50%) na artéria carótida interna . Em uma pesquisa publicada em 2006, com o objetivo de determinar a prevalência de calcificação na artéria carótida, foram utilizadas radiografias panorâmicas de uma população tailandesa realizadas de 1998 a 2004. Dos 1370 pacientes, 34 (2,5%), 16 homens

Abreu et al. – Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de AVC

positivos, 18 eram de indivíduos que relataram hipertensão arterial, 10 relataram diabetes mellitus e 5 relataram hiperlipidemia. A partir daí, os autores concluíram que embora seja raro encontrar PACC na população tailandesa, os dentistas deveriam estar cientes de que essa calcificação pode aparecer nas radiografias panorâmicas de rotina e que esses pacientes devem ser encaminhados à avaliação cardiovascular e 9 cerebrovascular . Em uma pesquisa desenvolvida na Espanha, foram analisadas radiografias panorâmicas de 459 pacientes (194 homens e 265 mulheres), com idade mínina de 40 anos. Em apenas 13 exames panorâmicos (2,83%) radiopacidades foram observadas e classificadas como PACC. Os autores sugerem que os dentistas observem com atenção a possibilidade de detecção de PACC não só em radiografias panorâmicas, mas também em radiografias cefalométrias laterais e em radiografias ântero-posteriores, especialmente se esses pacientes 3 tiverem algum fator de risco para AVC . Em um estudo realizado em 2006, um espécime de cadáver com cabeça e pescoço foi utilizado para determinar a localização de calcificações nos tecidos moles que podem ser observadas na região cervical em radiografias panorâmicas. Para esse estudo, esferas radiopacas foram posicionadas em estruturas anatômicas da região cervical que podem ser locais de calcificação, sendo que para cada estrutura anatômica marcada uma radiografia panorâmica era realizada, gerando um total de 17 exames. As radiografias foram analisadas por 24 examinadores, que indicaram qual imagem representava a radiopacidade referente à bifurcação da artéria carótida. Os resultados mostraram que 79% (19) dos examinadores indicaram de forma errada a cartilagem tritícea como calcificação da artéria carótida. Os autores concluíram a pesquisa lembrando que calcificações na artéria carótida não são as únicas que podem produzir imagens radiopacas em radiografias panorâmicas e que outras estruturas, como por exemplo, a cartilagem tritícea pode induzir ao diagnóstico errôneo 24 de calcificação na artéria carótida . Com o propósito de determinar a utilidade da radiografia panorâmica na detecção de PACC e estenose luminal foi realizado um estudo (2007) com radiografias panorâmicas de 52 participantes adultos que tinham exame de ultra-som da carótida. Os resultados mostraram que as radiografias apresentaram baixa sensibilidade para detectar calcificações carotídeas (31,1%) e estenose (22,7%) e que, quando comparada à ultra-sonografia, a radiografia panorâmica não é um meio confiável para a detecção de calcificações ou 25 estenoses nas artérias carótidas . Em 2008, com o objetivo de determinar a prevalência de calcificação na artéria carótida em um grupo da população iraquiana, foram estudadas imagens radiográficas panorâmicas digitais de 157 pacientes adultos que tinham doenças crônicas, e controle de 43 indivíduos. Os resultados mostraram que houve diferença significativa sobre a prevalência de

controle, chegando a conclusão de que pessoas com doenças metabólicas vasculares têm maior prevalência de calcificações na artéria carótida detectadas em radiografias panorâmicas do que as pessoas que são 26 saudáveis . Mesmo a tomografia não sendo considerado um exame padrão ouro para a detecção de calcificações na artéria carótida, 110 tomografias e exames radiográficos panorâmicos de pacientes com idade entre 50 e 82 anos foram avaliados. As radiografias panorâmicas foram interpretadas por dois cirurgiões dentista radiologistas, enquanto que as tomografias computadorizadas foram interpretadas por um neurorradiologista. A precisão da radiografia panorâmica para a detecção de calcificações na artéria carótida foi de 62,3%, enquanto que a sensibilidade e especificidade desse exame foram de 22,2% e 90,0% respectivamente. Concluíram que as radiografias panorâmicas podem ser consideradas um método de diagnóstico moderado para a detecção de 27 PACC, no entanto, sua sensibilidade é baixa . A confiabilidade da radiografia panorâmica na detecção de ateroma na artéria carótida foi avaliada comparando os resultados desse exame com a angiografia digital de 40 pacientes portadores de doença carotídea aterosclerótica confirmada pelo exame angiográfico. Através desse estudo, realizado em 2008, os autores concluíram que mesmo no subgrupo de pacientes que preenchem os critérios para a endarterectomia carotídea, a radiografia panorâmica tem uma baixa sensibilidade e especificidade e, portanto, não pode ser considerada uma ferramenta útil para 28 triagem de ateromas na população em geral . Em um estudo publicado em 2009, realizado na cidade de Valença-RJ, Brasil, utilizando exame radiográfico panorâmico e Doppler de 16 pacientes, com o objetivo de investigar a concordância entre os diagnósticos de PACC em radiografias panorâmicas e imagens coloridas de Doppler, os autores chegaram à conclusão de que a radiografia panorâmica pode ajudar a detectar calcificações na região cervical de pacientes suscetíveis às doenças vasculares que predispõem ao 10 infarto do miocárdio ao AVC .

DISCUSSÃO O uso do exame radiográfico panorâmico como meio para a identificação de pacientes com risco de sofrerem AVC ainda é bastante discutido na literatura. O que pudemos observar nos artigos que revisamos é que esse não é um assunto completamente elucidado, ainda existem muitas dúvidas, como por exemplo, qual o grau de calcificação na artéria carótida que pode levar a observação da imagem radiopaca em radiografias panorâmicas e qual a relação da imagem com o risco clínico de AVC. Para alguns autores, a presença de calcificações

Abreu et al. – Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de AVC

2

e o desenvolvimento de eventos clínicos é incerta . Um estudo realizado em 2002, numa população de 71 indivíduos do sexo masculino, procurou determinar se PACC seria potencial gerador de acidentes vasculares. Quase 2/3 da população do estudo tinham múltiplos fatores de risco (73,2%), e 86,0% da população do estudo apresentavam pelo menos um fator de risco vascular. Os autores concluíram que não está claro se PACC é um marcador para fatores de risco vascular ou um fator de risco independente para a doença vascular. Apesar deste estudo não ter um grupo controle sem PACC para comparação, os autores concluíram ainda, que PACC encontradas em radiografias panorâmicas seriam potenciais marcadores para futuros incidentes cerebrovasculares, cardiovasculares e até mesmo a 29 morte . Por outro lado, trabalhos na literatura citam que a detecção de PACC na radiografia panorâmica não tem 7,24,25,27 relevância clínica . Um dos primeiros estudos sobre esse tema, realizado em 1989, encontrou uma associação entre o grau de calcificação e estenose 19 carotídea . Além disso, a presença de calcificação foi mais comumente associada com estenose severa do que qualquer outro aspecto morfológico do ateroma. Se a correlação entre a calcificação da carótida e o desenvolvimento de AVC for demonstrada de forma efetiva, seria possível, através de radiografias panorâmicas, não só contribuir para a detecção precoce de doentes com risco de AVC, mas também daqueles em 2 risco de insuficiência cardíaca . Quando identificadas as placas ateromatosas na região da bifurcação da carótida, a primeira característica a ser observada é o tamanho da obstrução. Se o bloqueio do diâmetro da artéria for inferior a 60%, o paciente poderá ser tratado com aspirina, que inibe a agregação plaquetária associada à formação de trombos. Quando a lesão for maior, será necessária a realização de 7 endoarterectomia para remoção da placa . Entretanto, a radiografia panorâmica limita-se apenas à identificação dessas imagens, não podendo avaliar sua exata 11 localização e o grau de obliteração . Além disso, a correta identificação de PACC nas radiografias panorâmicas parece não ser tão simples. A grande maioria dos artigos publicados na literatura utiliza em suas metodologias cirurgiões dentistas radiologistas com anos de experiência, levando-nos a crer que os resultados pudessem ser diferentes caso as análises radiográficas fossem realizadas por cirurgiões dentistas gerais. Por exemplo, em uma pesquisa realizada com 9 um grupo de tailandeses, publicada em 2006 , é especificado que as radiografias foram analisadas por um cirurgião dentista radiologista. Outro artigo publicado em 2007, explica em sua metodologia que um radiologista foi calibrado usando o training package from the American Academy of Oral and Maxillofacial Radiology (AAOMR) antes de analisar as radiografias 25 panorâmicas .Em um artigo publicado em 2008, dois cirurgiões dentistas radiologistas analisaram todas as 110

que a interpretação radiográfica da aterosclerose em radiografias panorâmicas não pode ser frequentemente detectada por um cirurgião dentista geral. Neste estudo, radiologistas odontológicos encontraram evidência de calcificação na carótida em 9 de 1.818 radiografias panorâmicas estudadas, enquanto que os cirurgiões dentistas gerais, que examinaram as mesmas radiografias panorâmicas não conseguiram identificar nenhuma dessas calcificações. Além disso, outra possibilidade de erros de interpretação seriam as (2) variações anatômicas . A sugestão de muitos autores é de que o exame radiográfico panorâmico seja implantado como medida de detecção de PACC pelos cirurgiões dentistas 3,7,9,10,27 gerais . Essa recomendação, no entanto, deve ser feita com cautela, pois apesar de sua recomendação ser lógica, já que cirurgiões dentistas gerais atendem a maioria da população, esses não teriam a experiência necessária para realizar tal diagnóstico com precisão. Apesar de a radiografia panorâmica ser um exame complementar de diagnóstico bastante utilizado na odontologia em geral, a maioria dos profissionais utilizam-na apenas com meio para diagnóstico de patologias oro dentais. Embora, os cirurgiões dentistas sejam treinados para identificar e descrever todas as estruturas visíveis nesta radiografia (região dento alveolar, região maxilar, região da mandíbula e região das articulações temporomandibulares, incluindo retromaxilar e região cervical), na prática, eles estão mais 2 atuantes nas três primeiras áreas do que nas demais . A artéria carótida comum ascende na região cervical média, onde se bifurca dando origem às artérias carótidas externa e interna. A localização desta bifurcação varia ligeiramente e pode, em raras ocasiões, ocorrer abaixo do seu nível habitual saindo da área de visualização da radiografia panorâmica. Sendo assim, o diagnóstico do paciente com risco de sofrer AVC pode passar despercebido quando utilizado esse tipo de 2,24 exame complementar . Calcificações nas artérias carótidas são descritas radiograficamente na literatura como imagens radiopacas na região de tecido mole do pescoço no 3,7-11,13,20,21,26,27 espaço intervertebral C3 e C4 . No entanto, a grande quantidade de estruturas anatômicas existentes na região cervical estudada é outro fator a ser considerado com cautela na identificação de PACC 11 através de exames radiográficos panorâmicos . Dentre as estruturas anatômicas que surgem como diagnósticos diferenciais estão: osso hióide, processo estilóide, ligamento estilo hióideo calcificado, calcificação do ligamento estilomandibular, calcificação da cartilagem tireóide, cartilagem tritícea calcificada, epiglote, palato mole, língua, lóbulo da orelha, tubérculo anterior do atlas e vértebras. Dentre os patológicos estão: linfonodos calcificados, flebólitos, sialolitos na glândula salivar submandibular, tonsilólitos e acne 13,17,30 calcificada . A maioria dessas estruturas se distingue com base em sua localização e as características morfológicas como a cartilagem tritícea, frequentemente

Abreu et al. – Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de AVC

radiografias panorâmicas são muito comuns. Em 2000, foi publicado um estudo que demonstra que a cartilagem tritícea e outras calcificações da cartilagem da laringe, contribuíram em 82% dos erros de interpretação. Há ainda autores que sugerem outros tipos de exames radiográficos complementares utilizados por cirurgiões dentistas como meio para suprir as limitações da radiografia panorâmica, como por exemplo, a técnica extrabucal ântero-posterior, com boca fechada e plano de Frankfurt paralelo ao solo, para confirmar a localização dessas massas calcificadas ou ainda a 7, 30 telerradiografia lateral . Diante das limitações da radiografia panorâmica é essencial que na presença da suspeita de risco de AVC sejam feitos exames considerados “padrão ouro” para o diagnóstico preciso e adequado para essa doença, tais como: contrastes angiográficos, ultra-sonografia Doppler, tomografia computadorizada e a termografia. Segundo alguns autores, a ultra-sonografia Doppler é o exame mais indicado para a confirmação da presença, localização e tamanho dos ateromas na artéria carótida, por se tratar de um exame de baixo custo se comparado 7,10,25,30 com outros exames de imagem mais sofisticados .

CONCLUSÃO Caso a radiografia panorâmica tenha potencial para a detecção de pacientes com risco de AVC essa contribuiria, sem dúvida, para avanços na saúde pública, já que as radiografias são inicialmente obtidas para outra finalidade de diagnóstico, o que não geraria nenhum custo adicional em termos de saúde pública ou privada. No entanto, existem divergências na literatura estudada no que se refere à confiabilidade da radiografia panorâmica como método de diagnóstico de pacientes com risco de Acidente Vascular Cerebral. Novos estudos devem ser realizados a fim de determinar a sensibilidade e especificidade, bem como os valores preditivos, positivo e negativo, desse exame na identificação de PACC. Além disso, a generalização do conhecimento sobre o referido tema, bem como a capacitação de cirurgiões dentistas gerais na identificação do problema deve ser instituída, a fim de que os mesmos possam encaminhar de forma responsável, sem falsos alardes, seus pacientes a profissionais especialistas a fim de chegarem a um diagnóstico conclusivo, através de exames específicos e assim, caso necessário, realizarem o tratamento adequado.

REFERÊNCIAS 1. Lusis AJ. Atherosclerosis. Nature 2000; 407(1):233-41. 2. Roldan-Chicano R, Oñate-Sánchez RE, López-Castaño F, Cabrerizo-Merino MC, Martinez-López F. Panoramic radiograph

3. Senosiain-Oroquitea A, Pardo-López B, de Carlos-Villafranca F, González-Montoto, Cobo-Plana J. Detección de placas de ateroma mediante radiografias dentales. RCOE 2006; 11(3):297-303. 4. Hertzer NR, O’Hara PJ, Mascha EJ, Krajewski LP, Sullivan TM, Beven EG. Early outcome assessment for 2228 consecutive carotid endarterectomy procedures: the Cleveland clinic experience from 1989 to 1992. J Vasc Surg 1997; 26(1):1-10. 5. Friedlander AH. Identification of stroke prone patients by panoramic and cervical spine radiography. Dentomaxillofac Radiol 1995; 24(3):160-4. 6. Almog DM, Illig KA, Khin M, Green RM. Unrecognized carotid artery stenosis discovered by calcifications on a panoramic radiograph. J Am Dent Assoc 2000; 131(11):1593-7. 7. Guimarães GO, Oliveira IE, Junior DN, Calderón JCM, Saddy MS. Radiografia panorâmica: identificação de pacientes suscetíveis ao acidente vascular cerebral por meio da detecção de ateromas na bifurcação da carótida. ConScientiae 2005; 4:97-104. 8. Levy BA, Mandel DDS. Calcified carotid artery imaged by computed tomography. J Oral Maxillofac Surg 2010; 68(1):21820. 9. Pornprasertsuk-Damrongsri S, Thanakun S. Carotid artery calcification detected on panoramic radiographs in a group on Thai population. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006; 101(1):110-5. 10. Romano-Sousa CM, Krejci L, Medeiros FMM, Graciosa-Filho RG, Martins MFF, Guedes VN, Fenyo-Pereira M. Diagnostic agreement between panoramic radiographs and color Doppler images of carotid atheroma. J Appl Oral Sci 2008; 17(1):45-8. 11. Manzi FR, Tuji FM, Almeida SM, Neto FH, Bóscolo FN. Radiografia panorâmica como meio auxiliar na identificação de pacientes com risco de AVC. Rev APCD 2001; 55(2):131-3. 12. Lewis DA, Brooks SL. Carotid artery calcification in a general dental population: A retrospective study of panoramic radiographs. Gen Dent 1999, 47(1):98-103. 13. Carter LC. Discrimination between calcified trituceous cartilage and calcified carotid atheroma on panoramic radiography. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2000; 90(1):108-10. 14. Damaskos S, Griniatsos J, Tsekouras N, Georgopoulos S, Klonaris C, Bastounis E, et al. Reability of panoramic radiograph for carotid atheroma detection: a study in patients who fulfill the criteria for carotid endarterectomy. Pathol Oral Radiol Endod 2008; 106(5):736-42. 15. Friedlander AH, Lander A. Panoramic X-ray identification of carotid arterial plaques. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1981; 51(1):102-4. 16. Friedlander AH, Manesh F, Wasterlain CG. Prevalence of detectable carotid artery calcifications on panoramic radiographs of recent stroke victims. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1994; 77(6):669-73. 17. Friedlander AH, Baker JD. Panoramic radiography: an aid in detecting patients at risk of cerebrovascular accident. J Am Dent Assoc 1994; 125(12):1598-603. 18. Carter LC, Haller AD, Nadarajah V, Calamel AD, Aguirre A. Use of panoramic radiography among an ambulatory dental population to detect patients at risk of stroke. J Am Dent Assoc 1997; 128(7):977-84. 19. Friedlander AH, Garret NR, Norman DC. The prevalence of calcified carotid artery atheromas on the panoramic radiographs of patients with type 2 diabetes mellitus. J Am Dent Assoc 2002; 133(11):1516-23. 20. Cohen SN, Friedlander AH, Jolly DA, Date L. Carotid calcification on panoramic radiographs: An important marker

Abreu et al. – Radiografia Panorâmica como Possível Método de Diagnóstico de Pacientes com Risco de AVC

21. Ohba T, Takata Y, Ansai T, Morimoto Y, Tanaka T, Kito S, et al. Evaluation of calcified carotid artery atheromas detected by panoramic radiograph among 80-year-olds. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2003; 96(5):647-50. 22. Tanaka T, Morimoto Y, Ansai T, Okabe S, Yamada K, Taguchi A, et al. Can the presence of carotid artery calcification on panoramic radiographs predict the risk of vascular diseases among 80-year-olds? Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006; 101(6):777-83. 23. Friedlander AH, Garrett NR, Chin EE, Baker JD. Ultrasonographic confirmation of carotid artery atheromas diagnosed via panoramic radiography. J Am Dent Assoc 2005; 136(5):635-40. 24. Kamikawa RS, Pereira MF, Fernandes A, Meurer MI. Study of the localization of radiopacities similar to calcified carotid atheroma by means of panoramic radiography. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006; 101(3):374-8. 25. Madden RP, Hodges JS, Salmen CW, Rindal DB, Tunio J, Michalowicz BS, et. al. Panoramic Radiography Does Not Reliably Detect Carotid Artery Calcification Nor Stenosis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007; 103(4):5438. 26. Uthman AT, Al-Saffar AB. Prevalence in digital panoramic radiographs of carotid area calcification among Iraqui individuals with stroke-related disease. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;105(4):e68-e73. 27. Yoon SJ, Yoon W, Kim OS, Lee JS, Kang BC. Diagnostic accuracy os panoramic radiography in the detection of calcified carotid artery. Dentomaxillofac Radiol 2008; 37(2):104-8. 28. Damaskos S, Griniatsos J, Tsekouras N, Georgopoulos S, Klonaris C, Bastounis E, et al. Reability of panoramic radiograph for carotid atheroma detection: a study in patients who fulfill the criteria for carotid endarterectomy. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008; 106(5):736-42. 29. Mupparapu M, Kim IH. Calcified carotid artery atheroma and stroke: A systematic review. J Am Dent Assoc 2007;138(4):483-92. 30. Christou P, Leemann B, Schimmel M, Kiliaridis S, Muller F. Carotid artery calcification in ischemic stroke patients detected in standard dental panoramic radiographs – a preliminary study. Adv Med Sci 2010; 55(1):26-31.

Recebido/Received: 18/08/2010 Revisado/Reviewed: 29/05/2011 Aprovado/Approved: 01/08/2011

Correspondência: Ana Emília Figueiredo de Oliveira Av. do Vale, Qdr. 21, Lote 11, Apto 501 Bairro: Renascença II, CEP: 65.075-340 - São Luís – MA, Brasil. Telefone: (98) 32354117 Email: [email protected] e-mail: [email protected]

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.