Reconstrução de livro didático: Alta Idade Média

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Carlos Eduardo Nicolette

Construção didática: Reformular um capítulo sobre Alta Idade Média

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Cândido da Silva

História Medieval I

São Paulo 2014

INTRODUÇÃO O livro didático no Brasil, seja ele direcionado para estudantes de nível fundamental ou médio, tem sido rediscutido e revisto em seus parâmetros mais complexos. O trabalho aqui se propõe a agregar essa revisão, o reconstruindo à partir das mais novas pesquisas historiográficas e o enfoque no período denominado Alta Idade Média. Para tal pretensão escolhemos o livro de autoria de José Geraldo Vinci de Moraes, distribuído aos alunos de ensino médio do Governo do Estado de São Paulo nos últimos anos. Ao falar de Alta Idade Média, o livro didático em questão, aborda questões bastante novas no estudo básico do país, como tópicos denominados “Império Árabe”, “Maomé e o Islamismo” e “Cultura Bizantina”. José Geraldo lida com uma bibliografia atualizada, buscando fugir ao máximo das generalizações e da historiografia tradicional sobre o período em questão. Assim, o intuito é de complementar o capítulo selecionado, pois abordaremos aqui temas não tradicionais no ensino básico, como a violência, fome e o roubo. Acreditamos que novas formas de abordar o período medieval podem enriquecer o ensino básico, pois existem novas e grandes obras historiográficas que abrem o conhecimento sobre o período, diversificando as formas de analisá-lo e entendê-lo. Os primeiros tópicos, que são especificamente sobre as mudanças do Império Romano, no que costumamos chamar de transição da Idade Antiga para a Idade Média, são os trechos em que há mais reformulações do livro de José Geraldo. Subtendem-se neste trabalho informações já presentes nas partes anteriores no livro, como: Império Romano e sua decadência, povos que habitaram no Império e informações gerais sobre a cultura romana.

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Fim de um Império? Ao estudarmos o período de crise do Império Romano Ocidental, devemos ser cuidadosos ao falar de sua “queda”, porque as motivações que fizeram Odoacro destituir Rômulo Augusto do poder de Roma foram bem mais negociadas do que os historiadores estavam acostumados a afirmar.

para a chegada ao poder de Roma por um germânico e não uma data em que todo o sistema romano foi modificado. Ao contrário, as estruturas fiscais oficiais permaneceram as mesmas. Aconteceram fusões culturais e não uma mera agregação cultural germana ou romana, mas estruturas sociais que conviveram em alguns aspectos e se fundiram em outros. Não há traços históricos que nos levem a ver uma “conquista violenta bárbara”, mas sim, elites que conquistaram o poder na própria burocracia romana. Mesmo pensando em número de pessoas, a população denominada bárbara (nomeação genérica para os germanos) não é um número tão expressivo, cerca de 1 milhão de pessoas entre os séculos V e VIII, além disso são

1 Mapa do território correspondente ao Império Romano em 480 d.C. Em roxo, os domínios de Odoacro pós depor Rômulo Augusto. Vemos que os domínios de Odoacro não corresponderiam ao total do que fora o Império.

Nos dois séculos anteriores ao poder de Odoacro sobre Roma, ou seja, séculos III e IV,

diluídos em muitas tribos, por vezes rivais entre si.

ODOACRO: INVASOR OU POLÍTICO?

vemos crises dentro desse Império: sua economia

São enormes as discussões entre os historiadores so-

alimentada pela guerra de pilhagem já não se de-

bre a posição de Odoacro antes de assumir o poder de

senvolvia. O empobrecimento fez com que muitas

Roma. A historiografia clássica tende a vê-lo como exte-

famílias migrassem da cidade para o campo. Mui-

rior ao Império Romano. Eles se baseiam nos documentos

tas alianças foram feitas, em sua grande maioria

escritos por Jordanes. Seus documentos são escritos mais

com os germânicos.

de 50 anos após Odoacro tomar o poder de Roma, e se

Rómulo Augusto foi o último – e por pouco

insere num contexto de reconquista por parte de Justini-

tempo – Imperador de Roma, pois foi deposto por

ano, portanto ele aparece como invasor, o que legitimaria

Flávio Odoacro, até então, político e militar do

a reconquista.

próprio Império Romano (ver quadro ao lado).

Outro autor da época, Malchus, que escreve cerca

Devemos pensar que a “Queda de Roma”,

de 120 anos depois, afirma que Odoacro era político e mi-

datada de 4 de setembro de 476, é uma metáfora

litar de Roma e que a sua chegada ao poder foi por meios políticos, ou seja, não houve golpe ou invasão bárbara.

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Hierarquia social imóvel ou

VAMOS REFLETIR

movediça? Leia o trecho do historiador Jacques Le Entender a hierarquia das sociedades é com-

Goff:

preender suas fissuras e seus movimentos. Existem Os bárbaros que se instalaram no Império Ro-

sociedades mais e menos hierarquizadas, assim

mano no século 5º não eram mais os povos jovens e selva-

como algumas em que há mais dificuldade de se

gens saídos há pouco das florestas ou da este, como vieram

mover dentro dessa hierarquia. A sociedade que es-

a ser retratados pelos seus detratores da época ou por seus

tudamos também tem sua postura hierárquica, a

admiradores modernos. A civilização do Ocidente Medieval.

qual é muito discutida entre os historiadores.

Bauru: EDUSC, 2002. p. 25

A distinção social é, aqui, fundamental para a organização dessa sociedade. A distinção é que coordena as relações entre as pessoas, sendo também causadora de normas e leis de diferenciação social.

1. O que o autor diz sobre o povo que se instalou no Império Romano? 2. Pesquise na biblioteca e na internet o significado de “bárbaros” e discuta com seu pro-

Essa diferenciação era, por vezes, entendida no âmbito territorial, ou seja, para aqueles que estão

fessor razões desses povos serem chamados desta forma.

sob a mesma jurisdição e não uma questão étnica, por exemplo entre romanos e burgúndios. Cria-se

arqueologia mostram que um “não romano” pode-

assim uma forma de mobilidade dentro dessa hie-

ria tornar-se um a se submeter as normas e leis do

rarquia.

território romano.

Entendeu-se por muito tempo as sociedades medievais como estamentais, ou seja, sem movimento dentro dessa hierarquia, mas documentos e a

REVER PARA APRENDER 1. O ano de 476 d.C. é muito conhecido por datar a mudança da Idade Antiga para a Idade Média. Podemos enxergar numa data a mudança de condições tão subjetivas como essas? Justifique. Caminho de resposta: apesar da data demonstrar divisão de períodos históricos, ela serve como método pedagógico. O aluno deve procurar demonstrar que a data é um marco e não o resumo de todas as mudanças sociais dos períodos em questão. 2. A sociedade discutida nos tópicos acima pode ser entendida como estamental? Porquê? Caminho de resposta: não, a sociedade deve ser entendida dentro de suas possibilidades de transição entre as classes. É esperado que o aluno comente sobre o funcionamento dessa mudança em que o personagem histórico deveria estar dentro das normas e leis de tal sociedade.

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Comércio, estagnação e mudanças econômicas na Alta Idade Média

Pelo estudo arqueológico foram descobertos túmulos referentes à Alta Idade Média que continham diversas armas e objetos de metal, aqueles re-

Falar de comércio nas sociedades ocidentais da Alta Idade Média é ter certeza de longa discussão historiográfica. Isso porque temos as mais diferentes visões sobre a economia da época, opiniões que divergem entre si e até se opõem. Como visto em tópicos anteriores, havia produção de bens, alimentos e armas durante o Império Romano, entretanto, prevalecia o comércio. E assim se seguiu durante grande tempo na sociedade medieval. Existem documentos que indicam tanto a produção quanto o comércio persistindo nesse período. Temos, também, de levar em conta a arqueologia como grande fonte informacional para estas pesquisas, pois ela pode trazer importantes contri-

ferentes à prática guerreira. Será que uma sociedade que não produzia (ou mesmo tinha dificuldade de adquirir pelo comércio) armas de metal iria enterrá-las em número considerável? Outro fato é que foram encontradas diversas ferramentas de ferro para fazer arado num lago, assim como alimentos marinhos 200 km adentro do que hoje é a França. Todas essas evidências demonstram a capacidade de comércio e produção nesse período. Não se nega uma força econômica menor se comparado aos fins da Idade Média, entretanto não se deve desconsiderar a força do comércio e da produção do campo, pois ela tinha sim sua própria lógica e criava seus males, como a fome.

buições na relação de produção e comércio. Leia o trecho de um documento que é central

CATEGORIAS HIERÁRQUICAS

para o entendimento de nosso problema: “Equipa-

O que se entende pela divisão de pessoas en-

mento um leito pronto para ser utilizado, pano de

tre categorias (classes) muda ao longo do tempo, as-

mesa pronto para ser utilizado, um pano. Instru-

sim, na Alta Idade Média não é da mesma forma

mentos [utensilia]: duas bacias de bronze, dois co-

que entendemos hoje, ou seja, a questão financeira

pos, dois caldeirões de bronze, um de ferro, uma

não é a principal.

frigideira, uma tigela de ferro, um lampião, uma grelha, uma coroa de luz, dois grandes machados, um instrumento para aplainar madeira, duas brocas, um machado, uma tesoura, um instrumento

Temos na sociedade do Império Carolíngio uma divisão que obedece, antes da questão econômica, a padrões de nobreza, de proximidade ao rei e outras relações de amizade.

para aplainar madeira, duas foices grandes, duas foices pequenas, duas pás. Instrumentos de ma-

Fome: passividade do poder ou

deira para o serviço [em número] suficiente”. Te-

estrutura social?

mos aqui a demonstração de utensílios domésticos, usados na cozinha da casa, o documento não se refere a ferramentas para trabalhos no campo, como em outros momentos acreditou-se.

A fome é um dos assuntos mais complicados e controversos das sociedades contemporâneas, fazendo-se muito necessário, então, o estudo dela ao longo da história. Veremos a existência da fome nas

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sociedades medievais, discutiremos como era vista

a fome. Ela não era vista como problema social, de

e também as soluções que as sociedades encontra-

produção ou de distribuição, era vista como pro-

vam para ela.

blema de “encosto”, ou seja, passava fome os que

A realidade da Alta Idade Média, é clara: fome é o que não faltava naquelas sociedades. Forte

tinham “contas” para acertar com Deus, os que de alguma forma pecavam.

discussão se faz em torno das razões para tal fenô-

Mesmo que a sociedade olhasse para a fome

meno, entretanto uma delas deve ser excluída como

como sendo um problema de pecadores que não ti-

motivação na grande maioria das sociedades medi-

veram seus problemas resolvidos com Deus, existe

evais: a baixa produção de alimentos. Mesmo em

a preocupação dos legisladores da época em regrar

sociedades em que a produção não era feita com

de alguma forma essa sociedade e diminuir esse

grande excedente, uma produção abaixo do que se-

problema. Exemplo disso são as regras que se colo-

ria necessário só existiu com raras exceções, em

cam no preço do pão, que não podia ficar mais caro

caso de mudanças climáticas ou guerras.

do que o estabelecido.

Assim, podemos afirmar que o principal cau-

Essa política assistencialista, desenvolvida

sador social da fome é a distribuição dos alimentos,

no século IX pelos reis carolíngios, cria uma forma

ou seja, a produção até poderia alimentar a todos de

de comércio alternativo, o que chamamos de “Feliz

forma igual, entretanto vemos que as camadas altas

Comércio”. Seria o caso de quem doasse alimentos

da sociedade retêm esse alimento ou o usam para

para os que passam fome e em troca receberia a

comércio externo.

graça divina, seria perdoado de seus – possíveis –

Um texto do rei do Império Carolíngio, Car-

pecados e seria salvo pós morte. Comércio esse me-

los Magno, chama o fenômeno da fome de “tribu-

diado pela Igreja Católica e pela força política do

lações”, ou seja, uma adversidade pela qual a soci-

momento. Temos assim, a ideia de gestão dos bens

edade carolíngia está passando. E qual o motivo de

materiais e imateriais e até seu entrelaçamento, fa-

não ser encarado como fome? A resposta está no

zendo com que até a relação com o Deus católico

que aquela sociedade entendia como motivos para

fosse racionalizada e operacionalizada em favor dos benefícios da sociedade.

REVER PARA APRENDER 1. Leia a seguinte afirmação: “Alta Idade Média em todo seu período e todos os locais teve estagnação completa da economia”. Esta afirmação está correta? Porque? Caminho de resposta: não, a economia não foi a mesma em todos os locais. O aluno deve ilustrar que havia produção e comércio na época abordada, com argumentos de que foram encontrados alimentos marinhos 200 km adentro do que hoje é a França e também dos arados jogados no rio. Deve colocar também a situação do documento abordado e sua tradução equivocada. 2. A fome é um fenômeno social existente na Idade Média? Caso a resposta seja sim, mostre como essa sociedade lidava com ela. Caminho de resposta: sim, a fome existe na Alta Idade Média. O aluno deve mostrar a política de assistência desenvolvida e relacionar com o pensamento da época, o qual não via na fome um problema social.

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Devemos nos perguntar de que forma essa so-

Violência na Alta Idade Média: um caminho para a paz?

ciedade resolvia os seus problemas de violência. Toda sociedade contém normas que procu-

A violência é uma categoria que pode ter amplos e variados significados, entretanto, podemos defini-la como uma relação de força de um indivíduo imposta a outro. Temos assim, que a violência se verifica de todas as sociedades, seja no presente

ram diminuir ou conter a violência, não é diferente as sociedades na Alta Idade Média. Vemos inseridas nelas profundas marcas de laços de amizade (ver quadro acima), ou seja, grupos de pessoas que têm em si a lógica de “honra ofendida” centralizada

ou no passado. Na Idade Média, a violência existe e das mais variadas formas. Na compreensão daquelas socie-

num indivíduo, independente de quem tenha sido conflitado.

dades, a construção da paz é mediada pela violên-

A ideia de amizade cria outra ideia, a de vin-

cia, ou seja, é pelo caminho de um poder sobre o

gança, por sua vez, esta obedece regras, uma delas

outro que se achará a paz. Isso por quê? Porque o

é que vingança “é de igual para igual”, ou seja, ela

conceito de paz mudou ao longo dos séculos, tendo

indireta. O que significa ser indireta? Significa di-

uma grande reviravolta com as Guerras Mundiais

zer que a hierarquia social existente naquelas soci-

do século XX.

edades deve ser respeitada em todos os aspectos da

Diferentemente do que temos em nossos Es-

vida, assim, a vingança não deveria ser feita entre

tados-nação, a violência na Alta Idade Média não é

homens que não pertencem ao mesmo degrau so-

monopólio de algum órgão político-administrativo,

cial.

ela é entendida como necessária, como nos casos de guerras externas (ou seja, com outras organizações sócio-políticas) para defender seu território ou mesmo avançar sobre outro, ao passo que a guerra civil (aquela sob a mesma jurisdição) é vista de forma prejudicial para aquela sociedade medieval. Temos de deixar claro que os termos postos

VAMOS REFLETIR Nas mais diversas mídias divulga-se a plenos pulmões a “violência medieval” como passado da violência das sociedades contemporâneas. Exemplo disso são manchetes de jornais impressos e eletrônicos estampando atos de extrema violência como atos “medievais”.

acima não fazem essa sociedade mais violenta do que as sociedades atuais, a faz diferente, ou seja,

1. Procure na biblioteca de sua escola e na

cria nela mecanismos de paz e de violência diferen-

internet, jornais, revistas ou sites que divulgam

tes dos contemporâneos. Assim, vemos a violência

atos de violência como medievais.

sendo, por vezes, intermediada por grupos, estes mediados pelas relações de amizade.

Hierarquia de uma sociedade de

2. Proponha uma resposta, embasada nesse capítulo, para o possível motivo do autor daquela manchete ter usado o termo “medieval”.

vingança

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Deus, o melhor amigo contra o roubo? Uma relação especial de amizade que encontramos nos documentos é entre a Igreja Católica e Deus. Quando a relação entre a Igreja (no caso também dos Santos) e algum de seus bens era rompida (seja com um objeto ou destruído) a relação com Deus era chamada para “vingar” o acontecido. Nesses textos, a atitude de Deus variava conforme o item que foi roubado e principalmente, se a relação da Igreja com esse item foi reestabelecida. Esses textos que mostram as “vinganças de

AMIZADE/AMICITIA O termos usado na Alta Idade Média para se referir à essas relações é amicitia, que numa tradução literal significa amizade. Devemos lembrar que os termos/conceitos e seus significados mudam ao longo do tempo, logo amicitia é um termo que se aproxima do que entendemos por amizade, mas ele demonstra as relações que eram feitas em sua época. E que eram estabelecidas em códigos de honra que visavam a violência, ou seja, a vingança.

Deus”, surgiram dos próprios integrantes da Igreja, que criaram esses textos para serem lidos ao pú-

designada dentro desse grupo. Temos aí uma soci-

blico, fazendo com que assim, as pessoas doassem

edade em que a vingança é uma prática social, sub-

seus bens para a Igreja (pois ali seus bens estariam

metida a suas regras, normas e leis, sociedade que

salvaguardados pela relação da Igreja com Deus).

entretanto devemos entender como diferente da

Os quais os doadores poderiam fazer usufruto até o

nossa e não, necessariamente, mais violenta.

fim de suas vidas, mas após sua morte a doação ficava para a Igreja, evitando assim, as heranças. Dessa forma, essa sociedade aceitava a “vingança” de Deus e sua rede de relacionamentos, vingança que deveria existir para fazer jus à posição

REVER PARA APRENDER 1. “Violência entre grupos de torcedores de futebol aumenta em 20% no período de finais”. Essa possível manchete de jornal cita grupos que se enfrentam, entretanto, é diferente da violência praticada na Alta Idade Média. Cite o meio de relação entre os grupos e seus e integrantes e relacione com a violência hierarquizada. Caminho de resposta: o aluno deve mostrar a relação de amizade, contendo em sua resposta dados sobre essa relação, ou seja, sua hierarquização e violência indireta. 2. Comente a relação criada entre a Igreja e os bens doados a ela, e a função do Deus católica nessa relação Caminho de resposta: espera-se que o aluno pontue a ideia de doação de bens para Igreja Católica, a qual criou dentro de suas relações de amizade a função vingativa de Deus, assim o aluno relacionará a sociedade de vingança com a posição da Igreja.

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