REDEmocratização?

June 24, 2017 | Autor: C. Pereira da Sil... | Categoria: História do Brasil, Democracia Participativa, Brasil, Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Desenvolvimento sustentavel, Pensamento Social Brasileiro, Sociedade civil, Democracia, Ética y Política - Democracia y Ciudadanía, Eleições 2010, gramáticas políticas no Brasil, Estado, democracia, cidadania, Marina Silva, Sistema Político, Democracia Radical, Sistema Eleitoral E Partidário Brasileiro, eleições no Brasil, Nova República, Nova Política, Rede Sustentabilidade, Manifestações Populares, Política Brasileira E Partidos Políticos, Entre Outros, Corrupção No Brasil, Trata Sobre La Crisis Financiera En Brasil, Eleições Presidenciais, Política no Brasil Governo Lula e Dilma, Problemas Dilma relacoes base aliada, Eleições 2014, Manifestações de ruas no Brasil, Pensamento Social Brasileiro, Sociedade civil, Democracia, Ética y Política - Democracia y Ciudadanía, Eleições 2010, gramáticas políticas no Brasil, Estado, democracia, cidadania, Marina Silva, Sistema Político, Democracia Radical, Sistema Eleitoral E Partidário Brasileiro, eleições no Brasil, Nova República, Nova Política, Rede Sustentabilidade, Manifestações Populares, Política Brasileira E Partidos Políticos, Entre Outros, Corrupção No Brasil, Trata Sobre La Crisis Financiera En Brasil, Eleições Presidenciais, Política no Brasil Governo Lula e Dilma, Problemas Dilma relacoes base aliada, Eleições 2014, Manifestações de ruas no Brasil
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REDEmocratização? Carlos Frederico Pereira da Silva Gama1 I am the new For reasons I can never explain Morcheeba, “Shoulder Holster”

Após longa gestação, interrompida em 2013 por controvérsias com os cartórios, a ex-candidata presidencial Marina Silva teve aprovada em 2015 a criação de seu partido, a REDE Sustentabilidade. Em poucos dias o novo partido obteve apoios num amplo espectro de partidos fragilizados pela crise política que o Brasil vive. A REDE nasce representada no Senado, com status de bancada na Câmara2. O mais novo retorno de Marina à cena nacional trouxe mais perguntas que respostas. Marina acena com uma transformação dos costumes. Quer governar com “pessoas de bem” que existem em todos os partidos. O caráter terapêutico desse discurso não pode ser subestimado. À eleição de 2014 se seguiu uma desmoralização coletiva. A reversão de expectativas sobre o governo eleito se somou às múltiplas investigações envolvendo seus principais partidos (PMDB e PT) e figuras como o ex-Presidente Lula. A negação da ética da Nova República aumenta o apelo do novo partido. O investimento no conteúdo ético da REDE reforça a postura que Marina assumiu na eleição. Ao manter o teor de suas críticas mesmo diante do marketing corrosivo do PT3, a ex-candidata afirmou que venceu mesmo perdendo. À época, isso soou como acomodação. Marina terminou 2014 com mais votos do que em 2010. 2015 confirmou boa parte de suas críticas junto a um eleitorado desmoralizado. A crise alavancou a criação da REDE. Para além da corrupção, há percepção ampla de que a Nova República se tornou anacrônica e carece de um update. A escalada de polarização eleitoral deixou um rastro de ódio destilado em doses variadas. A excandidata abordou esse mal-estar como dores da transição de um sistema que atingiu seu limite. A crítica despersonalizada de Marina indica uma redistribuição de responsabilidades como caminho de transformação. Face à deterioração das expectativas, ela reiterou a confiança na sociedade civil como fator transformador. A REDE nasceu a uma salutar distância dos salvacionismos. A circunstância de crise é sintoma de uma reconfiguração da sociedade que vai além do desgaste partidário. Ao localizar a crise política dentro de uma crise civilizacional, a REDE reposiciona a ética na política brasileira. Além de pretender modernizar a arquitetura institucional, o partido se propôs

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Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT) http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/rede-chega-ao-quinto-parlamentar-e-ganha-status-debancada/ 3 Gama, C.F.P.S. (2015). “A Prisão de José Dirceu e a Crise de Representação do PT”. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/a-prisao-de-jose-dirceu-e-a-crise-derepresentacao-do-pt/ 2

a discutir a direção da transformação antes de viabilizá-la. Até recentemente, essa bandeira estava monopolizada pelo PT. Transparência na conduta política, participação cidadã para resolver problemas comuns, uma visão sustentável de futuro promovida através da diversidade de formas de vida. Esse tripé é suficiente para que – como sugerido por Celso Rocha de Barros – compremos a REDE no mercado eleitoral4? Se no plano dos costumes a posição de Marina e REDE é clara, na conjuntura de crise impera a cautela. Diante do impeachment, a REDE aguardará o desfecho das investigações5. Além de remeter à “velha” política, essa prudência incomoda o eleitorado. Solitária no Alvorada, abandonada por 54.5 milhões de eleitores, o café de Dilma já congelou. Servir café morno em meio à tempestade política não empolga, ainda que a moderação seja apreciada. A REDE terá que se posicionar nas encruzilhadas dos atritos cotidianos. Posicionamentos políticos fornecem um mapa aos eleitores em meio à fumaça da crise. No país de 27 milhões de abstenções, pequenos ajustes na máquina não cruzam a linha de chegada. Ninguém vota no STF ou no TCU. Como transformar a política brasileira sem meramente ganhar tempo até a próxima crise? Dilma se agarrou a “mudanças” implausíveis para se reeleger. O que fazer com Eduardo Cunha? A REDE tomou a iniciativa de propor a perda do mandato de Cunha por quebra de decoro em representação que tramita na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados6. A percepção de que o deputado não reúne condições de permanecer no cargo (após comprovação de que possui contas na Suíça com dinheiro de origem desconhecida) é amplamente compartilhada com o eleitorado. Ao usar pedidos de impeachment como salvo-condutos, Cunha se tornou símbolo do esgotamento da “velha” política da Nova República num reality show com data de validade por expirar. Terminada a agonia sob Cunha, o que a REDE faria se um correligionário do deputado fosse guindado à Presidência da casa – possivelmente, alguém de sua confiança? Os dilemas políticos do Brasil não se reduzem a personalidades. Conseguirá a REDE se evadir das miragens de empreiteiras7 e paraísos artificiais do marketing que impregnaram o melancólico governo Rousseff e que ameaçam o legado de Lula? O PMDB jamais venceu eleições sob a égide da Constituição cidadã. Seus presidentes – Sarney e Itamar – foram recém-chegados de outros partidos, presenteados com tragédias políticas: a morte de Tancredo e a queda de Collor. O eleitorado os olhou com desdém. Brasileiro só gosta de ser campeão, dizia Ayrton Senna.

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/235417compremmarina.shtml http://redesustentabilidade.org.br/decisaodaredesobreimpeachmentsoviraaposanaliserigorosadosfatos2/ 6 http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/10/13/cunha-e-denunciado-ao-conselho-deetica-da-camara.htm 7 Gama, C.F.P.S. (2010). “Marina Silva e o Brasil no Plano do Real”. Disponível em: https://www.academia.edu/2609866/Marina_Silva_e_o_Brasil_no_Plano_do_Real 5

Enquanto PSDB e PT venciam nas urnas, o PMDB conquistava governos – eis a fórmula explosiva da Nova República. O arranjo institucional que completa 30 anos em 2015 fez das crises uma rotina. Do bagaço da “desgovernança” das crises, extrai a conta-gotas a “governabilidade”8. Nas crises, instituições fragmentárias e ciosas da sua autonomia são capazes de agir conjuntamente, na mesma direção e num curto intervalo de tempo. As disfunções do sistema favorecem o “partido do Brasil”. Contra o pano de fundo da crise, a lâmpada mágica da “governabilidade” reluz. Os vencedores nas urnas se tornam fusíveis e fungíveis na partição disputada de “nacos do Estado”9. Duas vezes o roteiro foi levado além de seus limites. O PSDB estabilizou a economia, realizando o sonho de Sarney e Collor: derrubar a inflação. A seguir, ficou aquém das expectativas. Acossado pelo PMDB, FHC teve um deprimente fim de festa. O PT levou a justiça social a um novo patamar. Com Lula, trouxe milhões para a arena política. Com Dilma, se tornou coadjuvante do PMDB em seu reality show. Se a REDE for uma terceira via – uma alternativa a PSDB e PT para estabilizar o país – dará sobrevida à Nova República e seus beneficiários. Um recomeço com a mesma sombra no horizonte: o déjà-vu. As manifestações de 2013 ousaram contestar o sistema partidário10. Que a elas reagiu violentamente, mostrando que agoniza, mas não morre11. A crise de 2015 começa em 201312. Se PSDB e PT não têm o que dizer e o PMDB repele contestações, a REDE pode pedir a palavra e assumir uma nova postura política num diálogo que vai além das urnas. Marina tem a chance de dialogar com pessoas que não querem mágicas, nem ordens, tampouco o papel desconfortável de testemunhas da corrupção. As contestações vieram para ficar. Delas depende a participação cidadã. Mediado pelo marketing, o 2º turno 2014 foi um monólogo do ajuste “inevitável”. Restou um presente que se recusa a desaparecer. Na economia, a REDE terá que ir além da retórica do desenvolvimento sustentável. O desmanche do desenvolvimentismo pelo PSDB via doses homeopáticas de neoliberalismo e o flerte do PT com o legado varguista (que fez da brizolista Dilma a herdeira do lulismo) deixaram um rastro de efeitos colaterais acumulados, com preço altíssimo.

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Gama, C.F.P.S. (2015). “Nas Ruínas de Tancredo, um Brasil mais democrático, mas imperfeito”. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/248386. 9 http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/brasil-precisa-de-ajuste-de-postura-das-liderancas-afirmamarina-silva,af6f49df2ffb7c7fc8372198e23d9ddekd8vhdb3.html 10 Gama, C.F.P.S. (2013). “Reordenação em Progresso no Brasil”. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed752_reordenacao_em_progresso_no_brasil 11 Gama, C.F.P.S. (2014). “Violent Anxieties: Brazil on the rise of Overlapping Contradictions”. Disponível em: https://medium.com/@CarlosFredericoPdSG/violent-anxieties-a42269f1680f#.301nlqh0m 12 Gama, C.F.P.S. (2015). “As Manifestações de 2015 e a Democracia no Brasil”. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/246846

A REDE pode dialogar com as ruas e movimentos sociais e porções do eleitorado desiludidas com o PT-realmente-existente e com a superficialidade da oposição tucana. Pode buscar outro caminho que não conduza a nostalgias de 2002 ou 1994 cada dia menos viáveis. Quiçá, um futuro sustentável. Para a REDE, mais que oportuno, tal diálogo é necessário. Diferindo da trajetória de Marina – cujas décadas de ativismo a tornaram uma personalidade pública internacional – o partido não nasceu sustentado por movimentos sociais. O enraizamento da REDE é um passo importante para dar vazão à diversidade de seus criadores. Ao reunir figuras políticas proeminentes de todas as regiões do país e de diferentes afiliações normativas, o partido acena com coexistência pragmática numa era de ódio aos “diferentes”13. Com Dilma, o Brasil perdeu o medo de eleger mulheres. Mas a Presidenta permaneceu à sombra de seu patrono. Marina trouxe inovação, ao romper com Lula e ao competir duas vezes com a candidata oficial, obtendo votação crescente. Marina é sua própria candidata. Será capaz de ir além do espaço que já ocupa? Será a REDE a terceira, a última, sua primeira chance real chegar à Presidência? A REDE tem fôlego curto como terceira via eleitoral. Se quer fazer alguma diferença, vai tatear no escuro da crise até converter seu capital político em diálogo. Entre o mal-estar presente e a agonia silenciosa dos velhos arranjos, terá que ouvir contestações sem pré-condições, transformar expectativas em práticas. A “nova política” demanda política. Ao se posicionar em desacordo com a Nova República, Marina Silva aprumou o olhar para tecer críticas fora da caixa. Num tempo em que achaques se tornaram “grande política”, a diferença que ela e seu partido podem fazer envolve redemocratizar a democracia para que o país “do futuro” tenha condições de construir um que seja sustentável. A REDE pode ser uma ruptura incremental14 na transição da jovem democracia brasileira. Ainda não sabemos o caminho. Sem criatividade, a democracia sofrerá.

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http://www.brasilpost.com.br/2015/10/07/deputado-vetado-rede_n_8257334.html Gama, C.F.P.S. (2014). “Marina Silva, a Nova Política e a Nova República”. Disponível em: https://www.academia.edu/8186278/_Marina_Silva_a_Nova_Rep%C3%BAblica_e_a_Nova_Pol%C3%ADtica 14

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