Raízes da Intolerância. editora Edufscar, 2014.

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Ao dizer que o ser humano mantém uma relação com seu vizinho numa

lógica que envolve ódio, Jacques Lacan retomou a lição freudiana de que a humanidade começa com um traço inicial de exclusão. Neste sentido, a humanidade não é definida por seus atributos, mas por uma rejeição inicial - cujo nome é a segregação, que é a própria lógica da intolerância. Este livro reflete o processo de pesquisa de pós-doutorado do Prof. João Angelo Fantini no Birkbeck College, University of London, acerca dos processos de intolerância como fenômeno psíquico que constitui uma forma de sintoma social, de importância crescente no mundo globalizado e umas das principais fontes de preocupação dos governos em todo o mundo. Como processo, a intolerância pode ser pensada desde as relações entre vizinhos, passar pelas questões de gênero ou ainda construir as diferenças que sustentam as diferenças entre povos e nações.Os textos reunidos neste trabalho compõem um amplo cenário de discussão destes temas, da perspectiva da psicanálise, mas em conexão com aspectos culturais, sociais e políticos. Os capítulos ordenam-se em torno de objetos específicos, mas que dialogam entre si, montando um panorama bastante significativo no esforço de pensar como elementos aparentemente díspares podem auxiliar a pensar questões como: etnocentrismo, racismo, xenofobia, homofobia, preconceitos sociais e religiosos. Neste sentido, Christian Dunker mostra como no interior do sistema ideológico brasileiro, a cordialidade e seus conceitos assemelhados acordam em uma relação de complementação com as concepções sobre a intolerância. Stephen Frosh por sua vez, aborda como desejo e demanda se articulam nas fronteiras entre o sujeito e o outro, seja dentro dos grandes grupos ou na relação com os vizinhos, argumentando que o sujeito humano é um 'sujeito interrompido', onde o outro/vizinho, vem a ser uma figura-chave na criação desta interrupção. Derek Hook desdobra e desenvolve a lógica afetiva do racismo dentro de um modelo de critica contemporânea pós-colonial, para entender como funciona a economia libidinal que circula nos processos de segregação entre povos. Já Lisa Baraitser e Frosh partem do conceito de reconhecimento para pensar como na concepção intersubjetiva de reconhecimento, sujeitos podem trocar e se alternar em expressar e receber, criando uma reciprocidade que permite e implica separação, resultando em algo "estrangeiro" que permanece no núcleo da subjetividade. Por fim, João Fantini aborda os aspectos históricos, culturais e políticos envolvidos nos mecanismos de racialização do outro, discutindo os processos de intolerância a partir da implantação das Ações Afirmativas na educação no Brasil, fazendo um contraponto com a forte experiência do multiculturalismo na Inglaterra.O conjunto de textos pretende pensar como tolerância ou intolerância,

associados aos aspectos socioeconômicos, podem ser consideradas como atitudes relativas ao modo como admitimos que o outro possui uma forma de organizar o prazer, de lidar com a satisfação e de articular o gozo (entendido aqui como satisfação psíquica obtida com o sintoma, por meio da fantasia) diferente ou comparável com a nossa. Desta perspectiva, a psicanálise lembra que as mais estranhas manifestações de intolerância são reservadas, por exemplo, às pessoas "estranhas" que tentar agir e falar como aqueles que se julgam "cidadãos natos". Quanto mais estes "estranhos" tentam emular e imitar, isto é, quanto mais eles tentam "pertencer", mais feroz aparece a rejeição. (AU)

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