Reflexão sobre o bullying: um estudo de revisão

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Reflexão sobre o bullying: um estudo de revisão Beatriz Gomes de Souza, Natália de Paula do Nascimento e Samuel Moreira de Araújo UFJF, Juiz de Fora/Minas Gerais (Brasil)

Cátia Pereira Duarte Universidade Gama Filho/ C.A. João XXIII/UFJF, Juiz de Fora/Minas Gerais (Brasil)

A violência é um problema social que está presente nas ações dentro das escolas, e vem se manifestando das mais diversas maneiras entre os professores, alunos e os demais envolvidos no processo educativo. Através dos alunos vitimizados pelo bullying, professores e demais responsáveis do ambiente escolar percebem o isolamento e dificuldade na sociabilização, o que tem causado impacto na saúde e desenvolvimento de crianças e adolescentes. Assim o estudo visa levantar o numero de citações cientificas sobre o assunto bullying. Será realizada uma revisão bibliográfica através de palavras-chaves para delimitação do tema bullying dos trabalhos científicos publicados pela Revista da ANPED, principal referencia no cenário educacional brasileiro, publicando apenas trabalhos efetuados por estudantes de pós-graduação. Apesar da grande relevância do tema no âmbito escolar e pelos educadores, encontramos pouca visibilidade dada a este tema na Revista. Violence is a social problem that is present in the actions within schools, and has manifested itself in several ways among teachers, students and others involved in the educational process.Through students vitimizados by bullying, teachers and other responsible school environment perceive the isolation and difficulty in socializing, which have impacted on health and development of children and adolescents. Thus this study aims to raise the number of scientific citations on the subject bullying. Will be conducted through a review of key words for defining the theme of bullying scientific papers published by the Journal of ANPED, the main reference in the Brazilian educational scenario, publishing only work done by graduate students. Despite the great importance of the topic in schools and by educators, we find little visibility given to this subject in the journal. Palavras-chave: bullying, crianças e adolescentes, escola e Revista ANPEd. Keywords: bullying, children and adolescents, school and Journal ANPEd

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INTRODUÇÃO A violência é um problema social que esta presente nas ações dentro das escolas, manifestando de diversas formas com todos os envolvidos no processo educativo tendo em vista que a escola é lugar de formação da ética e da moral dos sujeitos ali inseridos sejam eles alunos, professores ou demais funcionários. A partir disso o presente trabalho teve início quando observamos em uma escola na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, no período de abril a julho de 2010, fenômenos que nos instigaram a pesquisar e nos informar sobre o tema. Diante disso, buscamos levantar o número de citações cientificas sobre o assunto bullying dos trabalhos científicos publicados pela Revista da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação/ANPED1, principal referência no cenário educacional brasileiro, publicando apenas trabalhos desenvolvidos por estudantes de pós-graduação. A partir da análise dos 447 textos que pudemos identificar a recorrência do bullying na Revista da ANPED.

METODOLOGIA Esse trabalho consiste numa revisão de literatura realizada no site da ANPED e buscou levantar o número de trabalhos publicados sobre a temática bullying no âmbito educacional. Para realizar essa busca foram escolhidas três palavras-chave: bullying, violência escolar e agressão na escola. Fizemos a busca dessas palavras chaves em todos os 447 resumos disponíveis no site da ANPED, porém, sobre o tema bullyin, não encontramos nenhum texto que atendesse à temática pesquisada.

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A Revista Brasileira de Educação, publicação quadrimestral da ANPEd (Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação), em co-edição com a Editora Autores Associados, voltada à publicação de artigos acadêmico-científicos, visando a fomentar e facilitar o intercâmbio acadêmico no âmbito nacional e internacional, é principal referencia no cenário educacional brasileiro, e para o presente trabalho.É dirigida a professores e pesquisadores, assim como a estudantes de graduação e pós-graduação das áreas das ciências sociais e humanas. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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Uma das limitações desse trabalho esta no fato de termos escolhido apenas uma revista de destaque educacional no cenário brasileiro, pois em revistas das áreas da saúde e psicologia, encontramos um grande aparato teórico sobre este tema.

ANÁLISE DOS DADOS O texto foi organizado da seguinte forma: (1) Conhecimento da comunidade escolar sobre o bullying; (2) Preparação dos cursos de formação de professores para tratar esse tema; (3) Receio de instituições e alunos em se expor e (4) Abordagem do fenômeno na área da saúde. Na análise da Revista da ANPED contatou-se que, dos 447 textos de 1995 a 2009, que não há publicações sobre o tema bullying. Isso se deve ao fato de que no Brasil, as pesquisas sobre bullying são recentes na área da educação, pois a comunidade escolar trata esse tipo de violência como naturais, sendo ignorados ou não valorizados. Por outro lado é um fenômeno bastante antigo, por se tratar de um tipo de violência que sempre existiu nas escolas. Essa palavra de origem inglesa que tem como raiz o termo bull, é utilizada para designar pessoa cruel, intimidadora e ou agressiva. O bullying é uma prática de violência, sem motivo aparente. Porém, os sujeitos envolvidos na escola não possuem conhecimento do que esse tipo de violência pode ser o bullying. Como afirma Fante (2005) esse fenômeno é complexo de difícil identificação, principalmente por manifestar-se de maneira sutil e velada pelos envolvidos nesse fenômeno. Isso faz com que haja uma aceitação por parte deles e a falta de impunidade, favorecendo a perpetuação de comportamentos agressivos. Segundo pesquisas de Fante (2005) esse tipo de violência se inicia primeiramente nas relações familiares quando os mesmos ironizam, ofendem, expõe dificuldades perante um grupo, excluem, fazem chantagens, colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar sua superioridade e poder, usando esse comportamento freqüentemente e natural. Em seguida, os próprios professores se tornam agressores devido a sua postura de autoritarismo na tentativa e obter controle diante do grupo e da classe. Isso mostra, como afirma pesquisas de Fante (2005) que os educadores não são AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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preparados pelos cursos de formação para lidarem com o afeto e muito menos com os conflitos e sentimentos dos alunos. Ainda nesse contexto, para identificar o bullying na família ou na escola alguns professores tentam promover orientações, conscientização e discussões a respeito do assunto, porém, a própria instituição não oferece apoio por temer retaliações ou possíveis criticas. Além disso, as vítimas do bullying, segundo pesquisas de Ferreira e Tavares (2009), acostumadas com essa situação, acabam sofrendo caladas e se recolhendo em todas as atividades, com medo de serem expostas e ridicularizadas. Para Fante (2005), os educadores de uma determinada escola pesquisada, ao serem questionados sobre o fenômeno bullying, negaram que isso tivesse ocorrendo na mesma e quando mostrado o resultado da pesquisa, o diretor pedia sigilo na divulgação dos resultados, temendo pela reputação. Diante da impossibilidade da área da educação em conseguir solucionar esse problema, o bullying vem se tornando estudo da área da saúde em razão dos danos físicosemocionais. Assim, isso demonstra que a falta de artigos na Revista ANPED se dá por se tratar de uma revista para a educação. Segundo Oliveira e Antonio (2006) o bullying é uma medida de saúde pública e cabe aos profissionais da saúde prevenir, investigar e adotar condutas adequadas para todos os afetados pelo fenômeno. De acordo com estudos de Palácios e Rego (2006) os profissionais da saúde vêm denunciando a forma como o bullying é tratada nas escolas: “(...) Tem sido objeto de política explícita de combate em estabelecimentos de ensino.(...)”. Com isso, devido á proporção que esse tema está tomando nas instituições de ensino, os serviços dos psicólogos e médicos vêm se tornando um aliado para se combater o bullying nas escolas. Como afirma os estudos de Palácio e Rego (2006), há um interesse na formação dos médicos para esse tipo de violência. Para concluir, o que se buscou nesse trabalho é entender porque esse fenômeno, tão discutido atualmente, vem se tornando alvo, cada vez menos, de publicações na área da educação. Enquanto que a área da saúde vem se aprimorando e discutido em congressos e eventos científicos que o bullying é questão de saúde pública.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa pesquisa revelou que o bullying é um problema complexo que atinge uma parcela importante da população de estudantes. Porém, o estudo sobre bullying é bem recente na área da educação e por isso há poucas publicações na Revista da ANPED. Isso indica que professores e pais não possuem conhecimento de que esse fenômeno esteja ocorrendo com seus alunos ou filhos. Isso ocorre porque a violência é confundida nas escolas como brincadeiras próprias da idade, levando a banalização da agressão, tida como normal, não considerando suas conseqüências. A omissão da coordenação e direção quando se constata que o bullying está presente na escola também foi observado nessa pesquisa, a partir dos estudos dos autores citados, pois os mesmos possuem receio de represálias por parte dos pais, e assim, não é discutido na escola. Nesse contexto, a escola passa a responsabilidade para os médicos, fazendo com que a área da saúde tenha maiores publicações. Porém, torna-se necessário que as instituições de educação e saúde, assim como seus profissionais, reconheçam a extensão e o impacto gerado pela prática do bullying entre estudantes e desenvolvam medidas para redução dessa ocorrência de forma interdisciplinar. A escola deve ser um espaço institucional, no qual os alunos e professores possam se desenvolver, aprender uns com os outros e exercer a cidadania (GUZO, 2001) e com isso espera-se sensibilizar a comunidade escolar para apoiar os alunos alvos de bullying, fazendo com que se sintam mais seguros para falar sobre violência. Dessa forma, observamos que se faz necessário que novos estudos sejam elaborados para levantar outras questões relacionadas à violência no âmbito escolar, familiar e laboral, assim como, entrevistas com professores e demais envolvidos no processo educativo a fim de esclarecer e fomentar discussões sobre o fenômeno. Assim esse estudo serve como meios de se sugerir que sejam feitas novas pesquisas levantando as revistas da área da saúde e de psicologia a fim de levantar mais informações sobre o tema

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REFERÊNCIAS ANTONIO, Priscila da Silva; OLIVEIRA, Agnes Schutz de. (2006). Sentimentos do adolescente relacionados ao fenômeno bullying: possibilidades para a assistência de enfermagem nesse contexto. Revista eletrônica de enfermagem, v.08, n.01,p.30-41. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_1/original_04.htm. FANTE, Cleo. (2005) Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Ed. Verus. FERREIRA, Juliana Martins e TAVARES, Helenice Maria. (2009) Bullying no contexto escolar. Revista Católica, Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 187-197. NETO, Aramis A. Lopes. (2005) Bullying – comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, vol.81,nº 5. PALACIOS, Marisa e REGO, Sérgio.(2006) Bullying: mais uma epidemia invisível? Rev. bras. educ. med. [online]. 2006, vol.30, n.1, pp. 3-5. Revista da ANPED. Disponível em: http://www.anped.org.br/rbe/rbe/rbe.htm. Acesso em 22 de abr de 2010.

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